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Autores: André Torres Urdan, Andréia Cássia de Moura e Nádia Mária Lopes Mello
RESUMO
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Então, transportando essa tendência para o ramo automobilístico, seria de esperar que
as montadoras estivessem atuando estrategicamente com enfoque e/ou diferenciação. Neste
caso, mais precisamente cada montadora deveria estar oferecendo produtos percebidos como
singulares pelos clientes, fosse num mercado amplo (diferenciação) ou num segmento
particular (enfoque).
Todavia, apontando noutra direção, Pelofsky & Schlesinger (1991) relatam como, no
final da década passada, a Ford nos Estados Unidos (EUA) já vislumbrava importantes
mudanças no ramo automobilístico nos anos 90, com o que concordavam muitos analistas.
Para essa montadora, à medida que o processo de globalização do ramo automobilístico atinge
a maturidade: a) os produtos atingem maior complexidade, pela utilização intensa de
tecnologia; b) a qualidade do produto perde força como motivação para a compra; c) as
exigências de satisfação do consumidor crescem. Corroborando tal perspectiva, esses autores
referem-se a um relatório da empresa de consultoria J.D.Power and Associates, com o
sugestivo título de “Revolução no Varejo Automotivo”. Pois tal trabalho destacava a
proximidade de uma situação de grande semelhança entre os veículos, a ponto de elevar
sobremaneira o papel competitivo, na conquista do cliente, das redes de distribuição, como
fonte de diferenciação.
É inegável haver inúmeras iniciativas das montadoras, no mundo todo, buscando
construir singularidades, refletindo a preocupação com o assunto. Assoma um extenuante do
ramo para vincular imagens de marca sedutoras, mesmo com suas freqüentemente superpostas
plataformas e linhas de modelos, haja vista que, na emergência dos imitadores, as fábricas
precisam de novas formas para explorar seus posicionamentos (Gelsi, 1997). Basta constatar
que 8 das principais marcas no ramo automobilístico mudaram de rumo em 1997: Mercury,
Plymouth, Chrysler, Acura, Saab, Toyota, Mazda e Infiniti (Kiley, 1998). Todas elas seguindo
novas avenidas almejando estar num lugar lógico onde os consumidores, como elas próprias,
possam compreender o significado de suas marcas.
Tome-se o panorama norte-americano, berço da indústria automobilística. Até aqui as
empresas têm tradicionalmente determinado suas linhas de produto através de análise dos
produtos dos concorrentes e posicionado seus veículos para simplesmente equipará-las. Mas
Smith (1996) acredita está em curso uma revolução no ramo, que deve guiar a estratégia de
produto para os anos vindouros. Nela, cada uma das 3 grandes montadoras (Chrysler, Ford,
General Motors) têm buscado construir uma estratégia própria de gestão de marca, o que
configura um jogo totalmente novo, ao menos em tese, devendo conduzir a mudanças
significativas no marketing e até mesmo na produção. É sintomático como Halliday (1997)
discorre sobre a mudança de inspiração das montadoras para a revisão de suas estratégias de
marca, que originalmente olhavam para bens de consumo, alimentos e bebidas, e hoje
contemplam o dinamismo e a complexidade da moda, empresas de eletrônica de consumo e
software, em virtude de suas estruturas de marca que precisam evoluir significativamente.
Nos EUA, indo além de seus domínios industriais e avançando sobre a cadeia
distributiva, no afã de criar imagens de marca distintivas para os seus modelos e divisões, a
General Motors vem realocando concessionários, fundindo outros e reduzindo a rede deles,
que passará de 9.500 para 7.000 até o final do ano 2000 (Kerwin, 1998). Pela primeira vez em
décadas, a General Motors estaria ganhando diferenciação entre as suas próprias divisões
automotivas, tomando medidas de envergadura na definição de estratégias de marca para cada
uma das 8 existentes (Smith, 1997). Cada divisão terá um mercado alvo específico, e os
veículos de cada divisão serão projetados para ajustar-se às necessidades dos seus clientes.
Todavia, ao mesmo tempo em que chama a atenção essa nova onda da General Motors na
administração de marca, há aqueles que indagam se a proposta não passa apenas disso
mesmo: uma onda (Stevens, 1997). As tentativas não se restringem à oferta e sua distribuição.
Explorando a propaganda, um atributo extrínseco ao produto em si, há o exemplo da Chrysler
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tentando ampliar seu apelo aos clientes e procurando diferenciar a personalidade das marcas
de seus carros através das campanhas lançadas para o ano-modelo 1997 (Halliday, 1996).
Não obstante, a grande dúvida é se a singularidade realmente existe ou se ela é mais
um imenso desejo irrealizado das montadoras. Tome-se o caso da inovadora divisão Saturn da
General Motors. Embora observadores cépticos continuem a debater se tal divisão é um
sucesso em termos de desempenho financeiro, poucos deles discutiriam a claridade da sua
imagem de marca (Gardner, 1996). Porém, avançando a General Motors como um todo em
derivar a maior parte das plataformas de seus carros pequenos de uma mesma arquitetura
global, até mesmo a Saturn vai lentamente vendo sua autonomia e identidade cultural sendo
assimiladas na sombra de sua gigantesca corporação controladora (Saturn, 1997).
Mesmo o desempenho tão propalado das montadoras japonesas nos EUA é algo em
mutação. Rosecky & King (1996) recapitulam que os japoneses primeiro introduziram carros
de preços baixos, eficientes no consumo e de alta qualidade. Lutando para atender a restrições
voluntárias de exportações, eles introduziram versões mais caras de seus carros. Mais tarde,
numa tentativa de colher ainda mais receita por unidade, introduziram carros de luxo.
Inicialmente, para os dois autores, esses novos modelos foram bem recebidos, porém ao longo
dos últimos vários anos os carros de luxo japoneses perderam força, não tendo conquistado
ganhos de participação de mercado, decorrência da sua semelhança com os concorrentes
nacionais antes inferiores.
Sobre o Japão, Maruko (1997) entende que, com mais pessoas começando a pensar
que não há nada especial em relação aos carros importados, as montadoras estrangeiras não
podem mais basear-se em sua antes imagens de marcas luxuosas para realizar as vendas por
elas. Agora, para ele, as montadoras estrangeiras estão defrontando-se com uma competição
crescentemente feroz com as montadoras japonesas, que defendem ardorosamente seu
mercado doméstico. Por outro lado, como os gostos, políticas e regulamentações variam, os
projetistas e engenheiros automobilísticos japoneses sentem que o carro mundial na linha um-
tipo-que-serve-para-tudo estão limitados no apelo e na capacidade de serem vendidos
(Chrysler, 1996). É essencial dispor de singularidade. Em conseqüência, as maiores
montadoras japonesas têm estabelecido centros de pesquisa e desenvolvimento nos EUA e na
Europa, cuja missão é conceber e desenvolver carros que se ajustem às necessidades
regionais.
Na Europa, o quadro também assoma anuviado. Para as suecas Volvo e Saab, mesmo a
invejável reputação de segurança automotiva conquistada juntos aos consumidores não pode
obscurecer sérios problemas, entre os quais novos produtos medíocres, não preenchendo
nenhuma necessidade desatendida dos consumidores (Taylor, 1997). Daí, essas duas
montadoras estão tentando algo novo e audacioso para o perfil delas: inventar novas
personalidades que as façam mais valorizadas entre consumidores de alto nível.
No geral, Uma Indústria Congestionada (1997) observa que as montadoras enfrentam
seu próprio congestionamento, devido ao excesso de carros. Nos países ricos, as vendas de
carros estão estagnadas e, embora a demanda esteja crescendo na Ásia e na América Latina, a
produção está se expandindo num ritmo mais acelerado, graças a um grande afluxo de
investimentos recentes. O resultado final é uma super-oferta mundial de carros - boa para os
consumidores, perniciosa para as montadoras e suas concessionárias. Em 1996, no Mundo
foram fabricados 50 milhões de unidades, ocupando não mais que 73% da capacidade
instalada. O panorama não deve melhorar. Dentro de três anos, a capacidade mundial deve
crescer para 80 milhões de veículos ao ano, enquanto a demanda, no melhor dos casos,
aumentará para pouco menos de 60 milhões de unidades. Então, vendo de outra forma, todas
as fábricas da América do Norte poderiam fechar e, mesmo assim, ainda haveria capacidade
ociosa.
Tal excesso de capacidade produtiva do ramo não pode durar para sempre, exigindo
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ajustamentos traumáticos. Para as montadoras sem algo especial em suas ofertas, uma das
poucas opções para elevar as vendas é reduzir os preços dos automóveis ou oferecer opcionais
e acessórios sem acréscimo de preço. Porém, a viabilidade dessa opção ao longo do tempo
está na dependência de duas condições: a) adoção e implementação de um estratégia de
liderança de custo total (o que, a rigor, estaria reservado para um dos concorrentes) ou pelo
menos melhoria da posição de custos, porque diminuir preços sem reduzir custos obviamente
sufoca o resultado; b) sem mexer nos custos, a geração de um aumento da demanda por uma
montadora mais que suficiente para compensar a diminuição da margem de lucro por unidade
vendida. Mesmo assim, em face da gravidade da situação, a luta por vantagem competitiva
deve ser de um ferocidade impressionante.
Quanto aos países em desenvolvimento, os dirigentes das mais importantes
montadoras do mundo concordam que a taxa de crescimento do mercado neles, como o
México, é muito atraente e constitui a única resposta viável para o decréscimo nos negócios
causados pela estagnação dos mercados maduros, como EUA, Japão e Europa (Lira, 1997).
Por isso a luta das montadoras globais para estabelecer-se nos mercados emergentes. Mas aí
também são muitos os obstáculos. Smith (1997) cita Giuseppe Perlo, vice-presidente de
produto da Fiat SpA, para quem exportar não mais é suficiente, sendo preciso produzir nos
mercados em que se vende. Então, o executivo discorre sobre a “nova” estratégia de
globalização da Fiat, baseada na produção de veículos que atendam a necessidades regionais.
Sobre o Brasil, Viladarga (1997) acredita que o aumento da demanda por veículos,
impulsionado pelo Plano Real, e grandes investimentos contribuíram consideravelmente para
o melhoramento do processo de produção e do produto final. Com isso, diminuiu a diferença
de qualidade e o tempo entre os lançamentos recentes das montadoras no exterior e no país,
apesar de algumas restrições pendentes (como na segurança e no uso de eletrônica). Um dos
indicadores do novo patamar do ramo no país seria o ritmo e a qualidade de lançamentos de
novos carros, como nos modelos “mundiais” (Corsa, Palio, Fiesta) produzidos
simultaneamente no Brasil e nos mercados mais exigentes.
No presente, para o Brasil está programado um dos maiores volumes de investimentos
da industria automobilística no mundo (Magnavita, 1997). As montadoras devem investir
cerca de US$ 17 bilhões em alguns anos e o país logo passará a contar com 11 fábricas,
passando para o sexto lugar no ranking mundial de produtores. As vendas no Brasil cresceram
126,5 % entre 1992 e 1996, o que atraiu muito as empresas que operam no país e também
montadoras estrangeiras (como Peugeot, Toyota, Mercedes Benz, BMW). Cada qual acredita
não só no grande potencial do Brasil, bem como na sua localização estratégica, que pode
facilitar as vendas no Mercosul. Mas é amplamente improvável que as taxas elevadas de
aumento da demanda interna por carros venham a continuar nos próximos anos. Por isso,
diante da abundância de montadoras que estão e virão a se instalar no país, ao lado de tantas
outras montadoras instaladas no exterior que aqui buscam distribuir seus produtos, é certo que
vai acirrar-se tremendamente a concorrência.
Atente-se que, para o ramo automobilístico do Brasil, esse quadro crescente de
competição global é muito recente e diferente. É uma imensa onda que está sobrevindo depois
de décadas de proteção de mercado, materializada na proibição de importação de veículos
estrangeiros. Apesar dos avanços na abertura para o exterior, o Brasil ainda tem a economia
mais fechada da América Latina (Moura, 1996). Em 1990, o País importava 4,9% do Produto
Interno Bruto (PIB), contra 15,5% do México. Em 1995, o País passou a importar 7,2% do
PIB, contra 25,9% do México. Mas a proteção contra o exterior tende a diminuir,
incrementando ainda mais a concorrência já intensa.
Portanto, a questão de como competir, como obter vantagem competitiva, como
desenvolver um estratégia sustentável, embora sempre presente na gestão empresarial, neste
momento coloca-se como crucial para o ramo automobilístico, porque não deve sobrar espaço
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para muitos dos seus participantes. De forma particular, é de interesse saber como diferenciar-
se.
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QUADRO 1
Variáveis do construto Valor Percebido utilizadas na pesquisa
Variável Formulação
VP1 Considerando a qualidade desse seu automóvel, como você avaliaria o preço que você
pagou por ele? Dê uma nota de 1 a 10, onde 1 “significa “preço inteiramente não
compatível com a qualidade do automóvel” e 10 significa “preço inteiramente compatível
com a qualidade do automóvel”.
Preço Preço inteiramente
inteiramente Å 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Æ compatível
não compatível com a qualidade
com a qualidade
VP2 Considerando o preço que você pagou por esse seu automóvel, como você avaliaria a
qualidade dele? Dê uma nota de 1 a 10, onde 1 significa “qualidade muito baixa tendo em
vista o preço pago” e 10 significa “qualidade muito alta tendo em vista o preço pago”
Qualidade muito Qualidade muito
baixa tendo em Å 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Æ alta tendo em
vista o preço vista o preço
4. Resultados Encontrados
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No levantamento de dados dos proprietários, realizado entre outubro de 1997 e abril
de 1998, dos 1.400 questionários remetidos, retornaram em condições aproveitáveis 304,
dando uma proporção de retorno de 22%, conforme anotado na Tabela 1. Tendo em vista as
dificuldades inerentes ao método impessoal de levantamento de dados adotado, afigura-se
razoável essa proporção global de retorno. Todavia, para a Concessionária 5, da montadora
Ford, o retorno foi de somente 8%, destoando em demasia das demais concessionárias, com
perda potencial de representatividade. Por isso, julgou-se conveniente excluir a Ford do
estudo, já que ela já estava representada por uma única concessionária e para esta só havia 15
questionários respondidos. Depois disso, os dados lançados nos questionários pelos
respondentes foram depurados para sanar inconsistências facilmente detectáveis, passando-se
à digitação no programa estatístico SPSS for Windows (versão 6.1), com essa ferramenta
sendo realizadas todas as manipulações e análises necessárias.
TABELA 1
Mapa de distribuição e retorno de questionários por concessionária e fábrica
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vertical, exprimem os maiores valores observados, que não um caso afastado ou extremo. Não
apareceu nenhum destes dois tipos, afastado ou extremo, na massa de dados, como estampado
nos dois gráficos elaborados.
TABELA 2
Estatísticas descritivas das variáveis do construto Valor Percebido por montadora
11
10
9
7
6
5
4
2
1
0
Fiat Volkswagen General Motors
9
11
10
9
7
6
5
4
2
1
0
Fiat Volkswagen General Motors
5. Conclusões e Implicações
Os resultados mostram, em conclusão, que as três montadoras de automóveis
instaladas no Brasil que foram pesquisadas, Fiat, General Motors e Volkswagen, não se
diferenciam em Valor Percebido na avaliação dos proprietários de seus automóveis, nos
limites da amostra tomada e das demais limitações expostas. Em outras palavras, as três
empresas são vistas como semelhantes para seus clientes em termos de Valor Percebido.
Ademais, é digno de nota o nível de Valor Percebido pelos proprietários, oscilando entre 5,57
e 6,30, isto numa escala de 1 a 10, o que conforma um quadro por demais desfavorável para
todas as montadoras nesse construto tão relevante.
Faz sentido o que afirma Fairen (1996), explicando que, quando os preços no varejo
de carros novos são plotados versus um parâmetro que caracteriza seu volume, surge um
mapa de convergência na direção de somente uns poucos padrões de automóveis. A
existência desses padrões pode ser considerado, segundo esse autor, como o resultado de um
processo de imitação entre as montadoras, que por sua vez parecem ter escolhido, com isso,
uma estratégia de sobrevivência coletiva. Daí uma possível coexistência de vários modelos
similares de carro, como facilmente observado no mercado. Talvez as montadoras aqui
pesquisadas, quiçá tantas outras, e seus automóveis estejam mesmo nessa situação
caracterizada por Fairen. Sem embargo, tal imitação tem pouca chance de assegurar a
continuidade da sobrevivência coletiva.
Porque essas montadoras e seus automóveis podem estar incorrendo na situação
descrita genericamente por Engel et. al. (1994): alcançaram ou estão no caminho de chegar
ao status de meras commodities. A séria implicação disso, claro, é que a marca cessa de ser
um fator na compra, degenerando a competição em preço e promoções de vendas. Acontece
que, para ser realmente bem sucedido disputando na base do preço, insta contar com a
estratégia de liderança do custo total, o que, quanto muito, seria prerrogativa de um, tão só
um, dos concorrentes. A propósito, seria interessante pesquisar as posições de custos da
montadoras.
As montadoras não estão inertes. Pensando além do Brasil, há um certo otimismo de
Brookes & Little (1997), resumindo as tentativas de mudanças nos EUA, onde as empresas do
ramo buscam desenvolver um foco mais apurado no cliente. No geral, segundo eles, exemplos
de mudanças substanciais nas abordagens tradicionais do ramo estariam tornando-se
aparentes. Outro flanco de diferenciação muito enfatizado está nas concessionárias (Pelofsky
& Schlesinger, 1991), cujos serviços em bons níveis, em sintonia com as necessidades e
desejos do cliente, deve assumir um papel muito mais importante no processo de compra de
um automóvel, já que diminui, até desaparece, a diferença entre os automóveis.
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Dolliver (1997) recomenda até que as montadoras se voltem para questões subjetivas,
pois a qualidade melhorou até um tal ponto, que os consumidores tomam o desempenho sem
problemas como algo obrigatório. Porém, Crain (1996) alerta que empresas como a japonesa
Nissan e a norte-americana General Motors precisam aprender logo que a propaganda, por
exemplo, não pode fazer milagres. Para ele, não se pode querer que os anúncios da Nissan
criem uma herança instantânea para a montadora quando se sabe o que ela traz de ruim do
passado. Já os gerentes da General Motors não podem querer esculpidas diferenças dentro e
entre suas divisões quando na realidade nenhuma existe.
Então, pode ser que o panorama adverso constatado nesta pesquisa seja mais comum,
no Brasil e em outros países. Eis porque Gelsi (1996) ironiza que nos Estados Unidos, com
uma demanda estática e a crescente transformação dos veículos em commodities no mercado
doméstico de mais de 400 milhões de dólares, a General Motors, Ford e Chrysler terão de
competir mudando os “motores” de suas organizações. Keller (1997) é enfático em relação ao
EUA: embora as montadoras de lá tenham melhorado nos últimos anos, com forte
aprimoramento gerencial, os eventos recentes sugeririam que elas não estão ainda preparadas
para enfrentar os desafios confrontando-as. E diz que as montadoras não podem escapar de tal
realidade tornando-se globais. Pois a globalização, não seria uma estratégia para o sucesso
quando os sistemas de fabricação e de desenvolvimento de produto, como também a estrutura
de custos, não serão em nada melhores nos mercados estrangeiros do que o são na nação sede.
De fato, Craig & Douglas (1996) recordam que, à medida que o cenário global torna-se
ocupado por um arranjo cada vez mais diversificado de empresas de diferentes portes,
atuando em diferentes ramos e de variadas origens nacionais, desenvolver uma estratégia para
competir efetivamente em mercados globais é algo sempre mais e mais complexo.
Por isso tudo, é muito pertinente o raciocínio que Dove (1996) desenvolve. As
empresas bem sucedidas sabem a maior parte dos requisitos competitivos de seus ramos e
desenvolvem competências neles. Todos ramos possuem múltiplos requisitos de competência
em muitas práticas de negócios. É improvável que uma empresa qualquer tenha, para todas as
práticas críticas, superioridade de competência. Práticas críticas são aquelas que diferenciam
os concorrentes de sucesso no ramo, pois as práticas necessárias para sobrevivência, mas que
se tornaram comum numa indústria, saem da lista crítica. Sucede que a mudança de
proficiência em práticas críticas tornou-se hoje uma ampla fronteira, não sendo de fácil
assimilação pela maioria dos gerentes e empresas. O desafio está no fato de que as novas
práticas mais importantes geralmente não são aquelas visíveis na superfície, presentes no
cotidiano, e nenhuma empresa, no fundo, compreendeu todas as práticas críticas de seu ramo.
Quais são essas novas práticas críticas no caso das montadoras, como desenvolvê-las a ponto
de viabilizar uma estratégia competitiva (como a diferenciação), isso está no cerne do desafio
competitivo que o ramo automobilístico inexoravelmente tem de enfrentar.
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