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Abil liografia sobre musica popular brasileira: um balango inicial (1970-2000) Marcos Napolitano! INTRODUGAO O debate em toro das questées histéricas, socioldgicas e estéticas da musica popular brasileira, nao é uma novidade das uiltimas décadas. Ja nos anos 30, cronistas como Francisco Guimaraes e Orestes Barbos@* , debatiam sobre as origens e trajetorias do samba, género que assistia a um rapido processo de consagrapéo, centro da cultura urbana carioca e, posteriormente, brasileira. Mesmo os burocratas do DIP, em varios artigos na revista Cultura Politica, passaram a discutir 0 samba, como eixo de uma politica de educacao estética sentimental das massas urbanas, paralelamente ao projeto de musicalizagao pensado a partir da perspectiva da musica erudita e folclérica, desenvolvido por Villa Lobos e Mario de Andrade Este ultimo, aliés, langou em 1928 um livro fundamental para a musicologia brasileira, misto de ensaio © manifesto por uma musica nacionalista mas, curiosamente, a mtisica popular urbana no tinha um lugar destacado neste projeto. Menos por uma “insuficiéncia" informativa de Mario de Andrade € mais pela viséo que o autor de Macunaima tinha deste tipo de musica urbana’ lugar de sons indisciplinados, hibridos, voltados ao lazer escapista e recheado de formulas de mercado, sintetizado no gosto popular urbano avido por novidades camavalescas ou romanticas. Era no meio rural que estariam os sons latentes da brasilidade profunda e 1a, nas comunidades afastadas, restava o idioma musical brasileiro por exceléncia, ao qual o muisico sério deveria se remeter. Mas neste artigo, estamos mais preocupados com o debate em toro da, entio, desvalorizada, musica urbana. O termo "desvalorizada’ deve ser visto com cuidado, como demonstrou Hermano VIANNA em seu livro recente?. A relaco das elites europeizadas com a musica popular no Brasil era muito contraditéria e, sem diivida, a repentina valorizagéo do samba nos anos 30, nao apareceu no vazio. © debate entre Guimaraes e Barbosa pode ser visto como um termémetro das sensibilidades confusas contraditérias em torno do tema Este debate pode ser visto como uma “primeira camada" de representagées sobre 0 universo social e estético da musica popular brasileira, como por exemplo, a relacao "samba" e "morro", que se tomou quase mitica. J4 naquela época, as discussées em tomo da musica popular se pautaram ora pela busca de uma ‘raiz" social e étnica especifica (as negros), ora pela busca de um idioma musical universalizante (a naco brasileira), base de duas linhas mestras do debate 2 professor Adunto do Departamento de Histtia da Universidade Federal do Parand e Doutor em Histéria Social pela Universidade de So Paulo GUIMARAES, Francisco. Na roda de Samba. Rio de Janelro, Funatte, 1978 e BARBOSA, Orestes, Samba. Rio de Janeiro, Funatte, 1978 SVIANNA, Hermano. O mistério do samba, Rio de Janeiro, Etoria UFRU, 1995 historiografico que atravessau o séculot Mas foi nos anos 50, que esbocou-se um pensamento critica e propriamente, musicolégico (ou etna-musicalagico?) em torno da musica popular brasileira (ainda sem as iniciais maidsculas que delimitariam o sentido da expressdo, a partir dos anos 60). Nestes termos, destacamas o trabalho daqueles que Enor Paiano chamou, exageradamente ao nosso ver, de "intelectuais organicos" da musica popular’: Almirante (Henrique Foreis Domingues) € Lucio Rangel Almirante, além de ser compositor ligado ao grupo de Vila Isabel, desenvolveu uma carreira brilhante no radio. A partir do final dos anos 40, Almirante passou a se dedicar a uma espécie de historiogratia de oficio em torno de Noel Rosa. Uma palestra sobre o compositor de Vila Isabel, acabou se transfarmando num programa de radio e, posteriormente, num livra que procurava consagrar a genialidade de Noel , além de um pantedo de musicos , compositores € intérpretes que, para Almirante, caracterizavam uma "época de ouro" da musica brasileira A trajetoria de Liiclo Rangel também revela o esfor¢o em valorizar um determinado passado musical (os anos 20 € 30) € construir um projeto musicolégico para a musica urbana brasileira, @ base de um pensamento folclorista, que acabou culminando na criagdo da Revista de Musica Popular, periddico que durou dois anos (1954-1956) € aglutinou um determinado criticismo musical que procurava se contrapor aos novos tempos do radio, marcado pela Popularidade de formulas € géneros tidos camo faceis, como a bolero, as marchinhas de carnaval € os ritmos caribenhos (rumbas € cha-cha-cha). A Revista de Musica Popular foi a primeira tentativa de sistematizar os procedimentos de pesquisa € discussdes em torno das bases da musica brasileira, enquanto fenémeno cultural das classes populares e, no limite, caracteristico da propria na¢ao brasileira Curiosamente, a perspectiva nacionalista e folclorista (esta, um pouco menos acentuada) sera retomada a esquerda, pela juventude engajada no movimento estudantil nos anos 60. Naquele momento, 0 elemento detonador do debate era o impacto da Bossa Nova, como género (ou estilo) que, ao mesmo tempo que ameacava uma identidade musical tradicional, marcada pelo "samba quadrado", caia no agrado dos setores mais jovens € intelectualizados. Como se pode perceber nas paginas da revista Movimento, argo oficial da UNE, a BN deveria ser "politizada", mas mantida enquanto conquista estética para o mundo da musica popular Alias, a Bossa Nova foi a linha diviséria de um debate entre aqueles que a viam coma um "entreguismo" musical € cultural (Lucio Rangel, José Ramos Tinhoro) e reafirmavam um * NAPOLITANO, Marcos & WASSERMAN, Maria Clara. "Desde que o samba é samba’. Revista Brasileira de Histéria, vo.20/'39, ANPUH J So Pauio, 167-189 SPAIANO, Enar. Do ‘Berimbau’ a0 ‘Som Universal. Indistriafonogréfica € lutas culturais nos anos 60, Dissertayao de Mestrado, Comunicago Social, ECA / USP, 1994 “BARROS, Nelson Lins “Musica popular e suas bossas’. Movimento, n®6, outubro, 1962, UNE, p. 22-26 "neo-folclorismo" que preservasse a musica dos "negros e pabres", e um outro tipo de nacionalismo, geralmente defendido pelos mais jovens, que propunham a fusao de elementos da tradigao com elementos da modemidade (Nelson Lins € Barros, Sérgio Ricardo e Carlos Lyra, entre outros). No 4mbito do mercado musical, esta segunda vertente parece ter triunfado, constituindo as bases sui-generis de uma cango nacianalista e engajada no Brasil” Para 0 nosso trabalho, importa sublinhar que os anos 60 marcam a consolidagao de um mademo pensamento musical no 4mbito da musica popular que tera reflexos no debate que mais nos interessa, a partir dos anos 70. Datam do final desta década, curtos mas importantes ensaios, coma 0 conhecido "MMPB: uma andlise ideoldgica", de Walnice Galvao*. Em outro sentido, data daquela década a formulacao de Caetano Veloso sobre a "linha evolutiva" que sera recuperada partir de 1968 como um verdadeiro manifesto critico e estético para se repensar a relagdo tradico / modernidade na musica urbana brasileira’. Também nos anos 60, © pensamento critico desta "modernidade" musical se consolidara, revalorizanda o material folclérico rural e, sobretudo 0 samba "de morro", camo antitese do cosmospolitismo da Bossa Nova e do Tropicalismo A partir dos anos 70 pademos falar numa praduc4o bibliografica mais sistematica que, obviamente, trouxe os elementos destas varias camadas do debate anteriar, cristalizado ao longo das décadas. Num primeiro momento, a maior parte da producao foi realizada por jornalistas, na forma de cronistas, bidgrafos e memarialistas . A partir de meados dos anos 80 os programas de pés-graduacao em ciéncias humanas, letras e artes passaram a abrir espaco para pesquisas em torno da MPB e de outros géneros musicals, acompanhando a formidavel valorizagao cultural € estética do cancioneiro brasileiro a partir do final dos anos 60. E a partir destes dois eixos basicos que vamos tentar apontar para um balanco da bibliografia e, consequentemente do pensamento sobre a musica popular brasileira, produzida desde entao Justificamos tal preocupagao, na medida em que percebemos alguma dificuldade dos pesquisadores, mesmo entre os mais experientes, em fazer avancar as abordagens, fontes € objets que constituem o material de reflex4o sobre a musica popular brasileira. Embora esta fraqueza esteja sendo superada, notamos que as perspectivas ainda esto muito presas as areas de conhecimento e bibliografias especificas, limitando-se muitas vezes, aquilo que esta disponivel no mercado editorial (0 que nao representa a maior parte dos trabalnos produzidos a partir da segunda metade dos anos 80 que permanece na forma de teses inéditas). 7 NAPOLITANO, Marcos. Do sarau ao comicio:inovagéo musical no Brasit 1909-1963 Revista USP, 41, mar-mal 4998, $ GALVAO, Walice. "MMPB: uma andlse idzoldqiea™. Saco de gatos. So Paulo, Duas Cidades, 1976, » **Que caminho seguir na musica popular brasleira' (debate com varios muisicos ¢ intelectuais coordenado por Airton Lima Barbosa), RB, r°7, maio 1966, p. 375-385 PAINEL HISTORICO DO PENSAMENTO SOBRE A MP (1970-2000) Nos anos 70, quatro principais canjuntos de obras devem ser citados: o lancamento de volumes de ensaio, que marcaram o debate na época, em toma da MPB; a produgao dispersa em jomais didrios e periédicos de critica cultural; 0 inicio da fase historiogratica da obra de José Ramos Tinhordo; o iniclo da publicagdo sistematica de ensaios biograficos crénicas classicas pela Funarte / MEC. Além destes conjuntos, ndo podemos esquecer dois marcos de referéncia importantes, nos estudos de musica popular brasileira: @ publicacao, em 1977, da "Enciclopédia de Musica Brasileira € as duas ediges da importantissima colecdo Histéria da MPB, pela Editora Abril (em 1970/72 € 1978/79). Se a primeira obra se destacava pela abrangéncia dos verbetes, a segunda foi um importante instrumentos de consolidagéo de um novo "pantedo" da musica Popular, colocando lado a lado, nomes da "velha guarda" e nomes surgidos € consagrados nos anos 60 € 70. A énfase era dada para compositores, 0 que reafirma a caracteristica destas décadas, ja notada por Luis Tatit, como a "era dos compositores". Mais importante da que o texto propriamente dito" foi a possibilidade de contato com fonogramas classicos, perfeitamente catalogados e comentados na contracapa de cada fasciculo Em relago aos ensaios avulsos que se destacaram no cenario bibliografico sobre a musica popular brasileira, nos anos 70, alguns merecem destaque especial. Nesta trabalho vamos nos limitar aos seguintes livras: “O balango da Bossa € outras bossas™ (organizado pelo poeta Augusto de Campos, em 1968 com o titulo inicial de "Balanco da Bossa’ antologia critica da Modema MPB" e republicado em 1974, com seu titulo atual); "Musica Popular € Modema Poesia brasileira, do poeta e critico Afonso Romano de Santanna (1976/78), “Musica Popular: de olho na fresta"*, do sociélogo Gilberto Vasconcelos (1977) € “Tropicalia alegoria, alegria"’, de Celso Favaretto (1979). Alias, este € um dos primeiros trabalhos académicos mais sistematicos sobre um aspecto da MPB (realizado para uma pesquisa de mestrada) que foi publlicado Iivro organizado por Augusto de Campos, em torno do movimento tropicalista, pode ser visto como um manifesto em defesa de procedimentos de vanguarda, como saida para a musica popular brasileira. Este livro fol um dos responsavels pela associacao, hoje quase » Enciclopédia da Musica Brasileira (Erudita, Folelérica, Popular). Sdo Paulo, Art Editorial, 1977 (republicado pela Publiflna, 1998) 2 Na ® edigdo de 1982/83, os textos desta colego deram um importante sao de qualidade, passando a ser ensaios biogréficos assinados par especialistas que, inclusive, mereceria uma catalogaeo 4 parte, 2 CAMPOS, Augusto (otg). O balango da Bossa e outras bossas. So Paulo, Perspectiva, 1974, ed » SANTANNA, Afonso R. Musca popular e moderna poesia brasitira. Petropolis, Vozes, 1978 4 VASCONCELLOS, Gilbeita. Musica popular: de offo na fresta. Rio de Janeiro, Graal, 1977 15 FAVARETTO, Celso.Tropiedlia: alegori, alegria. Sao Paulo, Kairés, 1979 (atualmente na 3 edigdo pela Atelié automatica, entre as perspectivas modemizantes da Bossa Nova € do Tropicalisma. Nao por acaso, ele abre com um ensaio de Brasil Rocha Brito sobre a Bossa Nova, escrito em 1960" € fecha cam uma entrevista de Gil e Caetano. Além de Augusto de Campos, que assina varios artigos, Gilberto Mendes Julio Medaglia, mUsicos ligados ao grupo Musica Nova (1963), também contribuiram para o movimento. A maioria dos artigos foi escrito entre 1966 € 1968 € publicado na imprensa diaria (como 0 OESP € O Correio da Manhé). A t6nica geral do volume 6 a afirmaco do "grupo baiano", nlicleo do tropicalismo, coma o momento da "evolugao" da MPB, que até entéo seria dominada pela TFM ( "Tradicional Familia Musical") apelido pejorativo dado aos adeptos da musica nacionalista de protest que, para os autores do livro, Tepresentavam 0 conservadorismo estético ¢ a xenofobia cultural. Este livro foi, talvez, 0 principal responsavel pela mitificagao da idéia de “linha evolutiva" camo elxa do pensamento critico € seletivo sobre a "boa" MPB. No artigo "boa palavra sobre musica popular’, Campos cita a famosa fala de Caetano proferida durante a debate promovido pela Revista de Civiizacao Brasileira, em 1966. Este é 0 eixo que conduz a obra No artigo de Gilberto Mendes” , escrito logo apés o término do festival de 1967, 0 pensamento “evolutivo” é reiterado. Esta é a sua base da critica ao “passo atras” da MPB “nacionalista’, que parecia colacado definitivamente em cheque: “Para fazer frente 20 mau gosto do [6/6 brasilero vitorioso uroia quidar com o bom gosto de todas as conquistas renovadoras da BN e retornar ao samba grtado quadrado. E com os festivais 03 produtores abriam os olhos: como haviam perdido dinheiro até entéo 0 que rendia mesmo era a velha batucada’” (o.133) Gilberto Mendes destacau outras musicas apresentadas no Ill Festival da Record (e nao 86 as de Caetano e Gil), como Ponteio e Rada Viva . Para 0 compositor, elas representavam um salto qualitativa desde Arrastéo, A Banda , Disparada: “Morreu a BN? Um passo atrds, desde Arrastéo..., agora dois gigantescos passos 4 frente, e a MPB retoma dialeticamente a linha evolutiva da BN, 0 que Caetano jé preconizara no ano ano passado"* Augusto de Campos também reforcava a idéia de “linha evolutiva’, centralizando o poder de ruptura nas obras de Caetano e Gil. Citando um artigo de 1966, de sua propria autoria®, cuja argumentacao anunciava as transformagées na musica popular em direcdo a incorporagao da informagao madema e de elementos ‘universais’, Campos afirmou: ‘Era dficil encontrar aquela atura, quem concordasse com essas idéias. Era o rromento do pés-protesto de ‘A Banda’ e ‘Disparada. Saudades do inter, saudades do sertéo. Crise de nostalgia dos bons tempos dantanho. Pode ter servido para tonticar momentaneamente a abalada popularidade da nossa musica popular. Mas eu ja Editorial) 2 BRITO, Brasil Rocha. “Bossa Nova" IN: Campos, A (org). O balango da bossa e outras bossas. S40 Paulo, Perspectiva, 1993 (5°), p 17-50 (1960) MENDES, Gilberto’ "De como a MPB perdeu a diego ¢ continuou na Vanguarda” IN: Campos, A. (Org). O balango da Bossa e outras bossas,..p.133-140 (1968) 3 Idem. p. 137 2 CAMPOS, Augusto. "Da jovem quarda Jodo Gilberto" IN: O balango da Bossa e outras bossas...p.51-57 (1966) advvinhava que 2 solugéo no poderia ser @ vota para trés. A ‘Banda’ e ‘Disparadat passariam e detariam tudo no seu lugar Em outro artigo, Augusto de Campos comparando Alegria Alegria a Desafinado, afirmava entusiasticamente “Furando a maré redundante de Violas’ e ‘™marias'a letra de Alegria traz o imprevisto da realidade urbana, miltpla e fragmentéra, captada isomorfcamente, através de uma linguagem nova, também fragmentads'(..) descreve 0 camino inverso de ‘A Banda’ Das duas marchas esta merquiha no passado , na busca evocativa das purezas das bbandinhas e dos coretos da infncla. ‘Alegria’ ao contréro, se encharca de presente, Se envoWve ditetamente no dlea-ia da comunicagéo moderna, urbana, do Brasil e do ‘mundo®! artigo terminava com um tam de manifesto, articulando 0 novo panorama da MPB as Intengées estético-ideoldgicas das correntes experimentais no campo da poesia € musical (Poesia Concreta Musica Nova): “E preciso acabar com essa mentalidade derrotista segundo a qual, um pais subdesenvolvido s6 pode produzir arte subdesenvolvida™ Reafirmando as articulagdes da nova MPB com as “vanguardas” mais radicals do passado, Campos propunha uma periodizaco “evolutiva” para a arte brasileira, de cunho altamente Ideolégico. Para ele, 0 Madernismo de 1922 teria significado a “maturidade” e 0 Concretismo de 1956 teria significado a “universalidade”. E a MPB renavada de 1967? Teria transformado a “vanguarda * “popularidade" Mas 0 artigo que & mais ambicioso abrangente foi escrito por Julio Madaglia € se em produto direcionado para as massas ou seja, atingido a fase da intitula "Batanco da Bossa Nova". Nele, Medaglia propde quase um nove projeto histariagrafico para a mdsica popular brasileira, mitificanda dois momentos de "mademidade" musical: os anos 30 € 08 anos 60 (ou parte deles). Para Medaglia estas duas décadas desenvolveram a voca¢ao da musica brasileira em dire¢o ao despojamento poético-musical, economia de meios expressivos, naturalidade e discri¢éo na performance e interpretacdo. Para Medaglia, estas eram as caracteristicas de uma arte verdadeiramente "madema’, antitese da "demagogia, passionalidade, exagero" que caracterizavam a arte comercial facil Enfim, o livro organizado por Augusto de Campos, através dos seus varios artigos entrevistas, € um exemplo de documento de épaca que se transformou na base ensaistica a partir da qual uma boa parte da critica e da historiogratia passou a vislumbrar a vida musical dos anos 60. Mas, deveria ser como “fonte histérica’, sujelta a perspectivas e interesses dos protagonistas de uma dada historicidade, que este volume deve ser pensado € analisado. livra escrito par Afonso Romano Santana também tem uma importéncia seminal no debate dos anos 70 sobre a MPB, embora no tenha tido o mesmo impacto e permanéncia da CAMPOS, Augusto. "O passo a frente de Caetano e Gilberto Gil" IN: O balango da Bossa e outras bossas... 143 (1967) 2. CAMPOS, Augusto. "A explosdo de Alegria, Alegria" IN: O balango da Bossa e outras bossas... .153 (1967) * Idem, p.156 obra de Augusto de Campos. A perspectiva de um poeta, professor e critica literario, trazia consigo 0 reconhecimento académico da qualidade poética das letras de MPB, ao menos dos seus grandes expoentes, que figuram no livro: Noel Rosa, Ary Barroso, Chico Buarque, Caetano Veloso. A segunda parte do livro, nascida de um curso dado em Curitiba, em 1973, é Particularmente importante, na medida em que o autor traga um paralelo, uma afinidade sensivel € estética, entre os principais movimentos ¢ estilos literarios brasileiros e a expresso poética nas can¢des populares, desde 0 modernismo (anos 20) até a poesia marginal (anos 70). Os dois nomes mais privilegiados do livro so Caetano Veloso e Chico Buarque, cuja qualidade da expresso poético-musical assombrava os literatos mais exigentes. As duas categorias que amarram a comparacao entre poesia e mUsica popular séo as de "equivaléncias" e “identidades". Sant'anna usa o termo “equivaléncias" para efetuar a comparagdo até o surgimento da Bossa Nova. Com este movimento, poesia e musica popular teriam adentrado numa fase de didlogo quase organico, na medida em que a base social de ambos passava a ser a mesma (as estratos médios, letrados e intelectualizados). © autor explicava assim o crescimento do interesse do mundo académico pelas "letras" de MPB, sendo a base para uma nova ensaistica sobre 0 tema (p. 180), Embora muitas vezes artificial, a aproximaco proposta pelo livra de Sant'anna tinha a virtude de quebrar as uitimas resisténcias em relaco ao reconhecimento da qualidade da expresso poética dos grandes compositores brasileiros, e, sem duvida abriu caminho, sobretudo na area de letras, para o surgimento de trabalhos de pesquisa académica em tomo da musica popular brasileira. A obra conheceu duas edigdes de sucesso (1978 € 1980), perdendo forca com o tempo, na medida em que os estudos propriamente literarios em tomo da musica popular faram sendo deslocados para outros aspectos” Um outro livro, com félego mais curto ainda, mas que causou algum impacto no debate dos anos 70, fai "Musica Popular: de alho na tresta". Langada em 1977, o livro de Vasconcellos teve 0 mérito de sintetizar a importéncia politica que a mUsica popular assumiu ao longo dos anos 70, sendo um faco de resisténcia cultural significative e reconhecido. Segundo o autor. "No periodo que vai de 1964 até o presente (1976) a MPB talvez seja, dentre as manifestagées artisticas, o dominio no qual as contradigées socials das sociedade brasileira tinham penetraco de maneira mais violenta™ . Para ele, teria sido nos anos 60 que a "matéria politica" tinha se incorporado nas cangdes brasileiras (no movimento da can¢do de protesto) mas, para Vasconcellos, 0 sentido politico da MPB "madera" foi ampliado depais do Tropicalismo, Incorporando a parédia e a alegoria camo figuras centrais da "resisténcia’ 4 apress4o. Assim, 0 autor ia na contramao da esquerda mais ortadoxa que via no Tropicalismo de Caetano é Gil, 0 » Neste sentido, destacamos o espago académico pioneiro na PUC-RJ, sobretudo gragas ao incentvo e orentagao de Siviano Santiago VASCONCELOS, Gilberto. Op. p. 30 refluxo das preocupagées politicas que marcavam a MPB nacionalista dos festivais: "A tropicéilia joga-nos na cara os efeitos de nossa dependéncia econémica e social e ao mesmo tempo mostra (via meta-linguagem) as limitagGes do protesto populista’ ” Para Vasconcelos, 0 Tropicalismo resolve encarar de frente a “dolorosa derrota” de 1964, abrindo novos espagos para a acao de uma consciéncia critica renovada. Silviana Santiago, no prefacio do livra de Vasconcelos, vé na alegoria tropicalista a explicitagao critica das * do Brasil, procedimento que, ao invés de reafirma-las 4 esquerda, desconstruiu-as. Para tal, explorou as contradigdes inerentes @ cultura politica nacionalpopular brasileira, que orientava as artes engajadas até 1968. O resgate do sentido politica do Tropicalismo, neste livro, encontra paralelo na tentativa atrizes culturai de analisar a "linguagem da fresta’, tipica do "discurso malandro". Para Vasconcellos, este procedimento, inscrito na cang4o brasileira tradicional (anos 20 e 30), tinha sido recuperado e potencializado pelos compositores mademos, na resisténcia cultural 4 ditadura militar. Novamente, notamas a perspectiva que se tornou corrente, a énfase nos dais momentos histéricos fundantes da can¢do brasileira: os anos 30 € os anos 60 Dois anos depois, Celso Favaretto publicava o melhor estudo sobre a Tropicalia, até entao. Para o autor é possivel falar numa “mistura tropicalista™ traduzindo-se numa forma radical de reviso cuttural que se desenvolvia desde a inicio dos anos 60, retomando o movimento de “redescoberta" do Brasil, em meio a um quadro marcado pela intemacionalizagéo da cultura, dependéncia econdmica, consumo e conscientizacao Favaretto, considerando que a Tropicalia representou uma “abertura” cultural no sentido amplo, destaca sua contribuicéo especifica para a histéria musical brasileira ‘Pode-se dlzer que 0 Tropicalismo realizou no Brasil a autonomia da cancéo, estabelecendio-a como um objeto entim reconhecivel como verdaderamente atistico (.) Relnterpretar Lupine Rodrigues, Ary Barroso, Orlando Siva, Lucho Gatica, Beatles, Roberto Cars, Paul Anka; utlzarse de colagens, iwres associacées, procedimentos pop eletrénicos, cinematogréticos € de encenacéo; mésturé-bs fazendo perder a identitade, tudo fazia parte de uma experténcia radical da geragéo dos 60 (.J0 objetivo era fazer a critéa dos géneros, estibs e, mais radicaimente, do prdpro Velcuo e da pequena burguesia que vivia 0 mito da arte (..) mantiveram-se feis 4 inna evolutiva ,reinventando e tematizando crticamente a can¢do"”. Como se pode ver, 0 problema da linha evolutiva era retomado, mas ampliado. A cang4o, nesta perspectiva, passa a ser o artefato mais dinamico da critica cultural e da abertura comportamental que passou a marcar a vida da juventude brasileira, desde entao Além disso, 0 tropicalismo era visto como parte de um ciclo de vanguarda estética e cultural, adensando os procedimentos de criag&o e performance desenvolvidos ao lango do século Xx, pela tradi¢do ocidental e brasileira, em particular. 2% Idem, p.51 * FAVARETTO, Celso. Op.cit, p13 * Idem, p.23 Além deste quatro livros citados, bastante conhecidas, podemos destacar ainda, uma obra pioneira, mas de menor impacto: “A cangdo de massa‘ condices de producao", de Othan Jambeiro Ainda que marcado por um certo criticismo reducionista e determinista, 0 trabalho de Jambeiro tem 0 mérito de ser uma das primeiras andlises de félego sobre a produgdo eo consumo de musica popular no Brasil. O autor examina detalhadamente a estrutura de produco industrial da cang4o, bem como suas estratégias de distribui¢o e as implicacdes Ideoldgicas e culturais da inserg&o da can¢o no esquema da industria cultural. Seu conceito basico € 0 de "can¢do de massa", de matiz nitidiamente adomiano: “parte integrante de um sistema industrial e comercial desde que se trata de ume forma de arte que depende da indistria e sua realizago como fendmeno social se dé através de um produto material- de indistria cutural- 0 disco que o ponto inial do processo de comunicagéo da cangéo com o piibio"™. Obviamente, a reflex4o sobre a musica popular brasileira no se limitou a estas obras de maior volume. A renovacao da critica e do pensamento musicals que se seguiu ao impacto da “era dos festivais" e a0 movimento tropicalista (1966/68), fez nascer uma nova critica musical ao mesmo tempo que inseriu, definitivamente, 0 problema da musica popular dentro do pensamento académico das cléncias humanas ¢ artes, até entdo refratario a este tema. A produco de inumeros artigos de critica musical e andlise de temas ligados 4 musica brasileira, coma ja dissemos, ja era bastante significativa desde 1965, com a criagdo da Revista da Civilizag4o Brasileira, de Enio da Silveira. Ao longo dos anos 70, outros periddicas de critica cultural mantiveram seu espaco aberto a estes temas, como a revista Tempo Brasileiro, Cademos de Opiniéo, Revista de Cultura Vozes. Além disso, na chamada "grande" imprensa, bem como na imprensa altemativa (Pasquim, Movimento, Opinio, e outros), a musica popular brasileira gannava cada vez mais espaco, em artigos mais ageis (como em criticas de discos e entrevistas) ou mais aprofundados (andlise de conjunto de obras, movimentos au temas sociolégicos ou histéricos ligados 4 MPB). Esta produgao, enorme e dispersa, chegou a ser catalogada, em fins dos anos 70. Um outro aspecto a se destacar na década de 70 é 0 inicio da fase propriamente historiografica da obra de maior volume sobre musica popular, produzida pelo jomalista- historiador José Ramos Tinhorao. Tinhoréo tomou-se conhecido pelas polémicas que travou, na imprensa (& pela publicago de verdadeiros libelos), ao longa dos anos 60, contra as musicas € adeptos da Bossa Nova € da "modema" MPB. Seus dois livros dos anos 60, "Musica Popular. um tema em 2 JAMBEIRO, Othon. A cangéo de massa: condlgdes de produydo. idem, p45 10 debate"(1966)", € "O samba agora val a farsa da musica popular no exterior™ (1969) anunciavam o leit-motit que seria desenvolvido na fase mais "historiografica" da sua obra: a trajetoria da musica popular no Brasil seria 0 maior exemplo de "expropriacdo cultural" das classes populares (rurais € urbanas) pelas elites, representadas pela classe média "branca e americanizada’. proceso teria camecado j4 nos anos 30, mas com a Bossa Nova e os festivais da cangdo teria se tomado Irreversivel e articulado-se a um poderoso esquema de producdo comercial de cangGes voltadas para a classe média consumidora. Nos anos 70, cada vez mais visto como uma voz isolada € anacrénica por uma boa parte da critica e das musicos, Tinhordo dedicou-se @ pesquisa documental e 4 produgao de obras com traco historiagrafico académicos mais fortes, numa estratégia de afirmacdo intelectual que fosse além da "opiniao" Geralmente, as obras historiograficas de Tinhorda, sempre muito recheadas de citagéo de fontes primarias, so de cunho panorémico € pecam por uma linearidade que o pensamento académico, cada vez mais especializado, vé como reducionista. Apesar disso, € preciso reconhecer que a regularidade de sua produgdo e a seriedade com que Tinhoro encara o seu oficio acabou cansagrando-a camo o Unico autor (a0 lado de Sérgio Cabral, talvez, no campo das biografias, como veremos adiante) a ter uma "obra" ensaistica sobre musica popular brasileira no sentido forte da palavra, em que pese suas fragilidades argumentativas e seu esquematismo analitico exagerado Em 1972, Tinhoréo publicou dois livros, pela Editora Vozes: "Musica popular. teatro cinema" e "Musica popular de indios, negros € mesticas" (reeditado em 1975). Em 1974, Tinhorao publica o seu grande classico: "Pequena Histéria da Musica popular. da modinna @ cangao de protesto™. Este uitimo livra teve quatro edicdes seguidas: 1974, 1975, 1978 (duas edigées simultaneas, por editoras diferentes)”. No inicio da década de 80, Tinnordo ainda publicaria : "Musica Popular: os sons que vem da rua" e "Musica Popular. do gramofane ao radio e TV. Em 1990, bastante isolado do mercado editorial ¢ jomalistico brasileira, Tinhoréo publicou em Portugal a obra "Historia Social da musica popular brasileira’, publicado recententemente (1999) no Brasil. No final da década de 90, sintomaticamente quando a MPB classica parece entrar em crise de criacdo, a figura de Tinhordo volta a acupar a midia, assim como suas obras voltam a ser langadas (au relangadas). Em que pese a notavel produtividade de Tinhorao, num campo marcado pela descontinuidade ou pela superficialidade da producéo 2 TINHORAO, José Ramos. Muistta Popular um tema em debate. Rio de Janeiro, Editora 34, 1999 2. TINHORAO, José Ramos. O samba agora vai A farsa da Musica popular no exterior. Rio de Janeiro, JCM Editores, 1969 2 TINHORAO, José Ramos. Pequena Histéria da Mdsica Popular: da modinha & cangéo de protesto. Petrépolis, Yores, 1974 » A Stedie-do, pela Art Edttra, fol revista e ampliada (chegando ao Tropicalismo) ¢ a 6 edigdo, de 1991, incluia a Lambada 2TINHORAO, José Ramos. Muist.a popular: do gramofone ao réalo e TV. S&o Paulo, Atica, 1981 > TINHORAO, José Ramos. Histéria social da mista popular brasilera, Editorial Camino, Lisboa, 1990, Publicado no Brasil pela Editora 34, em 1998 u em série, os seus trabalhos quase sempre apontam para um procedimento de catalogacao e comentarios de fontes, explicando a musica popular pelo viés de uma histéria social, enfatizando os grupos sociais antagGnicos envolvidos na sua cria¢o € no seu consumo. Outra caracteristica do conjunto da sua obra, em nossa opinido, seria a organizagao da reflexdo em torno da sucesso de “géneros" musicais cuja andlise critica € valorativa se encontra fora da linguagem musical, propriamente dita. A partir da sucesso de géneros musicais, Tinhorao analisa a relagéo da musica popular com os meios técnicos, esbogando uma tese centrat quanto mais mais sofisticado ¢ capitalizado o meio técnico / social de divulgag40, mas se configura 0 processo de afastamento das raizes e das classes populares em relacdo a musica popular. Neste sentido, para ele, a MPB ndo seria nem brasileira e nem popular, pois este tipo de can¢4o, apesar das intengdes criticas € nacionalistas, seria o apice desse processo de afastamento das tradi¢des populares Do ponto de vista da disponibilizagao de fontes, na década de 70, merecem destaque dois trabalnas de transcri¢éo / compilagéo de entrevistas: "As Vozes desassombradas do Museu", publicado pelo MIS / RJ em 1970, que disponibilizou importantes conjuntos de fontes orais, sobretudo ligadas as primeiras eras da cacao urbana brasileira; numa outra ponta histérica, a importante coletanea de entrevistas, organizadas por temas, compiladas por Zuza Homem de Mello”, que procurava reunir 0 novo pantedo da MPB, pds-Bossa Nova. O livro & complementado por uma cranolagia bastante uti, delimitada entre 1956 € 1968. Um nome da critica musical dos anos 70, ainda se destacou no rol bibliografico sobre a musica popular brasileira: Ana Maria Bahiana (ao lado de Tarik de Souza € Nelson Motta fol a critica de maior influéncia junto as platéias mais jovens, na época). Bahiana reuniu suas matérias jornalisticas na livro "Nada sera como antes: a MPB nos anos 70”. Em que pese a abordagem muito pantual € conjuntural dos artistas € obras, o livra de Ana Maria Bahiana tem (0 mérito de ser um dos poucos livros a nos informar sobre a MPB dos anos 70, sendo dividido em cinco partes: 1) Chao (matérias sobre 0 samba tradicional); 2) Inventaria do sonho (matérias sobre os grandes nomes dos anos 60); 3) Eletricidade (sobre o rock nacional); histérias de musica (matérias blogréficas de instrumentistas) e; 5) Em qualquer direcdo (matérias sobre a MPB surgida nos 70. Ja o critico Tarik de Souza publicou um livro com pertis, biograficos intitulado, "Rostos ¢ Gostos da MPB™*, com alguns aspectos interessantes mas sem nenhuma grande contribuig&o ao debate Um balanco critica importante e pouco lembrado, sobre a MPB da época, foi o pequeno 2% MELLO, José Eduardo Homem. Msica popular brasibira. Edusp, 1976 >” BAHIANA, Ana Maria. Nada serd como antes: a musica popular braslera nos anos 70. Ed. Chilzaeao Brasileira, 41980 SOUZA, Tarik Rostos e gostos da MPA Porta Alegre, LP&M, 1979 2 livro "Anos 70: musica popular”, parte da cole¢o "Anos 70", na qual se sobressai o artigo escrito por José Miguel Wisnik, que na década seguinte se tornaria um importante ensaista sobre a musica popular brasileira. Nesta pequena coletnea, fica claro o esboga de uma nova ensaistica sobre a musica brasileira, enfatizando menos a busca de raizes € valorizando menos 0 ‘contetido" politizado das letras ou a “sofisticagao" da forma, eixos criticos que dominaram a década. Nos artigos, a tdnica € 0 novo lugar social, comercial € cultural da cang4o brasileira, cristalizado nos anos 70, em pleno auge da repress4o. No artigo de Wisnik, surge, por exemplo, uma interessante categoria para pensar a forma de circulacdo social da cangao: a "rede de recados”. Inspirada no conto "o recada do morro", de Guimaraes Rosa, Wisnik sugere que a cangao, no Brasil, conseguiu sintetizar e traduzir sensagdes histéricas difusas, valores éticos € sociais, pulsagées teliricas e corporais, que acabam sendo potencializadas € incorporadas pelos ouvintes, inseridos nesta "rede de recados", que se apropriavam das cangées (letras e musica) para além dos limites definidos pela industria cultural Assim, a reflex4o sobre a musica popular chegava aos anos 80, tendo uma base ensaistica ¢ historiografica, difusa e irregular, mas que tinha sido importante para quebrar as Ultimas resisténcias da opiniao publica € nos setores mais intelectualizados, sobre a urgéncia e a necessidade de se examinar as complexas questdes que formatavam a vida musical brasileira. Nos anos 80, como veremos, o pensamento sobre a musica popular se torna mas especializado e outros temas € personagens vao surgindo como temas de artigos, livros € tesest ANOS 80: O TEMA DO “SAMBA” E A CONSOLIDAGAO DO ENSAISMO ACADEMICO Se a reflexo sobre a tropicalismo e a "modema" MPB pareciam dominar a cena do debate, em meados dos anos 70, na inicio dos anos 80, o que se assistiu foi a consolidacao de uma literatura de peso sobre um outro tema: o samba urano carioca. J na Segunda metade dos anos 70, era possivel notar a crescente edico de livros sabre o tema, quase sempre abordando a fendmeno das escolas de samba, enquanto universo social estruturado complexo A propria capitalizac&o € glamourizagao crescente do camaval carioca, exigia uma reflexdo critica sobre as contradiges € possiblidades culturais do universo do samba carioca Outra questo, era que este género sintetizava a propria identidade musical brasileira. Assim, 0 2° WISNIK, José Miguel et all. Anos 70: musica popular. Rio de Janeiro, Europa, 1979 4 Nao poderiamos fechar esta década sem citar o trabalho de Ary Vasconcelos, “Panorama da Musica popular na Belle Epoque carioca’, que mantinha acesa a vertente "folclorista’ de inventario do fato musica-popular, corrente ssurgida nos anos 50, como jé vimos,

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