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SAVIANI
Segundo Saviani, são três as correntes teóricas que compõem o que ele chama de
“teorias não críticas”: a Pedagogia Tradicional; a Pedagogia Nova e a Pedagogia
Tecnicista. De maneira geral, podemos dizer que para tais leituras a educação não
passa de um fenômeno cuja finalidade, nas próprias palavras de Saviani, “é reforçar os
laços sociais, promover a coesão e garantir a integração de todos os indivíduos no
corpo social”. Logo, são estritamente conservadoras.
A Pedagogia Nova, por sua vez, não só ataca os pressupostos da Pedagogia Tradicional,
como muda radicalmente o enfoque educacional. Segundo seus teóricos, a verdadeira
educação vai muito além de repasses de conhecimentos. Ela há de estar
compromissada com a inclusão dos rejeitados. Portanto, educar é ajustar os sujeitos à
sociedade na qual se encontram inseridos. Nas palavras de Saviani, “trata-se de uma
teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a
aprender”. A função da escola seria estimular o aluno, a partir da própria iniciativa
deste, tornando-se também um lugar dinâmico, alegre e multicolorido. Na verdade,
como sabemos, a proposta “escolanovista” acabou se restringindo a experiências
grupais cujos membros pertenciam à elite. Ao rebaixar a qualidade nas classes
populares e aprimorar o ensino às elites, aprofundou ainda mais o fosso de
estratificação social presente na realidade brasileira. Não era à toa que se ouvia: “é
melhor uma boa escola para poucos do que uma escola deficiente para muitos”.
Antes de tudo, tais teorias vêem a sociedade como algo marcado pela divisão em
estratos sociais. Assim, a marginalidade nada mais é do que um fenômeno inerente à
própria sociedade. De modo que a educação é vista como profundamente ligada e
dependente dos mecanismos sociais exercendo, portanto, a função de reforçadora do
sistema opressor. À luz destas teorias, não é possível compreendermos a educação
sem nos retermos aos “determinantes sociais”. Segundo mestre Saviani, são também
três: Teoria do Sistema de Ensino Enquanto Violência Simbólica”; Teoria da Escola
Enquanto Aparelho Ideológico de Estado (AIE) e Teoria da Escola Dualista.
Claro que a “violência simbólica” está presente nos mais variados organismos e
segmentos sociais. Por exemplo, se espalha desde a moda até pregações religiosas.
Nesta perspectiva, a educação é entendida como mera “reprodução das desigualdades
sociais. Pela reprodução cultural, ela contribui especificamente para a reprodução
social”. Deste modo, a questão da marginalidade (excluídos) redunda na falta de
“capital cultural” onde os grupos dominados permanecem em estado de exploração.
Logo, o papel preponderante da educação é reforçar essa marginalidade através da
dissimulação. Segundo esta teoria, não existe saída: a escola é um agente eficaz e
eficiente de marginalização. Daí a afirmação sarcástica de Snyeis: “Boudieu-Passeron
ou a luta de classes impossível”.
Por último, a Teoria da Escola Dualista advoga que a educação se processa mediante
escolas subdivididas em dois grandes eixos. Tal ocorre em virtude da subdivisão
própria da sociedade capitalista. De um lado, a burguesia, detentora do poder, e de
outro, o proletariado. Em outras palavras, é impossível a unidade da escola. O que de
fato acontece é, segundo Baudelot, “o aparelho escolar, com suas duas redes opostas,
contribuir para reproduzir as relações sociais de produção capitalista”. De modo que
cabe à escola duas responsabilidades: de um lado, formar a força de trabalho e de
outro, inculcar a ideologia dominante (burguesa). Mesmo admitindo a existência de
uma ideologia dos dominados, esta prolifera fora do âmbito escolar. Assim, a escola
deve, conforme Saviani, “impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado e a
luta revolucionária”.
A marginalidade, neste caso, se configura no seguinte: os operários devem ser
convencidos de que os subprodutos da cultura burguesa servem também aos seus
interesses e os proletários precisam representar “sua condição nas categorias da
ideologia burguesa”. Portanto, demarca-se o processo de marginalização inserindo
todos que ingressam no sistema de ensino numa só dimensão ideológica. Diferente da
teoria anterior (AIE), não existe nenhuma possibilidade para que a educação sirva de
instrumento de luta do proletariado. Eis por que Snydeis, ironicamente, a sintetiza:
“Baudelot-Establet ou a luta de classe inútil".