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A Teoria do Design Inteligente não é criacionismo

por Enézio E. de Almeida Filho (*)


O Núcleo Brasileiro de Design Inteligente é um pequeno, mas crescente grupo de
professores e alunos de universidades públicas e privadas brasileiras. Propomos a
Teoria do Design Inteligente [TDI] como a inferência científica que melhor explica
certas evidências encontradas no universo e nas coisas vivas. Questionamos e
apontamos 'erros' e 'distorções' das atuais teorias da origem e evolução da vida.
Analisamos e avaliamos 'dados' com 'ceticismo profissional' pois as interpretações
são passíveis de erros. Muito mais este autor que advogou o materialismo filosófico
na versão marxista.
O neodarwinismo não é avaliado, criticado e revisado pela maioria dos
evolucionistas. Antes, o 'objeto de desconfiança', ceticismo é de quase 'adoração':
"Como um bom darwinista, é parte de minha religião (sic) que nada acontece na
evolução sem ter sido autorizado pela seleção natural", Ernst Mayr, Mais, Folha de
São Paulo, 04/07/04, p. 6 .
A Teoria Especial da Evolução [TEE -- microevolução, modificação biológica limitada
intraespécie] é a mais avaliada e estabelecida pelas evidências. Discutível é a
Teoria Geral da Evolução [TGE - a macroevolução, modificação biológica ilimitada
interespécie- mutação mais seleção natural [descendência modificada e ancestral
comum] que, circunstancialmente apoiada pelas evidências, é tenazmente
defendida pelos darwinistas ultra-ortodoxos. Darwin é ícone que devemos
'reverenciar' secular e academicamente.
Richard Feynman disse: "A ciência é a cultura da dúvida". Hoje, dúvida e
dissidência na Biologia são intoleradas, e os mais novos aprendem a ficar
silenciosos se tiverem algo negativo a dizer sobre o neodarwinismo: pode custar
financiamento das pesquisas e, muito pior, respeito e avanço nas carreiras
acadêmicas. Chamam isso de 'liberdade de cátedra'...
A TGE não é 'uma teoria' como outra qualquer. Os que praticam ciência normal se
apegam ao paradigma e fazem tudo para não ser substituído. O 'conflito
paradigmático' só acaba pela 'solução biológica': quando defensores do paradigma
vigente morrem e são substituídos pelos 'hereges' [Kuhn, "A estrutura das
revoluções científicas"]. Paciência é virtude dos proponentes da TDI.
A descoberta de algo nem sempre derruba teorias, nem confere honrarias a
alguém. O Big Bang (massa, energia, tempo e espaço têm começo - implicações
teológicas) ficou no ostracismo por mais de 30 anos [Stephen Hawking]. Darwin
resiste ao teste porque a Nomenklatura científica se recusa considerar teorias
rivais.
Ao contrário do que é comumente afirmado, nem todas as ciências da vida, 'se
apóiam na evolução'. Contrariando Dobzhansky e Mayr, 'nada no mundo vivo faz
sentido se não for à luz das evidências biológicas'. Elas dizem não a Darwin et al.
Há evolucionistas materialistas [Dawkins, Lewontin]; não materialistas
[Dobzhansky, David Lack, Newton-Freire]; neutralistas [Motoo Kimura];
saltacionistas [Gaylord Simpson, Gould e Eldredge] e ..... [preencher as lacunas].
Como os darwinistas, somos politicamente organizados e motivados por razões
científicas: a TDI é uma teoria alternativa ao neodarwinismo. Não defendemos os
criacionistas, mas há cientistas criacionistas que ensinam, pesquisam e publicam
trabalhos.
Atitude pseudocientífica é não fazer periodicamente o balanço dos livros teóricos
vis-à-vis às evidências. Não existe teoria científica sem corroboração das
evidências. Os darwinistas ultra-ortodoxos não querem essa auditoria epistêmica à
la Popper, Kuhn e Feyerabend e as evidências.
Nós proponentes e apoiadores da TDI, além de criticarmos o neodarwinismo,
estudamos e pesquisamos. Somos mais de 300 Ph. Ds. (Harvard, Stanford,
Princeton, Yale). Contamos com o Dr. Henry F. Schaefer III, University of Georgia,
o terceiro químico mais citado no mundo, indicado cinco vezes para o Nobel.
Não queremos 'desacreditar a teoria evolutiva', mas propomos ensinar as
evidências a favor e contra. A mudança paradigmática ocorrerá quando a
comunidade científica se convencer que as evidências fatais contra Darwin não
podem mais ser tapadas com uma peneira epistemológica furada.
As críticas à evolução não foram rebatidas como é retoricamente afirmado: a
explosão Cambriana - quase todos os principais filos atuais já se encontravam
'como se tivessem sido plantados lá sem história evolutiva' [Dawkins] - Darwin
considerou isso séria objeção à teoria; a descontinuidade de fósseis - a
característica é estase - longos períodos sem modificação; os sistemas
complexamente irredutíveis não são gradualmente explicados pois inexiste pesquisa
na literatura especializada lidando com a questão [Behe]. Esses fatos não podem
ser derrubados por nenhum cientista.
O que seria a negação de uma teoria [Popper]? E essas dificuldades para o
mecanismo darwinista de mutação-seleção natural [descendência com modificação
e ancestral comum]: origem da vida, código genético, vida multicelular,
sexualidade, escassez de formas transicionais no registro fóssil, desenvolvimento
de sistemas de órgãos complexos e de 'máquinas' moleculares irredutivelmente
complexas? Como programa de pesquisa científica, parece que a teoria darwinista
falhou.
Que a TGE está cada vez mais fraca, em crise e desacreditada por muitos
cientistas, eis pequena bibliografia: Evolution: A Theory in Crisis (1986), de Michael
Denton; Darwinism: The Refutation of a Myth (1987), de Sören Loventrup; The
Origins of Order (1993), de Stuart A. Kauffman; How the Leopard Changed its
Spots (1994), de Brian C. Goodwin; Reinventing Darwin (1995), de Niles Eldredge;
The Shape of Life (1996), de Rudolf A. Raff; A Caixa Preta de Darwin (1997), de
Michael J. Behe; The Origin of Animal Body Plans (1997), de Wallace Arthur;
Sudden Origins: Fossils, Genes and the Emergence of Species (1999), de Jeffrey H.
Schwartz. Todos os autores duvidam do poder criativo do mecanismo neodarwinista
de seleção natural/mutações.
Confrontados com a fraqueza de seus argumentos, os darwinistas ultra-ortodoxos
chamam seus oponentes de 'fundamentalistas', 'crentes da Terra plana',
'criacionistas', apesar de cientificamente embasados, invertendo assim a história da
ciência moderna na substanciação, aceitação, revisão e descarte de teorias.
Cientificamente, a insuficiência epistêmica da TGE é bizarra e preocupante. Como
defender idéias não apoiadas pelas evidências? Certamente há muitas pessoas
inteligentes entre os darwinistas. A não percepção desse absurdo deve-se à
cosmovisão ideológica: materialismo filosófico mascarado de ciência.
Ernst Mayr reconheceu: as 'leis e experiências são técnicas inapropriadas para a
explicação de tais eventos e processos'. Em vez disso, os biólogos e teóricos
evolucionistas constróem 'narrativas históricas' e 'explicações plausíveis'
inerentemente subjetivas. Como a evolução (TGE) não dispõe de confirmação
experimental, suas 'narrativas históricas' permanecem como especulações, a
menos que a sua evidência exclua a hipótese rival de design inteligente.
A TGE [transformismo das espécies] não é 'scientia qua scientia' e estes
argumentos, apesar de vazios, são ferrenhamente defendidos como 'episteme'.
Irônico, Scopes defendeu o ensino 'das duas teorias alternativas'. Hoje, questionar
Darwin é crime de lèse majesté na Academia.
Desconhecendo a história e o conteúdo da TDI, Maurício Vieira Martins afirmou que
os criacionistas tiraram a palavra 'criacionismo' e a alteraram para 'Design
Inteligente' (in "O criacionismo chega às escolas do Rio de Janeiro: uma abordagem
sociológica"). Tivesse pesquisado os principais sites criacionistas ficaria sabendo do
descontentamento dos criacionistas com a TDI.
A mídia relata a controvérsia "evolução e ensino do criacionismo" nas escolas e
algumas vezes citam a TDI. Alguns evolucionistas tentam combinar 'design
inteligente' (DI) com 'criacionismo' empregando o termo 'criacionismo de design
inteligente'.
O DI é diferente do 'criacionismo'. Seus críticos reconheceram isso. Ronald
Numbers, historiador de ciência da University of Wisconsin, crítico do DI, disse 'que
o rótulo de criacionismo é impreciso' quando diz respeito ao DI'. Por que, então,
Eduardo Rodrigues da Cruz (in "Criacionismo, lá e aqui") e Vieira Martins
identificaram o DI com o criacionismo nesta edição de "ComCiência"? Uma leitura
objetiva do livro "The Design Inference: Eliminating Chance Through Small
Probabilities", de William A. Dembski, (Cambridge: Cambridge University Press,
2001) eliminaria esse juízo de valor ideológico. Se Rodrigues da Cruz e Vieira
Martins tivessem lido a tese de Dembski, eles não fariam esta gratuita associação.
Segundo Numbers, ela é feita porque este é 'o caminho mais fácil para desacreditar
o design inteligente'. A acusação de 'criacionismo' é estratégia retórica para
deslegitimar a TDI sem devidamente abordar seus méritos científicos.
Razões por que o DI não é criacionismo:
1. "Criacionismo de Design Inteligente" não é rótulo neutro: é termo pejorativo,
polêmico, inventado por alguns darwinistas para atacar o DI por razões retóricas.
Cientistas que apóiam o DI não se descrevem como 'criacionistas de design
inteligente' nem consideram a TDI como criacionismo. O termo 'criacionismo de
design inteligente' é inexato, inapropriado e tendencioso, especialmente de
cientistas e jornalistas que estão tentando ser imparciais. "Teoria do Design
Inteligente" é a descrição neutra da teoria.
2. A TDI é baseada na ciência e não em textos sagrados. O criacionismo defende a
leitura literal da criação no livro de Gênesis pelo Deus da Bíblia há 6.000 anos
atrás. A TDI é agnóstica em relação à origem do design e não defende nenhum
texto sagrado. A TDI é um esforço de detectar empiricamente se o 'design
aparente' observado pelos biólogos na Natureza é design genuíno (produto de uma
inteligência organizadora) ou produto do acaso, necessidade e leis mecânicas
naturais.
Detectar design na natureza vem sendo adotado por vários cientistas em
renomadas faculdades e universidades americanas: Michael Behe, bioquímico da
Lehigh University, Scott Minnich, microbiologista da University of Idaho e o
matemático William Dembski na Baylor University entre muitos outros.
3. Os criacionistas sabem: a TDI não é criacionismo. Dois grupos criacionistas
importantes, Answers in Genesis Ministries - AIG e o Institute for Creation Research
- ICR criticaram o Movimento de Design Inteligente (MDI) porque a TDI não
defende o relato bíblico de criação.
O AIG reclamou do MDI pela 'recusa em identificar o Designer com o Deus bíblico' e
destacou: 'os principais expoentes do MDI formam um grupo filosoficamente e
teologicamente eclético'. De acordo com o AIG, 'muitas figuras importantes no MDI
rejeitam ou são hostis à criação bíblica, especialmente a noção de uma criação
recente...'
O ICR criticou MDI por não empregar 'o método bíblico' e que 'somente o Design
não é suficiente!'. Os criacionistas entenderam claramente - a TDI não é
criacionismo.
4. Como o darwinismo, a TDI pode ter implicações religiosas, mas são distintas de
seu programa científico. A TDI, como o Big Bang, pode ter implicações em áreas
fora da ciência (teologia, ética e filosofia), mas distintas do DI como programa de
pesquisa científica. Nesta questão, a TDI não difere da TE. Darwinistas importantes
tiram implicações teológicas e culturais da teoria da evolução. Richard Dawkins, da
Oxford University, afirmou que 'só depois de Darwin é possível ser um ateu
intelectualmente satisfeito'. E. O. Wilson, de Harvard, emprega a biologia
darwinista para desconstruir a religião e as ciências humanas.
Outros darwinistas tentam extrair implicações positivas da teoria de Darwin para a
religião. Ora, se os darwinistas têm o direito de explorar implicações culturais e
teológicas da teoria de Darwin sem desqualificar o darwinismo como ciência, então
discussões inspiradas na TDI nas ciências sociais e humanas não a desqualificam
como teoria científica.
5. Críticos imparciais reconhecem a diferença entre a TDI e o criacionismo.
Cientistas e autores científicos estão chegando à conclusão: o DI é diferente do
criacionismo. Robert Wright, da revista Time, afirmou: "Os críticos do DI, que tem
sido anunciado na imprensa como uma nova e sofisticada [teoria], dizem que é
apenas criacionismo disfarçado. Se assim for, é um bom disfarce. Os criacionistas
acreditam que Deus fez as atuais formas de vida do nada. ... e muitos de seus
adeptos [do DI] acreditam na evolução. Alguns até admitem um papel para o
mecanismo evolutivo colocado por Darwin: a seleção natural. Eles apenas negam
que a seleção natural sozinha possa ter dirigido a vida durante todo o caminho
desde um pequeno poço de elementos inorgânicos até nós'.
Quaisquer que sejam os problemas que possa ter a TDI, devem permitir que ela
surja ou caia pelos seus méritos, e não pelos méritos de outra teoria. Quem não
quer a TDI na mesa de debate acadêmico são os darwinistas ultra-ortodoxos.
Razão? Os teóricos e proponentes da TDI são cientistas devidamente capacitados
para demonstrar a insuficiência epistêmica do neodarwinismo.
Apresentamos argumentos e afirmativas à comunidade científica, mas a reação é
apaixonada e acientífica: 'Darwin não é dúvida entre os cientistas', 'não há crise na
teoria', e outras evasivas nada recomendáveis aos que se dizem sujeitos ao rigor
do método científico. A afirmativa 'não há crise na teoria evolucionista' impressiona
leigos e intimida os que querem fazer ciência.
Não deveria existir conflito ciência versus religião, nem tampouco os cientistas
devem ser obrigados, por uma 'camisa de força epistemológica', a optar entre o
que diz a evidência e o que impõe o establishment científico como verdade.
Certamente ignoram: a comunidade científica da TDI é uma como qualquer outra.
Seus integrantes são pessoas de diversas religiões e até agnósticos [David
Berlinski, matemático judeu]. Não somos um bando homogêneo de teístas e ateus
serão mais do que bem-vindos. Como parte da 'pólis', alguns buscam participar das
decisões políticas e científicas.
Nós não nos infiltramos em conselhos de educação e nem de governos.
Polemizamos sim, para arregimentar seguidores, criando espaço numa mídia
altamente refratária à TDI. Se conseguimos espaço em publicações de divulgação
científica foi por mérito da TDI. Nossos argumentos fazem sentido. Avançar
politicamente organizados foi aprendido com Darwin, Huxley et al. Aqui, somos um
grupo de voluntários sem apoio financeiro dos Estados Unidos. Tupi or not tupi!
Lá nos EUA os cientistas já perceberam: estão lidando sim com um debate de alto
nível acadêmico e de importantes conseqüências para a ciência: a volta do design
como inferência científica. Prova disso: vários livros foram publicados lidando com a
TDI foram publicados na última década. A Academia não pode mais deixar de lidar
com a TDI no Brasil. Não visamos sabotar o ensino de ciências: queremos sim
liberdade epistemológica para questionar Darwin sem as sanções acadêmicas
radicais que aconteceram nos Estados Unidos - a a maior democracia do planeta.
A SBPC deu passo importante opondo-se à lei aprovada no RJ. Seria muito
importante a SBPC estimular o debate das dificuldades teórico-empíricas das atuais
teorias da origem e evolução da vida. A TDI discute essa liberdade científica que os
darwinistas ultra-ortodoxos não querem ver acontecer. Razão? Há grande e sério
risco -- perda de status acadêmico, de prestígio e poder sobre a sociedade.
A opção darwinista fundamentalista de 'blindar' a teoria de um exame crítico não é
postura científica -é postura manipuladora ideológica que trouxe, traz e trará atraso
à ciência na questão da origem e evolução da vida.
(*) Enézio E. de Almeida Filho é Coordenador do NBDI - Núcleo Brasileiro de Design
Inteligente (neddy@uol.com.br), Campinas - SP.
Artigo enviado pelo autor à ComCiência
Fonte: http://www.comciencia.br/presencadoleitor/artigo15.htm

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