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Após um certo tempo, morar no exterior leva-nos e nos revestir e

nos travestir de nossas lembranças, de nossas saudades das coisas


belas e gostosas deixadas para trás...

Depois de outro certo tempo, passamos a classificar nossas saudades,


de todas as formas: em quantidade, qualidade, conteúdo, forma,
numa desesperada busca de não as perdermos de vista...

A seguir de um incerto tempo, as saudades vão envelhecendo


com certa robustez - e porque não compará-las a um bom vinho -
ao ponto de encontrarmos novas lembranças dentro mesmo das velhas saudades...

Em seguida a outro ainda mais incerto tempo, as próprias saudades regem seus ciclos de
ressurgimento tais como estações do ano no exterior, passam a organizar-se quase como um
calendário e escolhem reaparecer na primavera, no verão, no outono ou no inverno...

Mas nada pior que a irrupção de uma saudade, sem sequer estarmos alhures,
daquelas que violentamente nos ataca sem que a conheçamos: falo de uma certa
Saudade de Corpo que nos devolve contorno e que nos re-agrega ao continente perdido e
imaginário do aconchego do outro...

Marcus Sodré
17NOV07

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