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Fatores que influenciam a qualidade dos grãos armazenados, 1998 p.

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FATORES QUE INFLUENCIAM A QUALIDADE DOS GRÃOS ARMAZENADOS

Lêda Rita D'Antonino Faroni


Profª. do Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Viçosa

Atualmente, a busca pela qualidade dos grãos e subprodutos é prioridade para produtores, processadores e, finalmente, para
os distribuidores desses produtos. Segundo Brooker et al. (1992), são muitos os fatores que contribuem para a perda de qualidade e
quantidade dos alimentos e, dentre eles, destacam-se: características da espécie e da variedade, condições ambientais durante o seu
desenvolvimento, época e procedimento de colheita, método de secagem e práticas de armazenagem.
A massa de grãos armazenada é um sistema ecológico em que a deterioração é o resultado da interação entre variáveis
físicas (temperatura; umidade; propriedades físicas da massa de grãos: porosidade, capacidade de fluir, acamamento dos grãos,
sorção, propriedades termo-físicas; estrutura do armazém e suas interrrelações e variáveis meteorológicas), variáveis químicas
(disponibilidade de oxigênio no ar intergranular) e variáveis biológicas de fontes internas (longevidade, respiração, maturidade
pós-colheita e germinação) e variáveis biológicas de fontes externas (fungos, leveduras, bactérias, insetos, ácaros, roedores e
pássaros). O grau de deterioração depende da taxa de aumento destas variáveis que, por sua vez, são principalmente afetadas pela
interação da temperatura e umidade e secundariamente pela inter-relação deles/delas com o grão, entre eles, e com a estrutura do silo
(Sinha, 1973).
Para avaliar a qualidade dos grãos, Bakker-Arkema (1993) considera diversas propriedades, tais como: teor de umidade,
massa específica, percentual de grãos quebrados, teor de impurezas e matéria estranha, danos causados pela temperatura de secagem,
susceptibilidade à quebra, características de moagem, conteúdo de proteína e óleo, valor para consumo animal, viabilidade como
semente, presença de insetos e fungos, tipo de grão e ano da produção. No entanto, as propriedades qualitativas desejáveis dependem,
especificamente, das necessidades do comprador.

EFEITO DA VARIÁVEL FÍSICA - TEMPERATURA DA MASSA DE GRÃOS ARMAZENADA

A temperatura inicial dos grãos armazenados, que deve estar igual ou superior à temperatura do ar atmosférico, deve ser
reduzida rapidamente para não permitir a deterioração dos grãos, pois quando estes estão frios há menores possibilidade de que isto
ocorra. Temperaturas baixas podem compensar os efeitos de maiores teores de umidade no desenvolvimento de microorganismos,
insetos e ácaros que atacam os grãos armazenados. É por isso que em climas mais frios, os grãos podem ser armazenados com
segurança a uma umidade de 1 a 1,5% maior do que aquela de climas mais quentes.
TABELA 1 - Faixas de temperatura e umidade relativa correspondentes à sobrevivência e às condições ótimas para o
desenvolvimento e multiplicação de insetos, ácaros e fungos
Temperatura ºC Umidade Relativa %
Sobrevivência Ótima (média) Sobrevivência Ótima
Insetos 8 – 41 (1) 30 (2) 1 – 99 (1) 50 – 70 (2)
Ácaros (3) 3 – 41 25 42 – 99 70 – 90
Fungos (3) -2 – 55 30 70 – 90 80
(1)
Sinha e Watter (1985) citado por JAYAS (1995).
(2)
Howe (1965); Sinha (1973) e Sinha e Watter (1985), citado por JAYAS (1995).
(3)
JAYAS (1995).

A temperatura está entre os fatores que influenciam no processo de respiração dos grãos. Há um aumento de intensidade de
respiração, proporcional ao aumento da temperatura, que fica na dependência do teor de umidade dos grãos. Sob altos índices de
umidade, superior a 13-14%, a respiração aumenta rapidamente na maioria dos cereais, o que causa a sua deterioração.
Mudanças na temperatura atmosférica durante as estações do ano afetam de forma semelhante dentro dos armazéns
(Converse et al. 1969; Holman et. al. 1952; Kelly, 1941; Muir et. al. 1970 & Schmidt, 1955). No inverno, o centro do armazém,
abaixo da superfície superior permanece mais quente do que o resto, então a corrente de ar circula para cima através do centro, do
armazém. Já no verão, o centro do armazém permanece mais frio, então a corrente de ar move-se longitudinalmente para cima ao
longo da parede aquecida e para baixo através do centro do armazém.
Condições climáticas, às quais são dependentes da localização geográfica, são os fatores mais importantes que afetam a
temperatura dos grãos armazenados. Exemplo, a temperatura média mínima em um armazém de metal de 5.5 m de diâmetro foi de
0°C ao norte de Dakota, 7°C em Kansas e 18°C no Texas (Schmidt, 1955 & Sorenson et. al. 1957). Comparando-se os grãos
estocados em armazéns localizados em Dakota, Kansas, Illinois e Mariland, detectou-se que estes podem ser estocados a alta
umidade, com menor deterioração, em locais com baixa temperatura (Kelly, 1941 & Schmidt, 1955). Baseada na temperatura média
mensal do ar, pode-se prever qual área geográfica está mais vulnerável à infestação dos grãos armazenados devendo-se levar,
também, em conta os seguintes fatores: mês em que se inicia a colheita; temperatura do ar e radiação solar nos meses de colheita;
tempo gasto para a colheita até a temperatura decrescer e tempo máximo e mínimo de duração da colheita durante o inverno. Essas
informações irão facilitar a implantação de armazéns e o manejo de grão armazenados, mantendo-os a uma temperatura abaixo do
nível de rápida deterioração dos mesmos.
A ventilação e a refrigeração são dois métodos efetivos para se reduzir a temperatura dos grãos. Variação da temperatura do
ar atmosférico e a radiação solar exercem menor efeito na temperatura próxima ao centro de armazéns maiores que naqueles
armazéns menores. A temperatura média, em grãos sadios, durante o verão, é menor em armazéns maiores (Schmidt, 1955). Em
armazéns menores, a temperatura aumenta na primavera, levando à um maior ciclo reprodutivo dos insetos. No entanto, durante os
meses de inverno, quando os grãos requerem temperatura mais baixas para se reduzir a população dos insetos, o resfriamento é mais
rápido em armazéns menores.

MEDIDA DA TEMPERATURA
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A medida da temperatura é usada como um método para se detectar a deterioração de grãos armazenados. No entanto
porque os grãos possuem baixa conditividade térmica, a deterioração, normalmente inicia-se em focos pequenos e localizados,
podendo afetar a temperatura de apenas um pequeno volume de grãos. Para detectar a deterioração no estagio inicial, a temperatura
deve ser medida nos locais aonde estão acumulados pó, sementes quebradas (este material contém umidade mais alta que as
sementes sadias) e próxima da parede do armazém; também, a temperatura deve ser medida no centro do armazém e próximo da
superfície do volume de grãos onde a umidade acumula-se; em armazéns arejados mede-se onde há pouca circulação do ar, como nos
cantos e entre os dutos de aeração.
A temperatura do grão deve-se ser medida no local indicado pelo equipamento. Quando o sensor de temperatura é
conectado a uma sonda de metal ou a um cabo, no armazém, o calor é conduzido mais rapidamente no metal do que no grão. No
entanto, a temperatura indicada pelo sensor difere da do grão devido ao calor ao longo do metal para dentro ou para longe do sensor.
A temperatura requer um tempo maior para entrar em equilíbrio térmico com o grão, porque os grãos possuem baixa condutividade
térmica e baixo calor específico.

EFEITO DA VARIÁVEL FÍSICA – UMIDADE

O teor de umidade do grão é uma outra variável físoco-química que limita o desenvolvimento de bactéria, actinomicetes,
leveduras, fungos, ácaros e insetos que são os principais agentes de deterioração dos grãos armazenados. A quantidade de água livre
contida em um cereal logo depois de colhido e durante o armazenamento determina, indiretamente, na maioria dos casos a qualidade
dos grãos. Para um armazenamento seguro são importantes os seguintes pontos: teor de umidade abaixo de 13% inibe o crescimento
da maioria dos microorganismos e ácaros; teor de umidade abaixo de 10% limita o desenvolvimento da maioria dos insetos-pragas de
grãos armazenados; e teor de umidade dentro da uma massa de grãos são raramente uniformemente distribuídos e variam de estação
para estação e de uma zona climática para outra.

EFEITO DAS VARIÁVEIS FÍSICAS – PROPRIEDADES FÍSICAS DA MASSA DE GRÃOS ARMAZENADA

Uma massa de grãos tem cinco propriedades físicas. Essas propriedades são interrelacionadas entre si e afetam ou são afetadas
por outras variáveis físicas e bióticas.

1) POROSIDADE
Porosidade é devido tanto a natureza coloidal do miolo da semente como do próprio grão e a presença de espaços intergranular
na massa de grãos. A extensão da porosidade depende do tamanho e da forma do grão, elasticidade, estado da superfície, idade do lote,
peso, grau de compactação, período de estocagem, e distribuição da umidade na massa. Essas características físicas, por sua vez,
influenciam o movimento do ar, do calor e da umidade. Juntas, certamente, elas afetam a estabilidade do grão armazenado.
2) FLUIDEZ
A propriedade de fluidez de uma massa de grãos é determinada tanto pelo coeficiente de fricção (tangente do ângulo de fricção
ou o ângulo no qual o grão começa a fluir), como pelo ângulo de repouso (p. ex.: o ângulo de declive natural) que é o ângulo entre a base e
o declive (inclinação) do cone criado pela queda de uma porção de grãos dentro de uma superfície fechada até a velocidade zero. Esses
ângulos são determinados em parte, pela fluidez (simétrica e assimétrica) e profundidade do grão, a heterogeneidade do material sólido, e
o tipo, cultivar, e conteúdo de umidade do grão. O ângulo de fricção do trigo com teor de umidade entre 13 e 35% sobre uma chapa de aço
é 17 a 350; sobre madeira é de 19 a 380, e sobre uma correia transportadora o ângulo de repouso é de 35 a 40 0. O ângulo interno de fricção
é outra variável menos enfatizada mas uma importante propriedade da massa de grãos que afeta a fluidez do grão. Ele é o resultado do
ângulo de fricção entre as partículas dos grãos na massa de grão. O ângulo interno de fricção é maior do que o ângulo de repouso e
depende do localização na massa de grãos, ou da compactação ao longo da massa de grãos com a umidade do grão, coesão, orientação, e
dimensões do grão.
3) ACAMAMENTO
Acamamento ou segregação natural dos grãos durante o movimento é uma propriedade importante da massa de grãos. Quando o
grão é armazenado em um silo ou graneleiro, existem sementes e impurezas com elevado peso específico e alta velocidade terminal;
durante o carregamento do silo ou graneleiro estes materiais em queda vertical acomodam-se rapidamente sobre o chão do silo ou
graneleiro ou se deslocam em direção às paredes ou sobre a superfície da massa de grãos. Componentes de fraguimentação dos grãos e
partículas devido ao tempo de estocagem, palha com baixo peso específico e baixa velocidade terminal são carregados pelos grãos e
acomodam-se na coluna central do silo ou graneleiro. Por exemplo, o peso específico da massa de aveia perto do centro de um depósito foi
55,2 - 66,0 kg/hectolitro e ao longo da parede do depósito 40,8 - 44,0 kg/hectolitro. Este princípio da gravidade aplica-se toda vez que o
grão é movimentado. O acamamento natural também depende do formato do depósito, o raio e a altura do corte transversal, e a localização
da abertura de descarga.
4) SORÇÃO
Sorção é uma propriedade inerente a toda massa de grãos de cereais. Os grãos, por serem um material coloidal, são
higroscópicos, isto é, absorvem (adsorção) ou perdem (dessorção) água para o ambiente. A maioria dos grãos absorve umidade ou libera
para o ambiente atmosférico até um ponto em que o equilíbrio é alcançado. Em muitos grãos um aumento na umidade relativa do ar não
aumenta uniformemente a umidade contida do grão. Acima de 70 - 75% de umidade relativa, entretanto, pequeno aumento na umidade
relativa do ar circunvizinho corresponde a um grande aumento no teor de umidade de muitos grãos armazenados. Em um planejamento
seguro de armazenagem de grãos, informações sobre o teor de umidade do grão em relação à umidade relativa do ar para um tipo de grão,
em particular, é crucial. Curvas demostram que a magnitude do equilíbrio da umidade do grão é, principalmente, em função da
composição química do grão. Sementes oleosas que têm alto percentual de óleo e baixo teor de coloides higroscópicos apresentam teor de
umidade mais baixo que sementes de cereais, nas mesmas condições de armazenagem.
Falta de uniformidade na distribuição da umidade na massa de grãos é um importante fator no ataque inicial por organismos
causadores de danos. Este fenômeno é devido a: (a) a não uniformidade na distribuição da umidade em partes da massa de grãos devido a
peculiaridades anatômicas do grão; (b) a variação na capacidade de adsorsão entre grãos de diferentes tamanhos, formato, e maturidade;
(c) a umidade relativa do ar; (d) a evolução do calor por vários componentes bióticos da massa de grãos; (e) a condição do armazém; e (f)
a diferença de temperatura resultando em variações na "condutividade térmica da umidade" em diversas partes do grão.
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5) PROPRIEDADES DE TROCAS TERMO-FÍSICAS DA MASSA
Interrelações entre várias propriedades termo-físicas do grão e da massa de grãos, tais como capacidade térmica, condutividade
de temperatura (difusibilidade térmica), e "condutividade térmica de umidade", e variáveis físicas tais como convecção, condução,
radiação, evaporação, condensação, e absorção são responsáveis pela transferência e trocas de calor e umidade através da massa de grãos.
Condução é a transmissão de energia térmica durante o contato entre substâncias (de moléculas do ar para moléculas do ar no espaço
intergranular e de grão para grão em uma massa). Convecção é a circulação que ocorre em um fluido para uma temperatura não uniforme
devido a variação de sua densidade e a ação da gravidade. Em uma massa de grãos, convecção é a transmissão de calor pelo ar
intergranular. A condutividade térmica de grãos para diferentes teores de umidade mostrou ser da ordem de 0,0004 cal.cm-1.s-1.Cº-1. A baixa
condutividade térmica da massa de grãos é muitas vezes um importante fator de contribuição causando uma elevado aumento na
temperatura de fontes de menor calor produzido por microorganismos e insetos em microambientes dentro da massa de grãos. A
difusibilidade térmica ou a razão para que trocas de temperatura são transferidas é regulada também pela capacidade térmica da massa de
grãos. A difusibilidade térmica do grão é usualmente na ordem de 0,00115 cm2.s-1. O calor específico do trigo com 12% de umidade é 0,50
cal.g-1.Cº-1. A razão de troca de temperatura em uma massa de grãos em particular é determinada pela condutividade térmica da massa de
grãos.
Condutividade térmica de é o movimento de umidade entre a massa de grãos sob um gradiente de temperatura. Perdas de grãos
devido a acumulação de umidade no declive do armazém ou condensação do vapor de água transportado de partes aquecidas para
resfriadas da massa de grãos, como comumente ocorre em regiões temperadas, pode ser explicado por este fenômeno.
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EFEITO DA VARIÁVEL FÍSICA – ESTRUTURA DO ARMAZÉM E SUAS INTERRELAÇÕES

O desenho e construção de estruturas granarias apropriadas são fatores importantes na manutenção e melhoria na estabilidade da
massa de grãos armazenados. Para uma conservação segura, os grãos devem ser guardados secos, em local fresco, e protegidos de água e
agentes bióticos externos. A escolha do local do armazém, seu desenho, e o material usado em sua construção em grande parte determina
se certo organismo daninho, incluindo pássaros e roedores, serão pragas significantes. Geralmente, exigências estruturais para estocagem
de grãos poderão variar de acordo com o clima, o tipo de colheita, e espécies de pragas dominantes de um país ou área geográfica. As
construções deverão são adequadas para a redução de infestação de pragas, para minimizarem o calor na parte superior do ambiente e
maximizarem a perda de calor e de umidade do grão para o meio ambiente.
No passado muita atenção foi dada ao planejamento de grãos estocados visando mais o controle químico de grãos infestados do
que a construção de estruturas de estocagem de grãos apropriados biologicamente e geograficamente. Infelizmente, uma abordagem multi-
disciplinar, frequentemente não foi utilizada nos desenhos dessas estruturas. Consequentemente, poucas soluções a longo prazo têm sido
criadas, para solucionar problemas repetitivos de estocagem de grãos.

EFEITO DA VARIÁVEL FÍSICA – VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS QUE AFETAM O ARMAZENAMENTO DE GRÃOS

Variáveis meteorológicas influenciam as propriedades físicas da massa de grãos. Variações diurnas e anuais na temperatura
afetam lentamente regiões profundas de extensa massa de grãos. Smith calculou que para 10 cm de profundidade uma diferença diária de
100C é reduzida para 1 0C e a 4 metros de profundidade uma média na faixa de 400C pode ser limitada a 10C. Ele observou que é necessário
6 meses de verão, para que a temperatura máxima do ar possa alcançar 2,5 metros de profundidade.

EFEITO DAS VARIÁVEIS QUÍMICAS – DISPONIBILIDADE DE OXIGÊNIO

A disponibilidade de oxigênio (ao lado do teor de umidade) é provavelmente a variável química mais importante: afeta o
crescimento e desenvolvimento de todos organismos nocivos exceto bactérias anaeróbicas. Porque fungos, ácaros e todos os insetos
requerem oxigênio livre para o seu desenvolvimento; conseqüentemente, os grãos podem ser armazenados com perda mínima de
qualidade se esta variável é excluída (como no armazenamento hermético)ou manipulado pela modificação da estrutura de
armazenamento. Os grãos são matérias orgânicas compostas de água, carboidratos, proteínas incluindo enzimas, gorduras, minerais e
vitaminas; sua estabilidade no armazenamento depende em manter um balanço entre os seus componentes e os do meio externo físico
e biológico.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES INTERNAS – LONGEVIDADE


O período de viabilidade do grão durante o armazenamento pode ser longo ou curto. As causas da morte da semente são
ainda obscuras. Um hipótese é que os grãos morrem devido a degeneração da proteína que, em geral, é influenciada pelo
apodrecimento do núcleo das células. É geralmente sabido que a vida do grão armazenado é regulada pelo tipo de grão, pela
microflora presente e pela interação entre a temperatura e umidade.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES INTERNAS – RESPIRAÇÃO


A propriedade de respiração do grão e da microflora presente é crucial no entendimento do processo de deterioração do
grão. Ambos respiram pelo mesmo princípio fisiológico. A respiração dos grãos ou grãos quebrados produz energia e ocorrem na
presença (aeróbica) ou na ausência de oxigênio (anaeróbica). Na respiração aeróbica ocorre uma oxidação completa da glicose
produzindo dióxido de carbono, água e energia (674 Kcal) enquanto que na anaeróbica a glicose é completamente decomposta
formando dióxido de carbono, álcool etílico e energia. Os efeitos diretos da respiração são a perda de peso e o ganho de teor de
umidade do grão, aumento do nível de dióxido de carbono no ar e aumento da temperatura dos grãos.
Oxidação da glicose: C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + energia (674 Kcal)
Fermentação da glicose: C6H12O6 → 2C2H5OH + 2CO2 + energia
O grau de intensidade da respiração dos grãos e dos fungos determinam, em parte, a taxa e a extensão da deterioração da
massa de grãos. A intensidade do processo respiratório é regulado por um conjunto de variáveis bióticas e abióticas tais como:
umidade, temperatura, aeração, tamanho e forma do grão e da massa de grãos, da espécie, da variedade, maturidade pós-colheita, a
colheita e condições de transporte.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES INTERNAS – MATURIDADE PÓS-COLHEITA

A maturidade pós-colheita é uma das propriedades dos grãos menos entendidas. Complexas mudanças bioquímicas ocorrem
nos dias e semanas que se seguem ao armazenamento de grãos colhidos “frescos”. O período final da síntese química, que se inicia
na maturação principalmente de cereais no campo, pode ser completado com sucesso somente após o grão ter amadurecido no campo
e colhido com o mínimo de injurias. Quando a colheita é realizada na época correta (depois da maturação dos grãos) é possível
melhorar a estabilidade do armazenamento e a manutenção da qualidade do grão.
Durante muitos anos acreditou-se que o trigo recém-colhido não tinha a mesma performance que o trigo armazenado por um
período de muitas semanas ou meses. Uma revisão de literatura feita por Pomeranz (1992), citado por JAYAS et al.(1995) mostrou
que a qualidade da farinha de trigo recém-colhido para a panificação é melhor do que aquela que ficou armazenada por um curto
período de tempo. Subseqüentemente vê-se que o envelhecimento não melhora o potencial de panificação e o armazenamento
prolongado pode gerar um declínio gradual na qualidade de panificação ou cozimento.
A maturação pós-colheita é manifestada com o aumento na extração durante a moagem ou volume total e a qualidade de
panificação. Estas melhorias dentro do processo tecnológico mostram que a qualidade parece alcançar um máximo ao redor 2-4
meses após a colheita dependendo do tipo e variedade do trigo.
Estudos feitos com longos períodos de armazenamento sobre condições favoráveis têm geralmente indicado que o potencial
da qualidade de panificação pode permanecer relativamente sem prejuízo a despeito de reduzir muito a capacidade de germinação e
aumentar os ácidos graxos livres.
Fatores que influenciam a qualidade dos grãos armazenados, 1998 p.1-15
A qualidade de panificação do trigo ou da farinha de trigo recém-colhidos, normalmente, tende a melhorar com o tempo
dependendo das condições de armazenamento. Subseqüentemente, alcança-se um ponto onde o envelhecimento não melhora o
potencial de cozimento; e os longos períodos de armazenamento são acompanhados de um declínio gradual na qualidade de
panificação, Pomeranz (1971) citado por SAUER (1992) .
Em pesquisas realizadas em 1956, foi verificado um decréscimo na qualidade da panificação em trigo armazenado com altos
níveis de umidade e temperatura, Pomeranz (1956) citado por SAUER (1992). Em 1965 Daftary e Pomeranz, citados por SAUER
(1992), mostraram que a deterioração dos grãos infestados com fungos de armazenamento é acompanhada de um desaparecimento
rápido dos lipídios polares, componentes essenciais á farinha de trigo destinada a panificação.
Estudos feitos por Daftary et al. (1970) e Pomeranz (1968), citados por SAUER (1992), indicam que o trigo e os lipídeos do
trigo são mais susceptíveis ao ataque de fungos de armazenamento do que os outros componentes da farinha de trigo. De acordo com
estes autores a fração de proteína, rendimento do glúten, tempo de mistura, volume do pão, cor e sabor do miolo do pão podem ser
melhoradas adicionando-se farinha saudável, lipídeos e/ou acrescentando frações de proteínas e água solúvel que correspondam as
frações destes elementos que foram danificados.
Os resultados destes estudos indicam que o trigo e os lipídeos do trigo são mais susceptíveis ao ataque de fungos de
armazenamento do que os outros componentes da farinha de trigo. Os danos no glúten e componentes de água solúvel variam de
acordo com as condições de armazenagem. Nos estágios iniciais da deterioração, as proteínas glúteas não são danificadas e o volume
do pão pode ser restaurado com a adição de farinha saudável. Em estágios mais avançados as proteínas em água solúvel e o glúten
são danificados.
O amido parece ser mais resistente e não sofre danos nas suas propriedades funcionais. De acordo com Acker (1961), citado
por SAUER (1992), o dano é possível caso o estágio de deterioração pelos fungos seja muito avançado. Embora os resultados
sugiram uma seqüência de deterioração para todos os tipos de danos, diferentes tipos de avarias nas macromoléculas do trigo podem
ocorrer dependendo das várias condições de armazenagem.
Em um experimento com dois cultivares de trigo mole Krishtrofovich e Pokrosvskaya, citados por SAUER (1992), com
diferentes teores de umidade (13-13,5%; 11,2-10,8%; 6,9-10,8%) sem ar, foi verificado que ocorreram mais mudanças no trigo
armazenado com maior teor de umidade (13-13,5%). Os aurores verificaram também que o complexo de lipídeos foi mais instável do
que o complexo de proteínas e ocorreram mudanças no armazenamento em todas as variedades.
Bell et al (1979), citado por SAUER (1992), estudaram a influência da temperatura de armazenamento das farinhas de trigo
obtidas de trigos fraco, médio e forte, durante um período de 66 meses, na qualidade de panificação. As mudanças na qualidade da
panificação durante o armazenamento foram determinadas com o processo de Chorleywood para pão, um longo processo de
fermentação, e o processo de desenvolvimento da massa ativada. De acordo com os autores as mudanças no volume do pão variaram
com o tipo de farinha e o método testado e dependeram muito da presença de gordura na receita da panificação. Quando foi
adicionado gordura, o processo de Chorleywood foi mais sensível para as mudanças deteriorativas. Foi sugerido, de acordo com os
resultados obtidos, que os três testes de cozimento diferenciaram na sensitividade ao tipo de farinha (força), variações na composição
da massa (principalmente o nível de gordura adicionado), nível de deterioração dos ácidos graxos formados durante o
armazenamento e os efeitos benéficos da farinha armazenada nas proteínas, como uma expressão das propriedades reológicas.
O estudo confirmou que os ácidos graxos livres se correlacionam com o decréscimo na qualidade da panificação, os ácidos
graxos podem não estar relacionados como causa para esse decréscimo. Consequentemente, um limite superior fixado nos níveis de
ácidos graxos acima do qual a deterioração esteja evidente não parece possível, e a acidez graxa sozinha não pode dar uma indicação
confiável da deterioração na farinha armazenada.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES INTERNAS – GERMINAÇÃO

A germinação é definida como o fenômeno pelo qual, sob condições apropriadas o eixo embrionário dá prosseguimento ao
seu desenvolvimento, que tinha sido interrompido por ocasião da maturidade fisiológica.
A germinação durante o armazenamento pode ocorrer principalmente devido as práticas impróprias de armazenamento
incluindo a geração de calor, resultante da infestação. Quando o grão germina no topo do silo pode-se estar seguro de que é devido a
problemas de umidade devido a geração de calor, seguido de perda de matéria seca do grão e da perda de qualidade.
A dormência é o fenômeno pelo qual sementes de uma determinada espécie, mesmo sendo viáveis e tendo todas as condições
ambientais para tanto, deixam de germinar.
A dormência de muitos cereais é perdida lentamente no armazenamento a seco. Na natureza, no entanto, a temperatura e a
luminosidade são fatores importantes na quebra da dormência. Os efeitos da luz na germinação podem ser inibidores, promotores ou
não promotores variando com a espécie e a luz. A resposta à luz pode ser afetada com as condições ambientais (pressão do oxigênio
ou temperatura ambiental) e podem mudar durante o armazenamento.
Várias teorias tem sido propostas para explicar a perda de viabilidade das sementes durante o armazenamento. Basicamente
elas são divididas em dois grupos: um em que a perda da viabilidade é um fator intrínseco resultante do metabolismo da semente e
outro em que as causas são extrínsecas para as sementes e são elaboradas com microorganismos que vivem em associação com a
semente.
A viabilidade das sementes de cereais é condicionada com a temperatura e umidade do armazenamento. Ela pode ser
prolongada com baixos teores de umidade e temperatura. Carter e Young (1945), citados por POMERANZ (1974) colocaram trigo
com 12,2 a 18% de umidade, em contêiners herméticos; sintomas de danos ao trigo apareceram após 279 dias com 12,2% e 40°C,
mas não em baixas temperaturas.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES EXTERNAS – MICROORGANISMOS

Os organismos vivos e os componentes de um ambiente inerte interagem para trazer estragos em grãos armazenados. Os
organismos vivos são dividos em três grupos: os produtores (plantas verdes), os consumidores (insetos, animais e homem) e
decompositores (bactérias e fungos). Quando o grão está armazenado, os decompositores, estão normalmente em estado de
dormência, e os consumidores (insetos e roedores) estão ou poderiam estar ausentes. Em contrapartida, o ambiente inerte
(temperatura, umidade, oscilação de O2 e CO2) podem sofrer transformações. Uma elevação de temperatura, por exemplo, podem
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ativar os decompositores. Os cereais são infectados quando a umidade dos grãos excede 13.5%. A temperatura ótima para infecção é
em torno de 27º C.
A Microflora dos grãos armazenados é formada por uma grande variedade de fungos e bactérias. A predominância de uma
determinada espécie desses organismos acha-se na dependência de muitos elementos, destacando-se os fatores climáticos onde os
grãos são produzidos, as condições de armazenagem e da espécie ou variedade vegetal.
Nos países tropicais, como no Brasil, os fungos constituem os principais microorganismos da microflora presente naqueles
produtos.

MICROORGANISMOS PRESENTES NOS GRÃOS


1. Fungos
Entre os microorganismos encontrados na massa de grãos, destacam-se um grande número de espécies de fungos. Estes
formam um grande grupo, incluindo parasitas de homens, animais e vegetais. São constituídos por delicados filamentos que se
ramificam, denominados hifas e cujo conjunto é chamado micélio. O micélio executa as funções vegetativas e a função reprodutiva é
realizada por órgãos frutíferos denominados esporos. Os esporos são disseminado de diversas maneiras: ventos, chuvas, insetos,
ferramentas, utensílios agrícolas, etc.
Em condições favoráveis do meio ambiente, os esporos germinam produzindo uma ou mais hifas, as quais invadem os
tecidos dos grãos e de seus subprodutos. As hifas penetram no substrato por ação de enzimas ou ação mecânica, e seu
desenvolvimento é afetado pela disponibilidade de nutrientes do suporte vegetal, umidade e temperatura. Via de regra, os esporos têm
sua origem no campo onde foi realizada a colheita.
Os fungos mais freqüentes são os do gênero Aspergillus e Penicillum. Estes fungos produzem ácidos que decompõem a
matéria orgânica (como os produtos armazenados).
2. Bactérias
São organismos unicelulares, cuja multiplicação se dá simplesmente por divisão celular. São incapazes de penetrar no tecido
intacto do grão, sendo necessário que haja aberturas naturais ou ferimentos causados por insetos ou tecidos apodrecidos.

DETERIORAÇÃO DOS GRÃOS PELA AÇÃO DA MICROFLORA


A ação dos microorganismos afeta o poder germinativo das sementes, as qualidades organolépticas, o valor nutritivo e o
aproveitamento industrial dos grãos e seus subprodutos. Alguns são produtores de substâncias extremamente tóxicas (micotoxinas).
As várias espécies de fungos invadem várias partes das sementes, incluindo o germe, causando ou contribuindo para
redução do poder germinativo.
As matérias graxas (combinação de ácidos graxos e glicerina) são muito instáveis quando armazenadas em condições
desfavoráveis à sua preservação, provocando rancidez. A rancificação provém da oxidação ou hidrólise da matéria graxa. Essa reação
dá origem a ácidos graxos livres. O teor de ácidos graxos livres constituem índice de deterioração dos grãos. Essa degradação é
acelerada por fungos que infestam os grãos armazenados.
Os grãos armazenados elevam sua temperatura, se conservados com elevado teor de umidade, em razão da alta taxa de
respiração dos grãos úmidos e dos microorganismos associados à massa. O aumento de temperatura é provocado, normalmente, pelo
ataque de insetos ou fungos, ou ambos em conjunto.
O aquecimento de uma massa com teor de umidade abaixo de 14.6% é geralmente devido a uma população de insetos.
Acima desse valor, pode ser atribuída quer aos fungos quer aos insetos, ou a ambos. Grandes aumentos de temperatura, entre 45ºC e
57ºC, são devidos aos fungos, já que a temperatura de 45ºC é suficiente para matar os insetos (adultos)
O aumento de temperatura, acima do nível letal para a maioria dos fungos (55ºC), pode provocar calor até o ponto de
ignição.
Micotoxicoses são doenças de animais e do homem, causadas pela ingestão de rações e alimentos contaminados por fungos
que produzem toxinas. A aflatoxina, substância tóxica produzida pelo fungo Aspergillus flavus é grande causadora de contaminações
em animais, principalmente. Apesar de ser bastante comum em amendoim, sabe-se que essa toxina se desenvolve em diversos outros
grãos.

FATORES QUE AFETAM A ATIVIDADE DA MICROFLORA


Os principais fatores que afetam a atividade da microflora são: teor de umidade dos grãos, temperatura, taxa de oxigênio,
condições do tegumento externo dos grãos e impurezas existentes na massa de grãos.
Quando a umidade relativa do ar intersticial de uma massa de grãos alcança 75%, a maioria dos cereais apresenta um teor
de umidade entre 14-15%. Este teor é suficiente para que os esporos dos fungos presentes nos grãos germinem e se desenvolvam,
acelerando-se à medida que a temperatura se apresenta em níveis superiores a 25º C.
Acima de 90% as bactérias tornam-se tão importantes quanto os fungos.
Temperaturas muito altas e muito baixas inibem o desenvolvimento para a maioria dos fungos e bactérias. Em nossas
condições, as temperaturas se apresentam em níveis favoráveis para o desenvolvimento de um grande número de fungos.
Os microorganismos são divididos em dois grandes grupos: Aeróbios e anaeróbios. Entre as bactérias, encontram-se
representantes de ambos os grupos. A maioria dos fungos são essencialmente aeróbios; seus esporos não germinam e o crescimento
do micélio é interrompido em um ambiente onde a concentração de oxigênio é baixa.
O tegumento é uma barreira natural contra a infecção dos microorganismos. Os grãos estragados pelo manuseio ou
atacados por insetos são mais sujeitos à ação da microflora do que os grãos em perfeito estado.
O produto contendo impurezas (fragmentos do próprio produto) e matérias estranhas (detritos vegetais e corpos estranhos)
é portador de maior quantidade de microorganismos e apresentam condições que aceleram sua deterioração As matérias estranhas
apresentam teores de umidade mais elevados que o produto (quando sob mesmas condições).

CONTROLE DA MICROFLORA DOS GRÃOS ARMAZENADOS


Os métodos empregados para evitar a deterioração dos grãos armazenados consistem em conduzir o teor de umidade,
temperatura e taxa de oxigênio à níveis desfavoráveis ao desenvolvimento da microflora.
Fatores que influenciam a qualidade dos grãos armazenados, 1998 p.1-15
A secagem dos grãos, para atingir os níveis ótimos de umidade que impedem o desenvolvimento da microflora, é a
operação mais prática. Na secagem mecânica, altas temperaturas podem causar rachaduras nos grãos, imperceptíveis a olho nu,
propiciando condições favoráveis ao ataque de microorganismos.
Dependendo da temperatura, o teor de umidade para armazenamento de milho e trigo deverá estar em torno de 13%, e para
soja, 12%.
A limpeza tem como objetivo reduzir o teor de impurezas e de matéria estranha existente nas massa de grãos a nível
satisfatório, para fins de armazenamento. É realizada por máquinas que usam a ação do ar forçado e da gravidade.
O período máximo que pode-se armazenar uma massa de grão, sem prejudicar o tipo comercial do produto pela ação da
microflora depende dos seguintes fatores: espécie ou variedade dos grãos, teor de umidade ou temperatura.
Para que o produto possa ser armazenado com segurança, os níveis máximos de teor de umidade podem ser estabelecidos
segundo as indicações seguintes:

GRÃOS UMIDADE (%) GRÃOS UMIDADE (%)

Arroz com casca 12 Cevada 13


Arroz polido 13 Amendoim 8
Trigo 13 Girassol 8
Milho 13 Café 11
Sorgo 12 Feijão 11
Aveia 12 Soja 11

Os teores de umidade apresentados ficam em equilíbrio com umidade relativa do ar abaixo ou até 65%, limite para um
longo armazenamento.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES EXTERNAS – INSETOS

A extensão dos danos e perdas na pós-colheita causados por insetos nos grãos e seus derivados (produtos processados), é
difícil de quantificar. A perda nos grãos pode ser considerada de variadas formas: perda de peso, nutricional, da qualidade, da
viabilidade das sementes e outras. Os produtos já processados também estão sujeitos a perdas. Mas o pior dano é a contaminação. Em
alguns países, a simples presença de insetos em produtos processados é causa para a rejeição do produto.
A proposta ,ou seja, objetivo deste trabalho, não foi discutir a metodologia ou níveis de perdas que ocorrem, mas descrever
os tipos de danos e perdas que podem ocorrer direta ou indiretamente como resultado da infestação de insetos em grãos e seus
derivados.

DANOS DIRETO EM GRÃOS E SUBPRODUTOS


1. Consumo de grãos pelos insetos
Todos os insetos que infestam e se desenvolvem nos grãos, consomem parte dele. Espécies infestando internamente, como
o gorgulho (Sithophilus sp.), o menor broqueador dos grãos (Rhyzopertha dominica), e mariposas, alimentam largamente do
endosperma.
A alimentação das espécies que infestam internamente resulta em um grão com variável porcentagem de peso perdido.
White (1953) encontrou que o gorgulho do arroz consumiu cerca de 30% do peso dos grãos de trigo em que se desenvolvia.
Resultados não publicados da Universidade do Estado do Kansas (Cotton and Wilbur, 1982) indicaram que o gorgulho do arroz “S.
oryzae” consome cerca de 26% do peso do trigo em que eles estavam desenvolvendo, enquanto que o gorgulho “S. granarius”
consome 56% do grão. A perda de peso do trigo em 20 dias de ataque pelas larvas do menor broqueador dos grãos foi em média de
9,5%. A perda de peso provocadas pelos adultos foi de 19,4, 12,0, 9,5 e 6,5% durante a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª semana, respectivamente, após a
emergência dos adultos. O peso perdido acumulado de 60 dias foi de 56,9% (em média), ou seja, 1,6% por dia (Rao and Wilbur,
1972).
O consumo de trigo por espécies que infestam internamente (gorgulhos, o menor broqueador dos grãos, e as mariposas),
influencia na classificação do produto, na aceitabilidade, processamento, e uso como semente.
2. Contaminação dos grãos e dos seus subprodutos
A infestação de insetos contaminam os grãos armazenados em virtude da presença, de seus estágios de desenvolvimento,
insetos vivos e mortos, seus produtos metabólicos e outros aspectos do seu processo de vida.
O Federal Grain Inspection Service (FGIS, 1987) substitui a classificação especial “infestado de gorgulhos” pela nova
classificação especial “infestado”. A designação “infestado” é determinado na base de números de insetos vivos na porção da amostra
usada para classificação. O critério para grãos, que são usados para alimentação humana são mais restritos que aqueles usados para
alimentação animal.
Mesmo que ovos, larvas e pupas possam estar presentes no interior do grão e não serem observados na amostra, eles ainda
constituem contaminação. Os processadores de grãos estão preocupados com esta forma de infestação, porque ela provavelmente será
a fonte de contaminação do produto processado. Larvas, pupas e adultos (vivos ou mortos) no interior do grão são impossíveis de ser
removidos completamente antes do processamento, e resulta em fragmentos como contaminantes no produto processado. Na farinha
de trigo, o FDA tinha estabelecido um nível de 75 fragmentos por 50g como nível aceitável (FDA, 1988). Compradores de farinha de
trigo, na maioria dos casos, têm estabelecido níveis de rejeição muito rigoroso, muito abaixo deste valor. Contaminantes, tais como
insetos vivos e fragmentos, podem ser medidos por métodos aceitáveis. Outros contaminantes tais como resíduos metabólicos na
forma de excremento/fezes não são detectados nem medidos, contudo a determinação de ácido úrico pode dar uma indicação do nível
de contaminação. Gorgulhos e larvas de mariposas/traças depositam a maior parte de seus excrementos no interior do grão, enquanto
que o menor broqueador dos grãos (larvas) empurram a maior parte do excremento que elas produzem para fora do grão. A
característica de odor “adocicado” é também um resultado da infestação do menor broqueador dos grãos e constitui uma
contaminação.
Fatores que influenciam a qualidade dos grãos armazenados, 1998 p.1-15
As larvas da traça da farinha de trigo e outras traças que infestam grãos deixam um fio sedoso, por onde elas se movem:
sobre a superfície dos grãos, produtos processados e equipamentos. A quantidade deste emaranhado de fio é dependente do tamanho
e da espécie da população da traça. Extensos emaranhados de fio na superfície da massa de grãos, pode impedir efetivos
resfriamentos do ar no interior da massa de grãos. Infestação em produtos processados, cobrem a superfície dos produtos, causam a
aderência do produto no equipamento e em casos severos tem obstruído o fluxo dos produtos nos sistemas de processamento.
Em produtos processados, contaminantes como resultado da infestação externa de insetos, não são facilmente detectados ou
removidos. As larvas quando sofrem ecdise, deixam uma casca/pele, que pode contaminar os produtos processados. Besouros na
farinha de trigo, quando presentes em grande número, produzem secreções (quinonas) que tem um odor pungente que pode tornar o
produto impróprio para o consumo. Freeman and Turtle (1947) indicaram que a farinha de trigo infestada com ácaro tem um odor
desagradável e que quando é usado para a panificação, o pão tem um gosto ácido e cor pobre (não característica).
3. Danos na estrutura, equipamentos e recipientes
Já é bem conhecido, da habilidade das larvas em fazer túneis/galerias em estruturas de madeira para armazenagem, veículos
de transporte e equipamentos processadores. Em alguns casos, os danos tem sido suficiente para enfraquecer as estruturas (Wilbur e
Halazon, 1965). Em adição aos danos físicos, as galerias nas madeiras deixam sujeira e fornecem abrigo para estas e outras espécies
de insetos. As acumulações impossibilitam a limpeza e reduzem a eficiência das medidas de controle.
Moinhos de farinha de trigo e elevadores de madeira, equipamentos de processamento, isto é, peneiras, correias, elevador
de grãos, etc., têm no passado, experiências de danos aos equipamentos como resultado das galerias das larvas (Cotton et al., 1945).
Contudo, modernos equipamentos de metal e sistemas de transporte pneumáticos, tem reduzido o potencial deste tipo de dano.

DANOS INDIRETOS PARA OS GRÃOS E SEUS SUBPRODUTOS


1. Aquecimento e contribuição para outras formas de deterioração
O aquecimento é mais comum no grão úmido (acima de 15% de umidade) e não usualmente no grão seco (10-14% de
umidade). Os insetos, entretanto, são capazes de causar aumentos da temperatura mesmo em grãos secos (Cotton et al., 1960).
Fatores que determinam a quantidade de calor produzido pelos insetos, são relatados para as espécies de insetos, tamanho da
população, temperatura e umidade contida nos grãos.
Insetos, durante seu consumo de grãos, produzem calor como resultado de seus processos metabólicos. Como o
endosperma e outras partes dos grãos são consumidas, os insetos produzem dióxido de carbono, água e energia. Quando a infestação
de insetos é suficiente em tamanho para produzir calor em excesso da quantidade que pode ser dissipada para o grão, localiza-se uma
“bolsa” de calor causada pelos insetos em desenvolvimento. Isto é mais provável de ocorrer onde bolsas de ar estão presentes ou em
áreas onde materiais finos e sujos acumularam-se devido às grandes infestações de insetos. Pequenos aumentos localizados de
temperatura aceleram a atividade metabólica dos insetos e a população aumenta (Howe, 1962). O calor produzido pelos insetos em
armazenamento a granel pode gerar um ambiente favorável ao desenvolvimento deles, ainda que a temperatura de fora e aquelas em
outras partes da massa de grãos não sejam favorável.
Em situações onde a infestação é detectada cedo, fumigações para controlar a infestação resulta na eliminação da fonte de
calor e uma redução da temperatura. Se não detectado antecipadamente, uma infestação pode criar condições de aumento da umidade
e temperatura, favoráveis para o desenvolvimento de fungos no local da infestação. A mancha de calor também cria um gradiente de
temperatura dentro da massa de grão que por sua vez cria um movimento de ar quente para cima no sentido da superfície (Hall,
1970). O fenômeno de migração de umidade e/ou translocação, então prossegue.
2. Distribuição dos microorganismos na massa de grãos
Insetos e ácaros têm sido envolvidos no transporte de esporos de fungos na massa de grãos. Christensen e Kaufmann (1969)
indicaram que pelo menos os mais comuns insetos-pragas de grãos armazenados, transportam grande carga de inóculos de fungos no
meio deles. Com o desenvolvimento da população de insetos, ocorre um aumento da temperatura e da umidade do grão, criando
condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo. Agrawal et al. (1958), trabalhando em pequenos lotes de grão, mostraram
que o gorgulho aumentou a umidade para 17,6-23% dentro de 3 meses, enquanto que o grão não infestado equilibrou em 14,6-14,8%
a 75% de umidade relativa.
O potencial dos insetos para transmissão de bactérias patogênicas, tais como Salmonella, Streptococus e outras, foi
estudado por Husted et al. (1969). O gorgulho do arroz reteve a Salmonella montevides interna e externamente por ao menos 5
semanas, depois de iniciada a contaminação do trigo, por 14 ou 21 dias, e foi capaz de transmitir a bactéria para um trigo não
contaminado.
3. A resistência do consumidor a produtos contaminados.
Os produtos dos cereais, ou seja, os processados, podem, algumas vezes, ser rejeitado com base em 1 inseto em uma carga
de farinha de trigo ou 1 inseto em um pacote de cereal. A rejeição é um meio pelo qual as cadeias de consumidores reagem com a
presença de produtos contaminados no sistema. Se um consumidor compra um produto de cereal infestado e/ou contaminado, ele
pode retorná-lo para o local onde comprou e levar um produto de marca concorrente. Em outros casos, o produto infestado pode ser
descartado e o responsável pelo processamento daquele produto notificado da insatisfação do consumidor. Os responsáveis pelo
processamento são informados dos efeitos que os produtos infestados, no mercado, podem causar sobre a sua reputação e negócios.
Mesmo que o processador tenha tomado o máximo de cuidado para produzir um produto livre de insetos, o sistema de distribuição do
processador ao consumidor (transporte, venda no atacado em armazéns, venda a varejo) oferece muitas oportunidades para o produto
ser infestado. Infelizmente o rótulo do processador é reconhecido e o processador recebe a culpa pelo produto infestado.
As normas devem existir para que as indústrias processadoras produzam produtos cada vez mais isentos de contaminantes,
e é obrigação dos consumidores reclamar por produtos de melhor qualidade.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES EXTERNAS – ÁCAROS

Dentre as 6.000 espécies conhecidas de ácaros, menos que 30 delas são conhecidas como praga de grãos armazenados.
A classe Arachinidea tem 7 famílias as quais se diferenciam pelas características morfológicas, bioecológicas e fisiológicas
sendo encontradas em grãos, grãos armazenados, produtos derivados e moinhos de grãos. Como pragas de grãos armazenados,
somente 2 famílias são representantes: Tyroglyphidae e Glycyphagidae.
Todas as espécies de ácaros têm forma oblonga e medem entre 0,2 e 1mm. Seu corpo é dividido em 2 partes: cefalotórax e
abdômen. No cefalotórax encontra-se a boca e 2 pares de patas. No abdômen estão inseridos 2 pares de patas e está presente o
Fatores que influenciam a qualidade dos grãos armazenados, 1998 p.1-15
aparelho genital e excretor. Seu aparelho bucal é do tipo triturador, perfurante e sugador. Não possuem antenas, seu corpo é coberto
por uma camada de quitina. O corpo apresenta pêlos ou espinhos de todos os tipos e formas.
A respiração, digestão e reprodução variam nos diferentes grupos de ácaros. Entretanto, a atividade dos ácaros depende de
algumas condiçoes de estocagem dos grãos e seus derivados.
Os ácaros aparecem quando as condições de estocagem não estão reguladas ou quando os subprodutos dos grãos não foram
cuidadosamente manuseados. Sob condições normais de estocagem de grãos e seus subprodutos, a injúria de ácaros passa a ser
insignificante. O valor nutritivo da mistura alimentar diminui com o aumento da infestação por ácaros, podendo até causar doenças
em animais se estes forem alimentados com produtos infestados.

VARIÁVEIS BIOLÓGICAS DE FONTES EXTERNAS – ROEDORES E PÁSSAROS

Além do homem, os ratos e camundongos são os mamíferos mais bem sucedidos e abundantes sobre a terra. Para chegar a
este ponto, estes roedores contaram com a inadvertente ajuda do homem, no que diz respeito às condições favoráveis a sua
proliferação e sobrevivência, como alimento e abrigo. Roedores comensais são encontrados no mundo inteiro, vivendo em
associações com o homem; isto ocorreu devido a alterações do ambiente natural destes, pela construção de cidades, prática de
monocultivos e expansão de linhas de transportes. Os ratos e camundongos são considerados comensais devido ao fato de que estes
vivem às custa do homem, comendo seu alimento, contaminando seus produtos, invadindo suas moradias, além de serem vetores de
doenças como peste bubônica, leptospirose, raiva, tifo e antavírus.
Os roedores têm como característica principal a presença de fortes dentes incisivos, com crescimento contínuo, usados para
roer. Não possuem dentes caninos ou pré-molares e entre os incisivos e molares, existe um espaço que permitem-lhes roer ou cavar
materiais não alimentares, sem colocá-los na boca. Quanto ao hábito alimentar as três espécies são onívoras, embora tenham
preferência por cereais, frutas e lixo caseiro.
Alimentos armazenados geralmente estão propenso ao ataque de roedores, tornando estes mamíferos pragas em várias
regiões do mundo. Os produtos vulneráveis ao ataque de ratos e camundongos são cereais em geral como milho, arroz, sorgo,
milheto, cevada, trigo, e seus subprodutos (i.e. farinhas e fubás). Apesar do ataque de roedores em produtos armazenados ser bastante
comum, estimativas de danos ou perdas têm sido pouco estudado. Todavia, perdas não ocorrem somente pela alimentação, mas
principalmente pela contaminação através de pêlos e dejetos como fezes e urina, o que torna os produtos impróprio para o consumo
humano e até mesmo em alguns casos para o consumo de outros animais.
Alem de roer continuamente materiais alimentícios e não alimentícios, os ratos urinam e defecam nos locais onde comem,
contaminando. Esse comportamento, gera problemas econômicos como a perda de alimentos, forragens e outros materiais, levando
consequentemente a gastos na restituição desses produtos. Dados precisos sobre prejuízos causados pelos ratos em plantações,
produtos armazenados ou danos em estruturas são de difícil obtenção, sendo que algumas estimativas não são condizentes com a
realidade. Estima-se grandes gastos com o controle de roedores em muitos países produtores de cereais, enquanto que nos Estados
Unidos estima-se que sejam gastos anualmente, cerca de 100 milhões de dólares no combate de ratos. No Brasil, segundo dados de
pesquisas as perdas ou danos causados por ratos varia de 4 a 8 % em produtos armazenados.
Os pássaros são animais altamente especializados entre os vertebrados. São os únicos animais providos de penas, possuem
os pés e bicos adaptados a exploração de diferentes habitats e tipos de alimentos. Desta forma, os pássaros podem viver nos mais
variados ambientes. Estão aptos a nadar, saltar e correr, alimentar-se de peixes, animais mortos, pequenos organismos como insetos,
vegetais, frutos, grãos e sementes. A importância de pássaros pragas de grãos estocados, tem sido evidenciada em muitos países.
Espécies de pássaros são atraídas inicialmente quando a cultura ainda se encontra no campo, através do amadurecimento, secagem e
debulha no momento da colheita. Algumas espécies têm desenvolvido uma estreita relação com fontes permanente de cereais e seus
subprodutos, tornando-se problemas de pragas em lavouras e produtos armazenados. Em alguns casos, os pássaros são atraídos
também por porções de grãos derramados próximos ao local de armazenamento; este descuido pode levar ao estabelecimento de
populações que posteriormente podem invadir os locais de armazenamento e causar danos através de buracos feitos com o bico nas
sacarias, que além da alimentação pode causar extravasamento e contaminação do produto, que em caso extremo pode levar ao
colapso do complexo de armazenagem. Além disso, pássaros são hospedeiros de piolhos e ácaros que tornam-se pragas ocasionais do
homem quando ninhos estão presentes nas construções. Ninhos de pássaros normalmente pode servir como abrigo para vários
insetos-praga de grãos armazenados. Decorrente de sua atividade, fezes, penas e pássaros mortos em decomposição pode contaminar
os estoques de alimentos. Fezes são realmente fontes de contaminação dos produtos por meios de microrganismos patogênicos como
bactéria e fungos causadores de doenças como diarréias (salmonelose), histoplasmose e aspergilose.

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