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Florianópolis, setembro de 2009 Esportes 15

Futebol americano ganha espaço em SC


Times iniciam Liga Catarinense de 2009 em busca de reconhecimento; equipamentos de segurança são novidade
Andrei Longen

Doze a seis. Esse foi o resultado do também enfrenta barreiras externas,


jogo entre os times Joinville Gladiators como sistema de pontuação diferente e
e São José Istepôs pela segunda roda- terminologias estrangeiras para cada
da da temporada 2009 do campeonato tipo de jogada, o que dificulta maior
catarinense de futebol, ocorrido em 15 absorção pelas pessoas, além de carre-
de agosto, em Potecas, São José. Mas gar poucas semelhanças com o futebol
você deve estar se perguntando “que do cotidiano brasileiro”, detalha. Isso
times são estes que nunca ouvi falar?” aliado à imagem errônea de que o fute-
ou “as duas equipes juntas marcaram bol americano seja uma prática violen-
18 gols numa só partida?”. Na verdade, ta contribui com um efêmero chamariz
estes times pertencem sim ao futebol. do esporte no estado. “À primeira vista,
Neste caso, é o americano. E o placar parece ser algo muito violento em fun-
não significa o número de gols, mas o ção das colisões e jogadas cinematográ-
de pontos conquistados. Na ocasião, os ficas. Mas isso é uma visão equivocada:
Gladiators, que perdiam por um tou- qualquer jogador pode confirmar que
chdown, viraram o jogo marcando dois há alta demanda física pelos contatos
seguidos (ver infográfico). Das oito equipes de Santa Catarina, apenas as cinco que possuem os equipamentos de segurança podem participar do campeonato de 2009 corporais constantes, mas que não pas-
sam de técnica e estratégia de jogo”, de-
Acesso em expansão mento. É o que afirma Celso Trindade, equipados participantes, foram investi- própria já era tarde, pois havia apenas fende Lenzi. Celso vai além. “Se é uma
O futebol americano é praticado jogador do Tubarão Predadores. “Por dos R$ 30 mil ao todo”, diz Romenito três semanas para treinarmos com os prática violenta, por que quebra recor-
de forma amadora em Santa Catarina terem dúvidas de como o esporte fun- Silva, técnico do time e presidente da equipamentos antes do início das ati- des de bilheteria e público em campeo-
desde 1995. Até 2004, com a prática ciona, as pessoas buscam informações LFCA. “Como a aparelhagem dura até vidades”, lamenta Everton Gnewuch, natos nos Estados Unidos, onde a liga
concentrada apenas nas cidades de e então se integram à causa. Como 10 anos, este custo inicial foi até peque- presidente e jogador do clube. “Hoje eu NFL é paixão nacional?”, questiona.
Joinville e Brusque, poucos foram os todos os amantes do esporte procuram no para podermos competir na Liga”, treino com a aparelhagem e me sinto
avanços que colaboraram para sua difundi-lo, o número de conhecedores completa. O São José também enfren- mais seguro e até mesmo confortável. Futuro incerto
expansão. A partir de 2005, contudo, a vem crescendo”, esclarece. tou a mesma situação e os atletas pre- Quando não a uso é que percebo o Como o esporte ainda engatinha
criação dos times de Florianópolis e Ja- cisaram comprar toda a aparelhagem quanto corríamos riscos e chego a me no estado, não se pode adivinhar o que
raguá do Sul possibilitou, pela primeira Proteção para alguns individualmente. sentir ‘pelado’”, brinca. futuro reserva para a prática. Mas mes-
vez, a interação entre as quatro equipes Dos oito times de futebol america- As outras três equipes inativas não mo que haja poucos times e a liga se
formadas até aquele momento. no de SC, cinco participam da quinta atingiram os requisitos mínimos em Apoio efêmero encontra apenas na sua quinta edição,
Em 2006, a primeira Liga Catari- edição da LFCA: Blumenau Riesen, adquirir os protetores e, por regra, não Os investimentos governamen- existem perspectivas que podem ajudar
nense de Futebol Americano (LCFA) foi Brusque Admirals, Timbó Rhinos, São competem na LCFA 09. É o caso do Ja- tais no futebol americano seguem na difusão do esporte. “Ainda vejo a fal-
realizada com os quatro clubes. A pro- José Istepôs e Joinville Gladiators. Isso raguá do Sul Breakers, que só não joga o tamanho da sua populariadade. ta de apoio financeiro e logístico como
cura pelo esporte, então, aumentou. “O ocorre porque o regulamento de 2009 porque não obteve os equipamentos a Embora os cinco times da Liga rece- o maior limitador para a disseminação
surgimento desse campeonato foi essen- exige que todos os jogadores estejam tempo. “A Federação Catarinense de bam apoio das prefeituras locais e da do esporte no país e que impede de
cial para o intercâmbio de experiências devidamente equipados com acessórios Futebol Americano (FCFA) demorou FCFA, existe pouco investimento. Para levá-lo a um nível profissional”, ressal-
sobre o jogo: as equipes evoluíram em de segurança (capacete, ombreiros, muito para procurar convênio e faci- exemplificar, o São José Istepôs já se ta Lenzi. O fator cultural também cola-
organização, estrutura e técnica”, conta protetores para peito, coxa, perna, viri- litar a compra dos acessórios. Quan- chamou Florianópolis Istepôs, e por bora para a pouca visibilidade por pri-
Túlio Lenzi, jogador do São José. “Algu- lha e joelhos) durante as partidas, algo do a equipe decidiu ir atrás por conta não receber qualquer tipo de atenção, vilegiar muito apenas alguns esportes.
mas equipes, inclusive, já começavam a que não existia nos anos mudou-se para o continente e “Existe sim o preconceito não só contra
criar uma base de fãs fiéis”, acrescenta. anteriores. No clube de Join- associou-se à Fundação Mu- o futebol americano, mas com todos os
Embora não haja uma pesquisa sobre ville, cada jogador precisou nicipal de Esportes. outros esportes que não o futebol tra-
a quantidade de jogadores praticantes, comprar o próprio conjun- Túlio aponta empecilhos dicional”, critica Everton. “Deve-se é
o cadastro nacional do esporte mostra to. “O custo individual para da cultura brasileira que acreditar nos jovens e valorizar todos
que este número se expande em SC. cada jogador foi, em média, impedem a maior difusão da os tipos de atletas”, recomenda.
No sul do estado, por exemplo, novos de R$ 1200. Como deve ha- prática e atraem ainda menos
adeptos procuram por locais de treina- ver no mínimo 25 atletas suporte financeiro. “O esporte Andrei Longen

São quatro tempos de 12 minutos. Em caso de empate, há prorrogação de mais


12 minutos. Quem marcar primeiro, ganha. Como o relógio para a cada jogada, um
jogo pode ter longa duração. Cada time pode ter até 53 jogadores, mas apenas 11 de cada lado entram em campo.

O jogo inicia quando o time que defende chuta a bola em direção ao


time atacante, que deve levá-la à Endzone, área do
Touchdown (seis pontos). O time que pontuou pode
tentar o Try - um chute extra (um ponto) ou uma
nova corrida à Endzone (dois pontos).

O ataque tem quatro tentativas para andar, no


mínimo, 10 jardas. Caso consiga, ganha-se
mais quatro tentativas para chegar à End-
zone. Na quarta tentativa, opta-se entre o
Field Goal (três pontos) ou ir à Endzone.

Sempre que o jogador atacante é derrubado com a bola,


a próxima jogada recomeça no local
da interceptação. Se não conseg- Arte: Rafael Amaral
uir segurar a bola, a jogada tor-
na-se incompleta e a próxima
recomeça do ponto anterior.

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