Você está na página 1de 16

Análise Psicológica (1998), 1 (XVI): 49-64

Um bebé diferente (*)

JÚLIA SERPA PIMENTEL (**)

Nos últimos vinte anos tem havido um inte- Na sequência dos estudos sobre interacção na
resse crescente pelo estudo da interacção que se díade com um bebé normal, surgem outros tra-
estabelece entre a mãe e o bebé durante o 1.º ano balhos com o objectivo de aprofundar as formas
de vida. São do final dos anos sessenta os pri- de interacção que se estabelecem com bebés em
meiros trabalhos que, abandonando a visão da risco ou com deficiência, assumindo-se que estes
criança como um ser passivo, que apenas res- teriam experiências interactivas diferentes das
ponde às influências do meio, começam a consi- dos bebés normais, não só pelas suas caracterís-
derá-la como um ser competente, activo e in- ticas específicas (Als, Lester, Tronick, & Brazel-
fluente. A partir dessa data, muitos investiga- ton, 1982; Jones, 1980; Richard, 1986; Rothbart,
dores, nomeadamente Bell (1974, 1979), Brazel- & Hanson, 1983), como por características do
ton e colaboradores (1974, 1975), Brazelton e comportamento materno (Berger, & Cunninham,
Cramer (1989/93), Greenspan (1981), Greenspan 1983; Crawley, & Spieker, 1983; Field, 1983).
e Lieberman (1989), Sander (1969), Schaffer Os primeiros trabalhos experimentais vêm
(1977, 1977/79), Stern (1974, 1977/80, 1989/92), acentuar as diferenças no processo interactivo,
e Trevarthen (1979, 1990), que pela influência que explicam ou por uma dificuldade específica
dos seus trabalhos nos merecem desde já uma re- da parte das mães desses bebés, ou, numa pers-
ferência especial, vão estudar os processos de pectiva oposta, por uma necessidade de adapta-
troca entre a criança e o ambiente, salientando a ção das mães face às características e limitações
necessidade da mãe e bebé estarem sintonizados dos seus filhos (Fisher, 1988; Mahoney, 1988;
afectivamente, de tal forma que os sinais emiti- Mahoney, Fors, & Wood, 1990). Outros Investi-
dos por cada um sejam adequadamente interpre- gadores (Leitão, 1992; Marfo, & Kysela, 1988),
tados e respondidos pelo outro parceiro interacti- no entanto, tendem a acentuar as semelhanças no
vo. comportamento interactivo das mães dos bebés
normais e das mães dos bebés em risco ou com
deficiência, assumindo que estas últimas têm
(*) Este artigo resume a investigação feita no âmbi- igual sensibilidade e responsividade ao compor-
to da Dissertação de Mestrado em Psicologia Educa- tamento dos seus bebés.
cional, apresentada, em 1996, no Instituto Superior de Numa outra linha de investigação, diferentes
Psicologia Aplicada, sob o título «Um bebé diferente: autores se têm debruçado sobre a importância
da individualidade da interacção à especificidade da
intervenção».
que as concepções dos pais sobre o desenvolvi-
(**) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lis- mento dos seus filhos, as suas percepções sobre
boa. esse mesmo desenvolvimento, bem como os

49
seus sentimentos, atitudes e expectativas, têm no belecem e na sua posterior adaptação ao bebé
processo interactivo que entre ambos se vai esta- real.
belecendo (Goodnow, & Collins, 1990; Same- O trabalho de Shonkoff Hause-Gram, Krauss
roff, & Feil, 1985; Sameroff, & Fiese, 1992; Si- e Upshur (1992) adquire para nós particular
gel, 1985). significado já que foi o único em que encontrá-
Tem sido assumido que as emoções e per- mos uma análise simultânea destas dimensões
cepções são importantes e afectam as caracterís- complementares, como ainda a abordagem da
ticas do processo interactivo mãe-bebé: o que os problemática do bebé em risco ou com deficiên-
pais «pensam» dos seus bebés, parece influen- cia, numa perspectiva integrada de avaliação/in-
ciar decisivamente não só o tipo de interacção tervenção precoce com a qual nos identificamos.
que com eles estabelecem, como também as As diversas perspectivas teóricas subjacentes
suas estratégias educativas, o que, por sua vez, aos programas de intervenção precoce, revistas
vai influenciar o comportamento e desenvolvi- no trabalho de Meisels e Shonkoff (1990) tornam
mento do bebé (Skinner, 1985). actualmente possível que a escolha do tipo de
Também relativamente a este aspecto e no que intervenção seja feita tomando em conta não só
respeita às crianças deficientes, alguns estudos as características e nível de desenvolvimento do
concluem que as mães de crianças deficientes ou bebé e o desejável aumento das suas competên-
em risco diferem das mães de bebés normais na cias, como a dinâmica interactiva mãe-bebé e
apreciação que fazem dos seus filhos, nas ex- ainda as capacidades e recursos da família. O
pectativas quanto aos marcos de desenvolvi- modelo transaccional e a abordagem centrada na
mento e nos seus sentimentos de eficácia e com- interacção (Bromwich, 1990; Field, 1983; Lester,
petência (Smith, Selz, Bingham, Aschenbrenner, 1992; Mahoney, Robinson, & Powell, 1992) e o
modelo ecológico e a abordagem centrada nas
Standbury, & Leiderman, 1985).
necessidades e recursos da família (Bailey, &
O processo de adaptação materna ao nasci-
Wolery, 1992; Beckwith, 1990; Brown, Thur-
mento de um bebé em risco ou com deficiência
man, & Pearl, 1993; Dunst, Trievette, & Deal,
tem também sido objecto de estudo, sendo o tra-
1988), fundamentam os actuais programas de in-
balho de Solnit e Stark (1961) uma referência
tervenção garantindo que à criança e à família
fundamental. Outros autores, noutras perspecti-
sejam proporcionadas experiências de vida faci-
vas, se têm referido a este processo (Brown,
litadoras da sua plena integração social.
Thurman, & Pearl, 1993; Crnic, Friedrich, &
Greenberg, 1983; Hodapp, 1988; Peterson, 1988; Após este breve enquadramento teórico, po-
Tanaka, & Niwa, 1991), considerando-se actual- demos então enunciar o principal objectivo do
mente igualmente importantes para uma boa trabalho que efectuámos: contribuir para au-
adaptação as características da criança, os facto- mentar a compreensão das variações do desen-
res intraindividuais, a dinâmica intrafamiliar, e volvimento dos bebés com deficiência (síndrome
factores de suporte social (Dunst, & Trivette, de Down) ou em risco (pré-termo) e a adaptação
1988). das suas mães ao longo do tempo, encarando
Estas linhas de investigação têm quase sempre ambas as variáveis como processos multidimen-
seguido o seu percurso de forma paralela, pelo sionais que são simultaneamente influenciadas
que são em número muito reduzido os trabalhos por factores externos e internos, ligados ao pró-
que relacionam o estudo dos processos cogniti- prio processo de desenvolvimento da criança e
vos e emocionais da mãe e o seu comportamento relacionados com os sentimentos das mães e
interactivo (Flemming, Flett, Ruble, & Shaul, com a ecologia da família.
1988) e também o processo de adaptação ao nas- Trata-se de um estudo exploratório, de ca-
cimento de um bebé com deficiência. Foi a es- rácter longitudinal, em que utilizámos uma me-
cassez destes trabalhos, que nos levou a inves- todologia de Estudo de Caso, que permitiu não
tigar se os sentimentos e atitudes das mães, bem só estudar, desde os primeiros dias e até ao fim
como a percepção e as expectativas sobre o de- do primeiro ano de vida, o desenvolvimento dos
senvolvimento dos seus bebés, se traduzem, de bebés e o ajuste sucessivo que as mães tiveram
alguma forma, na interacção que com eles esta- de fazer às suas características, como estabelecer

50
com as próprias mães uma relação continuada na tão delicadas como os sentimentos, desejos e ex-
base da qual se puderam abordar mais profunda- pectativas das mães face a esse bebé e periodica-
mente os seus sentimentos face ao bebé, acres- mente se retomam questões que reabrem feridas
centando uma dimensão mais «clínica» às inves- ainda não cicatrizadas. No final, ficou um senti-
tigações que têm sido feitas sobre este assunto. mento, não objectivável nem mensurável de que
Nesta perspectiva, cada uma das doze díades a «íntrusão» junto destas famílias, ainda que
que compuseram a amostra, é tratada como um quase só exclusivamente através das mães, lhes
caso individual digno de um estudo aprofunda- proporcionou um apoio único, cujos efeitos não
do, assumindo, pelo reduzido número de sujei- puderam ser avaliados no âmbito do trabalho
tos, um impacto muito grande no estudo. Acredi- realizado.
tando na individualidade de cada mãe e de cada
bebé, no seu modo muito próprio de se ajustarem
um ao outro, no seio de uma família e num con- 1. METODOLOGIA
texto social específico, mais do que encontrar
padrões comuns de funcionamento interactivo ou
constelações de sentimentos para as díades com 1.1. Composição e caracterização da amostra
bebés com características semelhantes – nor-
mais, pré-termo ou com síndrome de Down – es- Embora inicialmente tivéssemos pretendido
peravamos vir a encontrar e analisar as diferen- fazer o estudo de quinze díades, a nossa amostra
ças de cada uma delas, não descurando no entan- ficou composta apenas por por doze díades
to a análise das semelhanças entre as mesmas. (cinco com bebés com síndrome de Down, três
Foi também nosso propósito relacionar a in- com bebés pré-termo e quatro com bebés nor-
dividualidade de cada díade com as suas neces- mais), seleccionadas aleatoriamente após a sina-
sidades específicas em termos de Intervenção lização feita pelos serviços de neonatalogia. De
Precoce, salientando as características eminente- referir que apenas um dos casais contactados,
mente individuais que estes programas devem pais de um bebé com síndrome de Down, recu-
ter, para corresponderem às necessidades, tam- sou participar no estudo (Quadro 1).
bém individuais, dos seus destinatários.
O nascimento de um bebé diferente vai estar
1.2. Procedimento
na base de um complexo processo que envolve
não só a sua mãe, e toda a sua família nuclear, As mães destes bebés foram inicialmente con-
como pode originar um reajustamento de toda a tactadas pelos médicos ou enfermeiras responsá-
rede social em que a família está envolvida. veis, que fizeram uma primeira sondagem sobre
Apesar de não ter sido possível aprofundar este a sua possível participação no estudo.
aspecto, parece-nos importante referi-lo, já que o Todas as mães foram contactadas nas primei-
consideramos que esta foi uma limitação impor- ras 48 horas após o nascimento dos seus bebés,
tante do nosso estudo. tendo primeira entrevista de recolha de dados
Uma última questão antes de expormos a me- sido realizada nas 48 horas seguintes, estando a
todologia do estudo efectuado: a atitude de «neu- mãe sózinha. Com esta entrevista pretendíamos:
tralidade de investigação científica» face a esta
problemática e neste design de estudo de caso - Aprofundar os sentimentos com que a gra-
(Mazet, 1993). Temos consciência que, no qua- videz tinha sido vivida, nomeadamente
dro da presente investigação não nos sentimos, eventuais problemas com a mãe ou com o
nem fomos sentidos como um «investigador bebé, que, no caso dos bebés nascidos pre-
neutro». Não sei se seria possível ou mesmo maturamente são frequentes.
desejável que tal tivesse acontecido, quando se - Conhecer a forma como a notícia da situa-
abordam, horas após o nascimento de um bebé ção do bebé tinha sido dada e as reacções
com deficiência ou em risco, em momentos emocionais que provocara na mãe e nos ele-
emocionalmente tão intensos – o primeiro mentos do seu núcleo familiar, nomeada-
contacto foi feito nos primeiros três dias de vida, mente marido e pais.
estando as mães ainda na maternidade – questões - Saber como é que a mãe percepcionava

51
QUADRO 1
Caracterização da amostra

52
este bebé relativamente às rotinas de sono e evolução e previsão do desenvolvimento
alimentação, e às competências interactivas, futuro.
bem como a comparação que fazia com «o
bebé normal». O guião destas entrevistas, conduzidas tal
- Avaliar a sua capacidade de prever o desen- como a primeira de forma não directiva, inspira-
volvimento futuro do bebé. -se nos trabalhos de Atkin, Olvera, Givaudan e
Landeros (1991).
Previa-se que, sobretudo com as mães dos be- Num segundo momento, o roteiro avalia o
bés com síndrome de Down, mas também com stress maternal bem como os sentimentos de su-
as mães dos bebés pré-termo, esta fosse uma si- porte e apoio social e familiar, já que a estes as-
tuação muito delicada, pelo que o guião da entre- pectos tem sido dada particular relevância nos
vista deveria ser o mais completo possivel, mas estudos mais recentes sobre a adaptação mãe-be-
sempre utilizado de forma não directiva. Foi bé quando há um bebé com deficiência ou em
aliás desta forma que, com cada mãe, foram rea- risco (Shonkoff, Haus-Gram, Krauss, & Upshur,
lizadas todas as seis entrevistas deste estudo. 1992).
No final da 1.ª entrevista era passada uma es- Por último procuravamos avaliar o conheci-
cala de auto-estima materna, adaptada do Mater- mento que a mãe tinha da evolução e sucessivas
nal Self Inventory de Shea e Tronick (1988), que aquisições feitas pelo bebé, comparativamente
nos pareceu ser uma medida objectiva do estado aos outros bebés da mesma idade, bem como as
emocional da mãe após ter pleno conhecimento previsões para o seu desenvolvimento futuro,
do estado do bebé, completando as informações obrigando as mães a um confronto permanente
recolhidas, de forma mais clínica, nessa mesma do seu bebé real com o bebé imaginário.
entrevista. A partir do 3.º mês, o desenvolvimento da
No final do 1.º, 3.º, 6.º, 9.º e 12.º meses de vi- criança foi sempre avaliado através da Escala de
da as mães foram visitadas, em casa, em data e Griffiths.
hora previamente combinada com elas, coinci- No 1.º, 6.º e 12.º meses a mãe respondia ainda
dindo com uma hora de alimentação do bebé. a uma escala de sentimentos e atitudes, adaptada
Após alguns minutos de conversa informal, as da Maternal Child Care Attitudes and Feelings –
mães e os bebés foram filmados em várias situa- EMKK – de Codrenau (1984) citada por Engfer
ções: Alimentação (os 5 primeiros minutos), In- e Gravanidou (1986) e Alonso (1991), do qual
teracção livre (5 minutos), Afastamento da mãe utilizámos apenas cinco dimensões: satisfação
(1 minuto), Reaproximação da mãe (1 minuto). com a criança, sobrecarga, frustração em relação
Após uma breve pausa, foram ainda filmados 3 ao papel maternal, ansiedade excessiva e depres-
minutos em situação de ensino. Estas situações são.
foram escolhidas por permitirem a observação da Na última entrevista, para além da recolha do
interacção em contextos estruturados – situação mesmo tipo de informação das entrevistas ante-
de ensino – não estruturados – alimentação e riores, seguindo portanto a mesma estrutura,
interacção livre – e numa situação geradora de pretendíamos fazer com as mães uma revisão dos
stress na criança e também na mãe – afastamento aspectos mais importantes deste primeiro ano de
e reaproximação. vida do bebé. Colocámos assim uma questão
Após a filmagem das situações acima descri- bastante aberta, perante a qual as mães foram
tas, seguia-se uma entrevista semi-directiva, que levadas a recordar o que viveram na altura do
tinha como objectivo fazer um estudo aprofunda- nascimento dos seus bebés, já que, não só pelo
do a vários níveis: tempo que passara, como pela confiança e rela-
- Formas de adaptação da mãe às característi- ção que entretanto se estabelecera entre nós, era
cas de temperamento e ritmo de desenvolvi- levada a pensar que muitos dos sentimentos e
mento do bebé emoções que não tivessem sido expressos na pri-
- Estado emocional da mãe e evolução dos meira entrevista, embora elaborados ao longo
seus sentimentos e atitudes deste ano, poderiam ser referidos nesta última
- Evolução das competências de cada bebé, entrevista.
conhecimento e adaptação das mães a essa Por último, e integrado na entrevista, apresen-

53
tavamos algumas questões semelhantes à escala Pareceu-nos importante que o instrumento a
de Auto Estima Materna que tinha sido passada utilizar permitisse avaliar toda a situação inter-
na 1.ª entrevista, o que nos permitiria comparar, activa por nós presenciada – mesmo aquela que
face aos mesmos parâmetros, a situação emocio- ocorria durante o tempo em que entrevistavamos
nal actual com a vivida pela mãe imediatamente as mães ou em que estas prestavam alguns cui-
após ter tido conhecimento do estado do bebé. dados básicos ao bebé – e não só os episódios
Com excepção da primeira entrevista realiza- filmados, de forma a evitar que a própria situa-
da ainda na maternidade, em todas as outras es- ção de filmagem alterasse alguns dos parâmetros
tava também presente uma aluna finalista do cur- interactivos.
so de Psicologia, cuja função era registar exaus- Dividimos esta escala de avaliação em três
tivamente tudo o que se passasse durante a entre- partes – comportamentos do bebé, comporta-
vista. Após treino adequado, esta aluna, obser- mentos da mãe e avaliação global da interacção
vadora não envolvida directamente na situação, – embora todos os comportamentos avaliados
ia completando uma escala de avaliação molar tenham uma dimensão interactiva. A sua cotação
da interacção mãe-bebé, adaptada do Parent/Ca- é feita numa escala de 1 a 5 (excepto um dos
regiver Involvement Scale de Farran, Kasari, comportamentos do bebé – expressão dos
Comfort e Jay (1986), do Mother-Infant Com- afectos).
munication Screening de Raack (1989), de Mo- Como pode verificar-se, para além da avalia-
ther Child Rating Scales de Crawley e Spieker ção e análise da interacção e da passagem de es-
na adaptação de Goldman e Martin (1986) e do calas de auto estima e sentimentos e atitudes, a
Infant Parent Social Interaction Code de Baird, maior parte dos dados foi recolhida através do
Haas, McCormick, Carruth e Turner (1992). método de entrevista, que, neste tipo de investi-
Este mesmo instrumento foi também preenchido gação nos pareceu particularmente valioso. Nu-
por nós, imediatamente após o final da entrevis- ma investigação com uma metodologia de estudo
ta, já fora da presença da mãe. Posteriormente, de caso, o principal enfoque é posto no aspecto
as gravações efectuadas foram novamente codi- único de cada sujeito, fornecendo a entrevista
ficadas, chegando-se a acordo em todos os parâ- um material de grande riqueza (Kaplan, 1992).
metros da escala. Foi, desde o início, muito claro, que a não total

QUADRO 2
Comportamentos avaliados na escala de avaliação da interacção utilizada

Comportamentos do bebé Comportamentos da Mãe Avaliação global da interacção

- Iniciativa e interesse nos - Sensibilidade/responsividade - Atmosfera geral


objectos - Aprovação/Desaprovação - Disponibilidade da díade para
- Nível de maturidade ao jogo - Calor/Afecto a interacção social
- Iniciativa de interacção social - Qualidades de Estimulação - Prazer
- Responsividade à mãe - Clareza de comportamentos e
- Clareza de sinais e expressividade
expressividade - Directividade/Controlo/
- Nível de actividade e intrusividade
animação
- Expressão dos afectos
- Comunicação intencional

54
directividade das entrevistas permitiu que as de, interpretando a mãe os seus mais pequeninos
mães exprimissem sentimentos e opiniões, atra- progressos como as aquisições que só mais tarde
vés de associações que, do ponto de vista indi- se vêm, de facto, a verificar.
vidual, são altamente significativas, não só pelo Existiu no entanto uma depressão latente,
seu conteúdo como pelo momento em que foram uma frustração e talvez até uma rejeição que se
ditas. Por outro lado, dada a repetição dos encon- manifestou nos comentários que fez relativa-
tros – seis no período de doze meses – foi possí- mente às questões da escala de sentimentos na
vel retomar aspectos referidos anteriormente entrevista dos seis meses e que retomou na úl-
pelas mães e dar particular atenção à evolução tima entrevista.
dos seus sentimentos, percepções e expectativas. No entanto toda a interacção que presenciá-
mos durante este primeiro ano é marcada por
grande sensibilidade da parte da mãe que se re-
2. ANÁLISE DOS DADOS E CONCLUSÕES velou atenta às pistas do bebé e lhes deu uma
resposta adequada, assegurando uma boa estimu-
lação e mostrando-se sempre muito afectuosa e
2.1. Estudo longitudinal aprovadora do comportamento da filha.
No final do 1.º ano, a evolução do processo
Num primeiro momento apresentámos um es- adaptativo desta díade era, para nós, quase uma
tudo exaustivo, de carácter longitudinal, dos incógnita, já que nos era difícil prever a forma
aspectos mais significativos do 1.º ano de vida como a mãe iria viver o confronto consigo pró-
de cada bebé, dando especial ênfase à análise pria e com os outros quando já não pudesse ne-
dos sentimentos maternos, à evolução das ex- gar a deficiência da filha, sendo este o aspecto
pectativas maternas sobre o desenvolvimento que nos parecia fundamental considerar no pro-
dos bebés e à dinâmica interactiva estabelecida grama de intervenção precoce.
no seio da díade.
Parecendo-nos essencial, para a compreensão
global do trabalho, a referência a todas as díades A mãe do Helder – Ansiedade, Depressão,
analisadas, apresentamos um brevíssimo comen- Revolta e Frustração
tário que pretende resumir os principais aspectos A 1.ª entrevista com a mãe do Helder foi uma
do processo adaptativo de cada uma, agrupando situação extraordinariamente difícil, tanto para
os diferentes tipos de díades. ela como para nós, dado o estado de profundo
choque em que se encontrava.
Ansiedade e depressão são os sentimentos
dominantes da mãe até à entrevista do 9.º mês.
OS BEBÉS COM SÍNDROME DE DOWN Havia, contudo uma evidente preocupação com a
E SUAS MÃES estimulação do filho e em mostrar que o seu de-
senvolvimento era igual ao de um bebé normal.
Também até essa altura a interacção foi marcada
A mãe da Catarina – A negação da defi- por sensibilidade da mãe e boa responsividade
ciência e da depressão do bebé. No entanto, e fora dos episódios que
A mãe da Catarina foi a única que, desde o eram filmados, era notória a rejeição da mãe a
momento da 1.ª entrevista considerou que o de- alguns comportamentos espontâneos do bebé,
senvolvimento do bebé seria em tudo semelhante prontamente reprimidos ou com a introdução da
ao de um bebé normal, nomeadamente ao da sua chucha – no caso do choro – ou com uma voz
irmã, na altura com dois anos e meio, e que a irritada que nos incomodava.
mãe considera ter sido muito precoce. Este facto O atraso de desenvolvimento do Helder (que
fez-nos recear que o confronto com o atraso que sobretudo no aspecto motor começou a ser
inevitavelmente se iria verificar pudesse originar evidente aos 9 meses), a dificuldade que a mãe
uma grande depressão na mãe. Tal nunca veio a tinha em obter a sua colaboração para cumprir as
suceder já que o desenvolvimento da Catarina metas que ela própria lhe colocava (sobretudo
foi sempre visto pela mãe como adequado à ida- porque eram de uma extrema exigência) trans-

55
formaram totalmente os padrões interactivos na A ansiedade relativamente ao futuro do João
entrevista do 9.º mês que foi marcada por insen- Paulo manteve-se ao longo de todo o ano, mas a
sibilidade, intrusividade, rejeição aberta do com- depressão inicial desapareceu, dando lugar a
portamento do bebé que se mostrou menos res- uma aceitação resignada da situação.
ponsivo e que acabou por chorar várias vezes na O estabelecimento de um programa educativo
sequência das atitudes da mãe. para o João Paulo e o reforço das competências
Na entrevista dos 12 meses o ambiente era um maternas foi, para esta díade, fundamental.
pouco menos conflituoso, mas havia ainda pouca
sensibilidade da mãe aos sinais do bebé e uma
atitude punitiva e rejeitante do seu comporta- A mãe da Mariana – Da depressão à aceita-
mento de que, no entanto, a mãe não parecia ter ção e adaptação consciente
consciência. Na altura da 1.ª entrevista o que impressiona-
Nesta díade foi bastante evidente o reflexo va nesta mãe era a contenção e controlo com que
que os sentimentos da mãe tiveram nas caracte- falava de toda a situação, muito embora admitin-
rísticas do processo interactivo mãe-bebé. É, de do a grande depressão que sentia.
todas as díades com bebés com síndrome de A harmonia que sempre caracterizou a inter-
Down aquela que sentimos em maior risco no acção entre ambas deve-se à grande sensibilida-
processo de adaptação, sendo a alteração dos de manifestada por esta mãe que soube aprovei-
padrões de interacção mãe-bebé bem como o tar os mais ténues sinais de interesse do bebé
apoio emocional à mãe os aspectos a atender para captar a sua atenção. A mãe mostrou-se
prioritariamente num programa de intervenção sempre capaz de aceitar as características do
precoce, o que não aconteceu durante este pri- bebé, demonstrou uma sistematica aprovação
meiro ano de vida. do seu comportamento e teve atitudes de grande
afecto nas mais variadas situações. Reconhe-
cendo o atraso de desenvolvimento que a filha ia
A mãe do João Paulo – Ambivalência e manifestando, mostrou-se satisfeita com a sua
aceitação resignada evolução e não demasiado ansiosa com o futuro.
Nascido de uma gravidez que a mãe sentiu A aceitação plena da deficiência da Mariana,
como «forçada» pelo marido e que viveu de for- a vivência pela mãe de uma depressão que pare-
ma muito ambivalente, a notícia da sua deficiên- ce ter sido capaz de ultrapassar conscientemente,
cia foi um choque terrível. A rejeição inicial, tiveram sem dúvida grande influência no estilo
nomeadamente durante o período em que o bebé interactivo desta díade que, entre todas nos pare-
esteve na Unidade de Cuidados Intermédios, foi ce a mais bem adaptada.
evidente e verbalizada pela mãe na altura da 1.ª
entrevista.
Na entrevista do 1.º mês todos os sinais de de- A mãe do Rui – Uma depressão sempre la-
pressão, rejeição e revolta tinham desaparecido, tente
dando lugar a uma negação da deficiência. Esta Na altura da 1.ª entrevista eram evidentes, na
oscilação de sentimentos é a característica mais mãe, sinais de grande depressão e ansiedade.
marcante da mãe ao longo do 1.º ano de vida e A entrevista do 1.º mês é marcada por uma
traduziu-se, de certa forma, na interacção que es- grande passividade da mãe que não só parecia
tabeleceu com o bebé, por vezes marcada por não saber o que fazer com o bebé, como fora
sensibilidade e adequação, outras por directivi- aconselhada por um médico a manter um am-
dade, mas sempre mostrando grande disponibili- biente muito tranquilo à volta dele. Pelo contrá-
dade e prazer. rio, o Rui era um bebé que estava bem alerta,
A expressividade e responsividade deste bebé embora se mostrasse ainda pouco responsivo,
terão certamente contribuído para que ao longo notando-se que estava muito pouco estimulado.
deste ano se mantivesse uma harmonia interacti- A atitude de alguma passividade da mãe
va e, mesmo quando as propostas da mãe eram manter-se-á durante quase todo o 1.º ano, mas a
menos adequadas, não presenciámos nunca qual- sensibilidade com que seguia as pistas cada vez
quer sinal de conflito. mais claras emitidas pelo bebé emite, garantiram

56
a harmonia e contingência da interacção que se feitas sem ter em conta o factor da prematuri-
estabeleceu entre ambos. dade. Os sinais de ansiedade mantiveram-se no
As competências do bebé nas várias áreas do entanto durante todo o ano, apesar dos motivos
desenvolvimento tiveram um progresso signifi- terem variado: inicialmente pelo receio que algu-
cativo entre o 3.º e o 6.º mês, o seu desenvol- ma doença a fragilizasse – muito embora não
vimento aos 9 meses estava praticamente dentro houvesse qualquer sintomatologia – posterior-
dos parâmetros, reflectindo bem a adequação do mente, a partir do momento em que a Marta co-
programa de intervenção precoce que iniciara. meçou a deslocar-se sozinha, que algum acidente
No que respeita aos sentimentos da mãe face à acontecesse, referindo-se a mãe a si própria,
situação, notou-se uma diminuição da ansiedade frequentemente, como muito «stressada».
ao longo do tempo, embora este sentimento nun- A interacção desta díade foi marcada por
ca tenha desaparecido. Os seus sentimentos de- grande sensibilidade da mãe face a um bebé que,
pressivos, que aos 9 meses tinham praticamente até perto dos seis meses manteve ritmos muito
desaparecido, voltaram a agravar-se aos 12 me- irregulares de sono e alimentação, chorava fre-
ses e manifestaram-se quer numa situação de quentemente e era, nessas alturas, muito difícil
exaustão e cansaço fisico quer numa sobrecarga de acalmar. A situação alimentar, sobretudo a
emocional que conseguia reconhecer. A diminui- partir da introdução dos alimentos sólidos, foi a
ção do ritmo de desenvolvimento do Rui parecia área de maior conflito, e, só no fim do 1.º ano a
reflectir-se imediatamente nos sentimentos da mãe conseguiu lidar melhor com ela.
mãe, embora a interacção entre ambos se tivesse Tudo correu bem com a Marta, mas relativa-
mantido muito adequada e harmoniosa. mente a esta díade ficámos com uma pergunta
O Rui morreu subitamente aos 13,5 meses. O sem resposta: que teria acontecido se esta mãe
choque e a depressão com que este acontecimen- «stressada» não tivesse tido o apoio de que sem-
to foi vivido pela mãe, a idealização que poste- pre pode disfrutar?
riormente esta veio a fazer sobre as competên-
cias do Rui, a irrealidade das suas expectativas
sobre o desenvolvimento futuro do bebé, confir- A mãe da Ana – Isolamento, sobrecarga e
mam a nossa ideia de que, aos doze meses, mui- pouca disponibilidade
tos dos aspectos da adapatção mãe-bebé estavam Sobrecarga fisica e emocional é o conceito
ainda por resolver. que melhor define os sentimentos que esta mãe
apresentou desde a primeira à última entrevista e
que resumia, com humor, quando, referindo-se a
umas fotografias disse: «parecia uma morta-
OS BEBÉS PRÉ-TERMO E SUAS MÃES -viva».
O nascimento prematuro desta segunda filha –
provocado por atraso de crescimento intra-ute-
A mãe da Marta – O privilégio de poder ser rino – parece ter apanhado a mãe completamente
mãe só nos momentos de prazer ou uma mãe desprevenida, de tal forma que nos interrogamos
«stressada» sem motivo aparente sobre o seu desejo real de uma segunda gravidez
A grande ansiedade com que foi vivido o nas- tão próxima da primeira. O tempo de permanên-
cimento prematuro da Marta – embora já durante cia da Ana na Unidade de Cuidados do Recém-
a gravidez tivesse sido posta essa possibilidade – -nascido – 23 dias – passada a grande ansiedade
à qual se adicionou, poucas horas após o seu dos primeiros dias, foi vivida de uma forma um
nascimento, a transferência para a Unidade de pouco distanciada.
Cuidados do Recém-Nascido (cuidados intermé- Desde o momento em que veio para casa, a
dios) – facto que a mãe não esperava – foi com- evolução e o desenvolvimento da Ana foram
pletamente ultrapassada durante o 1.º mês de muito bons. A Ana foi, no entanto, sentida pela
vida, em face da excelente evolução do bebé mãe como um bebé muito exigente: os seus
que, aos 8 dias de vida pôde ir para casa e, em ritmos instáveis, os curtos períodos de sono,
termos de desenvolvimento, cumpriu todas as mesmo durante a noite, e a tranquilização só
expectativas da mãe, apesar destas terem sido conseguida através da amamentação, mesmo

57
quando já tomava biberon, deixaram a mãe desorganizado, com mudanças bruscas nas acti-
fisicamente exausta e emocionalmente pouco vidades que propunha, o que provocava mais fre-
disponível para a filha. quentemente choro (que aliás não durava mais
Sem sinais de ansiedade ou depressão eviden- do que alguns segundos) do que sorrisos.
ciados quer nas entrevistas quer nas escalas de Esta mãe, que inicialmente se adaptou bem ao
sentimentos e atitudes, os sentimentos de sobre- seu bebé, pareceu posteriormente encará-lo co-
carga evidenciaram-se e tiveram o seu reflexo no mo uma entre outras preocupações e objectivos
tipo de interacção estabelecida, nomeadamente a da sua vida. Quase poderíamos dizer que foi o
partir do 6.º mês. Filipe que teve de se adaptar à sua mãe, com as
De uma forma global podemos dizer que esta suas características interactivas e imprevisibili-
a mãe esteve, a partir dos seis meses, pouco dis- dade. Ele foi capaz de o fazer... Por isso tudo
ponível para a interacção, com poucas demons- correu bem.
trações de afecto relativamente à filha e demons-
trando pouco prazer na interacção com ela. Tam-
bém nesta díade os sentimentos de isolamento e
sobrecarga da mãe foram bem evidênciados nas
características do processo interactivo mãe-bebé. OS BEBÉS NORMAIS E SUAS MÃES
Sentimos a mãe quase sempre sozinha, sem
apoio e sem querer pedi-lo, como se fosse obri-
gada a resolver tudo sem qualquer ajuda. Tam- A mãe do Francisco – A possibilidade e
bém relativamente a ela ficámos com uma per- prazer de ser mãe a tempo inteiro
gunta sem resposta: até quando poderá aguentar O nascimento deste 1.º filho, embora não pla-
esta situação? neado, foi vivido com grande alegria pelos pais e
avós, tendo-se o bebé tornado o centro das aten-
ções de toda a família.
A mãe do Filipe – Passar do riso às lágri- Embora inicialmente tal não estivesse pre-
mas: o bebé de uma mãe excitada e desorga- visto, a mãe não retomou a sua actividade pro-
nizada fissional fora de casa para poder, ela própria,
Quase no final de uma gravidez sem qualquer tomar conta do bebé, resolvendo assim a ansie-
problema foi diagnosticado um atraso de dade com que sempre falara da situação de sepa-
crescimento intra-uterino que levou a que o ração.
parto fosse prematuramente provocado. Tal facto Alegria e disponibilidade para o bebé foram
causou uma enorme ansiedade na mãe que se as características mais marcantes da mãe ao lon-
manteve extremamente angustiada até ao mo- go do 1.º ano de vida, embora na entrevista do
mento em que pode ir visitar o bebé à Unidade 6.º mês se notasse alguma frustração em relação
de Cuidados do recém-nascido, muito embora a ao seu papel maternal, que desapareceu poste-
visão do filho na incubadora em nada a tenha riormente.
tranquilizado. Os sentimentos positivos da mãe face ao bebé
O Filipe adquiriu muito cedo ritmos regulares foram sistematicamente reflectidos nas caracte-
de sono e alimentação – e nesse aspecto foi mui- rísticas interactivas desta díade.
to diferente dos dois restantes bebés pré-termo –
e não teve, ao longo de todo o 1.º ano, quaisquer
complicações de saúde. A mãe da Maria – As dificuldades de com-
A interacção que presenciámos na entrevista preender um bebé difícil
do 1.º e do 3.º mês foi marcada por grande sen- A notícia da gravidez da Maria, não desejada,
sibilidade, comportamento muito afectuoso e estando a mãe a fazer contracepção oral, foi re-
aprovador, muito embora a responsividade do cebida de forma muito ambivalente e o momento
bebé fosse ainda reduzida. Na entrevista dos seis do seu nascimento foi descrito pela mãe como
meses e sobretudo na dos nove meses a preocu- altamente anxiógeno, muito embora nada hou-
pação fundamental da mãe parecia ser fazer rir o vesse, de concreto e objectivo, a recear. Como
bebé, sendo o seu comportamento excitado e que respondendo a esta ansiedade da mãe, a

58
Maria foi, desde o 1.º dia de vida, um bebé num clima de grande prazer e disponibilidade
difícil: chorava muito, aparentemente com fome interactiva por parte da mãe, a quem o bebé
e com cólicas e só dificilmente se acalmava, sempre respondeu prontamente, sendo sem
sempre e só ao colo. dúvida, de todos os bebés que analisámos aquele
Esta situação manteve-se ao longo dos pri- que, mais precocemente mostrou vivacidade,
meiros seis meses e nas três entrevistas que ti- animação, responsividade e iniciativas interacti-
vémos nesse período presenciámos sempre uma vas.
interacção marcada pelas dificuldades da mãe Também nesta díade os sentimentos positivos
em obter a colaboração e a resposta do bebé. da mãe se traduziram na harmonia e prazer na
Com a irmã mais velha (com doze anos e que interacção.
ficou muito satisfeita com o aparecimento deste
bebé), a situação era completamente diferente:
bastava que lhe ouvisse a voz e a Maria imedia- A mãe do José Carlos – A tranquilidade de
tamente sorria e vocalizava. Este contraste não quem já sabe o que é ser mãe
passava despercebido à mãe. Esta era muito am- A notícia de uma gravidez tão próxima do
bivalente face a este aspecto: em certos momen- nascimento de duas gémeas (com cinco meses
tos parecia deliciada com a interacção entre as apenas) foi ressentida pelos pais de forma muito
duas irmãs, parecendo até um pouco demitida do ambivalente, mas logo que houve a confirmação
seu papel maternal, como que cedendo à filha de que seria um rapaz, a alegria sobrepôs-se a
mais velha o seu lugar; noutros mostrava-se todos os outros sentimentos.
aborrecida pela preferência que a Maria aparen- A passividade inicial desta mãe – para quem
tava em todas as ocasiões excepto quando estava os bebés muito pequenos devem é descansar
doente, altura em que só a mãe a acalmava. muito para crescerem bem – foi substituída pro-
Por coincidência ou não, a «reconciliação» gressivamente por uma atitude de estimulação
entre as duas dá-se exactamente após um período denotando grande sensibilidade aos sinais do
prolongado de doença e mal-estar da Maria, bebé, cuja responsividade, animação e expressi-
com sintomas de alguma gravidade, que obriga- vidade eram já muito elevadas na interacção que
ram a inúmeros exames. Estes episódios foram- presenciámos ao 3.º mês.
nos relatados na entrevista do 9.º mês, e foi Apesar da real sobrecarga da sua vida, não
precisamente nessa entrevista que encontrámos houve, ao longo das entrevistas, quaisquer sinais
um bebé bem disposto, comunicativo e respon- de indisponibilidade para o José Carlos ou para
sivo à mãe que, também pela primeira vez, esta- as irmãs, sendo os episódios interactivos mar-
va deliciada com a sua filha, muito afectuosa e cados por grande harmonia, contingência e pra-
aprovadora do seu comportamento. Este clima de zer de ambos os intervenientes, com demonstra-
tréguas e harmonia interactiva manteve-se na en- ções de afecto e uma atitude muito aprovadora
trevista final, parecendo-nos garantida uma re- por parte da mãe e sinais de afecto muito posi-
lação mutuamente satisfatória. tivo por parte do José Carlos.

2.2. Análise comparativa


A mãe da Carmo – Uma mãe embevecida e
um bebé espevitado Num segundo momento tentámos fazer uma
O nascimento desta 1.ª filha, desejado e pla- análise compararativa das diferentes díades rela-
neado, foi vivido por todos com grande alegria, tivamente aos factores analisados no decorrer
embora a mãe refira alguma ansiedade relati- dos seis momentos de avaliação.
vamente às suas capacidades para tratar do bebé. Esta análise baseou-se fundamentalmente nos
A Carmo mostrou-se sempre muito atenta e dados das entrevistas e das escalas passadas na
responsiva à mãe, embora muitas vezes fosse altura do nascimento do bebé, e nas entrevistas
difícil de consolar. A mãe estava manifestamente do 1.º, 6.º e 12.º meses.
deliciada com a filha que considerava melhor de
cuidar e mais esperta do que todos os bebés que Comparámos os dados obtidos relativamente
conhecia. Assim, todas as entrevistas decorreram a:

59
- Auto-estima materna na altura do nasci- certa forma, reflectem a forma como se adapta-
mento do bebé ram aos seus filhos.
- Sentimentos e atitudes das mães no 1.º, 6.º e Foi nossa intenção com este trabalho inves-
12.º meses de vida do bebé tigar se os sentimentos maternos se reflectiam,
- Expectativas maternas relativamente ao de- de alguma forma, no tipo de interacção estabele-
senvolvimento do bebé cida com os bebés, pelo que nos pareceu ser
- Análise do processo interactivo indispensável analisar simultaneamente estas
dimensões.
Esta análise não permitiu, de forma alguma, A relação entre os sentimentos dominantes
agrupar as mães dos diferentes tipos de bebés. das mães, as características do processo inter-
Evidenciou, sim, diferenças individuais muito activo mãe-bebé e o grau de desenvolvimento do
importantes, sobretudo nas díades com bebés bebés, que pretendíamos pôr em evidência com
com deficiência, tendo ficado mais uma vez este trabalho, não surgiu imediatamente eviden-
evidente que a intervenção com estas díades de- te: o que se salientou foi sobretudo uma «conti-
veria reconhecer a sua individualidade e não nuidade intra-diádica», mesmo que ao longo do
pautar-se por um modelo ou técnica de interven- tempo, se tenham verificado algumas mudanças
ção único. no comportamento da mãe ou nas características
Parece-nos, contudo importante salientar al- interactivas das díades. Foi essa continuidade
guns aspectos diferenciadores dos vários tipos de que salientámos na análise anteriormente feita.
díades: Parece-nos no entanto de referir quatro situa-
Mesmo nas mães com bebés que nasceram e ções em que nos pareceu evidente a interdepen-
dência ente os sentimentos maternos e a dinâmi-
se desenvolveram sem qualquer problema, apa-
ca interactiva estabelecida, e que, de certa forma
receram sinais de ansiedade, frustração, depres-
confirmaram a nossa hipótese inicial.
são ou sobrecarga em algum momento do pri-
A primeira e mais evidente é a situação do
meiro ano de vida do bebé, sem que tal facto
Helder e da sua mãe: os sentimentos de revolta e
tenha tido um valor patológico.
rejeição da situação de deficiência do seu bebé,
As mães dos bebés nascidos prematuramente
muito evidentes na primeira entrevista, voltaram
pareceram-nos estar, nos primeiros tempos de a ser dominantes na entrevista do 9.º mês, altura
vida dos seus filhos particularmente vulneráveis, em que o Helder começou a mostrar um atraso
sendo aquelas que, globalmente apresentaram ín- significativo no seu desenvolvimento, originan-
dices de maior frustração, ansiedade e depressão do uma alteração radical na dinâmica interactiva,
e menor grau de satisfação com o bebé. que surge, a partir dessa entrevista, pouco har-
Os sentimentos, expectativas e tipo de inter- moniosa, marcada por pouca sensibilidade e
acção das mães dos bebés com síndrome de grande directividade da mãe.
Down foram, ao longo de todo o ano, discrepan- Ainda dentro dos bebés com síndrome de
tes e, em certa medida difíceis de interpretar a Down, a interdependência entre os sentimentos
não ser numa base individual, à luz de um con- maternos e o padrão interactivo mãe-bebé foi, de
texto e circunstâncias específicas. certa forma evidente na díade do Rui com a sua
mãe: a grande depressão que a mãe manifestou
2.2.1. Análise comparativa dos sentimentos nos primeiros meses e que se manteve latente ao
dominantes, características do processo longo de todo o primeiro ano de vida, manifes-
interactivo mãe-bebé e desenvolvimen- tou-se num comportamento de grande passivida-
to do bebé de, que, embora tenha diminuído, nunca desapa-
receu totalmente, não impedindo no entanto que
Pretendemos com esta análise apresentar, de o ambiente interactivo fosse sempre harmonioso.
forma abreviada, os aspectos que nos pareceram A nível dos bebés pré-termo, destacou-se a
dominantes ao longo do primeiro ano de vida Ana e sua mãe: os sentimentos de sobrecarga
dos bebés, quer no que respeita ao seu desenvol- emocional e exaustão física perante um bebé
vimento e características interactivas, quer no muito exigente, marcaram também uma inter-
que respeita aos sentimentos das mães que, de acção em que a falta de sensibilidade e responsi-

60
vidade da mãe contrastavam com as pistas muito aos dados recolhidos através dos instrumentos
claras que o bebé dava. por nós seleccionados. A metodologia que se-
No grupo dos bebés normais, embora de for- guimos e o processo de recolha de dados em que
ma muito mais ténue, também na díade formada utilizámos o método da entrevista semi-estru-
pela Maria e sua mãe pudemos sentir a influên- turada complementada com escalas de Auto-Es-
cia do comportamento do bebé nos sentimentos tima ou de Sentimentos e Atitudes, pareceu-nos
da sua mãe, marcados por alguma ambivalência. adequado aos objectivos propostos.
De facto, as dificuldades que este bebé apresen- Relativamente aos aspectos focados no roteiro
tou ao longo do primeiro semestre, as frequentes de entrevista, tal como já referimos, pareceu-nos
situações de desconforto que dificilmente eram particularmente importante a análise das ex-
ultrapassadas, poderão talvez ter posto em causa pectativas das mães face ao desenvolvimento dos
os sentimentos de competência da mãe relativa- seus bebés, bem como a análise da avaliação,
mente às suas qualidades maternas e capacidade mais ou menos realista que faziam das suas
de compreender o seu bebé. Comparada com as competências. A evolução dessas expectativas, o
outras díades com bebés normais, esta surge, nos ajuste que as mães dos bebés deficientes tiveram
primeiros episódios interactivos, como menos de fazer e as justificações que encontraram para
contingente e harmoniosa e pouco disponível pa- o atraso de desenvolvimento dos seus filhos, que
ra a interacção, situação que só a partir do 9.º começou a ser evidente a partir do segundo se-
mês se alterou. mestre de vida, forneceram pistas muito impor-
tantes para a análise do processo de adaptação
mãe-bebé, nomeadamente a capacidade de acei-
3. CONCLUSÕES tação da deficiência do bebé.
As informações que obtivémos através da en-
Ao longo do estudo longitudinal relativo a ca- trevista foram complementadas e enriquecidas
da caso analisado, salientámos as características através dos comentários que as mães faziam pe-
da dinâmica interactiva e do processo global de rante as questões que lhes eram colocadas nas
adaptação mãe-bebé. Como pudemos verificar, escalas que utilizámos.
apesar de algumas semelhanças no ritmo de É relativamente às escalas utilizadas que nos
desenvolvimento dos bebés e nos sentimentos parece importante fazer uma primeira crítica ao
dominantes das mães na altura do nascimento trabalho que desenvolvemos já que o conteúdo
dos seus filhos – alegria nas mães dos bebés de algumas questões e o seu agrupamento nas
normais, grande ansiedade nas mães dos bebés várias dimensões não nos parece o mais adequa-
nascidos prematuramente, depressão e ansiedade do para os objectivos que nos propunhamos. No
nas mães dos bebés com síndrome de Down – ao entanto, como a seu tempo referimos, este era
longo deste primeiro ano cada díade encontrou um trabalho de carácter exploratório. Assim, e
uma forma específica de se relacionar. De facto em termos de investigação futura, pensamos
encontramos, para a mesma díade, o que pode- que, a nível da avaliação e da intervenção pre-
ríamos chamar uma «continuidade temática» coce, seria da maior utilidade a construção e va-
sendo possível verificar que o tipo de problemá- lidação de uma escala de sentimentos maternos
tica surgida na primeira entrevista, continuava que, abordando algumas das dimensões avalia-
bem patente na última. das quer pela escala de Auto-Estima quer pela
No caso dos bebés com síndrome de Down, a escala de Sentimentos e Atitudes, pudesse ser
forma como, na primeira entrevista, as várias utilizada de forma a obter informações significa-
mães encararam a situação dos seus filhos, os tivas relativamente aos sentimentos das mães
mecanismos de defesa que mobilizaram para deste tipo de bebés e à forma como vão evo-
fazer face à angústia que a situação lhes provo- luindo no decurso da intervenção implementada.
cou, bem como o apoio familiar que referiram Este trabalho permite-nos ainda algumas
sentir, revelou-se um bom predictor da adequa- conclusões, de ordem mais prática, que nos pa-
ção do seu processo posterior de adaptação. recem de salientar pela importância de que po-
Ao longo da análise comparativa apresentá- dem revestir-se no campo da intervenção pre-
mos já as principais conclusões referentes aos coce.

61
Sentimos que a nossa primeira entrevista se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
revestiu de enorme importância quer para as
mães dos bebés com deficiência quer para as dos Alonso, C. P. (1991). O parto prematuro: Factores de
ajustamento materno. Monografia na área de Psi-
bebés pré-termo. Quase todas nos referiram
cologia Clínica, não publicada, Instituto Superior
posteriormente que a nossa presença tinha sido de Psicologia Aplicada, Lisboa.
um grande apoio. Pensamos que os serviços de Als, H., Lester, B. M., Tronick, E., & Brazelton, T. B.
neonatalogia e outras consultas hospitalares de- (1982). Toward a research instrument for the
vem ter pessoal especializado – referimo-nos Assessment of Preterm Infant’s Behaviour (APIB).
In H. E. Fitzgerald (Ed.), Theory and research in
evidentemente a psicólogos – preparado para
behavioural Pediatrics (vol. 1: pp. 35-63). New
enfrentar as necessidades de informação e apoio York: Plenum Press.
emocional das mães de bebés com deficiência e Atkin, L. C., Olvera, M. C., Givaudan, M., & Landeros,
também das mães dos bebés pré-termo, e que, G. (1991). Neonatal behaviour and maternal
nos casos que nos foi possível analisar, este perceptions of urban mexican infants. In J. K.
apoio não foi, em nenhum caso, sentido pelas Nugent, B. M. Lester, & T. B. Brazelton (Eds.),
The cultural context of infancy (vol. 2: pp. 201-
mães. 236). New Jersey: Ablex Publishing Co.
Verificámos ainda que quer a informação dada Bailey Jr., D. B., & Wolery, M. (1992). Teaching
quer o encaminhamento feito às mães dos bebés infants and preschoolers with disabilities. New
deficientes é quase sempre limitada aos recursos York: Macmillan Publishing Company.
existentes nos serviços médicos. Sabemos no en- Baird, S. M., Haas, L., McCormick, K., Carruth, C., &
Turner, K. (1992). Approaching an objective
tanto que estas crianças, para além do diagnós-
system for observation and measurement: Infant-
tico e tratamento de alterações a nível físico, têm parent interaction code. Topics in Early Childhood
necessidades específicas em termos educacio- Special Education, 12 (4), 554-571.
nais. Sabemos também que as suas mães vão Beckwith, L. (1990). Adaptative and maladaptative
enfrentar uma situação, em termos emocionais parenting-implications for intervention. In S. J.
Meisels, & J. P. Shonkoff (Eds.), Handbook of
mas também em termos de exigências educati-
early intervention (pp. 53-77). Cambridge: Cam-
vas, para a qual não estão preparadas. Não pare- bridge University Press.
ce que os serviços médicos possam responder Bell, R. Q. (1974). Contributions of human infants to
adequadamente quer às necessidades educativas caregiving and social interaction. In M. Lewis, &
das crianças quer às necessidades de orientação e L. Rosenblum (Eds.), The effect of the infant on its
apoio emocional das mães. Parece-nos assim caregiver (pp. 1-19). New York: Wiley.
Bell, R. Q. (1979). Parent, child, and reciprocal
que é urgente uma maior articulação entre as influences. American Psychologist, 34 (10), 821-
equipas de neonatalogia e consultas de desenvol- -826.
vimento com outras estruturas, não médicas, Berger, J., & Cunningham, C. C. (1983). Development
que assegurem a orientação atempada dos bebés of early vocal behaviours and interactions in
deficientes e suas famílias. Down’s Syndrome and nonhandicapped infant-
mother pairs. Developmental Psychology, 19 (3),
Temos consciência que, dado o limitado nú- 322-331.
mero de casos estudados, os resultados obtidos e Brazelton, T. B., Koslowski, B., & Main, M. (1974).
as conclusões a que chegámos não poderão ser The origins of reciprocity: The early mother-infant
generalizadas. Esperamos, no entanto que o interaction. In M. Lewis, & L. Rosenblum (Eds.),
trabalho realizado venha a contribuir para uma The effect of the infant on its caregiver (pp. 49-76).
New York: Wiley.
melhor compreensão do processo de adaptação
Brazelton, T. B., Tronick, E., Adamson, L., Als, H., &
mãe-bebé quando estamos face a uma situação Wise, S. (1975). Early mother-infant reciprocity. In
de deficiência ou de risco, e salientado a neces- M. A. Hoffer (Ed.), Parent-infant relationship (pp.
sidade de uma abordagem integrada de todos os 137-154). Amsterdam: CIBA Foudation Sympo-
componentes deste processo, pois só assim sium 33 Associated Scientific Publishers.
estará garantido o sucesso de um programa de Brazelton, T. B., & Cramer, B. (1989/1993). A relação
mais precoce. Lisboa: Terramar.
intervenção precoce e, em última análise uma Bromwich, R. (1990). The interaction approach to early
melhor integração e bem-estar das crianças com intervention. Infant Mental Health Journal, 2 (1),
deficiência e suas famílias. 66-79.

62
Brown, W., Thurman, S. K., & Pearl, L. (Eds.) (1993). Greenspan, S. I., & Lieberman, A. F. (1989). Infants,
Family-centered early intervention with infants mothers, and their interaction: A quantitative cli-
and toddlers. Baltimore: P. H. Brooks. nical approach to developmental assessment. In S.
Crawley, S. B., & Spiker, D. (1983). Mother-child I. Greenspan, & G. H. Pollock (Eds.), The course
interactions involving two-year-olds with Down of life (vol. 1, Infancy: pp. 503-560). Madison:
Syndrome: A look at individual differences. Child International University Press.
Development, 54, 1312-1323. Hodapp, R. M. (1988). The role of maternal emotions
Crnic, K. A., Friedrich, W. N., & Greenberg, M. T. and perceptions in interactions with young handi-
(1983). Adaptation of families with mentally retar- capped children. In K. Morfo (Ed.), Parent-child
ded children: A model of stress, coping, and family interaction and developmental disabilities-theory,
ecology. American Journal of Mental Deficiency, research and intervention (pp. 32-46). New York:
88 (2), 125-138. Preager.
Dunst, C. J., & Trievette, C. M. (1988). Determinants of Jones, O. H. M. (1980). Prelinguistic communication
parent and child interactive behaviour. In K. Morfo skills in Down’s Syndrome and normal infants. In
(Ed.), Parent-child interaction and developmental T. M. Field (Ed.), High-risk infants and children
disabilities-theory, research and intervention (pp. (pp. 205-225). New York: Academic Press.
3-31). New York: Preager. Kaplan, M. (1992). Mother’s images of motherhood.
Dunst, C. J., Trivette, C. M., & Deal, A. G. (1988). London: Routledge.
Enabling and empowering families – principles Leitão, F. R. (1992). Interacção mãe-criança e activi-
and guidelines for practice. Cambridge: Brookline dade simbólica. Tese de Doutoramento apresentada
Books. na Faculdade de Motricidade Humana, Universi-
Engfer, A., & Gavranidou, M. (1986). Antecedents dade Técnica de Lisboa, Lisboa.
and consequences of maternal sensitivity. A longi- Lester, B. M. (1992). Infants and their families at risk:
tudinal study. In H. Rauh, & H. C. Steinhausen Assessment and intervention. Infant Mental Health
(Eds.), Psychobiology and early development.
Journal, 13 (1), 54-66.
Amsterdam: North Holland.
Mahoney, G. (1988). Maternal comunication style with
Farran, D. C., Kasari, C. Comfort, M., & Jay, S. (1986).
mentally retarded children. American Journal of
Parent/caregiver involvement scale. Greensboro:
Mental Retardation, 92 (4), 352-359.
University of North Carolina.
Mahoney, G., Fors, S., & Wood, S. (1990). Maternal
Field, T. (1983). Social interactions between high-risk
directive behaviour revisited. American Journal on
infants and their mothers, fathers, and grandmo-
Mental Retardation, 94 (4), 398-406.
thers. In B. B. Lahey, & A. E. Kasdin (Eds.),
Mahoney, G., Robinson, C., & Powell, A. (1992).
Advances in clinical child psychology (vol. 6: pp.
251-283). London: Plenum Press. Focusing on parent-child interaction: The bridge to
Fisher, M. A. (1988). The relationship between child developmentally appropriate practices. Topics in
initiations and maternal responses in preschool-age Early Childhood Special Education, 12 (1), 105-
children with Down Syndrome. In K. Morfo (Ed.), -120.
Parent-child interaction and developmental disa- Marfo, K., & Kysella, G. M. (1988). Frequency and
bilities-theory, research and intervention (pp. 126- sequential patterns in mothers’ interactions with
-144). New York: Preager. mentally handicapped and nonhandicapped
Fleming, A. S., Flett, G. L., Ruble, D. N., & Shaul, D. children. In K. Morfo (Ed.), Parent-child inter-
L. (1988). Postpartum adjustment in first-time action and developmental disabilities-theory,
mothers: Relations between mood, maternal atti- research and intervention (pp. 64-89). New York:
tudes and mother-infant interactions. Developmen- Preager.
tal Psychology, 24 (1), 71-81. Mazet, Ph. (1993). Les interactions entre le Bebé et ses
Goldman, B. D., & Johnson-Martin, N. (1986). S. B. partenaires – Quelques réflexions sur leur évalua-
Crawley, & D. Spiker Mother – Child Rating Sca- tion. Neuropsychiatrie de l’Enfance, 41 (3-4), 126-
les-Modified Version. Manuscript from Child De- -133.
velopment Center, Chapel Hill, University of North Meisels, S. J., & Shonkoff, J. P. (Eds.) (1990). Hand-
Carolina. book of early intervention. Cambridge: Cambridge
Goodnow, J. J., & Collins, W. A. (1990). Development University Press.
according to parents: the nature, sources and con- Peterson, N. L. (1988). Early intervention for handi-
sequences of parents’ ideas. London: Lawrence capped and at-risk children. Denver: Love Publi-
Erlbaum Associates. shing Company.
Greenspan, S. D. (1981). Psychopathology and adapta- Raack, C. B. (1989). Mother-infant communication
tion in infancy and early childhood. New York: In- screening. Schaumburg, Illinois: Community The-
ternational Universities Press. rapy Services.

63
Richard, N. B. (1986). Interaction between mothers and Stern, D. (1989/1992). O mundo interpessoal do bebé.
infants with Down Syndrome: Infant characteris- Porto Alegre: Artes Médicas.
tics. Topics in Early Childhood Special Education, Tanaka, C., & Niwa, Y. (1991). The adaptation process
6 (3), 54-71. of mothers to the birth of children with Down Syn-
Rothbart, M. K., & Hanson, M. J. (1983). A caregiver drome and its psychotherapeutic assistance: A
report comparison of temperamental characteristics retrospective approach. Infant Mental Health
of Down Syndrome and normal infants. Develop- Journal, 12 (1), 41-54.
mental Psychology, 19 (5), 766-769. Trevarthen, C. (1979). Communication and cooperation
Sameroff, A. J., & Feil, L. A. (1985). Parental concepts in early infancy: a description of primary intersub-
of development. In I. E. Sigel (Ed.), Parental belief jectivity. In M. Bullowa (Ed.), Before speech (pp.
systems (pp. 83-105). New York: Erlbaum. 321-347). Cambridge: Cambridge University Press.
Sameroff, A. J., & Fiese, B. H. (1990). Transactional Trevarthen, C. (1990). Early parent-child interaction. In
Th. A. Sebeok, & J. Umiker-Sebeok (Eds.), The
regulation and early intervention. In S. J. Meisels
semiotic web (pp. 41-51). New York: Mouton de
& J. P. Shonkoff (Eds.), Handbook of early inter-
Gruyter.
vention (pp. 119-149). Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press.
Sander, L. W. (1969). The longitudinal course of early
mother-child interaction-cross-case comparison in RESUMO
a sample of mother-infant pairs. In B. M. Foss
(Ed.), Determinants of infant behaviour (vol. IV: Após uma breve revisão dos trabalhos sobre inter-
pp. 189-227). London: Metthuen. acção mãe-bebé e de estudos sobre a influência que os
Schaffer, H. R. (1977). Studies in mother-infant sentimentos, atitudes e expectativas maternas têm no
interaction. London: Academic Press. processo interactivo, apresenta-se neste artigo a inves-
Schaffer, H. R. (1977/1979). Saber ser mãe. Lisboa: tigação desenvolvida, numa perspectiva longitudinal,
Moraes Editores. com 12 díades durante o 1.º ano de vida: quatro mães
Shea, E., Tronick, E., & Edward, Z. (1988). The com bebés normais, três mães com bebés em situação
maternal self report inventory. In H. B. Fitzgerald, de risco por terem nascido prematuramente e cinco
mães com bebés com síndrome de Down.
B. M. Lester, & M. W. Yogman (Eds.), Theory and
Evidenciamos as características específicas de cada
research in behavioural pediatrics (Vol. 4: pp.
díade, quer relativamente ao desenvolvimento do bebé
101-139). New York: Plenum Press.
quer à dinâmica interactiva, sentimentos maternos e
Shonkoff, J. P., Hause-Gram, P., Krauss, M. W., & processo de adaptação da mãe ao bebé, aspectos fun-
Upshur, C. C. (1992). Development of infants with damentais para o desenvolvimento de adequados pro-
disabilities and their families. Monographs of the gramas de intervenção precoce.
Society Research in Child Development, 57, (6, Palavras-chave: Interacção mãe-bebé, síndrome
Serial N.º 230). de Down, intervenção precoce.
Sigel, I. E. (Ed.) (1985). Parental belief systems. New
York: Erlbaum.
Skinner, E. (1985). Determinants of mother sensitive
ABSTRACT
and contingen responsive behavior: The role of
childrearing beliefs and socioeconomic status. In I.
E. Sigel (Ed.), Parental belief systems (pp. 51-82). The paper begins with a brief overview on the
recent works on mother-infant interaction and on
New York: Erlbaum.
other studies analysing the influence of maternal
Smith, C. R., Selz, L. J., Bingham, E., Aschenbrenner,
attitudes, feelings and expectations on the interactive
B., Standbury, K., & Leiderman, P. (1985). Mo-
process with their infants. We present a longitudinal
thers’ perceptions of handicapped and normal study with twelve diads, during the first year of life:
children. In J. E. Stevenson (Ed.), Recent research four mothers and their normal infants, three mothers
in developmental psychopathology (pp. 111-124). and their pre-term babies and five mothers and their
Oxford: Pergamon Press. Down Syndrome infants.
Solnit, A. J., & Stark, M. H. (1961). Mourning at the We enphasise the specific characteristics of each
birth of a defective child. Psychoanalitic Study of diad in all the aspects we have studied – infant deve-
the Child, 16, 523-537. lopment, mother-infant interaction, maternal feelings
Stern, D. (1974). Mother and infant at play: The diadic and mother-infant adaptation process. We believe that
interaction involving facial, vocal, and gaze the individual analysis of these aspects is of enormous
behaviours. In M. Lewis, & L. Rosenblum (Eds.), importance for the devellopment of early intervention
The effect of the infant on its caregiver (pp. 187- programs for infants and children with special needs
-213). New York: Wiley. and their families.
Stern, D. (1977/1980). Bebé-mãe: Primeira relação Key words: Mother-infant interaction, Down syn-
humana. Lisboa: Moraes Editores. drome, early intervention.

64

Você também pode gostar