Você está na página 1de 438

J. J.

Gremmelmaier

MAGOG
A Saga
Primeira Edição

Curitiba / Paraná

Edição do Autor

2013

1
Autor: João José Gremmelmaier
Primeira Edição - 2013
Edição do Autor
Nome da Obra; MAGOG – A Saga
ISBN: 978-85-62418-47-9
As opiniões contidas no livro são dos personagens, em nada as-
semelham as opiniões do autor, esta é uma obra de ficção, sendo os
nomes e fatos fictícios.
É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.
Sobre o Autor;
João Jose Gremmelmaier, nasceu em Curitiba, Paraná, Brasil no
ano de 1967, formou-se em Economia e atuou como microempresá-
rio por mais de 15 anos. Escreve em suas horas de folga como
hobby, alguns jogam, outros viajam, ele faz tudo isto, mas não abre
mão de ficar a frente de seu computador, viajando em estórias, e
nos levando a viajar com elas pelo mundo da fantasia.
Autor de Obras como a série Fanes, Guerra e Paz, Mundo de Pe-
ter, Heloise (Trissomia) e Anacrônicos, as quais se assemelham no
formato da escrita, por começarem como estórias aparentemente
normais, e logo partem para o imaginário utilizando de recursos que
interligam de forma sutil e inteligente as diversas estórias entre si,
fazendo com que o leitor crie um certo grau de curiosidade em rela-
ção as demais estórias.

2
A Saga Magog – Esta história, como o au-
tor fala, surgiu crua, às vezes até inocente,
mas como “J. J.” não se recusava a escrever
as ideias mais malucas, isto gerou este pe-
queno livro, onde ele descreve a aventura de
personagens, que vão se somando a cada
conto, que tem como missão tentar evitar,
que Magog, faça uma nova colheita de almas
para Deus.

3
Magog – A Saga

Os quatro contos que fazem parte dele:

Magog 1 – Jorge 005

Magog 2 – Dalma 173

Magog 3 - O olho dos que não podem ver 255

Magog 4 – Batalha 367

CIP – Brasil – Catalogado na Fonte

Gremmelmaier, João Jose 1967

Magog, Romance de Ficção, 430 pg./ João Jose Gremmel-


maier / Curitiba, Pr. / Edição do Autor / Primeira Edição / 2013

1. Literatura Brasileira – Romance – I – Título


2. Literatura Fantástica – Romance – I — Título

85-62418-41 CDD – 978-85-62418-41-9

4
5
MAGOG
J.J.Gremmelmaier
A Saga de Dois Seres, procurando descobrir o que são, entre Seres translú-
cidos que se denominam de Laikans, enfrentando a lei, enfrentando o
ressurgir de uma força avassaladora que se abate sobre a região Metropo-
litana de Curitiba, o Estilo Fantástico do Autor, demonstrou em 2010 este
conto, terminado em 2011, agora compilado em um único Texto, para os
amantes de historias fantásticas.
Agradeço a todos os que me ajudaram a enxergar e ser quem sou,
as vezes escrevo por teimosia, temos milhares de editoras, mas poucas se
dedicando a novos autores, elas não correm atrás, temos de nos esforçar,
nos dedicar, nos transformar em muitos, então este trabalho, da capa mal
feita, da revisão em andamento, da diagramação, foi feita por um teimoso
escritor, eu, então desculpem antecipadamente qualquer coisa que não
ficou como deveria, mas vivemos em um país que temos estádios moder-
nos e editoras e editores dos idos de 1800.
João Jose Gremmelmaier

PS.: Na versão final omiti dos leitores dois capítulos, eles não somavam na
historia, então começamos a historia pelo capitulo 2, não estranhem a
ausência de outros por ai, coisas deste escritor maluco.

6
Dois!

Um rapaz sorridente vai a rodoviária, primeiro dia de fé-


rias, comprou a passagem para passar em sua terra natal 25 dias
dos 30 de férias, vai contente, preparou tudo e meia hora depois
de sair de casa esta na rodoviária, senta-se a mesma esperando o
horário de embarcar, tudo normal até ele avistar aqueles lindos
olhos azuis, ela sentou-se a sua frente, parecia lhe dar bola, tudo
que não acontecia normalmente.
Férias são onde acontecem os momentos bons da vida,
pensou o rapaz, depois de um tempo, ela puxou sua grande mala
e perguntou;
— Vai para onde?
— Florianópolis!
— Me faria um favor?
— Sim!
— Preciso ir ao banheiro, cuida um pouco de minha mala?
Ele sorriu, e a moça se foi como se desfilasse naquele cor-
redor, ela demorou, quando viu seu ônibus parar na entrada,
seriam mais poucos minutos antes dele embarcar e ela não apa-
recia, viu alguns policiais ao fundo, pareciam procurar algo,
quem não deve não teme, então ficou ali, estavam quase abrindo
para o embarque quando o policial parou ao seu lado e pergun-
tou;
— Senhor, esta mala é sua?
O rapaz olhou a mala da moça;
— Não, é de uma moça, que disse que ia rapidamente ao
banheiro!
Naquele o moço passou a vista na mala, uma possa aver-
melhada se formava por baixo da mala, o policial fez sinal para o
outro;
— Senhor, tem de nos acompanhar!
— Mas o que fiz?
O rapaz viu todos os olhos virem a ele, outros chegaram, o
algemaram e sem saber o que estava acontecendo, viu suas férias
irem pelo ralo, meia hora depois estava numa cela, a aguardar

7
para ser ouvido, ligou para um amigo, que parecia não chegar, as
pessoas estavam a lhe olhar na cela, ele não parecia perigoso,
roupas para férias, nem que tentasse parecer perigoso não con-
seguiria;
Os rapazes o tiraram da cela e foi posto numa sala de reco-
nhecimento, não via quem estava do outro lado, mas foi nova-
mente levado a cela, quando seu amigo chegou, foi a uma sala
para conversarem, e o rapaz falou;
— Jorge, você esta encrencado!
— Por quê?
— Acharam em uma mala que estava com você, dois cadá-
veres cortados!
— Mas não era minha, nem toquei nela!
— Mas tem uma senhora que afirma que o senhor chegou
com aquela mala lá!
— Mas ela esta mentido!
— Ela o reconheceu, amigo!
O rapaz não acreditava naquilo, dois assassinatos, uma
arapuca com olhos azuis, contou o caso para o amigo, este come-
çou as defesas, mas nada de conclusivo.

8
Três!

Amanheceu e sua estampa estava em todos os jornais, O


Retalhador do Machadinho, este foi o apelido dado ao rapaz, se
os que não o temiam no dia anterior, começaram a olhar descon-
fiado, uma burguesinho virou o assassino.
Estava a dois dias na delegacia, não havia segurança sufici-
ente, começaram uma manifestação a porta da Delegacia, queri-
am linchar o assassino, se viu o tumultuo e as opiniões sendo
manipuladas por repórteres sensacionalistas, Jorge que sempre
fora fã deste tipo de reportagem se via em meio a uma, sem saber
como se livrar, o pedido de transferência para a penitenciaria foi
assinado para manter a segurança e isolar o rapaz, temendo a
invasão do local;
Jorge é transferido para o presídio onde os demais presos
olham desconfiado, agora com roupas do presídio, não parecia
tão inocente, os braços de quem fazia academia, poderia parecer
outra coisa, a forma que olhavam-no, não entendeu, mas com 11
dias de presídio, viu sua cela ser invadida, o jogarem no chão, o
penduraram na frente do presídio como refém, revoltas em pre-
sídios no Brasil, geralmente os rebelados matam alguns presos,
os que não fazem parte do grupo deles, então Jorge acorda, já
pendurado na parede externa do prédio, ele desacordou com
alguém o jogando a cela, não lembra de ter chegado ali, nem sa-
bia onde estava, os rebelados colocavam fogo no prédio, ele via o
fogo por um lado, a fumaça por outro, cheiro horrível, o que esta-
vam queimando, ninho de rato? Não, eram os colchões velhos do
presídio, sempre que esteve fora condenava isto, mas observara
nos poucos dias que estava ali, que somente se trocava o que se
destruía, colchões pela metade, sobreviventes de incêndios sen-
do reutilizados, pelos menos fortes, pelos menos perigosos, sabia
que não deveria estar ali, mas não se justificou desde que chegou
ali, não queria morrer, e sentiu que se falasse, que era burguesi-
nho que foi pego por engano, iria morrer, mas agora pendurado
acima do prédio, com ele pegando fogo aos seus pés, não sabia se
sobreviveria, a fumaça estava diminuindo e o calor aumentando,

9
olhou que não era só ele, uns 4 ou cinco presos, olhou para traz e
viu os rapazes que entraram na cela, olhou serio para um, não
sabia se viveria, olhou para o rapaz e falou;
— Torce para que eu morra, pois senão se acha ruim sua
vida, não sabe o que vou fazer com ela!
Os demais viram que o rapaz saiu da defensiva, os dois ra-
pazes embora grandes, não o olharam mais, ele viu a policia de
choque entrar nas celas, se ouvia tiros e gritos, e o fogo aumen-
tando, tudo a sua volta parecia perdido, os rapazes ao lado pare-
ciam estar em pânico, Jorge acalmou os nervos, viu o bombeiro
começar a jogar água finalmente, mas a fumaça que subiu foi um
misto de podre com umidade, parecia entrar nos poros, doze
horas depois de começado a apagar, foram tirados dali, por uma
policia gentil que os despiu e jogou no meio dos outros, sem o
mínimo de atendimento, Jorge não reclamou mas um dos rapazes
que estava pendurado morreu ao seu lado e quando isto aconte-
ceu, ele olhou o policial e falou;
— Feliz por ter o matado?
— Esta falando comigo lixo!
— Não, com o rato atrás de você!
O guarda chutou o rapaz no chão a frente de Jorge;
Jorge olhou o guarda e falou alto, todos ouviram;
— Eles matarem eu aceito, pagam aqui seus crimes, mas
pode contar, você vai pagar esta morte rato!
Os outros policiais viram o policial dar com a arma na ca-
beça de Jorge, mas os demais viram o rapaz morto, e avançaram
sobre o policial, o que era uma rebelião acabando, virou uma
troca de tiro, pois a arma do policial que caiu foi usada contra ele,
depois contra os que avançavam, Jorge desacordado no chão, não
viu isto, mas os demais viram, os policiais avançaram e uma leva
de negociação veio ao presídio, agora todo em fogo, não mais um
setor;
— O que pedem?
— O que, justiça, se vocês podem matar aqui, nós também
podemos!
— Mas quem foi morto aqui?

10
— Pergunte aos policiais o porquê da segunda revolta, não
tocada pelos primeiros, que agora estão lá dentro detidos por
nós, pergunte para eles!
Os rapazes saíram, Jorge acordava na cela, um rapaz olhou
ele e falou;
— Você não sabe o que faz rapaz, quer morrer?
— Estou morto, ou não lhe contaram!
— Lhe chamam de O Retalhador!
— Ouvi isto, mas como estão as coisas?
— Tomamos o presídio, mas eles sempre veem com mais
para nos matar!
— Posso ajudar na negociação!
— Mas o que pode fazer!
Jorge olhou para o rapaz e falou;
— Arranja dois para levar os rapazes que estavam pendu-
rados e morreram, e os corpos dos que morreram depois!
— Mas o que vai fazer?
— Lhes mostrar o que aconteceu sobre nossa visão, a im-
prensa vai gostar de saber que o Retalhador esta a frente desta
rebelião!
O rapaz olhou para ele e saiu pelo corredor, enquanto Jor-
ge avançava no sentido do local de negociação;
Um rapaz grande estava ao local onde por uma porta inter-
rompida, se falava com os senhores ao longe;
— Quem acha que vem ai, o que quer burguesinho?
Jorge olhou para o rapaz e perguntou;
— Sabe o que esta fazendo?
— Sei, já fiz isto antes!
— E o que eles falaram!
— Que estão mandando o que pedi!
— E o que pediu, já que ninguém sabe mesmo?
— O de sempre, o pessoal dos direitos humanos, um juiz
para negociar, e melhoras!
— Eles pediram o que?
— Querem que mostremos bom censo!
Jorge olhou em volta, e o rapaz falou;
— Sabe com quem fala boyzinho?
11
— Não!
A maioria estremeceu;
— Sou João Confusão, soube que é a bela adormecida que o
policial tirou do ar!
— Sim Retalhador adormecidos para você!
O senhor mediu o rapaz, não era o que pensava, mas en-
trou com uma assinatura pesada, e Jorge ouviu;
— O que veio fazer aqui?
— Ajudar nas negociações, já que gerei o problema!
— Acha que isto é problema?
— Não, estou dizendo as mortes dos policiais que alguém
tem de assumir!
— Certo, eles vão querer vingar, mas propõem o que?
— Deixa os direitos humanos chegarem!
— Mas não gosto de ir as cegas!
— Ninguém esta as cegas ainda, mas com certeza vão cor-
tar a luz, então melhor segurarem o fogo, pois a noite vai ser
mais útil que numa tarde de domingo!
— Acha que vão entrar?
— Quase certeza!
— O que faria?
— Colocaria dos nossos nos uniformes dos policiais mor-
tos, estáticos lá no chão, põem eles nus no meio do pátio, junto
com gente viva, mas com as armas por baixo do corpo, eles vão
achar que lá só tem mortos, os mortos vestimos e colocamos nas
primeiras celas, as que eles vão entrar atirando mesmo, colocava
lá ate os reféns e os policiais ainda vivos, eles vão matar antes de
olhar mesmo!
— Certo, e depois!
— Temos um corpo que deve ter ficado na imagem do jor-
nal anterior pendurado vivo, até os policiais entrarem, vamos
jogar!
— Por quê?
— Se eles vieram ajudar, eles mataram ele negando socor-
ro, foi isto que gerou a segunda revolta, pode deixar até aqueles
narcotraficantes na cessão de entrada, mas com muita fumaça!
— Você veio de onde?
12
— Vocês acham mesmo que alguém pega alguém assim
como eles narraram, embarcando com dois corpos, o que faria
com os corpos, armaram para me pegar, mas se armaram, vão ter
de provar agora que fui eu que matei!
— Não esta dizendo que é inocente, mas não teria por que
fazer aquilo?
— Sabe bem que se abandonasse a mala em qualquer ban-
co nas ruas ainda não monitoradas do centro, estaria lá ainda!
— Mas pretende o que?
— Sairmos vivos, o que mais!
— Certo! – O senhor imenso virou para os demais e falou –
Estão esperando o que para fazer o que falamos?
Jorge assumindo uma rebelião, quando a moça dos direitos
humanos chegou, Jorge e João foram a uma sala, normalmente
usada para conversarem com os parentes ou advogados;
— Quem os representa?
Jorge olhou para João antes;
— Quem nos representa é o senhor João!
— E quem é você?
— Apenas Jorge!
— Certo, o que querem?
— Justiça!
— Não entendi! – O juiz;
— Estamos liberando os 3 primeiros corpos, e se olhar as
imagens que devem ter do presídio, devem saber quem são, fica-
ram pendurados no prédio em chama o dia inteiro!
— Vocês os mataram por que? – Juiz;
— Senhor, eles foram tirados de lá por seus policiais no fim
da primeira rebelião, mais de 3 horas antes da segunda rebelião,
se olhar para eles, queimaduras pelo corpo, se fizerem autopsia,
intoxicados com fumaça tóxica, morreram ao pátio, nus, sem au-
xilio, uma hora antes da segunda rebelião, eles são causa da se-
gunda rebelião, se vocês podem mandar a policia matar as viti-
mas, não se diferem de nós!
— Quer dizer que ninguém foi socorrido?
— Sabe mais que eu sobre isto senhor, não é burro, ne-
nhuma ambulância saiu daqui, os feridos foram mortos a tiro,
13
como sempre, e a culpa vai sempre cair encima daqueles que
começaram a primeira rebelião, mas agora queremos negociar, e
se não segurar os policiais, desta vez responderemos como pu-
dermos, morremos, mas não abaixamos a guarda para morrer-
mos covardemente!
— Quem é você!
— Alguém que os jornalistas ali atrás sabem quem é, esta-
va estampado em todos os jornais a 13 dias!
— Quem? – A moça dos direitos humanos;
— Aqui dentro me chamam de Retalhador!
O juiz viu que embora falasse bem, não estavam falando
com um analfabeto, e o senhor perguntou;
— Vão liberar os corpos?
— Começamos pelos 3 primeiros que estavam pendura-
dos!
— Mas eram quatro! – A moça;
— Olhe a cena senhora, eu estava lá pendurado, não morri
por azar de vocês!
João viu os policiais se armarem as costas e Jorge apenas
fez sinal para João se retirar, com calma, e depois ele se retirou,
Jorge fez sinal para deixarem os 3 corpos, e depois trancou a por-
ta novamente;
O pânico se via nos olhos dos demais, 4 pavilhões quei-
mando a toda volta, as celas do meio todas apinhadas de gente,
João olhou para Jorge e perguntou;
— Mas não estamos muito frágeis?
— Sim, verifica quem quer fugir!
João não entendeu, mas foi formado um grupo, e pelos fun-
dos, na direção da serra, um dos pavilhões vinha abaixo, os rapa-
zes e muitos presos ficaram em uma parte baixa, um pequeno
poço, que separava aquela área, estavam em toda a região, obvio,
apenas a cabeça para fora do poço, mas o medo estava a toda em
Jorge, que não pretendia fugir, mas viu os policiais passarem por
eles, estavam chegando ao meio do grupo, passaram pelos corpos
ao meio do campo, todos com aparência de mortos, quando o
pavilhão a norte veio ao chão, levantando poeira, os policiais
viram tudo ficar um pó só, estavam agora fazendo uma formação
14
e começaram entrar o pavilhão atirando, como Jorge previu, João
ao seu lado não sabia o que fariam, quando o terceiro prédio de-
sabou, a poeira levantou, Jorge fez sinal para quem queria fugir,
João perguntou;
— Não vai fugir?
— Eu enfrento, alguém vai ter de os por no lugar!
— Você é louco!
— Não, mas se vale fugir para você, vai!
Jorge pensou rápido, os demais saiam lentamente e rastei-
ramente, não se via muita coisa naquela poeira, mas ficou ali
estático;
Quando o ultimo prédio veio a baixo, os policiais pararam
de atirar, ficaria visível de fora que estavam a matar os presos,
Jorge estava estático, e quando viu os policiais começarem a re-
vistar tudo, um idiota atirou no primeiro morto ao chão, a im-
prensa registrou isto, mas os demais não queriam morrer, vira-
ram-se e começaram a atirar, se viu policial a policial cair e revi-
dar, os presos que saiam nus se jogaram ao chão, os policiais
foram revidando a tiro, e uma guerra se fez com Jorge e alguns
nos buracos, Jorge afundou na água a cabeça e segurou a respira-
ção, alguns fizeram o mesmo, as balas estavam raspando suas
cabeças, Jorge viu João morto a seu lado quando ergueu-se no-
vamente, a volta se sentia o gás pimenta, os olhos incharam, ele
fechou um pouco e fez sinal para os demais começarem a andar
no sentido dos que estavam abaixados a porta, o tumultuo foi
para o centro do pátio, tirou a roupa e se deitou com os demais,
os demais foram fazendo o mesmo, Jorge mantinha os olhos o
mais fechado possível, pois o gás lhe tirou toda a percepção de
profundidade, então não tentava ver muito, apenas muito próxi-
mo;
Os guardas entraram com reforço, os que já estavam ao
chão, achavam eles já terem passado por revista, e foram a olhar
o restante dos lugares, acharam muitos mortos no poço antes do
muro de observação, e as cenas do confronto atravessaram o
país, Jorge não gostou do final, mas quando se cria algo assim,
sempre se tem o risco, muitos deveriam ter fugido, muitos saí-
ram vivos, então que os mortos descansassem bem;
15
Jorge estava ali para evitar problemas na delegacia, aguar-
dava o inquérito, nem isto tinha contra ele, mas quando o amigo
advogado chegou a penitenciaria ele explicou tudo o que aconte-
ceu, e seu amigo procurou o pessoal dos direitos humanos da
penitenciaria, e quando se pediu exame de balística de vinte
mortos, entre eles, policiais, funcionários, 18 deles apontou para
armas da policia que entrou para apaziguar, quando se pediu a
perícia dos 3 primeiros, confirmando que não foi lhes dado so-
corro, o comandante da policia militar que autorizou a operação
tentou justificar, mas como Jorge falou, justiça é para todos, se
um marginal não pode atirar num policial, a recíproca é igual,
muitas investigações se fizeram referente ao caso e Jorge estava
a mais dois dias, dormindo sentado ao centro do grande pátio,
sobre olhares dos policiais por todos os lados quando a moça dos
direitos humanos pediu para falar com ele;
— Tudo bem Jorge?
— Não!
— O que lhe perturba?
— Todos os mortos que eles jogaram no fosso, tiro na ca-
beça como animais, até João eles mataram assim!
— Esta dizendo que mataram todos aqueles?
— Pede perícia naqueles corpos, vai dar tudo tiro na cabe-
ça e arma da policia!
— E você, como esta?
— Sofrendo por ter sobrevivido, não gosto de ver a policia
por este lado, nunca olhei pelo lado de dentro, não gosto do que
vejo!
— Sabe que está encrencado?
— Sei que não estou, mas quando não tiver provas, prova-
velmente já perdi o emprego, a reputação, e como alguém assim
volta a vida, a policia lhe prende sem prova, meu advogado disse
que quem me acusou sumiu, a identidade era falsa, mas agora já
sou culpado, só não sei como vou viver!
— Acha que não tem prova?
— Não tem, eles não tem uma digital minha na mala, não
tem um pelo, um nada de mim lá, tem segundo meu advogado,
pele, e cabelos de uma moça, mas não meus!
16
— E o que fazia negociando?
— Era para estar morto, pois todos os que estavam ao pá-
tio, a policia iria garantir se estavam mortos com um tiro a mais
na cabeça, até um repórter filmou isto, mas se duvidar a policia
tirou seu material!
— Certo, mas de onde vieram os tiros na policia?
— Falei que não morreríamos sem resistir, quando eles
começaram a atirar, tinham de estar prontos para ter resistência!
— Certo, mas sabe quem reagiu!
— Não sei os nomes, mas estavam todos mortos quando
nos isolaram, lá no pátio central!
— Sabe que eles odeiam quem fala?
— Sei que se todos falassem, não teríamos de ter medo de-
les!
— Mas se cuida!
— Se eu morrer, faz a perícia! – Jorge fala olhando para o
policial – Mas não estranhe os resultados, como tem gente aqui
dentro que se mata com coisas que não tem nas celas!
A moça olhou para o policial e falou;
— Por que esta provocando?
— Moça, não sei se posso confiar em você, mas tudo que fa-
lei para você falei para meu advogado, que deve ter lhe procura-
do!
— Sim!
— Estamos todos nus no pátio central a dois dias, todos,
qualquer que morra lá, e não for de pneumonia ou falta de aten-
dimento medico, é assassinato por estes que nos cercam, qual a
duvida!
— E seu advogado vai fazer o que?
— Já fez, mas talvez morra por isto!
A manha seguinte, saia as imagens das mortes, por um ce-
lular, e com uma declaração de Jorge, e se alguns odiavam ele,
pelo menos tiveram de parar para pensar, Jorge foi levado a uma
sala, ele achava que iria morrer ali, mas eles acabaram com sua
vida, o que poderiam fazer mais, já o havia matado, preferia mor-
rer de tiro, de chute, a de fome;
— Acha que pode nos denunciar?
17
Jorge sentiu o primeiro chute;
— Covarde, nem tem coragem de mostrar o rosto! – Jorge;
O rapaz chutou de novo, quando estava quase desacordado
foi posto no centro do pátio de novo, os demais viram que o ra-
paz era odiado pelos policiais, até alguns traficantes que sobrevi-
veram viram que o rapaz chamou tudo para ele;
No dia seguinte quando o advogado chegou e o senhor do
presídio recusou o direito de ver seu cliente, entrou com pedido
urgente de corpo delito, e quando o juiz no fim daquele dia defe-
riu, o próprio IML da policia civil, dava as provas da agressão;
Jorge foi transferido para uma cadeia na região metropoli-
tana, ele não achava uma boa ideia, mas seu advogado insistiu, lá
foi Jorge para a delegacia, de Piraquara lotada, quebrado, a moça
dos direitos humanos pediu ao mesmo Juiz corpo delito em todos
os presos, baseada no exame de Jorge, o que foi uma correria,
teriam de achar lugar longe do presídio para muitos, e o afasta-
mento de todos os policiais e direção do presídio novamente,
mais uma porção de funcionários;
Jorge primeiro passou no Hospital, fizeram curativo, uma
porção de cicatrizes e foi para a delegacia depois de 24 horas
vigiado no hospital, já vira um lugar assim, não tinha lugar nem
para dormir sentado, mas olhou para o teto, melhor, não chove-
ria em sua cabeça;
Um rapaz grande veio a Jorge e o pressionou na parede;
— Quem vem para me divertir!
— Alguém que se não tivesse apanhado de 12 policiais an-
tes de estar a sua frente, não estava tão valente assim!
Os demais viram que era uma forma de chamar o rapaz de
covarde, e era mesmo;
— Quer morrer?
— Tenho quase certeza que alguém aqui recebeu dos cana
lá fora para me matar, só para todos saberem, quem me matar, é
homem dos cana, ali fora!
O rapaz soltou Jorge, não queria a revolta dos demais;
— Por que diz isto?

18
— Acha que eles gostam de quem afirma que eles mataram
mais de 50 pessoas no presídio, depois de entrado e dominado o
local?
— Você é aquele Retalhador?— Um rapaz;
Jorge olhou para o rapaz e apenas sacudiu a cabeça afirma-
tivamente, o rapaz que tinha o pressionado a parede falou;
— Mas por que estão lhe dando ouvido?
— Por que eu e João Confusão negociamos com eles e ma-
taram o João assim que entraram!
— Mataram o João? – Um rapaz grande que estava sentado
ao fundo, negro, um metro e noventa, ombros de pedreiro, mão
de pedreiro, não, era de estivador mesmo;
— Sim, um tiro só a cabeça e jogaram no poço!
— Os desgraçados me pagam! – Falou o rapaz;
Jorge viu o rapaz o encostar na parede e falar;
— Desculpa, mas se precisamos de confusão, batemos nos
mais fracos!
— Sem problema, não me matando, a vontade!
O rapaz sorriu e começou uma baderna, o rapaz bateu para
valer em Jorge, quando vieram tirar ele dali, um empurrou um
dos policiais, o outro se apoderou da arma, bateram legal nos
policiais, Jorge estava ao chão, no canto quando os presos come-
çaram a sair, quebrando tudo, batendo em todos, jogando polici-
ais nas celas, as trancando, e só Jorge ficou lá, sangrando, puse-
ram fogo na sala do delegado a frente, e saíram a dar tiro com a
viatura da policia, que foi abandonada entre Piraquara e Curitiba,
lá veio os bombeiros, depois os chaveiros, e fora Jorge, mais 3
rapazes não fugiram, Jorge olhou os 3, um deles tentaria lhe ma-
tar, ele tinha esta certeza;
Jorge teve de ir ao hospital de novo, mais curativos, mais
24 horas lá, para quem nunca tivera uma cicatriz, um braço que-
brado, agora já tinha muitas cicatrizes e mais um braço quebra-
do;
Voltou a cela, seu advogado estava lá, não tinha mais segu-
rança ali, mas não tinha como o transferir de novo para a peni-
tenciaria, Jorge estava vendo que seu amigo podia ser bem inten-
cionado, mas não era um advogado de porta de cadeia;
19
Dois dias ficou sozinho a cela, já que o resto havia fugido,
no terceiro dia, estava com muita dor, tomou o medicamento,
mas viu os três rapazes serem transferidos para a cela dele,
mesmo tendo todas elas vazias;
Naquela noite se fez de quem dormia, estava dopado, não
sentiria nada mesmo, viu quando o rapaz veio para o seu lado, os
outros dois dormiam, reparou que o rapaz chegou até a grade,
tinha alguém ali, com um dos olhos viu que ele pegou algo bri-
lhoso, será que morreria, mas poderia ser outra coisa, Jorge ima-
ginou a arapuca, quando o rapaz com a faca na mão o chutou
para que acordasse, Jorge olhou para o rapaz com a faca e falou
alto;
— Quanto lhe pagaram rapaz?
— Vou lhe matar, antes que nos mate a todos!
— Matar a todos, como mataria a todos?
— Vi esta faca ai com você, vai negar?
A frase fez Jorge ter certeza que estavam por perto para
ouvirem, para gravarem, sentou-se com calma, o rapaz agitava a
faca, não poderia tocar na faca, mesmo que ele o furasse com ela,
pensou Jorge, depois pensou estar ficando maluco;
O rapaz gritava, absurdos, com aquela faca de lá para cá,
Jorge olhou um senhor atrás dele e falou;
— Melhor ficar longe, ele deve ter se drogado!
— Eu não sou maluco, você ia nos matar!
— Outra coisa senhor, melhor não reagir, pois eles estão a
fim de gravar a reação e ferrar com alguém!
— Mas ele pode lhe matar?
— Pode, daí é mais um delegado sem emprego amanha,
como a faca entrou em uma tarde na cela, depois de toda a revis-
ta e tudo mais?
— Deve ter sido seu advogado que lhe passou a faca!
— Ou o policial a 3 minutos, aquele que lhe alcançou pela
grade!
O rapaz ameaçou a cortar Jorge, mas ele apenas recuou, e
no fim viu o outro as costas, algo a sua mão brilhou, Jorge não
olhou, era uma cena toda montada;

20
— Certo, quer me matar, me mate, estou cheio de covardes,
burros e idiotas, me mate! – Jorge levantando-se;
— Eu vou lhe furar!
— É bom ter um bom advogado, pois o meu lhe enterra
naquele presídio, por me matar!
— Você ia nos cortar!
— E não fugiu por que, pode me falar, e vocês 3, por que
não fugiram, eu sei, mas é fácil levantar isto!
— Vou lhe matar!
Jorge olhou para o rapaz as costas e falou;
— 5 minutos ele gritando que vai me matar e o policial não
entrou, acha que vai dar para cortar e editar, são uns idiotas
mesmo!
— Esta falando o que?
— Dois principiantes em gravação e um novato com uma
faca, deve ser o que, grupo de teatro das freiras locais?
O rapaz se irritou e cortou o braço de Jorge, começou a
sangrar, mas ele não pegou na faca;
— Se vai me cortar para ocultar o crime dos policiais que
mataram aqueles dois, melhor fazer direito rapaz, ou não enten-
deu que eles querem alguém para por no lugar dos culpados?
— Você mata e despedaça, vi você se apresentar como o
Retalhador!
Jorge sorriu e falou;
— Meu nome é Jorge Rodrigues, um estudante de Jorna-
lismo, provavelmente desempregado quando acabar minhas fé-
rias, que vocês policiais tentam me incriminar a mais de 10 dias,
estranhei quando me puseram lá para morrer, deveria desconfi-
ar, gente da policia por trás da rebelião, mas como digo, estou
morto, o que querem, uma confissão?
O senhor atrás falou;
— E acha que convence alguém de sua inocência?
— Senhor, não me cabe provar a inocência, a lei diz que
sou inocente até provarem o contrario, ou acha que esta faca ai é
para que, eles não tem nada além de mim, e se me deixar sair, o
que vão fazer, dizer que não tem nem ideia de quem matou os
dois rapazes?
21
— Mas você não é inocente!
— Verdade, mas ninguém é, ou acha que policiais que ati-
ram a cabeça de um rapaz de 20 anos, que estava aguardando
inquérito, quer dizer, nem tinham provas ainda, e o mata, é o que,
além do mesmo marginal que esta a sua frente, mas ele, tem a lei,
quer dizer, não a lei, e sim o poder, a seu lado, a instituição, o
corporativismo, a covardia, pois eu apanhei na penitenciaria an-
tes de vir para cá, mas assim como lá, sei que vocês não são poli-
ciais, pois os verdadeiros policiais, não mostram a cara, põem
capuz, se escondem atrás da câmera, e se matasse os 3, eles fica-
riam esperando até o ultimo morrer para entrar e me prender
em flagrante, pois como disse, ou o policial esta dormindo, ou
esta querendo que os mate, mas hoje, — Jorge olha o braço san-
grando – acho que não estou bem nem para matar de rir!
Jorge sentou-se, depois deitou de novo e olhou para o ra-
paz com a faca;
— E se vai me matar me mate de uma vez, não precisa me
acordar para isto!
Jorge virou-se, não dormiu, mas ficou ali a esperar o que
aconteceria, obvio que ninguém apareceu, mas de manha não
tinha mais faca na cela, não tinha nada que Jorge pudesse ter
feito o corte, o advogado veio o ver e perguntou;
— Andou brigando?
— Serio agora, sabe o que esta fazendo Pedro, pois não
aguento mais, se quer me matar, esta conseguindo!
— Amigo, não fale assim!
— Pedro, chama alguém que entenda disto, não vou sobre-
viver em delegacias, tem 4 pessoas na cela, aparece uma faca, e
assim como aparece some, e nem direito a curativo eu tenho,
quer o que, que morra?
— Mas afirmaram que você se cortou sozinho!
— E que este corte de 3 centímetros de profundidade no
braço eu fiz sozinho com o que na cela, com os dentes?
— Mas não tenho para onde o transferir!
— Então esta esperando o que para me tirar daqui, se eles
não tem provas, se não tem onde me garantir a vida, que me dei-
xem sair!
22
— Mas se lhe lincharem lá fora!
— Eles torcem para que algo assim aconteça!
— Não fale assim!
— Olha eles, se duvidar assim que assinarem minha soltu-
ra, eles mesmos ligam para a imprensa para passar o horário e
por que porta vou sair!
— Vou falar com aquela moça dos direitos humanos!
— Faz isto, pois se ela não souber o que fazer, sabe para
quem ligar!
— Acha que resiste aqui?
— Tenho saída, um maluco que me esfaqueia, e dois cúm-
plices, e mais toda a leva de irresponsável porta a fora no que
sobrou de delegacia!
— Eles não querem você, você foi mandado para a peni-
tenciaria, 6 pavilhões desabaram, mandaram você para cá, não
sabe o estado que esta lá fora?
— Nem quero saber!
— Vou ligar para ela, mas vou esperar aqui mesmo para
conversarmos!
— Isto é bom, mas cuidado, estou matando todos em volta!
— Não brinca?
— Pedro, deram um tiro na cabeça de quem me deu prote-
ção na penitenciaria, tenho quase certeza que a policia esta en-
volvida, queriam um culpado, entrei de gaiato, ou acha normal
aceitarem um depoimento de alguém, numa delegacia, com do-
cumentos falsos!
— Isto realmente esta estranho!
Jorge voltou para a cela, os 3 não estavam mais lá, apenas
um senhor grande, que olhou o rapaz entrar e perguntou;
— Você que é para quebrar?
— Não sei, mas se fosse você esperava meu advogado sair
do prédio antes!
— E por que não saiu ainda?
— Por que ele acha que vou morrer aqui hoje, daí para ele
é apenas mais um caso que chegou ao fim, e mais um delegado
que vai cair!
— Não tem medo de morrer?
23
— Estou ficando repetitivo, já me mataram, só não sei
quem vai ser o idiota que vai fazer isto, para limpar eles!
— Sabe com quem falar?
Jorge olhou o senhor falou;
— Com quase certeza não é um preso, barba bem feita,
roupa limpa, colônia de barbear, sapatos caros, mas o resto pare-
ce que alguém lhe emprestou!
— Vim ver de perto o rapaz que não fugiu, o único, por que
não fugiu?
— Por que nem inquérito contra mim eles tem, se fugir te-
riam, apenas por isto!
— Acha que se livra?
— Nem ideia, ser inocente neste país não quer dizer estar
livre de ser acusado para que alguém mostre serviço!
— Se acha inocente?
— Sou culpado de ter prestado mais atenção nos olhos da
moça que na mala que ela carregava, mas o que se pode fazer, a
policia também prestou mais atenção nos olhos dela que na iden-
tidade falsa que ela apresentou!
— Acha que não temos provas contra você?
— Lógico que tem, tudo armado, mas tem!
— E se dissesse que tem seu DNA naquela mala?
— Seria como dizer que aquela mala tem DNA de marciano
senhor!
— E por que não teria, se a mala é sua!
— Verdade, minha mala, com tudo meu lá dentro!
— Estou falando serio!
— O que quer?
O senhor sorriu, Jorge não era burro, era alguém lhe dizen-
do que se fosse o caso apareceria em uma mala dele, ele era idio-
ta mesmo, pensou, se eles armam coisas complicadas, como era
simples arrombar sua casa, pegar uma mala, e apenas fazer os
testes sem nem se preocupar com mais nada;
— É inteligente, mas preciso saber quem fez a rebelião no
Presídio!
— A primeira ou a segunda?
— A segunda!
24
— Mortos, de que adianta acusar!
— Sabe quem fez a primeira?
— Sei, vocês e aqueles narcotraficantes para 12 rapazes
sumirem!
— Mas alguém fez a segunda, e todo o grupo saiu, preciso
saber quem?
— Para que?
— Não sabemos como eles fugiram, não temos vestígios de
saída, saíram a leste, pelo trecho que o primeiro prédio desabou
e abriu o muro de proteção, mas não encaixa eles saírem por ali,
sabe por que?
— Sei, estava lá! Esqueceu!
— A bela adormecida não dormiu desta vez?
— Só o suficiente!
— O que aconteceu com o João Confusão?
— Este me culpo pela morte, ele teria fugido se eu tivesse
saído!
— Então sabe por onde saíram!
— Ate o senhor sabe, mas não sabe quando e como!
— Sei que seu advogado nos complicou erguendo afirma-
ções que nos pareceram sem cabimento até as balísticas começa-
rem confirmar, nós matamos os reféns, não sei como fizeram,
mas pareceu coisa de profissional!
— E o que um estudante de terceiro anos de Jornalismo
sabe disto?
— Verdade, você é apenas um burguesinho metido no lu-
gar errado, li sua defesa, sabe que se não nos defendêssemos de
gente como você sairia livre!
— Sabe que acabou de me afirmar que não tem nada con-
tra mim?
O senhor olhou para o rapaz e perguntou;
— Quem é você, sei que é estudante de jornalismo, sua ca-
sa é cheia de recostes de coisas trágicas, chegaram a achar que
era um serial killer, mas nada de errado, apenas casos mal resol-
vidos, ou acusações sempre para o lado errado!
— Senhor, se não fossem os policiais, não teriam o pro-
blema, mas quando deram a ordem para matar ou deixar morrer,
25
para mim e para os 3 que morreram, foi onde erraram, se queri-
am que morrêssemos, não deixassem os bombeiros entrarem,
morreríamos, mas se deixaram, não socorrer foi o erro, vocês são
os causadores do segundo levante, e do terceiro, quando o rapaz
da tropa de elite atirou na cabeça do primeiro rapaz deitado
morto no pátio, decretou isto, e pior, ele acabara de matar um
policial, amordaçado e nu no pátio central!
— Esta a dizer que um dos policiais mortos foi o motivo de
tudo isto, mas por que?
— Por que tinham vivos nus ali tentando sair vivo disto,
mas se iriam matar todos, eles reagiram!
— Agora entendi, segundo levante pois os 3 estavam mor-
tos e não foram socorrido, e terceiro levante por que queriam
sair vivo, mas era arriscado!
— Arriscado era ficar nas 10 primeiras celas onde apenas
um policial conseguiu sair vivo por sorte, mas depois de levar um
tiro, ser despido, agredido e quase morto pelos próprios colegas!
— Pelo jeito viu tudo de camarote!
— Dizem que morri lá ao lado de João, alguns falaram que
viram o meu corpo no fosso!
— Ouvi isto também!
O senhor olhou serio e falou;
— E como saiu vivo?
— Quando o tiro foi dado, tendi para o poço, depois joga-
ram o corpo de João sobre mim, quase morri afogado, mas nadei
por baixo, sai na ponta oposta, e já estavam se matando, fiquei ali
até o ultimo prédio vir a baixo, me juntei aos que estavam saindo
nus das celas, que se jogaram ao chão com o tiroteio!
— E como os demais saíram?
— Isto é fácil, quando o quarto prédio veio ao chão, eles es-
tavam nos poços do lado oposto, quando a poeira subiu, eles saí-
ram rastejando, ninguém viu pois a poeira demorou para descer,
prédio velho faz muita poeira quando desaba!
— Então saíram pelo leste mesmo?
— Por que arriscariam outro lado, já que o resto estava
cercado, e os policiais daquele canto já tinham entrado todos!
O senhor sorriu e falou;
26
— Você esta difícil de matar ainda!
— Como disse, já estou morto!
Um dos policiais chegou a cela e falou;
— Delegado, temos um hábeas corpus para este rapaz tra-
zido por aquela moça dos direitos humanos!
— Esta é outro calo no meu pé!
Jorge nem deveria ter falado nada, provavelmente o senhor
gravou, mas confessar que sobreviveu, não era crime;
— Manda aguardar, quero ver se não temos mais nada que
o possa manter aqui!
Jorge sorriu;
O delegado não gostou do sorriso;
Jorge foi trazido para a parte superior, olhou as paredes
queimadas, o teto desabado, a bagunça, sorriu por dentro, ele
realmente estava a detonar tudo, a moça dos direitos humanos
viu o braço ainda sem socorro do rapaz, e olhou para o delegado;
— Pelo jeito suas celas não são seguras, geram cortes de
mais de um centímetro de profundidade!
— Vai nos processar por isto?
— Tem duvida Delegado!
As caras não eram boas, a moça era mais querida que Jor-
ge, então não existia nada amistoso no ar local;
— Vai dar queixa Jorge?
— Depende, saio vivo se der queixa? – A frase foi tão direta
que a moça se abalou, pois não tinha como garantir a vida dele;
— Sei que é bem intencionada moça, mas fomos lá negoci-
ar, o que conseguimos, que dessem um tiro a cabeça de João, co-
vardemente, pois nenhum destes ai, sem uma arma não mão,
falaria um A diante dele, por isto pergunto, covardes sempre me
põem mais medo que os valentes!
— Esta nos ofendendo, quer ficar preso?
Jorge olhou para o delegado e falou;
— Que saiba esta conversa nem deveria ser acompanhada
pelo senhor, o que esta fazendo aqui?
A moça sorriu, Jorge não recuava nem podendo ficar preso;
— Acha que esta falando com quem?

27
— Com alguém que se passava por preso, e me perguntou
se era eu que era para quebrar, ou vai negar isto?
O delegado se recolheu, e a moça falou;
— Mas pode dar parte!
— Estou mais interessado em provar minha inocência e de
muitos que estão naquele presídio, pois uma coisa eu entendi!
— O que?
— Que você e o delegado trabalham no mesmo sentido!
Pedro não entendeu e o delegado falou;
— Leva ele duma vez, se ele acabar com mais alguma dele-
gacia, ou presídio, teremos problemas!
A moça sorriu e falou;
— Mas esta bem para enfrentar isto?— Quantos tem lá fo-
ra?
— Uma multidão!
— Dos familiares?
— O pai de um!
— É só me por a frente dele ao acaso!
— Você é suicida mesmo!
Faziam 26 dias que havia sido preso quando veio a deter-
minação de soltura, não havia provas, mas teria de responder ao
inquérito, saiu da delegacia, mas suas férias passara ali. Mas a
frente da delegacia, uma multidão querendo o linchar, ele saiu
todo quebrado, cicatrizes, não parecia o mesmo de 26 dias antes,
um senhor gritou do fundo;
— Vamos linchar ele!
Jorge saiu a frente e perguntou;
— Quem é da família?
A maioria se olhou, não entendeu;
— Você matou meu filho!
Jorge olhou para os demais e falou;
— Os demais deveriam estar em casa, tem uma leva de
mais de 60 traficantes e assassinos que fugiu do presídio local, e
deixam seus familiares sozinhos, ainda mais de 50 marginas des-
ta delegacia!
Jorge olhou o senhor e falou bem calmo;

28
— Senhor, não matei seu filho, quem o matou foi uma mo-
ça!
— Não pode sair assim impune!
— Quer justiça ou sangue, pois se deixar ela livre me pren-
dendo, esta condenando outro a morte!
— Você matou meu menino!
— Senhor, sabe ainda quantos anos seu filho tinha, mas
quem o matou, matou em uma cama, transando com ele, ele não
era uma criança, se quer mostrar como estes repórteres ai, fotos
dele criança, por que não fala, ele tinha 22 anos, e não 12, ele não
morava mais em casa, briguei com ele, quer culpar alguém, se
culpe, mas me deixa em paz!
Jorge olhou os repórteres e falou;
— E cada jornal que me acusou, me taxou sem uma prova
sequer, e ainda armam isto, eu vou processar, podem preparar os
seus advogados, pois com certeza perdi o emprego por isto, en-
tão vocês vão me sustentar!
Jorge entrou no carro sem nem se preocupar com a violên-
cia dos que batiam nele, e Pedro perguntou;
— E agora?
— Vamos sair daqui antes que mais alguma coisa estoure!

29
Quatro!
Uma moça almoça calmamente em sua casa, as vezes ten-
tamos não lembra do passado, mas esta sorria ao lembrar, não
parecia estar preocupada com nada quando uma senhora entra
pela porta;
— Sandra, tem de achar um trabalho!
— Já quer mais dinheiro mãe?
— Sim, você não colabora com nada!
— O que fez com o dinheiro que lhe dei?
— Aquela ninharia não deu nem para 3 semanas de cabe-
leireiros!
A moça sorriu, olhou o cabelo da senhora e falou;
— E foi um péssimo investimento, troca de cabeleireiro!
— Mas vai arranjar mais dinheiro?
— Sim, mas tem de ter calma mãe, não é todo dia que se
acha um otário por ai!
— Não é mais fácil trabalhar?
— Verdade, mas não daria para uma ida sua ao cabeleirei-
ro, por mês, comeríamos o que?
A senhora sorriu e perguntou;
— Mas tem alguém em mente?
— 3, acha que neste ramo podemos nos dar ao luxo de dei-
xar falhar algo?
A moça pega um cigarro e acende calmamente, olhando as
noticias na Gazeta do Povo, jornal local;
“Rapaz acusado de matar dois rapazes e os esquartejar, sai
livre após provocar rebelião em presídio e em Delegacia”
— Pensei que fosse apenas um rostinho bonito!
— Do que esta falando?
— Do rapaz que esquartejou aqueles dois!
— Nunca entendi isto, por que pediu para o denunciar, vo-
cê sabe que pode me complicar?
— Eles nem olharam para você, mas ele é um dos meus vo-
luntários!
— Entendi, mas ele tem dinheiro?

30
— Pensei no dinheiro, mas pelo jeito ele é bom de briga,
me disseram que saiu quebrado, mas com a polícia inteira que-
rendo o matar ele saiu inteiro!
— E por que iam querer o matar?
Sandra se calou e ficou a olhar a foto;
Amanheceu e Jorge foi a se trabalho, imaginava o que acon-
teceria, chegou a sua mesa, um rapaz ligou e disse para ir ao de-
partamento pessoal, entro e olhou para o rapaz;
— Jorge, sabe que não mantemos em nosso quadro pesso-
as com problemas com a polícia!
— Imaginei, mas não foi você que me contratou, foi Camilo!
— Mas ele mandou lhe dar a conta, vai receber todos os
seus direitos!
— Agradece a covardia de Camilo pessoalmente, pois se
não é homem para me olhar neste estado, não é capaz de ver que
fui vitima, não existe prova, espero que ninguém mais aqui preci-
se, vi a reportagem de vocês me escachando, pensando como os
leitores encarariam a imagem da revista!
— Tem de entender Jorge!
— Não tenho, sabia que seria assim, mas entender não en-
tendo, mas manda o recado, me liga quando tiver os cálculos,
pois vão querer acertar no sindicato?
— Sim!
— Então vou procurar um emprego em outro lugar!
Jorge saiu, os demais olhavam-no como culpado, nem Már-
cia olhou para ele, mas estava com raiva, queria matar alguém
naquele dia;
Jorge sai com dificuldade pela porta do prédio da revista,
estacionada na vaga de deficiente tinha uma moça, cabelos ne-
gros, de óculos escuros, ela olhou para Jorge tirando os óculos,
ele olha aqueles olhos azuis e fala;
— Veio se desculpar?
— Podemos conversar?
— Depende, trouxe a machadinha?
A moça sorriu e abriu a porta para ele, se ajeitou no banco
e ela entrou no carro e antes de ligar perguntou;
— Para onde?
31
— O inferno, mas direto!
— Não brinque?
— Não sei, quer ir onde!
A moça ligou o carro e Jorge viu que estavam sendo segui-
dos e perguntou;
— É seu amigo este que nos segue?
— Sim!
Jorge respirou profundo e perguntou;
— O que quer moça?
— Você me deixou intrigada, não era para estar solto!
— E nem vivo, pelo jeito?
— Sim, nem vivo!
A moça estacionou o carro e Jorge esperou o rapaz abrir a
porta e antes de sair do carro olhou o rapaz, e perguntou;
— Você que trouxe o machadinho?
— Sandra você só se envolve com malucos?
— Vamos subir, ele não é maluco!
Jorge sorriu e viu um carro ao fundo, vidros escuros, im-
portado, não era carro de policia nacional, a moça acompanhou o
olhar e perguntou;
— Trouxe amigos?
Jorge fez sinal para virem, estava encenando, mas dois ra-
pazes imensos saíram do carro e os acompanharam, a moça ficou
insegura;
— Calma Sandra, só gente querendo o mesmo que você!
— Eu não quero lhe matar, não entendeu!
— Nem eles, não vieram atirando!
Ela sorriu e ele fez sinal para subirem, entraram em um
apartamento pequeno, e um dos rapazes falou;
— Deve ser Jorge, o Retalhador?
— Estão me chamando assim!
— Nosso chefe que lhe falar!
— Sem problemas, só quero acertar uma pendência aqui,
se puderem esperar um pouco!
— Não gostamos de espertos querendo fugir!
— Pareço estar fugindo, rapaz? – Jorge fala serio, ele per-
dera medo da morte, parecia pronto para morrer;
32
Os rapazes saíram e Jorge olhou para o rapaz e perguntou;
— Poderia me dar um momento a sós com Sandra?
O rapaz olhou estranhando, mas Sandra disse que podia;
Assim que estavam sozinhos, Jorge olhou a moça e pergun-
tou;
— Agora fala o que quer?
— Dinheiro para não lhe complicar, rapaz!
— Acha que esta falando com quem, Sandra, se é que o
nome é este?
— Não sei, mas os rapazes não o conheciam, parece com o
pessoal de Moreira, o traficante!
— Não lhe interessa que serviço fiz para Moreira, — Jorge
estava jogando – mas o que quer moça?
— Eu preciso de dinheiro!
— E o que faz para conseguir este dinheiro?
— Tudo, ou quase tudo!
Jorge a mediu e falou;
— Isto vemos com o tempo, mas se puder não ter mortes
gratuitas é melhor!
— Gosto de matar!
— Mas deve ficar com trocados!
— Nisto é real, mas o que pretende?
— Eu, provar minha inocência!
— Acha que vai conseguir me culpar?
— Não disse que você era culpada, ou disse?
A moça sorriu e Jorge a mediu, bonita, corpo bem definido,
estendeu onde os homens se perdiam ali, a moça achou que ele
estava interessado;
— Se formos fazer negocio, não misturo as coisas! – San-
dra;
— Eu misturo tudo, mas tenho de ver se vale a pena! – Jor-
ge;
A moça não gostou da frase e perguntou;
— Por que esta se deixando conduzir?
— Se me matar aqui, leva o que? O da carteira! Não dá para
10 chope, acho que não estamos de falando de trocados, se esta-
mos, me esquece moça!
33
Ela o mediu e falou;
— Mas o que vai fazer agora?
— Vamos fazer um trato, certo?
— Depende do trato!
— Você vai comigo falar com Moreira, ele quer um serviço
não padrão, não o meu padrão, mais o seu padrão, ele não me
conhece pessoalmente, então se pouco falarmos, pouco saberá
sobre nós!
— Mas o que ele vai pedir?
— Ele quer uma compensação!
— Não entendi?
— Um dos rapazes que você matou, era um protegido dele!
— E vai assumir mesmo assim?
— Moça, que opção você me deixou, perdi o emprego, a fa-
chada, o que posso fazer agora?
A moça olhou para o rapaz, parecia temerosa de ir;
— Não gosto disto!
— Então não reclama depois!
— Não entendi!
— Ele vai pedir algo, e não sei seus métodos, então não sei
se é possível fazer ou não, parecendo ser a mesma pessoa, mas se
não for, terei de aceitar como ele impor, não gosto disto!
— Acha que vou acreditar nisto?
— Esquece, é tão iniciante nisto quanto eu!
Jorge dá as costas e sai pela porta e é conduzido a um car-
ro, os rapazes dirigiram ao Batel, adentraram uma grande casa,
com muros altos, das caras, pensou o rapaz;
O rapaz tentava parecer normal mas não sabia onde estava
pisando, chega a frente de um senhor, na descrição não encaixa-
va com Moreira, jurava que era o pessoal de Moreira que lhe da-
ria trabalho;
— Bom ver este olhar de indagação! – O senhor a sua fren-
te, terno dos caros, sapato lustroso, a única coisa que não combi-
nava era o baseado a mão dele, todo o resto era de pessoa apa-
rentemente rica;
— Em que posso ajudar? – Jorge;

34
— Eu sei que vai estranhar, mas lhe devo um dinheiro ra-
paz!
— Me deve?
— Sim, a 2 anos tento matar o Machadinho, e você cortou o
Machadinho com um, é engraçado!
— Pensei que teria um serviço, por isto vim!
O senhor olhou para os seguranças e fez sinal para saírem,
ficou a observar até todos saírem, Jorge viu que as câmeras esta-
vam ligadas, se fosse uma arapuca, sempre o senhor teria uma
versão gravada;
— Rapaz, primeiro pago minhas dividas, depois falamos de
negócios! – O senhor levantou-se e foi a uma mesa mais ao fundo,
Jorge continuava de pé, pegou um pacote e entregou ao rapaz, ele
não abriu, apenas pôs no bolso interno do paletó que usava. –
Sabe que muitos estão admirados com seu trabalho!
— Não sei de nada senhor! – Fala Jorge olhando para a câ-
mera.
— Eu estou admirado, trabalho limpo e sem provas!
O rapaz ficou a olhar para o senhor, nem sabia quem era,
pensou em como entrar em um mundo que não conhecia, ficou a
ouvir;
— Teria disponibilidade para um trabalho?
— Que trabalho!
O senhor pegou um outro envelope e passou para ele;
— Tem de ver se tem coragem!
Pedro olhou o escrito, um nome, mas sem nada além disto;
— Quer algo mais especifico, ou serve o tradicional?
— Gosto do seu tradicional, fica visível que a pessoa mor-
reu, não como alguns que me garantem algumas mortes, mas não
sei se estes não se mandaram no mundo!
— Algo mais?
— Ai tem um adiantamento, se fizer o serviço, é 10% do
preço!
— Uma ultima pergunta, alguma pressa ou pode ser como
outros serviços, com calma!
— Algum problema?

35
— Fora a policia estar me olhando e vigiando, nada de gra-
ve, mas gosto de fazer bem feito, não gosto de afobação!
— Faz do seu jeito, mas sabe que não tenho nada a ver com
você!
— Nem sei quem é o senhor! – Fala sorrindo Jorge;
— Melhor assim, gosto de discrição!
O senhor tocou um pequeno sino a mesa e olhou os segu-
ranças;
— Conduzam o rapaz a porta!
Jorge saiu com calma, o deixaram a frente da casa da moça,
bateu na porta da mesma, ela atendeu e falou;
— Mudou de ideia?
— Não, mas podemos conversar?
— Tenho um cliente!
Jorge olhou por cima do ombro, viu um senhor idoso e fa-
lou;
— Irmã, vê se não mata ninguém do coração!
Ela sorriu, ele era rápido, e perguntou;
— Mas o que quer?
— Termina ai, mas tenho algo a lhe pagar!
A moça não entendeu, mas como estavam com testemunha,
se despediram e ela saiu pela porta;

36
Cinco!
Na delegacia de Homicídios, o delegado olha as fotos, e de-
pois para o investigador e fala;
— Sabe que Moreira quer saber se pode ter sido o rapaz!
— O rapaz esta morto de qualquer forma, por que se preo-
cupa!
— Por que tudo indica que não foi!
Os dois olham um senhor alto, entrar pela porta e falar;
— Delegado Siqueira, o que sabe que não me falou! – Mo-
reira;
— Que tudo indica uma mulher amigo!
O amigo acalmou o investigador;
— Como assim?
— A perícia analisou da força feita a restos de pele, marcas
de unha, uma unha postiça e alguns cabelos que o exame indica
mulher!
— Sabe a cor do cabelo?
— Não ainda, mas a parte que temos esta descolorada e
pintado, cabelos grossos, fortes e bem nutridos, mas nada mais
que isto!
— Mas pode ser de um caso, de uma das meninas da noite?
— Pode, mas estamos tentando verificar isto!
— Sabe que este ser, sendo ou não quem matou o Macha-
dinho, fez um trabalho de mestre no presídio!
— Nem temos como afirmar isto, e sabe que nem vamos
Moreira!
— Sei que tem de apontar culpados, e não inocentes, mas
que nunca tantos tinham saído de uma vez, e estava falando com
alguns aliados que fazem de conta estar do outro lado, tudo indi-
ca que a ideia dele nos garantiu, a fuga de 38 dos nossos, a morte
de 42 da concorrência e mais a morte daquele João, que me atra-
palhava a entrada de celulares no presídio!
— Olhando por ai, mas soube que Jorginho esta querendo
falar com ele!
— Obvio, se ele tivesse mandado um deles fazer o serviço,
tentaria nos induzir que foi o rapaz!
37
— Então acha que não foi ele?
— Acho que de alguma forma, alguém puxou para dentro
um rapaz que não tinha nada a ver, pelo menos não me parece
ter, mas como dizem que ele enfrentou João de frente no presí-
dio, inocente ele não era, mas tentaram o incriminar, sabe aquele
que tem planos próprios e passam desapercebidos um tempão!
— Sei, e se der como cabelo de uma das meninas?
— É o mais provável, ou pode dar até de uma inocente, não
esquece que ele sempre estava a caçar na noite!
— Verdade, nunca entendi os métodos daquele seu amigo!
— Não éramos amigos, mas sabe que nos protegemos!
A conversa evoluiu e Moreira saiu dali, na porta da delega-
cia 3 dos seus rapazes o esperavam, ele assumiu o volante e fo-
ram ao centro;
Jorge estava a sair do banho quando vê um senhor sentado
a sala, este cabia na descrição de Moreira;
— Isto é invasão de privacidade!
— Se veste rapaz, precisamos conversar!
Jorge tentou não demonstrar medo, mas sabia que teria
uma cobrança que não gostava, ou não tinha como escapar;
— Rapaz, sabe quem sou?
— Acho ser Moreira, pela descrição na penitenciaria!
— Sabe o que vim fazer aqui?
— Imagino, mas não sei!
— Resposta esperta, mas o que imagina!
— Que matei alguém que protegia, e veio me cobrar por is-
to!
— E vai assumir a morte?
— Importa se fui eu?
Moreira olha para o rapaz, as cicatrizes ainda bem visíveis,
o braço ainda engessado, e falou;
— Vou relevar desta vez rapaz, pois soltou dos meus, você
em 15 dias naquela penitenciaria, no lugar de morrer, libertou
alguns dos meus, que a tempos queria tirar de lá, então vou rele-
var!
— Veio apenas dizer isto? – Jorge;

38
— Não, acho que foi usado, mas sei que andou se encon-
trado com Jorginho, não sei o que ele queria?
— Pagar pelo serviço, o que mais! – Jorge;
— E pagou bem?
— Ele é pão duro, sabe bem disto Moreira!
— Sei que ele prefere gastar com garotas a noite a pagar
direito, mas as vezes até nelas ele dá o calote!
— Soube, tenho uma amiga que ele deu o calote!
— Mas esta fazendo serviços como aquele?
— Tem uma proposta, posso estudar!
— Tenho, mas não posso falar aqui, não conheço o local,
pode estar grampeado!
— Pode mesmo, pois me pegaram desta vez!
— Soube de anti mão que eles não tem nada rapaz!
— Isto é uma informação que posso até pagar por ela! –
Jorge;
— Alguém que não tem medo, estranho isto diante de mim!
— Quando cai pensei que estava morto, sei a regra, estou
considerando um adendo de dias sem previsão de quando acaba!
— Um maluco, pois não sei viver assim!
Jorge não respondeu, o senhor deixou um envelope sobre a
mesa e falou;
— Esta é minha proposta!
Moreira saiu do apartamento deixando a porta aberta, o
rapaz ficou ali a olhar o papel, e nem reparou dois rapazes a por-
ta;
— Senhor Jorge?
— Sim, quem são vocês!
— Investigador Douglas, e meu assistente!
— O que querem?
— Saber se esta tudo bem?
Jorge olhou para os dois e falou;
— Não, mas agora entendi por que estou ainda aqui!
O investigador olhou Jorge e perguntou;
— O que quis dizer?
— Nada, no que posso ajudar?
— Me confirma quem estava aqui!
39
— Não, pois vocês viram e não vou relatar nada, já é difícil
ficar vivo sem por a policia nisto!
— Mas sabe que acabara morrendo assim?
— Investigador, eu não sou nada nesta cidade, mas quando
soube que um dos corpos era do famoso Machadinho, sabia que
estava morto!
— Mas o que quer dizer com isto?
— Nada, mas se me derem licença, ainda espero minha
namorada!
Os dois se olharam e saíram, os investigadores esperavam
achar um corpo quando viram Moreira e os rapazes entrarem,
não se meteriam com o senhor, vigiaram o prédio, mas num pré-
dio de 20 andares com 6 apartamentos por andar, é difícil saber
quem iria onde;

Jorge estava ainda sentado a sala quando viu Sandra a por-


ta;
— O que queria falar?
Jorge pegou 10% do que Jorginho o havia pago e passou
para ela, a moça contou, e falou;
— 20 mil dólares, por que disto?
— Você que fez o trabalho, então o dinheiro é seu!
— Esta falando que Moreira pagou para apagar Machadi-
nho?
— Não, Jorginho pagou, não Moreira!
— E me passa tudo assim?
— Lógico que não, fiquei com metade! – Jorge;
— Certo, uma parceria, mas se for assim estou dentro!
— Certo, mas tem algo bem mais perigoso que isto!
— Tem um serviço, é o que entendi?
— Três negócios, mas não confio em você ainda!
A moça olhou para ele e falou;
— Mas começo a gostar de fazer negocio com você! – Ela
abaixou-se a frente dele, guardando o dinheiro por baixo da blu-
sa;
— Senta ai, temos de falar serio!
— E quanto posso ganhar desta vez!
40
— Por serviço, 10 vezes o que lhe paguei!
— Esta falando serio?
— Sim, mas o primeiro cliente é alguém que você não co-
nhece, mas que estou disposto a dar um troco!
— Quem?
— Meu ex patrão!
— Não entendi?
— A empresa é da esposa dele moça, vamos por ele em sua
cama, esta parte é fácil, e filmar tudo, acho que dá para tirar uns
400 mil dele!
— Mas por que ele pagaria?
— Espero que não pague, mas se pagar estaremos come-
çando neste ramo!
— E o outro serviço!
— Este vou precisar de seu machadinho!
— Não gosto disto, você fica falando isto abertamente!
— Não vou falar mais, mas sabe que o segundo precisamos
de seu material de serviço, não o que vai usar no primeiro, e vai
ter de segurar para não cobrar do primeiro!
— Mas vai me pagar por isto?
— Se a gravação não parecer com uma profissional na ca-
ma, se parecer esquece!
— Mas que graça tem então?
— Uma graça de 200 contos!
A moça sorriu e perguntou;
— E vai me apresentar ele quando?
— Não vou, mas vamos a partir de sábado entrar no jogo!
— E o segundo trabalho?
— Quando for a hora de cortar lhe chamo!
— Não teve graça!
Jorge a puxa aos lábios, ela abasta e fala;
— Não beijo!
Jorge a encostou no sofá que ela estava sentada, a beijou de
novo, ele estava um caco, mas Sandra tentou se afastar, o rapaz
olhou para ela e deixou, ela estranhou;
— Agora vai moça, não quero que nos vejam juntos!
— Mas quando nos falamos?
41
— Passo lá no sábado! As 20hs!
A moça se levantou e saiu pela porta, ele a fechou e ficou a
pensar no que estava fazendo, não sabia, mas iria em frente, sem
fazer nada, recebeu um dinheiro bom, mais dois serviços pré
contratados;

42
Seis!
Jorge pela manha da sexta sai de seu apartamento, passara
3 dias descansando, primeira parada sindicato dos Jornalistas,
viu a cara dos demais quando ele entrou;
— Sabe que estão sendo bons com você rapaz, muitos da-
riam justa causa!
— Muitos não sabem como é grato ficar de boca fechada!
O rapaz do sindicato olhou atravessado;
— Se não servem nem para defender os Jornalistas, para
que cobram aquele valor todo ano?
— Eles devem estar chegando, soube que mandaram um
representante!
Jorge se calou e viu Márcia entrar pela porta, foi formal,
não olhou aos olhos de Jorge, passou ao rapaz os cálculos e o
cheque de acerto, o rapaz não gostou disto, gostava daquela mo-
ça, talvez a única coisa que mais lhe aproximou da palavra amor;
— Esta tudo certo? – Perguntou a moça;
Jorge a olhou, ela desviou o olhar;
— Sim, esta certo!
Se despediram e a moça saiu rápido, ele não correria, nem
estava ainda bom para caminhar, imagine para correr;
Jorge vai ao banco, deposita o cheque e parte do dinheiro
que recebera, ele pretendia legalizar o dinheiro, saiu dali, e foi
dar uma caminhada no calçadão da XV de Novembro, tomou um
cafezinho e ficou a olhar ao longe Camilo a jogar conversa fora,
viu quando Márcia chegou a ele e lhe deu um beijo, odiava cada
vez mais aquele senhor, mas terminou o café e foi ao hospital,
tinha de verificar o gesso, o rapaz viu que os curativos estavam
bem feitos e falou;
— O braço esta bom, mas serão mais de 60 dias com ele
ainda!
— 60 dias, como posso trabalhar assim!
O senhor deu de ombro e Jorge saiu a caminhar, passou em
uma loja de informática e comprou uma caneta gravador, uma
câmera digital e um sistema de gravação, com varias pequenas
câmeras, pagou em dinheiro, viu o sorriso do rapaz da loja, com
43
uma sacola foi para casa, chegou lá e olhou o local, pegou com
toda a calma o computador que estava numa estante e o foi des-
montando, pois sobre sua cama, depois limpou o outro quarto,
que tinha recortes de crimes em todas as paredes, ele precisaria
daquele quarto, olhou os recortes, com calma montou um painel
de noticias, e fixou por trás de algumas noticias, onde havia pro-
paganda de câmeras, as próprias, em 10 sentidos na direção que
poria uma cama no dia seguinte, ligou os cabos e foi até o seu
quarto, como tinha uma mão para trabalhar, estava difícil fazer
aquilo, esvaziou a estante e a arrastou até seu quarto, começou a
por o computador no local, deixou o sistema de segurança do
apartamento visível mas para a porta de entrada, e pôs seu com-
putador pessoal sobre a mesa da sala, instalou mais câmeras a
sala, e pôs parte do sistema de segurança, o que tirava fotos si-
lenciosas e sequenciais, quando um movimento lhes passava a
frente, desligou o alarme, não queria o barulho, mas queria os
efeitos do sistema, programou o sistema para mandar as imagens
para 3 endereços, um era o da esposa de Camilo, o segundo para
Márcia, e o terceiro para o dele;
Sábado pela manha foi a uma destas lojas de departamento
e comprou sofás e quadros, e um armário de livros, com muitos
detalhes em madeira, depois foi a um material de construção e
comprou tinta, portas novas para o apartamento, e rolamentos, e
por fim passou em uma loja de colchões e camas e comprou uma
imensa cama, marcou a entrega para segunda, levou as tintas e
começou a pintar a sala, e o quarto que sempre fora sua sala de
bagunça, pintou o apartamento e foi a um banho, estava tudo
desarrumado, testou as câmeras, o sistema ainda não estava fun-
cionando, retirou as portas internas, quem entrava no aparta-
mento, tinha um vão que dava a cozinha, uma a esquerda que
dava ao primeiro quarto, um a frente que dava ao segundo quar-
to, e uma pequena porta a direita, bem no canto oposto a entra-
da, que dava ao banheiro, foi a vizinha que sabia estava sempre
na pindaíba e perguntou se ela estava precisando de sofás novos,
pois comprara mais novos ainda, a moça aceitou e com a ajuda de
um rapaz transferiram a sala para duas portas a frente;

44
Jorge havia trabalhado o dia inteiro, então estava no ponto
que precisava estar, cansado, exausto, e foi ao quarto e vestiu um
traje de noite, iria ao Jóquei Clube, tinha um jantar que era clássi-
co, poderia não ser mais funcionário, poderia não conseguir nada
lá, mas tinha o convite e uma vontade de fazer burrada naquele
dia;
Chamou o táxi, não conseguia dirigir mesmo, passou na ca-
sa da moça, ele a mediu, entrou no quarto, separou um vestido de
noite ao armário, um sapato e olhou para ela;
— Este esta bom!
— Mas vamos onde?
— Se veste, mas antes de irmos temos de conversar!
— Certo! – A moça tirou a blusa provocante e vulgar e pôs
um vestido de noite, ele ajudou ela a fechar o mesmo, ela recla-
mou de por um salto, ela estava bem, mas assim que terminaram
ele falou;
— Agora vamos a um salão!
— Mas o que pretende?
— Uma Escova, as unhas, tanto pés quanto mãos, e uma
maquiagem leve de noite!
— Mas eu não vou pagar!
— Não estou discutindo isto moça!
— Mas vamos com meu carro?
— Lógico que vamos, mas isto amanha se for preciso subs-
tituímos!
— Esta investindo em mim, pelo que entendi?
— Sim!
Os dois foram ao estacionamento, entraram no carro do
ano mais popular da moça, e foram a um shopping próximo, no
Curitiba e adentraram a um salão, a moça viu ele acertar a conta,
viu ele comprar um estojo de batom e de perfume portátil em
uma loja e uma pequena bolsa, mas das caras de marca, em outra,
via que o rapaz levava a serio aquilo, e pelo que ele gastou ela
pensou que ele tinha planos maiores para ela;
Foram ao Jóquei, era noite de gala, a moça viu que era dos
lugares caros, ele tinha uma mesa reservada, mas se acharam
que ele não ia, se enganaram, alguns o apontaram, ele ignorou, e
45
outros olharam a moça ao seu lado, sentaram-se a mesa e ele
falou;
— Sandra, este é seu nome mesmo?
— Não, mas por que?
— Vou lhe chamar de Sacha Guerra, tudo bem?
— Algum motivo especial?
— Sim, ninguém sabe o rosto de Sacha Guerra aqui, e a
moça seria muito rica, põem rica nisto, mas é conhecida por não
aparentar e não esbanjar, mas evita falar isto, eu vou lhe chamar
assim, se alguém perguntar o seu nome, é Sandra!
— Certo, mas o que falo?
— O mínimo possível, verá que assim que sair da mesa, al-
guns se aproximaram, eles estão curiosos!
— Mas se falar algo errado?
— Ria, faz de conta que esta se divertindo, e fala o mínimo
possível!
— Mas vai onde?
— Esta vendo um senhor, com um Smoking marrom ao
bar, esta com uma senhora de cabelos amarelados, ela gosta des-
ta cor, mas aquele é nosso alvo!
— Certo! Mas o que faço?
— Ainda nada, mas lembre-se, esta comigo, não é vulgar e
não fale muito!
Ela sorriu e perguntou;
— Acha que esta falando com quem rapaz?
Jorge sorriu e foi ao banheiro, sabia que estavam olhando a
moça, e quando saiu do banheiro primeiro observou os olhares,
deu uma volta, as pessoas olhavam-no com aquele olhar de o que
ele estava fazendo ali? Ele não se preocupava com isto, olhou ao
fundo Moreira, nunca nem se ligou a observar este mundo, para-
lelos, próximos, mas gostava mais do submundo sujo, não do de
alta classe, achava muito calmo, gostava de reportagens de porta
de cadeia, não de mansões de luxo;
Moreira olha Jorge ao longe, difícil não reparar, o rapaz es-
tava mesmo em seu smoking quebrado, engraçado, pensou Mo-
reira, que levanta-se e vai até o rapaz, muitos olhos acompanha-
ram aquele movimento;
46
— O que faz aqui rapaz?
— Boa noite senhor!
— Me observando?
— Não é isto, mas tinha que trazer alguém, Sacha, e parei
um pouco lhe observando?
— Algum problema?
— Sim, mas conversamos em um local onde os demais não
fiquem intrigados! – Jorge;
— Problemas?
— Jorginho quer que lhe mate, e não me meto em coisas
assim, mas podemos negociar isto!
— Vai me chantagear?
— Não entendeu Moreira, eu não vou lhe matar ou chanta-
gear, mas podemos extorquir aquele senhor!
Moreira sorriu e perguntou;
— Quanto ele ofereceu por minha cabeça?
— Metade do que me ofereceu pela do assessor dele!
— Como não é burro, esta me contando, mas por quê?
— Em outro lugar falamos disto, senhor! – Jorge olhando
em volta;
Jorge olhava a mesa onde Sandra estava ao longe, e Morei-
ra pergunta;
— Não conheço a garota?
— Não sei, você conhece muito mais gente que eu senhor!
— Linda, quem é aquele que esta a cantar a moça?
— Alguém que não respeita a esposa que esta no banheiro!
— Camilo, estranho ver ele ainda neste ambiente, mas
quem é a moça!
— Sandra, apenas Sandra!
Moreira olhou desconfiado, e perguntou;
— Tinha falado outro nome!
— Tinha? – Jorge;
Moreira viu o rapaz se despedir e atravessar o local, e
olhou para Sandra e perguntou;
— Algum problema senhorita Guerra?
— Jorge, conhece este senhor?

47
Jorge encara Camilo, os seguranças estavam de olho, e fa-
lou;
— Camilo Black, sim conheço!
— Tudo bem Jorge?
Jorge não respondeu e sentou-se a mesa;
— Seu antigo chefe, agora entendo esta cara de poucos
amigos, mas relaxa Jorge!
A moça olha para Camilo e pergunta;
— O que falava mesmo?
— Que é linda, que sempre temos vaga para novas profis-
sionais, ele lhe chamou de Guerra, algum parentesco com Sacha
Guerra?
A moça sorriu e não respondeu, olhou para Jorge e pergun-
tou;
— Não vai beber muito?
— Sabe que não bebo!
— Sei?
Jorge sorriu e falou olhando para ela;
— Estou a disposição, você que me trouxe, sabe disto!
— Sei que não queria vir, agora entendo por que, todos lhe
olham, quem é senhor que conversava?
— Um empresário local, se não me tivesse oferecido em-
prego, ele me ofereceria um!
Camilo olhava a moça, e falou;
— Mas o que faz que ofereceu um emprego a este Margi-
nal!
— Camilo, o que seria de seu emprego se não fosse sua es-
posa? – Sandra;
— Sabe quem sou?
— Não sou boa em fisionomias, dizem ser uma disfunção,
mas gravo muito as vozes e os nomes, mas o que faço? Se fosse
mesmo metade do que me falaram saberia!
Camilo viu que ela não estava muito para conversa, e Jorge
sorriu, mas não era sua forma de conquista, mas não tinha aque-
les olhos azuis, os dois viram o rapaz se levantar e ir na direção
de Moreira, estranho quando as pessoas se fazem de desconheci-
dos e conversam como amigos;
48
— Pensei que não voltaria?
— Algum problema? – Jorge;
— Ele já estava me oferecendo um emprego, uma vida de
mordomias, nem precisava de tanta encenação!
— Sandra, o que você quer, ganhar pouco ou muito!
— Certo, você estava conversando com Moreira, o que ou-
ve?
— Ele fez uma oferta pela cabeça de Jorginho!
— Quanto?
— Daria 500 para cada!
— Um milhão? – Fala alto a moça;
Jorge sorriu e falou;
— Sei que para você é trocado, mas vamos estudar o caso!
— Este era o segundo serviço?
— Não, mas com calma chegamos lá!
Os dois saíram dali e Jorge olhou para ela na saída;
— Rebola menos, Sandra!
Todos viram a encenação, mas quando os dois saíram, os
seguranças relaxaram, Moreira estava a conversar com Camilo e
Márcia chegou ao lado do patrão e perguntou;
— Quem é a moça que parou quase a festa?
— Estava falando com Moreira, alguém que não queria
chamar a atenção, quando viram estar chamando muito foram
embora!
— Por que?
Moreira olhou para Camilo;
— Se aquela moça for Sacha Guerra, este seu ex funcioná-
rio, ou entrou de gaiato na morte de Machadinho, ou temos uma
mandante!
— Estão falando de que?
— Machadinho, um dos rapazes mortos, era das poucas
pessoas que declaradamente sabiam a feição de Sacha Guerra, as
vezes pensei que era um personagem fictício que meu amigo
havia criado para ficar longe das complicações, mas 90% da Glo-
bal, da Central de Informação e da Rádio Independente, são dela,
uma moça jovem, olhos Azuis, que muda de cabelo como se muda

49
de roupa, que omite-se o tempo inteiro, não esbanja e quando
aparece, diziam parar o lugar! – Moreira;
Márcia ouviu e se calou, Camilo se interessou, pois era mui-
to dinheiro, mais do que sua esposa, muito mais, aquele sorriso
de Camilo deixou claro que ele estava interessado;
Jorge foi com a moça a um hotel ao centro e pediu uma suí-
te, a moça se registrou com nome e rg que não eram dela, e subi-
ram ao quarto e ela olhou o rapaz;
— Acha que vai me ter só por que o lugar é bonito!
— Moça, senta ai, temos de conversar serio!
— Você gosta de falar assim?
Jorge sorri e pergunta;
— Você que matou Machadinho, sabe o que ele fazia?
— Um cafetão, pelo que sei!
— Esta era a parte diversão da vida dele!
— E o que não sei?
— Que o homem que matou, era quem controlava a quarta
maior empresa de comunicação do país, dizem que parte do di-
nheiro era de Moreira, e por isto estou lhe colocando nisto, não
por outro motivo!
— Não entendi?
— Você vai virar para eles, mas nunca falar isto, Sacha
Guerra!
— Por que?
— Quero saber quanto Moreira paga para passarmos o que
é dele, para ele!
— Esta no nome desta moça?
— Dizem que ela não existe, ou se existia, a única pessoa
que conhecia ela era o próprio defunto!
— E se aparecer alguém?
— Fica de olho, a única coisa que se sabe dela, é que muda
de visual como quem muda de roupa, e tem lindos olhos azuis!
— Mas se não quiser fazer parte disto?
— Terei de achar outra pessoa para fazer isto!
— Não quis matar Machadinho, ele era um pai para mim,
ele foi lá para me ajudar, mas algo que não tenho como explicar
aconteceu!
50
— Certo, conhecia ele bem?
— Sim, não gosto de mexer com coisas assim!
— Menina, você conheceu alguém de nome Sacha?
A moça se cala, Jorge olha aqueles olhos e pergunta;
— Você é Sacha?
— Ele as vezes me chamava assim, mas como você soube?
— Não soube, apenas observei quando pedi para se passar
por Sacha, mas ai temos um problema!
— Por que?
— Por que terei de mudar os planos!
— Não entendi!
— Moça, não sei seu nome, mas Sacha tem um patrimônio
de mais de 12 milhões em seu nome, mas se você é Sacha, ou tiro
dos planos ou mudamos os planos!
— Esta falando serio?
— Sim, do que metade disto é de Moreira, entendeu o pro-
blema!
— Sim, esta dizendo que Machadinho me usou, e pôs em
meu nome o que ele tinha?
— 90%, o resto esta em nome da mulher dele! Mas se for-
mos querer ficar com tudo, vamos morrer moça!
A moça se levantou e olhou para fora;
— Então por isto todos nos olhavam?
— Não, mas vão ligar as peças, era para ser uma farsa, mas
quando não confiamos em ninguém, caímos nisto!
— E o que pretende?
— Eu?
— Sim, o que pretende?
— Não sei, mas você fica aqui!
— Mas como vou pagar?
— Eu acerto, mas fica por aqui, certo!
— Mas e os meus planos, os meus clientes?
Jorge olha serio para a moça e fala;
— Se quer morrer, vai por este caminho moça!
— E você volta quando?
— Tenho de falar com algumas pessoas, depois vemos o
que vamos fazer!
51
— Mas posso falar com alguém?
— Se não disser onde esta, pode, mas se for falar, sai daqui!
— Mas como?
Jorge não respondeu, era obvio, a moça não entendera na-
da, ele sorriu e saiu pela porta, ela o olhando, não era feio, mas a
colocou em uma enrascada das grandes;

52
Sete!
Jorge foi para seu apartamento, a bagunça que estava, mas
estranhou ao ver Márcia parada a porta, olhou para ela descendo
do táxi;
— Preciso falar com você!
— Quer subir ou outro lugar?
— Outro lugar!
Atravessaram a rua e andaram duas quadras, e sentaram-
se em uma lanchonete, era madrugada de Domingo, e Jorge olhou
a moça;
— No que posso ajudar Márcia?
— Já me esqueceu?
— Não, mas vou esquecer!
— Pensei que me amava!
Jorge não entraria neste jogo e falou;
— Fala isto para Camilo também?
Márcia olhou para ele serio;
— Esta insinuando algo?
— Não, afirmando Márcia, o que quer?
— Esta agressivo!
Jorge riu, pois ele fora condenado sem nem direito a defe-
sa;
— Se é sobre isto que quer conversar, a justiça me conside-
ra apenas um cidadão com azar de estar no lugar errado na hora
errada, eu estou agressivo, pois perdi o emprego, perdi a saúde,
descobri que quem amava é amante do chefe, e quer o que, que
seja o otário de plantão!
— Quem lhe disse de Camilo, ele?
— Não, eu vi, mas não foi isto que a trouxe aqui, já que por
uma semana ninguém apareceu!
— Quem é aquela moça?
— Uma garota de programa! – Falou sem pensar Jorge;
— Uma o que?
— Ela tem alguns nomes, entre vários, mas o pai dela a
chamava de Sacha!

53
— Certo, uma moça, herdeira de tudo o que o pai tinha, e já
se envolve com ela?
— Eu sou solteiro, livre, sem nada me prendendo, qual o
problema Márcia!
— Pensei que me amava!
— Qual a diferença Márcia, qual a diferença, esquece, não
vou discutir isto com você!
— Você esta com ela?
— Não, ela não é alguém para mim, mas ela precisa de aju-
da, pois alguém que tem bem mais problemas que eu e você, e
olha que os meus se somam a cada hora!
— Mas por que foi lá?
— Apenas falar com Moreira!
— Esta envolvido com ele?
— Márcia, esta ficando chato, você tem um caso com o che-
fe casado, que é amigo de Moreira, mas eu não posso olhar para o
lado e você aparece me cobrando, me esquece!
Jorge saiu da mesa com dificuldade e voltou para o apar-
tamento, chegou nele e viu a porta aberta, entrou e viu Moreira a
olhar as paredes vermelhas da sala;
— O que aconteceu rapaz?
— Acabei de descobrir algo que não sabia! – Jorge;
— O que descobriu?
Jorge olha para os rapazes e Moreira faz sinal para espera-
rem na parte de fora;
— O que descobriu?
— Que uma garota de programa, era filha de Machadinho,
e esta menina tem um nome bem interessante!
— Ela é filha dele?
— Ela não sabe se é real, ou ele a escolheu como filha!
— Ela o matou?
— Sim, por acidente, pelo que entendi ele foi lá encobrir
uma morte e algo o atingiu mortalmente, ela não podia chamar a
policia e sabe bem o que aconteceu!
— E recebeu o dinheiro mesmo assim de Jorginho?
— Alguém tem de a proteger, Moreira, sei que ela nem en-
tende em que problema se meteu, mas não é dos pequenos!
54
— E aquela moça lá em baixo?
— Alguém que tem um caso com Camilo e quer dizer que
me ama, que acredita que sou um assassino, mas só apareceu
quando viu a moça comigo!
— Mulheres, o que pretende?
— Apresentar a moça a você Moreira, ela não pretende fi-
car com o que não é dela, algo que nem sabia que estava no nome
dela!
— Mas por que a levou lá?
— Eu queria me vingar de Camilo, mas conhecia ela por
Sandra!
— Sandra, agora liguei nome a pessoa, mas Sandra é Sa-
cha?
— Sim, mas ela não usa o seu nome, acho que nenhuma
usa!
Moreira olhou para o rapaz e perguntou;
— Mas vai fazer o serviço!
— Sim, apenas me recuperando, este braço quebrado me
atrapalha muito!
Moreira riu;
— Espero você na segunda, a tarde, no meu escritório! –
Fala o senhor esticando um cartão;
Moreira saiu pela porta e sumiu;

55
Oito!
Jorge passou no inicio de domingo em uma feira de venda
de carros na região do Tarumã, comprou um carro e se mandou
no sentido do hotel, pediu para falar com a moça e subiu, ela o
encarou na porta e falou;
— E agora?
— Preciso de um lugar onde possamos usar para manter
Camilo um tempo, conhece algum?
— Uma cabana na região de Quatro Barras, mas não vou lá
desde o acontecido!
— Então vamos, amanha entramos no jogo!
— Mas vão me matar?
— Acho que não, mas pode terminar a semana que vem
sem me querer ver por perto!
— Por que?
— Será rica, eu continuarei na busca dos trocados!
— Mas para que precisa de um lugar para manter Camilo?
— Ele, depois Jorginho, depende de quanto consigo, mas
você que escolhe se quer cair fora!
— Eu lhe mostro um lugar, mas não quero passar a noite
lá!
Os dois saíram do hotel, Jorge acertou a semana, pois odia-
va este olhar de cachorro pobre de porteiros e recepcionistas de
lugares como aquele;
A moça foi no volante, Jorge ainda tinha dificuldades de di-
rigir, viu quando ela saiu de Curitiba no sentido de Piraquara,
passaram por Pinhais, atravessaram a cidade e pegaram no sen-
tido de Quatro barras, em um grande campo, entraram e foram
por uma estrada de cascalho solto, uns 20 minutos, não era lon-
ge, mas a estradinha era ruim, e não dava para ir muito rápido,
viu quando a moça parou diante de um portão, que tinha uma
inscrição talhada na madeira;
« Bine aţi venit în iad! «
Começaram a entrar naquele imenso terreno, se via a casa
bem ao fundo, e um lago ao lado dela, parecia que o solo era to-

56
mado de uma planta espinhosa, já tivera uma casa onde tinha
esta praga, mas nunca soube o nome, pararam a porta da casa, o
rapaz viu que a moça não saiu do carro, ele queria olhar, entrou
na cabana, duas peças conjuntas, cozinha e quarto, e um banhei-
ro com uma grande banheira, se via as marcas de sangue no lu-
gar, ela não tinha voltado ali, nem para limpar;
Jorge saiu e falou;
— Vai me ajudar?
— Não gosto disto Jorge!
— Levou sorte moça, temos de limpar o lugar!
Ela entendeu que ele queria ajudar, mas parecia sentir um
arrepio no corpo, ver alguém lhe olhando quando entrou na casa,
segurou a mão do rapaz e falou;
— Por que só eu vejo alguém a mais aqui dentro!
Jorge olhou nos olhos da moça, via um reflexo de alguém as
costas, arrepiou, olhou no sentido de onde deveria estar o rapaz
e falou;
— Não ligue Sandra, é apenas um espírito, eles não fazem
mal a ninguém!
— Ele me fez matar Machadinho!
— Nunca me contou isto direito!
A moça olhou para o rapaz e contou o que aconteceu, não
era para ele morrer ali, não era para ele ter tido um ataque car-
díaco, não era para nada disto ter acontecido, e Jorge olhou para
ela;
— Calma, por algum motivo ele esta preso a este lugar,
moça!
— Lógico, ele morreu aqui?
— Não, olha em volta moça, de quem é a casa!
— De minha mãe?
— O que ela faz para viver?
— Tem uma clinica veterinária!
— Adora cães?
— Viu eles no caminho, ou não viu?
— Não, mas ouvi, mas isto não é uma casa para trazer al-
guém moça, é um local de almas!
— E o que entende disto?
57
O rapaz olhou para ela e falou;
— Ele nada, mas estou lhe dizendo que é assim!
A voz de Jorge saiu estranha na frase, ela pensou em sair;
— Calma Sandra, não sei o que esta acontecendo, mas ain-
da estou no controle!
— Não faz isto de novo!
— Vamos lavar a casa, jogar os restos no lixo, enterrar coi-
sas que podem nos comprometer, queimar o que não achamos
correto!
— Certo, mas por que acha que não teremos problemas
aqui?
— Não disse que não teremos problemas, mas vamos co-
meçar por lhe proteger!
Jorge ouve uma voz masculina e olha no sentido;
— Por que a ajuda?
A moça viu que Jorge olhava alguém e perguntou;
— O que posso fazer que não seja a ajudar?
— Mas ela me matou!
— E o que fez com ela, a prostituiu, sendo sua filha!
— Quem é você que sabe disto?
— Alguém no lugar errado, no momento certo!
— Mas ela me matou!
— E acha que seu amigo vai fazer o que com ela?
O ser olhou para a moça, ela sentiu quem era, sentiu por
um momento o cheiro da loção de barba dele;
— Ele vai a matar pelo dinheiro, eu faria isto!
— Então já tem sua vingança, ou esta preso aqui também?
— Eu e muitos!
Jorge estava a falar e recolher as coisas, colocou na lareira
da cabana e pôs fogo, era toda a roupa de cama do local, Jorge
estava apavorado, mas tentava aparentar normal, olhou os cães
chegando do lado de fora e a moça falou;
— Eles nunca chegam tão perto!
— Então melhor fechar a porta!
A moça viu o espírito a detendo;
— Atravessa ele, não entendeu ainda! – Jorge;

58
Sandra fechou os olhos e chegou a porta a fechando, ouviu
os cães chegando, uivando, e chegou ao lado de Jorge e falou;
— O que esta acontecendo?
— Nada, estamos novamente no lugar errado na hora er-
rada!
— Mas eles nunca chegam perto da casa!
— Eles mudaram de comando!
Jorge fechou as venezianas de madeira das janelas, a luz in-
terna reduziu, ficou bem escuro e viu os olhos da moça mudarem
de cor e falar;
— Acha que pode escapar?
Jorge sorriu e falou;
— Vai me matar antes de lhe ajudar?
— Você vai morrer ser fedido!
Jorge viu que os olhos estavam avermelhados, o espírito do
rapaz olhou para ela e falou;
— Vai mostrar para ele seu verdadeiro eu?
A moça olhou o espírito, Jorge não via, olhou em seus olhos
deu um passo na direção dele e o segurou pelo pescoço, neste
instante o rapaz viu o espírito, viu o rapaz se transformar em
uma nevoa escura e a moça abrir a boca, absorvendo o espírito
do rapaz, o espírito do ser ao lado de Jorge, sumiu pela porta e
ela lhe olhou;
— Agora só me sobrou você!
— Não, esta querendo pouco, moça?
Jorge chega a janela e abre a veneziana, e a luz adentra a
peça, viu os olhos da moça mudarem, ela se esticar e perguntar;
— O que aconteceu?
— Esta você me assustou de verdade, moça!
Ela olhou para os lobos do lado de fora e ele falou;
— Vamos embora, o lugar é perfeito!
Jorge abriu a porta e a moça veio atrás, entraram no carro
e ela dirigiu com calma, ele fechou o portão, marcou no GPS onde
estavam, e anotou o que estava escrito no portão, vendo que pa-
recia feito de madeiras retorcidas com muitos rostos esculpidos
nele, reconheceu um em particular;

59
A moça não entendeu o que aconteceu, mas foram ao hotel
novamente, Jorge tomou um banho, olhava ainda para a moça
que não parecia entender o que acontecera;
— O que aconteceu lá? – Sacha;
— Não sei, você pareceu querer me matar!
— Do que esta falando?
— Não sei do que estou falando, nunca havia passado por
isto, mas quando você se encontrou no escuro, naquela casa, você
se transformou!
— Como Transformou?
Jorge explicou tudo oque viu e presenciou, a moça parecia
incrédula, mas algumas dúvidas lhe passaram a mente, ela sabia
o que acontecia a noite lá, ela mesmo disse quando se conhece-
ram que gostava de matar, não pareceu ter remorso da morte de
Machadinho até ele a perguntar se era Sacha, muita coisa estra-
nha, ele narrou e não falou nada, dormiu no sofá do grande quar-
to enquanto ela se derramou na cama, não era para se envolver a
este ponto, parecia que algo estava errado;

60
Nove!
Almoçaram naquele começo de tarde com calma, Jorge
olhava a moça com algumas duvidas, mas sabia que tinha algo ali
que ele não entendia, ele estava com o computador a mesa e digi-
tou a frase que tinha no portão e perguntou para ela;
— Sabe o que significa o que esta escrito no portão daquele
sitio?
— Não, minha mãe não fala disto!
— “Bem vindo ao Inferno”
— Fala serio!
— Palavras em Romeno, estranho isto!
— O que mais achou ai?
— Os cães que apareceram no lado de fora, não são apenas
cães, são na aparência de lobos, grandes lobos, vi eles de perto,
mas ainda não achei nenhum tipo que se encaixe naquele!
— Minha mãe sempre os chama de “Magork”!
Pedro acessou o sistema e digitou em duas formas, mas
não achou nada, mas olhou para ela e perguntou;
— Tem certeza, não poderia ser algo diferente?
— As vezes Magog, mas não sei se tem algo a ver!
Pedro fez uma pesquisa e falou;
— Magog não tem nada a ver com lobos, são nações pagas,
anti deus!
— Mas acha que é perigoso ir lá?
— Eu não sei, mas adoro perigos mortais, antes era um co-
varde, agora estou começando a gostar de desafiar!
— Mas vamos fazer o que?
— Vou me precaver, mas primeiro vamos falar com Morei-
ra, depois vamos a nossa primeira vitima!
A moça sorriu e saíram no sentido do escritório de Morei-
ra, que os esperava;
— Bem vindos, desculpa a bagunça!
— Tenho de voltar ainda Moreira, acha que sou indispen-
sável? – Jorge;
A moça lhe segurou a mão tensa;
— Calma, eu fico! – Jorge;
61
Ela sorriu e Moreira falou;
— Não é contra você rapaz, e nem você moça, mas o que
tem a falar!
— Ela nem sabia que estava no seu nome, estava olhando
os documentos dela, perfeitos, mas Machadinho nunca teve a
assinatura dela nos documentos, era uma assinatura parecida
com a dele! – Jorge;
— Quer dizer que ele criou o personagem baseado na mo-
ça, mas isto se resolve rápido, cartorários se compra fácil neste
país!
— E como fico? – Sacha;
— Moça, você esta nos poupando um grande dinheiro exis-
tindo, teríamos de sucatear e transferir tão lentamente, que não
teríamos como fazer rápido, só não sei como explicar para a es-
posa dele isto, ela tem 10%, se deixar metade do que era dele,
com você terá mais que ela, mas não gosto dela mesmo!
A moça não entendeu;
— Vou providenciar os documentos, você assina, nos
transferimos os bens que estão em seu nome, metade para mim,
45% para você, e tenho de premiar o rapaz ai do lado, moça, pois
sem ele gastaria talvez 30% da empresa só em documentos!
— Não sou boa com números Moreira, não entendi?
— Você nos papeis fica com 40,5% da empresa, eu com
45%, a esposa com os 10% que estão no nome dela, e estou pro-
pondo a deixar 4,5% com Jorge, pois vai precisar de alguém para
administrar isto para você, já que não tem nenhuma noção disto!
— Pensei que iria me matar!
Moreira sorriu e falou;
— Moça, você me transferindo o que é meu, não me atrapa-
lhando na administração, não tem por que lhe matar, iria me
custar mais que isto!
A moça sorriu, estava querendo saber quanto era aquilo,
mas não perguntou, lógico que não seria os 12 milhões, mas ela
estava tentando fazer o calculo e não conseguiu;
— E o que tinha a propor? – Moreira olhando para Jorge;

62
— Senhor, ele me propôs pagar só um milhão para lhe ma-
tar, mas não estou com vontade de dizer não ao dinheiro, e sim
ao serviço!
— Mas o que pretende?
— Primeiro vamos a parte chata, algo mais urgente, mas
preciso dos dois braços para o serviço, aquela surra que tomei na
cadeia me custara mais 60 dias de gesso!
— Certo, não tenho pressa, mas acha que consegue sozinho
o enganar?
— Não sei, mas quando for o dia, vou lhe comunicar, pois a
única coisa que preciso é que não esteja visível por 12 horas!
— Sabe que ele não vai pagar tudo!
— Mas se pagar no fim das 12 horas, podemos conversar!
Moreira sorriu, achou que Jorge estava usando uma arapu-
ca para Jorginho, não para o matar, mas para o atrair a algum
lugar;
Os dois saíram e a moça perguntou;
— De quanto é esta empresa que você pelo jeito fez ele me
passar? – A moça fala sorrindo;
— Se não estou enganado, apenas pouco mais de cinco mi-
lhões!
— Esta tentando ser engraçado?
— Não, pois legalmente é isto, acha que Moreira se acal-
mou por que?
— O que quer dizer com isto?
— É uma empresa que paga a seus acionistas perto de 16%
de rentabilidade ao ano sobre o capital!
— Não entendi?
— Moça, para mim isto é suficiente, você vai receber da
empresa perto de 864 mil reais por ano, sem precisar mexer em
nada!
— Mas só?
Jorge sorriu e falou;
— Se vender, vai conseguir perto de cinco milhões, mas se
manter como esta, a empresa lhe paga este valor em 6 anos, e
continua a ser seu!

63
— Entendi, eu recebo rendimentos e continuo a ter a em-
presa, se vender, terei o montante, mas assim que acabar, não
tem de onde tirar! E quanto foi a sua parte?
— Pouco mais que o serviço que vamos fazer para ele!
— Ainda quer fazer isto?
— Vai pular fora?
— Fiquei com medo ontem!
— Quem ficou com medo fui eu, não você! – Jorge sorrindo;
— Vamos onde?
— Vamos tomar um drink em um bar!
— Sei, em qualquer um?
Jorge a mediu e falou;
— Esta linda, simples, mas linda, isto é bom!
Ela sorriu e foram a um bar;
Sentaram, pediram algo e a moça perguntou;
— Não tinha algo a fazer?
Jorge sorriu e ligou para o sindico e perguntou se poderia
receber uns moveis, deveriam vir desmontados, mas poderia
deixar na vaga dele da garagem, que depois ele pegava, a moça
perguntou;
— O que vai aprontar?
— Moça, Moreira já deve ter confirmado no submundo que
já recuperou a parte da empresa, o que quer dizer, ele entrou em
acordo com você, tem maioria, e quem poderia ser você?
— Certo, e aquele velho vem aqui!
— Sei que não o achou feio!
— Verdade, mas qual o plano?
— Não hoje, ele deve lhe passar uma cantada, mas não vai
ligar, ele vai perguntar onde esta, vai falar, ele vai parecer por lá,
mas não hoje, não vai dar tempo, ele tem de estar em casa daqui
a pouco, então ele tende a aparecer lá amanha!
— Certo, e vai fazer o que?
— Você vai inventar qualquer coisa e o vai levar para o
meu apartamento?
— Mas por que?
— Leva ele, mas este é só o começo!
— Certo, primeiro a arma, depois a desforra?
64
— Moça, tem de ser respeitada no meio, e passar alguém
como Camilo para trás é como um cartão de boas vindas em mui-
tas rodas da cidade!
— Você pretende ganhar o que com isto?
— Eu não sei ainda, mas não é para ser pouco!
— Certo! Ele acabou de entrar, já nos viu!
— Eu vou ao banheiro, vê se não fala muito, embora este
sorriso de quem ganhou hoje 5 milhões esta lhe caindo bem!
A moça sorriu pela ideia;
Jorge foi ao banheiro, o uísque 18 anos a mesa era para ele,
ela estava na água;
Camilo não bobeou, chegou perto e falou;
— Vai ficar com este perdedor?
Sacha sorriu e fez sinal para ele sentar;
— Bebe algo?
O senhor fez um sinal para o garçom, ele tina sua garrafa, e
isto era como um cartão de visita do local, a moça viu o garçom
servir um uísque e o senhor falou;
— Você é das pessoas mais difíceis de conversar moça!
— Por que?
— Minha secretaria é craque em achar qualquer um, e não
conseguiu o achar!
— Márcia é sua secretaria ainda?
— Sim!
— Era só ela clicar no um do celular dela, eu estava ao la-
do!
Camilo não gostou da insinuação, mas não queria discutir;
— Mas vai ficar quanto tempo em Curitiba?
— Estou acertando os detalhes da parte que administrava
que era de Moreira, por isto precisei de seu es funcionário, não ia
me expor por ai, e não queria morrer por ninharia!
— Mas por que não procurou um profissional!
A moça olhou para o senhor e falou;
— Pelo jeito ele enganou direitinho naquele disfarce de
bom menino na sua empresa!
— O que sabe que não sei?

65
— Nada que se lhe contasse, não estaria pondo sua vida em
perigo senhor!
— Não tem medo?
— Sempre digo que vocês reparam tudo, menos o impor-
tante, mas o que quer com aquele papo de cantada de senhor da
terceira idade, me decepcionou ontem Camilo!
— Não sabia com quem falava?
— Vocês nem imaginam quanto me irrita aquele tipo de
cantada!
— Se me der uma chance, posso lhe mostrar os bons luga-
res desta cidade!
— Não sei, tenho ainda de acertar uns detalhes, talvez de
amanha não passe minha estada na cidade!
— Esta indo para onde?
— Tenho problemas em Brasília!
— Esta onde?
— No centro, na frente da Biblioteca!
— Nem sei por que perguntei, mas se passar por lá?
— Não sei, mas tente, outra coisa, sem escândalos, odeio is-
to!
— Nem saio da mesa e já ataca Camilo, como esta a esposa?
— Bem, mas já estava saindo, nos vemos! – Camilo;
— Não precisava esta cena! – Sacha;
— Desculpe Sacha! – Fala Jorge com o senhor sorrindo;
— Vamos, já me enchi deste lugar!
Os dois saíram, ela o deixou na casa dele e voltou para o
hotel;
Na porta do apartamento, estava Márcia, que olhou o rapaz
sair de um carro simples, e olhou para ele;
— Este é o carro dela?
— Não, mas o que faz aqui?
— Preciso lhe falar!
Jorge fez sinal para ela andar, não para subir, foram a
mesma lanchonete, e os dois sentaram;
— O que esta acontecendo Jorge?
— Nada, seu patrão estava a cantando e ela me ligou para
tirar ela de lá, sem escândalo!
66
— Camilo quer mais uma?
— Não sei, apenas fazendo meu papel, o que alguém me
contratou a fazer!
— Me disseram que você não desgruda da moça?
O rapaz não respondeu, ela viu que ele estava frio e per-
guntou;
— Não tem volta Jorge?
— Não, eu não vou me humilhar, não vou falar o que sentia,
não vou nem pensar nos meus sentimentos, para esquecer rápi-
do!
— Mas por quê?
— A pergunta é por que não, já que você não me apoiou,
me tratou como os outros, um nada, não esperava isto, poderia
ter morrido e ninguém se preocuparia, agora vão dizer que não!
— Mas ainda gosto de você!
— Desculpa, mas ser o outro não é para mim!
— Não entendeu, não tenho nada com ele!
Jorge não falou nada;
— Certo, saímos umas vezes, mas ele sempre deixa suben-
tendido uma promoção, um cargo melhor, eu não posso ficar
como secretaria a vida inteira!
— Prostituição é isto! – Jorge olhando serio para ela;
— Esta me ofendendo!
— Olha o que esta fazendo, pensa, mas não tenho nada ha-
ver com isto, apenas em consideração, por um tempo que aca-
bou!
— Você não me ama mais?
— Disse que não vou falar deste sentimento, eu tenho de a
esquecer Márcia, eu lhe amei, lhe falei coisas que nunca ninguém
ouviu de mim, mas me decepcionei, poderia ter um caso com
Camilo, mas não foi isto que me fez olhar de verdade para você!
Os olhos da moça encheram de lagrimas, ela levantou-se e
saiu meio perdida pela rua, Jorge quase foi atrás, mas não foi;

67
Dez!
O fim de tarde e noite para Jorge foi de trabalho, mas esta-
va exausto pela manha, quando acabou, arrastou o armário a
frente da porta de seu quarto, e olhou o novo apartamento, e
pensou se tudo estava no lugar certo, aquele quadro de uma mo-
ça nua a parede, o sofá com uma imensa TV a parede, agora era
esperar;
Camilo apareceu no Hotel pela manha e subornou o rapaz
da portaria para saber onde uma moça estava, viu que com o
nome que ele sabia não havia ninguém no hotel, olhou a parte de
Café da Manha e viu a moça a tomar calmamente um café, andou
com calma, mas querendo chegar rápido, até a moça;
— Acho que lhe achei!
Sacha olha o senhor e fala;
— Você por aqui?
— Sim, mas o que vai fazer hoje?
— Tenho de passar no apartamento de Jorge, o pagar, e
depois não tenho mais nada a fazer na cidade!
— Não me deixaria lhe mostrar a cidade?
— E o que teria neste buraco, que não tenha em Paris?
— Vive em Paris atualmente?
Ela sorriu pela tentativa e falou;
— Estou ampliando os bens por lá, mas o que iria me mos-
trar?
— Não sei ainda, mas lhe levo na casa daquele traste!
— Um traste bem útil para mim, Camilo!
— Não entendo o que ele tem que não posso lhe fornecer!
— É o que ele não tem!
— Esta falando do meu casamento?
— Não, ele não tem medo de morrer, não tem medo de ma-
tar, de se envolver em algo que pode lhe tirar a vida, e mesmo
assim sobrevive, isto que ele não tem!
Camilo olhou para ela e quase perguntou se ela que man-
dou matar Machadinho, mas não perguntou;
— Mas aceitaria a carona?

68
— Sim, mas ele pode estar com alguém lá, só não a manda
embora por isto!
— Por que acha isto?
— Ele não atendeu o telefone desde cedo!
Sacha levanta-se e o senhor a conduz ate o endereço, ela
toca o interfone, e o porteiro veio a ela e falou;
— Desculpe senhora, ele disse que podia subir!
— Mas não atendeu o interfone?
— Não sei se ele esta lá, mas estamos com problemas em
todos os interfones hoje!
A moça subiu fazendo cara de não sei o que faço aqui, che-
garam a porta e bateram, ninguém atendeu, ela sentiu o telefone
celular tocar e o atendeu;
— Onde você esta?
— Devo chegar ai em 2 horas!
— Duas horas, esta brincando comigo Jorge?
— A porta esta aberta!
— Você não tem medo de que lhe roubem?
— O que se rouba em apartamento de pobre, e assim Mo-
reira não arromba a porta!
Camilo ouviu aquilo, e a moça abriu a porta, olhou a cena,
não era o mesmo apartamento, pintado com duas paredes de
vermelho, a TV incluída ao centro, sofás a frente da TV e o grande
quadro de uma mulher nua a parede, a moça entrou olhando
aquilo e falou;
— Ele é maluco mesmo!
Camilo viu a porta do quarto aberta e falou;
— Pelo jeito ele nem dormiu em casa!
A moça olhou a grande cama e ouviu;
— E o que faremos em duas horas?
— Não sei Camilo, alguma ideia?
O senhor olhou em volta, um uísque, serviu um gole para
ele, pegou numa geladeira a pequena cozinha um refrigerante, e
serviu com metade uísque, ela olhou como se desconfiada;
— O que quer com isto Camilo?

69
— Não sei, olha o acaso, nós dois em um lugar, uma cama
nos convidando! – Camilo chegou perto e a encostou a parede e
falou – Vai dizer que não gosta?
— Você quer ir muito rápido!
— Você é muito linda moça, linda, rica, encantadora, inteli-
gente, o que quer, me encantou!
— E sua esposa?
— Preocupada?
— Sim, não gosto de ser a outra!
Ele a beijou, ela tentou não ser a puta que era, segurou
seus atos, era para ele acreditar, as fotos foram sendo tiradas,
eles na sala, eles no quarto, eles na sala novamente, ele dizendo
que a largaria a esposa por ela, que ela era incrível, depois de
duas horas, os dois já estavam recompostos o telefone dela tocou
novamente e Jorge se desculpou, mas não conseguiria ir mais,
teria de esperar mais, o senhor a conduziu ao hotel, ela disse que
estavam indo rápido demais e o colocou para fora, Jorge ligou
para ela e a moça foi ao Shopping, cortou o cabelo, pitou, pôs
lentes cor castanha, comprou uma roupa folgada, tênis, e se en-
controu com Jorge no apartamento dela;
— Sabe que um dia vai ter de me ensinar aquela posição? –
Jorge;
Ela sorriu e perguntou;
— E agora?
— Agora deixa comigo, mas tem de se manter por aqui,
sem aparecer muito por uma semana!
— E depois?
— Vamos com calma, vai depender dele!
— Vai querer que o corte em pedaços?
Esta era a parte que estranhava da moça;
— Se ele pagar, por que não!
Ela sorriu e perguntou;
— Mas se ele pagou, por que matar?
— Gostou pelo jeito, mas não quero testemunha, ele vai fu-
gir, com o dinheiro da empresa moça, não pagar uma chantagem!
Ela sorriu novamente, Jorge saiu pela porta, sabia que não
seria apenas isto que ele queria, ele trocou as chaves do aparta-
70
mento, e ela foi para casa de sua mãe, estava ao meio da tarde,
quando Jorge ligou no celular de Camilo;
— O que quer traste, não tem nada mais com a empresa?
— Sei disto, acabo de deixar Sacha no aeroporto, mas te-
nho de conversar com você!
— Não tenho nada a falar com você!
— Esta no escritório?
— Sim!
— Estou lhe passando um e-mail, tem 3 dias para me le-
vantar 2 milhões de reais, ou sua esposa vai saber de tudo! – Jor-
ge desligou o telefone e Camilo abre o e-mail e gela, mas ele pen-
sou em não pagar, por que pagaria, ficaria com a moça, ela pelo
que diziam era multimilionária, era o que Machadinho sempre
falava, pediu para Márcia achar a moça, onde ela estivesse, mas
sabia que ela não se hospedava com seu próprio nome, uma
sombra, e se ela não voltasse, se nunca mais a visse, no terceiro
dia Jorge ligou para ele e falou;
— Espero que tenha meu dinheiro!
— Não vou pagar!
— Então tudo bem, para mostrar que estou sendo bonzi-
nho, sua esposa vai receber um arquivo criptografado e compac-
tado com senha, não me faça lhe dar a senha, Camilo!
Jorge desliga e passa um arquivo para a esposa, e outro pa-
ra Márcia, mas o de Márcia não estava criptografado, ela olha
para as fotos, e entende que alguém estava a se divertir e sem se
preocupar em aparecer, não reconheceu o local, que a estas ho-
ras já não era o mesmo;
Camilo liga para Jorge e fala;
— Eu lhe mato rapaz!
— Não sabe mesmo com quem fala, Camilo, estou lhe dan-
do um preço, geralmente não dou, então melhor achar meu di-
nheiro e rápido!
— Mas preciso de mais um dia!
— Certo, me encontre no endereço que passarei por e-mail
para você, amanha no fim do dia!
Camilo olha em volta e começa a fazer transferências, não
era pouco dinheiro, mas se a esposa soubesse, ela não entende-
71
ria, o que ele teria gravado, burro, a seduziu na casa do rapaz,
deveria ter câmeras de segurança, quando no fim do segundo dia
ele pegou o carro com o dinheiro, estava tenso, foi pelo caminho
que o mapa indicava, sem mapa iria ser difícil e viu o portão
aberto e entrou direto, viu a cabana a frente e o carro do rapaz
parado lá;
Camilo olhou para a casa, ouviu os uivos, era fim do dia,
começava a escurecer lá fora, ele viu os cães ao longe, chegou a
casa e olhou em volta, entrou a mesma e viu Jorge ali sentado;
— Onde estão os negativos?
— O dinheiro?
Jorge havia posto pregos no caminho de acesso, então os
pneus deveriam estar começando a esvaziar;
Camilo falou alto;
— Eu quero todos os negativos, todas as gravações, não vai
me fazer de bobo!
Jorge pega uma arma as costas e fala;
— Senta, quieto!
Camilo viu a cadeira, era um covarde, sentou-se e o rapaz
algemou ele a cadeira, e apontou a arma a cabeça dele e falou;
— Agora calma Camilo, tem de ver que tenho de contar o
dinheiro, se estiver tudo aqui, vamos conversar!
— Você não pretende me devolver as fotos?
— Se você for bem legal sim, se não, vamos conversar com
calma!
A porta estava aberta e Jorge viu os espíritos a volta, com a
porta aberta eles adentraram, Camilo começou a ver vultos, e um
senhor parou ao lado dele e perguntou;
— Quem é este?
— Ele quer o dinheiro que Sacha lhe matou para ter!
O espírito olhou o ser e perguntou;
— E vai fazer o que?
— Vou primeiro contar o dinheiro!
O senhor viu que havia espectros, os lobos não entravam
na casa, mas se via eles as janelas e na porta, e com calma Jorge
contou o dinheiro, saiu lá fora, pôs o dinheiro no porta mala e

72
voltou para dentro, os lobos não o atacavam, mas pareciam mui-
to ferozes;
— O que quer comigo, o que são estas pessoas?
— Poderia dizer que é a alma dos que matei, mas não, é a
alma da mãe de Sacha, uma bruxa, que matou todos eles, mas a
cada alma que chega nova, uma é liberta!
— Vai me matar, é isto?
— Depende de você!
— O que quer?
Jorge puxou uma mesa perto do senhor e falou, soltando
uma das mãos, e prendendo um dos pés;
— É só assinar os documentos!
— Mas nem dá para ler direito?
— Acha que tem algo justo ai, Camilo, não tem, ou você as-
sina e eu não lhe mato, ou não assina e lhe mato!
— Não lhe é suficiente o dinheiro?
— Não, não é!
Camilo via as almas, os lobos, e pegou a caneta e assinou
todos os papeis;
— Vista todas as folhas!
O senhor estava em pânico, Camilo vistou, Jorge guardou
os papeis no porta mala, e olhou um carro a parar lá fora, Sacha
não saiu do carro, ela tinha medo, mas estava cada vez mais es-
curo, ele foi lá e lhe deu a mão, o olho dela estava mudando de
cor, sobre a mesa um machadinho, Jorge a deixou ali, fechou a
porta, e saiu, o que aconteceu, ao certo ele não viu, mas no dia
seguinte, via o espírito de Camilo a casa, e a moça a tomar banho,
no sangue do rapaz, ela quando o viu, Jorge viu que ela mudou a
feição, os olhos se inverteram, mudou de cor e se viu o rosto dela
menos contente lhe olhar e perguntar;
— O que fiz?
— O que faz de melhor!
— Mas ...
— Já puz o que podia numa mala, mas a cabeça, vamos en-
terrar por ai!
— Não entendi?

73
Jorge não respondeu, ela estava deitada nua na banheira,
ele apontou o chuveiro, ela se lavou, ele alcançou a toalha, e saí-
ram dali, deixando a mala com o corpo em pedaços, na geladeira
da casa, Jorge viu que a mala entrava perfeitamente, não havia
prateleiras internas, apenas o vão onde a mala entrava de lado;
O rapaz olhou para a moça que falou;
— Não me lembro do que fiz?
— Mentir não me adianta nada, agora vamos ao segundo
trabalho!
— Segundo?
— Sim, segundo trabalho!
— Quando?
Jorge pega o celular e fala;
— Senhor Moreira?
— Fala Jorge?
— Poderia ser hoje o sumiço de 12 horas?
Moreira sorriu e falou;
— Já aprontou tudo, mas e o braço?
— Sabe como é, não estou preocupado com isto hoje, mas
me liga assim que sumir, e me diz apenas em que sentido saiu!
— Não quer o destino?
— Não!
— Em 10 minutos, saio de helicóptero da sede central!
— Nos vemos no vim do dia senhor!
Moreira sorriu, era manha, 12 horas ainda seria no dia de
hoje, a moça não entendeu nada, mas ouviu ele falar;
— Para naquela casa na entrada do caminho!
— O que vai fazer?
— Vamos com dois carros, e você vai chegar aqui, apenas
depois das 14 horas!
— Mas é dia ainda neste horário?
— Vou receber o dinheiro, não vou matar ninguém!
— Mas depois temos de dividir o dinheiro!
— Acha que vamos fazer o que as 14 horas!
— Certo, mas não sei por que disto?
Ele não explicou, mas ela se foi pela estrada, ele dirigiu até
o centro de Piraquara, ele dá o sinal de negocio em uma casa, e
74
pede a chave, naquele fim de manha abriu um buraco no fundo
do terreno e colocou lá parte do dinheiro, parte dos dólares, e os
documentos, tampou e foi a uma praça em frente a prefeitura,
olhou em volta, 4 horas que o Moreira havia sumido, ligou para
Jorginho;
— O que quer rapaz?
— Marcar com o senhor para receber!
— Você matou Moreira?
— Mas antes de deixar em uma rua qualquer, quero que
veja o corpo, de identificável deixei a cabeça, para não dizer que
não é ele, mas preciso do dinheiro, para sumir!
— Mas não tenho como arrumar o dinheiro todo assim!
— Pode quanto, o resto pego depois, não quero estar aqui
amanha cedo!
— Metade, mas onde esta?
— Anota ai!
Jorge passou a instrução, e dirigiu para o local, preparou o
lugar, pegou uma cabeça que comprara no necrotério a 3 dias, ele
maquiou a mesma, e pôs dentro da mala, não estava preocupado
com o cheiro e nem com a repercussão, e sim com sua proteção;
Jorge para o carro na entrada do portão, e faz o trecho a pé,
deixou o carro atravessado na estrada, para que eles viessem
pelo caminho a pé, testou o sinal do celular, nada, olhou os lobos
ao longe, eram seres que não entendia, era como se os espíritos
depois de um tempo fossem tomando a forma de grandes lobos,
mas o que eram não sabia, mas não os temia, talvez não temesse
mais a morte, as vezes lembrava do que alguns falaram de ter a
sensação de ver seu corpo a boiar no poço do presídio, mas era
maluquice, ele olha em volta, arma algumas armadilhas ao cami-
nho, e adentra a cabana, senta-se naquela cabana, as vezes sentia
como se as paredes fossem vivas, era estranho o que sentia ali;
Foi mais de uma hora até ouvir o movimento de gente vin-
do pela estrada, Jorginho veio a frente, mas vendo o carro parado
ali, não entendeu e perguntou;
— De quem é o carro lá na entrada?
— Nem ideia, alguém as vezes pifa neste caminho!
— Pensei que você tinha o deixado lá!
75
Jorge olha para os rapazes e vê eles trazendo Márcia e per-
gunta;
— O que ela faz aqui?
— Queremos garantia que não era uma arapuca de Morei-
ra?
Jorge levanta as mãos e fala;
— O corpo esta na geladeira, numa mala!
— Pelo jeito quando falaram de você era serio?
— Não entendi, duvidou por que?
— Por que parecia um principiante!
Jorge evitou olhar para Márcia mas perguntou;
— Espero que tenha trazido o meu dinheiro?
— A parte que consegui levantar! – O senhor sorriu – Ou
melhor, nada!
Jorge olha Rodrigo, o assessor direto de Jorginho, a enco-
menda;
—Vai querer me passar para traz?
— O que pode fazer, você escolheu um lugar escondido,
demoramos quase uma hora andando, ninguém vai ouvir e sem
Moreira no caminho, vou invadir os pontos dele, ampliar os ne-
gócios, e você vai para o buraco!
— Tudo para não me pagar? Pensei que era mais esperto!
— Por que seria mais esperto?
Jorge assovia e os espíritos de lobos começam a chegar
perto, de dia, pareciam seres vivos, mas em nada eram vivos, se
viu um dos rapazes atirar em um dele e nada acontecer, foram
sendo cercados, e o senhor falou;
— Vai os parar ou mato ela!
— Você disse que me mataria, sinal que para ela seria bom
se a matasse, prefiro isto a deixar ela na mão dos seus rapazes!
Márcia olhou atravessado, um rapaz veio lá de dentro e fa-
lou;
— É mesmo Moreira que esta na mala!
Os demais foram entrando e os rapazes se protegeram
usando o corpo da moça e torcendo o braço quebrado de Jorge
para traz, os mantendo como escudo, entraram na casa e fecha-
ram a porta, e depois as janelas e Jorginho olhou para Jorge;
76
— O que pretende com isto?
— Sair vivo!
— Mas como podemos fazer um acordo?
— Quando Sandra chegar, ela vai ficar aqui, e Rodrigo vai
comigo, ou ele me paga algo para sair da cidade, ou ninguém sai
daqui Jorginho!
— Mas não tenho como levantar isto?
— Estranho, eu tenho como levantar isto, e você não tem?
— Não fala besteira?
Jorge olhou os rapazes e perguntou;
— Quanto ele deve para vocês?
O segurança olhou para o rapaz e falou;
— Não nos vendemos, não traímos o nosso chefe!
— Todos concordam com ele?
— Ele me deve dois meses, e ainda cobra as meninas da ca-
sa!
— Ele não cobra as meninas da casa rapaz, elas tem de re-
ceber, mas ele lhe dever dois meses é um absurdo, mas eu fiz o
serviço, e quero ser pago!
Rodrigo olhou para Jorginho e falou;
— O que fazemos?
— Sabe o código do cofre, paga ele, mas não confio nele!
— Nem eu em você, quer dizer, confiava até agora pouco!
— Mas como saberemos que esta bem?
— Jorginho, Sandra é Sacha, ela é minha garantia que vou
voltar, acha mesmo que faço isto por dinheiro?
— Não sei, por que faz?
— Adoro ver a valentia escorrer pelas pernas, primeiro
Moreira, agora você, todos cagões, sabe por que os lobos me res-
peitam, não tenho medo, nem da morte, vocês tem!
Estava a algum tempo ali, quando alguém bate a porta, ele
abre a mesma e Sacha olhava os lobos assustada;
— Entra Sacha!
— Ele pagou?
— Não, não pagou, vou levar Rodrigo comigo para ele me
pagar, você fica aqui a olhar eles!
— Esta maluco?
77
Jorge só olhou os olhos dela escurecendo e olhou sobre a
mesa e ela acompanhou o olhar, as machadinhas;
— O que ela faz aqui?
— A trouxeram para matar alguém, só pode ser por isto!
— Melhor ir! – Márcia viu a moça passar a mesa e viu duas
das 4 machadinhas atravessarem o ar, e enfincarem em duas
cabeças, mais duas e os 4 seguranças caíram.
— Tenta não matar Jorginho, pode nos valer um dinheiro!
— Tento!
Jorge empurra Rodrigo e fala;
— Vamos, seu patrão não vai aguentar muito lá dentro, en-
tão vamos!
O rapaz suava a medo, Jorge o amarrou e colocou no porta
mala, parou na entrada, pegaram o outro carro, mudou o rapaz
para o banco de traz, e se mandaram para a cidade, entraram na
empresa, o rapaz estava com cara de medo, mas o liberaram,
Jorge foi com o rapaz e abriram o cofre e antes de pegar as coisas
perguntou;
— Rodrigo, o que acha mais vantajoso?
— O que quer?
— Ganhar dinheiro, mas a pergunta, sabe administrar bem
isto, não sabe?
— Sim!
— Quem passa as ordens?
— O chefe da segurança!
— O que Jorginho faz hoje, pessoalmente?
— Quase nada, dá os rumos!
— A pergunta é direta, como podemos administrar isto
sem ele?
— Não pode fazer isto, não vai dar certo!
— Resposta errada, sabe que Moreira pagou o dobro por
sua cabeça, então vale mais que Jorginho, então vou perguntar
novamente, é sua chance, sabe que lá eu recebo!
— Mas você o matou?
— Não, aquilo foi uma encenação, a cabeça é de uma mis-
tura de borracha, pelos, e coisas que não conheço!
— Então era uma arapuca?
78
— Você viu os machadinhos, acha que como podemos ad-
ministrar isto?
— Eu consigo, mas não me mate!
— Então me prepara todos os relatórios, e chama o rapaz
da segurança, diz para ele que Jorginho me vendeu a parte dele,
ninguém precisa saber a verdade, ou precisa?
— Não!
— Para ontem, não temos o dia inteiro! Vai precisar que
ele assine algo?
— Vou!
— Então prepara os papeis, e não dá uma de espertinho,
que lhe entrego para Moreira em pedacinhos!
O rapaz saiu pele porta enquanto Jorge verificava o que ti-
nha no cofre, reparou na senha, ligou para a empresa especiali-
zada e pediu para trocar a mesma, tirou um pouco de dinheiro, e
olhou para Márcia;
— O que fazia lá?
— Eles me pegaram em casa, a empresa esta uma bagunça,
Camilo parece que comprou uma passagem para Paris, não en-
tendi!
— Ele esta de olho em Sacha, só isto, o que pode ser mais?
— Não sei, ele fez transferências altas esta manha!
— Nem tem a moça e já esta esbanjando! – Jorge;
— Não seja assim, ele não iria passar a esposa para traz!
Jorge não falou nada, mas olhou o rapaz da segurança a
porta e perguntou;
— Como é seu nome rapaz?
— Siqueira, Rodrigo me deu um informação que não consi-
go confiar!
— Meu nome é Jorge Rodrigues, mas nem tudo que Jorgi-
nho pediu eu vou poder abrir com você rapaz!
— Por que?
— Ele esta com medo, Rodrigo também, parece que Morei-
ra pediu a cabeça dos dois, então fica de olho no Rodrigo, não
queremos ter problemas?
— Então Jorginho não lhe passou nada ainda?

79
— Na verdade ele passou, mas foi uma troca, ele vai passar
no Rio de Janeiro um tempo, eu toco a parte dele aqui, ele olha a
minha lá!
— Certo, mas Moreira vai deixar ele em paz lá?
— Jorginho esta hora esta na minha ilha a curtir o sol, acho
que vou ter de me acostumar um tempo sem o sol!
— Mas qual a ordem, pois estranhei tudo até agora?
— Minha preocupação não é com o que sei como lidar, Jor-
ginho pega uma garota, se manda para o Rio, e eu que tenho de
enfrentar a parte pesada, sabe do que estou falando?
— Não entendi?
— A esposa, as filhas, disto que estou falando Siqueira!
— Certo, mas acha que ela vai se preocupar?
— Não tenho ideia, vamos ver isto juntos!
O rapaz saiu e Jorge ligou para Moreira;
— Moreira, como esta escondido?
— Bem confortável, e daí, já acabou com ele?
— Não ainda, ele não me passou ainda tudo!
— Não entendi?
— Moreira, vamos ter de conversar, pois vou assumir os
negócios de Jorginho, e podemos no lugar de brigar, fazer uma
parceria!
— Você o que?
— Estou no escritório dele, começando a me inteiras das
coisas, aquele rapaz, Rodrigo, realmente vale mais vivo que mor-
to!
— Você pelo jeito resolveu assumir sua parte ilegal?
— O que tem de ilegal nisto Moreira?
— Posso aparecer novamente?
— Sim, pode aparecer, já temos o peixe na rede!
— A rede é forte, ele é pesado!
— Talvez não seja, mas ainda tenho um problema a resol-
ver!
Jorge desligou e olhou para Márcia;
— Vai continuar por perto?
— Não sei, você esta virando um marginal!

80
— Não, agora serei o empresário respeitado, e obvio, nem
tudo vai ser como antes!
— E por que esta me mostrando isto?
— Não estou, você estava lá, iria saber de qualquer forma
mesmo!
Jorge a beijou e ela não recuou, estranhou, não era a moça
que ele amara, era alguém fria, sem o sentimento, vendo alguém
subir na vida e perguntou;
— O que passa nesta cabeça?
— Quanto você esta se apoderando neste caso?
— Pouca coisa!
— Mas Jorginho é muito mais rico que Camilo!
— Não sei ainda, vou ver isto com calma!
Rodrigo entrou pela porta e falou;
— Mas não vai me matar?
— Se não fizer burrada, pois não sou eu que lhe quero
morto, tem muita utilidade para mim, vivo!
— Mas vai administrar tudo?
— Rodrigo, vamos com calma, como esta sua remunera-
ção?
— Bem, atrasada mas bem!
— Certo, me faz um levantamento de tudo que esta atrasa-
do, não gosto disto, amanha vemos como acertar!
— Mas vai descapitalizar perto de uma entrega!
— Não temos para a entrega?
— Temos!
— Me levanta o que esta atrasado pois não é meu estilo
deixar de pagar em dia, ou cumprir com um combinado!
Jorge olhou o celular tocar e atendeu;
— Jorge, onde você esta, estou com medo!
— Como estão os rapazes!
— Não sei quem os matou, mas Jorginho ainda esta vivo!
— E como estão os lobos?
— Agitados!
— Só não mata Jorginho ainda!
— Eu não sei como poderia fazer isto!
Jorge pensa na frase e fala;
81
— Estou indo para ai, tudo bem?
— Vem sozinho?
— Vou com uma amiga!
O silencio se fez e Jorge olhou o rapaz e perguntou;
— O que ele tem inevitavelmente que assinar!
— Duas procurações, e algumas transferências!
Jorge pegou os papeis e desceram, não sabia se entraria ali
novamente tão calmamente, mas precisava terminar isto, pediu
para Márcia assumir o volante, e foram para o local, alterou os
nomes das procurações que havia feito Camilo assinar, passaram
numa lan na entrada de Piraquara, ele imprimiu o que precisava,
e foram para a chácara;
— O que são aqueles lobos? – Márcia;
— Truque de luz e som, não tem como lhe atacar!
— Bem reais!
Jorge sorriu, trocaram de carro na entrada, e foram nova-
mente a cabana, o rapaz pediu para Márcia ir entrando a frente, e
pegou a pasta, uma arma e seu computador portátil;
Jorge viu o agito quando Márcia entrou na casa, adentrou
com calma, com a pasta a frente do corpo, e com a arma as cos-
tas, ninguém precisava saber que ele não sabia atirar;
Entrou e viu Sacha amarrada ao canto e Márcia com uma
arma a cabeça, olhou para Jorginho e falou;
— Bem previsível!
Jorge deixou a porta aberta, não sabia como ele a tinha de-
tido, mas ela deve ter se distraído, os corpos estavam ao chão em
pedaços, ou algo aconteceu que a trouxe novamente, podia ser
até a alma de Machadinho que não estava visível;
— Solta as coisas, vai me tirar daqui! – Jorginho;
— Não sabe que não tem saída?
— Quer ver elas morrerem para mudar de opinião?
Jorginho engatilha a arma na cabeça de Márcia, mas Jorge
não queria morrer, olha para a casa, os lobos a porta, a lua tirava
a escuridão do lado de fora, o rapaz não sabia o que iria fazer;
— Certo, o que pretende, Jorginho!
— Quero sair daqui!

82
— Já estaria em casa se tivesse me pago! Mas deveria ter
desconfiado que para alguém que não paga a peça chave do es-
quema em dia, não deveria pagar mais nada!
— Não cheguei onde estou sendo bonzinho com funcioná-
rios medíocres!
Jorge olhou para o senhor e falou;
— Mas temos um problema Jorginho, você me deve algo
combinado, só pagou 10% do preço, então eu quero receber!
— E se matar esta sua garota?
— Márcia, conhece ela melhor que eu Jorginho!
Márcia olhou indignada;
— Mata ele de uma vez!
Jorginho esticou a ama para Jorge e atirou, pegou em seu
ombro, ele olhou o ombro, pegou a arma as costas com calma e
atirou no senhor, não acertou além de dois tiros em 16, no se-
nhor, mas nem olhou os dois corpos caindo, isto não estava nos
planos dele, problemas a administrar;
Jorge olhou para a moça, caminhou entre restos de gente
ao chão e a soltou;
— Por que a matou?
— Por que já tinha visto demais! – Fala Jorge alcançando
uma machadinha para a moça;
— Não tem medo que lhe mate?
— Não sei, este ombro esta doendo!
— Você é maluco, mas não queria o matar pelo jeito?
— Não antes dele assinar uns papeis!
A cara da moça foi de reprovação;
— Mas deixou ele matar a sua garota?
— Matar, o que é isto?
Jorge sentia que o lugar estava entrando em sua alma, ele
não conseguia mais pensar normalmente, e pegou uma machadi-
nha e ajudou a moça a destroçar os corpos, tomaram um banho,
colocaram em malas os corpos, estavam quase saindo quando o
rapaz viu que não havia lobos do lado de fora, se via as sirenes
vindo mais ao fundo, e olhou para a moça que falou;
— Acha que vão acreditar que fui eu?
Jorge sorriu e falou;
83
— Não lhe entendo?
— Não foi você que os chamou então quem vem lá, não
quer lhe deixar livre, quem será?
— Moreira, mas o que fazemos?
— Churrasco!
Os dois saíram pelo fundo e o rapaz terminou de por gaso-
lina na cabana, e ateou fogo.
Os dois se embrenharam ao escuro da noite, no sentido das
arvores, os lobos estavam lá e rosnavam mais assustadoramente
agora, Jorge sentia-se fraco, a bala atravessara, mas estava san-
grando, o rapaz vê as labaredas ao fundo, não era um local fácil
para chegar um corpo de bombeiros, mas sobraria muitas pro-
vas, muitas mesmo;
Jorge olhava a moça andar pelo mato, parecia nem os afas-
tar, algo não estava certo, mas aquele mato cortando sua perna,
estava o fazer sangrar, todos seus planos por água a baixo, mas
para ter planos teria de sair vivo dali;
Depois de muito andar, Sacha parou a frente dele, ele viu
aqueles olhos mudarem e ela falar;
— Acha mesmo que vai sair vivo?
— Acho que já morri mesmo! – Jorge não estava forte;
A moça parecia se alimentar do medo, os lobos, do medo, a
casa do medo, talvez isto fosse o que o rapaz não tinha, medo, os
olhos dela voltaram ao normal e falou;
— Por que não teme a morte?
— Por que você não a teme? – Respondeu com uma per-
gunta;
— Dizem que já morri, assim que nasci, minha mãe me
trouxe a esta cabana que queima ali ao fundo, e vim a vida nova-
mente!
— E desde então nunca teve medo?
— As vezes tenho receio, mas não medo, você levou um ti-
ro e parece preocupado com algo mais a frente!
— Moça, temos dinheiro, muito dinheiro, por que temos de
morrer antes de o gastar?
— Verdade, mas acha que aguenta?

84
— Se eu não aguentar, o dinheiro vai acabar se perdendo,
mas tudo bem!
Jorge olha a perna da moça, a sua estava toda cortada, a de-
la, parecia não ter passado em nenhum mato, estranha aquilo,
era como se realmente ela fosse um espirito ali, andando a noite.
— Você o escondeu?
— Parte nós perdemos no porta mala do carro, temos par-
te de uma empresa, que você nem assinou a transferência, por
isto acho que Moreira nos queria com o rabo preso, assim ele nos
libertaria pela assinatura do que é dele e do que esta em nossos
nomes!
— Mas por que?
— É mais fácil, não tem por que, é apenas mais fácil!
Os dois estavam andando quando entraram em uma gran-
de clareira, não tinha aquele espinho, mas parecia ser irregular,
Jorge viu que era um lugar cheio de buracos, quantos estariam
enterrados ali?
— Muitos! – Respondeu Sacha;
Jorge olhou para a moça e viram vários espíritos levanta-
rem dos túmulos, muitos, de crianças a velhos, de ambos os se-
xos;
— Quantos enterrou aqui?
— Comecei por minha mãe, depois foi vindo o resto!
Jorge viu a frieza da moça, queria pensar assim, lhe encan-
tava pensar tão friamente assim, mas não seria ele, viu que a
maioria ficava a frente da moça, ela começava a não se importar
em passar por eles, e ela parou diante de um espectro quase real,
o de sua mãe, parecia que tinha vida naquela pessoa;
— Mãe, como esta?
— Desta vez resolveu ser mais de um, mas e aquela sua tia,
que se acha sua mãe, quando a vai matar?
— Depois mãe, depois!
A senhora olhou o rapaz e perguntou;
— Por que o mantêm vivo?
— Não consigo o matar mãe!
— Se apaixonou, isto é ridículo!

85
— Não mãe, ele não tem medo de morrer, como se aprisio-
na alguém que não tem medo! – A senhora olhou Jorge, ele não
entedia daquilo, mas para ele, espíritos assim, eram algo interes-
sante, e não um perigo;
— Mas ele cheira a medo!
— Sim, ele nos engana direitinho mãe!
— Mas onde estão indo?
— Sair daqui, a policia esta vindo nos pegar, alguém nos
entregou!
— Mas como entraram, não poderiam sem eu ter visto?
— Uma boa pergunta! – Falou a moça olhando a senhora;
— Devo ter me distraído, mas quer que os detenha?
— Eu não tenho nada contra! – Sacha. Jorge viu que a se-
nhora se tornou mais translúcida, e sumiu da frente dos dois;

86
Onze!
Na Delegacia de Homicídios, pouco antes, delegado Siquei-
ra vê Moreira entrar pela porta;
— Algum problema?
— Me afirmaram que este rapaz, aquele que até eu achei
que era inocente, esta numa reunião com Jorginho em uma fa-
zenda na região de Quatro Barras, um bom lugar para fazer coi-
sas que ninguém vê, sem sinal de telefone, um acesso, acho que
poderia dar uma batida lá delegado!
— Mas afirmando o que?
— Qualquer coisa, suspeita de trafico é bom, sabe que os
Juizes estão acatando mais do que busca e apreensão!
O delegado sorriu e falou;
— Sabe o que esta acontecendo lá?
— Desconfio, mas acho que me deve este favor delegado!
O delegado viu que era para fazer, não era uma suspeita,
era para irem lá e acharem algo, mas o que?
Se armou a batida e o delegado foi a frente, Moreira lhe
forneceu um mapa, mesmo o Juiz deu a autorização sem saber
onde era, endereços em cidade, fácil, no meio de um campo que
termina nas montanhas da serra, complicado, partiram em três
viaturas, quando entraram na pequena via, reparou que não teri-
am como sair, era o único caminho, subiram e desceram até se
depararem com os carros, todos parados, o delegado saiu do car-
ro e virou para um deles;
— Quebra os vidros e põem para o lado, não quero chegar
a pé em um lugar que não conheço!
— Aquele carro é o de Jorginho! – O policial ao lado;
— Se preparem para um confronto, podemos ser recebidos
a bala!
Afastam os carros e retomam o caminho, quando estavam
chegando, viram a casa a pegar fogo, estranho pois não viram
nada além do fogo, nenhum movimento, os rapazes tentam cha-
mar os bombeiros, nada de sinal, olham em volta e não tinha nem
um balde, a casa de madeira velha, queimou com facilidade, o
delegado olha em volta e fala;
87
— Fiquem atento, podemos ter caído em uma arapuca!
Os homens olham em volta, muito ao longe veem lobos, jo-
gam as luzes dos carros para ver mais, mas não conseguem, esta-
vam a olhar em volta da casa, quando viram os cães começarem a
se aproximar;
— Mantenha a calma, são só cães! – Delegado;
— Parecem bravos com algo!
Um dos lobos chegou bem perto rosnando, o rapaz jurou
que pareceu um humano lhe mandando embora, mas estavam ali
para saber mais, a lua sai de trás das nuvens e ouve uma leva de
uivos por todos os lados, o delegado não sabia o que faziam ali,
mas olhou em volta, não conseguia chegar muito perto da casa, o
carro que estava mais próximo, os rapazes afastaram do fogo,
não queriam uma explosão, o delegado teve a impressão de ver
um movimento a mata aos fundos, mas fora muito rápido, pode-
riam ser estes lobos;
— Que diabos eles faziam aqui! – Siqueira;
— Não sei senhor, não deveríamos voltar de dia?
— Não sei, olha em volta, alguma alma viva por perto além
destes cães!
— Senhor, vem uma senhora lá longe!
O delegado viu a senhora, ou o que vinha ao escuro, não
dava para ver muito, pelas formas, uma senhora, com um capuz a
cabeça, os lobos pareciam não gostar dela, e ela nem se preocu-
pava em chutar alguns;
— Quem vem ai?
O ser que vinha deixou o capuz cair da cabeça, o delegado
fixou os olhos, poderia ser uma mascara, mas aqueles olhos ver-
melhos, lhe chamaram a atenção, o rosto, parecia que tinha mui-
to pouca pele, aparecia os ossos, como se fosse uma múmia viva a
vir a eles;
— Quem invade minhas terras?
A voz rouca, sinistra, feminina;
— O que é a senhora?
— Brasileira, dona destas terras, o que vieram fazer, pondo
fogo na minha residência!

88
— Senhora, somos da policia, precisamos de esclarecimen-
tos!
A moça riu, uma gargalhada das mais assustadoras que os
rapazes tinham visto, e ela continuava a se aproximar, alguns
viram o rosto dela se transformar em um doce rosto de mulher,
não mais de 30 anos, sempre com os olhos fixos no do delegado;
— Que tipo de esclarecimento?
— Vimos carros parados lá na frente, de quem são?
— Não sei senhor, não estou lá!
— E este carro aqui?
— De minha filha!
O senhor olhou para a senhora e perguntou;
— Você não tem idade para ter uma filha de mais de 20!
— E você começa a me chatear, o que quer delegado Si-
queira?
— Sabe quem sou?
A senhora sorriu, e o senhor viu outros seres vindo de to-
dos os lados, fixou os olhos em alguns, mortos, pareciam pálidos,
um dos rapazes atirou, a bala atravessou e nada atingiu, e come-
çaram a recuar, o fogo tomava a casa por completo ao fundo, e o
delegado viu algumas almas saírem queimando da cabana, co-
nhecia aquelas, Jorginho, seus rapazes, uma moça que não co-
nhecia, os rapazes foram se recolhendo e o delegado atirou na
senhora a sua frente, nem viu ela desviar a bala, muito rápida,
pequeno jogo de corpo ao lado, pequeno abaixar-se, e ouviu;
— Delegado, o que quer, estes ai? – A senhora aponta os
espíritos;
— Você os matou?
— Não, eles nem me conhecem, mas se os quer é só levar!
Os espíritos viram a policia, viram os demais espíritos, e a
senhora viu o espírito de Jorginho chegar até ela e perguntar;
— Onde estamos, por que estamos aqui?
— Senhor – a senhora pegou no ombro do espírito e falou
com calma – bem vindo a minha coleção de espíritos! – Os de-
mais viram o rosto da senhora se deformar, e o que era visível de
Jorginho, ser sugado para dentro dela, os seguranças deram um
passo atrás, ela olhou os policiais e falou;
89
— Tem 10 minutos para sair, depois, pêsames aos seus fa-
miliares!
Os policiais entraram nos carros e deram ré desesperados,
saindo de lá, não sabiam o que havia acontecido;

90
Doze!
Jorge continuava a andar, cada vez mais lento, a moça
olhou para ele e falou;
— Se vai morrer, fora destas terras!
— O que tem estas terras?
— Vamos, não vou lhe deixar aqui!
— Não aguento mais, vai, eu morro com calma aqui!
— Não posso deixar você aqui! – Ela lhe deu o ombro e
começaram a sair, a moça viu que não iriam longe e começaram a
andar no sentido da estrada, caminharam uns 12 minutos a mais
e a moça viu as luzes vindo no sentido deles, ficou ao meio da
estrada, e o policial desceu com arma em punho;
— Quem esta ai?
— Balearam meu amigo, preciso de ajuda!
O delegado olhou o rapaz ao lado da estrada, baleado no
braço, e falou;
— Detenha os dois, mas passamos no hospital antes!
O delegado viu eles colocarem os dois no banco de traz, e
saíram pela estrada, passaram a entrada da fazenda e não para-
ram nem para olhar os carros, quando na estrada, o delegado
olhou para a moça e perguntou;
— O que aconteceu lá?
A moça não sabia o que falar, e desabou;
— Não sei, sinceramente não sei!
Jorge tinha perdido muito sangue, e estava quase desacor-
dado no banco ao lado;
O delegado apertou na altura do tiro e Jorge gritou de dor;
— Por que isto? – Sacha;
— Com dor ele não entrega os pontos, mas vão ter de me
explicar o que aconteceu lá!
A moça não sabia por que sua mãe havia os deixado sair,
mas obvio que isto indicava a ausência de provas, ou um voltar
mais tarde, mas assim que pararam no primeiro hospital, na divi-
sa de Quatro Barras com Tijucas do Sul, adentraram a emergên-
cia e o rapaz foi para a sala de cirurgia, o rapaz era mortal, pen-
sou a moça, e o delegado a olhava;
91
— Pode me explicar uma coisa?
— Se conseguir?
— Por que foram lá?
— Eu e o Rodrigues, somos amigos, e parece que quando
Jorginho soube que ele iria ficar com 4,5% das parte de Macha-
dinho, das empresas, pegaram aquela moça, Márcia, ex namorada
dele, quando chegamos lá foi tanta coisa maluca que nem sei por
onde começar!
— A senhora disse que era sua mãe?
— Que senhora?
— Uma que surgiu do nada, enquanto estávamos lá!
— Eu nunca a vi, alguns dizem que ela aparece, mas eu vejo
só aqueles lobos, que parecem querer sempre me atacar, por isto
evito ficar a noite lá!
— Mas por que ficaram?
— Algo sobre o rapaz ali dentro – Fala ela apontando a sala
de cirurgia – assinar a transferência do que eu tinha passado
para ele, para Jorginho!
— Você é mesmo Sacha Guerra?
— Sim, sou Sacha Guerra, e acho que se o rapaz morrer vai
ser minha e de Moreira a culpa!
— Por que?
— Ele me apresentou a Moreira para que lhe transferisse o
que era de direito, mas insistimos que ele ficasse com uma re-
compensa, parte da empresa, olha o que ganhou, um tiro!
— Sabe quem mandou irmos lá?
— Não sei, mas devemos a vida a esta pessoa, pois não te-
ríamos como sair de lá, eu não queria deixar ele para traz, mas
não tinha como carregar!
O senhor olhou para a moça e ligou para Moreira;
— Moreira, que encrenca você me meteu?
— O que houve, ninguém sabe de você?
— Tiramos de lá o rapaz e a moça, ele baleado e ela em pâ-
nico, mas o que é aquele lugar amigo?
— Por que?
A moça viu ele narrar o acontecido, fez que não estava ou-
vindo, mas foi bom ter ouvido;
92
Jorge após operado passou um dia na UTI e foi para um
quarto, não existia crime, mas a policia iria voltar lá na manha
seguinte, de dia eles tentariam fazer alguma coisa.
Jorge acorda no hospital e vê a moça ao seu lado, olha o
ombro, um braço quebrado, o mesmo ombro baleado, muita sor-
te, muita coisa a contar para os netos, mas talvez não tivesse ne-
tos;
— Estamos ou não muito encrencados?
— Ainda não sei Jorge, ainda não sei!
— Obrigado, salvou minha vida, lhe devo esta!
— Vou cobrar, sabe disto!
Ele sorriu, ela pelo menos era sincera em dizer que queria
o dinheiro, Márcia já era cinzas em todos os sentidos, olhou os
policiais a porta e perguntou;
— O que aconteceu?
— Eles nem nos viram, não nos seguiram, mas mandaram
alguém lá hoje durante o dia, para fazer o rescaldo da casa!
— Isto é complicado!
— Por que?
— Depende do que acharem, seremos culpados, não é a
primeira vez, pelo menos eu serei culpado!
— Desta vez talvez até eu me complique!
O Delegado chegou ao lado e olhou o rapaz;
— É difícil de o matar rapaz!
— Devo a ela a vida, teria morrido lá!
— Preciso lhe fazer umas perguntas!
— Sem problemas, encrencado, encrencado e meio!
— Sabe o que acharão lá?
— Pelo que Sacha me falou, os corpos de 4 capangas e de
Jorginho, tinha outro rapaz com eles, não tive tempo de ver quem
era!
— E não teve tempo de cortar em pedaços?
— Não, vocês chegaram rápido!
— Não tem graça, quem lhe deu o tiro?
— Jorginho, ele queria que matasse Moreira, e estava me
pressionando, quando Moreira me passou parte da empresa de
Machadinho, o senhor quis esta parte!
93
— Mas esta parte não vale sua vida? – Siqueira;
— Senhor, acredita mesmo que se assinasse, estaria vivo?
— Não, vi que os seguranças de Jorginho estão dando co-
bertura máxima ao rapaz que cuida das coisas para ele, estão
com medo, deve ter mão de Moreira nisto, mas como fugiram.
— Quando ele me acertou o tiro, eu tendi para traz, me jo-
guei por uma das janelas, acho que levei sorte de não quebrar o
gesso, mas arrastei junto a moça, eu a queria salvar e ela que me
salva!
— Sabe que algo aconteceu lá dentro?
— Sei que algo aconteceu lá dentro, mas o que, não sei,
corri por aqueles campos, cortei minhas pernas correndo por
aquele mato, não foi nada agradável!
O senhor olhou as pernas da moça, sem um arranhão, as
dele, realmente todas rasgadas, teria de perguntar ao médico o
que fez os cortes, mas a moça não gostou do olhar, mas sabia o
que responder;

94
Treze!
O delegado pede a prisão preventiva dos dois, estava a sua
mesa quando o rapaz do IML entra com o investigador pela por-
ta;
— Delegado, precisamos conversar!
— Fala!
— Temos algumas coisas interessantes!
— Como?
— No carro da moça, tinha uma porção de dinheiro, mais
de 200 mil reais em dinheiro, em notas pequenas!
— Isto é interessante!
— Outra coisa, num dos carros da entrada, um carro que
foi comprado neste domingo, naquele feirão do Tarumã, tem uma
leva de dinheiro a mais, um dos carros que tiramos do caminho!
— Mais dinheiro, mas os dois fugiram sem o dinheiro!
— Verdade, mas tentamos achar o caminho que fizeram,
realmente o lugar é tomado por – o rapaz estica uma das plantas
em um saco plástico – desta planta, e por ultimo, temos um corpo
que não bate com o DNA de nenhum dos seguranças sumidos de
Jorginho, temos de ter a comparação, mas como são pedaços
todos misturados, pode ter mais de um, pois a cabaça que acha-
ram lá é parecida com a de Moreira, mas não é dele!
— Esta a dizer que tem pelo menos um corpo a mais?
— Sim, estamos fazendo os exames na cabeça, que é o mais
fácil de identificar, não bate com ninguém e foi morta a mais
tempo!
— E o rapaz aparece baleado, acharam as armas?
— Sim, todas raspadas, da cabana sobrou apenas cinzas
senhor!
— Acha que conseguem identificar os corpos?
— Somente com DNA, esta cabeça estava melhor conser-
vada pois estava dentro de uma geladeira, que embora tenha
pego fogo, conservou um dos corpos em pedaços!
— O método foi o mesmo daqueles dois corpos?
— Foi senhor, mas tem uma coisa mais estranha ainda!
— Mais estranha?
95
— Sim, seguimos o caminho que os dois seguiram, para fu-
gir da casa, mas mais ao fundo, achamos um descampado, des-
confiamos pois de metro em metro o terreno estava mais baixo,
como se fossem covas, tem corpos lá que parecem estar lá a mais
de 60 anos, e o método de corte é o mesmo senhor!
— Esta falando que tem muitos corpos lá?
— Se cada cova daquele tiver uma pessoa, mais de 300
corpos!
— Certo, mas não deixa o pessoal a noite lá, se tem muitos
corpos, passa uma daquelas maquinas de cortar no resto destes
matos e olha direito, podemos ter muito mais coisa lá!
— Senhor, o que fazemos com os dois?
— Mantêm na delegacia, quero eles por perto, não quero
arriscar que um deles seja morto para apagar os vestígios, algo
maior aconteceu ai!
Os rapazes saíram e o senhor ficou vendo as fotos, as evi-
dencias, mais um grande crime sem muitas peças a encaixar, o
delegado acompanhou cada detalhe, sabia que novamente, falta-
vam provas para manter o rapaz preso, mas precisava disto;

96
Quatorze!
Dois dias a mais e fora transferido para a delegacia de ho-
micídios, desta vez, estava tranquilo, sabia o que tinha feito, es-
tranho ficar mais nervoso quando não se sabia de onde viria a
bala, e seu advogado vem ver como ele esta;
— Daí Jorge, como esta?
— Preciso que cuide da defesa da moça também!
— Moreira já conseguiu um advogado muito bom para ela!
— Fica de olho, ainda não entendi esta historia!
— Certo, eles estão levantando todos os indícios, não tem
como dizer que não estava lá, mas não acharam nada ligando
ninguém a morte, acharam um corpo, que parece estar lá a mais
tempo que os demais, e quando acharam um cemitério clandes-
tino lá, começaram a cavar, mas não sei por que, as vezes um ou
outro rapaz contratado para escavar lá, tem sumido!
— Pelo jeito vou ter de brigar com o delegado de novo!
— Mantêm a calma, logo vai estar livre, por sinal, esta me
devendo uma grana preta!
— Eu trabalho e pago!
— Mas quem vai lhe dar um emprego?
— Pensei em contar as minhas aventuras em 60 dias, e
vender livro, pode ser que alguém compre!
O rapaz sorriu e falou;
— Sua mãe ligou de Paris, parece preocupada!
— Agora, desculpa, ela demorou a ficar preocupada!
— Não a culpe, o novo marido dela não a quer em confu-
sões!
Jorge sorriu e se esticou;
— Só faz um favor, me mantêm aqui mais uns 20 dias!
— Não quer sair?
— Quero, mas não como da ultima vez!
— Você parece estar gostando disto!
— Amigo, se cuida, mas aqui parece mais seguro, eles por
algum motivo me querem vivo!
O advogado sorriu, este era o maior risco no caso anterior;
— Mas quer que faça o que?
97
— Levanta a ausência de provas, mas entra com um pedido
de relaxamento de prisão em um destes Juízes que trabalham
pouco, quando é para soltar, mas trabalham muito, quando que-
rem aparecer!

98
Quinze!
Jorge é conduzido a sala de interrogatório, o Delegado es-
tava a observar o investigador;
— Senhor, vou lhe fazer algumas perguntas, seu advogado
decide se pode ou não responder, mas gostaríamos de colabora-
ção! – Jorge sorriu e Pedro falou;
— Se não quiser, não precisa falar nada!
Jorge olhou para o rapaz e perguntou;
— Até onde quer saber?
— Como assim?
— Meu nome, Jorge Rodrigues, nascido em Curitiba em
1987, em outubro, dia 24 de outubro, mas a minha duvida é se
falar a verdade saio vivo!
— E por que não sairia vivo?
Jorge olha para o Delegado e fala;
— Por que as vezes quem manda, manda mais do que ape-
nas nos marginais, e isto pode me tirar a vida!
— Esta dizendo que existem policiais envolvidos?
— Não, não disse isto!
— Vamos por parte, como o senhor chegou lá!
— Alguém me contratou para duas mortes, e como o pri-
meiro corpo estava na cabana, Jorginho foi lá verificar!
— Você quer dizer que matou alguém a mando de Jorgi-
nho?
— Quero dizer que Camilo Domes, esta morto, o corpo que
estava a geladeira era dele, apenas a cabeça não é dele!
— Você esta dizendo que matou seu antigo patrão!
— Não, que matei quem me encomendaram para matar,
parece algo referente a uma extorsão que Jorginho fez em cima
de Camilo, mas como ele queria sempre mais, pediu para ele as-
sinar uns papeis, mas parece que mesmo pagando e assinando,
Jorginho mandou umas fotos do Camilo com outra para a esposa
dele, mas por que mandou o matar, não tenho ideia, já que tudo
que estava no nome de Camilo iria para Jorginho!
— E o que deu errado?

99
— O que deu errado, o pão duro me adiantou 10% e no lu-
gar de me pagar o restante, resolveu me matar!
— A moça contou outra historia!
— Ela não precisa saber da verdade! – Jorge olhando serio
para o investigador, sem nem notar a cara de assustado de Pedro
ao seu lado;
— Quer dizer que você matou alguém, mas algo saiu erra-
do, Jorginho não quis pagar, e fez o que?
— Levei a amante dele refém, deixando a moça a olhar Jor-
ginho, achei que ela conseguiria, era só ele vivo, quando sai de lá,
o resto já estava morto mesmo, e fui a empresa de Jorginho, com
a amante e aquele Rodrigo, e peguei meu pagamento, mas quan-
do voltei, ele tinha uma arma a mão, nem vi ele me acertar,
quando levei o tiro, joguei o corpo para traz, ele pensou ter me
matado, começou a discutir com Márcia e atirou nela, pena que a
bala que me acertou não ficou dentro, mas enquanto eles discuti-
am, algo aconteceu do lado de fora, se viu aqueles lobos que a
moça sempre dizia ver, mas que eu nunca havia visto, Jorginho se
distraiu, quando viu alguns a porta, não tinha outra chance, de-
samarrei a moça e saímos pelo fundo da casa, lembro que derru-
bei uma vela ao sair, mas não paramos para olhar, antes de es-
tarmos na floresta aos fundos, o tiro doía, sabia que era culpado,
então no lugar de me apresentar, tentei fugir, não fugi pois não
aguentei, o resto sabe o que aconteceu!
— Esta a dizer que foi pegar o dinheiro, mas como pode-
mos comprovar isto?
— No carro, na porta da cabana, havia um 200 mil de reais,
mais alguns títulos ao portador, e algumas barras de ouro!
— E vai confessar assim? – Jorge olhou para Rodrigues e
falou;
— Melhor confessar o que se pode e sair vivo, do que con-
tar tudo e sair morto!
— Então tem mais!
— Lógico que tem, mas isto não vou falar!
— Certo, quem era o segundo serviço!
— Jorginho, mas antes ele tinha de assinar uns papeis, não
tive tempo de o fazer assinar!
100
— Certo, o deixou vivo para isto, mas quem é o mandante?
— Sem mandantes, eu assumo que iria o matar se ele não
tivesse me dado um tiro, mas sem mandantes!
— Mas por que faria, a promotoria não vai engolir esta? – O
Delegado;
— Eu vou afirmar para quem quiser ouvir que assumiria
na força os negócios de Jorginho!
Pedro olhou para Jorge;
— Não me falou nada disto!
— Não iria me deixar falar, e a historia não iria bater, pois
logo iriam achar pessoas dizendo que me viram entrar e sair das
empresas de Jorginho, com Márcia, em um horário que não deve-
ria!
— Já tínhamos isto, mas pensamos ser gente querendo
complicar a historia! – Investigador;
— Vão ter outras pessoas dizendo que comprei um carro
no inicio daquele dia, e que no porta malas tinha mais dinheiro,
armas, e muito sangue, somando o dinheiro, mais de um milhão
de reais!
— Então foi você que comprou o carro? – Investigador;
— É só fazer a acareação de quem me vendeu, mas chega-
riam nisto, apenas adiantando o serviço!
— E por que confessaria isto? – Delegado;
— Vocês me prendem, saio por bom comportamento em 6
anos, e daí sim, posso viver a vida!
— Escondeu o dinheiro pelo jeito?
— Não, nem o recebi ainda!
O delegado viu que o rapaz estava armando, quando o mi-
lagre é demais o santo desconfia;
— E quem a moça matou?
— Não sei, isto teria de perguntar para ela, não é minha
parte no serviço!
O delegado mandou por o rapaz na cela novamente, e foi a
frente do investigador e perguntou;
— Ele sabe o que aconteceu, pois montou uma cena encima
do que aconteceu, não é?

101
— Sim, ele a pôs lá pois ela declarou que estava lá, mas na-
da que temos indica que a moça estava na cabana!
— Por que?
— Você viu as pernas dele, saíram no mesmo sentido, só
tem o rastro dele no campo, ela não cortou-se em nada, ele esta-
va de jeans e se cortou, ela de meia calça!
— Então acha que ela não estava no local do crime, mas ele
esta protegendo alguém?
— O cabelo dela não bate com o encontrado no corpo de
Machadinho!
— Acha que esta relacionado?
— Delegado, sei que Moreira é seu amigo, mas é provável
que ele esteja por trás disto, ouviu o rapaz falar, vai contar a ver-
são que lhe faz sair vivo, mesmo que daqui a dez anos da cadeia!
— Mas não entendi por que disto?
— Moreira assume 45% das empresas de Comunicação de
Machadinho, acha mesmo que foi Jorginho que pediu para matar
Camilo?
— Não entendi?
— Alguns papeis amassados, no carro, induziam que al-
guém assumiria toda a metade da divisão de bens das empresas
da esposa de Camilo, provavelmente alguém tem algo assim as-
sinado, os papeis lá não estavam, ai junta a parte de Jorginho,
seria o dono dos meios de comunicação do sul do país!
— Acha que infiltraram ele nas empresas, ele já pretendia
matar Camilo?
— Acho que sim, temos parte das fotos da Chantagem so-
bre Camilo, que sacou 2 milhões em dinheiro, para pagar algo!
— Não achamos este dinheiro?
— Não, não achamos, o dinheiro que estava nos carros era
outro, não o que Camilo sacou, fiz todos os testes, não vieram das
fontes de Camilo!
— E acha que ele vai manter a historia?
— Se for Moreira por trás, ele sabe que o que declarar o
senhor saberá e o manda matar!
O delegado sorriu, o rapaz era esperto, mas não tinha como
perguntar para Moreira se fora ele que mandou, mas todos sabi-
102
am que ele que estava pagando o advogado da moça; Naquele fim
de tarde, o advogado de Sacha pediu para falar com Jorge, e os
dois conversaram na sala de conversas, separados por um vidro;
— Senhor, nossa cliente quer lhe ajudar!
— Diz para ela contar a verdade, que ela não estava lá, que
ela veio depois quando liguei para ela de um celular via satélite,
que deve ter ficado no chão em algum lugar daquele inferno!
— O que disse lá?
— Disse que ela entrou ao meu lado, contei que ficou lá
apavorada guardando os corpos enquanto ia pegar o dinheiro,
que Jorginho a imobilizou e já estava com a arma a mão quando
entrei pela porta, mas ela sabe que contei esta historia pois era a
versão que ela contou, não por outro motivo!
— Mas como ela pode afirmar que não esteve lá dentro?
— Ela sabe que não se cortou, que não tem rastros dela no
caminho que passei, e não fala nada dos lobos, deixa para o tri-
bunal se por acaso eles afirmarem algo assim!
— Certo, vai assumir a culpa?
— Se matei, e não quero que o mandante me mande matar,
qual a alternativa que tenho?
O advogado sorriu e falou;
— Mas no que vai dar isto?
— Não sei, pedi para meu advogado levantar a vida dos
mortos, a única coisa que não quero, é somar anos por crime
hediondo, já que matar aqueles seres em nada tem de hediondo!
— Voltamos a nos falar!
— Dá um auxilio para meu advogado, ele esta mais perdido
que cego em tiroteio na passagem de ano!

103
Dezesseis!
Os advogados entraram em um acordo das versões que iri-
am contar em júri, mas queriam fazer a reconstituição do crime,
mas como o lugar não estava mais lá, as coisas começaram a
complicar, a cada dia saia mais corpos daquele lugar, muito cor-
pos, era abrir um buraco, 50 cm e uma ossada, já tinham tirado
mais de mil ossadas do terreno quando o delegado pede para
falar com o Investigador;
— Que relatório maluco é este?
— Acabaram de me confirmar, dos 6 rapazes que se dizia
ter abandonado o trabalho, desde que começamos a 3 meses, 5
foram encontrados em covas, na parte mais ao fundo do lugar!
— Isto é o que não precisávamos!
— Algum maluco está se aproveitando disto senhor!
— Ou maluca, mas tem coisa que acontece naquele lugar
que não se explica investigador!
— Aquela história maluca de lobos, não vi nenhum quando
fui lá!
— Nem eu depois daquele dia, mas naquele, podia jurar ter
visto de almas penadas a lobos penados!
— Mas ninguém relatou isto!
— Se alguém falar, viramos piada investigador, eu vetei
por 3 vezes a reconstituição, pois não temos a casa, não temos
motivos para ficar lá a noite!
— Pelo jeito algo lhe impressionou lá?
— Sim, algo me impressionou naquele lugar! Mas isto me
fez lembrar de uma coisa, tem como determinar o que aconteceu
com a mãe da moça?
— De Sacha?
— Sim, o que aconteceu com ela?
— Não sei, a irmã fala que ela sempre foi estranha, mas a
mulher é maluca!
— Maluca?
— Sim, ela afirma que a sobrinha nasceu morta, e a irmã
não aceitou, foi a um sitio da família, e no dia seguinte apareceu

104
com a criança viva, 10 dias depois, a senhora voltou ao sitio e
nunca mais foi vista!
— Então me confirma mais uma coisa?
— O que?
— Pede gentilmente a senhora, a tia de Sacha, se ela não
cederia material para exame, primeiro para sabermos se a moça
é mesmo sobrinha dela, e para se acharmos o corpo da irmã ou
até da sobrinha, um bebe pelo que fala, sabermos!
— Verdade, pode haver ai um roubo de crianças!
O delegado já não sabia mais nada, cada dia que fuçava,
mais coisas estranhas aconteciam;
— Mais uma coisa, como foi encontrado os corpos dos ra-
pazes que havia sumido?
— Cortados a machadinha!
— Se descobrirmos quem esta fazendo isto, descobrimos
quem o rapaz esta encobrindo!
O investigador sai pela porta;

105
Dezessete!
O investigador corre atrás dos indícios, a cada dia que pas-
sava a historia no lugar de estacionar, aumentava, a lista de cor-
pos que passaram pelo IML, era imensa, todos no mesmo estilo,
retalhados, mas com a cabeça inteira, quando se tem crimes de
mais de 10 anos, não tinham o que fazer, mas neste período, de
até 10 anos, tinham mais de 400 corpos;
O investigador chega um dia ao local, logo cedo e vê um
tumultuo, um padre havia a pedido dos católicos locais vindo da
cidade para orar pelas pessoas que ali foram mortas, já era difícil
sem estas pessoas, ele evitou discussões, mas o padre da igreja
de Quatro Barras estava lá com os fieis, embora as terras oficial-
mente estivessem no município de Piraquara, eram muito mais
próximas de Quatro Barras, fizeram uma oração, o investigador
viu que os trabalhadores pararam para rezar, reparou nos olhos
deles, pareciam precisar de um apoio destes para continuar, o
senhor benzeu o local, e depois do meio dia retomaram as esca-
vações, a cada canto que se passava o cortador de mato, naquela
praga de mato com espinhos que se espalhava pela região, mais
deformações apareciam, o investigador estava começando a pen-
sar em ritual, pois não era algo de um dia, e sim de mais de 60
anos, naquela tarde seria o enterro no cemitério de Piraquara
dos 300 primeiros corpos, prepararam um local para isto, e toda
a imprensa estava a documentar o acontecido;

106
Dezoito!
Era perto das 20 horas e o padre Constantino, fechava a
igreja, em Quatro Barras, fechou as portas, as janelas, estava a
fechar a entrada pela casa paroquial, quando ouve uma risada
vinda da igreja, estranhou, pensou que alguém havia ficado para
dentro, a casa paroquial estava já fechada, e pela entrada lateral
acessou a igreja, sentiu o cheiro forte de enxofre, tampou o nariz
e entrou na cúpula da igreja, teto alto em arco, e ouviu a risada,
olhou para o altar e viu tudo escuro, as imagens todas pichadas
de negro, com os olhos furados, como se tivesse quebrado as
estatuas na altura dos olhos, ficando apenas o buraco, e viu aque-
la moça nua, parecia flutuar, sentada em um banco invisível, asas
estranhas as costas, pareciam feitas de laminas;
— Quem que quer desgraçar a casa do senhor?
A senhora abre os olhos e o padre recua, olhos avermelha-
dos, pareciam pegar fogo, a pela pareceu enrugar, e o que era um
corpo de uma mulher, passou a ser uma ossada com asas;
— O que é você, ser das trevas!
O senhor pegou o rosário e começou a orar, o ser chegou
ao padre muito rápido, e o levantou pelo pescoço, apertando o
mesmo, olhou nos olhos do senhor e se viu aquele ser absorver
algo, parecido com a alma do padre, apertou o pescoço e o padre
fechou os olhos;
A manha seguinte, quando as beatas chegaram para a pri-
meira missa, estranharam a igreja fechada, chamaram o chaveiro
e quando adentraram a igreja, viram uma grande cruz, fincada no
altar, e o padre nu, pregado na cruz;
Cidade pequena, a historia correu como pólvora pelas ruas,
e quando o Investigador chegou para trabalhar, não havia um
homem para cavar, estranhou, ligou o radio e foi ao município
vizinho, chegou lá antes mesmo de qualquer policial local, evacu-
ou o local, estava lotado de curiosos, a estas horas as imagens já
estavam na rede, e o senhor viu quando a policia local chegou
com o IML;
— Quem é o senhor?
— Investigador Santos! Apenas isolando a área!
107
O rapaz da cidade pegou a identificação e perguntou;
— Trabalhando no sitio que todos chamam de casa do de-
mônio?
— Ouvi isto, mas ali parece ser um caso de ritual, não de
demônio!
— E aqui, o que aconteceu?
— Não verifiquei ainda, mas estava a por as pessoas para
fora, se tinha vestígios de quem fez, devem ter apagado tudo,
pois o lugar parecia um formigueiro de gente querendo ver o
padre morto!
Os dois entram e o Delegado de Quatro Barras fala;
— Mataram um homem de bem, senhor investigador!
— Não duvido, mas porque não entendo, o que ganham
com isto?
— Vamos levantar, mas espero que não tenha ligação com
seu caso!
— Também espero, já chega os corpos aos montes que es-
tamos tirando de lá!
— Já tem um levantamento que uma quantidade final?
— Se os campos que descobrimos, cortamos o mato, seguir
a linha dos que escavamos, teremos mais de 6 mil corpos Dele-
gado!
— Muita gente sumida a anos pelo jeito!
— Isto que estranho, peguei os relatórios das cidades vizi-
nhas, muito pouco de pessoas desaparecidas, podem ter trazido
de Curitiba ou até de outros lugares!
— Acha que é um destes grupos de malucos?
— Não sei, mas um padrão de anos, sendo mantido!
— Qualquer coisa nos falamos!

108
Dezenove!
O dia foi sem ninguém para trabalhar e o investigador
olhou o local, desenhou no papel o que estavam escavando, onde
estavam as arvores, onde estavam os lagos, os corpos, a antiga
casa, o lago, e ficou a analisar o local, teve a sensação de que algo
o observava, se distraiu ao computador pessoal registrando,
quando olhou a sua frente novamente;
— Me assustou!
O senhor olhou uma senhora diante dele, olhou em volta e
viu os lobos que ele nunca havia visto e ouviu a senhora pergun-
tar;
— O que faz sozinho em minhas terras?
O investigador olhou a senhora, e pensou em perguntar al-
go, mas viu a sua volta os lobos o cercando, sentia o cheiro de
cachorro molhado, olhou para a moça novamente e falou;
— Suas terras, você que os matou?
— Por que não, eles me devem suas almas, todos estes, se-
res impuros, seres do mal, acha que alguém aqui não mereceu a
morte?
— Havia crianças!
— Você acredita que algum humano é bom?
O investigador olha em volta, vê almas se aproximando, es-
tavam durante o dia, ele as via translúcidas, um medo lhe atra-
vessou alma e ela falou;
— Um a mais para minha coleção!
O investigador viu a moça jogar seu computador lateral-
mente, ela pegou no rosto do senhor, que viu ela mudar de feição
e apenas torceu o pescoço e o senhor caiu morto, a senhora
olhou os cães, um arrastou o corpo, e bem ao fundo, outros três
cavavam com as patas, e depois de poucos centímetros, um deles
arrastou o corpo ao buraco e o cobriram, a moça olhou em volta
e vendo a chegada de mais pessoas ao fundo, só olhou os demais
e pareceram sumir ao ar;

109
Vinte!
Delegado Siqueira estava a delegacia quando um rapaz
chega a ele e fala;
— Temos um problema delegado?
— O que aconteceu?
— Acharam o corpo de Santos morto e enterrado hoje, mas
não estava em pedaços, mas com o pescoço quebrado!
— Quando foi isto?
— Tem de ter sido hoje, pois ele foi o primeiro a chegar no
caso do padre morto em Quatro Barras!
— Que caso, não me passaram nada!
— O delegado de lá quando tiver algo lhe passa, mas o pa-
dre que benzeu as terras ontem, pareceu morto hoje, pregado a
uma cruz em sua igreja, Santos foi quem isolou o local, ele foi de
lá para a chácara, mas como a maioria não apareceu hoje, por
causa do caso do padre, ele deveria estar sozinho, e foi morto, ele
pode ter descoberto algo!
— Ou estão apenas matando mais um, mas este caso esta
saindo de nossa alçada, mas o que esta acontecendo que não ve-
mos?
— Não sei, amanha começa o julgamento em Piraquara,
sabe que vai ser uma guerra, Santos era uma peça chave nisto!
— Não gosto quando matam dos nossos assim!
— Nem eu!
Siqueira pega o celular e liga para Moreira;
— Moreira, precisamos conversar!
— O que houve amigo Siqueira?
— Acabam de matar Santos, em Piraquara, quero saber
quem foi!
— Mas por que o mataram?
— Não sei, poderia me dizer, ou não?
— Amigo, não estou envolvido!
— Então quem esta, pois Jorginho esta morto, o rapaz esta
preso, a moça, mantenho presa mesmo os advogados fazendo de
tudo para a tirar daqui!
— Vou verificar para você!
110
— Espero que não tenhamos de virar inimigos, não gosto
de investigadores que só levantam os fatos mortos assim, sem
testemunha, sem nada!
Siqueira pega o carro e se manda para Piraquara, não ia lá
muito, olhou em volta, viu os lobos, os rapazes que escavavam
viram também, Siqueira pediu para ver onde estava o corpo, de-
pois foi olhando onde geralmente o rapaz ficava, olhou o local e
viu por sorte o computador pessoal do investigador, tela quebra-
da, mas o pegou e dispensou o pessoal, isolaram a área e falou
para os policiais;
— Isola o local, vamos retomar isto depois do julgamento,
pode demorar até um mês, mas ninguém esta com pressa aqui!
O rapaz isolou o local e o Delegado voltou para a Delegacia
e adentrou a região de investigadores e olhou para Cardoso e
perguntou;
— Cardoso, consegue ver o que foi acessado por ultimo, ou
se tem algo neste computador?
— Achou algo?
— Não, mas tenho de me agarra em algo!
O rapaz pegou o computador e o delegado foi dar as ins-
truções para o dia seguinte;

111
VinteUm!
Amanheceu um dia normal, mas as noticias traziam as du-
as mortes do dia anterior, o investigador do caso que julgariam
hoje, e a do padre, da cidade vizinha, em algo que parecia um
ritual, Jorge estava calmo demais, e isto deixava todos nervosos,
estavam a iniciar o processo, seria um dia lendo o inquérito, algo
que saiu de algo palpável, mas estavam a julgar o rapaz por um
crime, associado a um segundo, o primeiro não tinham provas, o
segundo, uma confissão, a acusação estava achando que em 3
dias teriam a condenação, o próprio rapaz confessou, então que
problemas teriam;
Todos posicionados, mês de Agosto, lembrou o rapaz
quando entrou em férias, no começo do ano, queria só ver os
parentes em Florianópolis, não saíra da cidade, uma briga atrás
da outra, e agora estavam ali, diante do tribunal, olhou a moça e
lhe sorriu, piscou para ela, a mesma achava ele o mais maluco
que conhecera, alguém que não tinha medo de nada, ele parecia
pronto a morrer;
— Todos de Pé!
O juiz virou-se para os dois e perguntou a cada um o que
considerava, Jorge afirmou ser culpado, a moça inocente, um
tumultuo no fundo se fez, o juiz pediu ordem e começaram a ler o
processo, com todas as demais mortes, Jorge não assumiria as
demais mortes, pois ele não teria como matar alguém quando
tinha 2 anos, ou mesmo muito antes disto, se não fosse de rir,
sabia que queriam com aquilo deixar parte aberto, para se algo
acontecesse, tivessem como ligar ao caso, ele ouviu os relatos, ele
estava ainda tentando entender a historia, nos jornais locais
anunciaram o inicio do julgamento, e no fim do Jornal Estadual, a
moça do Tempo falou;
— Os meteorologistas informam que se formou sobre o
oceano uma grande área de instabilidade, deve chover forte nos
próximos 3 dias, o vento vem do mar, então a temperatura sobe
um pouco, mas com muita chuva, céu carregado!
Em Piraquara, o tempo começa a fechar, pleno meio dia, o
céu escurece, a chuva não cai, mas a nuvem baixa e negra enco-
112
bre a cidade, as ruas começam a surgir vindos do cemitério, al-
mas translúcidas, as pessoas olham aquilo, e começam a se reco-
lher em suas casas, alguns olhavam incrédulos aquilo, um carro
caminhava pela estrada que ligava Piraquara a Quatro Barras, e
viu numa reta, os imensos lobos a tomar a estrada, parou o carro,
quando foi contornar, viu outro lhe acertar, ficou estático vendo
os mesmos a passar por eles, deveriam ser mais de 3 mil deles,
depois viu uma grande leva de almas, o céu estava negro, mas o
vento parecia ter parado, a nuvem estava estática sobre a região,
olhando para a serra não se via, apenas as nuvens baixas e ne-
gras;
Jornalistas que cobriam o evento, começam a olhar as al-
mas a rua, recuam para dentro, olham as filmagens, não estavam
lá, as pessoas se trancam as casas, fecham as portas dos comér-
cios, quando veem lobos a tomar a cidade, a quebrar coisas, a
rosnar para todos, embora não tivessem atacado ninguém, esta-
vam a passar e tomar a pequena cidade de Piraquara;
O juiz estava a ler quando viu os repórteres recuando de
costas, foi chamar a atenção que queria silencio, mas pareceu que
suas palavras não saíram, ele fixou os olhos a porta, e Jorge não
resistiu e olhou para onde o senhor olhava, lá estava uma leva de
espíritos, olhou pelas janelas, negro do lado de fora, olhou no
relógio de Pedro, 15 horas, muito longe da noite, Sacha olhou
para ele e sorriu;
Jorge olhou para os espíritos e viu a mãe da moça entrar
pela porta, os demais recuaram, ela veio como deveria ser sua
aparência, muito pouca carne, uma pele junto aos ossos, dentes
que chamam a atenção pela podridão, os olhos vermelhos e os
ossos todos a vista, ou quase a vista, ela olha o juiz e fala;
— Senhor, preciso falar com o rapaz!
O juiz não falou nada, os seguranças recuaram, se viu duas
janelas se despedaçar e adentrarem por cada um dos lados dois
lobos que olharam para Jorge;
Jorge olhou o juiz que olhou-o como se pudesse, ele levan-
tou-se e perguntou;
— O que quer Flavia Guerra!

113
Os demais viram que Jorge chamou o espírito pelo nome, o
Delegado ao fundo via aquilo, o rapaz não recuaria nem assim,
quem era ele;
— Você tinha de ter ficado lá, minha filha o tirou, tenho di-
reito sobre sua alma!
— Conta outra, o que quer, não é de escândalos ou apari-
ções assim?
— Você me desafia, desafia os demais, mas tenho um pro-
blema!
— Se você tem só um, espere, eu tenho alguns!
— Tem uma alma gritando lá, e não sei onde você pôs a ca-
beça, não dá mais nem para descansar!
— Por que não pede aos lobos?
A senhora não respondeu, mas os lobos chegaram perto de
Jorge e este viu que não estavam ali para o agredir, e sim, prote-
ger!
— Podem ir amigos, não tenho medo dela!
Os lobos se olharam e se viu os dois lobos fazerem os espí-
ritos recuarem as costas, eles foram saído por onde entraram, e
ficou ali a senhora e Jorge;
— De quem você fala?
— Um espírito sem cabeça, que fica gritando que não é jus-
to, que não queria morrer, que não vai mais olhar para outra,
coisa chata!
Jorge sabia que a senhora não apareceria apenas por isto,
estava a planejar algo;
— Sei que não é isto, o que quer a mais?
— Sabe que vou esvaziar esta cidade, eles me tiraram al-
guns, agora vou repor eles com sobra!
— E por que esta aqui, se vai fazer isto, não precisa de mim
para isto!
— Fiz uma burrada, e algo mudou!
— Esta falando do que, eu não vejo noticia, estou preso
desde aquele dia que deixou a policia sair!
— Esta foi a burrada, minha filha nunca mais foi lá!
A senhora olha a filha e pergunta;
— Por que nos largou?
114
A moça sorriu, estava presa, mas não iria mesmo, nunca
foi, e a moça perguntou;
— O que quer mãe, sabe que não somos chegadas?
— Sua alma, esta na hora de me devolver!
Jorge entendeu, não foi só por ele que ela fez aquilo, mas
não entendeu por que, ou achou entender, chegou ao lado da
moça e lhe estendeu a mão, ela estendeu a dela e olhou para a
mãe e falou;
— Sabe que não é uma boa hora!
— Vocês dois estão juntos, por isto ele a tirou de lá, tentei
primeiro com aquele Machadinho, lhe matar, depois com aquele
Jorginho, mas toda vez que lhes olhava com seus olhos azuis, eles
não conseguiam, mas me deve sua alma!
— E por que acha que não a terá mais cedo ou mais tarde?
– Sacha;
— Por que você se uniu a um ser da luz!
Jorge olhou para a moça, não entendia disto, mas ser da luz
ele não era, mas neste momento se viu mais espíritos vindos do
lado de fora, se ouviu o uivo de alguns lobos, alguns ganidos, co-
mo se algo os tivesse ferindo, Jorge puxou a moça as suas costas,
os seguranças atiraram em alguns espíritos e se viu os mesmos
pularem nos seguranças os segurando o pescoço com as duas
mãos e torcendo, se viu os presentes se reunirem em um canto,
Jorge recuou no sentido do Juiz, a senhora estava vindo junto, se
ouviu gritos e tiros, gritos e mais gritos, a cidade começou a ver
os espíritos invadirem as casas e matarem os habitantes, depois
queimar as casas;
Jorge recuou e viu o Juiz as costas abrir uma porta, não en-
traram, mas Jorge olhou a senhora e falou;
— Acha que ganha o que com isto?
— Força para lhe enfrentar!
— Você não tem como me enfrentar! – Jorge;
Alguns poucos ainda estavam de olho no rapaz, ele olhou a
senhora que o pegou pelo pescoço, ele sorriu e aquele sorriso
pareceu queimar a mão da senhora que o largou, ela viu a mão
queimada, espíritos não se queimam, ela viu Jorge chegar até ela
e falar;
115
— Volta para seu buraco Flavia!
— Eu não vou voltar!
Jorge olhou a senhora e viu ela lhe erguer, ele tocou as
mãos dela que o erguiam pelo pescoço e falou;
— Vot în iad, Flavia! — (Volta para o Inferno em Romeno).
A senhora viu suas mãos ficarem translúcidas e não conseguirem
segurar o rapaz, e sentiu o corpo se desfazendo, os demais olha-
ram em volta os espíritos ficando translúcidos, e pareceram se
desmanchar no ar.
Olhando a cidade, mesmo com os sumiços, meia cidade
queimava, muitas mortes.
Jorge deu a mão para Sacha e sentou-se novamente e se viu
o Juiz sair de dentro e falar;
— Vamos adiar este julgamento!
Se viu os seguranças mortos, e o delegado olhou o rapaz e
falou chegando perto;
— Ela que você defendia?
Jorge riu e olhou para ele estendendo os braços a frente do
corpo par ao algemarem, voltaria para a delegacia;

116
VinteDois!
O trabalho na pequena cidade foi imenso, a noticia se espa-
lhava, muitos achavam irreais as historias, mas quando no final
de 3 dias a policia anunciou a morte de mais de 6 mil pessoas na
cidade, naquele dia, o mundo olhou para o local, não estavam
mais falando de suposições, os dias seguintes foram tensos, Jorge
foi transferido para a delegacia, aguardaria a nova data de julga-
mento, e estava a sua cela quando o delegado e um rapaz da
promotoria o chamaram para conversar, era mais um depoimen-
to, mas Pedro não estava ali, mas o rapaz não achava mais preci-
so aquilo;
— Podemos conversar Jorge? – Fala o delegado;
— Sim, quem é o rapaz?
— Um dos promotores que iriam lhe condenar!
Jorge mede o rapaz e fala;
— Bem vindo ao barco! – Olha para Siqueira e fala – Mata-
ram mesmo o Silva?
— Sim, mas o rapaz precisa lhe fazer algumas perguntas?
— Se souber responder?
O rapaz olhou os papeis e falou;
— Senhor Jorge Rodrigues, sabe que aquela moça que esta
na outra sala não é Sacha Guerra!
— Não sei do que esta falando?
— Que fizemos um teste genético, e a menina não é sobri-
nha da moça que a criou, uma Guerra!
— E quem é ela?
— Não sabemos, isto que temos de descobrir!
— O problema é que vocês não vão acreditar na verdade, e
o que adianta Promotor, no fim, podem a prender, mas não tem
prova!
— E quem seria ela?
— Sacha Guerra!
— Não nos ouviu rapaz!
— Ouvi, mas todos falam de almas, de Deus, de demônio,
mas estes não cabem nas leis, ela é o espírito de Sacha Guerra,
em que corpo, somente a mãe dela sabe, quer ir lá perguntar?
117
— Mas é maluquice!
— Maluquice, eu falei palavras que não sei o significado,
enfrentei um ser que desculpe, o cheiro no lugar já era de morte,
mas a moça cheira a enxofre, e me diz que não aconteceu?
— Não, sei que aconteceu, estava lá, mas como podemos
culpar alguém por isto?
— Seria você ser culpado por algo que sua mãe fizesse
quando tinha poucas horas de vida, mas sei que vocês não pen-
sam, apenas condenam!
— Não somos assim!
— Senhor, o trabalho é difícil, não sei o que aconteceu, mas
algo grande esta retido naquela terra, vocês que estão soltando,
trazendo os corpos a cidade, quanto mais espalhar, pior vai ser!
— Por que diz isto?
— Não sei, não faz sentido, por mais que ache que sei algo,
a única coisa que sei é que escolhi as ferias erradas este ano, e
isto me trouxe aqui, mas se tivesse feito como qualquer outro, no
lugar de ir ver a família, ter ido me divertir, não estaria aqui, to-
dos sabem disto, mas como os meus colegas de trabalho, os anti-
gos falavam, sou teimoso, não tenho medo de morrer por uma
ideia, não tenho medo de quebrar um braço, de apanhar, de ser
preso, isto me difere de vocês, aquele ser se alimenta do medo, só
pode ser isto, quem teme, é que algo deve, algo o liga a vida, eu
não tenho isto, e se tiver, ainda não achei!
— Acha que estamos mesmo lidando com algo maior? –
Delegado;
— Eu me sinto diferente naquelas terras, alguém fala por
minha boca, isto foi estendido a cidade de Piraquara quanto a
senhora de algum jeito conseguiu chegar ao local, mas não en-
tendo disto, isto é coisa de quem acredita em Deus, eu nunca
acreditei!
O Promotor anotou algo e perguntou;
— Acha que a moça não tem culpa de nada?
— Vou responder com uma pergunta, quantas mortes
aconteceram no local, depois que nos prenderam? Exatamente
igual, sei que estão tentando dizer que é uma seita, que fazemos
parte, mas o senhor só vai entender, se tiver coragem de passar
118
uma noite lá, mas se tiver medo, não estará aqui amanha para
contar, então não nos adianta de nada, Promotor!
— E por que não se manifestam todo dia?
— Promotor, aqui nesta sala, os 3 viram já estas coisas,
mas quem não viu, não aceita, não pretendo ser preso como de-
mente mental, não vou afirmar nada disto em um tribunal, não
existem leis que me protejam para falar a verdade, pois o que vi
foi policiais morrerem diante de um juiz, e nada foi feito, nada
mesmo!
— Mas não sairá livre!
— Não pretendo sair livre, mas não pretendo estar por
perto, não daquilo, se a própria filha tem medo do lugar, por que
eu ficaria por perto!
— Mas não vai mudar a sua defesa?
— Meu advogado abandonou o caso, acho que esta se tra-
tando num psicólogo, soube que a promotoria pediu a mudança
do julgamento para Curitiba, vocês estão com medo, isto a atraíra
para vocês, mas não posso fazer nada!
— Mas não vai mudar?
— Não, assumi exatos 5 mortes, mas posso vir a assumir a
de Jorginho, se a moça afirmar a verdade, de que não estava lá,
não sei a defesa dela, havia esquecido da moça, 7 mortes, mas
não mais que isto!
— E o que vai relatar do acontecido no tribunal a 3 dias?
— Eu nada, não vi nada além do que um juiz, dois promo-
tores, um delegado e alguns repórteres viram, por que eu seria
ouvido, já que sou o de menor reputação para falar!
— Mas vão pedir para que fale!
— Falo depois dos demais, minha versão vai bater com as
dos demais, não caio nesta arapuca Promotor, vocês não falam,
eu falo e passo por maluco, dai jogam nas minhas costas mais
mortes, conheço como funciona, estava me formando em Jorna-
lismo, e adoro este tipo de caso!
O Delegado olhou o Promotor, não havia lhe passado a
mente que estavam pedindo o depoimento do rapaz referente o
caso, mas ninguém havia se posicionado, nem a policia declarou
o que estava nos jornais, não tinham provas;
119
— Mas se lhe chamarem a depor?
— Quer que fale a verdade, sabe que não é uma boa ideia!
Jorge foi a sua cela e no meio da tarde o carcereiro disse
que havia alguém querendo falar com ele, estranhou, não espe-
rava ninguém, mas quando viu Rodrigo ali perguntou;
— O que faz aqui rapaz?
— Preciso falar com você!
Jorge olhou em volta e falou;
— Sabe que nem tudo pode ser falado?
— Sim, mas o que esta precisando, vi que o seu advogado o
largou, sei que não quer que apareça, mas quer ir a um júri sem
ninguém?
— Rapaz, assume o negocio, com calma, sem correria, co-
mo estão as coisas?
— Proteção dobrada, a segurança de Jorginho veio toda me
proteger depois que souberam da morte, mas você esta assu-
mindo a morte e eles estão estranhando!
— Primeiro rapaz, não deveria estar aqui, não ajuda nada,
se quer pagar um advogado, aceito, mas sem aparecerem, por
ultimo, sabe que fui eu que matei, por que negaria?
— Mas pensei que iria assumir?
— Vou, e continuo de olho em você, mas se cuida e mantêm
as coisas, como estão as entregas!
— Parece que os atrasos acabaram!
— Fazer o que, Jorginho não pagava e queria pontualidade,
vai ver que em um ano o negocio estará mais lucrativo, o dobro
no mínimo, e com calma, quando sair daqui, pode ser daqui a 6
ou 10 anos falamos!
— Acha que o condenam?
— Eu estou forçando a condenação, mas dentro de uns me-
ses uma moça o vai procurar, minhas mãos lá dentro!
— Certo, sabe que você me fez passar o maior medo da vi-
da!
— Teria de ver a cara do Juiz a 3 dias, isto sim foi medo!
— Acha que vai acontecer de novo?

120
— Sim, mas quando marcarem o julgamento, deixa toda
nossa estrutura, o pessoal importante, nos dias do julgamento
longe da cidade, até você saia daqui um dia antes!
— Por que?
— Não discute rapaz, apenas faz!
O rapaz olhou para o policial atrás, o tempo havia acabado
e se despediu e saiu, foi a sua cela, e viu o delegado entrar nela,
tiraram parte dos presos de sua cela, era um local especial;
— O que esta aprontando rapaz?
— Em seis anos falamos delegado!
— Acha que sai vivo?
— Se morrer lá, Delegado, prepara-se para uma guerra no
dia seguinte, das grandes, não das pequenas!
— O que Rodrigo queria?
— Apenas me informar como as coisas estavam!
O delegado olhou atravessado;
— Do que esta falando?
— Ninguém lhe falou ainda, ou esta querendo confirma-
ção?
— Confirmação!
— Eu fiz um acordo com Moreira, e assumi tudo que Jorgi-
nho tocava, o que acha, que aquilo que falamos antes valia?
— Mas Moreira não falou nada!
— Sabe que ele só fala o que pode, Siqueira, mas eu aqui
dentro, é um risco para Rodrigo, mas se ele morrer ou eu, terá
uma guerra, e não das pequenas?
— Mas os rapazes de Jorginho nunca foram muito de de-
fender o lado do chefe!
— Mas não são mais rapazes de Jorginho, com salários
atrasados, como pontos desprotegidos, com armas antigas, agora
são homens bem pagos, bem armados e bem mais dispostos a
manter as coisas como estão!
— Você ficou aqui quase 4 meses detidos, por isto não me
parecia real o que diziam as ruas!
— Nas ruas não sei o que falam!
— Que o Retalhador assumiu os negócios de Jorginho!

121
— Melhor que o Jorge assumiu os negócios de Jorginho! –
Riu Jorge;
— Vai continuar a defender a moça?
— Enquanto Moreira estiver pagando a Promotoria, sim!
O Delegado sorriu e terminou;
— Sabe que estão pedindo pena máxima!
— Sei, isto quer dizer, 25 anos, um quarto de pena por
bom, comportamento!
— Sabe que você falando assim, eles ficam com mais medo!
— Delegado, avisa o seu pessoal, o que avisei Rodrigo,
quando do meu julgamento, prepara o pessoal, vai acontecer de
novo!
— Acha que a moça viria a uma cidade maior?
— Ela pelo que soube, somou mais 6 mil almas em sua co-
leção, ela tinha o que, 400 novas que tinha conseguido na ultima
década, e toma uma região inteira, ela vai tentar, se tentar, se
prepara!
— Pensei que estava falando de negócios com o rapaz!
— Ele vai me conseguir um advogado, e aproveitei para
passar as instruções!
Jorge viu que alguns presos prestavam atenção na conver-
sa, não sabia até quando a partir deste momento seria seguro
ficar ali, pois numa cela daquelas deveriam ter varias pessoas
que deviam favores a Moreira, o matariam apenas para agradar o
senhor;
O rapaz acompanhou o olhar do Delegado, discretamente, e
soube até de onde viria à ameaça, mas não recuaria, sabia que
teria de chegar ao seu julgamento, e quando naquela noite os
demais começaram uma briga dentro da cela, sabia que o objeti-
vo era ele, mas observou sem recuar encostado na cela, um dos
presos veio para seu lado, Jorge manteve a calma, olhou os olhos
do rapaz, que falou;
— Vou lhe furar, Retalhador!
Jorge sentiu como se algo tomasse seu corpo, aquilo estava
cada vez mais vivo nele, sentiu o cheiro de enxofre, sentiu a moça
em outra cela;

122
O rapaz avançou com um estilete, os demais pararam um
momento naquele movimento que para Jorge pareceu lendo,
segurando a mão com estilete, a torcendo para traz, se ouvindo
os estalo do punho quebrando, o rapaz falando lentamente, o
estilete mudando de mão e Jorge passando na garganta do rapaz,
e o empurrando ao lado, agora com o estilete na mão, olha cal-
mamente os demais, nem desencostara das grades as costas, um
outro veio para cima, Jorge segurou o rapaz pelo pescoço, o rapaz
lhe acertou o braço com um estilete, encaixou o estilete no om-
bro do rapaz, soltando a outra mão, pegou a cabeça com as duas
mãos e a torceu, e o rapaz caiu morto, com o pescoço quebrado,
enquanto caia ele retirou o estilete do ombro do rapaz e os de-
mais recuaram, uma coisa era dizerem que ele era o Retalhador,
outra coisa foi ver a rapidez que ele matara os dois;
Os policiais chegaram, Jorge olhou o rapaz no chão e jogou
o estilete fincando no rapaz ao chão, já passara por isto antes,
mas agora pareciam realmente eles queriam o matar, antes não,
soube que Moreira teria de o respeitar, pois estava muito fácil
para ele;
Os policiais tiraram os mortos, dois rapazes quebrados, os
que eram antigos rapazes de Jorginho, mas para ele ficou claro
nisto quem era quem ali, no fim daquele dia, Jorge sentou-se ao
fundo e viu um rapaz de Jorginho chegar a ele e falar;
— Sério que assumiu tudo?
— Sabe a resposta rapaz, fazia o que, quando lhe pegaram?
— Acabei metendo-me em uma briga em um bar, sabe
quando uma mulher lhe faz perder a cabeça!
— Sei, mas acalma, vamos começar a mudar as coisas!
— Mas todos achavam que era apenas uma peça de Morei-
ra?
— Ele achava que podia comigo rapaz, mandou apagar Ro-
drigo, e depois Jorginho, mas por que queria assumir tudo!
— E o que aconteceu?
— Jorginho tinha um defeito que não conseguia aceitar, se
fazia o trabalho e ele não pagava direito, este foi o erro dele co-
migo, mas o resto, me defendo bem, nem que apanhando!
— E que papo maluco foi aquele com o delegado!
123
— Não sei quem é quem ainda aqui rapaz, sou novo na ci-
dade, embora os meus documentos indiquem um rapaz que faz
faculdade a mais de 3 anos na cidade!
— Vem de onde?
— Europa, passei alguns anos em Paris, depois em Portu-
gal, agora Curitiba!
— Mas para quem trabalha lá?
Jorge olhou em volta, não responderia diretamente;
— Máfia Russa!
— E veio fazer o que aqui?
— Não vim, me pegaram em uma armação quando passava
pela cidade, era para estar em Florianópolis!
Jorge vê que alguns tinham celulares na cela, ele não estava
querendo se comunicar, não até aquele momento, mas estava
ainda querendo complicar-se, sentia que mudava por dentro, um
ser diferente se apresentava, muito mais cruel que o normal;
Os rapazes de Jorginho passaram a falar com ele, os de Mo-
reira estavam receosos, provocaram para o matar, e agora o ra-
paz sabia que o delegado teria de ter medo dele, por isto mudou
tudo em sua mente; Na manha seguinte o advogado que Rodrigo
mandou se apresentou, uma linda mulher de olhos verdes;
— Não gosto de lhe defender rapaz, mas cumpro ordens!
— Lhe fiz algum mal?
— Tenho uma amiga que chora ainda por um rapaz que
conheceu um dia em uma festa, e é encontrado esquartejado em
uma mala em outro!
— Então vai embora moça, não preciso de esmola!
— Não disse que não iria lhe defender!
— Não, apenas disse que já me considerava culpado por
coisas que não fiz, mas fala para Rodrigo que preciso falar com
ele!
— Estão lhe acusando de mais duas mortes!
— Estes é fácil, legitima defesa, mas dá o recado para Ro-
drigo!
Jorge se levanta e volta a cela, a moça viu que o rapaz não
fora nada gentil, mas sabia que teria de defender o rapaz, odiava
aquilo;
124
Ao inicio da tarde, Rodrigo apareceu por lá e olhou em vol-
ta;
— Parece que não gostou da moça!
— Rodrigo, preciso de algumas coisas e vai conseguir!
— Certo, o que?
— Preciso de um relatório referente aos negócios de Mo-
reira, um celular, e gente para agir a qualquer momento!
— O que vai fazer?
— A cada tentativa de me matar, vou dar o troco!
O rapaz sorriu e falou;
— Pensei que não iria mostrar as garras?
— Ontem dois morreram para mostrar que não sou fácil
matar!
— E quer para quando?
— Ontem, outra coisa, consegue advogado para cada um
dos rapazes que já trabalhavam para Jorginho, vamos formar
uma família, defendendo os nossos, entendeu?
— Mas alguns não temos como inocentar!
— Sei disto, mas vamos os defender, vamos mostrar para
os nossos que não largamos a sorte, entendeu!
— Entendi, quer outra advogada?
— Não, mas quem sabe ela vem preparada da próxima vez!
— Certo, pelo jeito gostou dela!
— Não, mas ela conhece alguém que desconheço, alguém
que esteve como a outra vitima, encontrada na primeira mala, se
informa, vamos jogar merda no ventilador!
— Certo, algo mais?
— Não, mas para todos os que estiverem em risco, sabe
que pode encher os Juízes de petições!
— Vou fazer!
— Por ultimo, não confia no pessoal dos direitos humanos
destes presídios, tudo a serviço de Moreira!
— Sabemos disto, mas vou providenciar!
Jorge volta a cela e pouco depois foi chamado para depor
sobre o acontecido;
— Senhor Jorge Rodrigues, pode nos responder algumas
perguntas?
125
— Sim, o que gostaria de saber?
— O que aconteceu lá dentro?
— Fácil, o delegado soube que estava assumindo o lugar de
Jorginho, comunicou seu amigo Moreira, e alguém forneceu esti-
letes, o mesmo pessoal que fornece celulares, e eles tentaram me
matar, mas não estou aqui para morrer!
— Que absurdo! – Siqueira;
Jorge olha para o Delegado e fala;
— A partir de hoje acabou a ajuda, a cooperação, até minha
defesa eu vou mudar, avisa os Promotores, se quer me matar,
pensa da próxima vez! – O delegado olhou serio para Jorge e fa-
lou;
— Acha que ganha o que com isto?
— Estou pedindo para minha advogada me transferir para
Piraquara, e para insistir no julgamento lá!
— Você é maluco!
— Lhe respeitava Delegado, agora, esquece o respeito, não
gosto de covardes que mandam matar e se escondem em um
titulo, e se eu morrer, todos saberão que foi você, cuida dos seus,
pois eu cuido dos meus!
— Esta me ameaçando?
— Vai fazer o que, me prender? – Jorge riu olhando para o
Delegado, estava a sair da defesa, era cômodo quando ele ficava
nela, e quando a advogada chegou na manha seguinte, o delegado
viu que todos os presos que eram tidos como pessoal de Jorgi-
nho, começam a se denominar por gente do Retalhador, e cada
um tinha um advogado, alguns rapazes de Moreira viram que as
coisas estavam mudando;
— Pensei que tinha me dispensado! — A moça;
— Desculpe, não estava numa manha boa, não gosto de
tentarem me matar, mesmo que eles tenham razão para isto!
— Qual o caminho que quer tomar?
— Rodrigo mandou algo?
— Este livro impresso as pressas!
— Moça, eu nunca conheci a segunda vitima, que me acu-
sam ter matado, mas principal, quero que peça minha transfe-
rência para Piraquara e insista que lá é a instancia do crime que
126
estou assumindo, já que nada do primeiro fora a mesma forma
de execução me liga ao caso!
— Chama de só aquele esquartejar preciso!
— Sim, pede para o IML exatificar com o que foi feito os
cortes, dos corpos!
— Mas já estão enterrados!
— Eles não gostam disto tanto quanto eu moça, e por ulti-
mo, eu vou mudar meu depoimento!
— Por que?
— Moreira era o mandante da morte de Jorginho, mas es-
tava o mantendo fora disto para manter minha vida, se ele me
mandou matar sinal que não temos mais acordo!
— E como vai ligar ele ao caso?
— Aciona o Delegado e pergunta como eles foram parar lá
naquele dia!
— Ele vai dizer que foi uma denuncia anônima!
— Então pede a gravação, pois não foi!
— Como sabe?
— Moça, pede para alguém exatificar aquele lugar por tele-
fone e entendera que não vão chegar ao lugar, é impossível acer-
tar a estrada certa apenas por um relato telefônico, alguém dese-
nhou um mapa para ele, senão não chegava lá!
— O que mais?
Jorge pega um papel no bolso e passa para ela e fala;
— Pede para Rodrigo esvaziar este lugar!
— Mas o que tem lá?
— O pagamento de Moreira pela morte de Jorginho!
— Mas vai dizer que é inocente?
— Calma, outra coisa, pede para exatificarem as ultimas
mortes, pois o que me liga a primeira, me ligaria as ultimas, e
estava preso moça!
— Verdade, mesmo método, mas destas escapou!
— E pede para exatificarem a de qualquer corpo, indepen-
dente da idade, que tirarem do buraco, fora a do investigador,
que acho que foi o pessoal de Moreira que matou!
— Por que?

127
— Não sei, mas ele chega primeiro em Quatro Barras, vê
algo e morre no mesmo dia, mas não pelos métodos da fazenda,
pareceu mais o método da moça que apareceu no tribunal!
— Vai falar disto?
— Não, mas pede a comparação da morte dos policiais com
a do investigador!
— Mas assim não se liga Moreira ao caso!
— Por ultimo, se tiver filhos, mãe, tira da cidade, vai pegar
fogo moça!
— Certo, veio a briga, os seguranças de Jorginho agora se
denominam seus seguranças, não entendi o que mudou?
— Métodos, somos uma família, e vamos se defender como
uma família, e não como covardes, e para cada rebelião que acon-
tecer como a de ontem aqui, aciona os policiais e os delegados,
quero que eles paguem pelas mortes!
— Não entendi?
— Moça, alguém pôs os estiletes e facas para dentro, então
só temos uma alternativa, os policiais!
— Certo, mas vão odiar tudo isto!
— Vão, e me imprime uma copia de meu ultimo depoimen-
to, não quero entrar em contradição!
— Mas por que Rodrigo pediu para conhecer minha amiga?
— Por que alguém fez aquilo, e esta pessoa vai tentar apa-
gar tudo no caminho, não estamos falando de gente de bem!
— Certo, a proteger, mas por que?
— Ela estava na festa, ela deve ter visto a moça que acabou
levando o rapaz para outro lugar, e o matando!
— Mas se não lembrar de ninguém?
— Pode não lembra, mas não vão pensar nisto, pelo menos
a defendemos, começo a achar que a historia é bem mais profun-
da do que falamos! – Jorge volta com os papeis, alguns rapazes
lhe agradecessem os advogados, o rapaz estava virando um líder
lá dentro, mas a cara dos policiais não estava boa. Jorge chegou
perto de um e o chamou perto;
— Algum problema?
— Dizem que vai dar parte de nós?

128
— Somente quando algo como ontem acontecer, não vou
morrer quieto!
— Mas sabe que o delegado esta uma fera!
— Não se metendo rapaz, não tem problema, ele defen-
dendo Moreira esta encobrindo a morte do Investigador Silva,
vocês é que deveriam estar se defendendo!
— Acha que foi Moreira?
— Foi, mas por que ainda não sei, a única chance que tive-
ram, acha que é certo matar qualquer uma assim?
— Não!
O rapaz vendo que outro chegava se afastou;
— Estamos de olho em você, Retalhador!
— E eu em você, ou acha que não! – Jorge para o outro ra-
paz;
Sentou-se e viu um celular ao lado, pegou ele, e discou co-
mo se ter um celular ali fosse muito normal;
— Rodrigo pode falar?
— Quem?
— Retalhador, quem mais!
— O que fazemos rapaz?
— Apoia e defende a minha advogada, entra com uma pro-
curação contra algumas pessoas que passei o nome para a moça
e passei para ela um endereço, esvazia aquilo e guarda no cofre!
— Você mudou a combinação!
— Minha data de aniversario rapaz!
— Certo, mas o que tem lá?
— Verá, transfere aquelas coisas para meu nome, e troca a
defesa de Sacha Guerra pelos nossos!
— Por quê?
— Não quero surpresa, e tira ela de uma vez da cadeia, não
é difícil isto!
— Certo, o grupo esta pronto!
— Prepara para ação hoje a noite!
— Mas o que vão fazer?
— Apenas os deixa preparados, pode não ser hoje! – Jorge
desliga e olha em volta, alguns outros pegaram seus celulares, e
quando ele sorriu, não ligaram, mas o rapaz sabia assim quem
129
eram os informantes de Moreira, não estava querendo ser bonzi-
nho; Mais uma noite entre tantas e o policial da tarde anterior
chega a grade e fala;
— Precisa de que?
— Uma machadinha!
— Esta maluco?
— Não, mas não usarei amanha, e sim dentro de dois dias!
— Certo, consigo, algo mais!
— Não esteja por perto!
— Tiro o pessoal inocente de perto! -- Jorge olha para os
rapazes a dormir, não queria morrer ali;

130
VinteTrês!
Mais dois dias de calma, quando a advogada confirma que
Sacha saíra para aguardar o julgamento em liberdade, ele olha
para o policial que soube que seria aquela noite, ele saiu no horá-
rio de seu plantão, o delegado achava que seria mais fácil com a
moça longe que nada se visse, mas quando os demais dormiram,
Jorge pegou a machadinha, escondida as costas, em sua roupa a
dois dias, depois escondida no vazo sanitário, imundo daquele
cubículo, Jorge passou por cada um dos rapazes que agora o se-
guiam, acordou silenciosamente e fez sinal para ficarem de pé a
grade, os rapazes estranharam, mas foram ficando, quando ele
pegou a machadinha, alguns estavam querendo ver aquilo, um
golpe rápido, silenciosamente em cada cabeça, as pessoas a gra-
de, não dava visão do que ali acontecia, para as demais celas, mas
os brutamonte foram tirados do ar, um a um, e depois viram o
rapaz cortar cada uma das cabeças, depois separar os braços, as
pernas, e dispôs os corpos, a um canto, os rapazes não estavam
entendendo por que daquilo, mas quando o décimo segundo es-
tava cortado, os demais viram um espectro surgir ao local e olhar
para Jorge;
— Estava me chamando?
— Tudo bem Flavia?
— Sim, mas o que quer?
— Lhe prendi lá, agora gostaria de um acordo de não
agressão rápida!
— Quem quer poupar?
— Os meus rapazes!
— Como saberei quem são?
— Estarão no dia de negro, e com um lenço branco pendu-
rado ao pescoço!
— Cafona!
— Sim, bem cafona! – Jorge;
— Mas o que me oferece para isto?
— Começo por estas 12 almas, mas preciso que de sumiço
nos corpos!

131
Ouviu-se um zunido fino que ela emitiu, e se viu os lobos
passando pelos seres a altura da cela, onde os demais abriram
para eles passarem, pareceram comer os corpos, estranho aquilo,
seres de espírito comendo carne, os rapazes viram os espíritos
ficarem e a senhora os absorver, enquanto os lobos lambiam o
chão, e ouvem a senhora falar;
— Que seja como quer!
— Então nos vemos em 15 dias!
— Vai ser aonde?
— Nesta imensa cidade, onde mais!
— Mas não tenho força para isto!
— Preciso de um favor a mais!
— Mais um?
— Sim, mais um!
— O que quer?
— Meus rapazes vão invadir um deposito de armas em Pi-
nhais, devem matar uns 50 deles, se quiser!
— Mas quem os vai despedaçar para que possa consumir
as almas!
— Sua filha, ela também quer uma trégua!
— Certo, se ela fizer assim, sentirei as almas e apareço!
— Como aqui, sem vestígios!
— Algo mais?
Jorge passa a ela a machadinha, e os demais vêem que a
mesma fica translúcida e ouvem;
— Mas esta entrando em uma encrenca grande!
— Estou?
Jorge olha para os rapazes e fala;
— Agora vamos dormir!
Os rapazes não entenderam, mas antes de dormir, Jorge li-
gou para Rodrigo e passou a ordem de ação, e para levar Sacha,
era um acordo de não agressão;
Os espantos foram grandes, mas o mundo continuava nor-
mal, mas quando amanheceu e os rapazes dormiam, os policiais
os acordou ao chute;
— Onde estão os rapazes, como fugiram?

132
Jorge sorriu e o pessoal ficou quieto, alguns malucos em
outras celas afirmaram ver lobos, mas ninguém ali viu nada, es-
tavam dormindo;

133
VinteQuatro!
O delegado chega a delegacia e um investigador veio a ele;
— Senhor, houve uma grande fuga, mas nem temos vestí-
gios, os rapazes da noite não viram nada!
— Mas quem fugiu?
O rapaz deu a lista de 12 rapazes e o delegado foi a cela e
pediu para falar com cada um deles, e por ultimo com Jorge;
— O que aconteceu lá?
— A verdade ou algo racional?
— A verdade!
— Matei e comi todos!
— Acha engraçado?
— Por que, não foi o que relataram?
— Apenas um relatou isto!
— Vai ver que é o único que acabou de decretar sua morte!
— Fala serio, o que aconteceu?
— Diz para seu amigo, que se ele não me deixar em paz, os
homens dele vão sumir assim, como estes!
— Do que esta falando?
— Ele vai entender!
— Você esta se complicando rapaz!
— Retalhador para o senhor, esqueceu que mandou me
matarem!
— Sabe que não mandei!
— Certo, fez vistas grossas, o que para mim dá na mesma,
assinou em baixo!
— Ouvi que a sua advogada esta pedindo para transferir
para lá o julgamento, quer o que com isto?
— Adiar o julgamento, ninguém vai querer estar lá mesmo!
— Esta tentando que eles adiem, mas não vai dar certo!
— Mais alguma coisa Delegado?
— Não!
O guarda olhou para o rapaz, todos se perguntavam como
se deu sumiço em tamanho grupo de pessoas, e Jorge sentia-se a
cada dia mais estranho, naquela tarde a advogada veio lhe falar,
se via que o policial atrás estava a gravar escondido;
134
— Tudo bem rapaz?
— Tudo, pelo jeito não conseguiu?
— Não, 14 dias para o julgamento!
O rapaz passou para ela por escrito o que seria sua defesa,
ela olha e fala;
— Acha que consegue o que com isto?
— Demência mental!
— Mas não vão acreditar!
— Moça, só uma dica, vai de negro, total, e com um lenço
branco ao pescoço!
— Por que disto?
— Se não for, não posso lhe defender!
— Assim me assusta!
— Eu preciso parar com isto, mas algumas pessoas inocen-
tes morrerão por isto, mas gostaria que minha advogada não
fosse uma delas!
— Esta a dizer que algo como aconteceu em Piraquara vai
acontecer?
— Sim, mas fiz um acordo de não agressão!
— Quer saber os relatórios da perícia?
— Imagino o que deu!
— O que imagina, já que parece saber mais que todos!
— Diz que o corte não poderia ser feito por uma machadi-
nho, apenas a agressão a cabeça parece com a de um machadi-
nho, cortes na mesma proporção, mas o principal, os corpos na
maioria estão com braços e pernas cortadas como se a laser, as-
sim como o tórax!
— E sabe o que faz isto?
— Vi a moça fazer e não entendo!
— Certo, esta falando da moça que soltaram ou da mulher
do tribunal!
— A mulher do tribunal!
— Como sabia o nome dela?
— Coisas que me transformam em um maluco, o nome veio
a mente, mas sinto o poder dela crescendo!
— Crescendo como?

135
— Quando o poder dela cresce, começo a ouvir coisas es-
tranhas, falar coisas estranhas!
— Mais alguma coisa?
— Sim, ninguém esta falando, mas estava numa cela, e 12
presos sumiram durante a noite, enquanto eu dormia, o delegado
nos perguntou sobre os fugitivos, mas acho difícil não saber, já
que apenas os rapazes de Moreira fugiram!
— Certo, vou impetrar um pedido de esclarecimento!
O rapaz sorriu e falou já levantando;
— Mas não esquece do que falei, da roupa!
— Vai me lembrar disto depois, outras vezes!
— Vou.
— O que vai fazer?
Jorge sai com aquela cara de que iria aprontar, o rapaz que
gravava tudo mostra para o delegado a gravação, não poderiam o
ter feito, mas sabia que iriam jogar em cima dele as fugas, o rapaz
que estava a dar informação para Jorge chega ao lado da cela e
fala;
— O delegado esta disposto a aceitar sua transferência!
— Sabe quando?
— Acho que amanha!
— Sabe para onde?
— Delegacia de Piraquara, como pediu!
— Sabe quando?
— Não!
— Tira o seu pessoal da delegacia esta noite, inventa algo,
mas não queira estar aqui a noite!
— Vai ter rebelião?
— Vai ter algo que não vai ser bom para quem estiver aqui!
— Certo, tiro os rapazes!
Jorge olha para os rapazes e fala;
— Quem esta disposto a fugir hoje?
Os rapazes sorriram e ele falou;
— Mas eu vou ficar, e têm de entender, não olhem para
traz, quando disser, corre, esquece o pessoal para traz!
— Vai usar a machadinha de novo?

136
— Sim, mas desta vez, preciso que separem dos nossos,
passa a informação para porem um lenço no pescoço, seja rapaz
ou moça, e tentar evitar olhar muito e segurar o medo!
Os rapazes começam a passar a informação do lenço, al-
guns que nem eram do grupo, mas ouviram as fofocas foram se
preparando para algo, o delegado virou para um dos rapazes
antes de sair;
— Ele esta armando algo, mas se querem se matar, deixa,
não cai em uma armação deles!
— Nos mantemos longe, mas sabe que vai gerar mais pro-
blemas!
— Quem sabe o matam, e nos livram do problema!
O rapaz sorriu, alguns rapazes saíram mais sedo, era perto
da meia noite, quando se ouve um estouro, parte da delegacia
apaga, outro estouro, o resto da delegacia fica ao escuro, o rapaz
de plantão olha para fora e vê que foi o transformador da rua, a
quadra estava toda escura, mas viu surgirem no escuro espectros
de lobos, ele entrou e fechou a porta, os seres atravessaram as
portas, foram fazendo os rapazes recuarem, foram tiros ao nada,
viram espectros de gente surgir a todo lado, e suas feições não
eram boas, alguém conseguiu pedir ajuda pelo telefone celular,
mas começaram a cair um a um, mortos, Jorge viu a moça surgir
ao lado de fora da cela, lhe esticar o machadinho, e depois ela
passou a mão na porta e esta abriu, ele despedaçou primeiro os
guardas, ele estava entendendo que a diferença entre ser um
lobo ou uma alma presa a moça, é que precisava de um ritual
para o fazer, e as almas não o conseguiam fazer, nem ela, teriam
de ter sempre uma mão de um vivo a fazer, a parte de despeda-
çar os corpos, mas as vezes, quando eram de pessoas ao acaso, os
corpos apareciam, quando era alguém que ninguém daria falta,
como famílias inteiras de algum circo pequeno, de uma linha
separada de uma família isolada, enterravam naquele terreno,
não haveria mesmo quem os procurasse, os lobos ainda tinham
alguma chance de terem suas almas salvas, os demais, absorvi-
dos pela senhora;
Os lobos comeram aqueles seres, a moça foi entrando em
cada uma das celas e separando os que não estavam com um
137
lenço, alguns improvisaram um, mas foi os colocando em uma
cela agora vazia, para os demais, ela apenas falava;
— Some, se ficarem terão o mesmo fim!
As pessoas somem pelas portas a fugir do local, Jorge des-
pedaça cada um dos corpos, troca de roupa e volta após devolver
o machadinho para sua cela, senta-se ao canto e fica a esperar a
luz voltar, fecha a porta e sorri ao ver tudo vazio, pega o celular e
liga para Rodrigo;
— Rodrigo, só faz uma coisa!
— Fala!
— Dá proteção para os que fugiram!
— Limpou o lugar?
— Sim! Limpa para mim a delegacia de Piraquara;

138
VinteCinco!
O delegado é acordado de madrugada, e alguns rapazes o
chamaram a delegacia;
— O que aconteceu?
— Não sabemos, com exceção daquele desgraçado, todo
resto sumiu!
— Mas vieram por que?
— Um dos rapazes passou-me uma mensagem que esta-
vam sendo atacados!
— Mas pelo que?
— Retornei e não houve resposta, me vesti e vim para cá!
— Algum vestígio?
— Existe na sala ao lado marca de sangue no chão, em uma
das celas das moças, lá no fundo, também tem marcas de sangue!
— E ele falou o que aconteceu!
— Sempre se esquivando!
— O que falou!
— Que viu lobos se retirando quando acordou, mas estava
sozinho e com a cela fechada!
— E as câmeras?
— Mostram os rapazes antes, dai tudo apaga, e quando
chegamos o único sistema que estava de pé era o da sala de in-
terrogatório, pois tem aquele Nobreak que não deixou parar!
— Merda, adivinha quem vão culpar?
— Não sei, mas como saber se os demais fugiram, esta tudo
como se tivessem sumido no ar!
— Senhor, prendemos dois dos fugitivos!
— Pelo menos nem todos morreram!
O rapaz olha para o Delegado estranhando a frase;
— Separa eles, preciso falar com eles!
— Certo, quer falar com a bela adormecida!
— Sim, homens nossos sumiram, preciso saber onde foram
parar!
O senhor olhou Jorge sentado ao canto na cela e o mesmo
sorriu;
— Pelo jeito esta aprontando muito, rapaz!
139
— Moreira ainda não veio me falar, o que ele esta esperan-
do?
— Não sei, ele sumiu, acho que esta com medo!
— Ele tem medo?
— Diziam que não, mas parece que resolveu mexer com o
cara errado!
— E daí Delegado, quando vai mudar de lado?
— Direto, mas o que ganho com coisas assim?
— Evita que coisas assim aconteçam, sempre com culpa-
dos, e não com inocentes a mão, e não sei quanto é a mesada para
cobrir!
— Esta me ofendendo!
— Certo, mas sabe que tentei!
— O que aconteceu?
— Algo estranho, mas melhor deixar para depois do julga-
mento para falar!
— Sabe que não aceitaram fazer em Piraquara, mas pelo
jeito vai conseguir ficar lá até o julgamento!
— Mas sei que não vou para lá!
— Por que?
— Alguém não quer que vá, sempre que algo assim aconte-
ce, coisas misteriosas acontecem!
O delegado pergunta;
— Mas e meus homens?
— Antes de meu julgamento não sei nada, estava dormin-
do!
— Não vai dizer que os matou?
— Não, isto os dois que estão na cela lá no fundo vão dizer,
não eu!
— E o que eles vão dizer?
— Não sei, alguma maluquice com Lobos, almas e uma mu-
lher nua com asas que pareciam extensão de seu corpo, como se
fossem de laminas ósseas bem afiadas!
O delegado foi aos dois e viu que os dois olhavam com me-
do no sentido da cela do outro e um fala;
— Não sabemos nada senhor!
— Medo, isto conheço, mas como fugiram?
140
— Pela porta da frente, uma moça disse que se ficássemos
estaríamos mortos!
— E como era a moça?
O rapaz não respondeu, ficou quieto, mas o delegado sabia
que mais uma vez estava as voltas com a mulher misteriosa;
Embora as celas estivessem vazias, ninguém queria trans-
ferência para aquela delegacia, quem ia para lá sumia, principal-
mente se não fossem pessoal do Retalhador;
O delegado pensou em transferir para Piraquara, mas nin-
guém atendia a suas ligações e quando atenderam afirmaram
que as pessoas sumiram na delegacia, sabia que algo maior esta-
va acontecendo e quando o telefone dele tocou se preocupou; —
Siqueira, como esta?
— Onde se escondeu Moreira?
— Não lhe interessa, o rapaz ainda esta vivo?
— Ainda, e temos sumiços aos montes, aqui em Piraquara!
— Ainda esta historia?
— Ele parece ser alguém protegido de algo maior Moreira,
vejo os homens de Jorginho se denominarem homens do Reta-
lhador, ou pior, da Família Rodrigues!
— Chegou a isto?
— Sim, o grupo dele esta pagando advogado a rodo, em 15
dias teremos mais deles na rua por falta de provas do que indo a
julgamento!
— Mas por que não deu certa aquela tentativa?
— Sabe que ele não é inocente, o descrevem acabando com
dois dos seus em pouco mais de 30 segundos, os demais recua-
ram com dois corpos ao chão!
— Vou ligar para você, mas não vou aparecer Siqueira, ele
preso ai deu sumiço em mais de 300 dos meus homens!
— Tanto assim?
— Sim, e tudo indica os bens de Jorginho já estão no nome
dele, os de Camilo, também, ele deixou de estar na defensiva e foi
para o ataque, os advogados dele mudaram depois daquele ata-
que a defesa dele, pensei que poderia acontecer, mas não espera-
va que eles falhassem!

141
— Certo, mas estou com ele em uma cela particular, nin-
guém quer transferência para cá, tem gente apinhada em outras
delegacias, mas que não querem vir para cá de forma alguma!
— Ele esta virando uma lenda, difícil de matar!

142
VinteSeis!
Faltavam dois dias para o julgamento e uma reunião na de-
legacia com a advogada e a promotoria foi marcada;
— Senhor Jorge, sabe que não tem provas do que vai afir-
mar!
— Me prendam por caluniar um homem respeitável, que
todos aqui sabem que não presta!
— Mas não temos provas do envolvimento dele!
A advogada olha para ele e pergunta;
— Mas quem é esta testemunha?
— A promotoria não vai aceitar ela, mas quando me derem
a palavra vou a chamar a depor!
— Por que não aceitaríamos? – O promotor;
— Por que vocês isolam as testemunhas, vocês criam o cir-
co, mas nada do que é além do circo vocês permitem!
— Vai chamar quem? — O promotor;
A advogada passa ao rapaz o nome escrito, evitando falar o
nome;
— Você é maluco, ela vai matar todos!
— Vocês querem me considerar maluco, eu vou a chamar,
ela não vai aparecer, e daí tudo vai ficar na mão da promotoria,
vocês!
— Mas por que disto?
— Eu provavelmente não saio vivo daquele tribunal, seja
por um espírito maluco, seja por um atirador contratado como
um religioso fanático a porta, ou um atirador que ninguém vai
ver, mas sei que assim que afirmar isto, estarei morto, queria ser
preso, mas não acho que seja possível, mas estou preparado para
morrer!
— Fala como se Moreira o fosse mandar matar? – Promo-
tor;
— Ele mandou, me defendi, duas vezes, e estou vivo, mas
tudo bem, estou esclarecendo para vocês a minha defesa, não é
padrão de um acusado de homicídio abrir o jogo com quem o vai
condenar, mas já fiz a minha parte!

143
A advogada viu que o rapaz não recuaria, alguém capaz de
admitir os crimes, mas desta vez o julgamento dele seria em data
diferente da de Sacha, isto já o tranquilizava, era um maluco, mas
parecia saber o que faria;
A promotoria saiu e o rapaz perguntou;
— Fez tudo que pedi?
— Sim, eles vão lhe xingar!
— Que xinguem, mas não esquece da roupa!
— Você é maluco!
— E você é linda, como se meteu numa porta de cadeia?
A advogada sorriu e falou;
— Esta animado pelo menos!
— Eu sozinho numa cela, não tenho como me matar, o de-
legado esta com mais medo de mim que de Moreira, acho que
exagerei!
— Não quero sabe o que fez, mas tem muita gente queren-
do lhe culpar pelos sumiços!
— Tenta o menor tempo de prisão possível, mas se não
der, escracha geral!
— Acha que o que podemos falar de Moreira?
— Aquilo que esta escrito!
— Certo, o relatório esta todo lá!

144
VinteSete!
Na manha do primeiro dia do julgamento Jorge foi acorda-
do cedo, um banho, roupa para o julgamento, o rapaz estava cal-
mo, o sistema de segurança para o transporte dele estava todo
armado, iria para o julgamento, no Centro Cívico, um bairro de
Curitiba, os veículos levaram ele antes, ficou em uma sala alge-
mado e com seguranças em todos os cantos, o juiz era outro, mas
não estava preocupado, foi levado ao júri e como sempre, o juiz
perguntou;
— Jorge Rodrigues, qual sua visão do acontecido?
— Culpado de algumas coisas, inocente de outras!
— Que comece a leitura do processo!
A promotoria começou a ler o processo, foi citado a parte
da primeira mala, não era o combinado, Jorge sorriu, aquele sor-
riso não deixou o Promotor feliz, queria o sacanear, mas o rapaz
estava tranquilo demais, a leitura que na primeira vez, demorou
apenas um dia, já tinha muito mais paginas, e viu que colocaram
até o caso dos rapazes que havia se defendido a cela, o rapaz ou-
viu cada acusação e cada indagação, muitas acusações sem fun-
damento, aquelas coisas normais a julgamento, presumir algo
baseado em outra coisa, mas nada tinham de concreto, e na me-
tade do segundo dia, começaram as acusações, depoimentos, e
muita prova circunstancial, muita coisa baseado em levantamen-
tos dentro do depoimento do rapaz;
Acusaram ele de matar os dois primeiros, baseados em um
depoimento de uma senhora que não conseguiram identificar,
mas estavam somando acusações, pois em júri, estas coisas con-
tam;
Afirmaram que ele era um desequilibrado, mostraram fo-
tos do apartamento do rapaz quando a policia o prendeu a pri-
meira vez, com fotos de mortes e casos iguais em todas as pare-
des de um quarto.
Afirmaram que o padrão de corte era o mesmo dos que o
rapaz havia confessado o crime, que um dos mortos era um ex
patrão, tudo indicava que era um caso de vingança, uma ex na-
morada, que o largou, afirmam que não tinham como saber o
145
nível da ligação dele com Jorginho, mas ele assumira parte dos
negócios do mesmo, recebera parte do que era das empresas de
Machadinho, o primeiro morto, tudo indicava, mortes por dinhei-
ro e por vingança;
Jorge piscou para a advogada, ela sorriu, o rapaz era suici-
da, estava a ouvir aquelas coisas com uma calma imensa, e quan-
do terminou os depoimentos, o juiz passou a palavra a defesa;
A advogada levantou-se e falou;
— Juiz, senhores e senhoras do júri, promotores, vejo que o
nosso amigo promotor não levou a serio o que o rapaz falou, mas
estamos aqui para mostrar que não existe boa parte do que eles
falam existir!
A moça pega as fotos da segurança da Rodoviária de Curi-
tiba e mostra a moça a levar a mala para a parte de dentro, uma
moça entre um metro e setenta e um, cabelos pintados de verme-
lho e óculos muito grandes negros;
— Senhor juiz, estas são as fotos do sistema interno de se-
gurança da Rodoviária, mostram a mala sendo carregada por
uma moça, que não cabe nem na descrição do rapaz e nem da
moça que eles acusam!
— Protesto senhor! Esta foto não é conclusiva!
— Aceito!
— Então vamos a frente, não existe nenhuma digital ou
vestígio de pelo ou pele do meu cliente na mala, no corpo das
vitimas!
A moça olhou para a promotoria, e continuou,;
— A afirmação velada, de que as mortes eram idênticas as
que ele assume, vamos mostrar que não é bem assim, mas temos
o relatório do IML afirmando que houveram pelo menos 8 mor-
tes no período que o rapaz estava preso, com a mesma forma de
corte, a moça também estava presa, então eles não tem ligação!
— Protesto senhor, os relatos estabelecem que devem ha-
ver outros envolvidos!
— Não aceito!
— Aproveitando a colocação, temos uma estranheza, le-
vantaram as ligações do rapaz, em seu celular, mas não acharam
o celular que ele usava normalmente, por que?
146
— Protesto!
— Qual a relevância?
— Senhor juiz, eles sabem o numero, não precisam do tele-
fone, mas lá mostra ligações do meu cliente para Jorginho e para
Moreira, por sinal, ligações minutos antes de Moreira ligar para o
delegado Siqueira que afirma não ter falado com Moreira naque-
le dia, por que a promotoria escondeu a ligação deste senhor?
— Não achamos relevante!
— Continue!
— Temos ligações entre Jorginho e os seus rapazes, coisa
rápida, coisa de segundos, mas temos a ligação de Moreira para o
delegado de duração de mais de 20 minutos, naquele dia, e pelo
que se vê a ligação só acabou quando o sinal caiu, não foi inter-
rompida!
— Protesto!
— Continue!
— Senhor Juiz, não me interessa saber quem fez, e sim sa-
ber quem pagou para fazer, pois o rapaz recebeu mais de dois
milhões de reais para fazer algo!
— E qual a ligação?
— Meu cliente afirma que nos dois porta-malas existiam
mais de um milhão de reais, mais títulos ao portador e ouro, mas
com exceção de parte do dinheiro o resto sumiu, recursos que
alguém roubou, mas também esta no caso, já que colocaram de-
talhes que nada tem a ver com ele!
— Quais advogada?
— Eles narraram mortes em quantidades, deve ter ouvido,
no local foi encontrado até hoje, mais de 1500 corpos, a previsão
é que sejam mais de 6 mil deles!
— Sim!
— Mas não deram ênfase a que apenas 400 corpos encon-
trados são de crimes com menos de 10 anos, que tem um espaço
de tempo que parece ter sido de mais de 20 anos sem um crime,
então a maioria dos crimes é anterior ao nascimento de meu cli-
ente!
O juiz olhou para a promotoria, não gostavam deste tipo de
artifícios em julgamento com Júri;
147
— Continue;
— Dos mortos a menos tempo, que eram o que me interes-
sava, fiz um levantamento, 10 deles são da antiga família de Mo-
reira, 22 deles es funcionários, e 8 es assessores diretos!
A moça passou os nomes para o juiz e a linha de parentes-
co e a de contratação dos mesmos e continuou;
— Por isto estranhei a retirada das gravações que ligavam
Moreira a isto, apenas por isto!
O promotor viu que ela havia dado um tiro certeiro, e
olhou para os demais do júri e falou;
— Agora vamos falar dos corpos encontrados na cabana,
os que na teoria, meu cliente matou!
— Protesto!
— Aceito!
— O depoimento dele referente isto é o fim, mas vamos ao
que interessa, chamo a depor o Investigador Lima do IML de Cu-
ritiba!
Os demais viram que a moça estava pronta para a guerra, e
o olhar de Jorge para o promotor era evidente que ele não gosta-
ra da condução, mas ouviram a moça perguntar;
— Senhor, poderia me falar o que faz?
— Faço perícia em corpos que chegam ao IML!
— Primeira pergunta, pode afirmar que os corpos achados
queimados na casa, tem o mesmo padrão de corte do caso ante-
rior ou posterior?
— Não, eles não tem, a exceção do que sobreviveu numa
geladeira!
— Certo, vamos por parte, o senhor viu alguma semelhan-
ça nos cortes destes corpos?
— Semelhança, mas eles foram encontrados carbonizados,
mas não foi a mesma coisa que os cortou!
— Pode afirmar por que?
— Os corpos encontrados antes e depois, pareciam ter sido
cortados com um instrumento cirúrgico de alta precisão, aqueles
pareciam ter sido feitos mesmo a machadinho!
— Senhor, quem retirou os corpos do lugar?
— Fomos chamados no dia seguinte!
148
— Vocês que retiraram o corpo da geladeira?
— Não, foi um investigador?
— Quem exatamente?
— O falecido Investigador Santos!
— Uma ultima pergunta, poderia pelos exames exatar se o
corpo que dizem estar naquela geladeira, tinha vestígios de que
passara por um incêndio?
— Estranhei quando a defesa pediu este exame naquele
corpo, mas não tinha realmente vestígios de que tivesse passado
por um incêndio!
— Mas poderia ter sido protegido por estar dentro da ge-
ladeira?
— Poderia!
A advogada olhou para o promotor e falou;
— Quer fazer alguma pergunta?
O promotor veio a frente e perguntou;
— Investigador, poderia descrever como estes corpos es-
tavam?
Jorge sorriu e a moça falou;
— Protesto senhor!
— Pode responder!
O rapaz fez uma narrativa técnica, o promotor não parecia
conhecer aquilo, a advogada protestou primeiro e depois enten-
deu o riso disfarçado de seu cliente;
Aquela testemunha foi dispensada e a advogado foi a fren-
te e falou;
— Agora quero somar duas mortes a este inquérito, duas
pessoas que foram mortas por algum motivo que a promotoria
não considerou, uma o Investigador Santos, morto numa manha,
onde aparentemente ou muito comodamente ele estava sozinho
no sitio, morto não como o padrão de morte que é atribuído a
meu cliente e sim aos homens de Moreira, gostaria de chamar a
depor o preso, Romário Santos!
O juiz viu que estavam desviando do assunto, mas não po-
deria negar defesa, e o rapaz sentou-se ao local, jurou sobre a
constituição e depois ouviu a moça perguntar;

149
— Desculpe o importunar Romário, mas poderia me escla-
recer somente uma coisa?
— Sim!
— Por que os marginais da região quando alguém quebra
um pescoço com as mãos, a torcendo, chamam de método Morei-
ra?
O rapaz sorriu e falou;
— A muito tempo, quando o senhor Paulo Moreira era um
rapaz do exercito, dizem que fez parte de um auxilio as tropas de
apoio a emancipação de Angola, lá diziam que assim que mata-
vam os reféns se degolava, tirava-se a cabeça e fincava em uma
estaca, mas Moreira não tinha paciência para isto, e como tinha
as mãos fortes, ele matava elas torcendo o pescoço com facilida-
de!
— Mas como chegou a nós isto?
— Na década de 90 quando ele tomou parte do submundo
do crime em Curitiba, ele usou este método em alguns inimigos,
saiu livre, pois ninguém sobrou para o acusar!
— Dizem que você aplicava este método?
— Os seguranças dele até hoje matam assim, torcendo o
pescoço, dizem deixar pouca evidencia de crime!
— Obrigado por dispor seu tempo!
Olhou para o promotor e este falou;
— Dispenso!
A coisa começava a ficar tarde, e o juiz vendo que iria longe
a defesa, estavam já no fim do quinto dia, pediu mais um recesso;
Jorge volta a cela, e viu o Delegado a grade, e falou;
— Fala delegado!
— Sabe que nem os seus querem ficar na mesma cela que
você!
— Bom sinal!
— Só vim lhe falar que minha relação com Moreira foi no
respeito, mas pelo jeito pisei no seu calo!
— Não guardo rancor Delegado, mas o que quer falar?
— Tem uma moça querendo falar com você!
— Quem?
— Alguém que diz que você morreu a um tempo atrás!
150
Jorge não entendeu;
— Alguém que disse que estou morto, foi o que falou?
— Sim, alguém que sua advogada proibiu de servir de tes-
temunha dela, os Promotores acharam que seria uma ideia a lhe
acusar até falar com ela!
— Alguém que me considera um morto, isto minha advo-
gada não falou, poderia me inocentar!
— Não teve graça! – Delegado;
— Não disse que estou morto, mas se morri, fui minha vi-
tima e não o assassino!
O Delegado sorriu e abriu a cela;
Jorge foi algemado e foi para a região de visita, olhou a mo-
ça e sentou-se, teria de ouvir, algo passou a cabeça dele, mas uma
lagrima veio ao seu rosto, o que fez a moça se calar, o policial que
sempre o vigiava, estava curioso, e ele falou;
— O que faz aqui Mônica?
— É você mesmo, pensei que estava morto!
— Não entendi isto, Mônica!
— Você pelo jeito nunca olhou as fotos de quem morreu?
— Não, nunca tive tempo de parar para ver isto!
— Era sua cara, jurei que era você!
— Sabe que não era eu, tinha outro nome, outra identida-
de!
— Mas senti como se o tivesse perdido, foi linda aquela
noite!
— Não houve aquela noite, lhe deixei lá, precisava viajar
logo cedo, esqueceu?
— Mas me deixou em casa, ou não?
— Lhe deixei em casa, disse que retornava em 24 dias, que
nos falaríamos!
— Não lembro disto, lembro de você entrando, passando
comigo aquela noite!
Jorge pensou, bem que ele desejava, mas não entrara, tal-
vez se o tivesse feito, como sua imaginação criou que poderia ter
acontecido, não tivesse ali, mas na época pensou em Márcia, ago-
ra a outra estava morta, ele livre, quer dizer, nada livre;

151
— Mônica, quando eu falei com você aquele dia, ainda gos-
tava de Márcia, não lhe jogaria em algo assim, não seria eu!
— E o que aconteceu?
— Me acusam de a ter matado, de ter matado duas pessoas
que nunca vi vivas, mas depois deixei de ser alguém como eu era!
— Você parece diferente!
— Sei disto, estava me olhando no espelho, hoje não tenho
mais o mesmo rosto, a mesma vida, nem a mesma forma de enca-
rar o que achava tão natural, reportagens sobre assassinos!
— Pelo jeito até eu pedi sua morte, na frente da delegacia!
Jorge sorriu, e falou;
— Mônica, toca a vida, otimistamente, pego 25 anos, quer
dizer, passarei um quarto disto na cadeia no mínimo!
— E se lhe esperar?
— 25 anos é muito tempo moça, terei passado lá mais
tempo do que fora, mesmo que passe 6 anos lá dentro, um quarto
de pena, terei passado o melhor da vida lá dentro, as cicatrizes
que vê ao meu rosto se multiplicarão, não sei nem como sairei de
lá, ou se sairei!
— Queria dizer que lhe amo!
Jorge sorriu, não tinha como lhe dar as mão, mas queria
poder abraçar a moça e dizer que as vezes isto valia a vida, e en-
tendeu, ele não amava, isto lhe tirava os medos, poderia ter um
carinho grande pela moça, mas não era amor;
O rapaz ao fundo avisou que acabou o tempo, e Jorge olhou
aqueles olhos e falou;
— Toca a vida, Mônica!
As lagrimas nos olhos dela mexeram com ele, mas não da
forma que mexeria com pessoas normais, ele sentou-se a cela e
sabia que certas coisas estavam erradas, mas já que estava na
briga, pediu para falar com a advogada antes da audiência, e a
mesma sorriu, Mônica havia lhe ligado a noite, ela não entendeu,
de vilão a vitima, não gostava disto, mas falou;
— Você hipnotiza as pessoas?
— Não, mas esta muito boa sua defesa!
Ela sorriu, e o rapaz foi levado a mais um dia de audiência;

152
A advogada pediu para incluir mais 2 nomes na lista da de-
fesa, e o promotor se preocupou, toda vez que mudavam de ru-
mo, ele se arrepiava, já que o rapaz falou que iria quando ele fos-
se a tribuna, chamar para depor a mulher que somente ele en-
frentara;
— Senhor Juiz, promotores, senhoras e senhores do Jura-
do, publico, hoje vamos falar da suposta prova anexada pelos
promotores como indicio de que o rapaz era um Serial Killer, eles
fotografaram apenas o quarto no qual o rapaz desenvolvia sua
tese já ao terceiro ano de faculdade de conclusão do curso,
chamo a depor o Mestre em Jornalismo, Pablo Silveira!
O professor prestou juramento e a moça perguntou;
— Senhor, qual a tese que o rapaz tentava demonstrar que
começou a fazer a pesquisa tão recente!
— Ele pregava que existiam dois tipos de profissionais dos
que chamamos Porta de Cadeia, os que procuravam a noticia e os
que procuravam a audiência!
— Poderia exatar melhor isto senhor?
— O rapaz acreditava que mais da metade dos casos es-
tampados nas primeiras paginas de jornais sensacionalistas,
eram inocentes, ele fazia relatos das provas e das diferenças en-
tre o que dizia na capa, e no conteúdo de mais de um jornal sobre
o mesmo caso, e o que estava nos relatos da policia, indicando
que perto de 55% das pessoas acusadas nem tinham participa-
ção no caso, outros 22% poderiam ter provas, mas não sobre a
acusação da capa, mas que inevitavelmente 99% dos atingidos
por aquilo, tinham suas vidas degradadas, pois todos a sua volta
o veriam de forma diferenciada!
— Obrigado pela descrição, Mestre!
O promotor de justiça queria este depoimento;
— Senhor, qual sua formação?
— Jornalismo, pós em Marketing, e Mestrado em Meios de
Comunicação!
— Senhor, qual a experiência que tem neste tipo de crime?
— Protesto Meritíssimo!
— Aceito!

153
— Mudando a forma de perguntar, acha normal alguém ter
estes relatos em uma peça inteira como a que tem nestas fotos!
O senhor olhou as fotos e falou;
— Normal não, ele realmente se ateve aos casos, conheço
paredes bem maiores que estas com relatos senhor!
— O que quis dizer!
— Se olharem atentamente as fotos, são relatos dispostos,
com duas versões do mesmo crime, mas como vocês só prestam
atenção na parte sensacionalista, esquecem de perceber o conte-
údo, estão dispostos lado a lado, reportagens que tratam do
mesmo assunto, não são milhares de reportagens, deve ter o que,
perto de 30 delas, um ano inteiro de pesquisa senhor!
O juiz olhou a foto e reparou nos detalhes, entendeu que a
moça demonstrou que era uma pesquisa, e não uma adoração a
aquele tipo de caso;
Dispensaram a testemunha e a senhora falou;
— Juiz, promotor, a próxima demonstração é referente a
acusação que o meu cliente é alguém agressivo, mas gostaria de
chamar para depor Mônica Padilha!
O promotor viu que agora era uma carta meio as avessas, a
moça afirmara para ele que Jorge havia morrido, ela era maluca,
era fácil de provar isto, ele dispensara a testemunha achando que
não somaria em nada;
A moça fez o juramento e sentou-se;
— Senhorita Mônica, a senhorita conhece o acusado?
— Sim, passei a noite anterior ao crime com ele!
— Onde?
— Em uma festa da faculdade!
— O que acha da acusação ter afirmado que ele era um
agente da máfia Russa, se passando por um rapaz da faculdade!
— Ele nunca foi de muitas festas, mas dizer que ele era de
alguma máfia, não faz parte da personalidade dele!
— Por que?
— Se vocês pegarem uma foto dele a 6 meses, e uma hoje
entendem, estão julgando alguém pelo que aparenta hoje, mas a
6 meses ele não tinha uma cicatriz, ele nunca tatuou seu corpo,

154
nunca nem se permitia o consumo de bebidas alcoólicas, pois
sempre queria estar sóbrio!
A advogada passou uma foto do rapaz a seis meses, e uma
do estado atual, e o mesmo passou para os jurados, a diferença
era grande, e a advogada perguntou;
— Qual a visão que os demais alunos tinham dele na facul-
dade?
— Diziam que ele era cafona, ele em suas férias, no lugar
de sair com o grupo, ia para sua terra natal ver seus familiares!
— Você acredita que ele matou alguém?
— Eu acredito nele, se ele disser que o fez, acredito, mas
somente se ele assumir, não vai assumir o que não fez, mas o
conhecendo, não vai deixar alguém ser culpado por algo que foi
ele!
— Obrigado!
O promotor de Justiça sorriu ao olhar para a moça e per-
guntou;
— Senhorita Mônica, poderia me dizer o que falou para
mim referente a ele estar morto?
Mônica olhou para Jorge e falou;
— Sim, e somente vim aqui, pois nada que lhe falei o se-
nhor levou em conta, até me excluindo das testemunhas!
— O que falou!
— Que o Jorge Rodrigues que conhecia estava morto!
O promotor sorriu e perguntou;
— Por que falou isto?
— Por que você me apresentou uma foto, sem falar o no-
me, dizendo que se era a pessoa que passei noite, e como estava
triste, correndo, e sem ter me inteirado da historia, disse que
sim, muitos dos meus amigos da faculdade ficaram perdido na-
queles dias, algumas pessoas choraram a morte dele, pois no
primeiro dia ele era a vitima e dois dias depois era o Retalhador!
— Mas você me afirmou como se fosse ele, o que mudou?
A advogada levanta-se e passa a promotoria a foto da viti-
ma, ao lado da foto do acusado, antes das cicatrizes, e a moça
responde;
— Se eu que o conhecia confundi, muita gente confundiu!
155
A advogada entrega as duas fotos para o Juiz e este olha e
pergunta;
— Mas qual deles é a vitima?
O promotor não sabia a resposta e a testemunha falou;
— O de camisa azul, mas se diferenciam pela forma de
olhar, não é a toa que alguns falam até hoje que quem esta ai é o
outro e não Jorge Rodrigues!
O promotor não estava gostando do caminho, mas o rapaz
não falara ainda, sabia que algo não sairia como o planejado, mas
era obvio que a moça da defesa estava a confundir as pessoas;
— Senhores, para deixar claro, não existe a duvida que
quem senta-se como réu é Jorge Rodrigues, fizemos o exame de
DNA para não deixar duvida! – A advogada;
O promotor sorriu, pensou que era esta a arapuca, mas
não, dispensou a testemunha e o Juiz viu que a historia era mais
complicada do que parecia;
— Senhores, sei que até agora não parece ter sentido a de-
fesa, mas a partir deste momento mostraremos onde esta o erro
da afirmação de que Jorge Rodrigues foi o culpado pelas duas
primeiras mortes e mostrar que todo o resto, aconteceu em con-
sequência deste erro da justiça, erro que o deformou fisicamente,
erro que pode agravar uma pena que não acredito que ele mere-
ça, gostaria de chamar o Delegado Paulo Siqueira para depor!
Esta foi uma carta que o promotor não entendeu, mas que
quando a defesa o incluiu, não teve como discordar;
O senhor fez o juramento, chamado pela defesa, estranhou,
se Jorge estava a aprontar, seria neste momento;
— Senhor, poderia nos informar o que faz?
— Sou Delegado da Homicídios, Primeira Dependência, a 4
meses era da delegacia de Piraquara, a que uma revolta destruiu
a 4 meses, assim que o rapaz foi transferido!
— Poderia me afirmar que o rapaz que foi transferido foi
este sentado a cadeira de réu?
— Sim, estava ainda com muitos ferimentos abertos que
hoje são cicatrizes, mas era ele!
— Poderia nos narrar o que aconteceu na delegacia naque-
le dia em que houve a revolta?
156
— O rapaz havia sido transferido do presídio, que virou pó
uns dias antes, e com a chegada ao local da informação de que
João Confusão havia morrido com um tiro a cabeça, e jogado ao
poço, o irmão dele que estava ali preso, usando Jorge como saco
de pancada começou uma revolta, tomaram as armas dos polici-
ais que tentaram apaziguar e mataram alguns, e depois puseram
fogo na delegacia, deixando o rapaz com mais ferimentos e um
braço quebrado!
— Pode nos dizer por que ele tinha o apelido de Retalha-
dor?
— Aparentemente ele assumiu este apelido!
O olhar da promotoria estava na foto que ela tinha a mão e
não sabia referente ao que era;
— Senhor, quando delegado em Piraquara lembra deste
rapaz?
Siqueira pega a foto da mão da moça e fala;
— Sim, um estudante de Jornalismo, querendo investigar
umas mortes que eram atribuídas a um pai de santo da região,
que fora condenado, mas não existia uma prova concisa!
— Por acaso lembra do que o pai de santo foi acusado?
— De feitiçaria, de praticar rituais com a morte de mulhe-
res e crianças, num sitio próximo ao que encontramos aqueles
corpos!
— Lembra da alegação do senhor?
— Que fora condenado apenas por ser de uma religião di-
ferente e por ser negro!
— Obrigado senhor!
O promotor se levantou, e foi ao delegado e perguntou, en-
quanto a advogada passava a foto do pai se santo e do jornalista
para a juíza;
— Senhor Siqueira, poderia nos relatar sobre o ultimo in-
cidente na sua delegacia?
— Sim, algo mais específico ou o geral?
— O geral!
— Sai normalmente como toda tarde as seis horas, e era
aproximadamente duas da manha quando um dos investigadores

157
me ligou, afirmando que todas as pessoas das celas e os rapazes
tinham sumido!
— O que se concluiu do caso?
— Ainda em aberto, pois nas marcas de sangue ao chão, já
foram identificados mais de 30 tipos de DNA, mas ainda não te-
mos a identificação de quem eram, pode vir a demorar mais uns
30 dias para obtermos estes dados!
— Não lhe surpreendeu que o único ser a não sair e não
sumir foi o senhor Jorge?
O Delegado olhou o rapaz, como a foto de poucos momen-
tos atrás estava ainda fresca na memória, lembrou do rapaz,
quanta confusão estavam levantando ali;
— Não, já que em minha delegacia, quando ela pegou fogo,
o único que não fugiu foi o rapaz!
— Acha que ele é culpado dos crimes!
— Protesto!
— Protesto concedido!
— Senhor delegado, baseado na sua experiência, e como
conhecia o investigador morto misteriosamente, pode nos passar
o que aconteceu na fazenda?
— Não senhor, antes da confissão de Jorge, tudo indicava
que ele fora vitima, não temos provas que afirmem que ele ma-
tou ninguém, ele quando eu mesmo lhe dei carona ao hospital,
baleado e quase inconsciente, não havia vestígios de sangue em
sua roupa que não fossem as dele mesmo, como esta nos altos do
inquérito!
— Sabe por que ele confessou então?
— Ele afirmou que queria sair vivo da cadeia, então assu-
miu a culpa!
— Não entendi?
— Ele afirmou que assumindo a culpa, o mandante não
existiria, já que apareceria o dinheiro, uma vingança pessoal e na
época falou sobre transferências para ele, de coisas que mesmo
preso, sem ter assinado nada enquanto estava lá, estão hoje em
seu nome!
— Um exemplo?
— Os bens do senhor Jorge Matarazo, e os bens de Camilo!
158
— Sabe os montantes de transferência?
— Os bens em seu total, o valor não tenho como exatar,
não fazem parte do inquérito!
— O senhor com a experiência que tem absolveria este ra-
paz?
— Protesto!
— Aceito!
O senhor dispensou a testemunha e a advogada pediu para
os rapazes trazerem um quadro, e ela tinha ali seis papeis sobre-
postos, e primeiro falou;
— Senhores, esta foi a foto que mostrei ao Delegado, que
afirmou ser o rapaz que o procurou no passado, o mesmo que
esta a nossa frente, mas sem as cicatrizes de guerras dentro de
delegacias e presídios, então estamos afirmando com base nisto,
que ele fazia pesquisa sobre uma condenação na região em que
foi realizado e achado dos atuais corpos e Piraquara, segundo,
pedimos o relatório da morte de um padre, o de Quatro Barras,
morto no mesmo dia que o investigador Santos, que foi o mesmo
que investigou as mortes do caso do Pai de Santo, condenado na
época do caso relatado antes, ambos morreram com o pescoço
quebrado, movimento rápido para um dos lados, mas um foi dei-
xado bem visível em sua igreja — a moça mostra a foto do padre
pendurado na cruz – e outro foi enterrado em uma cova rasa que
em meio tantos buracos ficou fácil aos investigadores que chega-
ram naquela tarde identificar o novo buraco!
— Protesto meritíssimo, ela esta puxando a historia para
algo irrelevante!
— Se me der oportunidade verá que tudo tem relação!
— Continue!
— Esta é uma foto aérea da região, — a moça apontou a ca-
sa onde havia acontecido o caso do Pai de Santo, — esta é a casa
onde acusam o Pai de Santo de ter matado as pessoas, este traço
em branco é o terreno que faz parte o sitio que estão escavando e
se acha terem mais de 6 mil corpos, como foi relatado, mas com
mais de 60 anos de homicídios mal explicados na região, se repa-
rarem faz parte do mesmo sitio, esta marca negra na foto que é

159
recente, é onde estava a cabana que queimou e que a promotoria
salientou com detalhes que não pretendo descrever!
A moça com calma muda a pagina, e numa foto ampliada
da frente do presídio, estava lá, o prédio em fogo, Jorge e mais 4
pessoas penduradas, e a moça fala;
— Esta é uma foto do presídio durante a primeira revolta
em Piraquara, vêem aqui Jorge pendurado, nu, o senhor mais
velho ao lado dele, se chamava Rômulo dos Santos, conhecido em
Piraquara por Pai de Santo Rômulo, o senhor condenado por
bruxaria em Piraquara, o segundo rapaz que vocês veem pendu-
rado, é um antigo inimigo de Moreira, Gustavo Kremer, condena-
do por trafico, também em situação duvidosa, mas como ele esta
morto, não temos como reabrir o caso e este terceiro senhor, é o
advogado que defendeu Rômulo, que foi preso por lavagem de
dinheiro e aguardava conclusão do inquérito, assim como o ulti-
mo rapaz, um rapaz que testemunhou contra Moreira a 8 meses,
e preso a 7 por trafico, mas não tinha vestígios de uso de drogas,
e nem histórico, mas aguardava a conclusão do inquérito, então
temos uma rebelião visivelmente para apagar alguns casos para
sempre!
— Protesto!
— Protesto aceito!
— E por ultimo antes de chamar a próxima testemunha,
não esqueçam que o único que sobreviveu a aquele dia, esta sen-
tado aqui, e como veem não foi fácil sair de lá vivo! Gostaria de
chamar o Juiz Constantino Pacione para depor!
A promotoria via que a moça estava fechando o cerco, ela
não deixaria Moreira fora disto, o rapaz disse que iria mostrar
que o senhor era o mandante, mas o juiz prestou juramento e a
senhora perguntou;
— Senhor Meritíssimo, poderia nos afirmar por que aban-
donou a carreira de Juiz?
— Sim moça, a 3 anos, investigava casos de sumiços de pa-
rentes de Moreira, que sempre que morriam deixavam suas he-
ranças não para os filhos, mas para ele, estava a investigar dois
corpos achados em um buraco em Piraquara, e no meio da inves-

160
tigação tive minha esposa sequestrada, não posso afirmar quem
foi, mas a única exigência era abandonar o caso!
— Pode nos dar detalhes do antigo caso?
— Protesto!
— Aceito!
— Meritíssimo, o senhor alguma vez na vida havia ouvido
ou sabido de alguém que tem a esposa sequestrada para que se
largue um inquérito?
— Não, mas imagino que muitos não narrariam o aconteci-
do, se minha esposa, que morreu a 6 meses, depois de anos de
depressão, ainda estivesse viva, não falaria!
— Entendo, seria só isto!
A moça olhou para a promotoria, eles se olharam e dispen-
saram o Juiz;
— Para não prolongar muito senhor Meritíssimo, quero
chamar a penúltima testemunha! Sacha Guerra!
A moça fez o juramento e a advogada perguntou;
— Senhorita Sacha, sabe que tudo que falar aqui estará so-
bre juramento, não pode mentir!
— Sim!
— Como conheceu Jorge Rodrigues!
— Eu o esperei do lado de fora do antigo trabalho no dia
que ele foi mandado embora!
— Como sabia que ele seria mandado embora?
— Todos sabiam, é o padrão daquele local de trabalho!
— Por que ficou lá para o encontrar?
— Por que me pagaram para deixar uma mala na Rodoviá-
ria, embora não soubesse o conteúdo!
Um agito geral se fez no local;
— Ordem no tribunal! – Fala o juiz a bater seu martelo;
— E como escolheu onde deixar o corpo?
— Me passaram esta foto!
A moça estica a foto com as instruções o fundo para a ad-
vogada que alcança ao Juiz ;
— Quanto lhe pagaram para isto?
— Vinte mil reais, como estava desempregada, aceitei!
— Sabia que seu suposto pai estava na mala?
161
— Vim a saber depois, mas o Senhor Machadinho, nunca
foi meu pai, sou adotada!
— E por que então foi lá falar com o rapaz?
— Eu achei interessante alguém sobreviver a uma armação
destas, ele no lugar de entregar os pontos, assumiu o apelido
para sair vivo, vi muitos morrerem em presídios por se dizerem
inocentes!
— E por que mais precisava falar com ele?
— Por que quando soube que Machadinho era uma das vi-
timas, precisava de alguém sem medo, que pudesse entrar em
contato com Moreira para lhe passar o que o senhor havia deixa-
do em meu nome, mas todo o submundo sabe que era de Morei-
ra!
— E conseguiu este intuito?
— Sim, o senhor ficou feliz com o rapaz, e fez questão de
lhe dar um agrado!
— O que quer dizer com agrado?
— Ele deixou 4,5% do que estava em nome de Machadinho
no nome de Jorge Rodrigues!
— Sabe qual o montante disto?
— Mais de 540 mil reais!
— Ele lhe deu algum agrado?
— Não, disse que era bom ver que estava falando com al-
guém inteligente, mas para quem olha de fora vai dizer, eu fiquei
com 40% da empresa, mas estar em meu nome hoje, não quer
dizer que é minha, assinei para ele uma procuração para tocar e
controlar isto, então embora apareça em meu nome, é dele!
— Fizeram algum serviço a mais para Moreira?
— Nada que possa ser falado senhora!
— Não entendi, por que não pode ser falado?
— Seria minha palavra contra a dele, ele me desmentiria,
me processaria, pois não tenho testemunha!
— Obrigado senhorita!
A advogada olha para Jorge e depois para o promotor e
passou a testemunha;
— Senhorita, a senhora assumiu que entregou a mala na
rodoviária?
162
— Sim, vai repetir as perguntas?
O pessoal da plateia riu, o juiz pediu ordem e olhou para a
moça e falou;
— Não aceitamos desacatos neste tribunal!
— Então não me chamem de burra!
— Continue!
— Senhorita, afirmam que você estava com Jorge no sitio
quando das mortes, o que tem a dizer?
— Tentei lhe dar um álibi, depois meu advogado explicou
que não poderia mentir em júri!
— O que quer afirmar com isto?
— Que não estava lá, quando o advogado disse-me que não
tinha como manter a versão, apenas uma pegada, nenhum corte
as pernas, e que mesmo querendo ajudar, chegando atrasada lá,
não tinha por que o fazer!
— E acha normal alguém mentir para a justiça?
— Senhor, com respeito, quando o senhor induz as teste-
munhas para terem sua conclusão, para afirmação pessoal, inde-
pendente de ter razão ou não, para mim é mentir da mesma for-
ma, sempre disse que os advogados e promotores deveriam tam-
bém jurar não falar ou induzir mentiras em júri!
Novas risadas, o juiz olhou o publico que se calou;
— A senhora tem alguma relação com o acusado?
— Não, nem amigos ainda somos!
— Existe uma acusação de extorsão contra a senhora, o
que tem a dizer sobre isto!
— Protesto!
— Não estou em julgamento ainda!
— Aceito!
Os promotores se olharam e o outro que era muito mais
quieto, que anotava e interagia pouco, perguntou;
— Como pode afirmar que é adotada?
— Se não tenho genes compatíveis com minha tia, não te-
ria com minha mãe, e isto me transforma em adotada!
— Como você vê Jorge Rodrigues?
— Como alguém que esta numa posição incomoda, coloca-
do nela por pessoas como eu, como Moreira, como outros que
163
não apareceram, distraindo a atenção enquanto os crimes conti-
nuam na cidade, as mortes continuam, e como se tem um culpa-
do, deixa-se para depois para investigar!
— Ultima pergunta, como você chegou ao local se seu carro
não estava lá quando os policiais chegaram?
— Não tenho aquele mapa da advogada dele, mas o sitio
tem duas entradas, uma por Quatro Barras, muito mais curta,
mas que dá na antiga cabana, e a que eles usaram, meu carro
ficou parado ao lado da cabana, da outra, 6 meses, se for lá hoje,
ainda esta lá, mas mostra que ninguém olha para o lado quando
já se tem o culpado!
Dispensaram a testemunha, Jorge não gostou dela ter fala-
do aquilo, mas estavam na briga, seria para guerrear, olhou em
volta, viu a advogada de negro, com o lenço branco, viu alguns a
plateia assim, engraçado isto, poderia nunca acontecer mas esta-
vam a seguir o que ele disse;
— O ultimo depoimento antes do recesso para o almoço é
do próprio réu!
Jorge foi a plenário, ele sempre dizia que jurar sobre a
constituição era algo que não adiantava para ele, que não acredi-
tava na isenção das leis, mas também não acreditava antes em
espíritos, em bruxaria, teria de rever seus conceitos;
— Senhor Jorge qual sua visão referente aos acontecimen-
tos que narramos aqui?
— Sei que são mais complexos do que narrou!
— O que gostaria de por em sua defesa?
— Gostaria apenas de esclarecer alguns pontos, pois sua
defesa foi tão boa que quase me senti inocente!
A advogada sorriu, este era seu cliente, o que ele falaria
agora;
— Juiz, promotoria, jurados, senhoras e senhores, como
disse, algumas coisas não batem nesta historia, parte dela até eu
fiquei sabendo pela minha defesa, pois não esqueçam, estou pre-
so a algum tempo, soube que tenho mais bens hoje preso do que
quando solto, minha advogada me perguntou o que queria que
fizesse, e disse para não contestar a minha assinatura, que nem
sei qual esta lá, mas sei que não assinei, mas se alguém quer me
164
dar milhões em bens, tem de ver quando eu vender, ou morrer,
quem será o ser que deixei como meu herdeiro, afirmo de anti
mão que Paulo Moreira não esta no meu testamento, mas sei que
podem aparecer nomes de laranjas para isto, sei que serei pro-
cessado por calunia, depois que Moreira aparecer, já que minha
advogada procura ele para por entre os que deporiam a mais de
15 dias, e ninguém sabe dele!
Jorge olha para a promotoria e fala;
— Sei que a promotoria faz sua parte, me condenar é fácil,
já que assumi a morte de todos que estavam naquela cabana, sem
o que nem saberiam que um dos corpos lá era de Camilo, então
quem os deu instrumentos para trabalhar fui eu, já que o único
que tinham o corpo era o de Camilo, mas sem a cabeça, que ainda
não conseguiram encontrar, e sinceramente, não sei onde esta!
Olhou para o Juiz e falou;
— A minha pergunta é por que duas pessoas, um dia de-
pois de acertado os nomes das pessoas que iriam testemunhar
morreram, pois minha advogada entregou a lista de nomes para
a defesa e duas pessoas não estão aqui, uma para responder por
que a igreja não declarou em momento algum que aquelas terras
não são da família Guerra, e sim da Igreja, e que geneticamente
Sacha Guerra era filha de um padre católico que foi morto antes
de vir esclarecer este caso, e o segundo o investigador Santos,
alguém que tinha todas as ligações entre os dois casos, alguém
que conhecia o lugar e que foi a primeira pessoa a ver o padre
morto naquele dia, mas ele me faz falta como testemunha, pois
ele sabia as diferenças de mortes, ele havia acompanhado cada
morte e autopsia, suas diferenças e suas semelhanças, mas o que
elas teriam de tão incrível para contar que tiveram de as calar?
— Protesto senhor!
— Continue!
— Primeiro, que todas as mortes tem relação com ou Mo-
reira ou a Igreja local, es pastores, es pedintes, es moradores
evangélicos, es funcionários de Moreira, es assessores de Morei-
ra, es parentes do mesmo, temos até uma es esposa de Moreira, e
confirmado ontem, foi encontrado o corpo da mulher que deu o

165
nome a Sacha Guerra, numa mesma cova com uma criança recém
nascida, mortas em dias diferentes mas enterradas juntas!
— O que quer dizer com isto? – O juiz;
— Que aquilo é uma desova de corpos, por mais de 60 anos
temos corpos sendo postos lá, mas o que Santos levantava era
quem eram as pessoas, pois o que a primeira vista parece um
ritual apenas, mostrou ser um ritual discriminatório, 60% dos
mortos são negros, 20% ambulantes, como circenses, ou pessoas
ligadas a outras religiões, outros credos, e 20% pessoas ligadas a
Moreira diretamente, deixar claro que estou arredondando para
entenderem a gravidade, mas mesmo assim não deixou de ser
um ritual, um de poder, e não um de mortes ingratas, e lembrem
que falamos de seres que mataram crianças, de vários tamanhos!
— Mas o que tem a ver com o caso?
— Tem que se ver minha linha de celular normal, como a
minha advogada falou, eu havia conversado com Moreira a pou-
cos minutos antes de ir para lá, mas a promotoria omitiu isto,
mas marcamos lá, a pergunta é por que alguém marca com al-
guém, num local daqueles?
Jorge deu uma pausa, olhou todos e concluiu;
— Por mais que seja bom em briga, para enfrentar Jorgi-
nho e mais 4 seguranças, não pensem que é fácil, Santos tinha
este relatório que não chegou também a este julgamento, onde
afirma que um ser contra 5 armas, por mais que seja bom em
tiro, acaba levando um tiro, mas não vou negar que tenha matado
os 5, e não estava armado mas ou fazia isto ou estaria morto, mas
o tiro, quem me deu foi Márcia, eu confiava nela, mas como se
diz, as vezes confiamos nas pessoas erradas, nos olhos errados,
quando ela atirou, não a poupei, vou lhes poupar dos detalhes,
mas mesmo os pedaços que foram encontrados dão o tamanho
da carnificina que aconteceu lá, mas como esta nos relatórios,
não foram feitos no mesmo padrão das mortes anteriores, com
exceção da de Camilo, que tem o mesmo tipo de cortes, mas até
aquele momento, tinha um acordo de assumir as mortes, isto me
mantinha como apenas alguém raivoso, mas não matei Camilo, e
ele foi incutido no local, não estava lá antes, mas quando da perí-
cia apareceu, a advogada tem uma foto da geladeira branca, es-
166
tranhamente inteira, se lembram da foto aérea, tudo a volta ficou
escurecido pela fumaça, mas a geladeira não, está lá até hoje,
branca!
— Mas quem você matou então? – Advogada;
— Me defendi como sabia, mas pensei em por tudo como
sendo o mesmo caso de mortes anteriores, e se não tivesse leva-
do o tiro, teria saído de lá e nada teriam me ligando a morte, quer
dizer, dois carros, mas nada de mais!
— Quer dizer que apenas se defendeu e matou 5 homens?
– O juiz olhando que não fazia sentido;
— Senhor, esta é a versão que faz sentido!
— Mas esta mentindo em Júri?
— Sim, estou mentindo em Júri! – Falou olhando para o Ju-
iz;
— E admite assim!
— Melhor do que ser tido como maluco senhor!
— E o que aconteceu?
— Como disse, algo aconteceu lá, — Jorge estava falando
isto quando o tempo começa a fechar fora do local, a cidade co-
meça a escurecer com uma chuva pesada, nuvem baixa, raios,
muito vento, dois raios e a luz do local cai e acendem as luzes de
segurança avermelhadas – algo que evito falar senhor, geralmen-
te pessoas morrem quando falo!
— Tente!
— Quando se fala em espíritos do mal, não se tem noção do
que eles podem senhor, mas como a estimativa que Santos falou,
qual a probabilidade de eu matar 5 pessoas sem levar um tiro,
impossível já que estava desarmado e ninguém fora a moça foi
morta a tiro, então ou eu matei 4 seguranças de Jorge com ma-
chadinhas, e eles com automáticas, ou alguém me ajudou, não
seria isto?
— Em teoria!
— E a perícia disse que mais ninguém além de mim saiu da
casa, depois que ela começou a pegar fogo!
Jorge sentiu os lobos chegando perto, respirou o ar, sentiu
o cheiro de enxofre e continuou;

167
— Alguém que a promotoria sabe que existe, o senhor sabe
que existe, mas não esta em nenhuma afirmação, ninguém quer
passar por maluco, todos falam de Deus e demônios, mas nin-
guém nunca vê isto, ou aceita isto em júri!
— Vai dizer que alguém matou aquelas pessoas, não tinha
como você matar elas todas?
— Os relatórios que a promotoria recebeu afirmam isto,
eles os tem, podem não estar em anexo pois não levavam a mi-
nha condenação, o que a moça falou, induzir ao erro não é men-
tir, como ela, acho que é a mesma coisa, os dois promotores pre-
sentes viram o ser quando no julgamento em Piraquara, o senhor
sabe que ninguém deixou o julgamento ser lá, os repórteres evi-
tam falar disto, mas alguns aqui também viram, e ainda tem co-
mo esta num processo a parte, a existência de mais de 6 mil mor-
tes no dia de meu julgamento que não tem explicação ou causa,
mas isto também ninguém fala, mas entra no que falei antes, se
vocês podem omitir a verdade, posso mentir em júri!
— Mas acha que alguém aceitaria isto, aquelas declarações
sem sentido de Piraquara?
Jorge olhou para a advogada e falou;
— Desculpe!
A advogada olhou em volta, as luzes piscaram, e uma leva
de espíritos nada amigáveis começou a entrar no lugar, Jorge não
se mexeu, o juiz viu que o senhor tentou não falar nada, mas os
seguranças atiraram em alguns, uma bala travessa um e atinge
alguém na plateia, as portas se abrem e vêem uma leva de lobos a
entrar e se posicionar na defesa dos demais, por minutos foi uma
briga de posição entre os lobos e os espíritos, e a senhora entra
pela porta e olha para Jorge;
— Aqui que esta se escondendo?
— Peço por eles Flavia, os deixe viver!
— Sabe que quero lhe complicar, ou não sabe?
— Não entendo isto até agora!
— Esta historia vem de quando o padre Constantino e Mo-
reira eram crianças em Quatro Barras a exatos 62 anos, eles fize-
ram um acordo comigo, não o ser que acha ser, não este corpo de

168
Flavia, e sim o de Magog, um espírito anti Deus, e os dois fizeram
um acordo de poder, eram duas crianças!
— Mas o que eles lhe davam?
— Seres mortos, para que absorvesse as almas!
— Mas parece que eles não conseguiriam fazer os cortes!
— Os cortes nos corpos se modificam quando se absorve
as almas!
— Mas então absorveu todas aquelas almas?
— Sim, mas por anos não absorvi nenhuma, até que Flavia
ofereceu sua alma para que desse vida a pequena Sacha, daí vol-
tei a ativa!
— O que quer dizer com voltou a atividade?
— Pressionei os que me deviam almas, o Padre, Moreira, e
algumas pessoas que já não estão andando entre os vivos!
As caras de espanto eram grande no publico, os espíritos
estavam ali a ser segurados longe das pessoas por imensos lobos
translúcidos, uma guerra que parecia no momento proteger as
pessoas, a advogada viu que isto o rapaz não teria mesmo como
relatar, mas os jurados prestavam atenção junto com o juiz na
conversa, mesmo que com um medo crescente no local, do lado
de fora as nuvens pesadas começam a desabar em uma chuva de
pedras de gelo do tamanho de laranjas, o que fez a cidade em
volta parar, arvores caírem sobre a rede elétrica com os ventos, e
o rio ao lado, córrego normalmente começa a subir de nível;
— Não entendi, como os pressionou?
— Eles me devem suas almas como Sacha, a menina que
veio a vida por que a mãe me pediu sua volta, mas o corpo da
menina estava morto, então precisava de um corpo recém nasci-
do, o Padre nos arranjou um no hospital de Agudos do Sul, mas
embora ela viva, me deve sua alma!
— E por que precisa de tantas almas?
— Tantas, nem comecei ainda, quando os céus nos fins dos
tempos queimarem em fogo, todos as almas serão minhas, mas
tenho de sobreviver até lá!
— Não posso concordar com isto Flavia!
— Sabe que me deve algo, ou acha que me contento com
migalhas?
169
— Não, mas assim ficaremos sempre em campos adversá-
rios!
— Sei que ainda não posso com você, mas breve poderei!
Jorge ouviu a luz voltando, e os demais viram as almas pro-
tegerem a vista da luz, os seres sumindo dali e os lobos saírem
calmamente pela porta, Jorge sentado olhou para o juiz e pergun-
tou;
— Do que falávamos mesmo?
O juiz olhou em volta, os seguranças atenderam a pessoa
baleada ao publico pediu um recesso e todos foram almoçar, o
rapaz foi a uma sala no próprio tribunal e comeu uma marmita
com calma, fora melhor do que ele pensara, sem mortes ainda;
O juiz pediu para todos se levantarem e a promotoria fez as
acusações, a advogada bateu na tecla que mesmo as mortes atri-
buídas ao seu cliente foram em legitima defesa, como todas as
provas indicavam, estavam por volta das 22 horas daquele dia
quando o júri se reuniu para decidirem;
O líder do Júri olhou os demais e fez perguntas;
— Acham que ele é culpado de todas as mortes?
— De quantas mortes ele seria culpado?
— Acham que ele agiu em legitima defesa!
— Acham que ouve premeditação nos crimes?
— Acham que foram crimes hediondo?
— Acham que ele deve receber que pena? Absolvição, Mo-
derada ou Máxima?
Dez jurados e o líder responderam, o líder deles pegou as
votações;
Primeira resposta, todos disseram não!
A segunda resposta houveram três respostas 5, três res-
postas 4 e quatro respostas dando 0 como respostas;
A terceira resposta foi 9 votos para legitima defesa, 1 in-
tencional;
A quarta resposta, 1 intencional e 9 sem premeditação!
Um pôs como crime hediondo, e o restante não acharam
crime hediondo, e a ultima, resposta 5 das pessoas afirmaram
que não estavam na alçada da justiça, 3 pediram pena moderada,
2 pela pena máxima;
170
O rapaz olhou as respostas e voltaram depois de um tempo
para a sala, e o mesmo passou ao juiz as respostas, e este as leu, e
olhou para Jorge e falou;
— Todos de pé para leitura da sentença!
— Nunca na vida vivi o que se passou por aqui, mas tenho
de concordar com 5 das afirmações, não temos alçada para julgar
o que aconteceu lá, Senhor Jorge Rodrigues, considerando as
votações o condeno a 5 anos, por assassinato de não mais de 4
pessoas em legitima defesa, sem premeditação, e não conside-
rando hediondo, condenado a cumprir prisão domiciliar, a seção
esta encerrada!
Jorge se encostou na cadeira, a advogada olha para o rapaz,
sorri, mas não sabia o que se passava naquela cabeça, parecia
saber que as coisas não estavam bem, mas não entendia onde,
talvez por que esperava pena máxima com adendo de hediondo,
o que podia mesmo com bom comportamento passar lá mais de
12 anos, ele levantou-se e a advogada falou;
— Entendeu?
— Não!
— Cumprira prisão domiciliar, em sua casa, não poderá vi-
ajar, não poderá ser visto a noite depois das oito da noite, não
poderá frequentar algumas coisas, mas vamos sair daqui, preciso
respirar!
Jorge sorriu e Sacha o abraçou e falou;
— Você realmente impressionou o juiz!
— Na verdade tirei os pés dos jurados, que a brilhante de-
fesa já havia os posto todas as duvidas referente ao caso!
Os promotores deram entrevista que iriam recorrer do ca-
so, pois era um absurdo o rapaz sair solto, e na saída ele não fa-
lou, uma repórter barrou a advogada e perguntou;
— Senhora, o que achou do julgamento?
— Sinceramente, me borrei de medo! – Fala ela sorrindo e
passando por eles, a frase ficou nos jornais do dia seguinte;
Jorge foi para seu apartamento, lembrou que nem sabia
onde estava a chave, sentia que nem tudo estava certo, mas se
estava em parte livre, em um ano, se comportando, pediriam

171
relaxamento por bom comportamento e ele estaria livre para ir e
vir;
O rapaz olhou o céu, agradeceu ao que ele não acreditava
antes, a Deus, pois estava vivo, não temia ainda a morte, mas
aprendeu muito o valor dela e da liberdade;

Primeira Passagem de Tempo, avançando no


sentido do segundo personagem forte desta
história.

172
173
Magog 2
J.J.Gremmelmaier

174
1° Ato
Dalma era uma criança espoleta, menina de 8 anos, que
adorava quando no fim de semana seus pais passeavam na casa
de sua avó, na região metropolitana de Curitiba, cidade de Quatro
Barras, a menina gostava de poder tomar banho de rio, de andar
a cavalo, de pescar no lago com seu pai sempre dizendo que ela
era quem melhor pescava, Dalma sentou-se naquele fim de dia,
sábado, a tadinha se fazia e seu pai ao longe tomava uma cerveja
com seu avô, sua mãe estava na parte interna fazendo um bolo,
sentia-se o cheiro de longe, ela sempre dizia que queria um ir-
mãozinho para brincar, mas seus pais pareciam não querer mais
um filho, mas ela sempre brincava que um dia ele viria.
Estava olhando para o rio ao fundo, quando viu os cavalos
se assustarem, olhou seu pai ao longe, ele não prestava atenção
nela naquela hora, levantou-se e foi a beira do riacho, olhar o que
assustou o cavalo; A claridade parecia boa ainda, embora perto
das oito da noite, horário de verão, ela via os pássaros ao longe
quando sentiu algo lhe tocar as costas, assustou-se por não ter
visto ninguém, um grito lhe saiu pela garganta a olhar para traz,
a menina não lembra de mais nada, desacordou;
Dalma acorda com um policial a pegando no colo, ela tenta
se separar e ouve;
— Calma menina! – O senhor gritou para outro e falou –
Uma menina, esta viva! – A frase entrou nos ouvidos da pequena
Dalma sem sentido, olhou para dentro da casa, muitos policiais,
viu dois corpos serem tirados em grandes bandejas, cobertos por
algo escuro, viu a mão e não quis acreditar ser a da sua mãe;
Um rapaz ao longe grita;
— Tem mais dois corpos aqui fora, perto do celeiro!
A menina olhou para onde deveriam estar seu pai e seu
avô, não entendia o que acontecera, mas estava obvio mesmo
para ela, uma lagrima correu o rosto da menina, que foi atendida
por um médico, depois por um psicólogo, não tinha mais família,
e aos 8 anos dá entrada numa instituição de menores, seu castelo
encantado desmorona, de uma forma que ela não entendera por
anos.
175
2° Ato
Dalma cresce numa instituição, por anos de brigas, tinha
uma cicatriz na altura do pescoço, ela as vezes coçava aquela
marca para uma vida, de quando tinha 14 anos e uma das meni-
nas puxou uma fala para ela, e quase a tirou a vida, dizem que ela
virou um bicho e reagiu e matou a menina, agora a 10 anos na
instituição, teria de achar seu caminho, sua vida, não sabia o que
faria, arrumara um emprego mas para ela, tudo que ela lembrava
de sua vida, eram os 10 anos que passou naquela instituição de
menores.
Dalma sai a rua, para em uma pensão, a senhora que cui-
dava a olhou como se fosse uma marginal, aquela cicatriz parecia
que era a primeira coisa que as pessoas colocavam a vista, para
se virar lhe deram meio salario, soube que tinha dinheiro para
apenas um mês de aluguel, teria de não perder o emprego, mas
seu mundo parecia meio fora de seu controle.
A moça saiu para seu primeiro dia de trabalho, balconista
de uma loja de conveniência de um posto de gasolina, a proprie-
tária foi simpática, mas parecia a olhar com desconfiança, via a
forma que o marido dela a olhava, estranhava aquele olhar ape-
nas em seu corpo, ele não olhava-a aos olhos, os frentistas se
engraçaram, um era até bonitinho, mas não queria confusão.
Estava em meio ao primeiro dia de trabalho quando um
rapaz apontou uma arma para ela no caixa e falou;
— Todo o dinheiro, rápido!
Ela olhou sem saber o que fazer, meio perdida, apertou o
alarme silencioso, mas uma luz acendeu atrás, viu o rapaz a olhar
com raiva e falar;
— Vai morrer cadela!
Dalma viu ele puxar o gatilho, ouviu o tiro, mas não viu
mais que isto, mais uma vez não lembra de como, mas quando
abriu os olhos, um dos rapazes do posto chamava a policia e o
outro levantava sua cabeça falando;
— Calma menina, a ambulância esta chegando;
Dalma toca no ombro e sente a ferida, olha para o chão e vê
os dois rapazes que havia entrado, ela nem sabia que o segundo
176
estava junto, mas os dois mortos, olhou para o rapaz e pergun-
tou;
— O que aconteceu?
— Não sei moça, ouvimos o tiro, quando chegamos os dois
estavam mortos, mas quando vimos você com o tiro, chamamos a
ambulância, que primeiro dia! – O rapaz sorriu, a moça estava ali
sendo atendida quando viu um rapaz vir a ela e perguntar;
— Pode nos dar uma declaração?
— Não sei! – Falou olhando os proprietários que balança-
vam afirmativamente a cabeça;
— Se achar que deve! – A proprietária;
Dalma olhou para o rapaz e perguntou;
— Você é policial?
— Não, jornalista, o policial vem depois!
Dalma sorriu e perguntou;
— E o que queria perguntar, já que devo ter desacordado
quando levei o tiro!
— Viu o que atacou os rapazes?
— Não, por que?
— Eles tem marcas de ataque de lobos, mas ninguém viu
nada, nem as câmeras pegaram, veem você caindo e os rapazes
parecendo apavorados, atirar para todo lado, mas os cortes se
fazem e eles morrem, por isto queria perguntar se viu algo?
— Não vi nem isto que me narrou!
— Tudo bem, se lembrar de algo, meu nome é Jorge Rodri-
gues, da Tribuna do Paraná, se lembrar de algo, me liga! – Fala o
rapaz esticando um cartão pessoal para a moça.
O paramédico olhou para ela e falou;
— Quem dera todos tivessem esta sorte moça, a bala pas-
sou tão de raspão que apenas uns pontos e cuidando em 7 dias
não terá mais que uma cicatriz;
— Cicatrizes são minha especialidade! – Dalma;
Um policial tomou seu depoimento e foi para a pensão, não
sabia o que acontecera, mas mais uma vez alguém fala de cães,
uma lembrança lhe vem a mente, algo tão antigo em sua mente
que a fez arrepiar—se, a cena dela olhando para alguém que lhe
tocou o ombro quando criança, aquele rosto na forma de um
177
grande cão, grandes dentes a mostra, mas a mão as suas costas
eram humanas, não lembra muito mais do que aquele olhar nos
seus olhos, olhos cor de mel, aquele rosnar, mas por que sempre
que algo vai acontecer, algo assim acontece, ela culpava a morte
de seus pais a algo assim, de seus avos, lembra como primeiras
lembranças, as palavras dos policiais falando que alguma mati-
lha, ou uma família de felinos grandes havia atacado aquela famí-
lia, que a criança tinha sorte de estar viva;
O ferimento parecia latejar a noite, mas não tinha dinheiro
para comprar um remédio para a dor, tinha a receita, mas não
tinha dinheiro, ficou a noite rolando e pensando, mas quando
deu o horário levantou—se e foi trabalhar, não queria perder o
emprego, mas mesmo assim, quando lá chegou, outra moça esta-
va ao caixa, a dona do posto de gasolina a chamou para conver-
sar, e a dispensou, estranhou, estava ali para trabalhar depois de
um dia que tomara um tiro, e mesmo assim fora mandada embo-
ra;
Os rapazes do posto mexeram com ela, mas tinha de arru-
mar um emprego, ainda reparou a forma que o proprietário
olhava para ela, estava a duas quadras do posto quando viu o
carro do senhor parar ao seu lado;
— Entre Dalma, queria conversar!
Dalma desconfiada entra no carro, o senhor não falou nada
e dirigiu para a saída da cidade, e entrou em um motel;
— Senhor, esta confundindo as coisas!
— Se quer um dinheiro, posso lhe ajudar menina!
Dalma abriu a porta e saiu antes de abrir o portão do mo-
tel, caminhou pela estrada, com alguns mexendo com ela a estra-
da, tudo errado e no lugar errado, foi pegar um trocado para o
ônibus e viu o cartão do repórter, pensou se deveria ligar, pegou
um cartão telefônico, passou por 4 telefones que não funciona-
vam até achar um que conseguiu fazer uma ligação;
— Senhor Jorge Rodrigues?
— Sim!
— Me deu um cartão ontem, queria saber se teria como me
ajudar!
— Lhe dei um cartão?
178
— Sim, a garota baleada no Posto de Gasolina, estou na ca-
pa de seu jornal hoje, mas sem emprego!
— Lhe mandaram embora?
— Sim!
— Esta onde?
— Rodovia dos Minérios, quase em Curitiba, andando para
um ponto de ônibus!
— Tem um bar na divisa com Curitiba, Bar da Dinda!
— Acho que vejo ele, ao longe vejo algo assim, verde!
— Sim, em uns 15 minutos estou ai!
A moça estranhou a prontidão, mas entrou no bar, os ho-
mens do local a mediram, sentou-se e pediu um refrigerante,
uma gasosa, era o que o senhor tinha de mais barato, sentada ao
fundo olhou o rapaz entrar depois de uns 10 minutos e a olhar;
— Desculpa moça se demorei!
— Veio rápido, mas não sei por que lhe liguei, preciso de
um emprego, e não sei para onde correr!
— Não tem família?
— Eu sai a 1 dia ao completar 18 de uma instituição de
menores, pois meus pais morreram como aqueles dois, a 10 anos,
eu era uma criança, mas quando cheguei para trabalhar hoje, a
senhora me mandou embora, e o marido dela deixei a porta do
motel, mais a frente, não desci antes por que não havia entendido
o que ele queria!
— Então não tem nem onde ficar?
— Tenho o aluguel da pensão pago por um mês, mas não
sei para onde correr!
— Você falou que seus pais morreram como aqueles dois?
Onde?
— Eu era uma menina de 8 anos, foram achados mortos
meus avos e meus pais, em uma fazenda em Quatro Barras, cor-
tados por caninos afiados!
— Dai foi mandada para uma instituição de menores?
— Sim!
— Então já posso começar a lhe ajudar, mas preciso de seu
nome completo, e alguns dados!
— Não entendi?
179
— Alguém esta cuidando dos bens de seus avos e pais, ge-
ralmente os juízes neste país esquecem de devolver, ou vendem
os bens, mas não repassam os mesmos para os seus verdadeiros
donos, deveriam cuidar, mas se apoderam, alegando depois de
um tempo que tiveram custos, pedem os bens como forma de
pagamento de seus encargos, mas ninguém pediu que o fizessem,
é um golpe normal no Brasil inteiro!
— Não sei se queria andar naquelas terras hoje!
— Calma menina, vou falar com uns amigos, ver se alguém
precisa de uma secretaria, melhor do que levar tiros em um pos-
to de gasolina, como esta o ferimento?
— Latejando!
— Não tomou um remédio para dor?
— Não tenho dinheiro para isto, senhor Jorge, ou eu me
alimento ou compro um remédio que o preço dá para 15 dias de
alimentação!
Jorge olhou serio para a menina aos seus olhos e falou;
— Certo, mas acha que consegue dormir direito com dor?
— Não é opção!
Jorge pede a receita e saem no sentido de Curitiba, compra
o remédio e dá nas mãos da moça, para no posto de gasolina que
a moça trabalhava e pede para falar com Danilo;
— No que posso ajudar? – O proprietário olhando para o
repórter, o reconheceu do dia anterior, veio ao lado da sua espo-
sa;
Jorge lhe acertou o olho e falou;
— Se pedir para demitir outra funcionaria para tentar a le-
var a um motel por trocados, da próxima vez o senhor vira capa
de meu jornal!
Jorge sai dali deixando o senhor xingando, este era Jorge,
alguns diziam que ele agora tocava grandes negócios no sub-
mundo da cidade, mas falavam principalmente, que tocava o jor-
nal que no meio de uma montanha de crimes que cometeu, aca-
bou em seu nome;
A proprietária vê que o rapaz foi ao carro e olhou a moça
no banco de passageiro, olha para o marido e fala;
— Por isto insistiu em a mandar embora, agora entendi!
180
— Vai acreditar nele?
— Por que duvidaria, já que sumiu o tempo suficiente para
ela lhe dar o fora e voltou falando mal da moça, que levou um
tiro, e veio trabalhar, mas já havia chamado outra!
A moça ao caixa parecia mais atirada, e a senhora falou;
— Se sorrir mais para meu marido, amanha contrato um
rapaz para o cargo! – A moça fechou a cara e o senhor se reco-
lheu ao escritório do posto de gasolina;
Jorge deixou a moça na pensão e pediu para a moça o ligar
na manha do dia seguinte, que teria de falar com alguns amigos,
Dalma agradeceu, tomou o remédio e caiu na cama, o corpo can-
sado e com um antibiótico, apagou a cama;

181
3° Ato
Dalma saiu sedo no dia seguinte procurando um emprego,
bateu em muitos endereços, mas parecia para ela que quando as
pessoas olhavam aquela cicatriz no seu pescoço, a conversa mu-
dava, estavam a discriminando e não sabia se queria ligar para o
rapaz novamente, ele foi até legal em comprar o remédio, mas
não queria dever nada a ninguém;
Andou o dia inteiro e quando chegou a pensão no fim do
dia, cansada, com os pés reclamando, viu o rapaz parado a frente
da pensão, olhou ele que perguntou;
— Não me ligou, já achou um emprego?
— Não, mas não gosto de dever favores!
— Não fiz nada ainda que faça me dever um favor, mas vai
demorar um tempo para entender que acho que posso ser culpa-
do por tudo que aconteceu em sua vida!
— Agora vai dizer que matou meus pais?
— Sabe que não, mas estava estudando a sua historia, sei
que pode parecer estranho, mas você perdeu seus pais no dia do
meu primeiro julgamento na cidade de Piraquara!
— Estava sendo julgado, o que poderia isto ter haver com a
morte de meus pais?
— Talvez o fato de muitas pessoas terem morrido naquela
cidade e nas vizinhas naquele dia, principalmente as fazendas
vizinhas a um sitio em especial!
— Estudou minha historia, mas não vou deixar você inva-
dir ela, se acha que gosto disto, não gosto!
Jorge olhou a moça e falou;
— Certo, não quer ajuda, é isto?
A moça olhou para o rapaz, era bonitinho, mas tinha algo
em comum com ela, varias cicatrizes ao rosto, talvez a única coisa
que fazia ela sentir que ele era uma pessoa a confiar, eram as
cicatrizes em seu rosto;
— Preciso, mas não gosto de ajudas que me parecem que
mais tarde vão custar caro!
Jorge olha para a moça e fala;

182
— Quando crescer criança, estarei por perto, mas se quer
sofrer nas ruas, esta quase conseguindo!
— Não sou uma criança, cresci na marra aos 8 anos!
— Não sabe o quão cruel é a vida menina, mas quando
achar que precisa, tem meu numero!
Jorge entra no carro e some pela avenida;
Dalma tenta ser firme, mas mandara a única pessoa que se
oferecera a ajudar, ela sabia por que, mas não diria isto alto, ti-
nha medo de pensar sobre isto, todos que se aproximaram dela,
de alguma forma morreram, seus pais, a melhor amiga no orfana-
to, a melhor amiga na instituição de ensino, sempre morriam, ela
achava que ela atraia morte, e não queria alguém que a ajudou
morto.

183
4° Ato
A moça estava a 15 dias tentando um emprego, o desem-
prego estava em alta, a falta de experiência, a falta de carta de
recomendação, a falta de QI, fazia com que algumas portas se
fechassem, a falta de roupa e calçados não lhe abriam outras por-
tas, não queria voltar a ligar para Jorge, mas parecia que não te-
ria opção, estava a meio mês de ser despejada, e não tinha salario
para o próximo mês, alguns rapazes lhe falaram que poderia fa-
zer uns programas e ganhar um dinheiro, mas não queria isto,
tinha medo disto, algo dentro dela dizia que não era uma boa
ideia, e não iria contra o que sentia.
Jorge olha para sua secretaria a porta;
— Fala Rosa!
— Os advogados conseguiram a liberação do apartamento
da família, das reservas de ações, e estão pressionando o juiz a
devolver a pensão que a menina deveria ter recebido, e ele se
apoderou!
— O que o pai da menina fazia?
— Fiscal Federal, ela tem direito de pensão até a maiorida-
de, quer dizer, tinha este direito, mas nunca viu a cor do dinhei-
ro!
— Vou ligar para o juiz, me consegue o telefone dele!
Jorge senta-se e olha a secretaria escrever o telefone, res-
pira fundo e liga;
— Por gentileza o Juiz Kevin Machado?
— Quem gostaria?
— Repórter Jorge Rodrigues, assunto de interesse dele!
— Ele não fala com repórter!
— Diz para ele que estou segurando uma reportagem que
vai tirar o cargo dele, mas se ele quer perder o cargo, não quero
processos amanha!
A secretaria pede um momento e um senhor vem ao tele-
fone;
— Quem gostaria de me falar?
— Jorge Rodrigues!

184
— O Retalhador me liga, acha que tenho medo de você,
marginal!
— Senhor, tenho a minha mão documentos que colocam o
senhor como quem se apoderou da pensão de uma menina de 8
anos por 10 anos, de seus bens, dos avos dela e quero saber se
vai devolver por bem, ou terei de estampar sua cara de pau na
capa da tribuna para que devolva!
— Não pode afirmar isto?
— Posso, todos os depósitos foram para sua conta, o se-
nhor se apoderou da pensão, depois afirmou que os bens lhe
geraram custos, mas não declarou que recebia a pensão da me-
nina, então mentiu em juízo, isto é apropriação, mas estou dando
a chance de não trazer isto a publico senhor, é só devolver 10
anos de pensão, os imóveis já consegui que meus advogados re-
vertessem o seu processo, mas a menina esta precisando!
— Acha que vou ceder?
— Estou tentando por bem Juiz, se quer da forma mais di-
fícil, vai ser um prazer, e sabe bem que adoro isto, tirar mais um
juiz de seu pedestal!
— Posso lhe dar a resposta até quando?
— Ontem, ou acha que rouba por 10 anos, e vou lhe dar um
prazo para pensar como desviar o dinheiro?
— Não tenho este dinheiro!
— Então verá como temos uma foto muito boa sua, para
primeira pagina!
— Espere, nem sei de quanto é esta conta?
— A conta é simples juiz, você se apoderou da pensão de
12 mil reais da menina, por 10 anos, pode ficar com 13° e abo-
nos, mas dá um milhão e quatrocentos e quarenta mil reais!
— Mas é muito dinheiro!
— Sim, e o senhor afirmou que esta fortuna não dava para
cobrir os custos de manter os 4 bens da família, e vendeu um
deles por 450 mil reais, este valor a menina também vai querer,
já que constatamos que os impostos não foram pagos, os bens
estão abandonados, depredados, sem cuidado algum!
— Mas não tenho estes recursos!

185
— Amanha a tarde lhe ligo Juiz, sabe bem que tem, sabe
onde pôs o dinheiro, amanha a tarde lhe passo o numero da con-
ta da menina, se depositar até as 18 horas, a reportagem não sai,
se não depositar, terá de pagar na justiça com juros, sabe que 3%
ao ano neste valor, é algo bem atrativo para a menina, ainda vai
responder por apropriação, por mentir em seu favor, e ainda vou
ter de lhe processar quem assinou os laudos por formação de
quadrilha, sabe que adoro fazer isto com juízes!
Jorge desliga o telefone e a secretaria o olha;
— Este deve estar dando pulos de raiva!
— A menina saiu a 3 semana de uma instituição de meno-
res, não tem nem para o aluguel, e o juiz se fazendo de coitado,
nem queria liberar os bens dela, que a menina terá de pagar im-
postos atrasados, reformas, e coisas do gênero!
— Pelo jeito comprou uma briga, não entendi por que?
— Lembra da menina que foi assaltada em um posto de ga-
solina e levou um tiro?
— Como esquecer, alguém vazou aquelas cenas montadas
da morte dos dois rapazes, muitos estão até hoje acreditando
naquilo!
— A moça é aquela, quase morreu e o juiz não se mexeu
nem para passar o que era de direito dela, ela deveria sair para a
maioridade como alguém que tem um futuro, mas não teve a
educação que a pensão do pai garantiria, não teve os bens ou o
cuidado que deveria, para que um Juiz tomasse algo mais caro
em suas férias a Europa!
A secretaria riu e anotou algumas coisas a mais, enquanto
Jorge revê a cena da morte dos rapazes, ele sabia o que acontece-
ra ali na hora que entraram, sentiu o cheiro dos lobos, mas quem
a menina era o que lhe passava a mente, pois ela não morreu, e
parecia evidente para ele que quando ela passou perigo, os lobos
se apresentaram para a defender, a pergunta que vinha a cabeça
de Jorge era quem era a menina, pede para os advogados verifi-
carem o caso da morte da família da menina.

186
5° Ato
Dalma olha para o quarto, tira os sapatos, seus pés cheios
de calos, não estava dando certo, parecia que teria de se virar de
outra forma, pois não queria precisar de dinheiro, mas era a so-
ciedade que ela vivia, onde ou se tinha dinheiro, ou não se tinha
nada.
Olha o cartão de Jorge, não sabia se queria ligar, na verda-
de aquele cartão lhe ataia, mesmo se fazendo de forte, algo a
atraia naquele rapaz, talvez aquele rosto cheio de cicatrizes, al-
guém capaz de viver com marcas pessoais sem se preocupar com
ela, ficou pensando em como ligar por dias, dia após dia olhou o
cartão, mas tinha medo do que estava sentindo;
O adiar disto pareceu estabelecer uma ligação para ela, que
não existia, os dois se viram duas vezes, e para ela toda vez que
olhava para o cartão, pareceu ser mais uma vez, então fazia mui-
to tempo que conhecia o rapaz, mesmo sem saber nada da vida
dele;
Um senhor bate a sua porta e pergunta;
— Por gentileza, senhorita Dalma Campos?
— Lhe conheço?
— Não, mas um amigo esta cuidando para que os bens de
sua família voltem a sua mão e vim lhe comunicar que tem um
apartamento no centro, esta meio judiado pelo tempo – o senhor
olhou em volta – mas é melhor que este buraco, que foi para seu
nome no dia de hoje!
— A quem agradeço isto, já que pouco lembro de um apar-
tamento no centro, morava no Jardim Social!
— A casa do Jardim Social, estamos reavendo ainda, mas
talvez venha em forma de dinheiro, pois foi vendida!
— Mas a quem agradeço!
— Ao Retalhador?
— Quem? – Perguntou a moça assustada;
— Desculpa, a gente chama ele assim, mas você deve o co-
nhecer por Jorge Rodrigues!
A moça agradeceu e viu o senhor lhe deixar um endereço,
duas chaves e um controle de portão, já tinha o que ver no dia
187
seguinte, mas ficava no centro, contou os trocados para o ônibus
que a levaria ao centro;
Dalma ficou pensando no que o senhor falou;
“O Retalhador”. Lembrou de um marginal na cidade que
era conhecido assim, em instituições de menores se fala muito do
submundo de uma cidade¸ mesmo Curitiba tinha seu submundo;
A senhora da pensão que vinha todas as noites perguntar
que dia ela acertaria o próximo aluguel, com pouca intimidade e
muita cobrança;
— Moça, semana que vem quero uma posição se vai ou não
ficar, pois preciso alugar para outro se não tem dinheiro!
— Acho que amanha terei uma definição, assim que chegar
amanha vou lhe falar! – Dalma;
— Melhor assim, não somos casa de caridade!
O rosto de Dalma se fechou, não estava ali de favor, mas
sabia que algumas moças que faziam programas a 6 quadras dali,
pareceram conversar com ela a pedido da proprietária, mas pre-
feria recomeçar a vida em outro lugar a ir as ruas, não era um
mundo para ela, Dalma sabia o que queria da vida, mas seu co-
meço não estava bom, mas sabia que teria de agradecer ao rapaz,
que mesmo ela dizendo que não precisava de ajuda, estava de
alguma forma verificando o que lhe era direito;

188
6º Ato
Dalma entra em um apartamento no 6° Andar da Rua Dou-
tor Murici numero 66, olha o apartamento, imenso, meio desgas-
tado pelo tempo, mas daqueles que sabia-se não existir mais no
centro da cidade, mais de 230 metros quadrados de pé direito de
3 metros, a mobília era antiga, o cheiro de mofo estava forte,
abriu o apartamento, começou a fazer uma limpeza, mas ainda
precisaria de um emprego, não tinha luz, não tinha água, estava
olhando o apartamento quando um senhor bateu a porta;
— Sim? – Dalma;
— Sou o sindico, e gostaria de saber se você vai pagar to-
dos os meses atrasados do condomínio!
Dalma olha serio para o senhor e fala;
— Prazer, Dalma Campos! – Esticando a mão;
— Não respondeu!
— Não falo com estranhos, principalmente gente mal edu-
cada que bate a minha porta e não se apresenta, pois sindico não
é seu nome senhor, e se nesta idade, não aprendeu educação, seu
caso esta perdido!
— Não entendeu, não pode entrar no apartamento se não
pagar o condomínio!
— Tente me proibir, que dai sim, não pago nunca mais o
condomínio, soube que o senhor proibiu a locação do apartamen-
to por falta de pagamento de condomínio, mas por que não co-
brou do juiz que estava cuidando do apartamento, não é homem
para cobrar ele, só moças a porta do apartamento?
— Esta me ofendendo!
— Some senhor, vim ver o que meus pais me deixaram, 10
anos para tirar o que era meu de direito de um juiz, que saiba, a
divida é dele, a minha, começa hoje!
— Não é assim que funciona!
— E quanto é a divida?
— Perto de 22 mil reais!
Dalma olha serio para o senhor e pergunta;

189
— Nem sabe quanto, foi o que entendi e esta me pertur-
bando? Faz o calculo certo senhor sindico, que vou cobrar cada
centavo do juiz que deveria ter pago isto!
— Mas...
— Senhor, pelo jeito quer discutir, mas não tem nem o va-
lor real, faz o calculo, vou recalcular, se tiver juros abusivo, vou a
justiça para pagar isto, pois dinheiro não nasce em arvore!
O senhor saiu e Dalma se desiludiu, sentou-se ao sofá, a
pensão era mais barato do que se manter ali, tentara ser valente,
mas sem dinheiro não conseguiria ficar ali, um imóvel muito
bom, mas com dividas de 10 anos, o lugar era maior que a insti-
tuição que cresceu, e que abrigava mais de 60 meninas;
Estava sentada quando alguém bateu a porta novamente,
ela foi lá pensando que era o sindico de novo;
— O que quer de novo?
Fala olhando o rapaz se virar;
— Calma, pelo jeito já conheceu o sindico! – Jorge;
— O que faz aqui?
— Se quiser vou embora, mas preciso antes de uns dados
seus para poder sumir de sua vida, já que quer me ver longe! –
Jorge;
— Não gosto de gente por perto!
— Vi, mas preciso de alguns dados seus, e duas assinatu-
ras!
— Não entendi por que esta fazendo isto?
— Apenas para deixar um desafeto mais pobre, nada mais
que isto!
— Certo, mas para que as assinaturas?
— Transferência do apartamento e abertura de uma ca-
derneta de poupança!
— Vai me dar dinheiro?
— Não, mas tem um Juiz que dei um prazo até hoje para
lhe depositar o que lhe é de direito, mas preciso passar uma con-
ta para ele fazer isto, e não tem nada em seu nome!
— Mas daria para pagar o condomínio?
— Daria para pagar muitos condomínios como este!

190
— Entre! – Fala Dalma olhando o rapaz – Pode me respon-
der uma pergunta?
— Faça, se não puder, não respondo?
— Por que seu advogado, lhe chamou de Retalhador?
Jorge ri e fala;
— Por que assim que me conhecem no submundo?
— Pensei que fosse um repórter?
— Atual dono da Tribuna do Paraná, comprei a alguns me-
ses!
— E por que um proprietário de um jornal aparece para
fazer uma reportagem de rua, ou para ajudar uma menina perdi-
da no mundo, o que quer?
Jorge olhou bem serio para Dalma;
— Acho que não prestou atenção no que falei, mas posso
me repetir, acho que sou responsável pela morte de seus pais!
— Você os matou?
— Não, mas espíritos mataram eles, seres bem ruins, mas
pelo que vi, os lobos lhe defendem, mas parece não lembrar de-
les!
— O que sabe dos Lobos?
— Eles me protegem as vezes, mas não sou santo menina,
apenas quero lhe ajudar, mas é mais para tirar do Juiz do que
para lhe dar, se não quer, fico para mim, não é problema isto
para mim!
— Me roubaria?
— Você nem sabe o quanto o Juiz desviou, como poderia
saber se lhe roubei, pois se não tivesse mandado o advogado,
você nem sabia que ainda tinham coisas em seu nome!
— Serio que tem 3 imóveis em meu nome?
— Serio, mas tem mais de 400 mil reais em ações que eram
de seu pai, mas esta é a parte que já esta em seu nome, apenas
precisando uma conta para por em seu nome!
— E o que não esta em meu nome?
— Parte do dinheiro que o juiz desviou, que deveria estar
indo para uma poupança sua, mas esta nunca foi nem aberta,
para depósitos da pensão de seu pai, que deveria ter recebido até
o dia que você adquirisse maioridade!
191
— Esta dizendo que deveria ter uma poupança, mas não
tenho, por isto quer a abrir, mas quanto este juiz deveria ter nes-
ta poupança?
— Quanto quer que o juiz coloque lá? – Jorge;
— Não sei, outros 400 mil?
— Posso ficar com o trocado que sobrar? – Jorge;
— Depende de quanto for o trocado?
— Ele não depositou ainda, mas estou também pedindo
para ele depositar o dinheiro de uma venda, que ele fez de um
dos imóveis da família!
— Mas se ele não depositar nada?
— Amanha saberá quanto ele depositou, e não precisa
agradecer, não é por você que estou fazendo isto, é apenas para
me sentir menos culpado, mas uma vez com o dinheiro no bolso,
não vou aparecer mais, tudo bem?
— Não entendo onde você entra nisto? – Dalma;
— Apenas cruzei a sua historia, mas não gosto de ser enxo-
tado todo dia, mas amanha você não vai precisar de minha ajuda,
mas tem de segurar os gastos, e pede para o sindico numerar os
verdadeiros custos, verá que não dá o que ele fala para os vizi-
nhos que é a divida deste apartamento!
— Já pedi, mas era apenas para ganhar um tempo, mas pa-
rece que terei como pagar, mas ainda preciso de um emprego!
— Isto não posso ajudar, falei com uns amigos, mas não me
ligou, a vaga não deve mais estar lá agora, não vou me queimar
duas vezes pedindo um emprego para alguém que não se deu o
trabalho de ligar!
Jorge não foi simpático, a conversa dos dois era cheia de
farpas, e quando ele saiu, ela olhou para fora, estava escurecendo
e precisava voltar à pensão;
Dalma desce e o Sindico estava a portaria e olhou para ela;
— Nem mudou e já recebendo homens?
Dalma olha para o senhor e fala;
— Ainda não, mas queria ver você ter coragem de barrar o
Retalhador! – Dalma falou olhando o rosto do senhor mudar, ela
sai a rua e o sindico olhou para o Porteiro e perguntou;
— O que ela quis dizer?
192
— Que queria ver você barrar o dono da Gazeta, sabe bem
como o pessoal o chama, O Retalhador!
— Aquele rapaz é o Retalhador, será que são conhecidos?
— Acho que sim, pois ele parece ter vindo apenas a comu-
nicar algo, e pareceu conhecer e saber que ela estaria aqui hoje,
nem o senhor sabia disto!
O senhor olha a moça indo pela rua, descendo a Murici no
sentido da Carlo Gomes pegar o Ligeirão;

193
7° Ato
Dalma entra na pensão, vê o agito da proprietária, mas
nem liga, entra em seu quarto, liga o chuveiro e começa a tomar
um banho, ouve alguém abrindo a porta, puxa a toalha, enrolan-
do seu corpo e vai a peça ao lado, vê a senhora terminando de
abrir a porta;
— O que faz aqui, eu pago por este espaço!
— Baixa a bola menina, sei que não tem como me pagar o
próximo mês, então – o sorriso da senhora foi assustador – Dal-
ma, este é o general Silvino, ele pagou seu aluguel, mas ele quer
receber por ele!
— Saia já daqui, não lhe devo nada senhora!
O general olhou para a senhora e falou;
— Pode deixar, eu a amanso!
Dalma começa a recuar, o senhor tinha ombros fortes, gri-
tou mas ninguém viria lhe ajudar, ela sente o senhor lhe segurar
o pescoço, e apertar, com a outra mão puxou a toalha, Dalma
ficou sem saber o que faria, tentava respirar, mas aquela mão
mal dava força para ela tentar agredir o senhor, que falou;
— Acha que não vai pagar o que me deve?
O senhor apertou mais o pescoço de Dalma, que sentiu
uma imensa raiva crescer nela, o senhor abriu a presilha da calça,
Dalma estava apavorada, mas sentia a raiva crescer dentro dela,
olhou sua mão, a imaginou como uma garra, ela queria cortar o
senhor a sua frente, ela queria o matar, o ódio cresceu e a sua
vista foi para cor de mel, depois para o avermelhado, ela passou a
mão ao ar, ouviu o grito do senhor, sentiu ele recuar, avançou
sem dó sobre o senhor, que tentava recuar, como se tivesse dian-
te de uma fera, Dalma não se via, mas o pânico no rosto do se-
nhor, era imenso, passou a mão no peito do senhor, que gritou de
dor, e caiu morto.
Dalma vê as próprias mãos, olha as garras, se olha ao espe-
lho, recuou inicialmente, depois foi chegando perto, vendo sua
feição voltar ao normal, de uma caveira com olhos vermelhos
profundos ao seu rosto, olhou em volta e viu espectros de Lobos,
ela nunca lembrava deles, mas naquele dia, parecia que eles não
194
estavam querendo esconder-se, viu um dos lobos, translúcidos
chegar a ela e baixar a cabeça, ela lhe acariciou, como um cão
amigo, pareciam amigos, pareciam saber de sua vida, pela pri-
meira vez lhe veio a duvida sobre o que acontecera no passado,
pois não poderia ser a versão que sempre acreditara.
O Corpo estava ali, ela não sabia o que fazer, o puxou para
a cama, o cobrindo, tomou um banho para limpar o sangue, ves-
tiu uma roupa, saiu pela porta e olhou para a senhora, que pare-
cia esperar a porta;
— Me deve um aluguel, e melhor não acordar ele, parece
que este seu general não aguenta com meninas novas!
— Eu não lhe devo nada!
Dalma encosta a senhora na parede e fala;
— Quer mesmo me ter como inimiga? – Dalma nunca foi de
ficar na defensiva, anos de Instituições de Menores, ensinam as
pessoas que defensiva não funciona em certos lugares.
Uma moça no corredor olhou para Dalma que falou;
— Se ela for cobrar de vocês algo, aquela porta ali, depois
de amanha esta livre, mas com o aluguel do mês pago!
A senhora olhou sem entender, abriu a porta e viu que o
senhor deveria estar a cama, não acendeu a luz, não importuna-
ria o cliente;
Dalma atravessa a rua e pega o telefone publico;
— Por gentileza, o senhor Jorge? – Fala Dalva com a voz
tremula, fora forte mas sua valentia estava sumindo, sabia que se
achassem o senhor lá, ela estaria fugindo, ou indo para a cadeia,
nem saiu de uma instituição e entraria na Cadeia, sempre apon-
tavam este caminho como quase inevitável para quem saia aos
18 do lugar que havia saído.
— Quem? – Uma voz feminina, que fez Dalma pensar que
era a esposa, uma amante, ele não era sozinho, estranho sentir
ciúmes de alguém que não tinha nada.
— Desculpa, não quero atrapalhar!
— Quem precisa falar com ele, só preciso saber para inter-
romper ele na sala ao lado!
— Ele não vai gostar, mas – um soluço saiu sem sentir –
não sei para quem ligar!
195
— Calma moça, como é seu nome? – A secretaria de Jorge;
— Dalma Campos!
— Vou chamar ele, não desliga!
— Não quero atrapalhar!
— Se não passar sua ligação, ele me esfola então só um se-
gundo!
A secretaria entra na sala de Jorge, onde outros dois se-
nhores estavam conversando, ela olha para ele, com o telefone na
mão, Jorge pareceu entender que era importante, estendeu a mão
para pegar o telefone, cobriu o fone, a secretaria falou;
— Dalma!
Jorge respirou fundo e falou;
— Boa Noite, quem?
— Dalma, lembra de mim?
— Sim, algum problema Dalma?
A frieza fez ela duvidar se deveria ter ligado, ela era uma
estranha, ele mais um marginal nas ruas;
— Acho que acabo de matar alguém!
A frase saiu sem ela sentir, Jorge olha para a secretaria e
faz sinal para chegar perto;
— Onde? – Jorge foi enfático, a menina viu que mudou o
tom;
— Na pensão, parece ser um senhor do exercito!
— No seu quarto?
— Não é o que esta pensando!
Jorge sorriu e falou;
— Só um momento! – A secretaria chegando perto ouve –
Manda os rapazes fazerem uma limpeza, naquela pensão na fren-
te do Quartel do Boqueirão, quarto 16, limpeza completa!
A secretaria sai pela porta e Jorge fala;
— Rapazes, amanha terminamos esta conversa!
— Problemas?
— Não, apenas um desentendimento!
Jorge vê os rapazes saindo e fala;
— Não entra em pânico Dalma, onde você esta?
— No telefone publico em frente!
— Me encontre na Igreja do Carmo, em meia hora!
196
— Mas...
— Sem mas, você não vai voltar lá hoje, entendeu?
— Não quero atrapalhar!
— Sei que tem medo de aproximar pessoas Dalma, eu tam-
bém tenho, mas faz parte do ser especial e estar na parte que
ninguém vê desta cidade!
— Mas você vai ajudar?
— Sim, mas não quero você por perto quando os rapazes
chegarem por ai, tudo bem, então vai a igreja!
— Não gosto de igrejas!
— Nem eu, mas nos encontramos lá!

197
8° Ato
Dalma caminha as 4 quadras entre a pensão e o terminal
do Carmo, olha para a igreja ao lado, não sabia por que não gos-
tava de igrejas, mas não sentia-se bem nelas.
Entra pela lateral, olha para dentro e senta-se na ultima fi-
leira, a igreja estava calma, as vezes chegava um ou outro, rezava
rápido e saia, duas coisas lhe chamaram a atenção, a loja de arti-
gos religiosos e o restaurante em anexo, parecia que a própria
religião estava mudando.
Dalma olha para as velas, sempre achava que quando ela
entrava em uma igreja as chamas das velas se voltavam para ela,
mas deveria ser apenas impressão, estava sentada, distraída com
as velas, quando as vê derreterem de vez, estranhou e ouviu ao
seu lado;
— Como esta? – Jorge;
— Como faz isto?
— Faz o que? – Dalma olha para as velas escorrendo ao
chão mais a frente, mais ao fundo, aos pés dos santos;
— Nunca entendi o todo menina, mas velas em sua maio-
ria, não parecem gostar de mim, mas reparava que elas lhe
atraiam!
— Sempre achei que elas interagiam comigo, mas achava
ser maluquice, agora vejo, de uma vez todas as velas derreterem!
— Lhe garanto que raramente vi isto Dalma, geralmente
elas apagam quando chego, não derretem!
Dalma olha para Jorge e pergunta;
— Estou encrencada?
— Não, mas precisa de um lugar para passar a noite!
— O que vai acontecer?
— O Juiz depositou para você uma quantia que lhe garante
a estadia, mas melhor não voltar naquela pensão!
— Mas eu matei alguém, como posso ter o feito, ele era tão
mais forte, o que era aquilo que vi no espelho?
— Quando me propus a ajudar, Dalma, era para ter respos-
tas, para evitar que coisas assim acontecessem!
— Mas como pode ajudar?
198
— Os meus rapazes encenaram uma briga na pensão, os
demais ouviram os tiros, mas não viram o corpo, apenas o tira-
mos de lá!
— Mas quando acharem o corpo, o que vai acontecer?
— Vão ter de explicar o que nem eu nem você explicamos,
apenas vivemos!
— O que você é?
— Um ser normal, mas que não sei por que, estou sempre
por perto quando alguém especial como você resolve aprontar!
— Eu não aprontei, aquela senhora...
— Não preciso de detalhes Dalma, ninguém aqui precisa de
detalhes, mas lhe deixo em seu apartamento!
— Esta sem luz e agua!
— Estava pela tarde, não agora!
— Você pagou?
— Não, adiantei o dinheiro que vai me repassar, não tenho
porque sustentar alguém que tem mais que eu!
Jorge a deixa no apartamento, o rapaz da portaria nem dis-
cute nada, sabia quem estava ali, Dalma entra no apartamento, o
cheiro de limpo era bem diferente de horas antes, quando saíra
dali, Jorge se despediu e ela se jogou a cama, estava tensa, mesmo
cansada não conseguiu dormir.
9° Ato

Dalma ouve quando nas primeiras horas da manha alguém


bate a porta, não dormira, estava com olheiras, duas possibilida-
des em sua cabeça, mas não sabia se estava preparada para ne-
nhuma delas.
A moça levanta—se e olha pelo olho magico, vê o sindico,
uma decepção, ignorou a campainha, foi a um banho, não tinha
roupas ali ainda, mas viu que quem limpara, equipara o local;
Perto das 9 da manha quando toca a campainha novamen-
te, ela abriu, olhou o sindico a porta;
— Algum problema senhor?
— Tem de pagar o que deve!
— Refez o calculo?
— Acha que não sei fazer isto?
199
— Vou pedir ao sindico, a você, para lhe multar, senhor,
pois me acordou as 7 da manha para isto, se fosse outro garanto
que o senhor estava multando!
— Não sou culpado de dormir até tarde!
— E eu não sou culpado de existir uma lei municipal que
determina coisas como não perturbar, de tal a tal horário!
— Parece estar nervosa, mas a conta é esta! – Fala estican-
do um papel para a moça;
— Calma sindico, ela tem mais que eu para pagar esta con-
ta! – Fala Jorge saindo pela porta do elevador.
— Já vai receber homens em casa? – O Sindico;
— Sou de maior, o apartamento é meu, esta num horário
propicio a visita, qual o problema? – Dalma;
— Não gosto de arruaça!
— Vou bater a sua porta de madrugada para parar na hora
que esta no bem bom, já que não gosta de arruaça!
O sindico viu que a moça não era de levar desaforo, Jorge
pega a conta da mão de Dalma, ela nem teve tempo de segurar
mais forte, olhou a conta e falou;
— Calma Dalma, todas estas multas por atraso que tem
aqui, você não paga em juízo, os juros, no máximo 3% ao ano –
Jorge olhou o papel – e a conta de gás e luz, desculpa mas não vou
deixar você pagar, você não usou um dia sequer em 10 anos, co-
mo pode pagar por isto!
— São os da área em comum! – Sindico;
— Mas vai ter de provar – Jorge olha para o lado, que esta
luz, que acende com a presença, — aponta a luz ao corredor –
num andar que os 3 apartamentos estão vagos, ascendeu uma
única vez, pois sabe que o gás ela não usou!
— Sabe que ascendeu! – O sindico;
— Sei que não ascendeu, pois meu pessoal a trocou ontem,
sabe bem disto!
O sindico pediu licença e saiu, Dalma olhou para Jorge e fa-
lou;
— E você, o que faz aqui?
— Vim ver se estava bem, mas se já esta me colocando pa-
ra fora, sinal que está, então me vou!
200
— Espere! – Dalma esquecia as vezes que aquele rapaz era
só mandar sumir que sumia mesmo;
Jorge a olhou, esperou ela falar;
— Entra, preciso saber o que aconteceu!
Jorge entra e olha a sala, senta-se no sofá que ele mesmo
escolhera a dois dias, mas não iria falar isto para a moça, olha
para ela aos olhos;
— Por que esta me ajudando, não vale aquele papo de que
acha ser culpado pela morte de meus pais!
— Primeiro, tudo isto é seu, acho que a lei deveria ser para
todos neste país, mas não é! Segundo, quando entro em algo en-
tro de cabeça, por isto ganhei o apelido de Retalhador, mesmo
sem ter retalhado ninguém, terceiro, quando parar de me por
para fora, talvez possamos realmente conversar sobre o que
penso!
— Sabe como disse, que odeio aproximar as pessoas!
Jorge a olhava aos olhos, não na cicatriz, o que era normal
as pessoas que olhavam para ela, por vezes se pegou olhando as
cicatrizes do rapaz, e se condenou;
— Eu não sei como agradecer, isto ontem estava um lixo,
hoje esta mobiliado, cheiroso, e sei que foi você, quem mais po-
deria ter feito isto?
— Sou bom em meter o bedelho na vida dos outros, mas
você tem de saber quando vai me por para correr!
— Por que me transmutei em perigo?
Jorge olha para ela e fala serio;
— Por que? Por que você é o anteposto de Magog, o ser que
vem a existência para contradizer e contrabalancear na balança!
— O que é Magog?
— Até hoje não entendo direito o que é Magog, pois é uma
historia referente a um comedor de almas, quem teria ao final
dos tempos, o direito de ficar com as almas que não fossem sal-
vas, referente a algo que não acredito, um dia de julgamento fi-
nal!
— E o que seria alguém que pode contrabalancear isto?
— Gog!
— O que seria gog?
201
— O ser sem rosto, que viu no espelho, o ser com garras de
lobo, que protege as almas que ficarem, o espirito capaz de sub-
jugar o mundo no dia do juízo final e forçar um recomeço!
— Não é muito para uma menina de 18 anos?
— Sei que parece muito, mas entendo disto tanto quanto
você, sei que o reaparecer de Magog, atrairia o espirito de Gog,
mas não quer dizer nem que será o fim dos tempos, Magog mata
e aprisiona as almas, Gog as liberta para poderem renascer, mas
para mim, isto é mitologia sem fundamento ou prova, mas sei
que Magog existe!
— Você é maluco, sabia disto!
Jorge se levanta e fala;
— Sei que sou, apenas queria lhe informar, vim aqui para
isto, que o dinheiro já esta na sua conta, o advogado vem depois
lhe passar cartão, e instruções, pois tem de ir ao banco fazer se-
nha e coisas assim!
— Quanto ele depositou?
— Não vi o saldo, mas acredito que ele foi generoso! Obri-
gado pela atenção, cuida com este sindico, ele é maluco mesmo!
A moça viu que Jorge já estava indo para a porta, ela o
chamou de maluco, o que poderia ele fazer;
— Mas já vai?
— Tenho de trabalhar, mas se cuida!
Jorge abre a porta e sai como entrou, sem cerimonia, Dal-
ma fica olhando ele sumir no elevador, sem entender aquele ra-
paz, quer dizer, senhor, deveria ter mais de 30!

202
10° Ato
As desventuras da vida de Dalma pareciam estar passando,
fazia 3 semanas que estava no apartamento, quando um policial
pede para falar com ela a porta, entrega uma intimação para de-
por, ela olha aquilo, sabia que era referente ao morto, mas nunca
mais passou naquela pensão, falou com o advogado que a reco-
mendou ir, mas ele se apresentou ao seu lado; — Senhorita Dal-
ma Campos?
— Sim, algum problema delegado?
— Temos aqui uma declaração de que você foi vista saindo
de um quarto na Pensão de Dona Laila, onde foi encontrado um
senhor morto!
— Fiquei um tempo na pensão da Dona Laila, enquanto os
documentos e transferências de meus bens não vinham ao meu
nome!
— Tem bens?
— Poucos, mas sim, a intimação foi entregue em meu en-
dereço fixo na cidade!
— O que sabe sobre a morte do General Silvino Macedo?
— Não conheço nenhum general com este nome senhor!
— Existem testemunhas que dizem que ele morreu no seu
quarto naquela pensão?
— Desculpa senhor, mas a pensão é de Laila, ela loca quar-
tos por mês, estive num dos quartos dela, mas isto não me torna
dona dos quartos, ela me falou para arranjar outro lugar, pois
não era casa de caridade, acelerei meu advogado que conseguiu
liberar o imóvel onde moro, mas não entendo do que esta me
acusando!
— Teria problemas em ceder material para analise?
Dalma olha para o advogado, depois para o delegado;
— Depende, onde ele foi encontrado morto? Se foi no quar-
to que eu aluguei, com certeza deve ter vestígios meus lá, já que a
limpeza dos quartos é por conta de Laila, e nisto ela não é nada
caprichosa!
— Quarto 16!

203
— Este mesmo, então acharam um general que não conhe-
ço no quarto que eu alugava, o que me liga ao crime senhor?
— Você abandonou a pensão naquele dia, e não mais vol-
tou!
— Você não conhece a pensão pelo jeito, mas não abando-
nei, o que tinha lá, devo ter deixado duas peças de roupa, no
guarda roupa, e um sapato velho, apenas as roupas que não me
eram de uso!
— O senhor era um senhor respeitável, e é difícil explicar a
morte dele!
— É difícil ou esta empurrando em quem é mais fácil de in-
criminar?
— Esta tentando me ofender menina?
— Estranho este comportamento, quando vocês nos acu-
sam, sem provas é investigação, quando nos põem na parede,
sem provas, é fazer o seu trabalho, quando soltamos um verbo
mais pessoal, vira acusação, ofensa, desculpe, fui roubada por um
juiz por 10 anos e não vi ninguém ir prender ele, consegui minha
maioridade a poucos meses e somente agora posso correr atrás
do que era meu por direito, mas nisto ninguém se mete!
— Esta bem assessorada para alguém que não tem rabo
preso!
— Isto também não é ofensa? – Dalma;
O advogado viu que estava esquentando e perguntou;
— Quem acusa minha cliente de ter envolvimento com a
morte deste senhor?
— A proprietária da Pensão!
— Desculpa, mas vai manter uma acusação contra uma cri-
ança, baseada no depoimento de Laura Laiks, mais conhecida por
Laila, que tem mais de 50 processos por abuso, por prostituição
de pessoas, por tentativa de assassinato, desculpa, mas se sou-
besse que a acusação vinha dai, nem teria deixado minha cliente
comparecer!
— Conhece dona Laila?
— Todo o submundo conhece, só uma pergunta, o senhor
respeitável que falou, General Silvino Macedo, não esta falando
do Macedinho, General Macedinho?
204
— Sim, ele mesmo!
— Vamos embora Dalma, Macedinho tem uma ficha corri-
da maior que Laila, estupro, apropriação indébita, contrabando,
abuso de soldados, sexualmente falando, o delegado esta lhe acu-
sando por que não tem quem acusar, ou sabe quem foi e esta
tentando achar alguém para incriminar!
— Esta me ofendendo advogado!
— Sei, mas quem mais depôs contra, ou não tem testemu-
nha nenhuma e quer arrumar uma? – O advogado sabia que não
havia testemunha, as mesmas negaram ver algo, negaram até ter
visto a menina no local, Laila que insistia em acusar Dalma, per-
dera um bom cliente e queria compensar com um cala boca, uma
gorjetinha.
O delegado olhou para Dalma e falou;
— Não saia da cidade, se for sair, avise onde vai!
Dalma sorriu e o advogado falou;
— Vamos, lhe deixo em casa! – Os dois saem e o auxiliar vi-
ra para o delegado e pergunta;
— Conseguiu alguma coisa?
— Podia jurar antes que ela não tinha nada haver com o
caso, agora tenho quase certeza que ela sabe o que aconteceu!
— Por que?
— Os indícios mostram que o pessoal do Retalhador esteve
por lá, nem Laila teve coragem de afirmar isto, é só olhar as fotos
que se entende por que acho que foi gente dele, agora a menina
aparece com o advogado do Retalhador!
— O que faço?
— Fica de olho, acho que Laila sabe o que aconteceu, mas
preciso que alguém fale!
O investigador sai pela porta e o delegado fica olhando pela
janela a moça entrar no carro do advogado;

205
11° Ato
Jorge estava mais um dia a rua, ele adorava ficar atento a
noticias na região de Piraquara, que era onde as coisas estranhas
aconteciam naquela cidade, se alguém lhe falasse que ali existia o
senhor do saco, Saci Pererê, cuca, em Piraquara para ele tudo
poderia existir, estava chegando à casa de uma senhora, idosa, vê
os policiais a algemando;
— Uma entrevista Delegado?
O delegado olhou para Jorge e perguntou;
— O que procura, esta muito ativo ultimamente nesta regi-
ão?
— Procurando coisa diferente, o que aconteceu?
— Temos um morto a duas quadras daqui, os vizinhos dis-
seram que esta senhora falou com o senhor horas antes da mor-
te, estamos prendendo para averiguação!
Jorge olhou para a senhora, um rosto desgastado pelo tem-
po, se lia na porta a frase:
“Mortícia, Mãe de Santo e Vidente”
Jorge fotografou e mandou a reportagem para o jornal, se-
ria apenas uma nota na pagina inicial do dia seguinte, mas ligou
para o advogado e pediu para verificar a historia da policia;
Jorge vai ao enterro do senhor morto que diziam que Mor-
tícia havia matado, ele sempre olhava os corpos, sempre ouvia os
familiares, sempre atento ao que estava acontecendo na cidade;
O rosto estava totalmente pálido, mesmo com a maquia-
gem, parecia que o senhor não tomava sol há séculos, olhou para
os parentes e ficou a porta ouvindo a conversa dos demais, soube
que o senhor foi encontrado sem uma das pernas e sem um dos
braços, a policia não sabia onde estava, muitos falavam que só
poderia ter sido aquela bruxa, pois quem mais faria uma coisa
com um santo homem.
Jorge estava ouvindo a conversa quando seu celular tocou,
e o advogado falou que conseguiu um Habeas Corpus e a senhora
estava sendo solta dentro de no máximo uma hora, Jorge saiu
dali e foi a Delegacia, viu a senhora ser solta, todo o constrangi-
mento de algo assim, olhou para ela e perguntou;
206
— Senhora Mortícia Nunes?
— Me conhece rapaz? – A voz dela era rouca, a ruga a testa
com aquele rosto castigado pelo sol, combinava com a palavra
bruxa, sabia de onde veio a afirmação, as pessoas sempre tiram
suas ideias pela aparência, por mais que digam que não;
— Meu nome é Jorge!
— O repórter, vi o senhor quando me prendiam!
— Não estou aqui como repórter, apenas como quem aju-
dou pagando o advogado para lhe tirarem dali!
— Se foi você, obrigada, mas tenho meus afazeres!
— Se importaria de me responder apenas uma pergunta?
— Vai por na primeira pagina do jornal?
Jorge sorriu, bem poderia, mas não precisava disto;
— O que o senhor que morreu precisava?
— Por que quer saber?
— Sempre quero saber das coisas estranhas!
— Por que acha que ele queria algo estranho? – Mortícia
andando em seu sentido;
— Por que algo me diz que nunca encontraram o braço e
nem a perna do senhor, mas isto, eu não sei ainda por que!
— Ele disse que estava sonhando com uma senhora, que
lhe aparecia nos sonhos e dizia que ele estava condenado a mor-
rer, dizia que ela era bonita, que precisava de um trabalho para
que este espirito o deixasse em paz!
— Fez o serviço?
— Não fiz, ele morreu antes!
— O que acha que era esta mulher?
— Alguma amante, ele queria afastar alguma amante, mas
se duvidar foi ela que o matou, quando descobriu que ele era
casado, e tinha 6 filhos!
Jorge sorriu e falou;
— Estranho uma vidente falar isto, desculpa, as vezes ten-
do a acreditar nas pessoas, mas me deixei levar por sua aparên-
cia!
— Não acredita que foi uma amante?
— Sei que não foi, mas não sei onde e porque ele morreu,
mas obvio que não foi em casa, e obvio, que sem uma perna ele
207
não chegaria em casa andando, mas deixaria uma montanha de
sangue se fosse morto em casa, o que não aconteceu, agora ima-
gine perna e braço!
— E por que estamos conversando?
— Só queria saber o que ele reclamava, mas posso estar
enganado, outros vão aparecer mortos, se fosse a senhora, mu-
dava da cidade, sabe que a policia tenta achar um culpado, de
preferencia pobre e sem contatos para reclamar!
— Então sabe quem os matou?
— Já fui acusado de alguns crimes assim, no passado, já fui
a júri popular por estas mortes, sei que quando começa, algo tem
de os parar, acho que sei quem pode parar os crimes, mas sei
também que sobra sempre para os menos favorecidos!
— Se você foi acusado de assassinatos, não é apenas um
repórter?
— Me conhecem como Retalhador!
Até então a senhora estava normal, mas deu um passo
atrás, pensou que ele poderia estar querendo a matar, era nor-
mal isto para Jorge, mas não estranhou quando ofereceu uma
carona e a senhora recusou;

208
12º Ato
Policiais chegam a uma pedreira desativada na região da
serra do mar, mas ainda no município de Piraquara, nascentes do
rio Iguaçu, chamados pelos vizinhos que estranhando o forte
cheiro que vinha da pedreira, foram dar uma averiguada.
— O que temos aqui investigador Lopes?
— 7 corpos mutilados, podem existir mais, mas encontra-
mos apenas 7 cabeças!
— Vai começar de novo?
— Do que esta falando?
— Mais um ritual maluco, por que não podem ser apenas
crimes normais, esta cidade me enerva com isto! – O Delegado;
— Acha que aquela senhora esta envolvida?
— Acho que não, sabe que não achamos nada que a ligas-
sem ao senhor, mas pelo jeito teremos mais um caso estranho!
O delegado olha ao longe e vê Jorge, olha para o investiga-
dor e pergunta;
— Ele tem estado muito por ai?
Lopes olha para onde o delegado olhava, e responde;
— Sim, ele parecia estar procurando algo, mas não sei ain-
da o que!
— Verifica com as demais delegacias os casos que ele tem
verificado, sabe que ele é sempre um criminoso a se ficar de olho!
— Nunca entendi por que ele saiu livre de seu julgamento,
alguém confessa alguns assassinatos, que bem poderiam lembrar
estes e sai livre!
— O que aconteceu não sei Lopes, mas de juiz a advogado,
de júri a repórteres, saíram do julgamento dele impressionados
com algo, mas algo que não esta nos autos do processo!
— Acha que foi ele?
— Acho que não, mas acho que ele estava esperando que
acontecesse, então ele sabe de algo que não sabemos!
— Verdade, quer que o intime delegado?
— Não, com ele é mais fácil na conversa informal, sabe que
ele vem com advogados e acaba não falando nada!

209
Os corpos retalhados, com exceção da cabeça que estava
inteira foram mandados para o Instituto Medico Legal de Curiti-
ba, para analise, o delegado abre um processo investigatório para
o caso.
Na saída do pessoal aproveitando-se que Jorge ainda esta-
va ali o delegado Salgado chega perto e pergunta;
— Pelo jeito fez seguidores Retalhador?
— Pelo jeito queria estar errado, mas de novo, vamos ter
problemas delegado!
— Acha que é só o inicio?
— Começou a 3 meses, com dois assaltantes em Curitiba,
num posto de gasolina, mortos como se algo os atacasse e os mu-
tilasse em segundos, depois houveram outros poucos casos, um
em Curitiba, dois em Quatro Barras, um em Pinhais, um em São
Jose dos Pinhais e 6 em Piraquara, mortes simples onde parte do
corpo não foi achada, agora temos o retaliar de 7 corpos, não sei
o que esta acontecendo Delegado, mas algo está!
— Mais um criminoso limpando a sujeira? – Delegado;
— Acho que não, mas não sei, pode até ser! Os crimes da
machadinha eram com um corte mais preciso, este parece ser
feito com outro objeto!
— Andou olhando os corpos? – Delegado;
— Andei olhando casos que ninguém leva a serio, mas não
toquei em nada, nem na minha machadinha, delegado! – Jorge foi
irônico, pois não adiantava negar o que para todos os delegados
da região era certo, ele matara e saíra livre.
O delegado olha tirarem mais pedaços e pergunta;
— Acha que acharemos quantos?
— Não sei, mas observei o dia inteiro, não deveria ser uma
pedreira desativada?
— Sim!
Jorge aponta os caminhões, dois contêineres ao longe como
se alguém estivesse se reinstalando ali e depois completa;
— Não posso garantir nada, mas posso apostar que eram
funcionários de alguém, trabalhadores de pedreiras!
— Mas por que morreriam?
— Lugar errado na hora errada!
210
— E por que esta aqui ainda, os seus amigos jornalistas já
foram?
— O que tenho a olhar, não aparece de dia! – Jorge sabia
que estava no fim do dia, começava a ficar escuro e o Delegado
perguntou;
— Vai fazer truque de magica como no seu julgamento?
— Magica que não posso controlar, magica que mata quem
esta por perto!
O delegado sente um frio na espinha, olha para a pedreira e
sente o corpo arrepiar-se, olha para o escuro chegando e vê algo
que nunca esqueceria em sua vida, os policiais pararam e Jorge
falou;
— Melhor estarem prontos para correr, indico os carros!
O delegado mesmo querendo se mostrar forte recua para o
carro com os demais, se vê o rosto de uma mulher ao ar, imenso
rosto e o mesmo foca em Jorge;
— Jorge, quanto tempo?
— Escondendo-se por aqui?
— Onde esta ele?
— Não sei do que esta falando?
— Gog, sei que se eu vim a vida, ele veio também, onde ele
esta, sinto sua presença, mas não sei onde?
— Vai ver que esta é a parte que descobre que sou Gog?
— Você não é Gog, mas sei que se for preciso, tentara apoi-
ar a ele, para que não possa continuar meu caminho!
— O que pretende Magog?
— Almas, sabe que esta me devendo almas!
— Não lhe devo nada, sabe disto!
Magog, um ser translucida, com uma cabeça imensa parece
avançar no sentido de Jorge que olha para trás e fala olhando o
delegado;
— Se querem sair, ainda é tempo, depois esquece!
Alguns policiais atiraram contra o rosto, mas não fez nada,
além de se revelarem a senhora, que sorri e avança sobre os dois
que atiravam, os demais vendo aquilo, não tem tempo de nada,
ela atravessou os corpos que caíram em pedaços, o delegado fala
para o auxiliar;
211
— Sai rápido, vamos rápido!
O delegado e os demais começam a recuar Magog olhou
para eles, mas ouve Jorge falar;
— Vai me deixar falando sozinho?
— Acha que pode comigo?
— Nunca soube exatamente minha função nisto tudo Ma-
gog!
— Sua função, não sei, acho que nenhuma!
Jorge vê aquele rosto avançar sobre ele, mas sente ela ba-
ter numa aura que só viu quando ela estava muito próxima, ela
avançou como fizera nos militares, mas algo a havia barrado;
— Algum problema Magog?
— Você tem proteção, nunca entendi quem é você, mas sa-
be que tem proteção!
Jorge vê os lobos translúcidos saindo dos matos a volta e
Magog recua, algo não estava bem, sempre os lobos contra Ma-
gog, ela olha o rapaz;
— Acho que tenho de estudar melhor você! – Magog.
O ser translucido some ao ar, os policiais ao longe, vendo
os espíritos em forma de lobo, não se aproximam, Jorge olha para
eles que apenas uivam e somem pela mata fechada da região.
Jorge caminha calma ao seu carro e vai a Curitiba, estava
na hora de algo mais radical, mas não sabia ainda o que, bate a
casa de Sacha Guerra, esta o atende a porta e pergunta rudemen-
te;
— Apareceu, pensei que havia me esquecido?
Jorge ouve alguém gritar de dentro da casa;
— Quem é amor?
Jorge olha a moça e fala;
— Precisava conversar!
— Agora não! – Sacha ia fechar a porta, mas Jorge segura a
porta e a força, ela abre de vez, batendo na parede, fazendo baru-
lho, olha para o rapaz e fala;
— O Retalhador, some que tenho de falar com Sacha!
O rapaz ao sofá se levantou, era grande, olhou para Sacha e
perguntou;
— Tudo bem?
212
Sacha ia falar algo, mas o rapaz olhou para Jorge que falou;
— Escolhe, me deixa falar com ela vivo, ou me deixa morto,
você que escolhe, rapaz!
— Não me põem medo!
Jorge olha para Sacha que fala de novo;
— Não quero falar com você!
Jorge olha para o rapaz e fala;
— Bem vindo aos mortos rapaz!
Jorge olha para Sacha, olha o carro e começa a caminhar
para ele, sabia que estava ali apenas para avisar, mas se não que-
riam lhe ouvir, sabia bem onde acabaria;

213
13° Ato
A noite avança, Sacha estava a cama com Pedro, um rapaz
forte, alto, mas que conhecera a duas semanas, estavam se en-
tendendo quando ouve a explosão, os dois acordam se vestindo,
Sacha sai a porta, não entende o que havia acontecido até sair
pela porta da casa, um carro explodido a frente da casa, o de Pe-
dro, olha em volta, as pessoas saindo a rua, olha o agito, alguns
foram ao portão, era madrugada, olha para o céu, as estrelas co-
meçaram a ser substituídas por nuvens, no escuro não se diria a
cor das mesmas.
Pedro olha o carro e fala;
— Filho da puta, por que estourou meu carro!
Sacha olha para Pedro, tenta o segurar, mas não consegue,
ele sai na direção da rua, o tempo que ele andou até a rua, pelos
não mais de 10 metros que separavam a porta do portão baixo
que dava a rua ouviu alguns carros dos vizinhos virem ao ar, ex-
plodindo, as pessoas assustadas olham-se tentando se proteger,
Sacha olha o posto de gasolina a poucas quadras dali, era madru-
gada, mas um caminhão de gasolina esperava amanhecer para
descarregar, deu um passo atrás, seus pensamentos pareceram
materializar—se a rua, com a explosão do caminhão, a gasolina
sendo jogada em todos os sentidos, pessoas queimando a rua, a
mesma correndo como um rio por sua rua, queimando tudo que
tinha pela frente.
Sacha olha Pedro em fogo ao lado do carro, não tinha mais
o que fazer, lembra que Jorge foi ali, só podia significar uma coi-
sa, começou a recuar, a entrar na casa, ouviu gritos vindos da rua,
foi saindo pelo fundo da casa, olhou suas roupas, pegou uma me-
lhor na lavanderia, ainda estavam úmidas, mas não iria subir ao
seu quarto novamente, termina de se vestir no quintal ao fundo,
pulando o muro de traz, ouvindo os gritos a rua, viu o clarão ao
céu, e escondeu—se por trás do muro, ouviu uma explosão e
ouviu;
— Não adianta se esconder, Sacha! – Magog.
Sacha conhecia aquela voz, nunca esqueceu, as vezes ela
tomava a ação, mas nunca declarava saber ou lembrar destas
214
horas, sem levantar—se, arrastou—se no sentido da rua dos
fundos, atravessando o quintal do vizinho, o cachorro latia de-
sesperado, a moça pensou que ele a entregaria, não olhou para
trás, os vizinhos saíram a porta, ela fez sinal para ficarem quie-
tos, eles olharam para a casa dela, não existia mais, Sacha não
olhou, mas viu o casal começar a andar no sentido da luz. Entrou
na casa, pegou as chaves do carro sobre a mesa, o carro do casal,
entrou nele e deu ré no portão, saindo rápido a rua.
Sacha acelerou no sentido oposto sem olhar pelos retrovi-
sores, sem olhar para a bagunça que tomara sua rua.
Para o carro a frente da casa de Jorge e começa a buzinar,
ignorando que era mais de 4 da manha, os vizinhos estavam re-
clamando quando ela viu o portão eletrônico abrir, entrou e
olhou para Jorge a porta, de pijama, com o celular a mão.
— Tudo bem, vou me vestir e estou indo para lá!
Jorge entra, sem olhar para Sacha, sobe rápido para o se-
gundo piso, pega uma calça, que põem sobre o pijama, uma blusa
de lã e desce vendo a cara de assustada de Sacha;
— Tem de me ajudar, Magog voltou!
Jorge sorriu e falou;
— Pode usar a casa, se não voltar, só não torra como fez
com a sua parte do dinheiro!
A moça estranhou, viu Jorge pegar um carro a garagem e
sair, a deixando ali, olhando o luxo daquela casa no Hugo Lange.

215
14° Ato
Jorge chega ao local onde se via o posto que a menina tra-
balhara estourado, com as bombas de gasolina jorrando labare-
das altas de fogo, as casas na rua pareciam ter passado por uma
guerra, casas em fogo, os bombeiros apagando tudo, mas a im-
prensa chegando, a policia afastando os curiosos, Jorge pega a
maquina fotográfica e vai fotografando tudo que consegue, saíra
do local a poucas horas, mas era outro, pensou em o que poderia
fazer, ligou para alguns amigos, estas pessoas precisariam de
apoio, Jorge amava aquela cidade, que o adotara, e que depois de
um tempo, ele adotou com toda a sua força, local de boas e pés-
simas memorias.
Jorge olha para o sobrado de Sacha, da casa apenas a fa-
chada em lajotas imitando tijolo estava de pé, e nele, se lia ao
longe a palavra “Traidora”, olha o carro do rapaz parado a frente,
e um corpo carbonizado, que a policia técnica tirava dali, olhava
a destruição e pensou se poderia ter evitado, evitou pensar e se
locomover no sentido da casa de Dalma, mas ligou para o advo-
gado para verificar para ele pela manha se estava tudo bem.
Amanhecia para felicidade dos policiais, mesmo eles não
sabendo que aquele sol fraco de inverno, permitiria a eles fazer
seu trabalho sem problemas.
Jorge chega a sua casa por volta do meio dia, cansado, vê
Sacha a sala, ainda assustada;
— Por que não falou? – Gritou ela;
Jorge não respondeu imediatamente, pensou com ele, se
ele fora lá, ela deveria ter lhe ouvido, os demais ele não ligava se
não lhe ouviam, mas quem sabia da existência de Magog, tinham
de lhe ouvir, ou colher os frutos dos acontecimentos provocados
pela ignorância.
— Sabe que quando disse para o rapaz que ele estava mor-
to, deveria o ter colocado para fora, mas não, me deixou vir em-
bora, você o matou Sacha, não eu! – Jorge nada simpático;
— Some e me aparece apenas para trazer desgraça!
— Seria engraçado, se não tivesse sido você que me puxou
para isto, mas sabe que não me aproximo, se me aproximar, é
216
para alertar de perigo eminente, não sou de ficar bajulando, to-
dos que bajulei morreram, todos que me aproximei, que eram
gente de bem, tive de afastar, para os poupar da morte, e quer me
acusar de algo Sacha?
— Mas ela não esta em Piraquara!
— Ela esta tentando um corpo novamente, Sacha!
— Mas para que ela quer um corpo?
— Posso estar enganado, mas ela não foi lhe procurar ali,
mas quando se deparou com um cheiro conhecido, e sua casa,
acabou colhendo os frutos!
— Mas se ela não estava atrás de mim, o que ela procura-
va?
— Gog!
Sacha senta-se e pergunta;
— Gog, isto é um absurdo?
— Sim, a pessoa nem tem noção de quem é e já tem Magog
em seu encalço!
— Gog não sabe quem é?
— Se souber um dia, acreditar, sinal que é sua ultima vin-
da, mas o ser não sabe, duvida, sinal que é apenas mais uma das
coletas de almas de Deus!
— Não entendo de onde tirou isto?
— Enquanto você torrava dinheiro, eu acumulei, eu estu-
dei, eu investiguei, fiquei de olho em cada caso novo, mas ela esta
acelerando de novo!
— E foi me avisar?
— Poucos acreditam, você sabe disto! Quem acredita nesta
maluquice?
— Somente quem viveu ela?
— Destes quem vive ainda?
— Moreira em algum lugar do México, eu e você!
— Vou ter de enfrentar desta vez, mas não vou dar o cami-
nho de Gog para Magog!
— E quem é?
— Alguém que eu não diria ser o Gog! – Jorge usou o “O”,
para induzir que era um homem, não sabia até onde iria esta
história, precisava de uma isca, mas ainda não tinha uma.
217
15° Ato
Jorge toma um banho e vai a redação do jornal com as fotos
que tirou e senta-se a sua sala, sabia que deveria esperar, algo
lhe dizia que as cartas estavam lançadas ao vento, mas como não
sabia o que aconteceria, não podia se posicionar ainda, estava se
preparando para uma guerra, como a que viveu, a que lhe fizera
quem era, que lhe deixara marcas para uma vida.
Jorge lia as reportagens do dia seguinte quando vê o Dele-
gado de Piraquara, Delegado Sergio Pereira, entrar pela porta
com o Investigador Lopes;
— Boa Tarde senhor Guimarães!
— Boa tarde Delegado, Investigador, o que os traz tão lon-
ge de Piraquara!
O delegado trazia uma copia da Tribuna do dia;
— Resolveu defender aquela vigarista? – Fala o delegado
com a primeira pagina falando do prender de uma vidente por
discriminação dos vizinhos, e sem provas que a incriminassem!
— Do que esta reclamando Delegado, esta no cantinho,
muitos nem leram!
O delegado não estava ali por isto, usou como desculpa,
mas não foi o que trouxe ali;
— Preciso de informações Retalhador, você disse que esta-
vam havendo pequenos crimes, mas não entendi o que foi aquilo
na pedreira?
— Ninguém acreditaria se falasse a verdade, Delegado, o
melhor a fazer, é evitar aquele lugar a noite!
— Mas o que aquilo quer?
— Esta formando um corpo, por isto precisa de varias vi-
timas, mas tem uma ordem, cabeça primeiro, depois uma perna
direita e um braço esquerdo, depois o corpo depois os demais
membros, por ultimo os órgãos básicos, coração, pulmão, fígados,
rins, pâncreas, intestino, e por fim um útero!
— Mas então ela vai tentar matar mais uma pessoa, apenas
pelo útero? – Lopes.
— Ela tentou, temos uma rua que pegou fogo em Curitiba
esta noite, mas ela não conseguiu o que queria!
218
— A vitima escapou?
— Sim!
O Delegado olhou serio e perguntou;
— Mas o que acontece quando ela conseguir um corpo?
— O que vai revelar a autopsia dos dois policiais de ontem,
surge o crime da machadinha novamente!
— Quer dizer, que aquele ser mata com uma machadinha,
mas por que? – Lopes.
— Por que ela precisa de almas para sobreviver até o fim
dos tempos, e para isto tem de matar como consegue!
Um rapaz entrou pela porta e falou;
— Seu advogado na linha!
Jorge atendeu rápido, o delegado viu que havia problemas;
— Fala Paulo!
— Algo esta acontecendo aqui na Murici, o céu esta ficando
avermelhado, as arvores da Tiradentes parecem estarem mur-
chando, mas não consigo chegar no apartamento!
— Estou indo!
Jorge pega o telefone, a muito não ligava para Dalma;
— Boa tarde, Dalma?
— Quem?
— Jorge!
— O que quer, Jorge?
— Poderia me fazer um favor?
— Não! – Jorge ouve o telefone ser desligado, olha para o
delegado e pergunta;
— Esta com uma viatura ai?
— Problemas?
— Tenho de chegar na Doutor Murici na altura da Tiraden-
tes, mais rápido possível!
— Alguém encrencado?
Jorge se levanta, estas pessoas iriam fazer muitas pergun-
tas, eram 12 quadras, sabia que talvez fosse a forma mais simples
a que iria dar resultado, sai pela porta, deixando os demais a fa-
lar com as paredes;

219
16° Ato
Dalma estava falando com uma amiga que conhecera a um
mês, estavam falando futilidades a sala;
— Mas o que vai fazer depois de colorir o cabelo? – Carla;
— Vou fazer luzes, acho que tenho de mudar a minha apa-
rência!
Dalma usava uma gola alta, aprendera a esconder a cicatriz
no pescoço, mas as vezes se pegava coçando a mesma, estava
pensando em fazer uma plástica para a tirar.
A conversa ia por caminhos agradáveis para as duas, rou-
pas, cabelo e coisas afins, quando ouviram um grande estrondo,
com um clarão, pensaram em um raio, a luz e o som apagaram, as
duas olham para a janela, o céu se via ao fundo com a praça Tira-
dentes por cima da quadra, entre o prédio e a praça, Dalma olhou
para as arvores murcharem, sentiu um mal pressentimento, a
senhora que estava com ela recuou assustada e Dalma teve cer-
teza que algo de ruim viria a ela, vendo os lobos translúcidos
atravessarem a porta do apartamento se posicionando a janela.
Dalma meio sem saber o que fazer, sente uma coceira in-
crível na cicatriz, passa a unha e vê nos olhos da senhora que
algo estava errado, olha sua mão, e vê as garras, se olha no vidro
para fora, que com a escuridão dava para se ver, olhou para seu
rosto ficando na forma de uma caveira, a senhora se encolhe,
enquanto ela pega o telefone;
— O que queria? – Dalma ligando para Jorge;
— Já escureceu ai?
— Sim!
— Os lobos já estão ai?
— Sim!
— Se afasta da janela, tira todos da sala diante das janelas,
o corredor deve ser mais seguro, é escuro!
— Mas o que vai me atacar?
— Magog em pessoa!
— Você...
— Sou maluco, mas faz o que falei!

220
Dalma abre a porta para o corredor, vê a cara assustada de
um senhor que descia pelas escadas por falta de luz, ao olhar
para ela, Dalma ouve o estourar de algo, se volta as janelas e vê
os lobos reagindo a uma moça que parecia flutuar na parte ex-
terna das janelas estouradas, olhou Carla na sala, ela pareceu não
ter medo da moça, parecia apavorada com sua imagem, viu a
moça chegar perto de Carla e lhe tocar, ouviu o grito, o senhor
olhou para dentro do apartamento, vendo os lobos tentando ata-
car a moça, algo parecia proteger aquela senhora, viu Carla cair
morta.
— Esta ai ainda? – ouve Dalma ao telefone;
— Carla esta morta!
— Sai dai, não interessa como, sai dai agora!
Dalma olha para a escada, olha seu corpo, que toma a for-
ma de uma grande loba, olha a escada, apenas sua cabeça ainda
era de uma caveira, vê um lobo passar por ela e lhe olhar, deixou
o celular cair ao chão e sai correndo atrás do lobo.
Dez andares de sustos, de pessoas sendo atravessadas pelo
lobo translucido, e depois empurrados por ela que atravessa a
porta de vidro da frente do apartamento a estraçalhando, apoia
as patas da frente parando seu movimento, vendo a moça a sua
frente;
— Quem é que tem este cheiro, cadê Gog?
A moça pareceu não entender de cara que o cheiro vinha
de Dalma que começou a voltar pela porta estilhaçada, mudando
de forma, o porteiro viu o grande lobo começar a andar para den-
tro, e mudar de forma para a da moça do 10° Andar, a outra foi
entrando atrás, se aquele ser estava recuando, os demais esta-
vam apenas vendo cair uma chuva forte que parava o centro da
cidade de Curitiba;
Dalma é encurralada, nua a um canto vê a senhora avançar
e chegar a sua frente, cheirar o ar, ia avançar sobre o canto, onde
no escuro Dalma se escondia quando algo tocou o ombro da se-
nhora;
Magog olha para trás, quem se atrevera a toca-la;

221
— De novo invadindo meus bens Magog? – Jorge que cor-
rera por 12 quadras para chegar ali, num centro parado, num
caos de chuva de pedras do lado de fora.
Magog olha para Jorge;
— Mas não é de você o cheiro de Gog?
— Acho que você já nem sabe o que procura Magog!
Magog pega Jorge pelo pescoço, o ergue e lhe encara, Jorge
parecia calmo, todos a volta estavam estáticos, quando ele falou;
“Dario, Dario, Dario, sobre ti ergui meus ensinamentos!”
Magog olha irritada para Jorge, vê seu corpo ficar translu-
cido, e ser puxada para longe dali, Jorge olha em volta, tira sua
jaqueta molhada, chega ao canto e põem sobre Dalma e fala;
— Vamos subir!
— Carla esta lá morta!
Jorge olha para o porteiro e falou;
— Você não viu nada, entendeu?
O rapaz sacudiu a cabeça assustado, viu ainda o espirito
daquele grande lobo entrar no prédio, cheirar Dalma, vendo que
estava tudo bem, sumir ao ar, como se nunca tivesse estado ali;
Jorge liga para a policia e fica ali a acalmar Dalma, que não
entendeu o que aconteceu, mas sua amiga, estava morta, ela ha-
via esquecido por um curto tempo, que tudo que ela atraia para
perto morria, mas isto lhe veio rápido e forte a memoria;
— Calma Dalma, não estou próximo, apenas tento não dei-
xar que as coisas desandem de vez!
— Quem era a senhora?
— Aquilo em nada tem de senhora, é um corpo, mas que a
cada dia ficara mais violenta, mais com sede de sangue!
— Mas algo a para?
— Sim, da ultima vez, não sei o que a fez parar, mas agora,
acho que o problemas é entre eu e ela!
— Mas ela me atacou!
— Esta procurando algo, não sei ainda o que! – Dalma sen-
te que Jorge lhe escondia algo, e pergunta;
— Por que esta mentindo para mim?
— Você não acredita em mim, por que preciso falar a ver-
dade para quem não acredita em mim?
222
Dalma abraça Jorge, e fala;
— Obrigada, sabe que lhe afasto!
— Esta certa nisto, também atraio morte, e olha que nem
estava tão perto assim!
Dalma vê a policia chegar e fala;
— No décimo andar, uma maluca entrou pela janela e co-
meçou atacar quem estava no apartamento!
Os policiais iam começar a subir pelas escadas quando a
luz volta ao prédio;

223
17° Ato
Dalma olha para Jorge e pergunta;
— Não quero entrar lá hoje!
— Se confiar um pouco!
Ela balança a cabeça, não sabia quem era o rapaz, mas ele
estivera ali quando ela precisava, antecipando algo que ela não
entendia, tentava ignorar, mas sabia que estava no seu interior,
algo tão forte a ponto de assustar até ela;
— Mas vai me levar onde?
— Ainda não sei, mas sabe que amanha teremos proble-
mas?
— Sim, mais uma morte com minhas... – a moça não termi-
na a frase.
Jorge a leva para sua casa, onde se depara com Sacha;
— Quem é ela? – Dalma;
— A moça que Magog não conseguiu o Útero mais cedo, o
que foi buscar em sua amiga ou em você!
Sacha olhou a moça e perguntou para Jorge;
— Ela conseguiu já um útero?
— Sim, agora ela vai gerar os seus seguidores, o que vem
depois, não sei o que é exatamente, todos os lugares atacados
pelos descendentes de Magog, deixaram de existir!
Dalma olha para Jorge que fala;
— Vou lhe apresentar um quarto, fica a vontade, tenho
ainda de resolver os problemas técnicos daquela morte!
Jorge a deixou no quarto e falou;
— Depois peço para trazerem algumas roupas, enquanto
consertamos aquela janela!
— Vai me deixar sozinha?
— Sim, mas não fala o que lhe falei para Sacha, ela não é de
confiança!
— Você confia em alguém?
— Nos vivos!
A frase entrou na mente de Dalma, não sabia o que ele quis
dizer, mas assim que ele saiu, trancou a porta;

224
6 MESES DEPOIS

18° Ato
Por seis meses, a calma pareceu imperar, tão calmo que
Sacha voltou para sua casa, achou que fora um alarme falso, ela
não tinha o que perder, como falara para Jorge, em parte ele con-
cordava com ela, pois ela já devia a alma para Magog, o corpo que
usava era uma concessão de Magog, o que ela poderia reclamar,
estava em uma vida a mais.
Dalma abriu uma loja de artigos ocultos, ela não sabia bem
o que fazer, mas tentava se manter longe de Jorge, ela o fazia por
sentir—se atraída por ele, mas todos que estavam a volta, pare-
ciam conhecer ele de uma forma que ela não queria nem ouvir
falar.
Ela fora atraída a abrir uma sede de sua loja no centro de
Piraquara, a 4ª loja, duas no centro de Curitiba, uma em Quatro
Barras e uma em Piraquara, as coisas estavam tranquilas de mais
quando ela voltando de Piraquara, olha sua mão ao volante e a
vendo mudar de forma, encosta no acostamento, as janelas com
película lhe permitiam estar oculta diante de uma rodovia a cada
dia mais movimentada.
Olha em volta, se concentra e vê sua mão voltar a condição
anterior, mas com o esmalte todo rachado;
Dalma sai do carro e olha em volta, uma reta sem grande
coisa construída naquele lugar, os segundos que passou ali, sen-
tiu um mal estar muito grande, parecia que suas forças estavam
se esvaindo, entrou no carro e começou a sair calmamente, de-
pois de alguns quilômetros voltou a sentir—se normal.
Parou o carro no mercado logo após o trilho de trem, com-
prou um refrigerante e sentou—se a frente dele sentindo o mal
estar que lhe restava.
Se distraiu olhando as próprias mãos, ela não gostava dis-
to, sentia—se estranha e diferente, ela não queria ser diferente,
estava tomada por seus pensamentos quando ouviu alguns gri-
tos, trazida a realidade olhou em volta.

225
Alguns lobos translúcidos chegavam ao estacionamento,
enquanto alguns tentavam filmar, outros fugiam, Dalma viu um
segurança atirar no sentido de um deles, mas como se matam
almas, os mesmos vinham em seu sentido, ela não temia eles, por
mais que lhes parecessem muito agressivos na aparência.
Olhou em volta novamente, e dá região do trilho, a não
mais de 500 metros dali, ouviu um agito, carros freando, gente
gritando, o olhar das pessoas meio perdidas com os lobos, veem
uma leva de espíritos virem pela estrada.
As pessoas começam a fugir dos espíritos, se ve carros com
pessoas aparentemente mortas ao longe, e gente fugindo, os lo-
bos se posicionam a volta de Dalma, e alguns que fugiam, vendo
que os lobos não eram atacados, começam a se esconder as cos-
tas dos lobos.
Os espíritos seguem dilacerando as pessoas, na aparência,
humanos, mas seus rostos deformados e grandes garras as mãos,
fazia deles seres feitos para matar, Dalma vê as garras ao longe,
foi inevitável pensar no seu passado.
Os espíritos avançam para onde Dalma estava, os lobos a
sua frente, deixava os espíritos longe, um em especial para a
frente dos lobos e encara Dalma, as pessoas estranhavam aquilo,
não sabiam o que pensar, agiam como animais tentando sobrevi-
ver nesta hora.
— Quem é você? – Pergunta o ser, parecia uma senhora,
mas não era a mesma que Dalma vira anteriormente, seu rosto
deformado, suas garras afiadas, a suas costas, mais de 300 espíri-
tos esperando que algo acontecesse.
— Dalma, e você?
— Este nome não me diz nada!
Dalma olhou em volta, pelo jeito teria de se posicionar, mas
não sabia como, não falaria o que lhe foi dito, olha o ser e falou;
— Me conhecem como a Bruxa de Piraquara!
— Mais uma vigarista! – Falou o ser, os espíritos a suas
costas se animaram.
Dalma estava calma, os lobos a deixavam calma, ela olhou
para a própria mão e falou olhando para o senhor, as pessoas em

226
volta viram ela mudar de forma, não o corpo, mas a mão e a ca-
baça;
— Diga para Magog, que sou uma mensageira de Gog, acha
que os lobos me protegem por que?
O ser olhou os lobos, olhou a moça mudando de forma, deu
um passo atrás, os espíritos pareceram se encolher, nem Dalma
entendeu por que, mas viu alguns começarem a recuar, o ser a
sua frente olhou serio para Dalma e falou;
— Acha que me assusta?
— Não, o que pode assustar alguém que já esta no pior ca-
minho, nada mesmo! – Dalma voltando a sua forma normal;
O ser começou a andar de costas, Dalma não entendeu por
que, mas os espíritos começaram a recuar pela avenida que vie-
ram, muitas mortes pelo caminho, uma cena triste aos olhos,
Dalma viu quando um dos lobos lhe olhou, lhe baixando a cabeça;
Dalma o tocou, por um instante conseguiu ver toda a histo-
ria do ser que se curvara diante dela, sentiu uma paz e falou;
— Esta liberto menino! – Os demais lobos viram o lobo to-
mar a forma de um espirito humano, as pessoas em volta viram
isto, e diante de uma multidão, o menino olhou suas mãos, agra-
deceu com um sorriso e sumiu, em um clarão.
Alguns lobos se aproximaram, não forão todos que ela con-
seguiu sentir a historia, eram almas puras, como se Magog esti-
vesse prendendo os puros na forma de lobos, ela achou confuso,
mas enquanto as pessoas se dissipavam, enquanto a policia e os
bombeiros chegavam, ela tocou em mais de 100 espíritos de lo-
bos os libertando, alguns não chegaram perto, pareciam ainda
não querer a liberdade.

227
19° Ato
Dalma começa a sair do local com calma, muitos a aponta-
vam, não sabia exatamente o que aconteceria, mas não queria
estar ali quando começassem a fazer perguntas, era nesta hora
que as coisas se complicavam.
Dalma caminhou para seu apartamento, sentou—se ao
mesmo e ficou pensando no que precisava fazer, ligou seu com-
putador pessoal e começou a pesquisar sobre Magog, Gog,
Laikans, ficou vendo que eram mitos muito antigos, na maioria,
estórias adulteradas para demônios pelas ultimas crenças, estava
administrando as memorias que viu naqueles seres, a historia
que não se contava.
Ficou pesquisando um bom tempo, não sabia o que iria fa-
zer, mas sentiu os seres antes do acontecido, eles estavam se
reunindo para uma ação, mas o que ela poderia ter feito antes.
Liga a TV para ver as noticias, quando vê um repórter falar;
— Algo aconteceu em Piraquara, foi tão assustador, que
gerou uma histeria coletiva, alguns psicólogos estão afirmando
que as pessoas estão escolhendo se passar por malucas com es-
tórias incríveis, do que falar a verdade dos fatos! – As imagens
mostram a policia tirando pelo menos 300 corpos daquele lugar,
pessoas que estavam em seus carros, em casas a beira da rodo-
via, em uma borracharia logo depois do trilho, alguns comércios
fechados – Algumas pessoas forma mortas em seus carros, al-
guns em comércios na região, alguns transeuntes do local, mas
todos mutilados como se tivessem sido cortados por garras.
A imagem corta para a redação e o repórter pergunta;
— O que a policia afirma disto?
— Ainda esta investigando!
— E quais maluquices estão falando por ai? – A pergunta
com um sorriso não cabia naquela situação, existiam muitos
mortos, mas pareceu inevitável sorrir.
— Os entrevistados, afirmam que quem matou os seres fo-
ram espíritos, eles avançavam em todos os sentidos!
— Os policiais não acharam os culpados?

228
— Estão investigando, mas como dizia, — o repórter de
rua visivelmente não gostou de ser interrompido – eles atacavam
até uma moça, se definir como a Bruxa de Piraquara os por para
correrem, alguns dizem que a moça tomou a forma de vários
lobos translúcidos para defender quem estava ao mercado ao
fundo.
A imagem vai a redação e as noticias passam para outros
assuntos, Dalma foi a um banho, ligou para o advogado, pois já
esperava complicação, sempre estourava na ponta mais fraca.
Riu para ela desta frase, não sentiu-se fraca, mas sabia que
algo estranho estava acontecendo, ouve a campainha, Roseli,
uma moça que estava trabalhando com ela a 4 meses abre a por-
ta e convida os senhores a porta para entrarem.
Dalma olha para os policiais, 4 deles, isto era medo ou in-
timidação;
— Pode sair Roseli, faz um café para os rapazes!
Roseli sai e o delegado olha para Dalma, estava tranquila
demais, isto indicava que sabia do que falariam, ou total irres-
ponsabilidade sobre os atos, achou melhor ir com calma;
— Senhorita Podemos falar? – Fala o delegado Sergio de
Piraquara.
— Sim, algum problema delegado?
— Não viu as noticias?
— Acabei de sair do banho, algo urgente?
— Dizem que a viram em um evento com mais de 500 mor-
tos em Pinhais!
— Dizem que estava lá, e dai? – Dalma.
— Não vai negar que estava lá?
— Inaugurei uma loja em Piraquara hoje, difícil não ter
passado por lá!
— E não tem nada haver com aquilo?
Dalma olha para os senhores e fala;
— Não sei do que esta me acusando Delegado, mas gosta-
ria de saber!
— De ter estraçalhado algumas pessoas naquela estrada!
— Como devo ter feiro com meus pais aos oito anos, é o
que esta dizendo?
229
— Não, mas dizem que viram uma moça numa roupa de
terror ao lado de seu carro!
— Acha mesmo que esta teoria sem fundamento se man-
tem delegado?
— Não sei, mas sei que retiramos deste apartamento, uma
moça com as mesmas marcas, a 6 meses atrás!
Dalma sorriu, a campainha tocou e o advogado entrou, a
cara dele não estava boa, isto tirou o sorriso e deixou os olhos
dela no do advogado.
— Eles tem uma ordem de prisão para a senhora!
— Me acusam de que, advogado?
— De ter matado mais de 500 pessoas hoje!
— Sozinha? – Dalma;
— Sim, quer dizer, não estabelecem isto, a colocam como a
mandante de algo que não sei definir!
Dalma olha o delegado e fala;
— E trouxe 4 homens, isto é medo?
O delegado calou—se, era um desafio, ela olhou nos olhos
do delegado e falou;
— Faz o que veio fazer, Roseli, cancela o café, advogado,
avisa o Retalhador que a mãe de Sacha voltou!
O advogado olhou serio;
— O que quer dizer com isto?
— É entre eu e ele, se não foi suficiente para proibir isto,
acho que preciso de alguém que entenda o acontecido!
Dalma estende os braços a frente do corpo e sai algemada,
o sindico sorria na sua saída;
— Calma Sindico, eu volto, e melhor não usar a lâmpada do
corredor em sua casa, que a tiro de lá na próxima vez!
O senhor fechou a cara, o delegado viu que a moça saiu da
defensiva, mas ele mesmo não achava que era ela, mas quando
todos indicam alguém, é melhor a deter;

230
20° Ato
Jorge chega ao apartamento e vê Dalma saindo algemada e
olha para o advogado se perguntando como;
— Não pude fazer nada Jorge!
— Não levou serio, é isto, sempre me disseram para con-
tratar os mais esforçados e não os mais inteligentes na advoca-
cia!
— Esta me ofendendo!
— Uma pergunta, o que eles tem contra ela?
— Ela foi filmada pelas câmeras do supermercado!
— A filmaram matando alguém?
— Não, não filmaram isto, mas as pessoas tem medo de
coisas assim!
Dalma olha nos olhos de Jorge que lhe pisca, ela relaxou
um pouco, e o advogado falou;
— Ela disse que a mãe de Sacha voltou!
— E o que as imagens nossas dizem?
— Não tenho este acesso, sabe disto Jorge!
Jorge pega o celular e disca para alguém;
— Paco, me faz um favor, tem uma moça indo para Pira-
quara, pela grande reta, protege ela!
— Problemas?
— Vela é a resposta, derrete rápido e joga sobre os carros,
ou passa a frio, mas estão saindo daqui agora, não vão estar no
ponto em mais de 12 minutos! Não vão pela Marechal Deodoro,
vou tentar parar ela!
— Estou mandando cada um que terminar se mandar para
lá!
Jorge liga para outro numero e fala;
— Camargo, consegue um acidente no viaduto da caixa
d’água no Alto da XV?
— Para quando?
— 5 minutos!
Jorge deu mais 4 telefonemas, quatro acidentes a mais no
caminho, tinha de tentar atrasar esta ida ao máximo, olha para o
advogado e pergunta;
231
— O que esta esperando, ela não vai passar lá a noite!
— Mas...
Jorge odiava isto, acomodação, olhou para o rapaz e falou;
— Esquece, coloco alguém que respeite os clientes antes de
seu salario no fim do mês!
— Mas você não viu as imagens que vi!
— Estamos em uma colheita, se ela não estivesse lá, tería-
mos muito mais mortes, mas você também viu isto, mas o que
não gosto é que isto a vai jogar nos holofotes que tentei deixar
fora!
— Mas ela é...
— Não me conhece, ela é um anjo comparado a mim, agora
entendo a facilidade, fez corpo mole, religiosidade se duvidar por
trás, mas como disse, esquece, vai para seu templo orar enquanto
uma menina de 18 vai para uma das delegacias mais violentas da
região metropolitana, se você tem medo do demônio, sinal que
não acredita no que ora!
Jorge liga para mais alguém, no lugar de descer a Murici,
subiu ela até o Largo, onde um helicóptero baixou e foi no senti-
do de Piraquara, olhando o caminho.
Sobrevoando o local da chacina o helicóptero passar baixo,
alguns jornais mostram o local em outros helicópteros, Jorge foi
lentamente, e olhou para os campos alagados ao lado da estrada,
tinha um rastro que somente milhares de seres fariam, em meio
ao mato lateral a estrada, fotografa e pede para o piloto seguir
por aquela trilha, olha mais a frente, milhares de pessoas, che-
gando perto, não eram pessoas, eram seres estranhos, deforma-
dos, eles olham para o helicóptero e gritam, mas Jorge não estava
ali para fugir, olhou ao longe, estavam a 500 metros de um trecho
da estrada, seriam atraídas para lá, mas estava confuso, não es-
tavam a noite.
Jorge faz sinal para o Helicóptero descer em um clarão e o
mandou embora, o rapaz estava assustado.
Jorge anda no sentido da aglomeração, olha os matos a vol-
ta, conhecia aquela praga, ainda bem que estava de jeans, pois
aquele mato cortaria a pele, embora tivesse bem amassados.

232
Jorge liga para Paco que fala que estão chegando e estacio-
nando as margens, ele dá as coordenadas mais perigosas, manda
se prepararem a sair rápido se preciso;
— Mas o que nos ataca? – Paco;
— Mortos Vivos, ou algo assim!
— Esta brincando?
— Não, não estou brincando!
Jorge desliga olhando em volta e olha o grupo, começa a
chegar perto, os seres foram o cercando, e olha para a senhora e
fala;
— Boa Tarde Flavia! – Jorge olhando a senhora;
— Não entendeu que Flavia não existe mais?
— Entendi só parte da ultima aventura, mas para mim é
Flavia, a mãe que por amor a filha, pediu a Magog por sua vida!
A frase fez com que o rosto da senhora se alterasse, olhou
para Jorge e perguntou;
— E como esta minha filha?
— Morta, acha mesmo que Magog cumpre algo?
A frase fez o rosto mudar novamente;
— Não pode mentir para ela!
— Não estou mentindo, sabe que viver devendo o corpo e
alma a Magog, não é viver, sacrificou sua vida por algo sem senti-
do!
Jorge via que os seres estavam se aproximando em todos
os lados, suas garras pareciam mortais;
— O que faz aqui?
— Quero entender onde me posicionar, já que Magog não
me gerou nada, por um tempo achei que ela queria que ficasse
livre, que deveria a minha liberdade a ela, mas não, pois minha
prisão e minhas cicatrizes eu devo a ela, não minha liberdade!
A senhora olha em volta, faz sinal e Jorge vê uma leva de
seres saírem no sentido da rodovia;
— Não sei quem protege Jorge, mas terei apenas para lhe
contrariar!
Jorge sorriu, e olhou para Flavia;
— Você não pode com a Bruxa de Piraquara, ela não entre-
gou sua vida a algo como Magog, então você com toda sua força, é
233
uma morta, e mortos só podem com vivos, quando eles desistem,
mas como eles não sabem disto, vocês conseguem investidas
como a de hoje!
— Bruxa, não acredito em bruxas! – Flavia;
— E eu não acredito em Magog! – Jorge;
O ser muda de forma, avançando como os espíritos no sen-
tido da Rodovia, Jorge não conseguiu as distrair.
Jorge pega o celular e fala;
— Paco, tenta ficar o máximo que conseguir, se achar peri-
goso, sai dai rápido, passa isto a frente!
Paco sorriu, parecia daquelas missões malucas que nada
acontecia, acostumou-se a Jorge mandar ele fazer coisas que na
maioria das vezes não dava nada.

234
21° Ato
Dalma olha para os acidentes, sabia que Jorge deveria estar
querendo algo, ela sente as energias, se encolhe, estava passando
pela região em que recolhiam corpos, o delegado olhou-a e per-
guntou;
— Algum problema moça?
— Acelera, não para antes de Piraquara! – Dalma se enco-
lhendo;
O Delegado sorriu, achou que era cena, mas mais a frente,
viu os carros parados nas duas laterais da rodovia, faz sinal para
o rapaz acelerar, os rapazes não estavam identificados, mas seus
carros pareciam manchados, estranhos.
Dois carros iam a frente, Paco olhava eles passarem quan-
do vê um ser pular na frente do carro da policia, pulou sobre o
carro dele, vários.
Paco fechou as janelas, viu um dos rapazes no carro a fren-
te abrir o vidro e atirar sobre os seres, mas pareceu apenas os
desafiar, vendo os seres estranhos, puxarem o rapaz para fora do
carro deu alerta pelo radio;
— Todos apostos, vamos sair!
O Carro da policia ao ver o rapaz se jogar a frente dele,
desviou e bateu num dos carros estacionados, o olhar do Delega-
do contrastava com a moça encolhida no banco de trás, ela segu-
rou—se, e o delegado sentiu a freada, e o carro bater no da frente
violentamente, o delegado acertou o vidro da frente e começa-
ram a andar de lado;
Paco olhou para o delegado acelerou e bateu do outro lado
do carro, abriu o vidro e falou;
— Acelera, vamos tentar manter o corredor!
O delegado não pareceu entender, mas o motorista olhou
os carros começando a andar juntos, e acelerou empurrando o
carro da frente, abrindo um caminho.
— O que são estas coisas? – O motorista;
— Segue o rapaz, segue o rapaz! – Falou Dalma;
— Mas o que é isto?

235
— Escravos em alma, não se mata almas, então acelera! –
Dalma;
Os carros estavam se locomovendo, alguns carros ficaram
para trás, mas a maioria parou na entrada da cidade, e o motoris-
ta acelerou até a delegacia, sem saber o que fazer, mas estava em
pânico.
O delegado na freada acertara o vidro da frente, e sangrava
na testa, tentam parecer normais, mas o motorista olha para a
moça e pergunta;
— O que aconteceria se eles invadissem?
— Eu sairia de lá, vocês não sei!
O delegado olhou a moça, agora parecia melhor, mas é que
eles não viram suas mãos encolhidas por baixo da blusa, senão
veriam suas garras prontas para agir.
— Verifica quem era aquele pessoal? – Delegado;
— Era o Paco, sabe disto delegado! – Motorista;
— Por que estavam lá?
— Para defender ela delegado, nós somos apenas quem es-
tava a escoltando!
O delegado olha para a moça sendo tirada da viatura, fa-
zem a ficha de entrada, as fotos, Dalma estava entrando na cela e
a noite caia do lado de fora da cidade, olha as moças a cela e vê
uma senhora, que estava novamente presa, Mortícia.
— Que fez menina, matou de susto? – Uma moça imensa;
— Sim, aos pedacinhos! – Dalma encarando a moça;
— Alguém que não tem medo, mas vou lhe acalmar, meni-
na!
A moça encosta ela na grade e fala;
— Brinquedo novo!
Dalma olha sua mão, encosta no pescoço da moça e começa
a apertar, o ser imenso foi perdendo a respiração, foi abaixan-
do—se e quando sentiu o chão novamente falou calmamente;
— Só não sou eu a brincadeira! – Empurrou a moça que
olha assustada, enquanto Dalma esconde a mão, fazendo ela por
baixo da blusa voltar ao normal;

236
22° Ato
Jorge corre pelo campo no sentido da estrada, chega vendo
o carro de Paco saindo escoltando o de Dalma, olha os policiais
atirando e olha para Flavia;
— Covarde, exijo clareza!
Flavia olha para Jorge, ela não ficou feliz, todos os seres pa-
raram e olharam para ele, os policiais se recolheram, enquanto
Jorge chega a Dado, um rapaz jovem que trabalhava para Paco,
tinha um rapaz ao lado que nem conhecia, deveria ser muito jo-
vem no grupo, pega no rapaz e fala;
— Damario, tem de escolher agora, ou acredita em deus, ou
não acredita em deus!
Jorge vê o espirito se soltar e olhar em volta e perguntar;
— Por que tenho de escolher?
— A diferença entre vagar ou renascer!
— Sempre renascer, não é o que prega Jorge?
Ele sorri, e uma leva de luz parece a sua volta e a alma so-
me, fez o mesmo na segunda, estava tentando o libertar quando
sente as garras de alguém lhe passar as costas, olha para trás e vê
Sacha.
A dor foi grande, mas o espirito a frente brilhou encolhen-
do e Sacha desviou o olhar, Jorge viu claramente que era apenas
um espectro agora, nem mais um ser, apenas um espectro;
Flavia olha ao longe e fala;
— Filha, mata ele de uma vez!
Sacha olha para a senhora e fala;
— Sabe que nunca fui sua filha, não enche!
Sacha olha para Jorge e pergunta;
— Acha mesmo que não vamos cobrar o que nos deve?
Jorge sentiu o cheiro dos lobos, olhou para ela e falou;
— Talvez em outra vida, nesta escolheria renascer!
Os lobos foram espantando os espíritos, mas eles pareciam
cada vez mais numerosos, Jorge sente os cortes, a dor foi terrível,
ele se encolheu, os policiais o tiraram dali, levando a um hospital,
alguns deles estavam feridos, outros mortos, mas Jorge sentiu no

237
seu amago os cortes, não entendeu, os lobos não o defenderam,
talvez ele não fosse mais preciso.
Jorge estava no hospital quando recebeu algumas visitas,
ele isolara sua família, não queria eles por perto, ele se fechara a
cada dia mais, para evitar problemas, ele não entendera como
um espectro poderia lhe cortar, suas certezas se esvaíram.

238
23° Ato
Um advogado chega pela manha em Piraquara, Dalma es-
tava descabelada, mas olha o senhor a frente;
— E meu advogado anterior?
— Se a senhora esta aqui, foi por que ele não fez questão
de barrar algumas coisas, então Jorge me mandou!
— Pensei que ele estaria aqui!
— Ele foi ferido ontem naquele confronto, esta hospitali-
zado!
Dalma olha serio para ele e pergunta;
— Como algo assim aconteceu?
— Lembra de Sacha?
— Sim!
— Ela já estava do outro lado quando ouve o ataque a casa
dela, apenas para ninguém desconfiar!
— Ele corre perigo?
— Os médicos não falaram nada, estão intrigados, mas ele
resiste a estas marcas da vida com facilidade!
— E o que vai fazer senhor? – Dalma;
— Lhe tirar daqui, pois não é seguro!
— Qual o problema?
— Estamos levantando, mas a cidade esta cercada de seres
como aqueles!
— Cercada?
— Sim, tem algo grande que vai acontecer, só não sabemos
o que!
— Acha que teríamos como enfrentar? – Dalma;
— Se Jorge não pode, por que conseguiria!
— Faz uma coisa, levanta os dados, e volta a tarde, quando
tiver os dados, quero falar com o delegado!
— Ele vai lhe achar maluca!
Dalma não respondeu, o senhor saiu dali e Dalma olhou
para a senhora ao fundo e perguntou;
— O que fez?
— Me acusam de bruxaria, agora lhe acusam do mesmo!

239
— A diferença é que sou uma, você parece com uma! –
Dalma;
— Se quer me agredir, perde tempo criança!
Dalma sorri e fala;
— Preciso de sua ajuda!
— Minha ajuda?
— Sim, acha que quantos aqui dentro são de confiança?
— Todas aguardando julgamento, poucas perigosas!
— E quem são as perigosas?
— A maior é a que lhe pôs ontem na grade!
Dalma olha para a moça grande ao fundo e pergunta;
— Você não é a Renata? – Fala olhando aquela moça imen-
sa;
— Ninguém me chama assim, me conhece? Aqui sou ape-
nas Tata!
— No lar me conheciam por Sombra Negra!
A imensa moça olhou para ela e perguntou;
— Cresceu, do que estão lhe acusando?
— Das 500 mortes que houveram entre aqui e Pinhais!
— E eu que matei um, me achando perigosa! – Fala uma
moça atrás.
— Não fui eu, mas poderia ter sido, não gosto de matar ve-
lhos e crianças, se me entendem!
— Vai fazer o que? – Renata;
— Vou sair pela porta da frente, e se preparem, algo estra-
nho vai entrar pelas portas da delegacia!
Mortícia olha para Dalma e pergunta;
— Estranhos quanto?
— Lobos translúcidos são estranhos, mas almas assassinas
também!
Renata riu, pensou que a menina estava brincando, mas
lembrou que ela obteve o apelido depois que numa briga, existia
uma moça que batia em todos no lar, até em Renata, e um dia,
pegou Dalma para saco de pancada, ninguém viu o que aconte-
ceu, mas Dalma olhou para o ser lhe batendo a parede, pegar
uma faca e dizer que iria lhe matar, quando a faca lhe encostou o
pescoço, algo aconteceu, Dalma com uma força sobre humana
240
jogou a menina na cela do outro lado, todas olharam a menina
com o corte ao pescoço, olharam a outra se erguer, e pensar em
ir novamente contra ela, Dalma pegou a faca que caíra ao chão e
avança, ela foi parada apenas quando os seguranças a tiraram de
cima da menina, que foi ao hospital e não resistiu.
— Mas são perigosos, ou apenas seres para se bater? – Re-
nata;
— Apenas seres para se bater, mas as vezes as pessoas se
impressionam com a aparência e esquecem de levantar a guarda!
Mortícia olha para Dalma e pergunta;
— Por que algo assim aconteceria?
— Por que estou aqui, meu advogado provavelmente não
vai conseguir me tirar antes do fim do dia, e tem alguém, não sei
por que, mas que quer me pegar!
A pergunta quase saiu ao mesmo tempo de Mortícia e Re-
nata;
— Quem?
— Magog, através de sua melhor caçadora, Flavia!
Renata ficou olhando como se não entendesse, e Mortícia
deu um passo atrás e perguntou;
— E por que ela lhe quer?
— Pergunta de ouro, quem souber a resposta leva o pre-
mio, mas eu não sei a resposta ainda, mas vou descobrir!
— Do que estão falando? – Renata;
— De um espirito do mal, que dizem que a 10 anos, assolou
esta cidade, levando em uma única tarde, mais de 6 mil almas
para o inferno! – Mortícia;
Renata sorriu, era brincadeira, só poderia ser brincadeira,
mas uma senhora, não muito velha, de uns 40 anos olhou para
Dalma e perguntou:
— Você é muito jovem para ter vivido isto!
— Meus pais e avós morreram naquele dia, passei os últi-
mos 10 anos em uma instituição de menores, realmente não vivi
aquilo!
A senhora olhou para outras e falou;
— Eu não quero morrer, sei que a maioria não quer, se ela
é o problema, entregamos ela!
241
— Verdade! – Uma voz no fundo;
Alguns apoios e Dalma falou olhando para a mão se trans-
formando em uma garra;
— Tudo bem, mato vocês antes, se o problema é este!
A senhora olha assustada para Dalma, Renata olha assus-
tada, mas Mortícia pareceu encantada;
— Ela é um demônio! – Gritou a mesma;
— Como disse antes, me conheciam por Sombra Negra,
mas agora pode me chamar de Bruxa de Piraquara!
Mortícia olhou as detentas recuarem e falou;
— Mas não pode existir algo como você!
— Por que? – Dalma;
— Uma filha dos lobos, isto é lenda, não existe relatos ofi-
ciais!
— Não entendi?
— Segundo a tradição dos Celtas, isto é tradição oral, en-
tenda que não foi escrita e é passada de pai para filho, raros ain-
da mantem esta cultura viva, mas segundo eles, Magog e Gog
eram amigos, inseparáveis, até que foi lhes dado a chance de
provar diante de Deus seu valor, Magog saiu pelo globo caçando
almas para mostrar a deus que era um grande caçador, Gog saiu
atrasado, pois tinha de cuidar de seu companheiro fiel, um lobo,
quando Gog viu a matança, não concordou com o amigo, come-
çou a tentar indicar o caminho de Deus as almas, Magog não gos-
tou disto, discutiram, mas Gog continuou o seu caminho, quando
retornou viu que Deus esperava os dois, e Magog foi parabeniza-
do por Deus, pois sua demonstração de força foi muito grande,
Gog olhou para Deus e não entendeu, eram criaturas dele e per-
guntou; — “Sacrifica das suas criações para que mostremos que
somos grandes guerreiros?” “— Gog, os seres ainda não são ca-
pazes de entender Deus, todo animal um dia será morto, por ser
um animal, eles matam uns aos outros, o que quer como maior
prova de animalidade!” “— Matar um filho é maior prova, meu
Deus, e o senhor viu Magog os matar e aplaudiu!” — Deus não
gostou da afirmação e falou; “— Gog, esta destituído de seu po-
der, andara entre os humanos, se acha que eles são especiais,
entre eles caminhara!” Gog começou a andar e se afastar do local,
242
seu fiel lobo, diz a lenda, procura e protege o povo e suas almas
como pode, mas ele espera o dia que Gog retornara!
— O que acha que sou? – A pergunta de Dalma foi direta,
mas não esperava uma resposta direta;
— Freck! – Mortícia;
Dalma sorriu, não sabia do que a senhora estava falando,
mas não queria parecer incrédula novamente;
— E o que seria Freck?
— O espirito que controla os Lobos, o espirito que protege
o povo do avanço de Magog!
— E por que seria isto?
— Todos estão falando que uma Bruxa protegeu muitos no
mercado logo cedo, obvio, ninguém acredita nisto, mas algo os
protegeu, e muitos falam em lobos, mas se Freck esta por aqui,
ele procura Gog, mas não sei se esta busca tem sentido!
— Por que?
Era evidente a cara de total ignorância do assunto por par-
te de Renata;
— Por que se Gog não tem mais poderes, ele não seria pro-
blema para Magog!
— Talvez, mas se sua suposição for certa, a tentativa de
Magog de matar Gog, poderia mostrar a Deus, que a posição dele
era errônea!
— Esta visão cristã de Deus, incrível como vocês leem a bí-
blia e não a leem, lê Jó, Deus manda o demônio matar todos os
filhos de Jó, o senhor não difama Deus, e colhe os louvores disto,
mas desculpa, que Deus é este que mata todos os filhos de um
servo fiel, para sentir-se amado e idolatrado, isto não é Deus, é
carnificina! – Mortícia;
Renata viu que o assunto estava ficando estranho, mas
perguntou;
— Mas o que vai acontecer?
— Ainda não sei! – Dalma sentou-se ao fundo e esperou o
advogado, que chegou por volta das 16 horas, foi levada a uma
sala e olhou para fora;
— Saiu sua ordem de soltura!
— Mas por onde saio? – Dalma olhando para fora;
243
— Não sei, quando cheguei entendi que nem deveria ter
vindo! – O advogado olhando ela aos olhos;
— Consegue que o delegado me ouça?
— Ele quer mesmo falar com você!
Dalma ficou ali sentada e o policial a porta abriu a mesma e
o delegado entrou, sentou-se a mesa e perguntou;
— O que quer conversar?
— Quer viver delegado? – Dalma;
— Do que esta falando?
— Algo grande vai vir sobre a cidade, pode preparar as
pessoas para o pior, mas não sou de fugir de uma briga!
— Achei que estava querendo sair logo!
— Não deveria ter vindo, mas se vim, não vou deixar ape-
nas o problema para vocês! – Dalma olha para o advogado e fala
– Aproveita que é dia, e sai daqui, antes que não consiga mais,
Helicóptero de preferencia!
— Pensei que iria junto!
— Fala para quem esta no comando, que preciso de apoio,
só não sei como e quem pode me apoiar nesta hora!
— Paco esta lá fora, ele disse que Jorge disse para cuidar
de você, parece que ele sabia que não fugiria!
Dalma sorri e olha para o delegado;
— Vai continuar me olhando como uma assassina?
— Não sei o que você é, mas não é uma pessoa normal!
Dalma sorriu e falou;
— Verdade, não sou uma pessoa normal!
Um policial entra na sala e fala;
— Uma leva de não sei o que, pois não conseguiram me
descrever, esta avançando pela estrada, matando tudo que veem
pela frente!
O delegado olha para a moça que fala calmamente;
— Sal grosso, sal fino, o que tiver de sal, não adianta atirar
neles tem que esmurrar com suas mãos!
— Mas eles cortam com garras! – Falou o Delegado;
Dalma olha para o delegado e pergunta;
— O que sabe?

244
O delegado olhou para o advogado, saindo pela porta, e fa-
lou;
— Acha que podemos com eles?
— Eu morro tentando! – Dalma – Mas vamos precisar de
reforço!
— Não entendi?
— Da a chave das celas de uma vez e para de se enrolar!
O policial a porta olhou atravessado e ouviu o delegado fa-
lar;
— Alerta toda a cidade, vamos recuar quem pudermos,
muitos devem estar vindo fugidos, mas não podemos entrar em
pânico, e solta os presos, vamos precisar de gente com sede de
sangue!
Dalma se levantou e foi a cela, abriu e falou;
— Quem quiser lutar por suas vidas, o delegado esta sol-
tando, quem acha que pode tentar fugir da cidade, esta iludindo-
se neste momento, mas queria poder acreditar que chegaremos a
parte da manha do dia seguinte vivas!
— Sabe o que fazer? – Mortícia;
— Nem ideia!
— Se você estiver a frente, tem de induzir os lobos a lhe
acompanhar!
— Eles sempre acompanham!
— Acompanhar na luta, não só na proteção!
— Como faço isto?
— Os chame a batalha!

245
24° Ato
Dalma sai da delegacia, olhou para as pessoas vindo pela
rua, fugindo, se ouvia a gritaria no fundo, viu mulheres e crianças
fugindo, os homens geralmente ficavam para lutar, para defender
os seus, olhou para o delegado e falou;
— Diz que tem de ser no braço!
— Mas são muitos! – O policial ao lado;
Dalma olhou em volta e pensou;
“Laikans”
O delegado viu milhares de lobos começarem a aparecer a
rua, seres translúcidos, olhavam para Dalma, e se aproximavam;
— Amigos, temos de defender estas almas, quem esta co-
migo nesta luta!
Dalma olha para o lobo que ficou mais ao fundo no outro
dia e o vê levantar—se, olhar para ele a falar;
— Sempre estamos aqui, para lhe defender, Freck!
O ser pareceu tomar a forma de um lobo sobre as patas de
trás, seu rosto se modificou, foi para o de uma caveira, Dalma
conhecia aquele rosto, e olhou para Mortícia;
— Cuida do pessoal!
— O que vai fazer?
— Como disse, tenho de ir a frente!
Dalma olha para a mão, o delegado arregala os olhos vendo
a moça se transformar, crescer, tomar a forma que o ser tinha
tomado, mas ela em carne, os demais lobos começaram a se le-
vantar, as pessoas meio perdidas viram Dalma avançar pela es-
trada, mais a frente se deparam com as almas vindo, deixou as
garras crescerem e passou por elas as cortando, estava avançan-
do, quando se deparou com Flavia, que a olhou;
— Você vem me desafiar?
— Você nada mais é do que um pedaço de alguém! – Dal-
ma;
Flavia avançou crescendo, Dalma sentiu a moça a tocar e
lhe erguer, mas Dalma não era de desistir tão fácil, pegou no pes-
coço do ser e lhe perfurou com as garras, e puxou com força, a
cabeça de Flavia tendeu para trás e Dalma sentiu o chão nova-
246
mente, os lobos avançavam, alguns ficavam pelo caminho, huma-
nos entraram na guerra, queriam viver, Dalma vendo um rapaz
negro e alto quebrando mais um, sorriu, e Flavia pôs com as
mãos a cabeça no lugar;
Dalma passou as garras na moça e a viu cair em pedaços
pequenos, continuou avançando, guerreando, seu corpo estava
cheio de sangue, quando olhou para o fim daquele grupo, olhou
para os lobos e começaram a voltar, a cidade tinha mais de uma
entrada, 3 ao certo, foram mais duas grandes batalhas, quando
terminou, olhou para a delegacia, olhou para os lobos;
“Obrigada”
Um dos lobos sorriu ao longe, e os demais foram sumindo,
ela pegou com a mão uma roupa na entrada da delegacia, e en-
trou para a cela mudando de forma;
Dalma sentou-se a cela e olhou em volta, apenas Renata e
Mortícia ainda estavam ali, mas ambas a olhavam estranho, um
misto de medo e admiração;
— O que fez foi incrível! – Renata;
Dalma não comentou, Mortícia olhou para ela e perguntou;
— Acha que acabou?
— Não, poupamos vidas, mas não acabou!
— O que eram aqueles seres?
— Almas a procura de sangue, carne, outras almas, o que
importa é matarem para Magog os subjugar! – Dalma;
— Como pode ter certeza!
— Eu toquei em alguns Lobos, eles estão nisto a muitos,
mas muitos anos mesmo!
Mortícia olha para a porta e vê o delegado olhar a moça e
perguntar;
— O que é você?
— Ninguém mais acredita em Bruxas delegado, por que fa-
lar de coisas que mesmo quem as queimavam, não acreditava!
— Mas você tomou a forma de um grande lobisomem?
— Lobisomem teria a cabeça de um lobo senhor, nunca a
tive!
Dalma era firme, de forma que o delegado pensou que ela
tinha certeza de tudo que falava, mas não era bem assim;
247
— Sabe que quem viu, não vai falar, e mesmo imaginando
que foi terrível a batalha, temos sempre apenas os humanos mor-
tos, fica difícil administrar isto! – O delegado;
— Se fosse fácil, não estaria aqui, se fosse fácil, — Dalma
pensa um momento e olha para Mortícia – Magog pode estar a
mais tempo já preparando isto?
— Não sei, o que pensou?
— Qual o objetivo deste ataque?
— Não sei, conquistar almas?
— Se fosse isto, não estariam aqui apenas quando me
prenderam, qual o objetivo real?
O delegado viu que as duas começavam a se entender, uma
pseudo-bruxa e uma se afirmando uma bruxa;
— O que acha? – Mortícia;
— Acho que podem existir dois caminhos, um atrair e atin-
gir Jorge, não sei se conhece? – Dalma;
— Não!
— O Retalhador!
— O que ele tem haver? – Mortícia;
— Ele é a resistência, sem ele no caminho, eu tive de me
revelar, então eles fazem o cerco, ele vem enfrentar, não sei como
ele foi atingido, mas sem ele, tive de me expor, ele mesmo sendo
um maluco, tentou me deixar fora disto muito tempo!
— Mas por que? – Mortícia;
— Ele se confundiu, achou que eu poderia ser Gog!
— Gog não teria poderes!
— Os lobos também não Mortícia, o que aconteceu nesta
historia que não sabemos?
— Não sei, tenho de ler, mas como disse, pouco disto foi
escrito! – Dalma olha para o delegado e pergunta;
— Ainda estamos presas?
O delegado olha as 3, as únicas a cela e fala;
— Sabe que não confio em Tata!
— Ela me respeita Delegado, não é Renata?
Renata sorri, ela vira algo que mesmo que ela quisesse di-
zer o contrario, lhe gerou medo, e Renata sempre foi de se aliar a
quem lhe gerava medo, não em quem lhe gerava repulsa.
248
— Saiam antes que mude de ideia!
— Obrigada delegado!
Dalma pega o telefone, pensa em discar para alguém, mas
quando sai a porta um rapaz lhe pergunta;
— Você deve ser Dalma!
— Sim, e você?
— Paco, o que segurou a outra ponta enquanto vocês não
chegavam!
— Muitas baixas?
— Mais do que Jorge gostaria!
— Tenho de falar com ele, sabe onde ele esta?
— Lhe levo lá!

249
25° Ato
Dalma entra no quarto de Jorge, olha ele a cama e fala;
— Como esta?
— Contrariado, mas amanha estarei bem!
Dalma chega até ele a cama e fala;
— Desculpa, não lhe ouvi antes, agora pelo jeito colhere-
mos os frutos disto!
— Do que esta falando?
— Magog já sabe de minha existência, talvez mais que eu,
mas queria lhe perguntar uma coisa!
Dalma senta-se a cama, Mortícia e Renata entraram juntas,
olhavam para ela, que pegou na mão de Jorge, a muito ela queria
lhe dar a mão, mas não o fizera, sente a historia dele e pergunta;
— Por que acha que sou Gog, e não Freck?
— Por que seria Freck? – Jorge;
— Por que um dos lobos, me chamou assim!
Jorge olha para Dalma e pergunta;
— Talvez estejamos nisto a muito tempo, Dalma, muito
mesmo!
Dalma sorriu, e Mortícia olhou Jorge se levantar, as marcas
que ele tinha ao ombro, aos braços, foram cicatrizando, olhou nos
olhos da moça e falou;
— Acha que ela sabe? – Jorge;
— Nem desconfia, acho que pensaram o inverso!
Jorge sorriu e perguntou;
— Mas como descobriu?
— Sei que não entendo disto, as vezes levanto a cabeça pa-
ra tentar parecer forte, mas não sou, mas muitos morreram hoje!
— Viu Sacha na briga?
— Não, não a vi!
— Ela me cortou pelas costas Dalma, não entendi!
— Você olhou para a forma de Flavia, mas não para seu in-
terior, estava conversando com Mortícia, achamos que a algum
tempo ela já estava entre nós, apenas queria saber onde me en-
contrar!
— Faz sentido, mas acha que acabou?
250
Dalma sacudiu negativamente a cabeça e olhou para Rena-
ta;
— Reúne o pessoal a rua, os mais valentes, quero ver se
Magog é tão ruim assim, acho que ela não se mostrou para os que
matou, apenas os matou, pois não somos bons! – Dalma se refe-
rindo aos humanos;
— Mas você não é humana! – Mortícia;
— Você não sabe quem sou Mortícia, acha uma coisa, mas
pelo que entendi, pode ser totalmente diferente!
— Acha que Gog esta por ai? – Mortícia;
— Acho que Gog não existe mais, assim como Freck, mas os
seres envolvidos procuram algo assim, e esta guerra não para, ou
não ameniza-se, sem saber o que Magog quer! – Dalma;
— Ele precisa das almas! – Mortícia;
— Para que ele precisaria de Almas Mortícia, ele teria o
apoio de Deus, se esta fosse a verdade, e não teria de se esconder
dele!
— Não me parece escondido! – Renata;
Os três olharam para a moça e ela continuou;
— Quem quer fazer algo sem ser notado, faz aos poucos!
Dalma olha para Jorge e pergunta;
— Mas e se no meio disto, Deus tivesse se arrependido?
— Acho que não é o caminho, mas o que veio fazer aqui? –
Jorge;
— Já fiz!
Dalma olha para Jorge, lhe solta a mão, e fala;
— Espero você para o café da manha, temos de conversar!
Jorge sorriu vendo Dalma sair pela porta;

251
26° Ato
Jorge vê a enfermeira vir fazer o curativo e sair correndo
para chamar o medico, que chegou e olhou as costas e perguntou;
— O que fez?
— Nada, por que, piorou? – Fala Jorge;
— Sumiu, como se tivesse tido uma recuperação em horas
do que deveria ter sido em dias!
— O que quer dizer com isto doutor? – Jorge;
— Que parece bem, vou fazer uns exames, mas se estiver
bem assim, amanha terá alta!
Jorge olhou sem demonstrar nada ao doutor;

252
27° Ato
Jorge chega a casa de Dalma e ela lhe atende a porta;
— Não fugiu?
— Não fujo, sabe disto, mas se me mandar embora, eu com
certeza saio! – Jorge não foi grosso, mas ficou estranha a frase;
— Entre, toma um café?
— Sim!
A empregado trouxe um café e Dalma olhou para Jorge e
perguntou sem rodeios;
— O que esta acontecendo?
— Quer que use de sinceridade?
— Não menos!
— Entrei de gaiato nesta historia, como você, mas por al-
gum motivo que desconheço, somos especiais!
— Mas o que sou?
— Dalma, apenas Dalma, não esquece disto!
— Mas o que é aquele ser que me transformei?
— Chamam de Laikans, você sabe disto!
— Mas por que posso ter a forma de um Laikans em vida?
— Não sei, mas tenho certeza hoje de uma coisa Dalma, eu
devo ter morrido umas 3 vezes desde que entrei nisto, mas meu
corpo não se desfez, e continua aqui, por algum motivo, não mor-
ro como os demais, a pessoa que fui, não é mais a pessoa que sou,
em 10 anos, tudo que achava de minha vida, não tem sentido!
— Mas o que quer dizer com isto?
Jorge olha para Dalma e fala;
— Não sei se sou Gog, não sei se sou Freck, não sei se sou
um Laikans, ou mesmo o próprio espirito de Magog, o que sei, é
que Magog quis que eu continuasse por este caminho!
— Mas onde eu entro nisto?
— Você? – Jorge pensa em como falar isto para a moça e
começa – Não sei como falar, mas você era adotada, seus pais
verdadeiros, não se sabe quem eram, mas apareceu numa porta
em Piraquara, foi adotada e criada até os 8 anos, quando os lobos
lhe defenderam, de ser morta, como sua família!
— Eu era adotada?
253
— Sim, mas não cheguei aos seus pais, nem ideia de quem
sejam, mas sei que por mais que tentemos, não os acharemos,
mas por algum motivo, estamos nesta briga, e ou estamos do
mesmo lado, ou nos ignoramos!
— Sei que não lhe ouvi!
— E assim que as coisas acalmarem, voltara a não ouvir!
— Tenho medo de perder as pessoas, toda vez que esqueço
disto alguém morre!
Jorge dedicou os dias seguintes a ensinar Dalma o que es-
tudara nos 10 anos que estava nisto, os 10 anos que sua vida
mudara da agua para o vinho.
Os dois não estavam sós nisto, mas sabiam, ambos tinham
esta certeza, que aproximar o outro, era um risco para a vida do
outro.

Chegamos aos personagens fantásticos


da historia.

254
255
Magog 3
J.J.Gremmelmaier

256

Dalma senta-se em casa, a gata Suzi, se enrosca em sua
perna, pensava se deveria ou não continuar como estava, sabia
que a proposta de Mortícia era muito boa, era uma forma de se
sustentar, e sabia que a fama que ela obterá, não condizia com
sua aparência, coça a cicatriz e olha para a porta.
— Entra Jorge!
Jorge entrou, olho-a aos olhos;
— O que pretende fazer?
— Acho que não entendi ainda o que sou, e você não esta
facilitando, me mostrou do que posso, mas não o que sou!
— Não sei o que você é ainda Dalma! Achava ser algo, mas
fiquei na duvida depois da ultima investida de Magog!
— Mas se você não sabe, quem pode me responder isto?
— Sabe a resposta, não falo este nome tão facilmente as-
sim, não nesta cidade! – Estavam em Piraquara, e Jorge sabia que
ali ele sentia Magog mais forte, por que ele não tinha ideia, mas
era muito forte para ele.
— Vou fazer uma acordo com Mortícia!
— Acordo?
— Não aparento com uma bruxa, posso defender os troca-
dos assim, mas não tenho a aparência de uma, ela põem medo já
na aparência!
— Você não precisa deste trocado!
— Tenho de fazer algo!
— Mas como vai intervir?
— Eu serei a secretaria da Bruxa de Piraquara, assim sabe-
rei o que esta afligindo quem procurar a bruxa!
— Vigarice, é como chamamos isto, mas se quer este cami-
nho, sabe que mais cedo ou mais tarde, não terá como fugir do
que esta em sua vida!
— E o que está em minha vida? – Dalma;
— Queria poder responder, mas não sei a resposta ainda!

257

Dalma e Mortícia, abriram uma tenda de solução de pro-
blemas, entre tantas que existiam na região, era apenas mais
uma, Mortícia, uma senhora de mais de 50 anos, com uma verru-
ga a testa, com seu rosto de quem trabalhara ao sol a vida inteira,
era a personificação da Bruxa de Piraquara, Dalma ao contrario,
como secretaria de Mortícia, só chamava a atenção pela grande
cicatriz ao pescoço, os dias iam se pagando, quando depois de 6
meses e 3 dias que estavam dando consulta, apareceu uma se-
nhora, consulta marcada e paga antecipadamente, como os de-
mais, senta-se a frente de Mortícia, a olha e fala;
— Pensei que as fofocas eram verdadeiras!
Mortícia olhou com os olhos baixos, como sempre olhava
para os clientes e perguntou;
— Aqui não é local para fofocas, senhora!
— Sabe quem sou? — A senhora;
O ponto de comunicação ao ouvido lhe informou e falou;
— Uma grã-fina da cidade, filha de prefeitos antigos se
seus cheiro não estiver me confundindo!
— Não perguntei de quem era filha, e sim quem eu era!
— Senhora, o que quer saber?
A senhora pareceu olhar em volta, parecia procurar algo,
mas via uma senhora aparentemente inofensiva a sua frente,
nada de energia em local nenhum, a fama da Bruxa se espalhou
pelas cidades vizinhas, tinha de verificar;
— Quero saber como você pode ter enfrentado Magog, não
tem força nem para me enfrentar!
A senhora se mexeu, parecia que iria pegar algo, viu os ga-
tos entrarem na peça, 7 deles, como se estivessem ali para prote-
ger Mortícia.
— Acha que tenho medo de Gatos? – A senhora pega num
cristal e olha para Mortícia, aponta sobre um dos gatos, que mia
de dor, mas se a senhora pretendia surpreender com magia, não
estava pronta para o que viu na sequencia, o gato se esticou,
cresceu, tomando a forma de um lobo translucido, mostrando os

258
caninos para a senhora. Primeiro ela recuou, depois olhou para
Mortícia e falou;
— Começou a me parecer mais atrativa, preciso de uma in-
formação!
— O que quer saber senhora, estou quase devolvendo seus
recursos!
— Preciso saber por que pessoas estão morrendo na regi-
ão da serra, nas nascentes do Rio Iguaçu, e ninguém fala disto!
Dalma na peça ao lado sente as energias do local mudarem,
algo grande vinha a eles, não sabia se poderia se manter na de-
fensiva ou na encenação, enquanto passava as instruções para
Mortícia, foi a porta e olhou para o céu, pegou na cozinha um
saco de sal grosso e deu uma volta na casa;
— Algo grande vem a você, quem desafiou, senhora? –
Mortícia;
— Não sei, mas pessoas ligadas a mim estão morrendo,
desde que comprei um sitio na região das nascentes do Iguaçu!
— Mas as energias envolvidas pedem algo em troca, tem de
ter tirado dela algo de valor!
— Não roubei nada, estava em minhas terras!
— Não estamos falando de leis, deve saber disto, senão não
estaria aqui, nitidamente é uma iniciada em energias ocultas,
mas a pergunta é quem desafiou?
A senhora olha pela janela vendo tudo escurecer, olha para
Mortícia e fala;
— Acho que tenho de sair agora!
— Não é mais seguro senhora, agora terá de confiar um
pouco!
— Você não pode com ela!
— Se acha isto, saia pela porta, mas não chegara nem na
estada, sabe disto!
— Quem é a senhora, como pode ter enfrentado Magog?
— Você a desafiou?
A senhora calou-se, Dalma entrou pela porta e olhou para
Mortícia;
— Algo grande se aproxima Mortícia!

259
Dalma passa a mão na cabeça do ser em forma translucida
e este volta a forma de um gato, pega um pacote na prateleira e
põem um pouco de comida para eles;
— O que roubou de Magog? – Mortícia;
Dalma olha para o cristal a mão da senhora, o que usou
contra o gato, Mortícia sabia o que deveria ser aquilo, mas não
falou, Dalma não estava lhe passando nada naquele instante;
— Mestre, precisamos nos recolher! – Dalma;
— Vão me deixar sozinha? – A senhora;
— Se quiser nos acompanhar!
Dalma ajuda a senhora a se levantar, lhe alcança a bengala
e saem pela porta para uma sala aos fundos da que recebia as
pessoas, a senhora veio junto, os gatos pareceram nem se impor-
tar com ela, tinham milhares de gatos naquela imensa sala;
A senhora ouviu os ventos cortarem o ar do lado de fora,
Dalma estava calma, a tranquilidade dela e dos gatos contrastava
com o rosto da senhora.
— Eu não sabia que Magog ainda existia, para mim era
uma lenda!
— Onde achou o cristal? – Dalma;
— Sabem o que significa?
— Sim, os olhos dos que não podem ver!
— Nunca entendi isto, como pode existir um olho para os
que não podem ver!
— É uma parábola, poder é um olho sem vista, dinheiro é
um olho sem vista, ganancia é um olho sem vista, Magog é um
olho sem vista! – Dalma olhando para Mortícia que falou;
— Sim aprendiz, o olho dos que não podem ver, é uma
forma de ocultar mundos, atos, é a forma de se interagir sem o
peso das consequências!
— Não entendi! – A senhora;
— Magog mesmo fora de controle, responde a Deus, o olho
é uma forma de fazer o que quer sem que esteja aos olhos de
deus! O olho dos que não podem ver! – Mortícia;
A senhora olhou o cristal e olhou a bruxa e perguntou;
— Quer dizer que Magog só é Magog, se com o cristal?

260
— Sim, seria isto, ele tem uma missão, mas somente a efe-
tua se não estiver sobre o julgamento de Deus, pois nem ele quer
a raiva de Deus, mas deveria saber disto antes de pegar o cristal!
— Não tinha ideia, me convenceram que o local tinha ener-
gias muito poderosas, não resisti e comprei!
— Onde pegou o cristal?
— Numa formação rochosa, perto de uma grande cachoei-
ra que tem em meu terreno, estava lá para que pegasse!
Dalma olha para Mortícia e fala;
— Ela não tem carne, ela esta querendo um corpo novo, o
de Sacha já apodreceu!
Mortícia olha para a senhora e fala;
— Talvez nem todas as proteções do mundo a detenham,
não durante a noite, tem de ficar longe senhora!
— Mas e este local?
— Resiste a investidas, mas não podemos viver em uma
peça, assim como ela não vai investir sempre da mesma forma,
ela esta procurando, todos que pegaram na pedra, vão ser parte
dos planos dela, ela vai exigir suas almas! – Dalma;
— E se não quiser mais a pedra? – Fala passando a pedra a
Dalma que sem se tocar da encrenca que estava assumindo, pega
ela e fala;
— Nada é garantia que ela não ira atrás de sua alma, se-
nhora!
Dalma olha para a pedra em sua mão e fala olhando para
Mortícia.
— A casa já não existe mais!
— Com o que ela esta atacando?
— Um redemoinho de vento de 300 metros de diâmetros,
ao norte chamam de tornados!
A senhora olha as paredes e pergunta;
— Mas então onde estamos?
Dalma sorri, não teria como responder esta pergunta, não
para uma senhora que provavelmente iria fazer parte das almas
a serviço de Magog.
Os ventos reduziram do lado de fora, saíram pela porta e
viram que havia apenas a porta, a senhora olhou assustada, não
261
existia mais a casa, não existiam mais nem as vizinhas, seu carro,
não se via, ela olhou em volta o procurando e avistou sobre uma
casa a mais de 2 mil metros dali.
A senhora sai atordoada, enquanto Mortícia olha para a
pedra e fala;
— Não deveria ter pego na pedra!
— Sei disto Mortícia, posso estar em uma grande encrenca!
Dalma ajuda a Mortícia, olha em volta, apenas uma casa em
pé em toda a vizinhança, atravessam a rua, sobre o olhar da ma-
dame, e entram na casa.
Dalma olha para a vizinhança, corriam para tentar cobrir
suas casas, enquanto ao longe, via a senhora pedir carona para
um casal que estava assustado, tentando sair da cidade.

262

A senhora pegou uma carona e o casal, recém casado, fala
que estavam indo para Curitiba, estavam conversando, quando o
rapaz vê o tempo mudar a volta, as nuvens tornarem-se negras, o
rapaz parecia querer fugir daquela chuva, estavam na estrada
que liga Piraquara a Pinhais, na grande reta.
Estavam acelerando quando entram na chuva, uma chuva
de puro granizo, o rapaz tenta frear, mas o carro começa a acele-
rar na camada de pequenas pedras de gelo que cobria tudo.
O carro primeiro segue acelerando um pouco, mas com a
pequena inclinação da pista, começa a sair da pista, e sem sentir,
em segundos, estavam capotando o carro no sentido do acosta-
mento, deram 5 voltas completas no eixo, e o carro parou.
A senhora olha em volta, vendo a chuva mais grossa chegar
ao longe, sai do carro, o cheiro de gasolina era forte, olha para a
estrada, começa a caminhar, quando ouve uma voz as suas cos-
tas;
— Não existe saída ou fuga!
Ela olha para traz e vê um grande rosto se materializar en-
tre as nuvens, assustada, começa a andar de costas no sentido da
estrada.
Um carro que entrava como eles naquela região, vinha der-
rapando pela pista, a senhora não via o carro assustada que esta-
va vendo aquele ser avançar sobre ela.
O carro buzina, a senhora vira-se rapidamente trazida ao
local pelo ruído, não deu tempo para nada, apenas sente o carro
se chocar contra seu corpo.

263

A polícia chega ao local, mais de 12 carros acidentados, a
cena de alguns que explodiram com a batida, contrastava com o
atendimento de outros com ferimentos leves, o gelo a estrada
ainda somava centímetros a toda volta.
— O que aconteceu Lopes?
— Pelo que dá para ver, uma chuva anormal de pedra, os
carros vinham normalmente e ao se depararem com um piso de
puro gelo, derraparam, batidas, mortes por um capricho da natu-
reza!
— De onde saiu aquela senhora?
— Estava em meio a rodovia, desacordada!
— Deve ter saído de algum carro, verifique depois!
Os policiais foram ajudando a retirar os feridos, a senhora
é encaminhada para o Hospital Cajuru em Curitiba;

264

Uma menina estava ao quarto, era noite sua mãe dormia na
cama ao lado, havia operado o apêndice, olhava a TV quando viu
uma senhora entrar pela porta;
O silencio da senhora intrigou a menina, que viu a senhora
puxar uma faca, neste instante ela gritou, recuando na cama, a
mãe da criança acorda a cama, mas nem viu quem a atingiu ao
peito com uma faca, a menina começa a fugir no sentido da jane-
la, enquanto a senhora avança, a menina gritava, mas parecia que
ninguém a ouvia.
O pânico toma conta do olhar da menina, que abre a porta
da sacada do quarto do hospital, os olhos da senhora brilharam
sobre ela, que recuava sentindo o frio da noite curitibana, a cri-
ança escorrega e sente o corpo tender para baixo, demorou en-
tender que estava caindo, a avenida abaixo foi se aproximando
rápido, fechou os olhos antes de bater ao asfalto.

265

A senhora acorda no hospital, não lembrava de como foi
parar ali, sua ultima lembrança foi do carro a acertando com for-
ça, a dor que isto gerou;
A enfermeira entrou no quarto e a senhora perguntou;
— Quanto tempo estou aqui?
A enfermeira parecia assustada;
— Desculpa, o que perguntou?
— Quanto tempo estou aqui?
— 6 dias!
— Como vim parar aqui?
— Estava em coma, mas o medico ficara feliz em saber que
acordou, pelo menos uma noticia boa!
— Pelo jeito muitas mortes?
A enfermeira não falou nada, acabara de sair do quarto ao
lado, onde pelo sexto dia seguido, um morto aparecia, hoje havia
sido um senhor de 64 anos que entrara ali para uma operação do
coração, mas parece que alguém resolveu retirar o coração de
volta, enquanto o senhor dormia.
O medico fez os exames na senhora, ela melhorara muito
rápido nos últimos dias, parecia que aquele quarto era uma coisa
que estava servindo de acalanto para os médicos, pois eles viam
pessoas morrendo ou se matando em quartos vizinhos, ali pelo
menos alguém estava saindo de coma e melhorando.
— Seus exames estão ótimos senhora, vou ligar para al-
guém de sua família vir lhe buscar, esta muito bem!
A senhora sorriu, o sorriso foi meio amargo lembrando de
alguns parentes que morreram dias antes, mas ela não tinha
mais a pedra, agora estava despreocupada;
“Você não tem a pedra?”
A senhora olha em volta, como se tivesse ouvido esta per-
gunta de alguém, mas estava sozinha, pensou que coisa estranha;
“Me fala a verdade, onde esta a pedra?”
A senhora sacode a cabeça, sabia que estava com a bruxa
de Piraquara, que maluquice era esta.

266
A senhora se olha no espelho do banheiro e vê seus olhos
brilharem e ouve em sua mente;
“Bine aţi venit în iad!” - A senhora grita de dor e momentos
depois a enfermeira entra no quarto e vê o corpo da senhora
pegando fogo ao chão do banheiro, apavorada, sai pela porta
assustada, recolhem o corpo morto da senhora, os rostos esta-
vam num misto de pânico e desilusão.

267

Jorge dá uma volta em Curitiba, estava procurando algo es-
tranho, quando chega ao hospital e fotografa a senhora, sabia que
tinha visto aquele rosto antes, voltou ao jornal, sempre que lhe
vinha algo a mente, comparava aos casos que tinha em Piraqua-
ra, olha para a imagem da senhora em meio ao acidente a 6 dias
em Piraquara e liga para Dalma;
— O que quer saber Jorge?
— Sobre uma senhora, morreu hoje no hospital Cajuru,
queimou como se o fogo viesse de seu interior!
— Algo tipo “Bine aţi venit în iad!”?
— Bem a este estilo!
— Mas por que me liga para saber de alguem assim?
— Por que ela é a mesma que pareceu sobreviver em um
acidente a 6 dias, da estrada que liga Piraquara a Pinhais, algo
bem ao estilo de Magog!
— Se for quem penso Jorge, estou tentando a 6 dias
entender de algo que nao sei se posso dividir com voce!
— Me escondendo algo?
— O olho dos que não podem ver!
— Você tocou nele?
— A senhora deixou comigo, achou em uma pedreira em
Piraquara, sabe de onde falo!
— Complicado, mas não ia me falar?
— Sabe que não gosto de me aproximar!
— Sei, somos predestinados a vivermos sós!
Dalma e Jorge evitavam conversas mais intimas, mas Jorge
ficou preocupado, e começou a pesquisar referente a esta lenda;

268

Dalma acorda, olhando a sua volta, estranha o silencio, olha
para os gatos, todos aparentemente dormindo, levanta-se como
todo dia, a ausência de cheiros foi facilmente notada, olha para
fora e estranha, ainda noite, olha o relógio que afirmava já ser
oito da manha, toca em Suzi, sua mão a atravessou, encostando
na coberta, viu que a imagem dela se desfez, olhou os demais
gatos e viu que se desfizeram, olha para fora, levanta-se, olha-se
ao espelho, conhecia aquele rosto, que embora no começo lhe
causara medo, agora conhecia até os detalhes, seria capaz de
reconhecer seu rosto e de outro ser como ela.
Com calma saiu pela porta, não estava em uma casa, a por-
ta deu para um mundo escuro, mas se via as armações de sua
casa, passou a mão nas paredes translucidas, elas não estavam
ali, e ao mesmo tempo parecia estarem.
Sua vista foi a pedra sobre a mesa, não dormia com ela, por
que não sabia, algo referente a sensação que dava, mas ela bri-
lhava forte, dando naquela noite, uma luz azulada que lhe permi-
tia ver tudo.
Dalma toca a pedra e se assusta, vendo tudo surgir a volta,
Mortícia a cozinha, se assusta ao ver Dalma surgir de pijama a
sua frente do nada.
— Como fez isto?
Dalma olha para ela e pergunta, séria, era algo que não
brincaria na vida, talvez brincara antes dos 8 anos, depois,
aprendeu que suas brincadeiras eram tomadas como fraqueza e
aos oito aprendeu que precisava que lhe respeitassem, por que
não entendia.
— Não viu o brilho da pedra? – Dalma;
— Não, ela esta ai quieta! – A secura na voz de Mortícia fez
Dalma olhar para os gatos, pegou a pedra e a apertou e enquanto
Mortícia via ela sumir a cozinha, Dalma olha o espectro de Mortí-
cia, não mais a senhora, mas uma alma jovem, imatura, temerosa,
olha em volta, os gatos começam a lhe parecer conhecidos, um
lhe piscou, achou estranho, conhecia aquele rosto, cães na força e
prestativos, escondidos na sinceridade dos gatos. O que era dia
269
tornou-se novamente noite, algumas duvidas lhe vieram a mente,
saiu para fora e não havia perigos, mas teria de estudar isto.
Dalma a porta olha para a pedra em sua mão, a segura en-
tre as duas unhas se deformando e a segurando, e vê o dia surgir,
sorri e entra para seu quarto.
Dalma pôs a pedra em uma caixa de madeira, com um ve-
ludo vermelho, fechou e pôs no armário, olhou em volta, sabia
que não era seguro, mas lhe veio uma duvida, algumas duvidas,
uma após outra, se veste e vai a cozinha tomar café, Mortícia fez
varias perguntas e não obteve uma única resposta, Dalma estava
quieta, sem saber por onde enfrentaria tudo isto.

270

Setembro se aproxima e o calor começa a reaparecer na
região, Piraquara é uma cidade próxima a serra do mar, mas do
lado do planalto, somente no verão o calor atravessa aquela bar-
reira com constância, Dalma olha para Mortícia, a 6 dias fazendo
perguntas que ela não conseguia responder e fala;
— Vou caminhar, não sei quando volto, se não voltar em
uma semana, avisa Jorge!
— Não faz besteira Dalma!
— Não sei ao certo o que sou Mortícia, mas tenho de en-
frentar!
— Vai onde?
— Caminho de Itupava!
— Por que?
— Algo subiu por ali, sinto isto, estamos neste caminho, o
caminho que ligava o planalto ao litoral, caminho já usado antes
dos brancos chegarem a estas terras, usada antes mesmo de
qualquer historiador chegar aqui, e como você disse, os Celtas
dizem existir as terras do Brasil, eles que transmitiram a existên-
cia destas terras aos Otomanos nos anos de 1300, e os mapas
feitos por eles, que chegam a nós, estes mapas que levados por
Judeus a Portugal e Espanha que levaram os reis a acreditar na
existência de terra depois do grande mar, convencidos por Novos
Cristãos, que davam tudo que tinham, até a vida para fugir da
Inquisição na Europa, mas como em nenhum deles esta escrito o
tamanho das terras, parecia ser um lugar onde poucos pisaram,
mas se ler as primeiras cartas, seja em português, em francês ou
inglês, narram estas terras como o paraíso!
Mortícia não estava acompanhando os pensamentos;
— Mas o que Magog faria no paraíso?
— Por que ela esta aqui não sei Mortícia, mas ela esta, mas
ela não esteve a eternidade por aqui, mas ela é lenda Celta, para a
maioria, para nós ela é realidade!
— Mas por que vai se arriscar?
— Por que estou nisto, mesmo que não tivesse pego na pe-
dra, e pior, uma frase não me sai da cabeça!
271
— Qual?
— A de que não tínhamos mais informações sobre os ata-
ques de Magog, pois dos locais atacados, nada sobrou!
Mortícia olha serio para Dalma;
— Nisto tem razão, mas tem de tomar cuidado, não existe
futuro se você se perder neste caminho!
— Acho que meu Deus não é o Deus de Magog, e as vezes
acho que nem o de Jorge, por isto vou a frente, vocês não confiam
em vocês, não acredito em Deus como algo ruim, e não é o cristi-
anismo que me fala isto, não minha educação, como você fala, é o
que sinto, mas não entende!
Mortícia olha para Dalma, sabia que era alguém especial, a
vira em ação, mas tinha medo de a perder, uma ligação forte se
fez nos últimos meses, mas a senhora não admitiria isto, medo de
passar por fraca.

272
10°
Dalma põem um tênis aos pés, sai a caminhar, passa pela
prefeitura, no sentido Leste, caminha por aquela cidade, vê o
delegado a cumprimentar quando passa pela delegacia, o delega-
do estranha, entra e fala a seu assessor;
— Passos, fica atento, algo vai acontecer!
— O que aconteceu, problemas na penitenciaria?
— Quem dera, Dalma caminha no sentido leste!
Passos olha para o delegado e pergunta;
— Acha que é para quando?
— Não sei, aquela menina ao mesmo tempo me põem me-
do, ao mesmo tempo, sei que ela tem algo dentro dela que parece
bom, mas quando ela se meche, sabe que vem problema!
Passos pega o comunicador da policia e fala;
— Delegacia a todos os carros, cambio!
Varias respostas vieram e falou;
— Atenção máxima, a Bruxa de Piraquara se mexe!
O delegado olha para Passos, pensava que quando fora pa-
ra aquela delegacia, se ouvisse algo assim, acharia estranho, mas
não mais, alguns não entenderam do outro lado do radio, esta-
vam a muito pouco tempo na policia, mas Passos pretendia que a
informação fosse mais a frente, seus olhos foram a preocupação.

273
11°
Em Curitiba, Jorge olha para Guto a porta;
— O que aconteceu?
— Os rádios de Piraquara falam que Dalma esta se mexen-
do?
— Tem certeza que é ela?
— Conhece mais alguém que chamam de bruxa de Pira-
quara? - Jorge pega o telefone e disca para Mortícia;
— Mortícia, o que esta acontecendo!
— Não sei Jorge, ela disse que tinha de caminhar!
— Mas onde ela vai?
— Caminho do Itupava!
— Mas não é no sentido da pedreira!
— Não sei o que ela esta procurando Jorge, mas ela quer
caminhar, não sei se não faz parte do destino dela caminhar!
— Vou ficar de olho, não ia me avisar?
— Ela disse que se não voltar em uma semana, lhe ligasse!
— Duas malucas!
— Três! — Falou Mortícia seria no telefone;

274
12°
Dalma passa pelo trilho de trem, passa a estrada que dá
para a pedreira e vai no sentido de quatro barras, caminhava
com calma pela estrada, apenas andando, queimando as calorias,
uma media de 4 km por hora, não tinha pressa, sabia que esta
seria a parte rápida da caminhada.
A frente, olha a pequena estrada de terra surgir a direita da
estrada, olhou a frente, deveria faltar uns mil metros para a pon-
te de divisa com Quatro barras, aquela estrada lhe atraia, entrou
nela, não havia placa, apenas uma atração, as pedras ao chão
diziam que o caminho seria mais demorado, olhou a estrada,
mais a frente uma pinguela a fez ter uma visão;
Passava a ponte quando viu uma menina, cruzar correndo
com um senhor correndo atrás dela, estavam brincando de pega,
a menina sorria, os olhos de Dalma se encheu de lagrimas, me-
morias que nem sabia que ainda tinha, lhe mostraram o rosto de
seu pai, olhou em volta, viu os restos de uma casa ao topo, olhou
para o rio, era onde ela estava no dia que toda sua vida mudara,
sentou-se a pensar em o que tinha de fazer ali, viu a cena de
quando a menina olha para os peixes no rio, seu pai e avô ao lon-
ge, sua mãe, sua avó, vê os seres na forma de espirito vir matan-
do tudo, ao longe vê a casa dos vizinhos pegar fogo, olha para a
cara de assustada de sua mãe, vê eles avançarem sobre elas, seu
pai correr e ser morto, seu avô ajoelhar e pedir a Deus algo, e
mesmo assim ser morto, vê a menina olhando aquilo, não viu os
lobos, olhou para suas mãos, para a menina e mudando de forma
a toca no pescoço, vê a menina olhar para ela assustada, e des-
maiar, vê os espíritos olharem para ela e recuarem, a menina
estava a sua frente, caída, ficou ali a olhando, perdeu um tempo
ali parada, quando viu amanhecer, os policiais chegando, viu tu-
do sumir de usa vista, uma lagrima lhe corre ao rosto, uma culpa
por não ter defendido os demais lhe veio ao coração.
Dalma olha para tudo e vê que passou ali, parada, um bom
tempo, pois anoitecera, mas não sabia o que estava fazendo ain-
da, mas sentou-se nos restos da casa de seus avós, num banco de

275
madeira maciça, estava cansada, encostou o corpo e pegou no
sono.
Abre os olhos assustada, olha em volta, vê a casa inteira, e
vê um senhor olhar para ela e falar;
— Quem é você moça?
Dalma olha a casa, olha a idade das arvores, olha o senhor e
pergunta;
— Estas terras são suas?
— Não, são de Deus, que nos deu estas terras a cuidar!
Neste momento Dalma olha para o senhor e pergunta;
— São da Igreja ou de Deus?
— Qual a diferença?
Dalma sorri e fala;
— A diferença, se não sabe que Deus é dono de tudo, até da
minha e da sua vida, e quando você separa algo para um institui-
ção, em nome de Deus, esta na verdade separando as terras como
não sendo de Deus, não entende de Deus!
— Não fale heresias moça, mas é estranha a estas terras!
Dalma lembra de quem eram as vitimas e fala;
— Uma andarilha!
Vê o senhor olhar para o céu e uma grande nuvem tomar a
forma de um rosto e o senhor falar;
— Deus, mais uma desocupadas sobre as terras de Deus!
O grande rosto olha para Dalma e olha para o senhor;
— Alguém forte finalmente!
— Uma atrevida que não sabe o que fala, ó Deus!
Dalma olha para o rosto e fala;
— Magog em pessoa, interessante!
O rosto olhou-a, o padre olhou para a moça sem entender;
— Como me chamou?
— Se sente o cheiro que tenho, neste instante, sabe quem
me contou seu nome, um antigo amigo seu!
O rosto avançou sobre Dalma, olha para ela, não tinha co-
mo ser, olhou para o padre e falou;
— Some daqui, Padre, esta conversa não é para você!
— Ela lhe chamou de Magog, não pode ser!

276
— Esta dormindo Padre, volta para cama! — O ar em volta
do padre pareceu ficar nebuloso e ele cair no sono, viu espíritos
virem da região virgem da mata e levarem o padre para dentro
da casa, Magog olha para Dalma e pergunta;
— Onde esta Gog?
— Se soubesse não estaria aqui, Magog!
— Pensei que ele havia morrido no passado!
— Eu sei que ele não morreu, mas terá de escolher Magog,
de que lado vai ficar desta vez!
— Lado, sempre fico do lado de Deus!
— Engana bem, mas se isto é real, por que ainda usa os
Olhos dos que não podem ver!
— Por que não achei alguém para ver por mim, assim que
achar, este ser será meus olhos na terra, dai poderei fazer uma
boa colheita para Deus!
Dalma olha para ela e fala;
— Quando nos encontrarmos de novo, ainda não lembrarei
quem sou Magog, sabe do que falo?
— Não!
— Então ainda esta fraca, não deve ter muitas almas ainda
neste campo!
— Este padre é preguiçoso!
— Temente a Deus, mas eles temem você mais que Deus,
esta no caminho errado Magog!
Dalma pensou no que disse somente depois de ter falado,
mas não se condenou, sabia o que aconteceria, não teria como
mudar o passado, mesmo a morte de seus pais, não fora ao acaso,
não poderia intervir, fora lá apenas para se alto defender;
— Mas você sempre defendeu estes animais!
— Sou um animal, o que posso fazer!
Magog sorriu e falou;
— Pelo menos sei agora que estou no caminho, por mais de
1500 anos duvidei disto!
Dalma sorriu, olhou em volta e falou;
— Sinto a tristeza destas terras, Magog, ainda muitos serão
mortos nela!

277
— Sempre admirei sua capacidade de sentir as mortes e
chegar rápido, nunca entendi, mas se já sabe quem é, Gog deve
estar próximo!
— Procuro sempre evitar que você ganhe, sabe disto Ma-
gog, mas ainda não sei bem do que posso!
— Este corpo parece frágil demais!
Dalma toma a forma de sua alma, com o corpo de um lobo
ereto e seu rosto de caveira, olha para Magog e fala;
— Sempre olhando pela casca!
Magog sorriu e falou;
— As vezes esqueço que você pode se passar por estes fra-
cos, se Gog pudesse não estaria sempre longe, sempre chegando!
Dalma pensou, teria de ter uma forma de perguntar, mas
não queria parecer não entender do assunto;
— Ainda estou me lembrando Magog, ainda não sei de tu-
do, e sei que nunca facilitara minha parte!
— Mas chegou longe desta fez sem que eu falasse algo, da
ultima vez nem lembrava quem era quando a destruí!
— Perda de tempo me destruir, sabe disto Magog!
— Soube depois, tudo desandou, você com sua morte afas-
tou os animais de onde eu estava, nunca entendi, como você pode
destruir vidas assim, poucos repteis sobraram naquela região!
— Sei que tenta sempre Magog, mas minha destruição não
é o caminho, você perde as almas, sabe disto!
— Sei, você as retém, as afasta, mas aquele deserto tem
que tamanho?
— Não tenho esta memoria ainda Magog, sabe disto, mas
poderia me ajudar a não fazer burradas como aquilo, me contan-
do o que não devo fazer!
Magog sorriu, viu que Dalma estava tentando ser esperta,
pensa, estavam em um jogo.
— Pelo menos desta vez veio para me encontrar pelo que
entendi, não como das vezes anteriores, eu caçando você ou Gog,
que por sinal, sempre você o esconde de mim!
— Desculpa Magog, mas não quero atrapalhar sua vidinha
por aqui, você pode tentar achar o que bem entende, mas como

278
sempre, você impera, pois não morre, nós é que ficamos renas-
cendo e tendo de adivinhar o caminho a tomar!
— Você não renasce, sempre vou ter de lhe dizer que você
surge, não entende mesmo de onde vem?
— Não tenho memoria, assim como Gog, mas enquanto ele
não lembrar de mim ou de você, é um bom sinal!
— Pelo menos não vai fazer a burrada de tentar contar a
ele quem ele é, menos mal!
— Não adiantaria, ele não acreditaria em mim!
— Ele sempre acreditou em você!
— Isto quando sabia quem era, não agora!
Magog ainda como uma grande nuvem, faz uma ligação
com a terra, Dalma vê um tornado subir e a poeira ao chão, tomar
a forma de uma moça, que olha para ela, Dalma esticou o pesco-
ço, que relaxou um pouco, por não ter de ficar olhando para o
céu;
— Parece saber mais do que deveria, não sei se preciso lhe
contar algo!
— Este corpo que surgi, não tem mais do que 19 anos Ma-
gog, sabe pelo cheiro dele!
Magog olha para a moça, aquele ser de partículas de pó,
não andava, flutuava, dando uma volta ao redor de Dalma, que
mantinha-se alerta, mas sem saber se era ou não uma boa ideia
estar ali;
— Vejo as duvidas em você Freck!
Dalma sorriu e falou;
— Assim como em você Magog, sei que meu cheiro lembra
Gog, mas sabe como eu, que não sou ele!
— Mas o que você quer aqui, veio me ver?
— Na verdade, vim atraída até aqui, estranho vir em uma
fêmea desta vez, mas me cai melhor! – Dalma;
— Não fazendo a burrada que fez em Tassili! Tudo bem!
— Não sei do que esta falando, já disse isto!
— Existia uma imensa floreta e um rio que nascia nas mon-
tanhas de Tassili, mas me desafiou, e olha o que virou, um deser-
to de mais de 4 mil km²!

279
— Discordo disto, mas lembre disto quando for querer me
matar novamente! – Dalma jogando com a informação;
Dalma estava com uma certeza no olhar que fazia Magog
duvidar de suas próprias atitudes, mas estava pensando em que
deserto tinha este tamanho, passou a lembrança no mapa-múndi,
o único deserto tão grande assim, deveria ser o Saara;
— Vou pensar nisto, mas quem manda ter o cheiro de Gog!
— Sabe que Gog nunca vai lhe fazer mal Magog, ele consi-
derava-o um amigo, se ele lembrar de seu passado, acho que será
o fim da espécie humana, pois lhe tinha um apreço imenso, e o
humano provou por si não merecer a proteção de Gog!
Magog olha os olhos de Dalma, ela parecia falar a verdade,
toma a forma de um tornado novamente e surge nas nuvens,
olhando para a moça;
— Sabe que não me controlo, se tiver o cheiro dele, se cui-
da!
— Você que sabe onde quer pisar!
— Queria pisar em você, mas vou achar uma forma de lhe
neutralizar sem ter o peso caindo sobre as minhas costas!
Magog some nas nuvens, Dalma senta-se olhando em volta,
acentua o olhar e vê o amanhecer ao fundo, repara que a casa
some ficando apenas os restos da mesma, seu corpo estava doi-
do, mas não pararia agora.
Dalma olha a casa, o riacho mais ao fundo, começa a andar,
estava quase em Borda do Campo, quando se informou sobre o
caminho, continuou a caminhar, sem se preocupar com nada
além da pequena trilha que surgiu a sua frente;

280
13°
Dalma havia caminhado uma boa parte daquele dia, olhou
para uma goiabeira, parou um pouco para comer, olhou a queda
d’água mais a baixo e se refrescou, andar havia a feito suar, olha-
va o local conservado em partes, uma trilha feita em pedra, sen-
tia que era o caminho que deveria percorrer, mas não sabia o que
estava realmente procurando;
Viu um pequeno pássaro voar a sua volta, mais um, pensou
inicialmente serem pássaros, até um parar a altura de seus olhos,
Dalma olhou o pequeno pássaro, que lhe perguntou;
— Quem se atreve a me ver?
Dalma sorriu, não sabia o que era, parecia uma pequena
fada, mas nunca soube o masculino de fada.
— Dalma, quem é você!
— Guerreiro protetor, Marcabanes!
— Desculpa olhar para você, grande guerreiro!
Sem saber Dalma acabara de entrar em uma encrenca, pois
o ser olhou em volta, pegou um pequeno osso ao bolso e emitiu
um som fino, Dalma viu milhares deles a cercar, sem saber que
ofendera o guerreiro, que pensou que ela tirava sarro ao chamar
ele de grande;
— Terá de se retratar, ser insolente!
Dalma não entendeu¸ fechou a cara e olhou para o ser sem
parecer entender o que fizera;
— O que fiz de errado, Marcabanes?
— Tirou sarro do tamanho de um príncipe, terá de pagar
com a vida por isto!
— Posso saber o que você é, já que morrerei por algo que
não fiz?
— Além de me ofender é um ser desprovido de necessida-
de, pois quem não sabe da existência dos Saci, e não os vê acei-
tamos a ignorância, mas os que nos veem tem de nos prestar
respeito!
Dalma estranhou, pois para ela Saci era um ser de uma
perna que corria a aprontar pela floresta, com seu capuz verme-

281
lho, negro de preferencia, nunca havia ouvido falar de algo como
um pássaro que se chamasse de Saci;
A leva de seres, aos milhares, a cutucavam com pequenos
ossos afiados, a fazendo caminhar, ela sentia cocegas as vezes e
ria, sem a intenção de ofender, mas o pequeno príncipe estava
começando a sentir-se chateado;
Em uma área de arvores imensas, se via pequenos ninhos
ao topo, os seres começaram a cutucar ela para ela subir na arvo-
re, deixou sua mochila cair ao chão, Dalma não queria assustar,
estava ali por algum motivo, não era de fugir, mas também não
sabia o que esperar, por isto deixou suas roupas reservas ali, ao
pé da arvore, sua mão deixou apenas 3 dedos deformados, com
garras e começou a subir pela arvore, não sabia que existiam
arvores tão altas assim, mas depois de um tempo, viu a neblina
tomar a sua volta, sabia que tinha de continuar pois os seres con-
tinuavam a lhe cutucar;
Estranhou que assim que passou as nuvens, pareceu estar
em outro mundo, não mais naquele que estava, as nuvens pare-
ceram se materializar, arriscou um passo na que acabara de pas-
sar e viu que aguentava seu peso, com cuidado olhou os seres a
olharem e o príncipe falar;
— Pelo menos não temos de lhe ensinar a andar nas nu-
vens!
Dalma olhou para o príncipe e falou;
— Mas talvez eu tenha de lhe ensinar boas maneiras!
Dalma sentiu vários cutucões e continuou por um tempo
andando naquelas nuvens;
Viu uma muralha composta de nuvens a frente, se abaixou
para entrar por aquele vão estreito, olhou a pequena praça e um
destes seres sentado a frente de algo que parecia uma arvore que
atravessava a nuvem e fazia uma grande copa pouco mais de 3
metros acima deles;
— Quem traz a nós filho?
— Este ser que me desacatou!
Dalma não via diferença entre as duas pequenas aves, pa-
reciam iguais, não saberia dizer o que definia idade em um pe-

282
queno pássaro com um rosto diferente, mas fora isto, um pássa-
ro.
O pequeno ser, olha para ela, e pergunta:
— Sabe com quem fala?
— Não, deve ser ou o pai ou a mãe deste príncipe arrogan-
te!
Dalma não era de ficar muito tempo na defensiva;
— Disse que era um ser que desacatava!
O outro ser, que até aquele momento Dalma achava ser o
rei, falou;
— Sou a rainha dos Saci, por que desacatou meu filho!
Dalma olhou para ela serio e falou;
— Não tenho como desacatar seu filho senhora, desculpa,
não sei nem diferenciar machos e fêmeas em sua espécie, não sei
suas regras de conduta, que seu filho não me explicou quando
ficou no meu caminho, como posso ser acusada de desacatar algo
que cruza o meu caminho, já que é evidente, lá não é a casa dele,
é a minha!
— Ninguém mora naquela parte da floresta, não os maca-
cos como você! — Marcabanes;
Dalma não respondeu ao pequeno ser olhando para aquilo
que dizia ser a rainha, olhou em volta, milhares de seres, que
confusão estava, deveria estar sonhando novamente;
— Mas como nos vê, apenas os seres naturais a floresta nos
veem, os antigos macacos, nos viam e falavam conosco, mas eles
foram mortos por seres como você!
— Acho que não eram seres como eu! – Dalma;
— Não respondeu!
— Desculpe rainha, mas não sei nem o que é um Saci, cres-
ci acreditando que o saci era um negrinho de uma perna só que
saia por ai a aprontar mil bagunças, e não um conjunto de pássa-
ros que falam e que não sei nada de sua cultura!
A rainha olha para o filho;
— Traz a nossa casa um ser que não sabe de nós filho?
O príncipe baixa os olhos e fala;
— Mas como ela nos veria se não soubesse de nós mãe!
A rainha olha para Dalma e pergunta;
283
— Esta pergunta faz sentido, você não é um ser da floresta,
suas vestes falam isto, como pode nos ver?
— Estou aprendendo o que preciso, mas não estava que-
rendo intervir, apenas vim descendo a trilha, nunca pensei em
achar algo diferente no caminho!
— Mas o que estava aprendendo?
— A ouvir Deus, sei que ninguém fala disto!
— Nestas terras Deus não fala!
— Acho que não tem como ele não falar nestas terras! –
Dalma
— Mas Magog não deixa Deus olhar estas terras!
— Todos falam como se Magog fosse mais que Deus, não
acredito nisto! – Dalma;
— Você não sabe quem é Magog, como pode falar algo as-
sim! — A pequena rainha mostrando interesse.
Dalma viu o pessoal a volta a ouvir, estranhou, algo muda-
ra, mas não sabia quem estava em volta, e pergunta;
— Procuro alguém, por isto venho por esta trilha!
— Alguém? – A rainha;
— Um amigo!
A rainha ficou ouvindo, o pessoal estava olhando para ela,
mas não sabia como seria depois da próxima frase, estava enro-
lando um pouco;
— Procuro Gog!
A rainha arregala os olhos, olha para o filho e recua, o me-
do dos demais foi grande, Dalma olha para Marcabanes e uns
poucos se porem prontos para a batalha, a rainha recuou, os de-
mais sumiram rápido, e ouviu;
— Não é bem vindo aqui! – Marcabanes;
— Não estava sendo julgada? – Dalma;
— Amigos de Gog, não são amigos dos Saci!
— Então preferem Magog? – Dalma;
— Evitamos enfrentamentos, mas sabemos que na sombra
dos olhos dos que não podem ver, vivemos livres do julgamento!
Dalma vê que nada conseguiria ali, vê que os guerreiros se
faziam de valentes, mas cheiravam a medo, estranho como seu
nariz a cada dia estava mais atento a estes pequenos detalhes;
284
Dalma dá as costas e começa a sair da cidade, não fora ali
para enfrentar, sua cabeça estava confusa, vê as arvores bem ao
fundo das nuvens, estava começando a caminhar naquele senti-
do, quando sentiu o corpo entrando na nuvem, quando viu estava
caindo;
Os pensamentos de Dalma foram para seus instintos, se
tornando o ser que os demais não viram, pois já havia passado
pelas nuvens, olha em volta, olha a primeira arvore, dá impulso
nela e se joga na outra, que sentiu suas garras, mudou de sentido
e começou a correr para baixo, quando estava a poucos metros
do chão, saltou e caiu nas quatro patas, mudando de forma;
Dalma olha para cima, as nuvens da neblina, que maluquice
era aquela, olhou em volta voltando a sua forma, olha em volta e
vê sua mochila, pega uma roupa e joga sobre o corpo, usara duas
vezes e não sabia onde terminaria nesta historia, sentou-se, pe-
gou uma bolacha e olhando as aguas correrem come uma bola-
cha, estava distraída quando ouviu;
— Ainda não foi embora? — Marcabanes;
Dalma olha para os pequenos guerreiros e continua a co-
mer, olha para cima, não se via mais a neblina, a escuridão come-
çava a cair na floresta, olhou nos olhos do Saci e falou;
— O que quer Marcabanes?
— Minha mãe mandou conferir quando sairia de nossa ma-
ta!
Dalma sorriu e falou;
— Tenho pena de seres que seguem pela inercia, um dia
acabam por se extinguir!
— Vai me ofender novamente? — Marcabanes;
Dalma pensou se precisava responder, olhou para o rio e
falou; — Por que vocês se escondem aqui Marcabanes? Tenho
sempre curiosidade, o que fizeram que temem a Deus!
— Seres de criação, quando sobre os olhos que nada veem,
mantem sua juventude, não queremos a morte!
Dalma sorriu enquanto a informação entrava em sua men-
te, pois algo estava errado, ou algo não fora contado a ela, fecha a
cara e pergunta;
— Sabe por que os Laikans não entram na floresta?
285
— Eles não podem se afastar muito da pedra, deixam de
ter a forma de um lobo e passam a definhar!
— Acha que é isto?
— Acha que invento? – Fala arrogante o pequeno pássaro;
— Não, mas tendo a duvidar, faz parte de mim aprender!
— Estou curioso, o que você é? – O príncipe olhou para ci-
ma e para Dalma – Para cair de uma altura destas e não se ma-
chucar!
— Pensei que soubessem, da forma que me colocaram para
fora!
— Viemos ver os estragos, mas esta inteira!
Dalma conversava e viu um ser estranho surgir a beira do
rio, não sabia por que, mas aquele lugar era especial, o pequeno
pássaro olha para onde ela olhava e desvia o olhar rápido; — É
maluca, uma prisão eterna!
— Não acredito na eternidade, não sou imortal, posso viver
pouco livre, ou muito presa, uma duvida realmente grande sobre
o caminho a tomar! – Dalma estava olhando o ser feminino a ba-
nhar-se nas aguas.
— Iara é uma prisão para os menos avisados, mas nunca
soube de macacas que vissem a Iara!
— Você não sabe quem sou, como pode achar que sou ape-
nas uma macaca!
— Você parece com uma!
A noite caia, Dalma estava curiosa para sentir cansaço, em-
bora tivesse andado muito tempo, tivesse ido a um mundo de-
pois das nuvens, vê uma lua cheia entrar por dentre as copas das
arvores, sente o cheiro do mar, estava ventando do mar, uma
noite gostosa, o pequeno saci ainda estava ali, mas evitava olhar
para a Iara, Dalma estava querendo provocar, mas não queria
encrenca, em segundos descobriu que não entendia nada da cul-
tura local, ou era de uma profundidade que nunca disseram exis-
tir;
— Ainda por ai? – Dalma a olha o ser;
— Tenho de olha-la enquanto não sai da floresta!
— O que faria se Magog entrasse na floresta?
— Não viríamos a parte baixa!
286
— Temem ele e os amigos de Gog, não entendi?
— Eles nunca brigaram moça, Gog e Magog, quando se en-
contrarem, será o julgamento final, mas Magog espalhou por ai
que quer matar Gog, e aquele seu ajudante, Freck, mas são todos
aliados, ou cumplices na colheita das almas!
— E quem poderia parar eles? — Dalma;
— Se é amigo de Gog, sabe bem que somente o fim dos
tempos pode parar os dois!
— Pergunto para saber se preciso achar Gog, Freck ou
qualquer um, já que Magog esta lá na entrada deste caminho!
— Por que procura Gog, se diz seu amigo, se não sabe?
Dalma deixa sua cabeça e suas garras mudarem de forma e
o pequeno saci olha intrigado;
— Mas se é Freck, deve saber o que me perguntou!
— Por que saberia?
— Você é ou não Freck?
Dalma pensou nas palavras, via seres estranhos a noite na-
quele lugar, e falou;
— Magog me tentou convencer que sou Freck, mas não sin-
to assim, não lembro de nada, então não devo ser!
— Mas parece com ele!
— O viu quando?
— Faz muito tempo, ainda estávamos numa floresta na
nascente do rio Tassili, uma floresta muito bonita, que Freck
quando morreu, extinguiu, os meus fugiram rápido, mas poucos
saíram de lá, poucos perceberam a discussão de Freck e Magog!
— Mas se são aliados, por que discutiram?
— Quem ficou para saber esta resposta moça, esta morto
naquelas terras!
— Mas como Freck tem tanto poder?
— Moça, esta historia foi muito antiga, nunca ninguém se
pergunta como aconteceu, todos falam coisas absurdas, mas co-
mo explicar o queimar de uma floresta inteira, de milhares de
seres, sejam eles aves, arvores, gramíneas, quando os seres como
você pensam, ignoram a vida, pois uma arvore, para sobreviver
tem de ser forte durante sua vida, vocês não, os mais fracos são
os que geram descendentes, não os mais fortes, estes morrem em
287
guerras, em batalhas, por doenças, por ignorância do perigo, en-
quanto os fracos em suas casas protegidos geram o futuro!
— Mas para onde foram estas almas?
— Dizem que Magog sempre sonhou com uma colheita da-
quelas, mas não sabemos bem, somente quando do outro lado,
mas gostamos deste!
Dalma olhava a moça que vê que ela lhe olhava, levanta-se
e outras surgem, quando o Saci percebeu já estavam cercados,
seus olhos perdidos nos das Iaras a volta;
— Quem é a macaquinha que nos olha?
— Vou ter de responder isto muitas vezes, Dalma!
— Por que nos olha?
— Não só você, olho tudo a volta!
— Acha que vai sair por ai falando de nós?
— Este não é o problema moça, ninguém acreditaria mes-
mo!
— Não sou moça, para você, Honty!
Dalma olhou a moça pronunciando, mas não era fácil, en-
tão não cairia na arapuca de tentar pronunciar aquele nome no-
vamente, mas olhou a moça, seus cabelos lhe cobriam a parte
frontal do corpo, longos cabelos azulados quase até os joelhos, de
tão compridos.
— Desculpa, não queria importunar!
— Acaba de condenar estes Sacis por ficar aqui, e não dei-
xamos nem eles falarem de nós!
Dalma pega uma garrafa de agua que tinha na mochila e jo-
ga nos olhos do Saci que lhe olha meio revoltado, meio voltando
a si, a Iara olha para Dalma com uma indagação;
— Não pode quebrar encantos, como o das Iaras, esta me
desafiando?
O saci olha para o chão, para não se atentar a olhar para a
Iara novamente e fala;
— Melhor se informar antes Honty, antes de a desafiar!
A Iara olha para o Saci, vendo que Dalma jogava agua nos
demais saci como se não a temesse;
— Por que pequeno Saci?

288
— Desafia sem saber o que desafia e perde suas terras, sa-
be que as regras são assim!
— Acha que Magog daria a esta macaquinha minhas ter-
ras?
— Acho que ele não se meteria!
A Iara olha para Dalma e pergunta;
— Quem seria capaz de calar Magog?
— Não sou capaz de o calar ainda moça! – Dalma não sabe-
ria repetir aquele nome, mas a Iara achou que era uma provoca-
ção, quem era este ser que parecia a querer enfrentar – Mas pode
ter certeza, não estou aqui para a enfrentar!
— Mas esta provocando!
Dalma olha para o príncipe e fala:
— Príncipe Marcabanes, diz a sua mãe, que não quero mal
os Saci, que não tive culpa em Tassili, aquilo foi consequência,
quando se destrói um dos seres de equilíbrio, toda a vida num
raio de no mínimo 300 km, será julgado a favor do morto, vocês
tem de saber da verdade, não da versão que apenas sai colhendo,
o que aconteceu não foi isto!
— Então morreu e esta de volta, sabia de tudo que falei e
por que perguntava?
— É o que parece, eu gosto de saber como foi passado a
frente, vocês vivem a mais de 8 mil ciclos, eu demorei isto para
retornar, mas ainda procuro meu amigo, e não vou deixar de o
procurar!
A Iara estava sendo deixada de fora da conversa e ouve a
moça acabar a frase;
— Sai enquanto pode, e tira os seus daqui príncipe!
A Iara vê os pequenos Saci baterem rápido suas asas e su-
birem sem olhar para elas;
Dalma estava olhando os seres subirem e a moça lhe tocou
o braço, aquele toque foi doido, sentiu a energia correr sua pele,
nem lembra de ter desacordado, pois foi muito rápido;

289
14°
Dalma abre os olhos, sente a agua a cercando, estranha es-
tar respirando, parecia dentro da agua, olha para cima e se via o
sol a pique, brilhando bem acima, se via o ponto onde a agua
acabava, e os raios entravam na agua, deveria ter dormido muito,
vê uma moça sair rápido, agora pareciam sereias, não as mulhe-
res nuas a beira do rio, ela nadou com velocidade, e pouco depois
um grupo de seres parecidos com sereias vinham em sua direção,
viu a tal da Hont alguma coisa vir a frente, mas não saberia repe-
tir aquelas palavras, nem sabia como falar sem engolir agua e
tossir, Dalma não era de sorrir muito, mas esta aventura tinha
sorrido mais que o normal, e este fato era engraçado a ponto de
sorrir.
— A prisioneira acordou? – Honty;
— Sim, covardia da sua parte atacar pelas costas!
As demais recuaram, pois Dalma acabara de chamar a che-
fe das Iaras de covarde, não sabia bem controlar suas palavras,
mas sempre diziam que ela tinha uma língua muito afiada;
— Pelo jeito quer um desafio mesmo?
— Acho que quem quer perder suas terras é você, Hon não
sei o que, mas se quer, estou aqui!
— Acha que pode comigo, cômico!
Dalma olha para as demais e fala;
— Para não dizerem que sou ruim, depois, como sempre,
as demais podem se considerar livres após este confronto, não
quero imperar sobre as aguas das Iaras!
Honty ficou brava e foi tocar em Dalma, mas esta apenas
deixou suas garras mudarem de forma, olhou para a Iara;
— Mais um choque e lhe retalho!
As demais recuaram, mas quem seria aquele ser, mas cães
e gatos eram mais odiados por Iaras que os macacos;
— Um Laikans em terras das Iaras, acha que pode comigo?
– Honty, as demais foram se afastando, Dalma não queria brigar,
mas parecia que precisava disto, por que não entendia;
— Não a quero enfrentar! – Dalma;

290
— Se não se defender, eu lhe trituro? — A moça falando
como ela, mas puxando duas adagas;
Dalma olha para Honty e fala;
— Quer mesmo isto, é tão irresponsável assim?
As demais sentiram que tinha algo errado, uma chegou a
dizer para Honty não levar para o pessoal, mas ela não ouviu,
queria brigar, imaginou que todos achavam estar protegidos dos
olhos de Deus, mas ela sabia que isto não era real, não neste
momento;
A Iara avançou rapidamente, na agua era muito rápida,
Dalma manteve a calma, sabia que não deveria estar ali, do lado
de fora seria mais fácil a enfrentar, mas não queria gerar pro-
blemas;
Dalma sem saber exatamente as regras da briga, pensa em
se defender, vê a moça lhe acertar com a calda, sentiu os ossos,
por baixo da roupa, sentiu seu corpo se refazer, cada dia estava
mais rápido isto, olhava a moça lhe acertar, sabia que um huma-
no estaria quebrado e flutuando a estas horas, a moça veio com
as mãos, sabia que aquele choque poderia ser mortal, segurou a
mão da moça e a empurrou para um dos lados, derrubando as
demais que olhavam aquilo, Dalma ainda não sabia o que fazer,
recuou um pouco e viu a moça vir com a calda novamente, a se-
gurou com as garras a mostra, a girou e atirou para fora do pe-
queno buraco de agua, nadou rápido para fora, e pulou na mar-
gem mudando de forma, mas seu rosto ainda era o de Dalma,
olhou para a moça perdendo as nadadeiras, as demais surgem no
pequeno buraco de agua, e ficam a olhar Dalma;
Honty olha para as pernas sangrando, normalmente teriam
cicatrizados, ela estranha olhando para Dalma, com as garras
preparadas para a luta, olha para as moças olhando-a, não viu o
pequeno Saci as observando, não viu os demais seres da mata a
olhando, seus olhos eram fixos em Dalma, tentou ser rápida;
Dalma via a corrente elétrica correr entre as mãos da mo-
ça, se duvidar na agua não seria tão mortal quando ali, mas Dal-
ma sabia brigar, muitos anos brigando sem motivo a fizeram boa
nisto;

291
Honty avançou rápido, mas não viu a velocidade de Dalma
a atirar contra uma arvore, olhou em volta, viu a cabeça ver tudo
perder o foco e desacordou, uma moça saiu da agua e falou;
— Vai nos destruir agora? – Jonty
— Não!
— Mas não vamos obedecer um Laikans, e não podemos
renegar nossa mãe!
Dalma soube neste momento a encrenca, mas olhou para a
moça e falou;
— Não sou um Laikans!
— Mas e estas garras?
Dalma deixa seu rosto ir para o da caveira que a definia, e
que muitos viam como o rosto de Frock, olha para a moça e fala;
— Disse que não a queria desafiar, moça, não sou um
Laikans, apenas procuro meu amigo Gog!
As moças começam a recuar, mas o sorriso não saia de seus
olhos, arrastaram Honty para o buraco e o pequeno saci desce a
sua frente e fala;
— Pelo menos não pediu a alma delas!
Dalma soube que poderia, pelas palavras do pequeno Saci,
mas não entendia disto, estava aprendendo, foi mudando de
forma, pegou mais uma muda de roupa;
— O que faz aqui, Príncipe!
O saci abaixou a cabeça, não falou nada, mas algo estava fo-
ra do conhecimento de Dalma, ela não viu a bronca da mãe dele,
o mandando ficar de olho nela, já que devia a vida a ela, já que ela
o libertara das Iara;
O saci olha para Dalma e pergunta;
— O que você é? Gog teria ficado entre as Iaras, até as do-
minar, nunca as deixaria livre! Você como seu amigo, deveria
estar juntando almas para ele!
Dalma olhava aquele ser pequeno, mas não o sentia indefe-
so, ao contrario, desde o primeiro momento, sentiu como se ele
fosse muito forte, muito astuto.
— Não pretendo ser Gog, apenas eu mesma pequeno prín-
cipe, e espero não o estar ofendendo com o pequeno, com o prín-
cipe, ou algo assim!
292
O pequeno Saci assoviou e os demais seguranças chegaram
perto, ele olhou para Dalma e perguntou;
— Onde vamos agora?
— Vamos? – Dalma;
O pequeno saci sorriu, não era algo na previsão de Dalma,
mas acreditava que ainda teria problemas, olha em volta, via uma
ferrovia mais a baixo e continuou a andar, não sabia ao certo
onde aquilo iria, mas andou calmamente;
Na altura da ferrovia, olhou em volta, para não se perder,
para não deixar de interagir, olhou para o saci e perguntou;
— Por que nunca ouvi falar de vocês?
— Por que as religiões mudaram as verdadeiras historias,
e como um escritor antigo, lá no Egito já escreveu, o humano só
vê o que sabe existir!
— Mas por que me sinto estranha, desde que sai daquela
briga maluca?
— Não sei o certo, dizem que Iaras são mortais, mas nada
comparado a Frock, Magog sempre lhe pega por traição ou antes
que descubra quem realmente é, pois é mais fácil o destruir!
Dalma reparava que a conversa, os termos sempre a defi-
niam no masculino, mas isto também não lhe caia bem;
Atravessam o trilho e passam ao lado de uma represa,
Dalma olha seu reflexo na agua e estranha;
— O que mudou? – Pergunta alto, o saci não estava pres-
tando atenção, parecia preocupado com outra coisa, que Dalma
não se atinha a olhar.
Dalma olha seus olhos, parecem mais vivos, olha seus cabe-
los, mais brilhosos, mas não era isto, algo estava errado, ou dife-
rente, ela não sabia;
Estava despreocupada quando sente os pequenos sacis a
puxarem com força, se assustou olhando em volta;
Ia virar-se para os Sacis mas viu o bote da grande serpente
no local onde ela estava, Dalma recuou assustada, depois olhou
em volta e se recompôs, o que era aquilo;
— Cuidado Freck, Maetá é perigoso!

293
A grande serpente olha no sentido de Dalma que se ergue,
os pequenos sacis mostraram que eram fortes, pois não tinham
em massa 10% do peso de Dalma e a arrastaram para traz.
— Quem perturba sss meu lago sss, não é lugar sss para Ia-
rasss? – Fala a grande serpente entre tinidos e sss mal colocados;
— Não tem nenhuma Iara aqui! – Marcabanes.
A serpente olha o pequeno saci e olha para a moça, algo es-
tava fora de contesto mais uma vez;
— Sacis não faziam acordos com Iaras, ou o contrario!
— Já disse que não existem Iaras aqui!
A serpente chega perto de Dalma, que a olha aos olhos, sem
recuar;
— Mas este olhar é de uma Iara, este cheiro é de uma Iara!
Dalma deixa as garras de fora e fala;
— Mas Iaras não gostam de minhas garras, grande serpen-
te!
Maetá olha para Dalma e fala;
— Laikans não tem corpo que saiba!
— E Maetá não ataca por covardia! – Fala o pequeno prín-
cipe.
A serpente olha para o saci e fala;
— Iaras não são amigas de ninguém, Deus não penaliza
quem as tira destas terras!
— Talvez por isto elas se escondam tão perto do Olho do
que não pode ver! – Dalma;
— Sabe quem o tirou da grande caverna? – Maetá;
— Que grande caverna? – Dalma foi rápida, no inverter da
pergunta, pois quase a respondeu antes de saber o que precisa-
va;
— A caverna por traz o grande 7!
— Grande sete? – Dalma;
— A três grandes pontas para o mar nesta região, uma que
é a menos íngreme, da Graciosa, a mais íngreme, esta, a do Ma-
rumbi e a terceira, mais alta, a serra do órgão, mas não precisa ir
tão longe, aqui ao lado, na da Graciosa, existe uma montanha que
tem na sua face o numero de Deus, em uma das entranhas do
grande sete, tem a entrada para uma caverna, dizem ser o refugio
294
onde Deus colocou o olho do que não pode ver, mas ele não esta
mais lá!
— Como sabe que não esta mais lá? – O Saci;
— Aquele sete brilhava nas noites escuras, deixando visí-
vel até da baia abaixo o grande sete de Deus, mas a uns 1500
anos algo mudou e não esta mais lá!
Dalma olha para Maetá e pergunta;
— Isto atrairia Magog para cá?
— Provável, ele e seu amigo Gog!
— Dizem que Gog Morreu! – Dalma;
— Não acredito que Gog tenha nascido, assim como Magog,
para morrer!
— Como pode existir algo que não nasceu? – O príncipe;
— Seres iniciais não nasceram, foram criados por Deus, es-
tes não morrem pois não foram feitos da semente da terra, que
admite a morte como parte do caminho, eles são anteriores a
semente, então tudo que sabem é destruir, dar fim as coisas, ma-
tar, pois para que serve um ser que não morre, se não for para
gerar a morte!
— Como chego a este caminho!
— Desce por esta trilha, numa parte a baixo, tem uma sub-
divisão, parte continua acompanhando o rio, parte vai para o
norte, este caminho vai dar numa estrada nova, tem pouco mais
de 100 anos, subindo por ela vão ver o monte, dai tem de subir,
mas para um Laikan isto não é problema!
— Desculpa se perturbei com o cheiro! – Dalma;
— Você não é mesmo uma Iara, cheira a elas!
— É que ela foi desafiada por Honty! – Fala o pequeno Saci;
Dalma vê que a grande serpente a encara diferente, não
soube o que passou na mente daquele ser, mas se acomodaram
na beira do lago, para passar a noite;
— Posso fazer uma ultima pergunta? – Dalma;
— Se souber?
— Esta caverna da montanha, tem saída para cima?
— Sim, na montanha de Magog!
— Montanha de Magog? – Dalma;
— Os primatas desta região chamavam de Anhangava!
295
O pequeno Saci olhou para Maetá e perguntou;
— Eles já sabiam de Magog?
Dalma não entendeu a pergunta do saci;
— Como saberiam? – Dalma;
— Anhangava na língua dos primatas antigos nestas terras
era Morada do Espirito do Mau!
Dalma sorriu e falou;
— Entendi direito ou Deus marcou a montanha com um se-
te, a montanha de entrada do caminho oculto que dá na morada
de Magog?
— Talvez tenha sido isto, moça, mas esta historia é anteri-
or a nós para termos certeza! – Maetá;
Dalma começa a descer a trilha, não parecia preocupada,
era começo da noite, quando chegou em Porto de Cima, pergun-
tou por uma pousada e se instalou na Pousada Dona Siroba, sa-
cou do cartão de credito e se acomodou na estalagem, precisava
descansar um pouco, como só ela via os Sacis, estes não estavam
ameaçados por estes seres sem crença real;

296
15°
Dalma acorda e vai ao café que estava incluso na diária,
embora não fosse ficar para curtir muito, começar cedo a andar
na estrada da Graciosa com destino o rio Mãe Catira, subir suas
margens até a divisão em dois, morro do Sete e morro Mãe Cati-
ra.
Quando no café, perguntou referente ao caminho que de-
veria tomar, um grupo estava querendo fazer bem aquele cami-
nho, então estava com sorte, acompanhou o pessoal, eles tinham
suas mochilas de quem estava indo escalar, mas ela não acredi-
tava necessário isto, mas acompanhou os rapazes, havia uma
moça entre elas que estranhou e ficou olhando-a desconfiada;
— Como é seu nome? – Um rapaz tentando conversar;
— Dalma!
— É de onde?
— Atualmente estou morando em Piraquara!
— Carlinho, alguém da sua área! – Gritou o rapaz de nome
Marcelo;
Carlinhos que ia mais a frente olhou para Dalma e pergun-
tou;
— Deve ser por isto que me parece conhecida!
Dalma não falou nada referente a isto e perguntou;
— Precisa escalar?
— Não, é que viemos do Marumbi, por isto estávamos com
o equipamento, e você, veio de onde? – Marumbi, montanha da
região onde alguns grupos praticam alpinismo de pouco risco;
— Desci o caminho do Itupava!
— Então veio com um grupo? Onde eles foram?
Dalma sorriu, olhou para o Carlos e falou;
— Se tiver outro assunto, preferia!
Carlos sorriu e falou;
— O que quer fazer no caminho da montanha do Sete!
— Uma maluquice que me falaram, algo que tenho de veri-
ficar!
— Maluquice?
— Vocês devem viver de metas pessoais, ou não?
297
O rapaz olha para a moça e concorda;
— Sim!
— Eu ainda não escalei as entranhas que formam o 7, esta
é minha meta!
Danilo era um dos rapazes que olha para ela e fala;
— Mas vai escalar sem material, a queda pode ser mortal!
— Quando morrer saberão! – Dalma;
— Então seu destino não é o Mãe Catira? – Carlos;
— Não, mas não se preocupem, não quero desviar nin-
guém! – Dalma estava pensando em economizar tempo acompa-
nhando o grupo, não precisavam a acompanhar muito tempo;
Estava pensando sobre isto quando Danilo olha para Mar-
celo e pergunta;
— Já escalou as entranhas do sete?
Marcelo olha para ele serio e fala;
— Mas teríamos de subir pela outra trilha!
Carlos entendeu que estavam mudando de rumo, e a moça
de nome Miriam olha para Danilo e fala;
— Tínhamos combinado com o pessoal no Mãe Catira!
— Verdade, mas eles estão onde agora?
— Devem estar saindo de Curitiba, vão para lá descendo
primeiro pela trilha do Alemão, depois caminhando até o Mãe
Catira!
Danilo liga para alguém e Dalma estava vendo que a moça
a encarava e falou;
— Por mim não precisam desviar seu caminho!
Danilo esperava e todos ouvem;
— Paulinho, é Danilo!
— Já escalou o paredão do Sete?
— Então tá decidido, vamos somar mais este desafio, pre-
para a maquina, estas imagens vão dar destaque na próxima edi-
ção de nosso blog!
O rapaz olhou para Dalma e perguntou;
— Sabe o quanto é desgastante uma subida destas?
Dalma olhou as mãos e depois para ele e falou;
— Sei! – Aquele sorriso fez o rapaz sorrir, não estava dian-
te do que pareceu a primeira vista.
298
Caminharam pela beira da estrada ate uma pequena trilha
e começaram a subir, não se via muita coisa, pois a mata era fe-
chada, Dalma parou um pouco esperando os demais passarem e
mesmo eles achando que ela estava descansando, o sorriso da
moça, esperou, virou-se para os Sacis e perguntou;
— Saberiam o caminho?
O príncipe sorriu e falou;
— Sim, eles estão indo para o paredão oposto, não para o
direto, mas tem de saber se aguenta moça!
— Ainda não tenho asas, mas sei que aguento!
Dalma passou pelos que estavam subindo aos poucos e pa-
rou ao lado de Danilo a frente perguntou;
— Não parece saber onde vai!
Danilo sorriu e perguntou;
— Você não usa equipamento, não tem uma bussola e ago-
ra vai dizer que sabe onde quer chegar!
— Indo por onde estamos indo, estamos indo para a lateral
norte, quero a leste, mas não sei se confiaria! – Dalma;
Danilo olhou para ela, sabia onde estava indo, mas não
imaginou que ninguém ali tivesse noção!
— Mas por onde?
— Atravessamos o rio, tem uma subida íngreme, mas da-
mos uma descansada numa bica na beira do paredão, mas tem de
ver se aguenta!
— O que teria ali?
— 600 metros de escalada, aguenta?
Danilo a olhou aos olhos e falou;
— E vai na mão?
— Se quiser me emprestar uns grampos, posso ir os pren-
dendo, enquanto subo!
— Vou arriscar, por onde? – Danilo;
Ela indicou o caminho, ele não tinha noção de que o saci foi
indicando o caminho, quando chegaram a uma pequena grota,
Dalma falou;
— Acho o melhor ponto para pegar água!

299
Danilo parou, encheu o cantil e olhou para cima, se via a
montanha quase que subindo por uma grota imensa, olhou para
Dalma e falou;
— Parece já ter feito isto!
— Ainda não!
— Andou melhor que com a bussola! – Pegou em seu braço
e falou – Mas tem de cuidar com estas folhagens, elas cortam! –
Fala olhando o braço dela todo riscado pelo mato;
— Custos da vida!
— Quer ir a frente?
— Eu subiria em meio dia, mas não sei onde o seu pessoal
esta?
— Provavelmente no outro lado desta grande montanha,
mas se você queria um desafio, esta fenda de mais de 500 metros
parece mesmo assustadora!
Carlos olhou para cima e falou;
— Vai na frente? – Olhando para Danilo;
— Estava olhando, não parece ter sido escalada! Vamos
com calma, mas realmente, um desafio de muita força!
Miriam olha para aquela formação, enquanto tomava agua,
o clima estava abafado, dentro da floresta a humidade parecia
imensa, e sua frase deu o clima do desafio;
— Tenho de tirar meu boné, um desafio que nem no Ma-
rumbi enfrentamos!
Dalma olhava ao longe, os demais não sabiam o que ela es-
tava pensando, mas ouvia o saci falar;
— Escolhe o lado de lá, aquele mais liso, não que seja mais
fácil aqui, mas se olhar para cima, vai ver que ele ganha ranhuras
a uns 50 metros, depois vai até o topo, já o outro lado, tem as
ranhuras aqui em baixo e lá em cima, 300 metros muito íngre-
mes e com o corpo em ângulo negativo a montanha!
Dalma olhou para cima e olhou para Danilo:
— Hoje, como primeira vez, prefiro este lado, depois tento
este seu lado!
Carlinhos olhou para ela e perguntou;
— Esta maluca, esta liso demais este lado!

300
Dalma sorriu e não falou nada, Danilo olhou para ela e per-
guntou;
— O que a faz escolher este lado ai?
— Pode ser impressão, mas é que não trouxe um binócu-
los, mas parece que este lado começa liso, e depois de um tempo,
uns 50 metros, tem ranhuras, algo que dá para ir bem longe, este
ai começa com ranhuras, vai bem uns 100 metros, entra numa
área como este lado aqui, mas já a 100 metros, e depois de uns
300 metros, parece inclinar para o fora da montanha, como não
subi nunca esta montanha, não quero fixar um grampo num ân-
gulo negativo onde não conheço!
Danilo olha para cima e olha para Carlinhos;
— Pior que ela esta certa Danilo, vai ser no braço lá em ci-
ma, teríamos de ficar pendurados lá unas 4 horas subindo!
Danilo olha Dalma aos olhos e fala;
— Saiu de onde?
— Quem chegar lá em cima, onde quero chegar, talvez sai-
ba, talvez não!
Dalma força a mão em uma pequena fenda, e começa a su-
bir pela aquela lateral do morro, e Danilo vê que a moça ia rápi-
do, estava a uns 10 metros quando ele falou;
— Prenderia uns grampos?
Dalma olha para baixo, ajeita a mochila dela a frente do
corpo, apoia—se em uma mão e vê o rapaz lhe jogar uma mochi-
la, pôs as costas por um braço, apoiou o outro, terminou de a por
a frente do corpo, pegou um martelo, um grampo e foi pondo um
a um, de 3 em 3 metros, viu quando o pessoal começou subir, ela
queria chegar o mais longe possível, mas o fixar dos grampos
estava os atrasando, mas quando já a 50 metros, olhou o pessoal,
Danilo se aproximava mais, ela não queria que ele visse suas gar-
ras de fora, então quando viu uma fenda a 10 metros, fez um
pendulo com o corpo e se jogou para cima, Danilo olha para aqui-
lo, ela prendeu o grampo e ouve ele falar;
— Esta fugindo de nós?
Dalma sorriu e Carlinhos falou;
— Viu alguém escalar assim?

301
— Ela tem força nos braços, pode não parecer, mas quando
joguei a mochila, a maioria teria tido dificuldades para a por no
primeiro braço, quando a maioria estaria ainda se ajeitando com
a mochila ela já estava pregando o grampo!
— Mas viu esta fuga de fenda?
— Sabe que já fizemos isto muito, mas amarrados, ela esta
solta, é maluca!
Carlos sorriu e falou;
— Põem maluca, ela esta escalando e prendendo grampos
rapidamente, chegaremos na fenda antes do pessoal que vai su-
bir pelo outro lado!
Danilo sorriu com a possibilidade e falou;
— Sabe que não havia pensado nisto?
O sorriso foi quase um desafio, mas com a moça prendendo
os grampos, ele reforçando, o pessoal vinha mais atrás, 12 pesso-
as ao total;
Dalma quando olhou para baixo, já estava a mais de 500
metros do chão, olhou para a fenda lateral se abrindo, o segundo
grupo subindo pela trilha ao fundo, uns mil metros dali;
Danilo olhou para onde ela olhava e viu o pessoal a subir,
sorriu, estavam bem a frente, fez sinal para ela, que falou;
— Ali na frente tem um ótimo local para pararmos!
— Disse não conhecer!
— Quando chegar aqui vai entender! – Dalma olhando uma
pequena fenda, que parecia subir rente a parede, interna a mon-
tanha, uns 6 metros para dentro da fenda;
Olhou um pequena nascente que corria no sentido oposto
da fenda, parou e tomou agua, enquanto Danilo chegava ao local,
olhando aquela fenda;
— Isto não se vê de fora!
— Estamos no estremo do sete! – Dalma;
Danilo tentou imaginar a montanha, fazia sentido e fala;
— Estava pensando nisto lá em baixo?
— Meu destino não acaba em horas Danilo!
— Mas então por que veio aqui?
— Se achar o que procuro, talvez suma da vista por uns 3
dias!
302
Os demais começaram a chegar ali, Carlos olha o local e fa-
la; — Viram o pessoal mais a baixo?
— Eles nos viram, devem estar pensando na maluquice! –
Danilo.
— Mas demoramos mais do que pensava! – Dalma;
— Lhe atrasamos, vi isto! – Carlos;
Dalma sorriu e falou; — É que não trouxe uma barraca, sa-
be como é, não tem uma pensão aqui em cima!
Carlos sorriu, aquele sorriso se lia as mas intensões, mas
Dalma sabia se defender, mas a preocupação dela era outra;
Miriam chega a eles, olha para Dalma e fala;
— Um dia me ensina como se pendurar como maluca as-
sim, estes dois ai estão tentando lhe alcançar a 5 horas!
Danilo sorriu, Dalma soube que eles estavam mesmo ten-
tando a alcançar, mas ela queria subir mais um pouco, olha para
Danilo e fala;
— Danilo, meu destino é ainda uns 100 metros acima!
— O que tem 100 metros acima!
Dalma ouve o saci falar e repete;
— A entrada de algo que não existe, uma fenda, que dá em
uma gruta, uma trilha de 3 dias!
— Mas não conhece a gruta, como quer entrar em algo as-
sim sem equipamento? – Carlos que pareceu preocupado;
— Se a gruta fosse o problema não estaria aqui! – Dalma
pega a mochila e começa a subir por aquela subida íngreme for-
mada de rochas, ao longe parecia um sete, de perto, uma fenda
onde as pedras eram imensa, Danilo viu que ela já estava indo de
novo, alguns prepararam algo para comer, a moça não tinha o
que comer, não a vira tomar agua como eles de tempo em tempo,
e a viu pegar numa fenda e começar a escalar com as mãos no-
vamente;
Dalma subiu por mais uma hora, e olhou para a fenda, mui-
to fina para entrar com a mochila, a deixou do lado de fora, e se
espremeu entre as rochas e entrou na fenda, foi se espremendo,
as vezes não parecia que daria em algum lugar, uma hora viu que
teria de subir, viu uma imensa aranha caranguejeira passear por
seu braço, apenas a tocou de lado e continuou a subir, quando
303
terminou de subir por aquela fenda se depara com um pequeno
salão, se via a escuridão para o lado de dentro, aguçou sua vista e
viu que era a caverna;
— O que acha Marcabanes?
— Se viemos até aqui, vamos ao fim!
— Preciso lhe dizer algo Príncipe!
— Problemas?
— Não gosto de arrastar as pessoas, tanto você como os
que me acompanharam correm perigo, e sei que atraio desgraça!
— Não se preocupe conosco, moça, sabemos correr quando
preciso!
Na entrada da fenda, Danilo olha a mochila e vê Carlos che-
gar atrás;
— Onde ela foi?
Danilo olha em volta e fala;
— A maluca entrou nesta fenda, mas melhor descansarmos
aqui, o lugar é bom, temos de nos conter, já que até aqui fui até
irresponsável, pois como falamos, sempre pelo seguro!
Carlos sorriu e falou;
— Pensei que ela era especial, mas deve ser mais uma ma-
luca!
— Uma maluca que seria capaz de subir esta montanha in-
teira por aquela encosta em 2 horas, o prender dos grampos a
segurou, mas viu que ela sabia por onde ir, pois viu o outro lado?
- Carlos sorriu;
Dalma olha a sua volta na caverna, um canto escuro, sabia
que tinha de descansar um pouco, seu estomago fez um barulho
assustador e viu o pequeno saci olhar para ela e perguntar;
— Quer que consiga algo para comer?
— Seria bom, tenho só uma bolacha, mas já vai acabar!
— Credo, como conseguem comer tamanha porcaria? – O
saci;
Dalma sorriu sentando-se em um canto, se ouvia uma que-
da de agua ao fundo, mas poderia estar longe, seus olhos aguça-
dos não viam muito por aquele caminho;

304
16°
Dalma come um pouco, estava estranhando como podia
sentir onde estava, mesmo de olhos fechados, poderia dizer exa-
tamente onde estava cada ser dentro daquela caverna, sentia
uma força, que lhe fazia sentir um gosto amargo de sangue na
boca ao longe, sentia como se pudesse dizer até quantas estalac-
tites e estalagmites tinha naquela caverna, olha para Marcabanes
e pergunta:
— Por que estou me sentindo diferente?
— O que esta sentindo?
— Sinto como se dominasse o meio, como se soubesse on-
de esta cada pedaço de pedra aqui dentro, reparei enquanto su-
bia que não precisava olhar, sabia que a fenda estaria lá!
— Você foi desafiada e venceu a líder das Iaras, você em si,
tem o dom de encantar, de amaldiçoar, de ver a alma de seres
fracos, e principalmente, o meio que a cerca, a informara por
onde andar, o que fazer, é como um mapa do local em sua mente!
Os pequenos Sacis trouxeram algumas coisas para comer e
Dalma adormece, depois de comer algumas raízes e frutas, seus
braços estavam cansados, seu corpo se adaptando a forma que
sentia as coisas;
Os montanhistas tinham pego as barracas nas mochilas, es-
tavam montando elas quando o segundo grupo surgiu vindo por
fora da grande fenda do lado oposto:
— Pelo jeito a festa foi boa? – Lauro, que liderava o outro
grupo e que chegou quase junto com Paulinho;
— Hoje se superou Danilo, vi a loucura de escalar aquela
fenda!
— Escalada técnica, sabe que esta vou por nas minhas con-
quistas, não pela subida, e sim pela experiência em si!
— Mas vejo que já estão pensando em descansar!
— Se quer ir a frente, nos encontramos depois! – Danilo;
Paulinho olha para Lauro e os dois sorriem, queriam dizer
que terminaram a subida antes, 99% dos alpinistas dizem para si
mesmo que o que vale é curtir a natureza, o preservar, o compa-

305
nheirismo, mas neste caso existia a rivalidade, o pessoal começou
a subir e Miriam olhou para Danilo e perguntou;
— Não vai querer chegar antes?
— Acho que cansei, mas conhecendo eles, vão acampar a
uns 50 metros daqui, já na subida da fenda, e amanha passamos
eles!
Miriam sorriu e falou;
— Seria sacanagem ter de ouvir ele se gabar, ele veio pela
montanha, esta escalando só agora no fim, chegamos antes aqui e
ele querendo se fazer de mais!
— Miriam, o que fizemos, ninguém fez, você viu, pedras li-
sas sem uma única fenda ou grampo, ele pode se gabar, pode até
vir a subir depois, mas sabemos que não foi fácil, que obtivemos
ajuda, mas que principalmente, nos divertimos!
Miriam sorriu e perguntou, estava querendo perguntar an-
tes, mas não teve chance;
— E onde aquela maluca se escondeu?
— Não tenho ideia, ela deixou a mochila nesta altura e não
a vi mais!

306
17°
Lauro olhou o local, havia uma pequena saída de agua que
escorria pelo paredão, parou ali e olhou para Paulinho;
— Vamos acampar aqui!
Os demais foram montando suas barracas, contando as
aventuras e cansaços do dia, uma fogueira e como sempre, histo-
rias de montanha, estavam conversando quando um vento forte
veio do mar, o cheiro do mar, calor do mar.
Logo em seguida começa a chover, e começam a se escon-
der nas barracas, o chão que era de pedra começa a correr agua
como um rio, algumas barracas são levadas, e o pessoal se prote-
ge no canto, uns ajudando os outros se amarram a montanha,
pois o vento parecia ficar mais forte, embora o ar fosse quente, o
ruído dele nas pedras estava assustador.
A chuva começa a passar e Lauro olha para as fendas da
montanha, parecem brilhar rapidamente, e todos se afastam as-
sustados, vendo aquelas criaturas sem carne passarem pelas
fendas e tomarem a forma de almas, seres com rostos deforma-
dos e grandes garras, Paulinho começa a recuar, Lauro e o pesso-
al também, estavam andando de costas, Paulinho não olhou onde
pisava, e os demais ouvem o grito, e veem ele despencar pela
fenda, os demais estavam entre a fenda e os seres que vinham
com aquelas garras mortais, os seres agarraram um a um e co-
meçaram a subir um pouco mais e por uma fenda maior, arrasta-
ram os 9 montanhistas;

307
18°
Danilo estava vendo que o pessoal já havia se recolhido, a
chuva começa, mas no lugar que estavam, uma grande pedra
protegia do vento, e uma fenda lateral levava a agua, estava ob-
servando, alguém sempre ficava de olho, ele não gostava de nes-
tes momentos confiar aos outros, mas quando viu 3 barracas
descerem com a agua, acorda Carlos e este olha para Miriam que
vem a porta de sua barraca ouvindo a conversa;
— Carlos, vi três barracas descerem com a chuva, eles po-
dem estar precisando de ajuda!
— Mas é noite, sabe o problema?
— Sei, mas se algo aconteceu, temos de saber! – Estavam
conversando quando ouvem o grito e correm para a fenda e ve-
em um corpo caindo, os demais saem de suas barracas.
Miriam assustada fala;
— Acho que era o Paulinho!
Danilo olha o pessoal e fala;
— Pessoal, eu e Carlos vamos lá, nos esperem aqui, pois
aqui é seguro, estão protegidos dos ventos, a inclinação da pedra
nos protege da chuva e da enxurrada, mas se estão precisando de
ajuda, precisamos ajudar!
O pessoal concordou e Marcelo falou;
— Se não retornarem, descemos e chamamos ajuda, pois
sabemos que os grampos estão lá, fica fácil descer!
— Certo, melhor um caminho conhecido que um sem des-
tino certo!
Carlos olhou para Danilo e falou; — Vamos de uma vez!
Danilo concordou e começara a subir pela montanha:

308
19°
Danilo chega ao local onde havia os restos das barracas,
olhou pelo desfiladeiro, nada para cima, nada para baixo, para-
ram bem no ponto onde a escalada tomaria 90°, olhou para a
agua escorrendo, a chuva acabando, olha os rastros, alguém ha-
via caminhado rente a montanha, olha uma fenda mais a frente,
era noite, não teria como ir por ali;
— Onde foram? – Carlos;
— Não sei, não ouvimos mais ninguém caindo, escalar este
paredão a noite não é coisa do Lauro, mas alguém foi por fora da
montanha, mas sem conhecer e ver onde pisamos, com as pedras
molhadas, não arrisco!
— Mas deixaram tudo para traz!
Danilo não respondeu, começaram a retornar, quando che-
gando ao acampamento firam fumaça e correram no sentido das
barracas, duas em fogo, olham em volta e não viram ninguém; —
Miriam, Marcelo, alguém?
— Aqui! – Fala Miriam na fenda;
— O que aconteceu?
Miriam sai olhando em volta, estava assustada, parecia em
pânico;
— Miriam, onde estão os outros?
— Não sei, me escondi!
— Se escondeu? – Carlos – Do que?
— Não sei definir aquilo, não sei o que era aquilo! – Grita
com Carlos;
Danilo segura ela e fala:
— Calma, estamos aqui!
— Aquelas coisas os levaram!
— Coisas?
— Pareciam almas penadas, saíram das fendas, como se
fossem gás, mas materializaram-se, me escondi, o resto ficou
entre a fenda e o buraco!
— Mas onde foram?
Miriam aponta para uma fenda; — Eu não entro lá!
Danilo olha para a fenda e para a sua frente, pensa alto;
309
— A fenda que a mochila estava caída em frente!
Carlos olha para Danilo;
— A mochila estava caída nesta entrada? – Miriam;
— Sim, bem nesta entrada!

310
20°
Dalma estava dormindo, estava em meio a um lago, dentro
dele exatamente, e conseguia interagir com os seres ali presen-
tes, estava tocando o fundo do lago e sentido suas forças, parecia
agora sentir tudo que a rodeava, estava olhando os peixes, os
limites do lago.
Estava em um sono leve quando ouve barulhos estranhos,
acorda assustada com alguém a tocando no ombro, era o peque-
no Saci que fez sinal para ficar em silencio;
Dalma olha as almas arrastando os montanhistas por aque-
la fenda que ela entrou, não sabia se podiam lhe ver naquele es-
curo, olha arrastarem alguns, conta eles e vê que não vieram to-
dos, espera eles se afastarem e olha para o saci e pergunta;
— Eles lhe veem?
— Não, são seres sem existência!
— Poderia me fazer um favor?
— Fala?
— Pede para alguns verem onde vão, desconfio do que esta
acontecendo!
— Mas não vai junto?
— Vou ver se alguém ficou para traz!
— Certo, nos encontramos aqui!
Dalma começa a recuar pela fenda, e sai por ela enquanto
via Danilo olhar para o buraco a sua frente, viu os olhos de Miri-
am virem a ela e gritar;
— A moça!
Danilo olha para ela e para Carlinhos e pergunta;
— Quantos pegaram?
Danilo olha para ela e pergunta:
— O que aconteceu aqui?
Dalma olhou os 3 e viu Miriam olha-la e falar;
— Pegaram todos os demais aqui, mas parecem ter pego o
grupo que estava mais a frente!
Dalma pensa e fala;
— Vou tentar ajudar, mas recomendava voltarem por onde
vieram!
311
— Ajudar, o que pensa poder com aquelas coisas? – Miri-
am;
Dalma olha para ela e fala;
— Alguns enfrentam, outros, se protegem, outros se es-
condem, eu enfrento!
— Mas o que é aquilo? – Miriam.
— Filhos de Magog, mas não sei como explicar isto!
— Filhos de que? – Danilo;
— Desculpa, vim ver se precisavam de ajuda, recomendo
voltarem!
— Vamos onde for! – Carlinhos;
Dalma olha para Miriam dando um passo atrás;
— Se um for todos vão, se um ficar vão ficar os 3!
Miriam olha para Dalma e pergunta;
— Mas como pode querer enfrentar aquilo?
Dalma olha em volta e fala:
— Laikans!
Os três se assustam, começam aparecer lobos translúcidos
a toda volta e um se levanta a frente de Dalma e pergunta;
— Qual o problema Freck?
— O que faria Magog precisar de almas vivas em Anhanga-
va?
O ser se levantando, ficando nas patas traseiras fala;
— Refazer ou pedir um novo Olho!
— Como ela faria isto?
— Não sei ao certo, mas algo referente a 80 almas, em uma
formação especifica nos pés da montanha da alma do mal!
Miriam olha para Dalma e pergunta;
— Quem é você?
— Me conhecem por a bruxa de Piraquara!
Carlos olha para ela, pensando que deveria ser dai que co-
nhecia aquele rosto, mas vê Dalma olhar para aquele lobo trans-
lucido e falar;
— Vou a frente, precisando, sabe para onde vou!
— Vamos cercar, não é bom que ela possa refazer isto!
Dalma vê o Laikan sumir a sua frente e olha para Danilo;
— O que decidiram?
312
Os três se olham e decidem ir com ela, embora não foi para
isto que fora ali, sabia que deixar alguém ali, naquele ponto que
achava estarem, os espíritos levariam;
Pegaram suas coisas e se colocaram a seguir Dalma;

313
21°
Dalma e os 3 montanhistas se espremem naquelas fendas,
e chegam a caverna, não se via muita coisa, pelo menos os 3 não
viam, Dalma olha para um pequeno Saci chegar perto e falar;
— Estão seguindo pela gruta, pararam mais a frente, não
entendemos por que!
Dalma olhou para os demais e falou;
— Não sei vocês, eu vejo aqui dentro, então melhor amar-
rarmos uns aos outros, e quando mandar parar, melhor pararem!
— Você vê aqui dentro? – Danilo;
Ele olhava para ela de onde vinha o som, sem a ver, mas vê
os dois olhos dela brilharem no escuro como os de um felino;
— Me responderia uma coisa? – Danilo;
— Se puder responder?
— O que é um Freck, que foi como o ser lhe chamou?
— Um cão, amigo de Gog, mas não sei ainda se sou isto!
— Um cão não escala daquele jeito!
Dalma não respondeu a indagação e falou;
— Vamos, meu informante disse que eles pararam mais a
frente, vamos ajudar o pessoal!
“Informante?” Pensaram os 3 sem falar nada, começaram a
andar pela gruta, muitas lagoazinhas se formavam no chão, Dal-
ma sentiu quando o peso veio das costas, alguém havia pisado
em um buraco mais fundo, enfiou a garra numa estalactite e pu-
xou a corda com tudo, até quem não havia caído foi puxado
afrente com força.
Andaram a noite inteira, estava quase amanhecendo do la-
do de foram ali parecia escuro, quando se deparam com um
grande salão, a pequena luz no centro da mesma dava para iden-
tificar o local, uma formação que parecia uma grande caveira,
mas parecia ter uma luz azulada que vinha de seu interior, os
demais estavam junto com alguns grupos que não conheciam,
mais de 30 pessoas, que devem ter sumido em caminhos seme-
lhantes, ou redondezas, estavam encostados nesta grande cavei-
ra, e a volta se via milhares de seres;
— Por que estão aqui? – Danilo;
314
— Esta vendo aquela fenda ali na frente? – Dalma;
— Sim!
— Estamos no Anhangava!
— Tem certeza, seria uma passagem e tanto!
O pequeno príncipe dos Saci para a sua frente e fala:
— Parecem estar esperando por algo!
— Esperam por mim, acha o que!
Danilo olha para Dalma e fala:
— Não pode ir lá!
— Esta vendo aquela fenda?
— Sim!
Dalma pega seu celular, põem na mão dele e fala;
— Quando Magog se distrair, ajuda a tirar as pessoas do
centro, os Laikans vão abrir um caminho, quando chegar do lado
de fora, liga para o numero 1 e diz para Jorge que eu preciso de
ajuda e diz onde estamos!
— Tem como conseguir ajuda?
— Teremos de tirar as pessoas e lacrar a entrada, mas terei
de a distrair!
Dalma olha para o Saci e fala:
— Hora de ir para casa!
— Mas...
— Pessoal, hora de se arrastar ate aquela fenda! – Fala
olhando para Danilo;
Dalma anda para o outro lado, Danilo olha para ela encos-
tando sua mochila e começar a se transformar, ficou um tempo
olhando, Miriam olha aquilo e fala;
— E eu querendo impressionar ela!
Dalma olha para o centro das pessoas e fala alto:
— Laikans!
Milhares de Lobos, em espirito começam a surgir, e levan-
tarem-se para a briga, Danilo viu os demais espíritos se distraí-
rem, e olhou para Marcelo que fez sinal para o pessoal que come-
çou andar, viram os lobos, primeiro a insegurança, depois o ca-
minhar levando os demais;
Dalma olhou o centro do grupo e viu o rosto da imensa ca-
veira se voltar para ela e falar;
315
— Quem me desafia?
— Sem memoria você nunca foi, Magog!
— Freck, o que faz aqui?
— Sabe que estou nesta região a quanto tempo, muito, uns
10 anos!
— Achei que estava ainda procurando seu amigo!
— Nosso!
— Acha que vou ainda chamar de amigo Gog?
— Acho, quer dizer, tenho certeza, mas quando o fizer, es-
taremos no mesmo lado da batalha, Magog, não ainda!
— Acha que pode me desafiar?
— Acho que não tem como me atacar Magog!
— Por que?
— Sabe por que, não quer que seus filhos saibam!
Magog olha nos olhos de Dalma na forma de uma caveira e
pergunta;
— Por que esta usando este símbolo do passado?
— Sabe que para nós não existe passado! – Fala Dalma se
esquivando da pergunta;
— Acho este primeiro símbolo de Freck, esta caveira, não
combina com você!
— Não combinava Magog, não combinava, sabe disto!
— Só por que lhe mandei matar, esquartejar, acha que me
impressiono com esta sua imagem?
— Magog, temos de achar Gog, estou cheio desta historia,
hora de começarmos outra!
— Não vou lhe ajudar nisto!
Dalma evitava olhar para as pessoas saindo, mas sabia pelo
cheiro que a maioria já havia saído, os Laikans estavam a fenda, e
Dalma falou;
— Mas temos um problema!
— Qual?
Dalma tocou o chão, olhou para a caveira de pedra e olhou
para Magog, sentiu o local diferente, estranho como estava sen-
tindo as coisas mais vivas e reais desde que enfrentara as Iaras,
estava olhando os olhos de Magog, mas vendo as atrocidades do
passado, os relâmpagos de informações entrando em sua mente,
316
mas o que não combinava era aquele local, a caveira não era uma
caveira, Magog saiu dela vendo a mesma brilhar, como se nova-
mente existisse ali um olho dos que nada veem, Dalma olha Ma-
gog e fala;
— Esta não é ainda a hora de nos enfrentarmos Magog!
Magog olha para a caveira desabar, não entendeu, como
poderia Freck destruir aquilo, gritou se aproximando violenta-
mente e a erguendo, apertando o seu pescoço;
— Como se atreve a destruir minha moradia! – Magog a
olha aos olhos, os olhos fundos da caveira, imagem pela qual
Dalma se apresentava, não sente sua alma, como normalmente
sentiria;
— Bine aţi venit în iad! – Magog.
Dalma sente o calor vir por dentor de sua alma, mas ainda
olhava Magog, sorriu, e falou, nao queimando, sentiu a agua das
Iaras em sua mente e Magog sentiu a agua escorrer como suor, e
ouviu a moça falar;
— Não a destruí! – Fala Dalma vendo o ser tomar a forma
de uma mulher, lembrou da mulher de um tempo distante;
— Mas...
Dalma ouve alguém ao fundo;
— Fui eu quem destruiu!
Magog olha para a fenda, olha em volta vendo que as pes-
soas não estavam mais ali, olhou os Laikans ao fundo da gruta e
as costas de Jorge, olha para Freck e pergunta;
— Agora tem aliados?
— Sabe que não confiamos nem em nossas sombras Ma-
gog, não fala besteira! – Dalma;
Dalma é arremessada com força para traz, mas inverte seu
corpo e cai de pé, se impulsionando sobre os espíritos e passan-
do suas garras nos que tentaram a acertar, e se posiciona na en-
trada da fenda, agora Jorge estava entre ela e Magog;
Magog olha para Jorge e pergunta;
— O que faz aqui?
— Já disse que defendo os meus!
Jorge viu um bando de espíritos começarem a se direcionar
a ele, os lobos nunca o defendiam, ele não entendia isto, mas um
317
dia teria de reagir, estava recuando quando ouviu Dalma falar
para Magog;
— Por que você não o destrói de uma vez?
Magog olha para Dalma, o que ela não havia entendido?
Pensa rápido, mas não tinha esta resposta;
— Por que o destruiria?
— Pouparia meu trabalho! – Sorri Dalma;
— Não sei ainda o que ele é para o matar! – Magog;
— Sabe que os lobos não o defendem, ou não sabe?
— Sim!
— Mas o que ninguém repara, é que eles também não o
atacam!
Magog olha para Jorge e pergunta;
— Quem você é de verdade?
Jorge olha para Dalma, não sabia o que dizer;
— Pergunta para ele como ele sabe cada palavra em he-
braico que lhe paralisa Magog? – Dalma;
— Acha que ele é um anjo?
— Um não, você não foi lá, por isto não sabe, ele é o anjo,
braço direito do pai, Gabriel em pessoa!
Magog olha para Jorge, ele não sabia se o que Dalma estava
falando era para seu bem, ou era apenas para distrair, mas não
sentia-se um anjo;
— Mas ele pecou!
— Eles não sabem o que é pecado Magog, eles tem permis-
são para matar, permissão para iludir, até mesmo para distorcer
a mente de alguém!
— Mas eu não posso com ele, não sem o olho! – Magog;
— Não vai dizer que perdeu o olho? – Dalma;
Magog olha para Jorge e pergunta:
— De que lado esta Gabriel?
— Não me acho um anjo!
Dalma olha para a fenda, se aproxima de Jorge, e Magog vê
ela tocar ao rosto de Jorge, ela esta nua, mas não parecia se preo-
cupar com isto, abaixa-se pegando suas roupas na mochila, e
sobre o olhar dos dois se vestiu, olha para Jorge e fala;

318
— Eu tenho ainda um amigo a achar, se me der licença! –
Fala ela se afastando de Jorge, que olha para dentro, milhares de
almas tinha ali, Dalma chega a porta e vê Guto;
— Trouxeram o que ai?
— Agua benta!
— Com sal? – Dalma;
— Sim!
— Despeja para dentro!
Jorge estava olhando para Magog quando vê a agua come-
çar a entrar pelas fendas, não uma, mas umas 10 delas e correr
pelo chão, Magog vê os espíritos começarem a tentar voltar pela
caverna, mas os Laikans defendiam apenas aquele caminho, o
outro, entrava aquele liquido que parecia os queimar, os fazer
definhar, derreterem.
Jorge vê as almas tentarem sair por onde os Laikans esta-
vam, ficaram ali a jogar os mesmos para dentro, para o lago de
agua que fazia ao centro do buraco, onde antes houvera uma
caveira;
Os espíritos pareciam dissolver-se no contato com aquela
agua, era como se fosse acido para eles, Jorge olhava Magog aos
olhos, sem falar nada, sabia que aquilo não era o confronto final,
mas um adiar de algo que não sabia quando acabaria;
Dalma olha para os montanhistas e fala;
— Como estão?
— Bem, mas o que é aquele lugar?
— Um lugar que vamos ter de lacrar!
Magog olha os seus filhos começarem a morrer e olha para
Jorge;
— Ainda não entendo o que ganha com isto Gabriel?
— Sabe bem o que ganho, mas não preciso ficar me repe-
dindo!
Jorge dá as costas e sai, enquanto Magog gritava, assim
como os espíritos quando eram atingidos por aquela agua, o ruí-
do do lado de fora era assustador.
Jorge olha para Dalma e pergunta;
— Que papo é aquele de Gabriel?
— Uma possibilidade, mas obrigada por vir ajudar!
319
— O que ela queria com todo este pessoal?
— Ela estava começando a recolher, para refazer a pedra, e
esta juntando o seu exercito, se reparar ela já tem um corpo, ela
precisa de reprodutores, ela precisa de mais almas, ela quer mais
uma colheita, não é o fim, apenas um adiar do confronto que
sempre estamos esperando!
— Ela tem como refazer o olho?
— Acho que ela sabe muitas formas de o refazer!
Dalma olha para Danilo e pergunta;
— Perderam alguém?
— Um amigo, despencou quando eles o tentaram capturar,
mas não entendi o que é você Dalma?
— Como disse antes, a Bruxa de Piraquara!
— Bruxas podem com seres assim, podem tomar a forma
que bem entendem? – Danilo;
— Esta pode! – Fala Jorge olhando para Dalma;
Os dois se olham por um bom tempo, não teria como im-
plodir aquele lugar sem ser processado pelo estado, mas bem
que Jorge pensou na possibilidade, ficaram a conversar, e volta-
ram a Piraquara onde Mortícia estava preocupada.

320
22°
Mortícia vê Dalma ir ao banho enquanto Jorge a olha e per-
gunta:
— O que esta acontecendo com ela?
— Não sei, o que estranhou?
— Ela esta diferente, não sei explicar?
— Mais radiante diria eu? – Mortícia;
Jorge ficou a olhar para Mortícia sem palavras, era isto, sa-
bia que algo estava mudando, mas o que não sabia;
— Acha que o que aconteceu Mortícia?
— A aura dela mudou, sei que na maioria das pessoas isto
é imutável, mas ela esta mudando!
— Mudando para o que?
— Eu quando a vi, achei que era Freck, acho que não pode
ser, mas ela esta assumindo esta parte, como se tivesse que as-
sumir, mas ela mesmo não parece acreditar nisto!
— Os Laikans a respeitam pensando que é Freck, o que
aconteceria se soubessem que ela não o é?
Morticia não falou nada, olhou para os gatos, Jorge somen-
te nesta hora entendeu que havia falado demais, Dalma tomava o
banho calmamente, enquanto os gatos se retiravam da casa, Mor-
ticia olha para Jorge e fala;
— Pelo jeito vamos saber na pratica a resposta a sua per-
gunta!
— Não pensei que estivessem tão próximos?
— Eles duvidarem é uma coisa Jorge, eles terem certeza é
outra!
— Mas falei de mais!
Jorge espera o tomar de um café para falar com Dalma, esta
sai do banho, se veste e vai a sala, olha para Jorge como se per-
guntasse por que ainda estava ali;
— Pensei que já tivesse ido?
— Me mandando embora de novo?
Jorge sempre estava preparado para respostas evasivas,
mas ouviu algo que o pegou de surpresa;
— Não, mas ainda não é a hora Jorge!
321
“Será que existira uma hora?” – Pensa Jorge a olhando;
— Sim, vai existir uma hora, mas não pense tão alto assim!
— Esta mudada!
— Resolvi caminhar, e olha no que deu, acabo de ver que
os meus gatos saíram pela porta sem me dar adeus!
Jorge olha para ela e pergunta;
— Esperava isto?
— Não, mas quando no banho tive a impressão de ouvir al-
go que me aponta como não ser Freck!
— E o que você acha disto?
— Acho que Magog acha que sou, os Laikans achavam que
eu era, os Sacis acham que pareço com ele, as Iaras também, por
que não seria se todos acham que sou?
— Não sei, mas o que você acha?
— Sei que não sou ele Jorge, assim como posso lhe chamar
de Gabriel, mas sei que não o é!
— Sabe que Magog nem se atreveu a reclamar do que esta-
va fazendo, não entendi por que?
— Por que ela andou prendendo e matando gente e não
tem a pedra, então ela acha que Deus viu, sua presença lá seria a
logica, a punição, algo a sentir, não a reclamar!
— Mas quase me convenceu que era um anjo? – Fala sor-
rindo Jorge a olhando;
— Fala serio Jorge, só se for um Querubim caído, não um
anjo!
Jorge sorriu e falou;
— Mas o que pode acontecer se os Laikans mudarem de
lado?
— O que pesou no que falou, foi pois eu o indiquei como
Gabriel, eles ouviram e não sei como, mas falam uns com os ou-
tros, ou sentem o todo, mas se Gabriel fala que não sou Frock isto
não é o mesmo que Jorge falar isto!
— Desculpa!
— Não tem culpa, eu criei isto, agora tenho de colher os
frutos!
— Esta calma demais, o que acha que vai acontecer?

322
— Não sei ainda, estou pensando, quando toquei o chão
daquela gruta, muita informação foi me passada, mas não absorvi
tudo ainda!
— Mas o que vai acontecer? – Mortícia;
— Caminhos confusos, mas que podem nos gerar mais
mortes, desta vez, pela primeira vez na vida, Jorge, Mortícia, eu
andei e passei por locais, e algo não aconteceu!
— Não entendi? – Jorge;
— Um em mais de 30 pessoas, isto é um índice muito pe-
queno para quando estou por perto como Dalma, mas sempre
achava que as mortes eram parte do meu destino, mas agora sei
que não são!
Mortícia olhou para Jorge e falou; — Ela precisa descansar,
não esta falando nada com nada!
Jorge saiu pela porta, não estava feliz com isto, mas sabia
que a moça havia enfrentado algo pesado;
23°

A semana chega com o delegado batendo a porta de Dalma


e pedindo para falar com ela;
Dalma entra e olha para o Delegado;
— O que precisa Delegado Sergio?
— Apenas informação, a cidade esta esperando o pior!
— Ninguém acredita mesmo, qual a diferença?
— Não é questão de acreditar, já que você parece saber
muito bem quando algo vai nos ataca!
— Os meus inimigos de agora, são amigos do passado, en-
tão delegado, é entre eu e eles!
— Não entendi, brigou com o Retalhador?
— Não, com os Laikans! – Dalma fala serio e o Delegado re-
cua na porta e pergunta;
— Mas o que vai fazer?
— Caminhar novamente, o que acha!
— Vai os levar para fora da cidade?
— Vou ter de sacrificar algo, mas pretendo ir a Borda do
Campo, mas não pretendo fazer mal aos Laikans!
— Mas se são inimigos? – Delegado;
323
— Aliados pensando de forma errada, precisamos deles ao
nosso lado, não é questão de querer, é de precisar, o grande en-
frentamento pode não ser agora, mas com certeza vai acontecer,
e quando isto vier a tona, teremos de ter o máximo de alianças
possíveis!
— Mas qual o perigo?
— Se soubesse não estaria os arrastando para fora da ci-
dade delegado!
Mortícia olha para Dalma e pergunta;
— Vai mais uma vez caminhar, é maluquice!
— Vamos!
— Não aguento muito!
— Por isto mesmo!
— Vai quando? – Delegado;
— Amanha saio, quando vou voltar não sei!
O delegado saiu dali não com a resposta que queria, pois
era apenas uma duvida referente ao futuro, não uma certeza de
paz, e sim, uma absoluta certeza de problemas em breve, pro-
blemas que não tinha como relatar;

324
24°
Dalma telefona para Danilo e pergunta:
— Tudo bem Danilo?
— Quem?
— Dalma!
— Como esta, o pessoal nem teve tempo de lhe agradecer!
— Preciso de um favor, e sei que não tenho como fazer o
que preciso sem este favor!
— Problemas?
— Sim, mas o principal, preciso levar uma amiga, mas já
não é nova, pelo caminho do Itupava, mas não tenho equipamen-
to, e preciso de companhia, para uma empreitada de 4 dias, pri-
meira parada na queda d’agua logo no começo da caminhada,
segunda parada na beira da represa do Véu da Noiva, terceira no
Nundiaquara, perto de Porto de Cima, quarta parada, diante do
mar, em Antonina, mas preciso de ajuda para levar minha amiga!
— Vai ter perigo?
— Com certeza é uma expedição de superação dos medos!
— Tenho de ver quem topa, mas quer ir quando?
— Ontem!
— Posso ligar neste numero?
— Deve, quero sair no máximo até amanha, mas se pudes-
se ser neste fim de dia, melhor, primeira parada é pouco de ca-
minhada mesmo!
— Sabe que estranho isto!
— Se não estranhasse não estaria pedindo ajuda para você!
Mortícia vê Dalma desligar e pergunta;
— Por que tenho de ir junto?
— Vai junto, não vou explicar isto!
Dalma foi arrumar as coisas, e preparar o que achava que
iria precisar, pôs tudo em uma mochila e ficou esperando Danilo
ligar.
Estava esperando quando vê Jorge entrar pela porta;
— Quero saber se posso ir junto!
Dalma quase perguntou onde, mas sabia que ele sempre
estava atento a seus passos, mesmo de longe;
325
— Se quiser, já que esta encrenca foi você que causou!
Jorge sorriu e falou;
— Acho que esta ficando desbocada!
— Sempre fui, apenas com você continha as palavras!
Jorge sorri, e fica ali a olhar para ela, ajuda Mortícia ajeitar
as coisas, era fim da tarde quando Danilo para a caminhonete na
frente da casa de Dalma;

326
25°
Dalma olha para Danilo e pergunta;
— Preparado para escalar?
— Sabe que se for na frente, pondo os grampos, não tem
problema!
Jorge olha para Danilo, estranhou seus sentimentos, estra-
nhou a forma que o rapaz olhava para Dalma, a menina estava
crescendo em comportamento, não apenas em corpo;
— Danilo, esta é Mortícia, Jorge você já conhece!
— Obrigado por outro dia senhor, não sei o que era aquilo,
mas mais estranho é ter gente pronta a enfrentar algo que a mai-
oria ignora a existência!
— A ignorância é uma benção! – Falou Mortícia;
— Onde vamos parar? – Danilo;
— Primeiro vamos ao caminho do Itupava, não quero ter
de caminhar até lá hoje!
Jorge sorriu, sabia onde era, em Quatro Barras, mais de 25
quilômetros dali, a primeira vez ela fez a pé, mas esta era a Dal-
ma, alguém capaz de fazer com suas próprias pernas os cami-
nhos mais difíceis.
Entraram na caminhonete e se direcionaram a Borda do
Campo, Dalma olha para Mirian com outra caminhonete encosta-
da na entrada da descida, estavam lá também Marcelo e Carlos,
então não seria apenas uma descida, seria uma aventura, Dalma
sorriu e viu que Carlos sorriu, seus pensamentos foram algo en-
tre desejo e controle, não sabia onde conseguiria levar uma rela-
ção com Jorge, achava que seria impossível, pois os dois tinham
outra função.
Mortícia vê o inicio do caminho e olha para Dalma;
— Isto é preciso?
— Sim! – A secura de Dalma pôs um brilho no olho de Mor-
tícia, pois algo ela não falara, mas ouvira coisas e termos estra-
nhos no ultimo dia, que não entendia;
Caminharam com calma até a beira da queda d’água, senta-
ram-se e olharam-se;
Dalma olha para Mortícia e fala;
327
— Esta estranhando?
— Estes poucos quilômetros estão fazendo meus pés doe-
rem!
Dalma apoia nos ombros dela e fala;
— Vamos refrescar os pés! – Olha para Danilo – Arma as
barracas para nós?
O rapaz faz que sim, Jorge olhava para Dalma e estava es-
tranhando, não entendeu o que estava acontecendo;
Ajuda o pessoal a armar 4 barracas, e Danilo acendeu um
fogareirinho e fez uma salsichas, o cheiro atraiu alguns macacos
ao longe, os pernilongos começaram a picar, depois as butucas,
Jorge estava pensando o que fazia ali, mas via que os olhos esta-
vam em Dalma e Mortícia a lavar os pés;
— O que é ela? – Jorge ouve a pergunta, e vira-se vendo
que Carlos estava ao seu lado;
Olhou o rapaz e sorriu;
— Não sei o que viu rapaz, mas acho que nem ela sabe ain-
da o que é!
— Danilo diz que viu ela tomar a forma de uma fera, vi a
fera, mas não vi ela na fera, vejo apenas aquele rosto de sorrisos
as vezes forçados, parece as vezes até doido!
— Ela acredita que todos que atai para perto morrem, en-
tão tenta deixar as pessoas longe!
— E por que ela acharia isto?
— Talvez por ter perdido os pais, os avos, os amigos mais
próximos, todos de forma violenta!
Os dois olhavam Dalma tirando o calçado de Mortícia e ao
longe não viam mais que isto quando Dalma olhou para a senho-
ra;
— Quantos anos tem Mortícia?
— Passei dos 58!
— Mas como sente-se na alma?
— Velha, bem velha!
— Eu não, me sinto uma criança, isto que estranho as ve-
zes!
— Dizem que as pessoas sentem-se com a idade de suas
almas, mas isto não deixaria você ser quem precisa ser!
328
— Eu sou quem preciso ser, Mortícia, mas estou aqui para
provar isto, não para deixar no meio do caminho amigos do pas-
sado, mas a trouxe aqui por algumas coisa, e preciso que lembre
do que eu falar, do que acontecer aqui em detalhes!
— Lembrou de algo?
— Acha mesmo que tenho como lembrar?
— Não sei como acontece, você e aquele senhor são espe-
ciais, mas não entendo muito, sei o que estudei, mas vocês con-
tradizem tudo o que aprendi!
Dalma tira o calçado dos pés, molha os pés e sente a agua,
Mortícia olha em volta e vê os lobos se aproximarem, Danilo fica
assustado, ainda não acostumara com isto;
— Calma, eles não estão atacando! – Jorge;
Danilo vê que eles aparentavam rosnar, mas estavam indo
na direção de Dalma, foi avançar e viu o braço de Jorge o barrar;
— Confie, ela não veio machucar ninguém!
— Mas não é por eles que temo!
— Então não conhece aquela moça suficiente!
Carlos ao lado quis se mexer e viu um parar a sua frente e
rosnar, Mortícia olhava os lobos, mas Dalma parecia apenas olhar
a agua, olhar os pés e os sacudir na agua;
Os lobos foram se aproximando e um se ergueu ao lado de
Dalma e falou;
— Você nos enganou, não é quem aparenta!
Dalma olhou nos olhos daquele lobo, sabia que ele escolhe-
ra estar ali e ajuda-la, por isto estava revoltado;
— Quer ir ao deus? – Dalma desviando os olhos da agua e
indo aos olhos dele;
— Você os condenou, se não é Frock, você os mandou ao
inferno!
Dalma sorriu e falou;
— Vocês falam muito e sabem menos que eu, como pode
acreditar em tudo que eu falo?
— Magog aceitou aquele rapaz como Gabriel, então você
não esta a nos salvar, esta a nos julgar e jogar no inferno!
Dalma olhava aos olhos do ser, olhos cor de mel, violentos
olhos de raiva;
329
— Magog acreditou no que falei, mas vocês eu esperava se-
rem mais espertos que isto!
O ser avançou e ergueu Dalma pelo pescoço, ela sentiu as
garras dele entrarem em seu pescoço, Jorge não sabia se era uma
boa ideia, mas não tinha como intervir;
— Pensei que ele interviria por você, então o que é você,
que nem Gabriel quer salvar?
Jorge e o pessoal olhavam a cena, vários, talvez mais de du-
zentos lobos estavam a volta, quando o corpo de Dalma começou
a crescer, ela tocou o chão com seu corpo de lobo, garras de feli-
no, ainda estava com seu rosto, olha para o lobo e fala;
— O que quer Jock? Provar que pode comigo, já disse que
em matilha, morremos uns pelos outros, pela família, quantas
vezes quer que morramos, para você se manter no comando,
quantas vezes nos se sacrificamos para que você apoiasse Frock,
e não falamos nada, quantas vezes você se sacrificou por Frock?
Mortícia olhava aquilo, ainda refrescava os pés, parecia
que não tinha como os tirar da agua, tentara mas não saíram,
então ficou ali, a observar, olhando para cima;
— Pelo menos sabe quem sou, pensei que nem isto soubes-
se? Pelo menos saberá quem a matou!
— Se pudesse me matar, Jock, já teria morrido a muito
tempo, e não sou de matar ou imperar sobre os Laikans, mas se
quer tentar outra vez, mostra que no fundo, ainda não é a hora!
Jock olha para Jorge e fala alto;
— O que é este ser Gabriel?
Jorge olha para o ser e fala;
— Se eu soubesse não estaríamos aqui, Jock! – Jorge e
Dalma aprenderam a usar os nomes novos como se soubessem a
séculos, eles confundiam as próprias informações as vezes com
estas atitudes, já que não falavam um para o outro sobre isto.
— Matei tantos por tanto tempo, como vou saber de qual
esta fêmea esta falando?
Jorge olha o lago e vê uma luz vir do fundo, os olhos dele
olhando aquilo atraem os de Jock que olha para seres surgindo
nas aguas, e começarem a andar para a beira;

330
— Vão nos convidar a festa? – Jonty que passa por Mortícia
e a toca, a senhora olha para as mãos rejuvenescendo, olha para
os pés e para Dalma, os olhos de todos estavam naquelas mulhe-
res nuas a sair do pequeno buraco feito pela queda d’água.
Jock olha para Dalma e pergunta;
— Por que parece que sabia que elas estavam ai?
— Dalma agora é parte de nosso clã, Jock, não pode a ma-
tar e não colher as consequências disto!
Jorge sorriu, uma Iara estava dizendo que Dalma agora era
uma parte Iara, ele sabia que ela era uma parte Lobo, todos viam
isto, e todos viram seu rosto ir para a caveira e olhar para Jock,
deixando claro, era uma parte Magog, então a pergunta que se
fazia, era o que ela era?
— Você traiu os seus se aliando a Iaras? – Jock;
— Você me mataria sem me ouvir, e fala que eu que trai o
grupo, nem sabe mais o que busca Jock! – Dalma pegando as
mãos de Jock e as tirando de seu pescoço, uma força descomunal
que se ouvia o estalar dos músculos de Jock;
Os demais olham pequenos brilhos surgirem ao ar, e o
grande Jock olha para Marcabanes e pergunta;
— O que os Sacis fazem aqui?
— Estamos observando, ainda não interferimos, mas se
precisar defender um ser aceito por nossa rainha como amigo, o
faremos!
A cabeça de Jock se perde na informação, e olha para Jorge;
— Vieram o defender, não o atacamos?
Jorge sorriu, nunca havia visto um pequeno saci antes da-
quele dia, os 4 montanhistas estavam a ver coisas que talvez
nunca mais vissem, o mostrar-se de seres da terra, seres que
existiam para quem sabia onde eles estavam;
Jock olha para a Iara;
— Acha que temos medo de vocês?
— Não viemos enfrentar Jock, nem armadas estamos, nem
encantando estamos, então relaxa, pois não viemos discutir!
— Onde esta a líder de vocês, Honty?
— Honty deixou de ser nossa líder, Jock, a pouco tempo,
mas não nos lidera mais!
331
— Então você as lidera, por que vem a uma região de lobos,
se não vieram a briga, querem morrer?
Dalma olha para Jock e para os demais Laikans e fala;
— Isto esta uma conversa de maluco, ou vocês estão todos
achando que estamos a passeio?
Honty olha para Dalma e pergunta;
— Nos quer armadas líder?
Jock deu um passo atrás, pois estava diante de um ser na
forma de Frock, a qual as Iaras estavam chamando de líder, Jorge
sente que os demais Laikans deram um passo atrás;
Jorge olha para Dalma que fala olhando para ele;
— Gabriel, o que faço, eles acham que não me devem res-
peito e a culpa é sua!
— Acha que sou sempre culpado, o que achava que iria
conseguir na caverna de Magog?
— Não preciso do – Dalma tira do que restou de um bolso
de sua roupa que rasgou no deformar de seu corpo, o olho, a pe-
dra brilha, e todos olham para ela – do que foi me dado por bem!
Jorge também deu um passo atrás, o significado da pedra
era algo terrível, o poder fazer o que bem entendia sem os olhos
de deus sobre eles;
Jock olhou a pedra e perguntou:
— Você que a roubou de Magog?
— Odeio me repetir, o olho foi me dado por bem, se não
fosse assim, não funcionaria! – Dalma olha para Jorge e pergunta
– O que Magog queria dando a pedra a uma humana?
Jorge olha para Dalma, esta era uma indagação que não
pensara, a indagação de que a pedra fora passada a frente;
— O que acha que ela queria com isto?
— Chegar ao centro de mais de um milhão e meio de al-
mas, apenas isto!
— Acha que ela queria a maior colheita de todas? – Jorge;
— Não, uma colheita semelhante a ultima, mas na anterior,
havia muito mais seres da terra, estes estão fracos hoje, então é
nossa obrigação os erguer, e não os destruir Gabriel!
— Não sigo suas regras, sabe disto! – Jorge assumindo o
papel de Gabriel;
332
— Então o que faz aqui? – Dalma;
Jorge olha para ela e pergunta;
— Já me mandando embora?
Danilo olha para eles, estavam jogando em meio a seres
que nunca soubera existir naquela floresta, para ele aquele lugar
nunca mais seria igual a antes, uma coisa era não saber, outra, a
vida ser atravessada por algo assim;
Jock olha para Dalma e pergunta;
— O que é você que até Gabriel se propõem a sair e lhe
deixar agir?
— A atual dona do Olho que não pode ver!
— Sabe que Magog vai vir atrás disto?
— Eu não pretendo ficar com a pedra, não depois de ter
feito o que preciso! – Dalma olha para Jonty e fala;
— Por isto disse que não haveria represália, não esta nas
regras de Deus, ou de Magog, esta nas minhas!
— Mas você derrotou Honty!
— Ela se derrotou quando me enfrentou, não existe como
alguém vencer as próprias forças, então não existia chance para
ela ganhar, depois vou lá falar com ela! – Dalma;
Jonty olha nos olhos de Dalma, ela apenas toca a agua com
os pés, Jonty sorri, o que falaram não se sabia, mas ficou obvio
quando as Iaras se retiraram que Dalma as dispensou;
Dalma olhou para o pequeno Saci e falou;
— Pequeno Príncipe Marcabanes, nos encontramos na re-
presa, diz para sua mãe que esta tudo bem!
Somente nesta hora que Jock percebeu que os Sacis não es-
tavam ali por Gabriel, os demais olharam para Jock que falou;
— Tenho de conversar com os meus!
— Não faz mais burrice Jock! – Dalma andando até sua mo-
chila, pega uma roupa e muda de forma entrando em uma barra-
ca, Mortícia olha para Jorge e pergunta;
— O que esta acontecendo? – Fala ela ainda olhando suas
mãos, Jorge viu que a senhora não passava mais dos 30 anos,
algo de muito poder tinha se manifestado ali, mas Dalma fez isto
passar desapercebido, mas era inevitável aos demais olharem
para Mortícia;
333
— Acho que ela lhe trouxe para isto Mortícia, ela sabe que
o enfrentamento com Magog se aproxima, mas não entendi nada
do resto!
Dalma sai da cabana e olha para Danilo e pergunta;
— Sobrou algo que não seja carvão para comer?
Todos olham para o fogareiro a fazer fumaça e sorriem, a
janta havia se ido, ela olha em volta, ela mesmo estava confusa e
senta-se ao lado de Mortícia e pergunta:
— Consegue lembrar de tudo que falei?
— Por que quer saber?
— Por que quando na forma que todos chamam de Frock,
falo coisas que não estudei, é como parte da memoria voltasse,
mas não fosse minha memoria, fosse do ser que tem aquela for-
ma!
Jorge olha para Dalma e fala;
— Quer dizer que posso ser Gabriel?
— Não, mas o ser usa de tudo que pode, a parte do acordo
com as Iaras fui eu, não ele, a parte do acordo com os Sacis, fo-
mos os dois juntos, mas tenho algumas coisas a fazer!
— O que? – Danilo;
— Não posso tirar um milhão de pessoas de uma cidade,
então tenho de manter em Piraquara Magog, ela tentou três ou
quatro vezes se locomover a Curitiba, primeiro por Moreira, de-
pois por Jorge, por Sacha, e por esta senhora que foi me ver estes
dias, mas agora queria levar um exercito a cidade, pois queria
levar a pedra ao centro da cidade!
— Mas estaria condenando uma cidade?
— Não tem jeito, tenho de estar num lugar controlado, pa-
ra podermos ter uma chance, mas o principal, me preparar para
isto!
— O que fazemos aqui? – Mortícia;
— Tenho de reverter um mal entendido, tenho de trazer
Gog a vida, alertar os espíritos básicos a afastar os descendentes
daqui, e principalmente, juntar forças para este enfrentamento!
— Não entendi? – Danilo;
— Isto descobri a pouco tempo, onde hoje existe o deserto
do Saara, existia uma concentração de humanos, de mais de 300
334
mil pessoas, mas o principal, existiam levas de muitos seres tidos
hoje como lenda, estes não foram alertados do buscar de almas, e
achando-se protegidos pela pedra, ficaram ali para morrerem,
para que Magog fizesse sua colheita! Muitos seres morreram ou
se extinguiram por isto!
— Então a ultima colheita foi em meio a um local que nada
sobrou, a ponto de virar um deserto? – Jorge;
— Sim, mas primeiro vou enfrentar, isolar e por ultimo,
torcer para vencermos isto!
— Sabe onde achar Gog? – Mortícia;
— Sei, mas este não precisa saber que sei onde ele esta!
— Então estamos em uma área muito perigosa, pois se Gog
estiver perto pode ser a ultima colheita! – Jorge;
— Como disse antes, não acredito que Deus nos criou para
extinguir, esta é uma visão que não combina com meu Deus!
Jorge sorriu, Dalma estava desenvolvendo um Deus pró-
prio, ele sabe que perdeu seu Deus dentro dele, talvez ela pudes-
se o ajudar, a maioria ali estava boiando na estória, mas todos
estavam impressionados;
As pessoas foram se recolhendo enquanto Dalma sentou-se
a beira do lago, Jorge sentou-se ao lado dela lhe pegando na mão;
— Por isto esta diferente?
Ela olhou-o como se perguntasse o que estava diferente;
— Esta com um olhar mais firme, menos triste!
Dalma sorriu e apertou a mão dele, ficaram ali se olhando,
sem saber o que se falar;
— Tenho medo de amar Jorge, sabe disto!
— Mas algo mudou!
— Algo não entendi, algo esta me aproximando de um fim,
mas estou sentindo as coisas diferente, tem haver com ser aceita
pelas Iaras, a vergonha parece não ser parte delas, as aguas res-
pondem a elas, nunca entendi isto!
— Como assim, como as aguas podem responder a alguém?
— Como não sei, mas cada gota de agua na queda parece
obedecer, posso dizer até para onde a agua em vapor esta indo,
como se tudo fosse parte de algo maior!
— Achou seu Deus?
335
— Ele me achou Jorge, ele pôs você no meu caminho, es-
queceu que ando as cegas?
Jorge olhou aos olhos dela e perguntou;
— Continua as cegas?
— Continuamos, ou não? – Dalma segurou a mão dele forte
e ele concordou com a cabeça, os demais olhavam ao longe, as
cabanas voltadas a cachoeira;
— Senti ciúmes hoje de você, não sei por que ainda me
manda embora? – Jorge;
— Eu acho que sei, mas não entendi ainda onde isto vai nos
levar, fugir do destino é como fugir de nós mesmos!
— Acha que estamos nisto por destino?
— Todos a nossa volta, Jorge, dependem do que eu, você e
Mortícia fizermos, mas eles nos ignoram!
— E o que pretende fazer?
— Só quero que mantenha-se na logica, por mais que pare-
ça estranho, se soubéssemos de tudo, saberíamos que estaríamos
no fim, mas pelo que entendi, Magog sempre tenta me destruir
antes de eu saber quem sou!
— O que quer dizer com isto?
— Que Frock tinha muito poder, mas foi o poder dele que
gerou o deserto, não Magog!
— Como?
— A destruição de Frock, se ele não tem ciência de quem é,
gera apenas uma morte, se ele souber quem é, gera um julgamen-
to pelas regras de Frock!
— Então se a matar teríamos algo pior do que uma colhei-
ta?
— Um novo Saara é o que podemos ter se ela matar Frock!
— Fala como se não fosse Frock!
— Não sou Jorge, se fosse não precisava estar aqui, traria
os Laikans a aliança a força e continuaríamos no antigo caminho!
— Mas eles lhe veem como Frock!
— Não sei como eles me vêm, se souber me fala!
Jorge olhou em volta e perguntou;
— Quem nos ouve?

336
— Todos, mas preciso de uma aliança que possa trazer
uma leva de seres a guerra a favor da sobrevivência!
— Você disse que não é Frock, mas que Magog tenta lhe
matar antes que saiba quem você é, acha que é Gog?
Dalma olhou em volta, sentia os ouvidos de muitos seres,
poderia dizer onde estavam, estava estranhando isto, mas sorriu
sem responder, apenas olhou em volta;
Jorge sorriu, olhou para ela e lhe deu um beijo;
Dalma o abraçou, e o beijou com força, depois o empurrou
de leve afastando a cabeça e falou;
— Ainda não devemos nos aproximar, sabe disto!
— Onde isto vai nos levar?
— Jorge, lembra que tudo começou com o retaliar dos se-
res?
— Sim!
— Sabe por que Magog faz isto?
Jorge balançou negativamente a cabeça;
— Ela precisa matar o Laikan que existe no interior das
almas, para poder os aprisionar, muitos ela não conseguiu a per-
feição que requer para que isto aconteça, ela por um lado precisa
do exercito de almas para lutar, por outro, almas para se manter
viva, e por outro, acaba gerando a leva de seres que lhe serão em
teoria contra!
— E por que então ela fez tudo isto?
— Ela tentou chegar a cidade, mas você não se considera
devedor dela, e ela não consegue uma afirmação para lhe fazer
mudar de lado, lhe tem como algo encima do muro, isto que indi-
ca para ela que você pode ser Gabriel!
— Mas o que você acha?
— Você não é Gabriel, pelo menos não quero acreditar nis-
to!
— Por que?
— Anjos não se apaixonam, se for Gabriel, nunca o terei,
não quero que seja! – Estas palavras pareceram doer na alma de
Dalma, estava confessando algo que não falara antes;
Jorge pega em sua mão, e lhe olha aos olhos;

337
— Se Gabriel não sabe o que é amar, pode ter certeza, não
sou Gabriel!
Dalma sorriu, sentiu alguns seres se afastando, e olhou pa-
ra Jorge e falou;
— Agora terei de o deixar um pouco!
— Por que?
Dalma se levanta e Jorge olha Jonty a surgir na agua, Dalma
começa a andar no sentido dela, a vê mergulhar e as pernas dela
se tornarem uma única nadadeira, ficou ali a olhar aquilo, ela
estava evoluindo e ele ali sem saber o que era;

338
26°
Dalma nada ao fundo daquele buraco, sente quando o cor-
po passa por algo parecido a uma parede, reparou que os peixes
não passavam dali, e viu o local aumentar de tamanho;
Dalma olha em volta e vê Honty ao fundo e chega a ela;
— Como esta Honty?
A moça olha para Dalma, não acredita ao ver ela com as
nadadeiras, olha como se intrigada;
— O que é você?
— Depende do meio, Honty!
— Você é um anjo? – Honty;
— Anjos não amam Honty, mas vim aqui para lhe por
afrente das Iaras!
— Mas me derrotou!
— Não vi ninguém me desafiar para tomar meu posto, en-
tão quem eu indicar, é quem vai liderar! – Dalma;
— Mas por que eu?
— Por que confio em quem me deve algo, não em quem diz
que é fiel mas pode mudar de lado a qualquer hora!
— Mas por que me devolver a Liderança?
— Honty – este nome ainda saia estranho na fala de Dalma
– não sei quanto tempo, pode ser um ano, pode ser 10 anos, mas
neste curto espaço de tempo, haverá um enfrentamento nestas
terras entre eu e Magog, este enfrentamento pode vir a destruir
tudo que vê a volta, quero uma líder que esteja ciente disto!
— O que quer dizer com isto?
— Tem este tempo para escolher um lugar e afastar a linha
evolutiva das Iaras, e preparar as guerreiras para um enfrenta-
mento que se ganharmos, podemos voltar a viver nestes terras,
se não, teremos de nos acostumar em um novo trecho deste pla-
neta!
— Mas quem vai me respeitar agora?
— Quem lhe desafiar Honty, estará me desafiando, acha
que elas querem isto?

339
Honty sorriu, Dalma deu uma volta rápida e voltou a super-
fície, os demais já tinham se recolhido, Mortícia olhou para ela,
na barraca e perguntou;
— O que aconteceu comigo?
— Nada, apenas testando forças!
— Mas rejuvenesci, anos em segundos, o que foi aquilo?
— Retribuição, agora vê se descansa, amanha será um dia
de caminhada!
Dalma pega uma roupa a mais, e se deita em um colchonete
inflável e adormece, parecia pensar longe quando o sono a tirou
dali para um descanso merecido;

340
27°
Dalma sai da cabana, os demais já estavam a dobrar as bar-
racas, um grupo de turistas passou por eles, seguindo pela trilha,
os cumprimentaram, mas não viam o que os olhos de Dalma vi-
am, ela parou a olhar o local, Jorge a olhava, Danilo a olhava, cada
um em um ponto, ela olhava para um ponto ao fundo, onde eles
não viam nada, depois olhou para o ar e falou com algo, os Sacis
deveriam estar ali, mas agora fora da vista deles;
Dalma dobrou a sua barraca, pôs em uma mochila e come-
çaram a descer, passaram pela ponte sobre o rio Ipiranga, a que-
da d’agua estava convidativa, mas não era destino deles, continu-
aram a andar descendo a serra, macacos as arvores, pássaros aos
milhares, o calor abafado daquele local, Dalma estava a observar
tudo, mas silenciosa, tanto Jorge, quanto Carlos e Danilo tenta-
ram conversar com ela e não obtiveram uma resposta;
Pararam a beira da represa do Véu da Noiva, uma represa
em meio a serra;
Dalma olha para o príncipe Marcabanes a sua frente e fala;
— Depois preciso falar com sua mãe!
— Ela já entendeu, começou a separar os mais jovens e
mandar a região oeste, em meio a uma floresta a beira de uma
imensa queda d’água!
— Obrigado então Marcabanes, pois quanto mais os seres
se mexerem, mais rápido podemos começar a nos preparar!
— Ela quer que eu vá!
— Es a linha de sucessão, toda ela não pode ficar Marcaba-
nes!
Os demais viam ela falar com algo que não viam, sabiam
pelas palavras que era o pequeno ser que viram na noite anteri-
or, ela o via em pleno dia, os demais não;
— Por que ela pode os ver e nós não? – Carlos ao lado de
Jorge
— Ela é especial, esta os alertando, para eles afastarem da
cidade suas linhas de sucessão!
— Então os esta avisando que haverá um confronto?

341
— Sim, ela não sabe quando, mas tem certeza que vai acon-
tecer, ela viu algo que não nos falou!
— Ou desconfiou de algo?
— Ela passou a parte da desconfiança, mas não sei exata-
mente onde ela vai precisar de ajuda, mas vai precisar de muita!
Os dois veem Mirian chegar ao lado e ficar olhando para
Dalma e depois perguntar;
— O que ela é, o que era aquele ser em pelo de ontem?
— Chamam de Laikans, mas os Laikans, deveriam ser como
os que nos cercavam, sem carne, sem corpo, ela por ter corpo era
tida como Frock, o líder dos Laikans!
— E por que não a tem mais como este tal de Frock?
— Falei demais, mas acho que ela esperava por isto!
— O que vamos fazer aqui? – Danilo chegando ao grupo;
Jorge apenas levanta os ombros, um movimento clássico de
quem não sabia, Marcelo também chegou ao grupo, a única que
sentou-se ao longe foi Mortícia, ficaram a olhar Dalma a falar com
o ar, explicando coisas que não entendiam;
Dalma vê o pequeno saci sair com os seus, e olha para a
agua, os demais veem ela chegar a beira, tirar os tênis, os deixar a
beira e andar 3 passos, toca com um dos pés a agua, e fica a olhar
para a agua, os demais veem o centro daquele pequeno lago se
mexer e uma imensa cabeça surgir nela, foi instintivo eles darem
um passo atrás, o grande Maetá olha para Dalma e pergunta;
— Voltou, o que me perturba novamente?
Dalma esperou o ser chegar perto, olhou para o ser com
calma, desviando a vista da agua para os olhos da grande serpen-
te que se esgueirava por cima da agua;
— Bom dia Maetá!
— O que quer Laikans com cheiro de Iara?
— Alertar os símbolos da terra!
— Alertar, quem pensa ser para alertar?
Dalma muda de forma, para a de Frock e continua com
calma;
— Sabe bem o que acontece se ela me matar, Maetá!

342
O ser recuou, Jorge vê que mesmo um ser como o que esta-
va sobre o lago, assustador, temia diante de Frock, os demais
olharam aquilo, e ouviram;
— Vai ao enfrentamento novamente?
— Na cidade encostada na serra, do lado do planalto, mas
sabe que isto se arrasta por quilômetros!
— Mas desta vez sabe quem é?
Dalma não responde, olha para o ser, pensou um longo mi-
nuto e falou;
— Não vim falar de mim, apenas alertar, acabo de alertar
as Iaras a deslocarem seus descendentes, os Sacis, e estou indo
ao Nhundiaquara!
— Vai de encontro pelo jeito?
— Sim, mas estou alertando que muito vai se falar para os
distrair, sobre quem sou, não peço que não os ouça, mas garante
os seus descendentes longe antes disto!
— Já começaram as fofocas?
— Sim, sabe que sempre acontece!
— Da vez anterior que lhe vi, estávamos do outro lado de
um oceano distante, chamam de Antártica, você congelou tudo
Frock, isto já faz mais de 50 mil anos!
— Levou sorte de não estar lá a 4 mil e quinhentos anos,
Maetá!
— Você sempre e seus limites, ouvi dizer, mas desertos são
sua especialidade, mas desta vez se controlou, viu que a vez ante-
rior levou muito mais!
— Reajo, não faço por gostar disto!
Maetá olha para os demais e pergunta;
— Quem é o rapaz que não recua?
— Se ele souber não estaríamos aqui, Maetá!
A grande serpente sorriu, e falou;
— Então me vou, mas vai precisar de ajuda?
— Somente dos que não tem medo de Deus! – Dalma na
forma de Frock;
O ser começou a se virar e afundou ao meio do lago;
Mortícia anotava as palavras, sabia que esta era sua função,
mas não falaria aos demais;
343
Quando Dalma volta a sua forma, com os restos de uma
roupa rasgada pelo crescer olhou para trás do pessoal e viu o
pessoal que primeiro passara por eles, depois eles passaram por
eles no rio Ipiranga, o pessoal de olhos arregalados, Jorge olha
para o pessoal chegando sem saber o que falar, Dalma não se
acanhou, abaixou-se na mochila, pegou uma blusa larga e soltou
sobre o corpo;
O pessoal passou rápido, como se tivessem visto demais,
Jorge olha para ela e pergunta;
— Problemas?
Dalma olha para um dos rapazes que ia com eles e fala;
— Nada que não seja mortal, nada que nos seja mortal!
Voltaram a caminhar, a descida acelerou, e quando viram
já estavam caminhando a 7 horas, e diante de porto de cima, se
olham, Mortícia estava ao longe observando, Dalma sabia que ela
estava querendo fazer perguntas, mas estava se contendo, come-
ram algo num restaurante a beira do rio, em Morretes e Dalma
começou a caminhar numa estrada que corria ao lado do rio
Nhundiaquara se afastando da cidade no sentido do mar, era fim
do dia, quando ela sentou-se, e Danilo olhou-a;
— Não cansa?
— Procuro algo que pode não existir mais, Danilo, tudo o
que viu, são lendas, até para mim, até as achar, mas não sei ao
certo onde os achar, as vezes eles me acham, quer dizer, a maio-
ria das vezes!
Danilo sentou-se ao seu lado e falou;
— Que maluquice foi aquilo no Véu da Noiva?
— Maetá, uma serpente que os pajés diziam existir, os que
a podiam ver, a igreja santa de Deus, os matou, para não passar
isto a frente, pois um ser daqueles, mataria a forma de crer dos
europeus, muito se matou nesta terra para que não viesse a co-
nhecimento da Europa, dos papas, dos reis, seria uma corrida
pelo poder destes seres!
— Foi assustador!
— Danilo, Maetá vai se retirar como sempre, mas a ordem
dele é apoiar quem tiver maior chance de vencer, então eu tenho
de estar preparada a enfrentar uma guerra contra seres assim!
344
— São muitos?
— Nem ideia, a minha missão é caminhar as cegas!
Danilo fica a olhar para aquela moça, alguém que atraves-
sou sua vida, não entendia o por que ela pediu ajuda, mas parecia
querer algo a mais, mas será que ela pediria? Esta era a pergunta
que passava na mente do rapaz;

345
28°
As pessoas fizeram suas barracas, Dalma dorme na mesma
de Mortícia, não a respondeu as indagações, não era ainda a hora,
estava em meio a noite quando Dalma ouve um explosão, acorda
assustada, olha em volta, Mortícia dormia, será que somente ela
ouvira;
Dalma ouve outra grande explosão, os demais pareciam
não ouvir, reparou que o som era em frequências muito altas,
entendeu que os demais não ouviriam, sai da barraca, os demais
estavam quietos, olha para o rio e vê a grande cúpula surgir, com
os estalos de sua estrutura, estes estalos aos ouvidos dos cães
eram estrondos, então se ouvia os cães da cidade ao fundo lati-
rem;
Dalma olhava aquela cúpula se posicionar a sua frente e
olha a cúpula se abrir, e o que se via era uma calçada para cada
lado, e um imenso prédio central, escuro, parecia negro, viu o
grande Otato a sua frente, ela olha para o primeiro que a olha
intrigado;
— Não deveria estar dormindo moça?
Os Otatos, com suas imensas patas, como um caranguejo
imenso com duas garras frontais, mas com o corpo mais esguio e
a cabeça de um humano, presa ao corpo, sem pescoço;
— Temi que não existissem mais, como é seu nome Otato?
– Pergunta Dalma olhando para o ser;
O ser estranhou, olhou para traz e falou;
— Um primata me pergunta meu nome!
Dalma ouviu um coro de sorrisos estranhos;
— Qual a graça?
— Rei Oto, quem é você primata, que não deveria me ver?
Dalma muda de forma e o rei sorri, olhando Frock;
— Frock, o que faz aqui?
— Pouco distante daquelas montanhas ao fundo, vou en-
frentar Magog mais uma vez!
— Quanto tempo?
— Não sei, o tempo dela se recompor, ela esta forte!
— E veio me avisar?
346
Dalma sorriu, olhou o ser e falou;
— Estou avisando, mas este seu reino já foi mais cheiroso!
Oto olha para traz e fala;
— Estes macacos estão matando tudo!
— Quem dera eles fossem o problema! – Dalma;
— Acha que a colheita vai ser entre eles desta vez?
Dalma não entendeu de cara a afirmação, as vezes a infor-
mação vem muito rápido, mas disse;
— Acredito que sim!
— Mas gosto deste canto!
— Como sabe rei, eu enfrento, vocês fogem! – Dalma olha
para o ser que fala agressivo;
— Acha que pode me ofender Frock?
Dalma na forma de Frock falou;
— Se ofende com a verdade, eu morro e vocês que se ofen-
dem, você, Maetá, Honty, sempre fugindo!
— Por isto estamos vivos, pois quem lhe apoiou não esta
mais entre nós!
Dalma sorriu, não sabia a força daquele ser, mas parecia
com aquelas garras de caranguejo algo temível, mas como sem-
pre, não estava ali para brigar, mas muito menos para recuar;
— Por isto Magog é forte, só sobrou estes macacos e os co-
vardes!
Oto olhou com raiva, os demais guerreiros as costas viram
ele pegar seu arpão e avançar sobre Frock, que se desviou, rapi-
damente, entre escapes Oto foi cansando, uma hora Oto segurou
Frock com as garras e sorriu, mas Dalma não era de perder uma
luta, mas não parecia querer vencer, sentiu seu corpo ser aperta-
do, sentia as garras a cortando, estava na duvida do que faria.
Oto viu Frock fechar os olhos, o jogou ao chão, já estava
quase amanhecendo, ia ordenar fecharem a cúpula para volta-
rem ao seu reino, os seres estavam com muitas provisões, quan-
do viu Jorge olhando para ele, olhou para Frock ao chão, chegou a
ela e a tocou, respirava, pensa rápido, não sabia quem era, mas
tinha ficado olhando de longe, Dalma não reagiu, o que ela gosta-
ria que ele fizesse;
— Mais um macaquinho nos olhando!
347
Jorge olha para o ser e fala;
— Rei Oto, sabe que se fosse apenas um macaquinho não
estava o vendo!
— Pelo menos sabe quem sou!
— Sei, já que matou Frock, em nome de meu pai, lhe entre-
go o peso de Frock!
Oto olha para Jorge, não entendeu e perguntou;
— Quem é seu pai para fazer isto?
— Desculpa, não me reconhece, pois nunca foi ao mundo
dos mortos, lá me conhecem por Gabriel!
Oto olha assustado, e fala;
— Não pode fazer isto!
— Esta feito, você desafiou Frock e o matou para não admi-
tir a verdade, então todo peso de enfrentar Magog, sai de Frock
nesta existência e vai a você!
— Sabia que deveria ter alguma coisa no não reagir dele,
ele deve estar cansado de enfrentar Magog!
— Sabe que se ele reagisse nunca o venceria e mesmo as-
sim o desafiou, então sabia das consequências!
Oto recua, o pessoal as costas ouviam aquilo, Oto dá a or-
dem de fecharem a cúpula, olha perdido para o corpo de Frock
caído e para os olhos de Jorge, enquanto a cúpula afundava;
Jorge toca em Frock, sente que ela estava fraca, sente sua
temperatura subir, ela precisaria recompor o corpo, levanta seu
corpo e a leva a sua barraca, quando ela entra, Mortícia abre os
olhos e pergunta;
— O que aconteceu?
— Ela foi a guerra e perdeu! – Jorge;
— Mas como alguém pode com ela?
Jorge olhou para Mortícia e falou;
— Para todos os que a viram como Frock, ele morreu hoje
diante do rei dos Otato!
— Eles ainda existem?
— Ela foi espremida por Oto, em pessoa!
Mortícia foi a seus remédios, fez ela tomar uma mistura e
Jorge viu ela se esticar, a cobriu, Mortícia foi ao Rio e o tocou,
Jorge a olhava e viu Honty surgir a agua e a olhar;
348
— O que aconteceu?
— Ela jogou a praga de Frock sobre Oto! – Mortícia;
Honty entra na barraca e toca em Dalma, ainda na forma de
Frock, não tinha energia para se transformar.
— Por que ela não reagiu? Ela poderia com 10 Oto? – Per-
gunta olhando para Jorge;
— Ela queria que o peso de Frock fosse passado para Oto,
pelo menos na teoria!
Honty sorriu e perguntou novamente;
— Mas ele vai fugir mesmo assim!
— Acha que ele vai para onde, acha mesmo que ele tem co-
ragem de fugir e encarar Magog sozinho? – Jorge;
— Mas...
— Eu pessoalmente vou falar para Magog que Oto matou
Frock!
Honty toca novamente em Dalma, agora parecia não acei-
tar a energia, e a Iara não entendeu;
— Ela se recusa a curar pelo dom das Iaras!
Jorge não sabia se entendera certo, mas também não sabia
o que esperar de tudo isto;
Dalma ficou ao colchão de ar, as pessoas foram acordando,
mas ela estava ainda se recuperando;

349
29°
Magog estava a sofrer em sua caverna quando um espirito
chega perto e fala;
— Nossa deusa, noticias!
— O que aconteceu, aquele Gabriel não veio nos libertar!
— Desconfio que ele não nos quis mal nossa Deusa!
— Por que?
— Frock desceu a serra avisando do confronto como espe-
rado, passamos depois falando o que nos indicou, que não era
verdade, que aquele ser era um falso Frock, e como indagação de
Gabriel a maioria acreditou!
— Mas por que disse que Gabriel não nos queria mal?
— Não sei por que, mas algo tirou Oto, do serio, e ele ma-
tou Frock na madrugada!
— Mas Oto nunca conseguiria matar Frock!
— Todos nós pensamos isto!
— E como ele conseguiu?
— Gabriel estava lá, de alguma forma Frock não conseguiu
se apoderar da força de Oto, que o matou, mas logo após isto,
enquanto Oto ainda sorria, Gabriel nos facilitou a vida deusa!
— Facilitou? – Magog olhando serio o ser;
— Passou toda a responsabilidade de Frock para Oto!
Magog na forma de um espirito sem forma, toma a forma
de uma fêmea e fala;
— Mas as Iaras não interviram?
— Tentaram, mas parece que Frock estava tão fraco, que
nem o ser que o carregava sobreviveu!
Magog sorri tenebrosamente de fazer eco na grande caver-
na;

350
30°
Dalma se olha ainda na forma de um Laikans, depois para
Jorge a porta e fala;
— Acho que nem eu sei o que faço, Jorge!
— Por que daquilo?
Dalma estava franca, tenta se mexer, olha para seu corpo e
fala;
— Ninguém ... acreditaria – Dalma tosse baixo enquanto
Danilo entrava na barraca e a olha ao colchão, vê as marcas de
cortes na altura da cintura, a toda volta, parecia ter perfurado
fundo, olha para ela, queria ajudar, mas não sabia o que fazer,
chega perto e fala;
— Precisa de ajuda profissional!
— Se conseguir mudar de forma... – Dalma tosse de novo –
...aceito, antes não!
Danilo sai da barraca e olha em volta, era dia e vê os lobos
translúcidos aparecerem, as pessoas na outra margem do rio
começam a olhar, não pareciam querer esconder, sabia que algo
estava mudando, e vê o ser do dia anterior se erguer, o desviar e
entrar na barraca.
Jock olha para Jorge e pergunta;
— Quem se atreveu a tentar isto?
— Oto!
— Aquele covarde não morreu ainda?
Jorge não respondeu, viu o ser translucido tocar Dalma na
forma de um Laikans, sentiu suas forças fracas e olhou nos olhos
de Dalma e perguntou;
— Por que não reagiu?
— O peso não esta mais sobre os Laikans, podem ir agora,
Jock, não estava justo isto!
— Não disse que queria isto, não disse que não queria en-
frentar, disse que achava que não era Frock, não para entregar os
pontos!
— Não poderia reagir, se o fizesse não... – Dalma tosse e se
vê ela cuspir sangue ao lado – não poderia tirar o peso de vocês!
Jock a toca e pergunta;
351
— Por que esta querendo morrer?
— Cansei, — Dalma falava baixo – olha em volta – dá mais
um intervalo longo – quanta morte e somente os ratos ainda es-
tão no barco!
— Ainda estamos aqui!
— Não mais por obrigação! – Dalma;
Jock parece se perder nos pensamentos, volta a forma de
um lobo sobre as 4 patas e sai para fora da barraca.
Mortícia olha para Dalma e pergunta;
— Quer ir para casa?
Dalma sacudiu a cabeça negativamente e falou:
— Ponta da Pita! – Saiu baixo, quase sem força, Mortícia sai
pela porta, os lobos pareciam perdidos, mas olhou para longe e
olhou para Jock;
— Se não acreditou antes, por que ainda esta aqui?
O lobo olha nos olhos daquela moça, uiva e começam a su-
mir da vista, ela olha para Danilo e fala;
— Ela quer descansar ao mar!
As palavras pareceram tristes, Danilo olha para ela como
se não acreditasse na informação;
— Mas...
— Ainda não, mas se me ajudar, ela quer ir a ponta da Pita,
me ajudaria nisto?
— Sim!
Danilo liga para alguém, esperam ali uma hora e trinta mi-
nutos, e uma rapaz pareceu com a caminhonete de Danilo, com
dificuldade colocaram ela na cabine, as pessoas ao fundo não
olhavam mais, outras pessoas olhavam, mas não sabiam o que
pensar:
A tristeza foi subindo por onde Dalma desceu, enquanto a
caminhonete caminhava rumo a Ponta da Pita em Antonina;
A caminhonete para no fim daquele dia, na avenida beira
mar na ponta da pita, Danilo subiu na traseira de sua caminhone-
te e olhou para Jorge;
— Não acredito que vai desistir dela?
Jorge olha em volta e fala;
— Muitos nos olham Danilo, mas nada do que vê é o fim!
352
— Não entendi?
— Acha que fazemos o que aqui?
— Não sei!
— Acredite, não queria estar aqui, é um caminho sem volta
para ela, ela mesmo duvida disto, mas agora é a única forma de
ela se curar!
Danilo olha a ferida e pergunta;
— Acha que tem cura?
Jorge queria acreditar que tinha, mas seu rosto não parecia
convencer os que estavam a volta, começou a cair a noite, Mortí-
cia saiu da caminhonete, e na praia fez um circulo de conchas, de
perto de 2 metros de diâmetro, no centro fez outros dois círculos,
e sentou-se no meio do ultimo, não entendia muito disto, estava
partilhando as memorias das Iaras;
Jorge olhou para Danilo e falou:
— Agora tem de entrar no bar!
— Por que?
— Não quer morrer, ou quer?
— Mas...
— Rápido, tira seu pessoal para dentro, ela não iria querer
os ver mortos!
Danilo olhou para os demais e começaram a entrar no bar,
estavam dentro quando viram uma luz vir de dentro do mar,
como se uma parte do fundo da baia tivesse iluminada e come-
çasse a andar a beira, Jorge olhou para aquilo e entrou no bar,
Danilo entendeu que algo que nem o rapaz queria enfrentar viria
a beira, mas curiosos saíram para olhar aquilo, Danilo e Jorge se
olham, mas não teriam como evitar, o preço de saber que algo
assim aconteceria, e nada poder fazer;
Mortícia estava a cada hora somando mais conhecimentos
e vê uma leva de seres, com cabelos lisos, grossos, olharam para
ela, tinham homens e mulheres, a pele foi mudando ao secar, das
escamas para uma pele lisa, alguns ao mar ainda mantinham
suas nadadeiras, uma chega a frente de Mortícia e pergunta;
— O que quer macaquinha com cheiro de Iara?
— Estou oferecendo os que conseguir pegar, em troca de
uma única cura, rainha das Sereias!
353
— Sabe que qualquer cura, tem seu custo!
— Não tem mais o que se perder, rainha!
— Quem foi ferido mortalmente?
— Frock! – Fala Mortícia com uma lagrima aos olhos.
Os olhos da rainha se aguçaram e falou, outros cochicha-
vam as costas, olhou para os presentes e falou;
— Serão levados por estarem me vendo, pois Frock era dos
poucos guerreiros que as Sereias respeitavam, mas ele não pode-
rá mais nesta existência o ser!
— Ela o sabe!
— Veio em uma fêmea? – Esta pergunta era uma comum, e
que muitos indagavam.
— Sim!
A sereia olha para os seus e estes foram cercando alguns
que encantados começaram a entrar na agua, Jorge olha para os
que estavam no bar, saca a arma e fala;
— Todos para o fundo agora! – Dando um tiro para cima.
Danilo se assustou, mas era para que sobrevivessem, pelo
jeito os seres iriam revirar os locais, não queria que o achassem,
ele prendeu todos em uma peça mais atrás, Danilo e o pessoal
ficaram em uma sala ao lado, todos em silencio;
A rainha chega a caminhonete, olha Frock ao chão, olha os
ferimentos e olha para um dos seus e fala;
— Aquele Oto vai me pagar desta vez, se Magog vencer!
A sereia fala olhando para os seus;
— Ajudem a levar ela, vai precisar de um cuidado especial!
Mortícia viu os seres entrarem novamente ao mar, a praia
agora estava vazia, a rainha não falou nada, não lhe deu esperan-
ça ou algo para se agarrar, mas era o que esperava, mas uma la-
grima de duvida lhe veio ao rosto, vendo os seres entrando na
agua, o silencio da praia vazia, ouvia-se o pequeno choro tomar
Mortícia.
Jorge chega a ela e fala;
— Vamos, agora temos de sair daqui!
— Acha que ela sobrevive?
— Sabe que ela mesmo falou que terminaria aqui, não me
toquei na hora, mas sabe, ela fez isto de caso pensado!
354
Mortícia enxugou as lagrimas e entrou no fundo da cami-
nhonete, que saiu dali, as pessoas arrombaram a porta, mas
quando viram tudo vazio, não imaginavam que a informação do
dia seguinte seria o sumiço de mais de 120 pessoas na praia da
Ponta da Pita.

355
31°
Dalma acorda e olha para suas mãos, estava mais uma vez
na forma humana, quer dizer, olhou suas pernas e viu que estava
com uma bela calda de sereia, mas olhou a altura de seu peito e
viu que parecia refeito, não tinha noção de quanto tempo passara
ali, estava em meio a uma caverna, a luz azulada a toda volta.
Viu uma moça entrar nadando e lhe olhar;
— Como esta?
— Bem, quanto tempo desacordei?
— Pouco, mas – o ser olhou para ela – Não poderá mais
voltar ao convívio dos seus!
Dalma não contestou, olhou aquela moça, esperando que
ela falasse;
— Todos aqui me devem a vida, então todos que me devem
a vida, é isto que perdera se for para longe de nosso reino!
— Então não pegou nenhum pagamento por minha cura?
A moça olhou serio, não respondeu, mas Dalma soube que
não era prisioneira, apenas era para manter os segredos das se-
reias nos mares, não para fora deles;
— Qual será minha função?
A moça sorriu, alguém disposta a trabalhar, mas ela olhou
para Dalma e perguntou;
— Lembra de algo?
— Rainha Glup, não falo sobre o que não lembro!
A rainha sorriu;
— Então lembra, sabe que nunca mais será o ser que era,
Frock?
— Sei, me cansei de ver os fracos vivendo e os fortes defi-
nhando, por isto desisti!
— Não reagiu?
— Rainha, eu a mais tempo do que lembro, defendo os se-
res, os julgo quando atacado por Magog, mas quem morre são os
que guerreiam por uma ideias, os fracos continuam fugindo, co-
mo Oto, os Laikans se sacrificam toda vez, Gog nunca se apresen-
ta, cansei, não quero mais salvar ninguém, e assim livro meus

356
irmãos de terem de me proteger, melhor viver uma vida como
Sereia do que continuar a carregar este peso!
— Nunca pensei que desistiria!
— E o que ganhei sendo teimoso? – Dalma estava com
memorias que não entendia, as estava administrando, era falar e
suas memorias estavam surgindo, como se com as afirmações
viessem as imagens do que vivera;
— Sabe que Oto esta encrencado?
— Não tenho pena de fracos!
Este era um tapa na rainha, ela também se escondera, Ma-
gog nunca teria sido tão forte se os seres não se acomodassem
em suas falsas crenças, crenças para não brigar, e deixar com ela
o peso da briga.
A rainha apontou uma função que nada fazia, viu naqueles
dias que embora com o poder da cura, usavam isto apenas para
manterem a vida na comodidade e saúde, nada mais que isto.

357
32°
Jorge olha para Mortícia e pergunta:
— Nunca soube de alguém que voltou!
— Ela não quer o caminho fácil, não sou como ela, mas pa-
rece estar construindo a memoria que precisa!
— Estou preparando o pessoal, mas sabe, sem ela não va-
mos ter muita chance!
— Sinto a força de Magog cada vez mais forte!
— Quanto tempo?
— Acho que vai demorar ainda, uns anos, mas sem Dalma
este lugar esta vazio, parece faltar algo!
Jorge ouvindo isto deixa uma lagrima lhe correr o rosto,
não queria mostrar-se triste mas Mortícia olhando fala;
— Agora teremos de ter calma!

358
33°
Dalma surge na Ponta da Pita, em Antonina, olha a volta,
sente o esforço do nado até ali, noite de lua cheia, visível, alguns
olham ela saindo nua da praia, caminha calmamente até um ra-
paz, olha em seus olhos, não fala, mas todos veem ele tirar a ca-
misa e lhe dar, ela ajeitou a camisa, e começa a se afastar do local,
caminhando, sabia que teria um dia inteiro de caminhada.
Calmamente ela pega a estrada de volta, olha para o porto,
quando passa por ele, sentindo as coisas diferentes, ficou pen-
sando no que aconteceu a pouco, que não precisou emitir som
para o rapaz fazer o que queria que ele fizesse, olha para seus
pés, estavam doendo de andar descalça, olha em volta, vê dois
sapatos velhos em um lixo próximo a Ferroviária velha, calça
com calma, estava a um bom caminho de casa, mas não sabia se
queria chegar lá, ou apenas se perder no caminho, sua mente
estava confusa, parte das informações de seu passado pareciam
ter sumido, algumas pessoas lhe pareciam a mente, mas não
lembrava de quem era exatamente, mas tinha o caminho de volta
em sua mente, ela olhou a estrada, não lembrava dela em sua
memoria, talvez nunca tivesse passado por ali, mas a placa indi-
cava Curitiba a frente, então ela iria por ali, sabia o nome de seu
destino, procurando algo a beira daquela estrada que ela lem-
brasse.
Dalma caminhava agora com um sapato que lhe doía o pé,
algo lhe dizia que aquele caminho era o certo, quando chegou
mais a frente, e viu uma estrada se abrir a direita da pista, ela
optou por aquele caminho, cheio de curvas, com um acostamento
bem pequeno em certos trechos, estava caminhando por aquela
estrada, quando num ponto, viu o sol iluminar as montanhas ao
fundo, seus olhos foram em uma pedra em si, achou ver um 7 e
por poucos segundos ele brilhar.
Algo a atraia a aquele lugar, a manha vinha brilhosa, Dalma
sente a energia lhe chamando a aquele monte, não lembrava
quem era, estanhava tudo a volta, olha para seus pés, doíam na-
quele sapato, sentou-se e tirou o calçado, a dor era grande, fez ela
querer com muita força que a dor se fosse, viu seus pés mudarem
359
de forma, olha em volta, viu seu corpo ir para a aparência de um
lobo. Estranha, para a beira da estrada vendo os carros passa-
rem, alguns apontarem para ela como aquele lobo que se posta-
va a beira da estrada, olha para a montanha ao fundo, e entra no
mato, correndo pelo mesmo, estranha como conseguia identificar
as coisas, como sentido e os cheiros lhe avisavam até dos perigos,
para a beira de outra estrada, sem a ideia que correra mais de
duas horas pela mata, olha outra estrada, olha a montanha ao
fundo.
Como loba, olha para aquela montanha sem saber como
chegaria lá, começa a contornar a grande montanha, até chegar
ao grande 7, andou o dia inteiro, viu o dia acabar, mesmo andan-
do rápido, sentiu cansaço, se enleou sobre seu corpo, e dormiu,
estava com fome e frio quando adormeceu aos pés do grande 7
marcado a rocha.
Na forma de uma Loba, Dalma acorda na montanha com os
primeiros raios de sol, sentiu fome, correu atrás de um coelho,
entre comer por fome, e olhar para seu estado, sem memoria,
Dalma tenta achar referencias, mas parecia que sua memoria não
lhe mostrava como uma loba, embora tivera a noite lembranças
de uma batalha travada onde via suas garras cortarem outros,
mas não era aquela pata, era algo mais para um gato.
Com calma olhou para cima, identificando onde estava, e
com calma começou a subir, pulando de uma pedra a outra, sen-
tiu o cheiro em uma fenda, um cheiro que lhe pareceu conhecido,
e entrou por ali, como se fosse atrás de suas memorias.
Dalma olha a escuridão tomar o lugar, sua visão em preto e
tons de cinza dava para ver longe, naquela caverna, começa a
caminhar, toma agua em um riacho que parece correr por dentro
da terra naquele ponto.
Caminhava calmamente quando viu uma leva de Lobos
como ela, mas translúcidos a lhe cercar, não entendeu, pareciam
espíritos, muita confusão em sua mente.
— Esta área não é permitida a lobos! – Um imenso lobo
que Dalma não reconheceu.
— E por que estão aqui então? – Dalma;
O ser sentiu o cheiro ao ar e perguntou:
360
— Quem vem com você? – O grande ser olha para os lados,
os demais procuravam algo, Dalma não entendeu e falou;
— Venho sozinha!
— E este cheiro de traidores!
— Não sei quem poderia ser traidor, se não sei nem quem
sou! – Dalma.
— Como não sabe quem é? – O ser olhando para Dalma, o
ser havia percebido que o cheiro vinha dela.
— Não sei, andava pela estrada, sem saber quem era,
quando não aguentando mais as dores nos pés, sentei—me e vi
meu corpo vir a esta forma, sei que meu cheiro esta ruim, pareço
cheirar a peixe, odeio este som, mas algo me atraiu para cá, achei
que aqui iria achar as respostas!
— Se lobos são odiados aqui, sereias mais ainda! – Outro
gritou;
— Quem dera fosse um ou outro, mas se não sou bem quis-
ta por aqui, peço apenas permissão passar!
— Autorizo a sua passagem, mas não volte!
— Por que voltaria para onde não sou bem quista? – Dalma
olhando os seres;
O ser não respondeu, abriram caminho e viram a loba pas-
sar por eles e Jock fala;
— Sigam a loba, descubram quem é!
Os espíritos ficaram mais ao longe, mas para Dalma, era fá-
cil os ver mesmo no claro, imagina naquela escuridão que qual-
quer luz parecia chamar atenção;
Dalma chega a caverna que continha uma grande parte
central e vê uma moça translucida a olhar os seus mortos, olha
para a loba e pergunta;
— Quem vem a mim?
Dalma não respondeu, e ouviu;
— Apenas um lobo, as vezes esqueço que este planeta é vi-
vo!
A forma de uma loba lhe permitiu passar ao lado da moça,
que parecia recolher corpos, olhava aqueles restos e vê a moça
olhar um por um, dar um toque em sua testa, o ser acordar, mas
estavam ao chão milhares deles, esperando algo, poucos estavam
361
de pé, estava quase saindo da caverna quando ouve a moça falar
de novo;
— O que fazem aqui?
Dalma olha ao longe e vê os lobos olharem para a moça e
falarem;
— Apenas cumprindo o nosso destino!
— Vieram nos atacar de novo?
Dalma vê o ser se mutar, ficar maior;
— Não, apenas seguindo uma loba a pedido de Jock?
— Passou uma a pouco, mas o que querem com uma loba?
— Aquele ser pelo jeito fugiu das sereias, cheira a sereias,
anda sem saber quem é!
Dalma não sabia quem era, mas ouve a moça cheirar o ar e
falar;
— Pelo menos não tem mais o cheiro de Frock, Dalma! –
Fala alto, a loba fica pensando em quem era Dalma, um dos
Laikans volta a avisar Jock, e outro olha para Magog e pergunta;
— Esta dizendo que aquele lobo era aquela humana, dizem
que ela morreu!
— Dizem que mataram Frock, o ser pode ter sobrevivido,
mas sem memoria, é algo a pensar, a me recompor rápido, para
enfrentar as novas batalhas, já que Jock, seu líder foi um estupido
e não ouviu a única que poderia me deter! – Magog gargalhou,
enquanto a loba sai a correr pela montanha, olhando a cidade ao
fundo, mas queria saber quem era, não tinha ideia.
Como loba seguiu uma estrada, os humanos olharam aque-
le lobo entrando na cidade em pleno dia, um cão um pouco mai-
or, Piraquara, a moça achou conhecer aquele lugar;
Caminhava calmamente quando viu uma leva de humanos
a cercando, via policiais e uma rapaz com uma haste metálica e
uma corda na ponta, estava recuando quando viu que os huma-
nos pararam, não entendeu, não antes de ver os lobos translúci-
dos passarem por ela e olharem para os policiais.
Jock olha para Dalma, esta não lembrava dele, estivera a
sua frente e não falara nada;
— Pensei que nunca veria este olhar em você! – Jock.

362
Dalma estava recuando com medo dos seres, disto que Jock
estava falando, os policiais recuaram, as pessoas olhavam a rua,
mas não sabiam ainda o que pensar.
— Quem é você? – Dalma;
— Alguém que a chamou de traidora, lembra de a pouco?
— Sim, mas disse para me afastar, mas esta aqui, por que?
O olhar perdido de Dalma fez Jock se arrepender de pala-
vras do seu passado, sabia que Frock estava a muito nesta bata-
lha, antes mesmo deles existirem, mas parecia muito frágil neste
instante;
— Me enganei, achei que já sabia quem era, mas esqueço
que as artimanhas de Magog, poderiam lhe tirar a verdade, para
poder lhe matar!
O policial olha para os demais e fala;
— Ele falou a palavra com M!
Os rádios da policia passavam a frente, que um ser translu-
cido falara no centro de Piraquara a palavra com M;
Jorge fica sabendo quase que automaticamente isto, e pega
um helicóptero no topo de seu prédio, para ir a Piraquara;
Os lobos cercavam a moça, enquanto Dalma falava com
Jock, e em meio a isto Danilo recebe uma ligação, e anda as duas
quadras no sentido da 15 de Novembro, olha o agito e vê aquela
loba ao centro, e os seres translúcidos;
— Dalma? – Pergunta Danilo chegando perto, não olhava
para os Laikans, achava que eles não o atacariam, o sorriso de
Jock referente a isto estabeleceu que era quem pensavam;
— Não lembro quem sou! – A loba falando, o som de um
lobo falando não era algo normal, o policial começa a afastar os
curiosos, e quando Danilo pegou sua blusa e colocou sobre a lo-
ba, viu a mesma sentindo-se protegida voltar a forma de uma
moça, isto no centro da pequena cidade, com curiosos por todos
os lados.
Um dos rapazes pergunta ao policial;
— Quem é a moça?
— A bruxa de Piraquara! – Falou outro respondendo;
Danilo viu o helicóptero descer e Jorge chegar a eles e
olhar para Jock;
363
— Onde ela estava?
— Surgiu na caverna do Sete, Gabriel, mas cheira a traido-
res!
— Sei disto, mas não tinha saída! – Jorge;
— Não entendi? – Jock;
— Jock, acorda, nem os anjos querem o fim dos tempos!
Jock olha para a moça e pergunta;
— A mandou as sereias, enquanto os demais achavam que
ela estava morta?
Jorge não respondeu a pergunta;
— Magog a viu?
— Sim, ela atravessou como uma loba ao lado dela!
— Tudo para a esconder e ela já sabe que não deu certo!
— Ela disse que ela não cheira mais a Frock! – Jock.
— O que ela pode cheirar, Frock nunca conseguiu aliar as
forças nem as Iaras e nem as Sereias, sabe bem disto!
— Mas por que ela arriscou tudo?
— Para forçar algo que desconheço, mas acho que ela vai
demorar para retomar totalmente a memoria, temos de cuidar
dela, Jock!
Os lobos começaram a se retirar, mas Jorge olha para o de-
legado e fala;
— Obrigado por me avisar!
Jorge com a ajuda de Danilo, a levam para casa;

364
34°
Os dias avançaram, fazia 18 dias que Mortícia havia visto
as sereias levarem o corpo de Frock quando vê um rosto a porta
a olhando, o sorriso veio aos lábios, e sem falar nada, a abraçou,
as duas sentaram-se e começaram a conversar, Dalma estava de
volta, confusa, não conseguia falar o que aconteceu, não sabia
nem como havia chego ali, mas Mortícia sorriu, mesmo com os
desafios, Jorge se pôs a disposição, e muito trabalho deveria co-
meçar a partir deste momento.

Vamos à parte final da Aventura

365
366
367
Magog 4
J.J.Gremmelmaier

368
-3
A 6 meses que Dalma estava estranha, não falava como es-
capara do reino das sereias, parecia não lembrar, ela parecia
inteira, mas ao mesmo tempo, cheia de segredos, ou buracos em
sua memoria, novamente afastou Jorge.
Mortícia olhava por ela, mas mesmo sem o passado, pare-
cia que um vazio estava no peito da moça, a estória de ser a bru-
xa de Piraquara se espalhava, mas ela ainda estava distante.
A ausência dos gatos a volta mostravam que algo não esta-
va certo, mas como Dalma não falava sobre o assunto, Mortícia as
vezes sentia-se perdida em meio as entrevistas, pois não tinha o
dom para aquilo, e com Dalma cada vez mais distante, parecia
que algo estava faltando.
Era um sábado, quando Mortícia em meio a uma cliente
destas normais, olha para Dalma, ela senta-se e parece ficar páli-
da.
Mortícia demorou um pouco para por a cliente para fora;
— O que aconteceu Dalma?
— Não sei, estou cada vez mais fraca!
— De fraca não tem nada, mas parece branca!
Dalma olha para Mortícia e fala;
— Sinal que posso não aguentar até o próximo ataque de
Magog! – A frase parecei despertar surpresa em Mortícia.
— Por que, estava forte até agora a pouco!
Mortícia vê que Dalma estava quente, mesmo pálida pare-
cia pegando fogo, estranhou e perguntou serio, precisava saber;
— O que aconteceu? – A frase em tom impositivo mostrava
que não estava feliz com aquilo;
— Achei que chegava mais longe, Mortícia!
— Mas o que esta acontecendo?
— Estou a seis meses tentando recuperar dados que não
tenho, os gatos e cães estão longe, pois para uns cheiro a medo,
para outros, ainda a uma traidora, mas ainda não tenho toda a
memoria que precisaria para enfrentar Magog, as vezes duvido
até que tive infância Mortícia, sei que afastei Jorge, mas frágil não
quero ele por perto. – Dalma da uma pausa, olha para as mãos,
369
brancas, fervendo, olha para Mortícia — Sabe que fugi de algo, ou
acha mesmo que as Sereias deixam alguém escapar assim?
— Sei que fugiu, mas não me parecia com a praga!
Dalma sorriu e perguntou;
— Como posso eu, enfrentar o universo, e ao mesmo tem-
po, perder para uma praga, perder para minhas memorias?
— Não sei do que esta falando?
— Mortícia, como posso eu ter enfrentado tudo o que en-
frentei, tudo o que me contou que fiz, fazendo como você disse, o
que achava que devia fazer, acabar em uma maldição que não me
permite agir!
— Nunca entendi aquilo!
— Sentimentos e formas de sentir das Iaras, sei que o pró-
ximo ataque vem pelo litoral, subindo as montanhas, derrubando
tudo pela frente, não sei o que é capaz de fazer isto, mas é o que
esta nos sentimentos das Iaras, elas não descem a serra de jeito
nenhum!
— Então foi para lá para deixar lá a maldição?
— Não, a ideia era ter aliados, mas subestimei as minhas
forças, achei que conseguiria sair disto sem precisar chegar as
Sereias, eu indiquei o caminho, mas não queria precisar!
— Mas o que esta sentindo?
— Terei de voltar, mas estarei por perto Mortícia!
Mortícia entendeu que ela precisava voltar ao reino das se-
reias, não sabia o que seria dela, mas entendeu que ela tentaria
chegar viva ao confronto, fosse onde estivesse, mas tentaria.
Dalma no fim daquele dia, pega o carro e desce a serra,
mesmo Mortícia ligando e avisando Jorge, este não tinha o que
fazer, pois Dalma não dividira com eles os acontecimentos.
Dalma pega o carro e se direciona ao litoral, para o carro
na praia da Pita em Antonina, as pessoas não olhavam para ela,
um ou outro, mas quando ela começou a entrar na agua, naquele
dia nublado alguns estranharam, pois ela estava com roupas
normais.
Dalma foi entrando, sentiu quando a altura lhe permitiu
deixar ali suas roupas a flutuar, olhou para sua grande nadadeira
se formar e começou a nadar no sentido do meio da baia.
370
Dalma a 6 meses havia escapado dali, em uma coleta de
moluscos, estava tão calma que os demais nem desconfiaram que
ela pudesse querer escapar, nem ela naquele momento sabia do
que estava fugindo, sem memoria, mas algo lhe chamava na ser-
ra, e assim como escapou, olhou para aquele imenso ponto escu-
ro no meio da baia, que era um buraco único, de mais de 6 me-
tros de diâmetro, que descia mais de 50 metros, começou a des-
cer, e quando chega ao local, olha para os poucos que estavam ali
e pergunta a um rapaz;
— Onde foram todos?
O rapaz que fazia a segurança a aponta um instrumento
pontudo e fala;
— A fujona voltou?
Dalma ficou esperando a resposta a sua pergunta;
— Assim que escapou foram com a maioria para a parte
mais funda, não arriscamos os nossos!
— Então é verdade, as sereias e tritões hoje são uns covar-
des que fogem antes de enfrentar!
O rapaz olha com raiva para ela;
— Menti para ter sua raiva? – Dalma.
— Defendemos os nossos, não entende o que é isto, nunca
foi como a gente!
— Não tive opção de escolha, nasci sem saber quem era,
mas com certeza, não fugi a briga!
— Por que voltou então?
— Sua líder sabia que eu retornaria, qualquer um sabia,
qual a duvida? Alguém sem memorias do passado, alguém com
uma praga na carne, que alternativa eu teria!
— O que falou referente a nós?
— Deve ter milhões de pessoas procurando a prova da
existência de vocês! Mas não por que eu apareci ou falei demais!
— Mas vocês sempre falam!
— Vocês não entendem de nós, nem sabem o caminho que
trilhei, como podem me julgar!
— Mas a regra diz que uma vez que alguém escapa, a líder
pega as guerreiras e entra o mais fundo possível por pelo menos
100 anos!
371
— E vocês, ficam como?
— Quem ficou foram apenas seres que foram trazidos na-
quele dia! – O rapaz olha para ela vendo que falara demais.
Dalma sorriu e falou;
— E sua líder ainda teve coragem – Dalma olhando em vol-
ta mais de 100 pessoas – De me amaldiçoar, e acha que eu que
sou o perigo!
Dalma caminha entre os demais, estavam felizes, mas esta-
vam em meio a uma guerra que poderia os matar a todos, olha
para uma moça a colher conchas e pergunta;
— Bom dia, como é seu nome?
— Rosa!
— Como estão as coisas?
— Não sei como estão, não lembro de muita coisa, mas es-
tamos felizes, pois a rainha nos deu a liberdade de colher e co-
mer nas suas terras enquanto ela viaja!
Dalma sorri novamente, algo estava dizendo para ela que
tinha de retornar, olha para o rapaz e pergunta;
— Quantos seguranças ficaram?
— 4, por que quer saber?
— Quem é o mais velho presente?
— O que quer moça?
— Quem?
— Sou eu, mas por que quer saber!
— Lhe desafio a um confronto pela liderança dos que fica-
ram!
O rapaz sorriu, pensou que era uma brincadeira;
— Esta brincando, fala sério!
— Pareço brincando rapaz?
Um outro que ouviu de longe falou:
— Glupo, não tem como recusar!
O rapaz olhou para Dalma, pensou o que ela queria com is-
to, sabia que se perdesse a rainha iria o esfolar, mas como perde-
ria; O rapaz que chegara depois, de nome Gloma, olhou para os
demais e falou;
— Arrumem a praça central, teremos um desafio hoje!

372
Dalma viu os demais pararem o que estavam falando, se
ouviu o rapaz tocar um instrumento, o som que saiu era parecido
com o som que ela aprendera a emitir para falar embaixo da
agua, com os demais;
Na praça central Dalma se apresentou e o rapaz apareceu
com sua arma, ela não tinha mais nada do seu poder anterior,
mas queria se livrar de parte do peso, mas ainda estava na duvi-
da se esta era a saída;
O rapaz avançou com a haste pontuda que fazia a proteção
dos que colhiam mariscos, olha para Dalma calma, viu que ela
não reagiu, a perfurou, Dalma olha o seu sangue e pega na haste,
o rapaz se assustou, pois fora rápido, mortal, viu os olhos da mo-
ça escurecerem, mudando de cor, o sangue foi ao mar, tomando a
região, ficando uma grande mancha a volta dela, que olha para o
rapaz recuando, sentou—se ao chão e sorriu, o rapaz não enten-
deu o sorriso, mas os demais viram ela perder a nadadeira, olhar
para os demais e falar;
— Calma, ainda não acabou! – O sangue se estanca e Dalma
olha para o ferimento se fechando, sua cabeça volta com tantas
informações naquele segundo, que teve de se concentrar, para
poder voltar a luta: - O rapaz olhou para Dalma na forma huma-
na, estavam a mais de 200 metros de profundidade, ela não so-
breviveria segundos ali pensou ele, mas Dalva continua olhando
para ele como se estivesse esperando ele novamente avançar.
O rapaz avança, ela segura a haste e empurra ele para lon-
ge;
O rapaz tentou mais de 20 vezes, quando Dalma lhe deu
um direto de esquerda e o mesmo caiu para traz desacordado;

373
-2
O desafio havia acabado, mas ela ganhou na forma huma-
na, somente depois de ganhar que os demais viram sua grande
nadadeira voltar e os demais olham para ela, e Gloma pergunta;
— O que pretende com isto?
— Agora me confirma uma coisa, Gloma!
— Pergunte?
— Quem responde a Rainha, a partir de agora referente a
vocês?
— Você!
— Então reúne o pessoal, vamos mudar as coisas enquanto
a rainha se esconde!
— Não entendi?
— Acha mesmo que eu fujo de Magog?
O rapaz deu um passo atrás, e perguntou;
— Você quer a enfrentar?
— Sei que vocês não estão aqui para isto, mas sei também
que a rainha deixou estes seres para traz, para aparentar que
ainda existem Sereias aqui, um pretexto para Magog não a procu-
rar, então esta deixando todos eles a morte, me corrija se estou
errada?
— São macacos transformados, por que ela se preocuparia!
— Eu sou uma macaca transformada, pois quando fui tra-
zida para cá não era mais que isto! — Fala Dalma pensando que
se ela se apoderara de tantos a praia, não existia o porquê a
amaldiçoar, a não ser que a rainha já tivesse um acordo de não
agressão com Magog, e olha as pessoas ali, era a doação a Magog
para lhe deixar livre, começava a sentir a realidade, o rapaz olha
para ela;
— Mas não podemos deixar isto acontecer! — Um dos se-
guranças;
Dalma olha para uma moça atrás e pergunta.
— Quanto já armazenaram de provisões?
— Os estoques estão cheios!

374
— Reúne o pessoal, vamos conversar serio! – Fala Dalma
serio, e a moça foi falar com o pessoal enquanto o rapaz ao chão
acordava assustado.
Dalma pensou em treinar e fazer as pessoas se prepararem
para um enfrentamento, os soldados não gostariam daquilo, mas
se a regra dizia que quem vencesse o segurança máximo impera-
ria sobre os demais na ausência da rainha, eles seguiriam.
Dalma olhava com calma o que eles fariam, sente seu corpo
e sabe que em parte estava livre da praga, algo muito normal
entre os seres que se denominavam de herdeiros das sereias
iniciais, uma espécie com mais de 60 mil anos de estórias, que
sobrevivia em regras tão estreitas, e uma delas, a de infectar todo
o ser que viesse a conhecer seu povo, com uma virose, eles cha-
mavam de praga, Dalma nem lembra o momento que aplicaram
isto nela, mas sabia por ter estudado muito com Mortícia que era
uma forma das Sereias manterem o segredo, mas neste momento
ela sentia como se seu corpo ao ser atingido pelo segurança, e
sangrado, lhe renovara a vida, algo que ela não entendia ainda
como funcionava, lembra que lhe deram um liquido estranho por
dias para tomar, ela lembra da primeira vez que viu sua calda se
formar, e conseguiu respirar normalmente naquela profundida-
de.
Mas o momento mandava ficar atenta, ela queria ensinar
os demais como sobreviver, e não como morrer.
Uma moça chega a ela e pergunta;
— Por que quer desafiar o perfeito?
— Como é seu nome moça? – Dalma;
— Floct!
— E antes de vir parar aqui, qual era seu nome?
— Não lembro de muita coisa, mas me chamavam de Carla!
— Carla, não tem saudade de sua família?
A moça olha em volta e pergunta serio;
— Mas por que não acha que eles são sua família?
Dalma olha os seguranças e fala;
— Por que minha família morreu, antes mesmo de vir para
cá, eu não vou substituir os meus antigos pais, avós, pois os devo

375
minha vida, e todo o respeito de terem me criado, não posso que-
rer ser alguém renegando meu passado!
A moça olha para ela e pergunta;
— Mas dizem ser mortal nos afastarmos!
— Nisto eles tem razão Carla, faz parte da cultura das Se-
reias, infectar os seus, desde pequeno com uma bactéria inofen-
siva para seres da agua, mas mortal se não na agua!
— Acha que mesmo assim não devemos esquecer eles?
— Esquecer, como podemos saber quem somos se esque-
cemos quem fomos!
— Dizem que você fugiu, por que voltou?
— Para não morrer, por que mais!
— Mas agora os seguranças falam que você quer falar com
todos!
Dalma apenas concordou com a cabeça;

376
-1
Dalma observava as pessoas chegando de suas colheitas,
ou de suas obrigações diárias, tudo girando em torno de obriga-
ções predeterminadas, não era para ser algo diferente, apenas o
dia a dia pela eternidade que era a vida de uma sereia comparada
ao dos humanos, mais de 900 anos, uma eternidade para se fazer
apenas uma função.
A moça vê uma porção de pessoas a sua volta, estavam ali
para a ouvir, o segurança olha para os demais e fala;
— Pelas regras da rainha, a moça Dalma, a que se recusou
a um nome local, nos lidera até a volta da Rainha!
Dalma ouve um burburinho geral, olha para os seguranças,
e fala;
— Alguns me perguntam por que estou aqui? – Olha as
pessoas aos olhos — por que sou teimosa, e não concordo em
lhes dar de mãos beijadas, a Magog, alguns não sabem o que é
Magog, mas segundo alguns, é um ser que coleta almas, para so-
breviver o máximo de tempo possível, alguns dizem, que ele cole-
ta para Deus, mas não vejo assim, pois já vi almas que ela co-
manda, sem vontade própria, com medo e principalmente, não
estão na casa de Deus, e sim a serviço de alguém!
— O que temos haver com isto? – Carla;
— A rainha os deixou aqui para que Magog ache que fez
uma coleta de Sereias!
Um burburinho se fez e a moça pergunta:
— Por que esta nos jogando contra a rainha!
Dalma olhou para o segurança, e para a moça e falou;
— Não estou jogando ninguém contra ninguém, eu estou
aqui para propor os ensinar a se defender, se não querem apren-
der, tudo bem, eu lavo minhas mãos e sigo meu caminho!
Glupo olha para Dalma e pergunta:
— Quem é você para querer ensinar algo aos seres das
aguas, os descendentes das Sereias, os seres das aguas!
Dalma deixa sua calda sumir, põem os pés no fundo, olha
para o segurança, para os demais, que veem ela tomar a forma de
um lobo, com o rosto de uma caveira e fala;
377
— Quando eu souber quem sou, esta estória estará acaba-
da, mas posso lhe garantir, Glupo, enfrentaria nesta forma todos
os seguranças e duvido, que um só de vocês – Dalma põem as
garras para fora – Estaria aqui para contar a estória!
Gloma olha para Dalma e fala:
— Mas a rainha nos afirmou que os Otato tinham derrota-
do Frock!
— Como falo sempre, não sei quem sou, Gloma, o que sei é
que o Rei Oto ao enfrentar e tentar me matar, chegou bem perto
disto, vocês sabem disto mais que os demais, me viram a beira da
morte, vim aqui pois precisava que o corpo se recuperasse, mas
todos sempre me disseram que uma vez uma sereia, nunca mais
seria o que fui antes, mas não é assim que sinto, eu aqui, é Magog
sobre este povo, por isto não estou mentindo quando falo que
Magog vem sobre eles, você sabe disto também, a pergunta é –
fala olhando os demais, que eram seres do mar a muito pouco
tempo – se querem tentar sobreviver ou querem apenas morrer!
Carla vê Dalma voltar a forma de uma sereia e pergunta:
— Mas o que seria este ser, Frock, que o segurança recuou
ao ver?
— O líder dos Laikans, este é o exercito que geralmente en-
frenta Magog em defesa das almas!
— E você é líder de um grande exercito de Lobos, que são
odiados e são proibidos nestas terras, o que quer? – Glupo.
— Se eu soubesse quem sou não estaria aqui!

378
- 1/2
Dalma estava a 30 dias ensinando e preparando aquelas
pessoas quando se despede e sai rumo a praia, não teria como
sair assim sem chamar atenção, espera a noite, lua nova, sai nua
pela praia, muda de forma para um lobo e se esgueira pela mata
no sentido da cidade de Morretes, saindo de Antonina.
Em uma casa acha um varal com roupas para fora, pega al-
gumas peças com o cachorro da casa latindo desesperado, ela
apenas olha para o cão e seus olhos brilham, o cão ganiu fino e
saiu com o rabo entre as pernas.
Dalma se veste e começa uma caminhada que durou mais
de 12 horas, mas quando bate a porta de Mortícia ao meio dia de
uma sexta esta sorri e pergunta:
— Estava preocupada, como esta?
— Pronta para tentar trazer os lobos para nosso lado no-
vamente!
— Sabe que estranho como os gatos sumiram, eram parte
desta casa!
Dalma sorri e foi dormir, estava cansada, mesmo ela as ve-
zes tinha de se recompor um pouco.
Dalma dorme como a dias não dormia, acorda com um ba-
rulho a cozinha, toma um banho e vai aos desafios;
Olha para aqueles olhos a cozinha e pergunta:
— O que faz aqui Jorge, ainda não liguei!
— Quer que vá embora?
— Não, mas sabe que ainda não estou aqui como devo, e
não sei se entendeu o que aconteceu?
— Desconfio, mas poderia me confirmar!
— Eu coloquei os Otatos na briga, mas eles não são a favor
dos humanos, então temos de levantar as proteções para estes!
— E foi onde?
— Alimentar a oposição!
— Não entendi?
— Quando for a hora entendera, mas ainda não é hora de
ficarmos ao lado um do outro, sabe que não estou pronta, ou
quer perder esta batalha!
379
Jorge fora ali por que estava preocupado e Dalma o estava
colocando para fora mais uma vez, não gostou mas concordou
com a cabeça, saiu pela porta com Mortícia olhando para Dalma,
não entendia esta posição;
Jorge sai pela porta e Dalma pergunta;
— O que aconteceu enquanto estava longe?
— Desconfio que ela esta se mexendo, sinto a energia mais
próxima, acho que esta voltando a fazenda dos Moreira!
— Por que ela voltaria para lá?
— Algo haver com as nascentes do Iguaçu, nunca entendi
por que, mas você a deteve na tentativa de obter um corpo, então
acho que ela vai tentar pela energia!
Dalma olha para ela e fala;
— Acha que quanto tempo Mortícia?
— Ainda não entendo esta forma de sentir, você me trans-
formou em algo especial, mas não falamos disto ainda!
— Mortícia, preciso de seres a tomar posição, mas ainda
não começamos e nem falamos!
— E quando vamos falar?
— Quanto tempo acha que ela estará com força máxima?
— Mais um ano, se nada a proibir!
Dalma senta-se a sala, que era conjugada a cozinha e puxa
a caixa onde guardava o olho, Mortícia vê Dalma abrir a caixa e
olhar serio para ela;
— Este é um problema ou um aliado Mortícia?
— Um problema com certeza!
— Acho que não é como pensamos, mas algo me diz —
Dalma larga a pedra a mesa, levanta com calma, vai a cozinha,
pega um martelo de carne e volta ao lugar, olha para Mortícia
que vê a mão de Dalma mudar de tamanho e ela acertar com for-
ça o olho – que este era um problema eterno, ou um caminho que
não podemos deixar aberto! – Mortícia olha os restos da pedra a
mesa, Dalma martelou aquilo até ficar uma pequena areia azula-
da na mesa, a areia brilhava, Dalma pega um pote de plástico, e
coloca os restos daquela areia no mesmo, com todo cuidado.
— O que pretende com isto? – Mortícia.

380
— As vezes vocês esquecem que não sei as respostas, não é
por estar na aparência de quem deveria saber que o sei!
— Mas é obvio que tem algo em mente?
— Sim, alertei parte das energias, agora vamos unir forças,
e provavelmente quando tudo começar, mesmo nos precavendo
ao máximo vamos parecer indefesos!
— Você não me parece indefesa! – Mortícia com um sorriso
ao rosto, aquela senhora estava com um sorrido diante ao espe-
lho nos últimos dias, mas não a frente dos demais.
— Por isto esta na hora de eu e você caminharmos, não
apenas eu desta vez!
Mortícia olha para Dalma e pergunta;
— Quanto?
— Uns 120 quilômetros deve ser suficiente!
Mortícia olha para Dalma, não entendera ainda o que tinha
de fazer, mas era obvio que não era apenas uma aventura de cri-
ança, aquela moça a sua frente estava a cada hora ficando mais
forte, mas não dava para analisar ela pela aparência, e sim, pela
energia que dispendia a cada ato;

381
- 1/3
Numa manha normal as duas começam a andar primeiro
no sentido Leste, no contorno leste da cidade pegam no sentido
sul, e depois de algumas horas Mortícia olha para Dalma, cami-
nhavam a mais de 4 horas.
— Não vai parar nem para descansar?
— Olha e sente onde estamos Mortícia!
Mortícia olha em volta e fala irritada;
— Na beira de uma rodovia, sem agua, sem objetivo, sem
nada para se fazer!
Dalma sorri e fala;
— Viu, sabe bem onde estamos! – Com sua pequena mochi-
la continua a andar, Mortícia fica parada e grita. – Mas o que quer
dizer com isto?
— Que não estamos no lugar que devemos, pois nele deve
ter agua, objetivo e muita coisa a fazer!
Mortícia vendo que Dalma se afastava começa a andar e
aperta o passo para a alcançar, quando chegam no entroncamen-
to para a BR 376, pegam no sentido das praias, Mortícia não sa-
bia onde estavam indo, mas estava cansada, viu Dalma andar
mais um pouco e parar em um posto de gasolina, sentaram-se,
Dalma pediu algo leve para comer e Mortícia perguntou, ela esta-
va com os pés doendo e isto a tirava o bom humor, não que isto
fosse um forte em sua personalidade.
— Vai me matar caminhando assim!
— Quer tentar acompanhar um Laikans Mortícia?
— Não, mas não entendo o que estamos fazendo?
— Sua iniciação!
— Minha o que? – Mortícia Irritada;
— Ouviu, não é surda!
Dalma sorri e pede a conta, não deu meia hora e estavam
caminhando novamente, iam naquela estrada de pistas duplas
subindo e descendo, mas que naquela parte eram grandes retas.
Mortícia viu a grande reta com pequenas subidas e desci-
das e olha para Dalma;
— O que quer dizer com minha iniciação?
382
— Mortícia, vai chegar um dia, que não sei quando vai ser,
mas que todos nós temos de estar prontos para correr 200 km
sem parar, quer mesmo ser pega por Magog?
— Acha que ela abrange algo assim?
— Estas lembranças não são minhas, mas me disseram que
com minha morte no confronto anterior, uma degradação das
coisas se iniciou, então estava pensando, nas duas versões que
tenho, e uma que não foi dita, apenas induzida, Magog introduz a
morte de regiões pela minha morte, sei que ela já tentou em Curi-
tiba, na época nem sabia quem era, mas se acontecesse, seriam
uma serie de acontecimentos que iriam denegrir a cidade aos
poucos, dizem que se você sair andando, a 2 km por hora, conse-
gue se afastar, mas a maioria das vezes, ela dá um jeito que não
tenhamos para onde correr!
— Acha que ela usa sua morte como objetivo?
— Mortícia, se ela fizer algo, e as pessoas tiverem de fugir
de mim, na primeira vez, me ergui e fui a guerra, mas se ela esti-
ver apenas esperando as pessoas fugirem de minha destruição,
ela estaria apenas coletando, mas ela não é rápida, mas esta falta
de pressa, é para matar tudo, não é descaso, é para ficar a cada
morte mais forte!
— Então vai me fazer andar para isto?
— Em parte, vamos aonde precisamos ir!
Dalma se calou, as perguntas seguintes não deram resulta-
do, eram apenas respostas evasivas, Mortícia estava cansada
quando depois de mais 12 horas andando, pararam em um posto
de gasolina, Dalma pediu um café, olhou para Mortícia e falou;
— Esta cansada?
— Exausta!
— Então esta quase no ponto que quero que esteja!
O rosto de desanimo de Mortícia era evidente;
Dalma ao terminar o café, se levantou, pagou a conta, Mor-
tícia a olhava, ela estava com um sorriso matreiro no rosto.
Dalma no lugar de ir a frente, começa a descer novamente,
não foi a frente, Mortícia vendo isto, soube que agora algo acon-
teceria, não sabia o que, mas apressou o passo, viu que Dalma
entrou em um pequeno caminho, abandonado com a construção
383
das pistas novas, que passava mais a frente sobre a represa, olha
para as margens e vê que o nível das aguas, esta bem acima do
normal, e olha para Mortícia e fala;
— O que sente num lugar deste?
— Algo estranho, lhe perguntei quando passamos, mas vo-
cê não falou nada, pensei que não era importante!
— O que sente? – Repete a pergunta Dalma olhando para
Mortícia;
— Não sei, sei que existem Iaras na região, pequenos Sacis,
mas tem algo que não conheço, mas que nesta margem parece ter
força!
Dalma senta-se a beira de um barranco, se ouvia os cami-
nhões indo e vindo a Santa Catarina ao fundo, Mortícia sabia que
ali tinha mais duas presenças que ela não conhecia, mas não en-
tendia como Dalma sabia;
Quando Mortícia fez o que Dalma estava fazendo, tirando o
tênis e molhando os pés ouviu em sua mente;
“Não posso falar deles Mortícia, minha presença é sempre
uma representação de fim, não gosto disto!”
Mortícia sorri, a agua as ligava pelos dons das Iaras;
“Mas o que é esta força?”
“Algo que os religiosos definiam como o demônio Curupi-
ra”
“Defensores de florestas, sabe que eles não fogem!”
“Sei, mas desta vez não estamos aqui para falar com os que
não vão a luta, e sim, nos preparando para o pior!”
“Mas onde eles estão?”
“A toda volta, mas eles aprenderam a se parecer com o
meio, hoje não seriam definidos como a 500 anos, a diferença dos
seres da terra, do mar, das aguas, é que todos evoluíram, nunca
se acharia os seres que os índios conheciam, nos dias de hoje!”
Mortícia olha em volta, começou a reparar que parecia ha-
ver muitos, mas não conseguia os definir e perguntou;
“Mas o que viemos fazer, como vamos os alertar!”
Dalma toca com as mãos a agua da represa e se vê uma ne-
voa se erguer das aguas, como se a umidade do ar fosse para algo
muito perto de 100%, Mortícia sentia aquilo, agradável a alguém
384
que sentia as coisas como as Iaras, conseguia sentir as monta-
nhas, os seres, os veículos passando ao fundo, até as pessoas fa-
lando no posto de gasolina a uns 600 metros dali;
“Isto é incrível!” – Mortícia;
Dalma olha para ela e o ar úmido começa a esquentar, as
nuvens ao céu começam a reagir com a nevoa quente e se vê os
raios no ar, era noite, e começam a sentir a chuva cair com força.
Por mais de duas horas as duas viram a chuva cair com
uma força incrível sobre elas, o lago subir uns 80 cm, mas o que
Mortícia sentia, eram as encostas úmidas descerem as encostas
da floresta, sentiram o fluxo de carros a estrada no sentido de
subida parar, e depois, o de descida começar a formar uma fila.
Dalma com calma tira a mão da agua, e olha para o ser as
suas costas;
— Preciso alertar os Curupiras!
O ser estranhou, mas sentiu o ar e perguntou:
— Não cheira a Iara, mas domina o mundo dela!
— Apenas alerta os seus, estamos apenas de passagem,
mas Magog acordou ao norte daqui, ainda nas montanhas!
O ser olha desconfiado e pergunta;
— Pensei que vinha com boas novas, mas vem com mas
noticias moça! – O rapaz deixando de parecer da cor da madeira
ao fundo e mostrando seus cabelos longos e avermelhados, cor
de fogo, que lhe cobriam boa parte do corpo, era um rapaz de uns
20 anos, na aparência, sinal que deveria ter mais de 60, um ado-
lescente, evitou olhar os pés invertidos do rapaz, pois sabia que
eles não gostavam de que ficassem olhando seus pés.
— Não tenho alternativa, jovem, apenas caminho, mas es-
tou desta vez alertando, da anterior não ouve alerta!
O rapaz voltou a forma anterior, Mortícia viu que seria difí-
cil olhando eles de passagem ver algo ali, pareciam refletir a flo-
resta ao fundo, ele começou a andar de costas, Mortícia sentia
milhares de seres se afastando deles.
— Como sentiu Mortícia?
— Por que quer saber, esta muito a frente de mim?
— Eu caminho, sem duvidar da missão, duvidei no começo
e quase morri, não duvido de mais nada!
385
Dalma olhava para Mortícia esperando a resposta:
— Parecem ter recuado com medo! – Mortícia.
Dalma olhava nos olhos de Mortícia, e viu ela recuar
olhando as costas dela, sabia o que sentia, mas Mortícia não co-
nhecia aquilo, então estava distraída no sentir dos Curupiras e
outros seres passaram desapercebidos, já que não sabia os dife-
renciar antes.

386
- 1/5
Os olhos fixos de Mortícia em algo a suas costas, foram cor-
tados pela frase de Dalma;
— Aparência errada rapaz! – Dalma;
As costas de Dalma um grande felino erguido nas patas de
traz, com músculos fortes, pelagem bem comprida, amarelada
como a dos Leões, dentes a mostra.
— Quem vem a nossas terras? Cheira a traidores! – O ser as
costas de Dalma, que olha para Mortícia e fala;
— Relaxa, estes tem mais medo de Iaras que de Lobos!
O rapaz viu os pés de Mortícia mudarem de forma e deu
um passo atrás, mas Dalma não queria medo, queria apenas uma
trégua, e avisar do que viria a frente;
Dalma se vira para o grande felino deixando sua mochila
ao lado, e mudando de forma, para a de um lobo, olhou para os
demais e falou;
— Quem é o líder dos Manás?
— Sabe quem somos?
— Deuses nas terras, mas que tem de aprender a perder
medo de aliados!
— Iaras nunca são aliados!
— Lobos também não! – Fala Dalma olhando o ser;
— O que um – o ser ia falar Laikans, mas este estava em
carne, então não era o que aparentava – o que é você?
Dalma não respondeu, apenas falou;
— Um amigo me pediu um favor, estou descendo a serra
avisando os povos das florestas, que Magog acordou novamente!
— Sabemos que ela esta a anos ali, qual a novidade?
— Frock esta vivo novamente, e não sabe quem é! – Dalma;
O rosto do felino olhou para os olhos de Dalma e perguntou
serio;
— Tem certeza disto?
— Sim, tenho certeza disto, não brincamos com isto!
— Mas por que então esta aqui, no lugar de preparar os
seus para a luta!

387
— O preparo não me cabe, isto é função de quem a vigia,
não minha, desta vez estamos fazendo diferente!
— Até vocês querem mudar, este mundo esta perdido en-
tão!
— Magog acha que Gog veio a vida rapaz, se for verdade,
sabe que nosso problema menor será a falta de memoria de
Frock!
— O que faz ela acreditar nisto?
— Ouvi rumores que ela chamou um rapaz a alguns meses
em um confronto, não estava lá, mas meus irmãos sim, de Gabri-
el!
— O anjo?
— Sim, o julgador das almas! – Dalma;
— E veio apenas nos alertar?
— Vocês e os Curupiras, pois eles não fogem a batalha!
Dalma não sabia bem a posição de cada um ali, mas os Ma-
nás eram seres daquelas terras, não de outras, então não estive-
ram em batalhas anteriores, poderia escolher fugir, mas ela não
sabia bem o que esperar de seres assim.
— Mas o que o líder de vocês pretende nos avisando?
— Não sou estrategista, mas se não estivermos todos iner-
tes, podemos tentar evitar o pior!
— Acha que algo pode evitar isto?
— Nem ideia, mas vou lutar com os meus até o ultimo se-
gundo de vida, se me for dado este prazer, para evitar o fim!
— Mas por que acham que viria um fim?
— Olha em volta, estes macacos estão matando as coisas
de Deus para fazer as coisas deles, Deus gosta de estar no centro
de tudo, e não num dia do fim de semana, e por poucas horas!
— Nisto é verdade, mas sabe que nunca fomos crentes des-
te Deus de vocês!
— Então tira os seus descendentes da área, pois a ultima
vez, foi morte para todos os lados!
— Não nos querem na batalha?
— Não somos de querer algo, fazemos o que temos de fa-
zer, a maioria de vocês fogem, mas não posso fazer nada pelos
que fugirem, mas faremos nossa parte como sempre!
388
Dalma volta a forma humana, pega uma roupa na mochila,
olha para Mortícia e fala;
— Vamos, já lhe deixei descansar uma hora!
Dalma dá as costas a aqueles seres, e começa a se afastar,
um outro vira-se para o que estivera a frente e pergunta;
— O que é este ser, rei?
— Não entendo destas coisas do outro lado do oceano, mas
sabemos que muitos seres vieram fugidos a muitas luas, ordena o
começar a andar ao sul, das mulheres, velhos e crianças!
— Para onde?
— As montanhas, o mais alto possível, mas se o risco esta
ao norte, vão ao sul, e avisa os guerreiros, vamos ter uma bata-
lha!
— Mas são lobos!
— Aquilo é um Laikans, não tem nada de lobo, os lobos an-
dam sobre quatro patas e em matilha, aqueles, em famílias de
milhares, sobre duas patas, mas nunca soube de um em carne!
Um mais velho veio com calma e falou;
— Pode ser um dos descendentes de Frock!
— Frock tem descendentes?
— Diz uma lenda muito antiga que tem, filho, mas se os
descendentes de Frock estão nestas terras, ele em pessoa pode
estar, e se isto for real, se prepara, vamos ter uma colheita de
almas!
— Mas o que é aquele ser, viu o que fez, choveu mais de
duas horas!
— Estes são os descendentes dos Frock, não são apenas
Laikans, podem transpor tudo o que for preciso para trazer a
lucides o pai, e com isto, deter a grande batalha, ou evitar o fim,
dizem que ele pessoalmente já morreu mais de 30 vezes para
evitar o fim dos tempos!
Dalma e Mortícia que volta a reclamar pegam a estrada no-
vamente, mais a frente, uma hora e meia de caminhada, passam
pelo modulo policial onde os carros e caminhões estavam come-
çando a ser detidos, um luminoso avisava que a rodovia estava
interrompida nos dois sentidos;

389
Zero
Desceram pelas curvas da estrada que normalmente seria
subida, Mortícia viu que na descida embora parecesse rápido, foi
demorada, viram amanhecer no inicio da descida, e viram as ma-
quinas tirando grande quantidade de barro e pedras da estrada,
uma corrida contra o tempo para abrir a rodovia, Mortícia olhou
para Dalma e perguntou;
— Por que fez isto?
— Para que veja como estamos em uma região frágil, para
que sinta cada dia mais o que nos rodeia, pois é você quem vai
sentir o aproximar do perigo, como o faz, mesmo sem acreditar
muito ainda!
— Acha que Magog pode fazer algo assim?
Dalma olha para o céu, não ouve reação, olhou para Mortí-
cia e falou;
— Finalmente fora dos ouvidos de Magog!
Mortícia olhou em volta e aquela estrada parecia não aca-
bar mais.
— Vai me fazer andar até onde?
— Até a cidade mais próxima, depois pegamos um ônibus!
Depois de horas um sorriso se fez nos olhos de Mortícia,
que vira e volta reclamava do tênis, mas ela parecia querer ainda
alguma coisa;
Chegam a um rio, normalmente seria um rio de aguas
transparentes com muitas pedras, mas estava na cor de terra, e
muito acima das pedras de seu leito, Dalma olha uma construção
que fora um dia um local usado para atração turística na entrada
do Paraná, todo abandonado, com as madeiras retiradas, lixo
para todo o lado, olha para o céu, ainda teriam as consequências
de uma ação daquelas, mais chuva e olha para Mortícia;
— Sabe o que estamos fazendo aqui?
— Nem ideia, mas pelo jeito veio alertando seres para que
defendam os seus do grande confronto!
— Queria ser surpreendida, com parte deles vindo de en-
contro a batalha pela sobrevivência, mas geralmente não é assim
que acontece!
390
— O que viemos fazer aqui? – Fala Mortícia vendo a chuva
forte voltar a cair.
— Nos abrigar da chuva momentaneamente, pois a nature-
za sempre cobra as consequências de quem abusa dela!
— Acha que vamos encontrar o que aqui?
Dalma olha para Mortícia, ela muda de forma, seu rosto fi-
cou mais jovem, seu cheiro foi para de uma Iara e lhe falou sor-
rindo;
— Confirmar minha morte!
Mortícia não entendeu e viu novamente a noite se aproxi-
mar, somente neste momento ela se tocou que Dalma a estava
fazendo caminhar a mais de um dia inteiro sem dormir, sem des-
cansar muito, isto era a fuga, fugir sem se dar direito a descansar.
Dalma esperou anoitecer e em um ponto daquela margem,
viu a chuva parar, imaginou o trabalho que estavam tendo para
liberar aquela estrada, Mortícia viu a grande cúpula se levantar e
somente nesta hora reparou nos grandes seres vindos do norte
pela floresta, ao fundo, se preparando para entrar na grande ci-
dade de Otatos, que se erguia em meio aquele rio, apenas a pon-
ta, diziam existir milhares de quilômetros que tomavam muito
do fundo daquele vale com seres daqueles.
Os seres iam começar a se mexer quando viram as duas Ia-
ras, quer dizer, Dalma e Mortícia a beira do rio, e ficaram no em-
passe, viram quando um ser imenso veio de dentro e olhou para
as duas e falou;
— O que fazem aqui Iaras, não são bem vindas a estas ter-
ras!
— Apenas observando! – Dalma;
— Observando o que?
— Minha líder mandou avisar se estavam fugindo todos,
vejo que sim, pois se vão fugir a sul, ela vai querer fugir a norte!
— Não sei do que esta falando? – O imenso ser, que era um
comandante daquela cidade, autorizando a entrada e saída dos
seres.
Dalma olha ao fundo Oto esperando para se apresentar,
mas escondido na floresta, para não serem vistos, e fala;

391
— Pergunta para Oto, o que ele traz nas costas, por que fo-
ge, esta trazendo a morte sobre seus filhos, mas minha função é
apenas alertar minha líder, do sentido que ele foge!
Oto ouvindo que falavam dele se aproximo falando;
— O que esta fofoqueira mentirosa esta falando Hotano?
— Não sei ainda, mas que esta se escondendo, isto é real,
do que foge rei?
Oto não falou e Dalma sorriu e falou;
— Obrigado pela atenção, apenas vamos relatar que ele es-
ta indo ao sul!
Dalma e Mortícia começaram a andar de costas, sabiam
que Oto era famoso por ataques pelas costas, para seres que an-
dam de lado ou de costas, isto era muito normal;
— Hotano detém estas duas, não podemos deixar que sai-
bam para onde estou indo!
Mortícia riu, aquela rizada continuava macabra como sem-
pre o fora e Hotano a olhou;
— Qual a graça?
— Seu rei acha que pode se esconder de Magog, não somos
nós que vamos a comunicar, ela sente o cheiro dele, mas as nos-
sas já estão avisadas!
Uma leva de movimento se viu ao longe, eram os que ob-
servavam para os dois lados que estariam a falar e passar a fren-
te onde Oto estava.
— O que Magog quer com você Rei? Que traz sobre nossas
famílias que sempre lhe foram fieis!
Oto estranha, mas a sobrevivência era uma regra entre os
Otatos, se eram em si nada corajosos, o fugir de um, ainda mais
de Magog, era um mal sinal;
Oto não falou nada e Hotano olhou para Dalma;
— Por que ele fugiria?
— Ele por arrogância, não admitiu que sempre fugiu, e ma-
tou Frock, o que para nos é uma boa noticia, pois não teremos
uma destruição nas proporções da anterior, mas isto tirou dos
Laikans a função de proteção, passa aos Otatos, para Magog, vai
ser uma colheita fácil desta vez! – Dalma;
— Ela esta mentindo! – Oto;
392
— Ela não esta mentindo Oto, sabe que não, ela não cheira
nem a medo e nem a mentira, uma Iara é assim, mas tem de avi-
sar os nossos, não adianta se esconder, ela vai atrás de quem
derrotou Frock, mas não é bem vindo em minha cidade!
Os soldados internos vieram e começaram a se postar na
entrada aparente da cidade.
— Mas e as crianças? – Uma senhora;
— Onde estão? – Hotano;
A senhora fez um sinal com sua grande garra e muitos pe-
quenos começaram a sair da floresta;
— As crianças protegeremos, mas se veio ao sul, talvez te-
nhamos de nos retirar também! – O ser olha para Dalma e fala –
Sabe para quando Magog deve estar pronto ao confronto?
— Frock já havia a detido duas vezes, faltava apenas uma,
mas como Oto no lugar de ouvir resolveu usar a força, agora co-
meça tudo de volta, perto de um ano!
Hotano olha para o irmão mais velho e fala;
— Sempre o cabeça dura do rei, mas mulheres, crianças e
velhos podemos dar proteção, não aos em idade de guerrear,
pois estes que chamaram a atenção de Magog!
Oto não estava feliz e ouve Hotano olhar para um ao fundo
e falar:
— Avisa todos por comunicador, o que aconteceu, talvez
tenhamos de fazer algo que ignoro como fazer, pois não sou um
Laikans, que não tem carne para ser perfurado!
Todos veem um bem ao fundo entrar, e se formou uma fila
onde as crianças foram entrando, depois as mulheres, Dalma
aproveitou aquele momento e fez sinal para Mortícia continuar a
andar de costas, quando os demais olharam para onde as duas
estavam, já estavam longe dali;
Dalma começa a entrar na cidade de Garuva, vão a um ho-
tel beira estrada, se hospedam, o sono foi profundo, estavam
andando a muito tempo, já era madrugada, quando acordam,
comeram algo e caminharam meia quadra até a rodoviária, com-
praram duas passagens para Curitiba, o rapaz avisou que estava
demorando um pouco mais pois estavam subindo via Guaratuba,
ferri—boat e BR 276, pois na serra tinham mais de 6 pontos in-
393
terditados ainda. Depois de uma viagem entram em casa, e Mor-
tícia pergunta: — O que queria com isto?
— Não quero que nos fuja o enfrentamento, Oto ia trans-
formar isto em uma caçada onde poderíamos perder todo o sul
deste pais e ele não tem coragem diante de alguém que aparenta
sua força, ele me atacou pois não mostrei força!
Mortícia havia visto mais coisas estranhas, mas ouviu algo
a mais:
— Amanha vou falar com Jorge!
O que acontecera que Dalma não falara, pois algo estava
estranho, mas em casa, com as pernas doidas, sentou-se para
descansar;

394
1/12
Jorge estava em mais um dia de trabalho quando vê a se-
cretaria vir a porta e falar:
— Dalma quer falar!
— Então me passa a ligação! – Fala impaciente.
— Ela esta na recepção, não no telefone! – Fala a secretaria
sorrindo.
Jorge sai pela porta e vê Dalma sentada a recepção, os
olhares se cruzaram e por um segundo ficaram a se olhar;
— Bom dia! – Dalma;
Jorge sorriu, ela nunca fora lhe procurar com um sorriso, e
respondeu;
— Bom dia, que ventos a trazem?
— Sabe que ainda não são bons ventos!
Jorge fez sinal para ela entrar, as conversas dos dois sem-
pre foram muito estranhas, então um lugar a sós era mais apro-
priado.
— Esta linda!
Dalma fechou a cara e falou:
— Sabe que ainda não é nossa vez Jorge, preciso falar e é
serio!
— O que quer?
— Tenho de trazer os lobos ainda para nosso lado!
— Mas como?
— Demorei para lembrar de tudo de novo, mas tem de ha-
ver uma forma de os trazer para o nosso lado, preciso de sua
ajuda!
— Mas por que eles não estão ainda ao seu lado?
— Por que tenho de parecer não lembrar quem sou, e ao
mesmo tempo, eles se afastam do que cheira da medo, e a ultima
vez que me viram cheirava a medo!
— Lobos, mas ainda não entendi o que sou nesta estória?
— Não tenho as recordações anteriores, mas quando entre
as sereias, elas contavam que as grandes batalhas sempre tem
um representante da espécie mais atingida que aparece como um

395
herói, em defesa a sua espécie, mas este ser sempre tem um laço
de divida com Magog, acho que ai entra você!
— Mas não devo nada a ela?
— Não sei como vai acontecer Jorge, mas acho que você é o
representante da espécie que vai ser atingida, e que ela já sabia
de minha existência antes de eu saber, acho que ela foi ao meu
apartamento querendo desencadear uma reação em cadeia, co-
mo em muitas vezes aconteceu... – Dalma conta para ele tudo que
fez, desde que começou, o que pretendia com cada ato, o que
estava acontecendo, que os demais não sentiam, mas sabia que
Oto retornou a sua velha cidade e que agora subia a serra, por
caminhos que desconhece, para falar com os Laikans, buscar
apoio para uma batalha, ver o que consegue.
— E quer fazer o que?
— Me mostrar frágil, mas valente, para trazer as Iaras a
apoiar os Otato, e os Laikans, Maetá ainda não mandou os guer-
reiros recuarem, os Manás não recuaram, não os guerreiros,
apenas os jovens e fêmeas mais velhas, veem com todo resto a
batalha, e um segurança esta chegando agora diante da rainha
das Sereias avisando do que fiz!
— Mas como, tem alguma ideia?
O sorriso de Dalma fez Jorge estremecer por dentro, ela es-
tava totalmente solta, e cada vez mais poderosa;
1/5
Jorge chega a Piraquara com os seus rapazes, obvio que o
delegado ficou de olho, algo estava acontecendo, Jorge não se
mostrava tão facilmente a frente dos grupos do submundo, o
delegado vendo ele ao centro, entrou na mesma panificadora,
que ele tomava café enquanto passava instrução para Paco e os
seus rapazes;
— Vai tomar a cidade?
— Bom dia delegado!
— O que esta acontecendo Jorge? — O delegado sabia que
o mesmo odiava que lhe chamassem de Retalhador;
— Apenas reforçando a proteção da Bruxa, apenas isto!
— Problemas?
— Sempre, sabe que esta cidade não é normal!
396
— Eu não sei nada, apenas quando chega a cidade, sei que
mortes vão acontecer!
— E quando foi diferente Delegado!
O delegado saiu pela porta vendo as ruas aparentemente
calmas, mas com carros parados a cada rua, onde um conseguia
ver o outro, estacionados como se nada estivessem fazendo, mas
era obvio que algo estava acontecendo, o que? Não sabia.
Na subida da trilha do Itupava, turistas assustados se es-
condem vendo aqueles seres imensos, parecendo caranguejos
com corpo, subindo, a frente vinha Oto que para em uma clareira
e olha em volta, vendo os Laikans chegarem a ele;
— O que traz um Otato, a nossas terras?
— A minha arrogância me traz aqui Jock, aquele ser que
enfrentei, desistiu, em favor dos seus, de não precisarem ir a
guerra!
— Somos feitos para a guerra Oto, não adianta Frock ter
escolhido outro caminho!
— Não entendo o caminho que ele tomou?
— Escolheu não destruir em massa, ele sabia, demorei pa-
ra perceber, estava querendo algo diferente, mas novamente eu
não ouvi ele, dai ele resolveu evitar o fim anterior, pois a muito o
defendemos, mas Magog sempre investe sobre ele, e acaba o ma-
tando, ela quer as mortes, mas não entendi por que ainda!
— Acha que ele desistiu por que quer salvar estes seres?
Estes primatas?
— Estes primatas podem parecer fracos, mas são teimosos,
se eles soubessem da ameaça, pode ter certeza, estariam prontos
a guerrear, mas eles são jovens demais para entender disto!
Jock olha para Oto e pergunta;
— Mas o que faz aqui?
— Vim propor uma aliança, uma trégua!
— Vai enfrentar? – O sorriso entre os lábios de Jock irrita-
vam Oto, mas sabia que tinha de se conter, e falou;
— Se ela vira sobre mim, de que adianta eu me esconder,
sabe que sempre nos escondemos, mas uma Iara me lembrou
que ninguém foge de Magog.
Os Laikans cheiraram o ar e Jock fala olhando em volta:
397
— Falando em Iaras, elas estão vindo neste sentido!
Os Otato deram um passo atrás, uma leva de Iaras saiu do
pequeno córrego ao fundo, e surgiram de todos os lados;
— Veio acertar as contas Oto? – Honty, líder das Iaras, ser
que fora derrotada por Dalma e mantida em seu posto;
— Não vim brigar, Honty! – Oto;
— Mas resolveu acabar com Frock, quando ele estava uni-
ficando os demais, certo que este ai – Honty olha para Jock – para
se manter no comando, chegou a desacreditar Frock diante de
todos os Laikans, então não vejo chance em exércitos que conti-
nuam só olhando para o umbigo!
Oto olha para Jock e pergunta;
— Andou brigando com Frock também?
— Sim, e vi o que aconteceu, as sereias o transformaram
em um ser normal, terminaram de matar Frock que estava na-
quele corpo frágil, somente na aparência!
Oto olhou para Honty e perguntou;
— Mas poderíamos terminar esta desavença após o en-
frentamento com Magog?
Oto sente o ar mudar, o vento mudar e Jock falou;
— Melhor não falar o nome aqui nestas terras alto!
Oto olhava para Honty e pergunta:
— E você Honty, onde ia com suas guerreiras?
— Proteger o ser, que mesmo sem memoria, ainda é a líder
das Iaras!
— Vai defender aquela moça, cheira a medo! – Jock;
— Por regra não deixamos os nossos a mercê dos outros,
então não estamos na sua guerra Oto, estamos tentando enten-
der o que Frock queria, pois ele queria algo!
— Mas vão ficar visíveis? – Jock;
— Eles só nos verão quando for a hora, mas estamos mu-
dando para uma barragem ao lado da cidade!
— E suas irmãs? – Oto;
— Todas estão vindo para a região, acho que por algum
motivo, estamos nisto a muito tempo, chegou a hora de enfren-
tarmos, mas não estou brigando com você Oto, estou ainda pres-
tando atenção em nossa amiga, que esta na região!
398
As Iaras começaram a se por em ordem e seguir na direção
da cidade subindo por aquela trilha, deixando Oto e Jock um a
frente do outro;
— O que não entendi? – Oto olhando para Jock.
— Que Frock havia conseguido o apoio das Iaras nesta ba-
talha, estava descendo procurando aliados, mas algo o fez desis-
tir, o que não sei ainda!
— Não seria a sua e a minha posição Jock?
Jock olha para Oto e fala; — Pode ser, ele nunca foi de dis-
cutir, ele acreditava que as pessoas tem de querer se salvar, que
não era função dele as salvar, vi como ele ficou feliz na batalha
anterior quando humanos se colocaram ao lado de nos para en-
frentar as almas de Ma ... sabe de quem!
— Os humanos guerrearam ao lado de vocês?
— Sim, eles quando preciso arregaçam as mangas, mas ele
tinha até uma aliado entre os humanos, pois vi ele jogar agua
com sal sobre os dele, na época pensei que era Gabriel que fez
isto, mas acho que não foi!
— Por que?
— Por que para Gabriel sal é como para almas aprisiona-
das, queima!
— Então Frock estava procurando alianças, mas por que
então se entregou?
— Como disse, ele nos queria aliados, mas não queria que
Magog no fim tivesse a vitória, o derrotando e lhe obrigando a
fazer o julgamento das almas!
Os dois ficam ali a falar sobre o que podem fazer, se intei-
rando dos assuntos, e depois Frock sobe com os seus, que só
eram visíveis quando deixavam os demais os verem, seguindo as
Iaras.

399
1/3
Um policial fazia a segurança de um grupo de turistas em
um restaurante, eles vieram de Litorina, um mono—vagão que
saia de Curitiba, parava ali para almoçar e descia a serra mos-
trando as belezas da descida.
Paulo estava fazendo a segurança, quando viu o tempo
mudar, e as pessoas se apressarem para tomar o pequeno trem,
sua parte de proteção acabava quando eles subiam na Litorina e
desciam a serra, mas viu algo estranho, uma leva de mulheres
nuas a passar pela parte do fundo daquele local, por um momen-
to ele achou que era uma alucinação, mas viu uma delas, muito
bonita, pegar uma roupa no varal logo a frente, e colocar a roupa,
e enquanto as demais pareceram sair da cidade, por uma rua
secundaria, aquela moça pareceu pegar a Rua Xv de Novembro e
ele foi atrás, nem se tocando que não acabara sua função, parecia
encantado por aquela moça, viu ela entrar em uma rua, sabia que
a única casa ainda de pé naquela rua era a da Bruxa de Piraquara,
viu a moça bater a porta dela e ficou ali a observar o lugar.
Jock que vinha pela rua sem ser visto, parou ao lado do po-
licial, também a observar aquilo;
Mortícia cumprimenta Honty e olha para Dalma;
— Visita!
Dalma olha para Honty e fala;
— Foi seguida?
— Sim, Oto também esta na região Frock!
— Não sou mais Frock, Honty, o que sobrou não sei o que
é, mas não é Frock!
— Mas o que queria conversar?
— Não sei ainda por onde vai vir o ataque, mas chama to-
das as Iaras para o Planalto, não sei por que ainda, mas posso
jurar que vem do oceano a ameaça!
— Também sentimos isto, mas ficaremos visíveis!
— Todos ficaremos Honty, mas quem sobreviver, vai con-
tar a estória que quiser, quem morrer, não vai ter saída!
— Certo, por que sentimos um cheiro forte de felinos?

400
— Os Manás estão vindo com quase todas as famílias a
guerra, mas ainda não é oficial, eles não podem se mostrar antes,
assim como vocês, e não fala nada para Oto!
— Mas como você esta Dalma? – Honty;
— Não sei, fraca ainda, mas temos ainda um tempo!
Dalma estava falando isto quando vê Jock entrar atraves-
sando a porta e olha—la;
— Pelo menos não esta mais nos temendo!
— Jock, o que quer Laikans? – Dalma;
— Você pelo jeito não se considera mais uma das nossas?
— Sabe que nunca fui Jock, mas o que faz aqui?
— Vendo o que esta acontecendo, pois as Iaras estão todas
vindo para a serra, não é padrão!
— Enfrentamentos não são padrão, mas o que quer? –
Dalma não foi agradável nas palavras;
— Um dia estivemos do mesmo lado!
— Esqueceu disto rápido!
— Mas se não é mais Frock, por que esta se preocupando?
— Me preocupo com os meus, como Iara, as defendo, ape-
nas isto!
— Não entendo como pode se dizer uma Iara, se tinha a
aparência de uma loba!
— Nem eu, sei o que sinto, sei que você estava lá quando
Oto me esmagou, você queria minha destruição, o que mudou?
— As vezes vemos que não somos nada sem as confusões
do herói e de Frock!
Dalma fez uma careta com um ar de deboche e olhou para
Honty;
— Avisa as irmãs, sobe todas, não sei o que vai acontecer,
mas as Sereias vem apoiando Magog, e provavelmente os exérci-
tos de Maetá, vão ser colhidos antes de nos enfrentar!
— Acha que ele vai a favor de Magog?
— Se tivesse Frock, ele até duvidaria, mas sem ele, não
conte com Maetás, eles vão estar do outro lado da batalha!
— As mensageiras já estão chegando, mas estranhamos al-
gumas disfunções de paisagem, não sei o que é isto, em toda a
região!
401
— Curupiras, é isto que são! – Dalma;
Jock olhou para Dalma e perguntou:
— Frock havia conseguido o apoio dos Curupiras?
— Não Jock, quem conseguiu o apoio deles fui eu, não
Frock, ele não existia mais quando fui lá falar com eles! – Dalma;
— Então acha que eles vem a guerra? – Honty;
— Eles são defensores da natureza, Magog é uma colhedo-
ra de toda a vida, eles nunca se porão contra a natureza que de-
fendem!
— Mas a morte é normal a natureza! – Jock;
— A morte sim, a extinção não!
Jock olha para fora e fala;
— E aquele policial?
Honty olha para ele e fala;
— Quer que de um jeito nele Dalma?
— Não, ele é quem vai nos alertar do começo, mas para is-
to, melhor os dois saírem! – Dalma os colocando para fora;

402
1/2
As peças do tabuleiro foram se colocando em silencio, se
preparando para algo, mas não se tinha noção de o que acontece-
ria, o tempo foi passando, os meses passando, mortes foram
acontecendo na região da pedreira dos Moreiras, nas nascentes
do Iguaçu, nos alagados entre Piraquara e Pinhais, Jorge afastado
mas de olho, os gatos surgiram um dia depois de Jock falar com
Dalma, reparou que as Iaras estavam se preparando para sobre-
viver, e que Dalma, mesmo sem ser Frock, começava a demons-
trar a valentia de uma Iara, e a esperteza.
Os gatos surgiram, Mortícia sorriu, Dalma ainda estava
meio pensativa sobre tudo o que estava acontecendo, muita coisa
passava em sua cabeça e não tinha ideia de onde tudo isto a leva-
ria.

Uma passagem grande de Tempo

403
#1#
Um estouro se ouve em uma casa de campo, Piraquara, na
região das nascentes do Iguaçu, os vizinhos, agricultores do cin-
turão verde de Curitiba, olham a casa vir pelos ares, as aves as-
sustadas voarem, a leva de fumaça subir ao céu, fazendo os olha-
res se voltarem para a casa em chamas.
A policia é chamada, chega um pouco antes dos bombeiros,
que quando chegou não tinha mais nem os restos da casa.
O bombeiro entra na casa e verifica em volta, olha para os
restos, olha o policial e fala;
— Acharam algum corpo?
— Não, por que?
O bombeiro aponta para o chão, onde se via pegadas em
meio as cinzas, no sentido oposto ao que estavam, marcas de um
corpo que pareceu se arrastar para fora, deixando a marca visível
de sangue ao chão, e o rastro diante das cinzas, caminham no
sentido das pegadas, olham mais a frente e veem um corpo, apa-
rentemente carbonizado, caído ao chão, o bombeiro olha em vol-
ta e sente um calafrio, olha para o policial, algo não estava certo,
olha para a casa, uns 50 metros dali e ouvem uma nova explosão,
ouvem os gritos, o policial sai correndo no sentido da casa.
O bombeiro olha o corpo carbonizado que parece se mexer,
ele sente calafrios novamente, vê o rosto carbonizado olhar para
ele e ouve;
— Se quer viver, não volta lá!
O bombeiro sentiu suas pernas lhe faltarem, viu seres pas-
sarem por ele, demorou entender que não eram seres, eram al-
mas fugindo no sentido que o corpo carbonizado fugia, milhares
deles, olhou para a casa atrás e ouviu uma ultima explosão, mais
gritos, começou a voltar.
O bombeiro olha o carro de bombeiro em chamas, os car-
ros da policia em chamas, os corpos dos seus companheiros
queimando, tentou entender, enquanto chegava perto, viu um ser
sair das chamas da casa que parecia estar ali novamente, mas em
chamas, olhar para ele e falar;
“Bine aţi venit în iad!”
404
O rapaz sentiu a dor em seu corpo o vendo queimar, sentiu
as dores e gritou, as pessoas ao longe, pareciam queimar tam-
bém, seus olhos saltaram para fora e caiu ao chão em chamas.

405
#2#
O delegado de homicídios estava com o caso das mortes na
sua mesa, não tinha como explicar elas e ouve o seu auxiliar falar;
— Não é o caso de perguntar a alguém que entende disto?
— Alguém entende de mortes assim, sem testemunhas,
carros de bombeiros não estouram e derretem como se estives-
sem em um forno!
— Dizem que tem uma destas moças de terreiros próximos
ao local, que dizem poder com estas coisas!
— Moça, acha que vou pagar este mico?
— Estou falando da Bruxa de Piraquara! – O rapaz pareceu
ter respeito ao falar;
O delegado olhou para o rapaz e falou;
— Mas acha que ela se meteria nisto?
— Dizem que seria ela, ou aquele marginal, o Retalhador!
— Esta metrópole esta virando terra de malucos!
— Eu não chamaria ela de maluca, senhor! – O respeito na
voz era de quem conhecia as historias da Bruxa, alguém que
quando se contava as historias 90% não acreditavam, mas o ra-
paz parecia acreditar.
— Não saberia nem como começar expor isto a uma moça
daquelas Paulo, não me leve a mal!
— Se quiser a levo lá sem compromisso, e lhe passo o que
ela acha!
— Mas não é oficial, sabe disto!
O rapaz sorriu, era um sim.

406
#3#
O rapaz passou na casa da moça, uma linda moça de uns 20
e poucos anos, olha para ela e fala;
— Podemos falar?
— Fala Paulo?
— Me conhece?
— Já nos vimos, mas não deve estar lembrado, mas o que
deseja?
— Não é oficial, mas gostaria de suas observações sobre
um caso!
— Se não é oficial, por que ajudaria?
— Dizem que você é especial, dizem que entende as forças
ligadas as terras da região, e temos um caso que não se explica
por si!
— Um, devem ter mais de 300 casos que não se explicam
por si, mas tudo bem, o que precisa?
— Me acompanharia a um local?
A moça olha para o rapaz e fala;
— Se não for contra levar minha auxiliar?
O rapaz concorda e vê uma senhora de uns 30 anos sair da
parte do fundo da casa, sente uma arrepio, os olhos fitaram os
dele, sentiu um receio na hora, não tinha como recuar e ouve;
— O que precisa pequena Dalma! – Fala a senhora com
uma foz cansada que não combinava com a aparência atual da
senhora.
— Vamos ver um caso que a policia local quer que de mi-
nha opinião!
— Onde vamos? – A senhora;
— Uma chácara no caminho da pedreira!
— Uma chácara, ou a chácara dos Moreira? – A senhora.
— A dos Moreira!
Dalma olha a senhora lhe olhar, o rapaz reparou na troca
de olhares, e Dalma fala;
— Se quiser ficar, alguém fica para se algo pior acontecer!
— Sabe que você é mais importante que a minha pessoa!
— Sabe que não concordo com isto! – Dalma;
407
— Mas sabe o perigo? – A senhora;
— Sei, onde não existe perigo nestas terras de Magog!
O rapaz ouve o termo, não entendeu, mas olhou para ela e
perguntou;
— Magog?
A moça sorriu e falou;
— Uma lenda antiga, de um tempo que esta parte de terra
ainda era encostada na África!
O rapaz sorriu, algo tão antigo que nenhum ali teria como
saber se era real, o olhar da moça encantava o rapaz, estranhou
pois achava que encontraria uma pessoa feia, a visão que faze-
mos de bruxas não combinava com aquela moça, apenas a cica-
triz ao pescoço a diferenciava de muitas moças da cidade, ficou
sabendo que o nome dela era Dalma, ele a conduz ao carro da
policia e saem no sentido da pedreira, passam o trilho, saindo de
Piraquara, pegam a primeira estrada a direita e andam por ela
mais 12 quilômetros, parando numa porteira, o rapaz abre a por-
teira, enquanto Dalma olha para os lados, sentia as energias, saiu
do carro e olhou para o rapaz.
— Quer mesmo ir lá rapaz?
— Existe perigo?
— Para fracos na fé, a fracos na alma, tem de ver se resiste!
O rapaz sorriu, pensou que era para por medo, em parte
estava certo, mas viu a moça entrar pela porteira a pé, era fim de
tarde, não achou uma boa ideia, pois era quase dois quilômetros
até o ponto onde tudo aconteceu, mas a seguiu, estavam cami-
nhando em uma trilha, quando começam a ouvir uivos;
— Não tema rapaz, estes são os amigos!
— Lobos ou cães, pois cães até acredito que sejam amigos!
— Laikans, muitos Laikans!
— O que são Laikans?
— Seres aprisionados, almas aprisionadas na forma de lo-
bos, a maioria é bem mais humana que os próprios seres que se
denominam assim, mas isto foi a muito tempo!
— Acha que é perigoso?
— Já respondi isto Paulo!

408
O rapaz vê lobos translúcidos aparecerem por todos os la-
dos, dentes a mostra, olha para a moça, que continua calma, ela
estava andando normalmente quando para abruptamente;
— Problemas? – Paulo;
— Que horas são?
O rapaz olhou o relógio e falou;
— Quase Dezoito e Trinta!
— Acredita em Deus, Paulo?
— Acredito, por que pergunta isto!
— Por que a maioria que olha a sua volta dizia acreditar,
mas por algum motivo, se deixou atrair para cá e duvidou na
hora H, isto que os faz estar numa guerra a séculos!
— Esta dizendo que todos a volta foram como nós?
— Não, eles eram muito mais que nos, mas isto faz muito
tempo! – Dalma toca o chão, ela havia parado, a frente, não mais
de 200 metros se via os restos da casa, dos carros, levanta-se
calmamente e fala.
— Magog, o que quer neste trecho que não lhe pertence?
Paulo vê o fogo tomar a forma de uma casa, onde outrora
ouve uma casa, e deste fogo, um rosto feminino se projetou a
frente, olha para aquela moça, lembra de algo, sorri e fala;
— O que quer Dalma?
— Saber o que esta acontecendo?
— Precisa me deixar um agrado, não colaboro com você,
sabe disto!
— Não vim preparada para lhe dar um agrado, mas se não
vai falar, melhor irmos embora! – Dalma estica a mão para o ra-
paz e fala olhando os seus olhos. – Vamos voltar, lentamente, sem
tirar os olhos do fogo, não solta a minha mão
— Qual o perigo?
— Quer queimar como os ao chão a sua volta?
O rapaz olhou os carros derretidos, olhou o fogo, não res-
pondeu, mas não queria, começaram a andar de costas, o ser de
fogo falou algumas palavras, mas toda vez que ela tentava termi-
nar a frase ouvia-se uivos por todos os lados, cortando as pala-
vras.
Dalma depois de alguns metros falou para o rapaz;
409
— Agora corre Paulo, você não e como eu, vai ter de ser
rápido!
O rapaz estranhou, mas a moça soltou sua mão e começou
a correr pelo caminho que vieram, não olhou para trás, mas via
bolas de fogo caindo quase a seus pés, ao lado, correu em zigue-
zague, quando passou pelo portão, olhou para trás novamente,
viu ao longe o fogo, estavam muito longe, mas parecia que aque-
les olhos o estavam encarando, viu a moça caminhar com calma,
via as bolas de fogo baterem nela, mas não a atingirem, quando
passou pelo portão apenas olhou para Paulo;
— Melhor sairmos daqui!
Paulo assustado entrou no carro, deu partida e saiu de ré,
puxou o freio de mão, o carro rodopiou, e saiu de frente, acele-
rando para longe, a uns quilômetros dali, parou o carro e se de-
bruçou sobre o volante;
— O que foi aquilo?
— Aquele ser chama-se Magog, um ser das trevas!
— Por que saímos fugidos, não pode com ela?
— Ela é anterior a tudo que conheço neste planeta rapaz,
não tenho como enfrentar algo que até os dias de hoje, desconhe-
ço as reais razões de sua existência!
— O que aconteceria se uma bola de fogo daquela pegasse
em mim?
— Ouviria ela falar e queimaria de dentro para fora!
— Foi isto que aconteceu lá?
— Sim, mas não adianta por isto em um relatório, eles não
vão acreditar!
— Mas o delegado quer uma explicação, não um não temos
o que fazer?
— Se querem estudar o local, recomendo durante o dia,
Magog sempre tem mais força no inicio do dia, mas para os anti-
gos, a dia termina quando do por do sol, então assim que ele se
põem, ela esta em seu estado de maior força, é o inicio do dia que
virá!
— Mas vi uma daquelas bolas lhe acertar, quer dizer, pas-
sou por você queimando até a relva em volta, como não foi atin-
gida!
410
— Eu não posso ser destruída por ela, mas ela não sabe
disto, por que ainda não sei, mas temo por esta resposta!
Paulo ligou o carro e a deixou em casa, ele saiu assustado
enquanto a senhora veio de dentro e perguntou;
— É Magog mesmo?
— Ela em energia, poderosa, dá para sentir a força a qui-
lômetros dela!
— Conseguiu saber o que ela esta querendo?
— Não, precisaria de uma doação a ela, não estava a fim de
deixar o rapaz lá, iria nos complicar!
— Fez bem, mas não entendi ainda o que ela quer!
Dalma senta-se, olha para a senhora e fala;
— Acho que teremos uma guerra, a derradeira! – Uma gata
preta, bem peluda sobe na mesa e Dalma a acaricia.

411
#4#
Jorge acorda, olha em volta, novamente sozinho depois de
uma noite onde bebera demais, ouve o celular tocando, quando
vê que é Dalma atende, embora tentando disfarçar, parecia com
sono; — Bom dia Dalma!
— Desculpa se o acordei!
— Algo lhe preocupou, não me liga a quanto tempo?
— Um ano e meio, sabe disto!
— O que houve?
— Mais uma vez, teremos mortes na região da pedreira!
— O que aconteceu lá?
Dalma explicou e ouviu Jorge falar;
— Passo ai depois do almoço!
— Antes era mais prestativo Jorge!
— Antes precisava mais de mim!
Dalma sabia que manteria Jorge mais uma vez afastado,
mas também sabia que somente ele para a apoiar quando coisas
referente a Magog apareciam.
Mortícia olha para ela e pergunta;
— Ele vem?
— Inicio da tarde!
— Não sei por que se esconde dele, esta na sua cara que
gosta dele, e obvio, ele não presta, mas tem dois tipos de homens,
os que não prestam e os que não gostam de mulher, tem de esco-
lher qual quer em sua vida!
Dalma sorriu, não iria discutir isto com Mortícia de novo,
estava meio cheia disto tudo, mas ficou preocupada com a força
de Magog na noite anterior;

412
#5#
Paulo estava sentado a sua mesa tentando escrever algo,
mas nada saia, o delegado olha para o rapaz, parecia perdido e o
chama a sua sala;
— O que aconteceu Paulo, foi falar com a bruxa?
— Sim, uma linda bruxa!
— Foi a serviço ou a passeio?
— Desculpa senhor, estou tentando achar palavras para o
que vi ontem e não consigo!
— Levou ela ao local?
— Sim, e algo aconteceu, mas não vou passar por maluco
senhor, se colocar no papel, com certeza rirão de mim!
— Paulo, a quanto tempo esta na delegacia?
— Quase um ano!
— Estou a 6 anos nesta delegacia, posso apontar cada um a
sua volta, ninguém riria se você colocasse a coisa mais absurda
neste papel, pois todos nós não entendemos esta cidade, tem
investigador que tentou se afastar daqui, mas sempre voltam,
esta cidade nos prende e não conseguimos nem viver longe desta
coisa!
— Do que esta falando?
— Lembra ontem quando falei que não pagaria o mico?
— Sim!
— Já fiz isto algumas vezes, mas sempre que algo acontece,
vou lhe ditar o que fazemos, obedecemos algumas regras aqui
dentro, a primeira, não falamos o nome que começa com M nesta
delegacia, nunca, segundo, se a moça falou o nome preciso saber?
— Sim ela falou!
O delegado olha para os demais e fala;
— Pessoal, Dalma falou o nome com M!
As pessoas se agitaram e o delegado continuou;
— E a regra 3, se alguém chamar para qualquer evento,
depois do trilho, depois das 18 horas, não vai, não interessa se a
cidade cresceu muito para aquele lado, mas não vá, quem vai
acaba morrendo é quem for, quando vi os estragos sabia que
poderia ser problema novamente. – O delegado olha para o rapaz
413
e fala – e ultima regra, a quarta, se começarem a parecer mortos,
retiramos eles durante o dia, mas não nos metemos, toda vez que
alguém do grupo se meteu, acabamos devendo favores a um ra-
paz do submundo!
— Um rapaz?
— O Retalhador, ele já deve ter salvo muitos daqui, mas
não vai querer que eles falem sobre isto abertamente!
— A moça me salvou ontem!
— Então foram atacados?
— Sim... – o rapaz conta para o delegado a historia, os de-
mais pararam o que estavam fazendo e ficaram ouvindo e no fim,
o delegado falou;
— É bom saber que a moça também esta ao nosso lado,
pois não sei se ela estava bem como antes, ela a alguns meses me
pareceu totalmente perdida, mas sempre é bom não depender de
apenas uma pessoa!
— Mas todos sabem disto e não fazem nada?
— O que quer fazer rapaz, o que acha que pode com aquilo,
muitos aqui perderam amigos para aquilo, não viu o que aconte-
ce, quer dizer, viu uma das formas de ataque daquilo, mas não
queira ver aquilo bravo, pois ninguém nesta cidade esquece um
dia, uma única tarde, onde mais de 6 mil pessoas morreram ofi-
cialmente naquele dia na cidade, quantos ao total, ninguém sabe
até hoje!
— Mas não podemos apenas ignorar que não acontece!
— Alguma ideia rapaz, ou apenas coragem?
— Medo, não coragem delegado, aquilo que me atacou, pa-
recia disposta a matar todos sem se preocupar com nada!
— Acha que a menina resistiria a aquilo, como o Retalha-
dor?
— Aparentemente sabia que não seria atingida, mas a certa
hora, me mandou correr, não entendi, mas nunca havia tido me-
do de algo como tive naquele momento!
O delegado sorri, um sorriso triste, sabia o que era aquilo,
perdera amigos para algo que não compreendia, sabia que o ra-
paz estava certo, mas não tinha ideia do que aconteceria;

414
#6#
Jorge chega a casa de Dalma e olha em volta, e fala;
— O que acha que vai acontecer Dalma?
— Não sei, mas acho que ela mudou, evoluiu! – Dalma
mantinha Jorge bem longe do total de seus planos.
— Não entendi!
— Ela esta forte sem carne!
— Mas como ela pode ficar mais forte sem carne? – Jorge;
Mortícia olha para Jorge e fala;
— Alguns estão dizendo no mundo que Deus fez mais um
pedido de almas a Magog!
— Acha que ela faz com o conhecimento de Deus? – Jorge
não gostava desta versão;
— Sim, mas se for verdade, Gog estaria por perto!
— Por que? – Dalma;
— Por que ele é o desafiado a fazer diferente, a ganhar na
demonstração de Magog!
Dalma olhava como se soubesse de mais, perguntara como
se querendo a confirmação;
— E se ele resolver pegar almas também, para mostrar ser
mais cruel! – Jorge;
— Dai teremos um problema grande, mas o que sente
Dalma, quando vai ser? – Mortícia;
— Sei tanto quanto você Mortícia, sente melhor que eu es-
tas coisas neste momento!
— Prefiro sua versão, não o que sinto!
— Teremos de ficar de olho, algo grande deve determinar
o começo! E sabe que você que sentira Mortícia! – Dalma.
— Quando começar, acha que consegue sentir a intensida-
de? – Jorge pergunta olhando para Dalma;
— Temos de tentar, ou acha que gosto de ficar a mercê dis-
to?
Mortícia olha para Dalma e pergunta:
— Acha que Gog estará aqui?
— Sim, ele já esta por perto, Mortícia!
— Mas não o sinto!
415
— Isto acho que eu que terei de achar, Jorge talvez pudes-
se, mas se recusa a ouvir seus sonhos! – Dalma;
Jorge olha para Dalma e pergunta serio;
— Mas Gog sabe quem é?
— Acho que nunca soube e nunca saberá, ele morre antes
de saber, talvez por isto nunca apareça nas estórias!
— Então ele não tem poder mesmo? – Mortícia;
— Para o ter, teria de saber quem é, acreditar no que é, e
finalmente, ver as coisas como são!
Jorge olha para Dalma e pergunta:
— Impressão ou me esconde parte?
— Quando for a hora, falaremos, antes nunca é indicado!
— Mas esconde algo?
— Jorge, cuidado, sabe que lhe amo, sabe que somos a re-
sistência, a que morre geralmente, 22 confrontos, 22 mortes,
então obvio que escondo algo, mas lembre, não é Gabriel e nem
eu sou nem Frock e nem Gog, então cuidado, somos mortais ain-
da!
Mortícia olhava para Dalma, ela falou com tanta convicção
que não era nem Frock e nem Gog, que Mortícia teve certeza que
ela falava a verdade, mas dai a pergunta, quem ela era.

416
#7#
Uma semana se passa, Dalma tem um sonho agitado, mas
Mortícia quando a indaga sobre o sonho, diz não lembrar, mas
sentia o corpo quebrado.
Estavam tomando café quando ouvem o radio afirmar que
um grande furação se formara no atlântico vindo no sentido das
praias, furacões sempre foram raros.
— Ela esta atraindo forças naturais, nunca entendi como
ela comanda tão facilmente a natureza? – Mortícia.
— A natureza, os animais, não tem medo da morte, pois
eles não corrompem suas almas durante a vida, então estes se-
res, estes ares, o planeta inteiro, acredita que a morte faz parte
da vida, por isto ela os controla com facilidade! – Dalma;
— Odeio quando você e aquele Jorge falam deste ser!
— Sabemos que todos nos odeiam Mortícia, mas não quer
dizer que vamos virar as costas aos que nos odeiam os deixando
morrer!
— Quando estas energias chegarem aqui o que faremos?
— Vamos observar, sabe disto!
Dalma olha para os gatos a casa, os mesmo deixam seus
olhos brilharem e tomam a forma de grandes lobos translúcidos,
saem pela porta, os seres a rua se afastam, mas veem os lobos se
posicionarem na cidade;
Os homens de Jorge também veem e começam a alertar os
demais.
As Iaras começam a se postar ao lado da represa, Honty
lhes alcançava uma espada e uma roupa, para cada uma, elas se
postam como um exercito, as demais irmãs começam a aparecer
na agua, e Honty falou;
— Não sei por que, mas sinto como se as aguas não fossem
mais seguras!
— Para onde irmã?
— Para a cidade, os lobos já se posicionam na cidade, va-
mos ver onde esta guerra vai acabar!

417
Os exércitos de Iaras, mulheres vestidas com uma roupa
justa ao corpo começam a andar no sentido da cidade, um exerci-
to de 22 mil Iaras a se preparar para guerra.

418
#8#
O Delegado a porta da delegacia vê os lobos translúcidos,
lembra do outro delegado, ele falava que estes eram os aliados,
mas não entendia o por que?
O auxiliar olha os lobos, as pessoas a rua pareciam saber
que algo viria, uma senhora grita com o filho;
— Para dentro, filho!
O delegado viu ela pegar algo e vir para a parte de fora, ou-
tros vendo isto, pareceram fazer o mesmo, cercando a casa, o
ajudante perguntou;
— O que estão fazendo?
— Isolando suas casas contra os olhos dos mortos!
— Do que esta falando?
— Esta cidade é estranha Paulo, eles dizem não acreditar,
eles fazem de conta que nada acontece, mas como nós, quando
viram os lobos a rua, sabem que algo grande novamente vem
sobre a cidade!
Um senhor para a frente do Delegado e pergunta;
— Delegado, não vai dizer que as mortes tem haver com
Magog!
Paulo olhou o céu, quando o senhor pronunciou o nome, as
nuvens começaram a ficar escuras, e o delegado respondeu;
— Não falamos este nome, senhor, mas sim, M esta de vol-
ta!
O senhor olha para as nuvens e pensa alto;
— Merda! – Sai correndo para casa, enquanto os dois veem
uma chuva de pedra acertar a cidade, as ruas começarem a ficar
vazias de gente, cheias de pequenas pedras de gelo, estavam ali
olhando quando veem um carro parar a frente da delegacia.
— Tudo bem Delegado? – Jorge, o Retalhador;
— Parece que não!
— Só uma chuvinha!
— Não acho que seja isto que o traz aqui!
Jorge olha para o céu e fala;
— Gog, onde se esconde?

419
Os dois olharam o céu abrir-se e um rosto aparecer dentre
as nuvens olhando para eles;
— Jorge, ainda me deve um corpo! – Magog;
— Não lhe devo nada! Sabe disto!
— Acha mesmo que ele ainda existe?
— Não, ele esta no céu ao lado de Deus, você, vai ter de es-
perar o fim dos tempos!
— Deus não faria isto!
— Sabe que faria, acha que só você vai se dar bem?
O rosto pareceu se ampliar e olhar para Paulo e olha para
Jorge;
— O rapaz ai fugiu, mas aquela sua amiga ajudou ele!
Jorge olha para o rapaz que ela olhava;
— Ele tem sorte, coisa que você não tem Magog!
— E você esta condenado a me perseguir e acabar me ser-
vindo!
— Provável, mas não vou discutir isto em publico! – Jorge
riu, os lobos se espalhavam pela cidade, Jorge olha em volta, seus
pensamentos estavam tentando achar a ação e olhou para Magog
– Não lhe chamei, o que faz aqui?
— Insolente!
— Gog, onde você se esconde! – Fala Jorge olhando para o
céu, Magog vê as nuvens clarearem e estranha.
— O que esta fazendo?
Jorge não respondeu, olhou para o delegado e perguntou;
— Podemos conversar?
— Sim, mas não gosto de acordos com o submundo!
— Não sabe o que é o submundo senhor!
Jorge foi entrando na delegacia, deixando Magog os olhan-
do, e Paulo viu que o senhor era de enfrentar, como a moça, não
eram apenas pessoas do mal, eram seres que estavam ali para
enfrentar;
— O que quer Retalhador? – O Delegado saindo da defensi-
va, sem meias palavras;
— Pode me chamar de Jorge, vim ajudar delegado, a uma
semana Dalma me ligou e falamos sobre coisas que estão aconte-

420
cendo, quando a noticia do furacão se fez, sobre o atlântico, no
sentido do nosso litoral, sei que vai acontecer de novo!
— Você falou com ela? – Paulo;
— Ficamos sempre de olho, ou acha que gostamos de ser
perseguidos?
— Mas como podemos enfrentar isto?
— Não sou eu que a vai enfrentar, mas estou tentando
achar alguém, este alguém poderia, mas não sei onde o encontrar
ainda!
— Mas o que este ser pode fazer?
— Ele poderia voltar a fazer as pazes com Magog, e reco-
meçarem de onde eles pararam!
Os demais começaram a chegar perto, e um com um celular
a mão, falou;
— Temos nascentes com mais de 6 metros de agua, dizem
que esta chovendo de balde na área da represa!
Jorge olha para o delegado e fala;
— Dá o alerta a defesa civil, a agua vai lavar as encostas,
chegando ao Iguaçu!
— Acha que vai romper? – O rapaz ao telefone;
— Primeiro na agua, depois no fogo, e por ultimo no ar! O
furacão! – Falou Jorge;
O rapaz passou as instruções por telefone, e começou uma
correria para as regiões baixas, muitas invasões nos últimos anos
nas áreas que eram de proteção permanente, áreas que em caso
de inundação iriam para baixo d’água em instantes.
Jorge olha para o celular tocando e atende;
— Fala Dalma?
— O furacão esta acelerando!
— Como sabe?
— Não tenho como explicar como sinto o planeta, mas te-
mos duas saídas, mas não vai fazer sentido perder todos eles!
— O que acha que vai acontecer?
— Manda isolar a cidade!
— Quanto tempo?
— 48 horas, quem ficar vai sofrer na carne!
— Eles não vão acreditar Dalma!
421
— Sei disto!
Jorge olha para o Delegado e fala;
— Dalma recomenda evacuar a cidade, 48 horas!
— Não tenho como fazer isto!
— Então vão sofrer na carne delegado!
Os presentes se olham, sem saber o que fazer, pareciam
perdidos, mas a chuva do lado de fora parecia estar parando;
O delegado acompanha Jorge a porta e vê as Iaras se pos-
tando na entrada da cidade com um grupo armado, as pessoas
estranharam;
— Quem são estas? – Delegado;
— Iaras, sabia que a bruxa me escondia alguma coisa!
Jorge olha para o outro lado e viu a leva de mais de mil Ota-
tos entrando pela avenida, as pessoas começaram a se esconder,
uma guerra se anunciava, com seres que nunca havia visto;
— E estes?
Jorge esperou o grande ser chegar perto e perguntou;
— Não fugiu Oto?
O grande ser olha para Jorge e pergunta;
— Quem pensa ser que pode desafiar um rei?
— Alguém que já morreu algumas vezes Oto, mas enfren-
tou, segundo a bruxa, mais de 22 vezes, e você, quantas vezes
morreu por enfrentar isto?
— Nenhuma. Mas se você não foi aprisionado, sinal que
morreu pelas mãos de Frock?
— Você não sabe de nada Oto, mas vem guerrear ou o que?
— Iaras me insultaram mas estão aqui para batalha, não
sei quem mais, mas nunca vi Iaras e Laikans juntos, deve ser uma
bela batalha minha primeira!
— Que nos traga sorte, pois vamos precisar!
Jorge olha para o Delegado e fala;
— Vou falar com Dalma, mas acha que consegue reforço?
— Precisa?
— Sim, se ela vencer aqui, vai caminhar com calma para
Curitiba, a meta dela!
— Vou falar com os que acreditam, sabe que não vai ser fá-
cil!
422
— Os meus já estão a rua, mas melhor deixar eles quietos
por enquanto.
O delegado viu Paco chegar até Jorge e perguntar;
— O que são estes?
— Se tiver carne, é aliado, acho que outros virão a esta ba-
talha, mas os com carne, aliados, os demais podem atacar com
tudo!
O delegado viu o rapaz as costas começar a armar uma me-
tralhadora calibre 12’ na carroceria de uma picape, e soube que o
que fosse, não era bom, os demais dentro da delegacia vendo os
seres a rua, as moças se postando para a guerra, os rapazes de
Jorge armados até os dentes, ficaram entre a adrenalina de ver
coisas impensadas e o medo da morte, sentimentos contraditó-
rios que em horas assim dominam todos;
A chuva continuava caindo em balde, como se fala na cida-
de.

423
#9#
Na altura de Borda do campo, o contorno Leste de Curitiba,
um viaduto cede no sentido que ia a Curitiba, devido a um pe-
queno córrego que minou as laterais da ponte, a policia rodoviá-
ria federal é acionada e isola os dois sentidos da estrada, vendo
que a outra pista estava preste a ceder alguns metros, o rio por
baixo estava subindo, e o céu somente nesta hora começa a fe-
char no local, vindo com chuva forte sobre a região, fazendo o
nível e violência da agua aumentar, aquele rio corria violento
para a barragem do Irai, que servia de abastecimento de agua da
grande Curitiba, com força e volume, a fazendo subir rápido.
Estava no inicio da tarde quando a defesa civil, mesmo
alertada e não levando o alerta a sério chega a barragem e vê o
nível transbordando por uma das laterais, e corroendo o barran-
co de terra, abrindo por ali, não pelo vertedouro um corredor de
agua.
Foi dado o alerta, mas em questão de 30 minutos, com a
chuva ficando cada vez mais forte, o vertedouro foi empurrado
lateralmente e uma onda de 4 metros começou a avançar sobre
tudo que estava abaixo dela, o desespero de famílias tentando
sair, de famílias inteiras sendo arrastadas pelas aguas, que conti-
nuavam a subir e as casas laterais ao leito do rio foram sendo
arrastadas.
Um casal estava voltando para Piraquara, viram aquela
onda se aproximar, ele olha a noiva e fala;
— Segura! Mas tira o sinto!
O rapaz acelerou com tudo, não sabia se conseguiria, a
agua vinha lateralmente, via aquela onda que primeiro passou
alagando a estrada as suas costas, a ligação de Pinhais e Piraqua-
ra estava com mais de dois metros de agua, agora a agua corria
no sentido da rodovia, alagando as margens.
— Acelera amor!
O rapaz via junto com a agua vir pedaços de casas, e coisas
que não tinham como saber o que eram, os carros que estavam
indo no sentido oposto, que não recuaram, os dois viam ficar
para traz e serem arrastados, quando chegam na primeira subi-
424
da, viram a agua deslizar pelos lados da montanha, os dois saem
do carro assustados, se abraçam vendo o rio passar por cima da
rodovia, levando boa parte dela, os que conseguiram escapar
parando ao lado, os que iriam para aquele sentido também;
— O que aconteceu? – Silvia, a noiva;
— A barragem cedeu!
A chuva continuava a cair violentamente sobre a cidade.
Os dois se abraçam vendo a agua baixar um pouco o nível,
mas com aquela chuva, parecia que estava apenas começando, e
olhando no sentido de Pinhais, não se via mais a rodovia, mesmo
nos trechos onde a agua não ficou, os mais próximos, com o re-
cuar da agua, ficou muita sujeira, não se diria existir uma estrada
ali, se a mesma não surgisse do nada e começasse a subir aquele
pequeno aclive.
Na altura do Jardim das Nações a agua que vinha com foça
fechou tanto o antigo caminho que ligava a 277 a Piraquara
quanto o contorno Leste, abrindo um rombo de mais de 20 me-
tros no asfalto, a cidade começava a ficar isolada.

425
#10#
Jorge chega a casa de Mortícia, Dalma parecia sentir-se me-
lhor ali, a mais de dois anos abandonara o apartamento no centro
de Curitiba e resolveu viver perto do perigo;
— O que esta sentindo Dalma?
A pergunta foi direta, pois ela parecia encolhida no canto
da sala, e Mortícia falou;
— Algo grande vem sobre nós, ela disse que não tem mais
como tirar as pessoas!
— Como não? – Jorge;
— Segundo ela, a ultima ligação da cidade com as vizinhas
acabou de ir para baixo da agua, arrastando estrada e tudo mais!
— E o que faremos?
Dalma olha serio para Jorge e fala;
— É hora de ambos sairmos da casca Jorge!
Jorge não tinha certeza se podia, sentia que Dalma estava a
cada dia mais forte, mais determinada, mas não entendia a posi-
ção de Magog referente a ele;
— Nunca entendi esta historia para sair da casca! – Jorge;
A TV anuncia que a cidade estava isolada, os rádios falam
coisas terríveis e Dalma olha para Mortícia;
— Esta com a gente?
— Não sei o que posso fazer?
— Também não sei, — Mortícia sabia que ela estava men-
tindo, aprendeu a conhecer a pequena Dalma estes anos – mas
alguma coisa teremos de fazer!
— Alguma ideia?
— Não, o sal não vai fazer efeito, a chuva o vai levar, ela
veio desta vez para levar o máximo que puder!
— Acha que Deus quer mesmo nossa morte?
— Não entendo de Deus Jorge, nem de mim mesmo, mas
não vejo por que Deus destruiria os seus, não vejo por que se os
contos fossem verdade, Magog precisaria se esconder por trás de
um colar para fazer o que quer, não vejo ela como alguém do mal,
e sim, alguém perdida, tentando sobreviver! – Dalma;
— Ela não é do bem! – Mortícia;
426
— O que é o mal, se não a total ausência do bem?
Jorge vê a luz piscar e apagar, as linhas de transmissão de-
veriam ter caído, estava começando a ficar preocupado.
Dalma pega o pote ao armário, pega um pouco do pó e co-
locou no bolso da camisa de Jorge, e falou;
— Se não é para alguém ver, que ninguém veja!
— Jorge olha as mãos e fala!
— O que esta acontecendo?
— Magog é mortal Jorge, ele se esconde não de Deus, mas
da morte, para que ele precisa de almas?
— Acha que – Jorge vendo as mãos translucidas, e Dalma
por no bolso de Mortícia também uma quantidade – isto nos pro-
tege de que? – Jorge vê Mortícia sumir aos seus olhos, e olha para
Dalma – E você?
Dalma olha para Mortícia e fala;
— Tenta chegar em Curitiba, por nós dois!
— O que faço lá?
— O que toda a Iara sabe fazer, seduz e traz a guerra!
Mortícia olha para ela, não tinha como o fazer, mas o rosto
de Dalma a fitava e fala alto;
— Para ontem!
Mortícia fica na duvida se deveria, mas Dalma olha para ela
e fala serio;
— Acredite Mortícia, não precisamos de todos aqui!
— Vou contrariada, sabe disto!
Dalma sorriu e olha para Jorge;
— E você, o que faz aqui?
Jorge sorri e sai pela porta feliz de ver Dalma reagindo;

427
#11#
Em pleno oceano um furação se formava e aumentava de
categoria, agora com ventos de mais de 200 km por hora, força
um pedido de evacuação do litoral de Santa Catarina e Paraná, e
não sabia-se se ele subiria mais ou se dissiparia, parecia vir de
encontro ao continente, mas até o litoral de São Paulo, ficou em
alerta, pois o grande problema seria Joinville ao sul, Paranaguá e
balneários, mas os meteorologistas temiam que o mesmo mudas-
se de direção e fosse a Santos.
O furacão começa a entrar na altura de Joinville, as chuvas
fortes começam a destelhar, e abrir um corredor de morte que
começou em Joinville e estava sendo empurrado pelas monta-
nhas ao norte, em Guaratuba, já no Paraná, o furacão ganha força,
as noticias do litoral eram aterradoras, milhares de casas destru-
ídas e não se sabia quantos mortos ainda, o furacão estava vindo
e em Piraquara Dalma sai de casa, ela ainda não sabia como en-
frentar, mas viu as Iaras virem as suas costas, o céu escurece e
começa uma chuva de raios, que acertavam carros, casas, que
começavam a pegar fogo, em meio a chuva, e o fogo, sem luz,
Dalma não sabia como enfrentar diretamente Magog sem se ex-
por excessivamente;

428
#12#
Grandes serpentes surgem subindo a serra, tomando casas,
engolindo pessoas, Jorge comanda os seus para abrirem fogo
contra as serpentes, mas parecia que nada as fazia parar, odiava
parecer indefeso, odiava pensar que Dalma era forte e ele fraco.
As serpentes avançavam em terra, mas no litoral, hordas
de Sereias e Tritões entravam nas cidades, matando as pessoas
que estavam vendo suas casas serem destruídas pelo vento, mui-
tas pessoas começaram a subir desesperadas a serra, mas uma
ponte destruída na altura de São Jose dos Pinhais, quase em Curi-
tiba, fazia uma fila imensa que não tinha precedente, as pessoas
abandonavam seus carros e subiam a pé, tentando estar mais
longe possível dos acontecimentos no litoral.
O mar agitado invade a baia de Antonina com ondas de
mais de 4 metros, os rios sem ter para onde escoarem, deixam
debaixo d’água milhares de pessoas que não tinham mais para
onde correr em Antonina e Morretes.
Algumas praias eram invadidas por aquelas ondas que des-
truíam calçadões, que levavam parte das avenidas e corroíam as
construções beira mar.
Jorge vê os grandes Maetás entrando em Piraquara, viram
os Laikans os atacarem por todos os lados, mas bairros inteiros
estavam sendo devorados por aquelas imensas cobras, e a chuva
não parava.
O furacão estava cada vez mais próximo, e Dalma sai pela
avenida e olha para o Céu.
— Onde se esconde Magog?
O rosto olha para a moça e fala;
— A moça que já foi mais!
— Não respondeu! – Dalma;
— Somente quando tudo estiver no chão entendera Bruxa,
pois não entende, nada vence o que se apresenta;
Dalma põem a mão no bolso e tira o pó, joga em volta dela
e fala;
— Sou fraca Magog, mas a desafio a me matar!

429
Neste momento milhares de seres começam a se erguer em
seus túmulos, em suas lapides, de suas mortes, e Magog olha para
a moça e fala;
— Acha que tenho medo de alguém invisível aos olhos de
Deus?
Dalma olha para cima e fala, mudando de forma;
— E teria medo de Frock, sem os olhos de deus?
Os demais Laikans pararam vendo a moça tomar novamen-
te a forma de Frock e se animaram, mesmo com milhares de al-
mas em pleno apodrecer, mais alguns seres do exercito de Magog
avançando, eles pareceram ter coragem de avançar.
Jorge estava diante de um imenso Maetá, mas somente
neste momento se tocou que estava invisível aos olhos deles,
pegou sal nos bolsos e começou a jogar sobre os seres, que pare-
ciam sentir dor ao terem o corpo atingido pelo sal, estranhava
isto, mas muitos estavam tombando diante do desafio.
Magog se materializa na frente de Frock e fala;
— Não tem mais obrigação de vencer!
— Não estou aqui por obrigação Magog, estou aqui por que
não fujo, sabe disto, ou acreditou mesmo que iria abandonar o
barco em meio a luta!
— Então estava se escondendo, mas o que acha que ganha
com isto?
Os milhares de seres translúcidos começam a avançar no
sentido da cidade, tomando forma e garras bem afiadas, o poder
de Magog transferido aos seus servos durante a batalha.
As almas estavam avançando para Piraquara por todos os
lados, era a primeira batalha, e Magog olha para Frock;
— Só as almas que matarei com o furacão me garantirão
mais pelo menos 2 mil anos para esperar!
— Isto se conseguir por as mãos nelas!
— As sereias estão os coletando para mim, assim fica bem
mais fácil, você sempre perde por que eles me temem mais que a
você!

430
#13#
Os espíritos estavam avançando para Piraquara, enquanto
Mortícia corria por uma estrada lateral, não sabia por que, mas
Dalma deveria ter um bom motivo para a mandar para Curitiba,
talvez uma resistência se tudo caísse, mas o que ela poderia fazer
se tudo desandasse.
Mortícia vê o grupo de almas cada vez mais numeroso a
cercar a cidade, passou por eles desapercebida, não pareciam a
ver, mas quando eles já estavam se afastando no sentido da cida-
de, viu milhares de Curupiras surgirem nas matas ao redor, eles
estavam se armando, e um olha em seus olhos e fala;
— Por que foge, Frock?
Mortícia fica naquela frase e fala;
— Por que a minha morte pode ser o fim de tudo, quer isto
pequeno Curupira!
O ser emite um som pela boca, e a mulher vê um Maná
olhar para ela e falar;
— Agora entendi, damos proteção para que chegue a cida-
de ao fundo!
— O que entendeu?
— A moça, ela não é Frock, é uma descendente de Frock,
não sei como aconteceu, mas sinto as energias, temos dois des-
cendentes diretos de Frock, e ela deve ter lhe mandado buscar
ajuda, sem lhe falar nada!
Mortícia lembra da veemência, mas o que ela estava plane-
jando, a senhora não sabia.
Viu milhares de Manás com sacos estranhos as costas, e o
rei olhou para um deles e falou;
— Vamos nos preparar!
Os Curupiras começaram a avançar, eles tocavam nas al-
mas e elas definhavam, pois o poder dos Curupiras era de prote-
ção, tudo que para terra foi, não retorna, não sobre o toque de
um Curupira, eles tocavam as almas e estas se desintegravam,
mas eram muitas, os Manás, começam a cercar as costas dos Cu-
rupiras, enquanto outro grupo levava Mortícia para a cidade;

431
Magog olha para onde deveria estar Dalma, sentia a força, a
energia, mas não conseguia ver a moça;
— Acha que com uma força destas consegue se esconder!
Magog olha para o céu e muitos raios começam a cair sobre
Dalma, esta começa a se defender, sentia a energia lhe atraves-
sar, não sabia quanto conseguiria resistir.
O grupo de Maná chega onde Jorge estava e um olha para
Jorge, que não conhecia aqueles seres, mas os viu abrir os sacos,
e uma espécie de sombra escura começa a sair dos mesmos, e
começa a avançar sobre os Maetás que vendo o materializar dos
demônios negros, recuam.
— O que é isto que estão soltando?
— Comedores de Maetás!
— E o que são vocês?
— Manás, os deuses das florestas, os seres que tem o se-
gredo dos antigos, os poderes de cada espécie!
— E veem a favor de quem? – Jorge;
— Para um descendente de Frock, não esta muito devagar
rapaz? – Fala o rapaz olhando para Jorge.
Jock que estava mais ao fundo olha para o rei Maná e per-
gunta;
— Ele é um herdeiro de Frock?
— Antes era mais atento as coisas Jock, podemos não ter
batalhado as guerras, mas guardamos a memoria dos cheiros, o
que tem feito?
Jock olha para Jorge, que estava meio perdido, herdeiro de
Frock, não tinha estudado nada a respeito, mas se ele era um
lobo, por que não tinha a aparência de um lobo;
— Este é especial Jock, ele veio como herdeiro de Frock e
como o herói de um povo, mas como sempre digo, cada vez a
estória se enrola mais, cria novas possibilidades e se desenrola
diferentemente.
— Como pode ter certeza que sou um descendente de
Frock, e o que isto significa?
— Vi outro dia uma descendente de Frock, que nos alertou
dos perigos que viriam, me confundi com o cheiro pois ela tinha

432
cheiro de Iara também, o seu cheiro também não é fácil, cheiro
de herói e de Frock, duas combinações diferentes nesta guerra!
Jorge olha para o ser e pergunta;
— Mas o que pode um ser assim?
O ser não falou, mas ficou a observar os grandes Maetás
sendo devorados por aquela nuvem negra, depois Jorge vê os
seres abrirem os sacos e colocarem uma pequena minhoca e os
mesmos virem desesperados, no sentido dos sacos, os mesmos
os fecharem e retornarem as costas;
Dalma sentia os raios, a chuva estava forte, quando viu os
Curupiras passarem por elas, Magog olha revoltada e se vê uma
leva de novos raios atingir toda a região, alguns curupiras, atin-
gidos por aqueles raios, pareciam queimar, mas os demais não
paravam, estavam ali para uma grande batalha.
— Pelo jeito conseguiu os aliados da terra, mas eles sabem
que me devem respeito!
— Ninguém lhe deve respeito Magog!
Dalma toca o chão e Magog a olha, o lugar parece mudar a
volta, a chuva fica muito forte, embora parecesse que era o fura-
ção, a agua despencava, mas o vento cessou—se.
— O que esta fazendo? – Magog;
Dalma sorriu, ela não estava fazendo nada, puxou o centro
do furação para ali, mas isto não facilitava nada para a região de
Curitiba atingida por ventos de mais de 180 km, o furação come-
çava a perder força.
Dalma olha para o fundo e vê Jorge chegando com o rei dos
Maná, Magog olha a leva de seres os cercando, os espíritos esta-
vam vindo no sentido dela, e a volta, Iaras, Otatos, Curupiras,
Laikans e Manás.
Magog toca o chão, muitos dos espíritos sentiram as força
lhes voltar, mas ainda assim estavam cercados, quando numa das
pontas, matando alguns Otatos, as Sereias aparecem, apoiando as
almas.
Magog olha para Dalma e pergunta;
— Como pode Frock fazer acordo com os Manás?
— Frock esta seguro Magog, pois ele não habita mais em
meu interior!
433
Os olhos de Magog se revoltaram, sentiu sinceridade na
frase, mas o que era aquela moça que podia com ela, e de que
adiantava tudo isto se Frock não estava ali.
Jorge chega perto e Magog o olha;
— Jorge, hoje vou exigir a alma que me deve, me deve a
alma desta moça!
— Não posso dar o que não me pertence Magog!
— Não pode me recusar isto, você me deve uma alma!
Os demais olham atravessado para Jorge que fala;
— Ela tem minha alma Magog, ela poderia me entregar, eu
nunca poderia entregar ela!
Magog levanta as mãos para o céu, as sereias estavam ar-
madas e preparadas para o ataque, mas mesmo elas não espera-
vam um grupo tão grande, uma coisa era matar apenas Laikans,
mas sabiam que as Iaras não seriam nada fácil;
Pelas mãos de Magog, sente—se a energia fluir dos céus, e
todos sentem o chão tremer, um abalo tão forte que não houve
uma casa na região que ficou de pé depois daqueles quase dois
minutos de tremor.
Magog tentava desestabilizar, mas Jorge olha para Dalma e
fala;
— Sabia quem eu era?
— Sabia que éramos da mesma estirpe, mas não sei ainda o
que achar disto!
— Por isto foge de mim?
Dalma sorri e olha para o ar e fala;
— Gog, onde se esconde?
Magog olha para a moça, ela invocava seu amigo, este era
um medo que sempre corroeu Magog, por isto queria que ela
nunca lembrasse quem era;
O céu mudou de cor, os ventos a volta sessaram e o céu
abriu em sol.
Magog esperava esta hora como sendo o do juízo final, mas
nada mais aconteceu.
O furação se dissipou e Dalma olha para Jorge que fala:
— Pelos dias e noites de força, pelas moradas de Deus,
queremos Magog longe de nossas terras!
434
Magog não entendeu, esperava que quem falaria isto era
Frock, mas Jorge ao falar, Magog sentiu as forças da terra come-
çarem a lhe prender ao chão, tentou mudar de forma, mas não
conseguia mais tirar os pés do chão, começou a ficar verde, como
se voltasse a ser parte da terra, e começa a se transformar em
uma arvore, esta ganha copa, parando tudo a volta, Dalma olha
para a rainha das Sereias e fala:
— Tem 1 minuto para sumir daqui, depois não serão mais
bem vindas e nem deixadas sair sem lutar!
As sereias começam a sair.
Os demais seres começam a sumir dali, enquanto Mortícia
chegava a entrada de Curitiba e o Maná que a acompanhava olha
para ela e fala;
— Desta vez foi esperto Frock, seus descendentes tem sua
força, mas não causam tamanho estrago!
— Como esta a batalha? – Mortícia que não sentia mais a
presença negativa de Magog;
— Em dois mil anos nos falamos!
Os seres a deixam ali e mudando de forma para grandes fe-
linos, correm no sentido da serra novamente.

435
#14#
Dalma olha para suas mãos, não sabia se acabara, estava
sentindo a energia a flor da pele, tamanha descarga que recebeu,
viu os demais seres se afastarem e começa a andar no sentido de
casa, Jorge dispensa Paco que ainda não sabia como iria chegar
em casa.
Dalma entra nos restos de sua casa, estava quase na sala
quando sente algo lhe segurar pelo ombro, olha para trás e vê
Jorge a olha-la e perguntar;
— Não entendi, somos irmãos?
Dalma coloca a mão nos lábios de Jorge e fala;
— Sabe que não Jorge!
— Mas... – Jorge ia falar algo, mas sente os lábios de Dalma
aos seus, ele lhe abraça e levanta ao colo, os dois se deitam ao
sofá da sala, mereciam um descanso.
Entre beijos e abraços, os dois terminam a aventura de en-
frentar o desconhecido, mas sabendo que nas terras de Piraqua-
ra, a força de Magog é muito grande.

Fim

436
437
438

Você também pode gostar