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O MÉTODO DO DISCURSO:
ENSAIO SOBRE A EMANCIPAÇÃO HUMANA
CURITIBA
2003
JAIRO AUGUSTO DOS SANTOS
O MÉTODO DO DISCURSO:
ENSAIO SOBRE A EMANCIPAÇÃO HUMANA
CURITIBA
2003
TERMO DE APROVAÇÃO
O MÉTODO DO DISCURSO:
ENSAIO SOBRE A EMANCIPAÇÃO HUMANA
Orientador: ______________________________
Prof. Dr. Celso Luiz Ludwig
Setor de Ciências Jurídicas, UFPR
______________________________
Prof. Dr. José Antônio Peres Gediel
Setor de Ciências Jurídicas, UFPR
______________________________
Prof. Dr. Flávio Beno Siebeneichler
Departamento de Filosofia, UGF
ii
Agradecimento
iii
Os filósofos não são capazes de
transformar o mundo. O que nós necessitamos é de
um pouco mais de práticas solidárias; sem isso, o
próprio agir inteligente permanece sem consistência
e sem conseqüências. No entanto, tais práticas
necessitam de instituições racionais, de regras e
formas de comunicação, que não sobrecarreguem
moralmente os cidadãos e, sim, elevem em pequenas
doses a virtude de se orientar pelo bem comum.
O resto de utopia que eu consegui manter é
simplesmente a idéia de que a democracia – e a
disputa livre por suas melhores formas – é capaz de
cortar o nó górdio dos problemas simplesmente
insolúveis. Eu não pretendo afirmar que iremos ser
bem-sucedidos nesse empreendimento. Nós nem ao
menos sabemos se é dada a possibilidade desse
sucesso. Porém, pelo fato de não sabermos nada a
esse respeito, devemos ao menos tentar. Sentimentos
apocalípticos não produzem nada, além de consumir
as energias que alimentam nossas iniciativas. O
otimismo e o pessimismo não são as categorias
apropriadas a esse contexto.
iv
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 01
v
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
The present study intents to discuss about how the speech on the society is presented
and which the decurrent consequencies the measure that become clear the methods that
make the speech, demonstrating that preocupation with human emancipation is not a
constant, nor neither occupies the center of the several theories and speeches about
society, where the choice and afirmation about of this or that paradigm do not
demonstrate a neutral and or exempt choice, only methodical, but over all, they make
possible to survey its humanist or anti-humanist face. In this form, is presented the
relation between the paradigm of production and the paradigm of comunication and its
different rationalities, showing that work and comunication are not categories that
concur between itself or dispute the absolute center for the explication of the
contemporany society and the world of the work, but instead, placing both as not
contraditories basic categories that are able, to cooper between itself, to allow to a new
boarding in relation to the challenges presented for this same society. However, the
success of this new boarding still depends on superation of the form as the society is
presented, where system and world of the life are not present detached any more,
detached that takes the lost of the person’s freedom, but where system and world of the
life surpasses the barrier of interchanges between itself, taking in this way, to the
human emancipation in all its aspects.
viii
INTRODUÇÃO
séculos e que de alguma maneira perpetuam-se ao longo da história sem uma resposta
ou respostas definitivas; perguntas que podem ser feitas isoladamente, mas que só
tomam sentido completo à medida que as outras questões são feitas, de forma a
Questões como “Quem somos?”, “Onde estamos?”, “Para onde vamos?” colocam-se
intrínseca entre si; mais que isso, o ato mesmo de perguntar denota a inter-relação
entre quem pergunta, a coisa da qual se pergunta e o que se pergunta da coisa; ademais,
de início as questões são postas como se, com a finalidade de entendê-las melhor,
fossem feitas por um único homem; além disso, a própria colocação das questões no
plural faz subentender que as mesmas não só são feitas por um único homem, mas
também são feitas por todos os homens. Só assim pode-se abstrair e afirmar que a
Isto posto, quer-se afirmar que nenhuma coisa que se apresenta possa
ou seja, sem interferências – este é o objetivo da abstração –, mas muitas vezes toma-
se o resultado do que foi estudado de forma abstrata como resultado final da pesquisa e
presentes. Eis a fonte originária das dicotomias pelas quais passa a humanidade, a
incapacidade do homem conhecer de forma absoluta aquilo que ele busca entender,
todo, mas mais grave, como se nunca tivessem sido parte dele. Esquece-se, por
exemplo, que o real e o ideal tem a sua unidade na coisa, na possibilidade de podermos
afirmar que a coisa com a qual nos atemos antes de mais nada “é”. Contudo, sabe-se
que a coisa só é, assim como o homem, de forma relacional, não absoluta, isto é,
aquilo do qual todas as coisas relativizadas são relativas. Assim têm-se a noção do ser,
temporalmente, isto é, de forma relativa; de que não “é” todo o ser, todo o espaço e
todo tempo.
quais a humanidade se depara não se quer esgotar a discussão sobre as mesmas, nem
desconsiderar que elas existam e geram contínuos debates e estudos acadêmicos, cuja
na grande maioria das vezes esses estudos sejam meramente analíticos, faltando muitas
vezes a síntese necessária para compreender o que foi estudado, como se o único
objetivo da pesquisa fosse a análise pela análise. Não se quer com isso dirimir em nada
apresenta o problema que se quer tratar e a forma como se apresenta diante dele a
hegemônica nas universidades e centros de pesquisas ter-se-ía que optar pela análise de
e elementos que interferem de forma direta ou não no objeto de pesquisa, que seriam
levados em conta através de uma outra forma de abordagem, ou simplesmente por uma
pesquisador, todos os demais grupos que porventura pudessem ser contemplados por
conotação meramente teórica. Mais uma vez uma dicotomia apresenta-se como se
teoria e prática não fossem elementos constitutivos de uma mesma realidade, sendo
que ambas apenas tem sentido efetivo apoiando-se mutuamente. Desta forma, a
estudiosos a fim de obter-se uma síntese capaz de dar resposta ao problema colocado e
da hipótese estabelecida previamente, sendo que o que se quis realizar não foi
dessas duas formas de abordar o problema tentar visualizar o mesmo não apenas
através de uma lente focal única, mas sim, através da necessidade de buscar-se
5
extensão.
terceiro capítulo, sistema e mundo da vida são tratados como sendo frutos de algumas
pode servir como um aferidor desse antagonismo. Por fim, o último capítulo refere-se a
no mundo da vida.
CAPÍTULO 1 – OBSERVAÇÃO E COMPREENSÃO
paradigma antigo não apenas subjaz ao novo como lhe serve de base e fundamento, o
que analisando de forma mais detida supõe a mesma coisa, o novo está sujeito ao
antigo assim como a sujeição do antigo ao novo dá-lhe toda a vitalidade de que este
goza agora.2 Dessa forma, o que se quer é afirmar, assim como Apel, não uma
1
Cf. DEMO, Pedro. Conhecimento moderno: sobre ética e intervenção do conhecimento. Petrópolis,
Vozes, 1997.
2
Cf. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed., São Paulo, Editora Perspectiva,
2000.
7
paradigma da Consciência (ou do Sujeito) não elimina o ser, mas dá-lhe nova
não elimina o sujeito, pelo contrário, reafirma sua importância, mas não apenas numa
relação unilateral, e sim, numa relação multilateral que passa a ser destacada e ter sua
se quer demonstrar com isso é que o paradigma tem a função de pano de fundo na
3
APEL, Karl-Otto. Fundamentação última não-metafísica?, p. 320.
4
APEL, K.O. Idem, ibidem.
5
A respeito dos paradigmas filosóficos do Ser, do Sujeito e da Intersubjetividade conferir: LUDWIG,
Celso Luiz. Formas da razão: racionalidade jurídica e fundamentação do Direito. Curitiba, 1997,
UFPR, Tese (Doutorado em Direito).
8
de síntese, isso, caso ele permaneça com a pretensão de explicação do todo sozinho,
isoladamente.
pode ser considerada o paradigma, aquilo que serve para mostrar aos especialistas uma
visão analítica do problema a ser enfrentado. Muitas vezes uma segunda radiografia
(ou até mesmo uma terceira), com a finalidade de abordar um outro lado do mesmo
semelhantes, ou até mais complexos do que aqueles que antes eram analisados,
ortogonais durante a análise facilitar ainda mais o processo de síntese por parte
e variáveis que antes não eram possíveis verificar, graças a não se contar apenas com
uma, duas ou três radiografias, mas a várias imagens produzidas pela integração dos
três eixos ortogonais que possibilitam analisar não apenas um plano, mas através da
varredura de determinado plano ao longo de um terceiro eixo ortogonal aos dois eixos
que formam o plano em questão, visualizar o todo a partir da síntese, da união das
dispostos lado a lado, e que apenas com a sobreposição deles ao longo de um terceiro
eixo possibilita não mais uma ou várias visões bidimensionais, mas uma visão
tridimensional, podendo-se ler o problema sob quaisquer direções que se queira, tendo
uma visão do conjunto e, com isso, localizá-lo de forma mais precisa, diminuindo-se a
tolerância a uma margem de erro maior, margem de erro dentro da qual algumas ações
10
efetuadas podem seriamente levar a conseqüências nem sempre de fácil solução ou até
mesmo insuperáveis.
de análise, tal visão permanece apenas parcial, não dando conta de elementos que só
seriam vistos de forma mais clara no cruzamento de uma análise tão acurada como a
dar uma visão não apenas num plano ou dois, mas na construção de uma perspectiva
Eixo Y
Eixo X
11
idéia, uma noção de como é o objeto que se quer compreender, porém, a redução da
explicação a apenas esse plano não corresponderá ao que de fato é o objeto na sua
completitude. Mas isso não significa que a análise deva ser rechaçada ou simplesmente
trocada por outra, visto que determinados detalhes só serão captados e entendidos a
hipóteses acerca do que vêm a ser de fato o objeto. Ao mesmo tempo, deve-se
obtidos a partir de tal plano de análise não serão descartados facilmente, visto que os
mesmos só são possíveis através desse foco específico, ainda que uma mudança no
que foi analisado no plano anterior e instigue a abandonar os resultados obtidos até
então. Contudo, não se pode querer ter a pretensão de eleger uma das hipóteses como
sendo a correta, com certeza, por mais completa e séria que tenha sido realizada a
que de fato ele é, valer-se-á agora da análise de um segundo plano, formado por um
dos eixos anteriores e a introdução de um terceiro eixo ortogonal aos dois anteriores,
Eixo Y
Eixo Z
Eixo X
abrir mão de outras, ao mesmo tempo que novas hipóteses são construídas levando-se
será até incentivada, contudo, deve-se cuidar para que a precipitação e a aparente
13
em questão.
já seja possível ter uma síntese, hipotética, através da representação dos mesmos numa
possível apresentar uma hipótese em relação ao objeto como vê-se na figura 3, hipótese
plenamente possível.
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
14
parte daquele que a apresenta e, que permanecerá incólume durante todo o tempo em
formuladas e ganha importância crescente à medida que as respostas oferecidas por ela
satisfazem às dúvidas daqueles que servem-se dela para explicar algo. Como afirma
Horkheimer, “teoria é o saber acumulado de tal forma que permita ser este utilizado na
caracterização dos fatos tão minuciosamente quanto possível”6. Sendo assim, ainda
segundo Horkheimer, “no que concerne aos fatos, a teoria permanece sempre
hipotética”7.
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
6
HORKHEIMER, Max. Teoria tradicional e teoria crítica, p. 125.
7
HORKHEIMER, M. Idem, ibidem.
15
primeira, surgem certos conflitos e divergências mesmo que as análises sigam os dois
planos anteriormente vistos. Uma nova hipótese baseada nos mesmos elementos,
passam a ser trocadas agora pelas dúvidas crescentes postas pela segunda hipótese, que
conseqüentemente vai tomando ares de uma nova teoria. Pode-se ver, conforme a
figura 4, o resultado da nova síntese-hipótese para o objeto estudado a partir dos dois
fundamentais para o estudo do objeto pesquisado, surgiu uma nova hipótese cujo
resultado das análises das figuras 1 e 2 surgem inúmeras outras hipóteses, tão originais
quanto as primeiras, porém, todas elas valendo-se dos mesmos paradigmas ou dos
mesmos planos analíticos. Com a mesma fecundidade surgem tantas novas teorias
quantas sejam as sínteses bem sucedidas a partir das hipóteses levantadas para explicar
e dar cabo do mesmo objeto pesquisado. Contudo, cada nova teoria à medida que
de suas respostas como se a sua síntese fosse não apenas o que é, mais um resultado da
união dos dois planos disponíveis, mas sim, apresenta-se ou é tida como sendo um
novo paradigma.
da síntese das análises das figuras 1 e 2, têm-se, além dos já apresentados pelas figuras
mesmo tempo em que um outro problema se coloca, isto é, qual delas é a correta, mais
do que isso, pode-se ainda indagar se alguma delas é mesmo correta e se corresponde
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
17
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
18
(coordenadas estas que nos dariam a posição do ponto num plano)8, mas sim do
cruzamento formado pelos dois eixos com um terceiro eixo ortogonal aos mesmos,
conforme a figura 8.
Eixo Y Localização do
Ponto
Eixo X
Eixo Z
plano, como numa projeção, deixando o terceiro eixo latente, visto que este não é
levado em conta. No entanto, quando o ponto está sujeito aos três eixos sua posição no
espaço tem todas as referências mínimas para a sua localização precisa, ao mesmo
8
De forma semelhante é dada a localização feita através do Sistema de Posicionamento Global (GPS –
em inglês), em que a latitude e longitude exata de determinado ponto, ou seja, sua localização na
superfície terrestre, é dada através da triangulação feita entre pelo menos três satélites; contudo, por
mais precisa que esta seja a localização não determina a altitude, ou seja, não leva-se em consideração
se determinado ponto refere-se, por exemplo, à Holanda ou ao Monte Everest.
19
tempo em que suas projeções ao longo dos três planos formados pela conjugação dos
eixos ortogonais permanece e é possível de ser feita, mas sabendo-se agora que tais
X,Y e Y,Z, demonstrados respectivamente nas figuras 1 e 2, o plano analítico que falta
para definir com precisão a síntese do referido objeto, ou seja, o plano analítico
formado pelos eixos X,Z. Definindo-se o terceiro plano pode ser introduzido o
resultado da análise que faltava, conforme vê-se na figura 9, e até mesmo representar
detalhes não observáveis nesse plano à medida que o eixo Y, um dos responsáveis pela
formação dos outros planos fundamentais de análise, não está mais latente, mas é
levado em conta, como pode-se observar através da figura 10, onde a representação de
Eixo Z Eixo Z
Eixo X Eixo X
Eixo Y Eixo Y
20
planos fundamentais de análise do referido objeto, isso não garante mais do que a
observação do objeto nesses três planos, conforme observa-se na figura 11. Visando
todos os seus elementos, tarefa sem a qual a próxima etapa seria impossível, isto é,
todas as análises disponíveis, valendo-se assim tanto das descrições nos diversos
descrições como as explicações têm alcances diversos, podendo ter origem à superfície
Segundo Habermas:
9
HABERMAS, Jürgen. O que é a pragmática universal?(1976), p. 25.
10
HABERMAS, J. Idem, p. 22.
21
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
resultado a síntese conforme a figura 12. Contudo, o resultado final não se apresenta
como resposta definitiva e absoluta na explicação do objeto pesquisado, visto que todo
esse processo não realiza-se de forma estática, mas sim de forma dinâmica, cuja força
responsável por isso reside no movimento dialético da história, ou seja, assim como se
tem na estrutura triádica dos eixos ortogonais a estrutura fundamental para a descrição
do objeto no espaço, pode-se afirmar que de forma análoga a sua explicação só pode
ser considerada adequada levando-se em conta uma nova estrutura triádica formada
22
agora pelo tempo, pelo espaço e pela existência de algo justamente durante sua duração
Eixo Y
Eixo X
Eixo Z
tridimensional que seja capaz de sintetizar os três planos então analisados. Caso
enfoque epistêmico único poderá levar a debates conceituais entre paradigmas como os
o problema for tratado no âmbito da “unidade da razão” ou, como afirma Maar, “o
‘paradigma produtivo’”11.
solidariamente organizado.”13
11
MAAR, Wolfgang Leo. História e consciência de classe, setenta anos depois, p. 180.
12
“O confronto da ‘idéia’ com a efetivação da mesma na própria realidade em que ela se produz
caracteriza a ‘crítica imanente’. O sentido do processo histórico é imanente ao próprio processo
histórico. Já não caberia ‘realizar ideais, utopias [...] mas colocar em liberdade os elementos da nova
sociedade’.” Cf. MAAR, W. L. Idem, p. 186.
13
MAAR, W. L. Idem, p. 181.
24
lingüística de Wittgenstein verificou que a forma distintiva de vida dos seres humanos
ação: se a forma de vida humana se distingue por obter compreensão pela língua, então
a reprodução social não pode ser reduzida à dimensão única do trabalho, como propõe
natureza, a prática da interação lingüisticamente mediada deve ser encarada como uma
categorias incompatíveis uma em relação a outra junto à vida dos seres humanos, pelo
14
Cf. HONNETH, Axel. Teoria Crítica, p. 538.
15
HONNETH, A. Idem, p. 539. Os grifos são nossos.
25
absoluto da reflexão sobre si mesmo que, entre outras coisas, também se manifesta na
16
Cf. Um perfil filosófico-político: uma entrevista com Jürgen Habermas. Novos estudos CEBRAP, n.º
18, p. 94, set. 1987.
17
O conceito de “interação”, bem como o de “trabalho”, a que ele se refere é o de interação social que
Habermas vai desenvolver em Trabalho e Interação: notas sobre a filosofia hegeliana do espírito no
período de Iena, Cf. HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como “ideologia”. p. 11-43.
18
HONNETH, A. Idem, p. 540.
26
espírito”19.
desenvolvido por Kant, como a “unidade pura que a si mesma se refere”, como o “eu
com o seu outro, mas o Eu comunica com o outro eu enquanto outro”21. Sendo assim,
caráter abstrato, pelo que qualquer um pode dizer Eu a si mesmo, abrangendo todos os
sujeitos possíveis, mas por outro lado, ao dizê-lo o particulariza como algo de
19
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como “ideologia”, p. 12.
20
HABERMAS, J. Idem, p. 14.
21
HABERMAS, J. Idem, ibidem.
22
HABERMAS, J. Idem, p. 15.
27
particular por meio de um espírito que possa integrar a unidade do Eu com um outro,
sem identificar-se com ele. Desta feita, Habermas afirma que: “Espírito é a
partir das leis de produção da vida social”26 reduz todas as categorias em ação
Marx não explicita efetivamente a conexão entre interação e trabalho, mas, sob o
título nada específico da práxis social, reduz um ao outro, a saber, a ação
comunicativa à instrumental. A atividade produtiva que regula o metabolismo do
gênero humano com a natureza circunjacente, do mesmo modo que, na filosofia do
espírito de Iena, o uso dos instrumentos estabelece uma mediação entre o sujeito
23
HABERMAS, J. Idem, p. 16.
24
“Hegel chama trabalho à forma específica da satisfação das necessidades, que distingue da natureza
o espírito existente. Assim como a linguagem infringe a imposição da intuição e ordena o caos das
múltiplas sensações em coisas identificáveis, assim o trabalho infringe a imposição do desejo imediato
e suspende, por assim dizer, o processo de satisfação das necessidades”. Cf. HABERMAS, J. Idem, p.
25.
25
HABERMAS, J. Idem, p. 31.
26
HABERMAS, J. Idem, p. 41.
28
humilhação, pois não existe uma conexão evolutiva automática entre trabalho e
interação. Apesar de tudo, existe uma relação entre os dois momentos”28. Com isso,
Habermas marca posição em relação à possibilidade, cada vez menos provável, de uma
racionalidade instrumental.29
legitimação de dominação da sociedade. Entende por “trabalho” como sendo uma ação
racional teleológica que pode ser a ação instrumental orientada por regras técnicas
num saber analítico, ou ainda, uma combinação das duas. Já a ação comunicativa,
27
HABERMAS, J. Idem, ibidem.
28
HABERMAS, J. Idem, p. 42.
29
Cf. HABERMAS, Jürgen. A nova intransparência: a crise do Estado de bem-estar social e o
esgotamento das energias utópicas, p. 103-114.
30
Estudo publicado em obra já citada, cujo título empresta à mesma.
29
entende como “uma interação simbolicamente mediada. Ela orienta-se segundo normas
que têm de ser entendidas e reconhecidas, pelo menos, por dois sujeitos agentes”31.
sociedade capitalista; como diz Habermas, “só com o meio de produção capitalista
31
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como “ideologia”, p. 57.
32
HABERMAS, J. Idem , p. 64.
33
HABERMAS, J. Idem, p. 66.
30
individual.
consideração por Marx: a força de trabalho dos produtores imediatos tem cada vez
menos importância.”34
Teixeira, “ele julga que a teoria marxiana do valor tornou-se supérflua, superada”36.
Mais, contrário aos argumentos habermasianos, afirma que “as transformações por que
34
HABERMAS, J. Idem, p. 72. Os grifos são nossos.
35
Cf. TEIXEIRA, Francisco José Soares. Modernidade e crise: reestruturação capitalista ou fim do
capitalismo, p. 15-74.
36
TEIXEIRA, F. J. S. Idem, p. 33.
37
TEIXEIRA, F. J. S. Idem, p. 66.
31
numa visão quantitativa dos fatores que entram na produção da riqueza”38. Contudo, o
próprio Teixeira, mais adiante afirma que, “as modificações operadas nos processos de
das forças produtivas for mediado pela forma capital, o saber técnico e científico
visto que Habermas não apresenta a ciência como a única força produtiva no
capitalismo desenvolvido, mas sim, ocupando a primeira posição, o que não exclui
Marx, nos Grundrisse (Gr. II, p. 193), afirmava que na fase do capitalismo na qual
a ciência dominaria enquanto força produtiva, substituindo o trabalho, seria
inevitável constatar que o tempo imediato de produção se constituiria numa ‘base
miserável’ ou numa ‘pura abstração’. Como conseqüência disto o tempo de
produção não poderia ser a medida da eficácia produtiva. Esta eficácia depende
agora da força produtiva geral do homem, da produtividade dos saberes e de suas
aplicações...40
38
TEIXEIRA, F. J. S. Idem, ibidem.
39
TEIXEIRA, F. J. S. Idem, p. 68. Os grifos são nossos.
40
CARLEIAL, Liana Maria da Frota. Mudanças no trabalho e implicações sobre a mensuração da
produtividade: uma primeira aproximação, p. 25. Os grifos são nossos.
32
complexos desafios que a realidade apresenta, mas não mais de forma unilateral e
41
Cf. HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade, p. 416.
CAPÍTULO 3 – SISTEMA E MUNDO DA VIDA
dos seus recursos faz-se necessário ainda, refletir acerca da relação entre sistema e
conceitual.
tecnologia contemporânea pode criar sóis, não seria ela também capaz de instaurar
novas sociedades? Não caberia resolver nossas vicissitudes por meio duma engenharia
cruza, pois, com a idéia de engenharia social, por conseguinte, duma razão tecnológica
42
GIANNOTTI, José Arthur. A sociabilidade travada, p. 50.
34
capaz de divisar os fins duma nova sociedade e de encontrar os meios para sua
implementação.”43
concebe-se recorrentemente como uma passagem para o novo; ela vive na consciência
si mesma na busca de soluções aos problemas que o passado lhe legou constata:
tradição e a inovação.”45
explicar a realidade atual de forma autêntica, necessita-se expor, ainda que em linhas
Sumérios na Mesopotâmia, anterior a 2500 aC., e vai até aos dias atuais nas diferentes
43
GIANNOTTI, J. A. Idem, ibidem.
44
HABERMAS, Jürgen. A nova intransparência, p. 103.
45
HABERMAS, Idem, ibidem.
35
ele ainda, a própria criação do calendário, do ano com 12 meses, dos sistemas de
controlar o tempo, a partir das observações em que se destacou uma regularidade entre
sistema.”47 De uma forma geral, pode-se afirmar que, “sistema é, portanto, uma forma
do mundo real, mas sim a descrição ou destaque daqueles ‘traços’ da realidade, cujo
teoria esta proveniente das mais diversas searas do conhecimento humano, desde a
termodinâmica até a biologia49, passando pela cibernética, etc, foi Niklas Luhmann,
seguindo principalmente Talcott Parsons, quem apresentou uma das mais complexas e
sofisticadas teoria dos sistemas sociais, e, que através do debate conceitual entre ele e
46
LIEBER, Renato Rocha. Teoria de Sistemas, p. 1.
47
LIEBER, R. R. Idem, ibidem.
48
LIEBER, R. R. Idem, ibidem.
49
Cf. MATHIS, Armin. O conceito de sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, p. 3.
36
sociais seguindo o que vinha sendo afirmado sobre sistemas sociais, ou seja, apenas
Domingues,
seres vivos, por exemplo, esses são processos fisiológicos; no caso de sistemas
50
A palavra grega poíesis, que significa produção, formação, criação, tem na língua portuguesa o
elemento de composição –poese, do qual derivam palavras como “hematopoese, hematopoético,
galactopoese, galactopoético”, mas também, palavras como “poesia, poeta, poética, poético”, ou seja,
com a mesma derivação etimológica, imporia a utilização do termo “autopoese” (e conseqüentemente
“autopoético”) à tradução de autopoiesis. Contudo, com a finalidade de não fomentar qualquer tipo de
ambigüidade no texto, ou melhor, na compreensão do termo, optou-se pela não tradução do termo.
51
DOMINGUES, José Maurício. Criatividade e tendências mestras na teoria sociológica
contemporânea, p. 3.
37
operações ocorrem, e que não pode ser integrado a suas estruturas internas.”52
autopoiética dos sistemas sociais de Luhmann, o que se busca num primeiro momento
priorizando sua análise sobre a sociedade sem, contudo, deixar de realizar tal tarefa em
paralelo com uma reflexão sobre o mundo da vida. Além disso, segundo Luhmann,
“Habermas sempre entendeu que a teoria de sistemas fornece uma descrição adequada
habermasiana.”53
sistemas e demonstrar suas mais diversas variações em aplicações das mais distintas,
faz uma afirmação no tocante à discrição e não atualização da sociologia e, logo após,
52
BECHMANN, Gotthard; STEHR, Nico. Niklas Luhmann, p. 190.
53
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Autopoiese do Direito na Sociedade Pós-Moderna, p. 96.
54
Cf. LUHMANN, Niklas. Por que uma “teoria dos sistemas”?, p. 432.
38
continua sua crítica contra a utilização de analogias argumentando que, “já que, ao
contrário do antigo pensamento europeu, não existe mais um conceito de mundo que,
55
LUHMANN, N. Por que uma “teoria dos sistemas”?, p. 432.
56
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
57
Cf. FOERSTER, Heinz von. Sui sistemi auto-organizzatori e i loro ambienti, p. 51-69.
58
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
39
realiza algumas mudanças em sua teoria, como afirma Mathis, “uma das mudanças
que trouxe uma nova visão sobre a relação entre sistema e ambiente, Luhmann e De
59
MATHIS, A. Idem, ibidem.
60
“A questo livello della discussione un momento nuovo è costituito dal contributo di Humberto
Maturana, che ha elaborato il concetto di autopoiesi. Sistemi autopoietici sono sistemi che producono
essi stessi non soltanto le loro strutture, ma anche gli elementi dei quali essi sono composti, proprio
nella rete di questi elementi. Gli elementi – sul piano temporale sono operazioni – dei quali i sistemi
autopoietici sono costituiti, non hanno una esistenza indipendente: non si incontrano semplicemente;
non vengono semplicemente collegati. Essi vengono piuttosto prodotti nel sistema, ed esattamente per
il fatto che (qualunque sai la base energetica o materiale) vengono utilizzati come distinzioni. Gli
elementi sono informazioni, sono distinzioni che fanno differenza nel sistema. E in questo senso sono
unità d’uso per la produzione di unità d’uso, per le quali nell’ambiente non c’è corrispondenza.” Cf.
LUHMANN, Niklas; DE GIORGI, Raffaele. Teoria della società, p. 21. A tradução livre é nossa.
40
como por exemplo Maturana e Varela, afirmam que o conceito de autopoiesis deve
61
“En contraste con la teoria de sistemas funcionalista de cuño antiguo, Maturana y Varela (1985: 190)
subrayaron que las finalidades, los objetivos y las funciones de los sistemas vivos sólo existen en la
imaginación del observador. Las funciones no tienen ningún valor explicativo en el ámbito de los
fenómenos, puesto que no actúan como elementos causales en la reformulación de un fenómeno
cualquiera. Consecuentemente, el pronóstico del estado futuro del sistema no es considerado más que
como la ‘anticipación de uno de los estados sucesivos de la máquina en la conciencia de un
observador’.
La autopoiesis se caracteriza en la complementariedad de estructura y función, de estabilidad e
inestabilidad. La autoproducción y la autorrenovación de los sistemas autopoiéticos se lleva a cabo en
una dinámica que parece estable y que, sin embargo, no llega nunca a detenerse.” Cf. BEYME, Klaus
von. Teoría política del siglo XX – De la modernidad a la postmodernidad, p. 205. A tradução livre é
nossa.
41
62
“La segunda generación de teóricos de los sistemas autoorganizados se ha vuelto más escéptica
respecto a la aplicación de sus conceptos a la política y a la sociedad de lo que habían sido los padres
fundadores en su entusiasmo de descubridores. En gran medida, hay acuerdo en que sólo puede
denominarse autopoiéticos a los sistemas vivos. Ocasionalmente, también se ha tratado en términos
autopoiéticos a partes de los sistemas vivos. Aunque el cerebro del hombre es autorreferencial, puesto
42
utilização da abstração por parte dele, com suas conseqüentes conceitualizações para
mundo é sempre maior do que a complexidade de um sistema, que por outro lado,
que sus estados están organizados circularmente, no es sin embargo un sistema autopoiético, puesto
que no produce él mesmo sus componentes, es decir, las neuronas (Roth 1986: 177). Las antiguas
analogías de cerebro y sistema nervioso en el modelo cibernético todavía atribuían a estos
componentes del sistema una importancia unilateralmente exagerada.
El rango epistemológico de los sistemas es debatido. Luhmann partía de que sus sistemas no eran
únicamente constructos del observador. También Maturana se inclinaba a este esencialismo. Varela
(1979: 53 y ss), por el contrario, se sentía perspectivista. Los rasgos de los sistemas autopoiéticos
fueron considerados características de la observación de sistemas. Se propuso como solución llevar la
analogia únicamente hasta el principio de autorreferencialidad. Muchos subsistemas del sistema
social, sobre todo los del derecho, la ciencia y la religión, se caracterizan por la circularidad de su
código. Por el contrario, en las ciencias sociales se podría renunciar a todos los elementos teóricos de
la autopoiesis biológica que aceptaban la autoprodución (Roth 1987: 283). Sin embargo, los enfoques
derivados de la teoría de catástrofes, aplicados a la investigación de revoluciones, también subrayan la
autoproducción de los sistemas políticos. Finalmente, también parece de todo punto insostenible la
traslación a los sistemas sociales de la característica de autorreproducción, de la que, en todo caso,
sólo puede hablarse en sentido metafórico. Se han planteado objeciones de peso a la exportación de la
terminologia autopoiética desde la biología a las ciencias sociales:
- Los sistemas sociales no generan los sistemas vivos que constituyen los sistemas sociales. Por citar
un ejemplo popular: un equipo de fútbol no genera sus jogadores.
- Los sistemas automantenidos pueden ser sistemas sin cerebro. Los sistemas sociales no son
controlados por una especie de supercerebro, como esperó en tiempos la utopía cibernética (cfr.
cap. I.3.d). No obstante, tiene lugar en ellos una especie de coordinación que no tiene parangón en
todos los sistemas vivos. La cooperación de muchos cerebros en una sociedad no ha sido, sin
embargo, interpretada en una teoria plausible, si no se considera suficiente diluir esta cooperación
en “comunicación”.
- Los sistemas humanos constituyen una pluralidad de sistemas sociales al mismo tiempo. Su
cooperación apenas ha sido resuelta teóricamente, como muestra el debate en torno al sistema
mundial en relación con las sociedades nacionales (cap. II.3.d).
Todos los componentes de los sistemas sociales tienen un acesso directo ao entorno del sistema en
cuestión, muy a diferencia de los elementos integrantes de los sistemas biológicos.” Cf. BEYME, K.
Teoría política del siglo XX – De la modernidad a la postmodernidad, p. 216. A tradução livre é nossa.
43
problema de como enfrentar a dupla contingência.”63 Para Luhmann, “na teoria dos
então claro que aquilo que Ego dá a conhecer como expectativa, restringe o intervalo
dos diversos sistemas ao seu redor constitui para o sistema focal a complexidade do
seu meio. Para poder enfrentar essa complexidade no seu meio, o sistema é obrigado a
corresponder com a elaboração de estruturas complexas, que por sua vez, podem
esse processo evolutivo torna-se mais claro, sobretudo, à medida que se compreende
63
MATHIS, A. Idem, p. 5.
64
LUHMANN, N. Por que uma “teoria dos sistemas”?, p. 431.
65
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
66
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
67
MATHIS, A. Idem, p. 6.
44
como se desenvolveu o entendimento acerca do que são sistemas, mais que isso, acerca
evolução Luhmann afirma que “permanecia contudo não esclarecido o que são
conservação dos sistemas”69, até a aceitação por parte daqueles mais próximos à
funcionamento interno dos sistemas formou-se uma lacuna teórica que possibilitou
a teoria dos sistemas que se auto-organizam, que constroem e alteram suas próprias
estruturas com suas próprias operações e que, neste sentido, são ‘autônomos’; mas que,
68
LUHMANN, N. Idem, p. 432.
69
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
70
LUHMANN, N. Idem, p. 433.
71
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
45
... a teoria dos sistemas não se ocupa de um particular tipo de objetos; ela usa uma
determinada distinção, isto é, a distinção entre sistema e ambiente. Na perspectiva
da teoria dos sistemas, evolução não significa outro se não que: as transformações
da estrutura, uma vez que podem ser efetuadas só ao interno do sistema (em modo
autopoiético), não se produzem à discrição do sistema, mas devem afirmar-se em
um ambiente que o sistema mesmo não pode sondar, em todo caso não pode incluir
em si através de uma planificação. A diversificação evolutiva e o incremento dos
sistemas é ao mesmo tempo uma diversificação e um incremento do ambiente. Só a
diferença entre sistema e ambiente torna possível a evolução. Em outros termos:
nenhum sistema pode evoluir a partir de si. Se o ambiente não evoluísse sempre de
modo diverso do sistema, a evolução teria rapidamente fim em um “optimal fit”.
Primeiro de tudo, porém, é considerar que a diferença entre sistema e ambiente dá a
toda transformação um efeito de multiplicação. Ela transforma um sistema e com
isto, ao mesmo tempo, o ambiente (relevante ou irrelevante) dos outros sistemas.
Toda transformação, então, ativa com grande probabilidade uma multiplicidade de
série de efeitos que, contemporaneamente, e portanto independentemente um do
outro produzem efeitos, pelos quais pois, vale o mesmo princípio.72
e ambiente Luhmann apresenta o que ele chama de uma nova trindade conceitual, ou
72
“... la teoria dei sistemi non si occupa di un particolare tipo di oggetti; essa usa una determinata
distinzione, cioè la distinzione tra sistema e ambiente. Nella prospettiva della teoria dei sistemi,
evoluzione non significa altro se non che: le trasformazioni della struttura, poiché possono essere
effettuate solo all’interno del sistema (in modo autopoietico), non si producono a discrezione del
sistema, ma devono affermarsi in un ambiente che il sistema stesso non può sondare, in ogni caso non
può includere in sé attraverso una pianificazione. La diversificazione evolutiva e l’incremento dei
sistemi è allo steso tempo una diversificazione e un incremento degli ambiente. Solo la differenza tra
sistema e ambiente rende possibile l’evoluzione. In altri termini: nessun sistema può evolvere a partire
da sé. Se l’ambiente non evolvesse sempre in modo diverso dal sistema, l’evoluzione avrebbe
rapidamente fine in un “optimal fit”. Prima di tutto, però, è da considerare che la differenza tra sistema
e ambiente dà ad ogni trasformazione un effetto di moltiplicazione. Essa trasforma un sistema e con
questo, allo stesso tempo, l’ambiente (rilevante o irrelevante) degli altri sistemi. Ogni trasformazione,
allora, attiva con grande probabilità una molteplicità di serie di effetti che, contemporaneamente, e
quindi indipendentemente l’uno dall’altro producono effetti, per i quali poi, vale lo stesso principio.”
Cf. LUHMANN, N.; DE GIORGI, R. Teoria della società, p. 177. A tradução livre é nossa.
46
do funcionamento dos sistemas residem, não nas condições exógenas impostas pelo
meio envolvente às quais tenham de se adaptar da melhor forma possível (como era
entendido pela teoria dos sistemas abertos), mas afinal no próprio seio
bases sobre as quais se assentam a funcionalidade dos sistemas não ficam tão evidentes
73
LUHMANN, N. Por que uma “teoria dos sistemas”?, p. 433.
74
LUHMANN, N. Idem, p. 434.
75
TEUBNER, Gunther. O Direito como sistema autopoiético, p. 32.
47
produção das suas próprias condições originárias de produção, tornando-se desse modo
estrutural”, sem o qual teríamos que pensar a relação entre sistema e ambiente como
possível, visto que não se poderia nem mesmo designá-lo “se não existisse nada mais
76
TEUBNER, G. Idem, ibidem.
77
TEUBNER, G. Idem, p. 33.
78
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
79
LUHMANN, N. Idem, ibidem. Os grifos são nossos.
48
contribui para nenhuma operação do sistema (uma vez que neste caso as realizações
pode prejudicar, irritar ou, como diz Maturana, perturbar as operações do sistema
da teoria dos sistemas auto-referenciais e com isso a diferença entre sistema e ambiente
se dá também com relação aos sistemas cognitivos, sistemas esses que para Luhmann
com certeza: quase nunca se cai na tentação de confundir a palavra ‘maçã’ com uma
80
LUHMANN, N. Idem, p. 435.
81
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
49
precisa, por esta razão, poder diferenciar no âmbito interno (aonde mais?) entre auto-
referência e referência externa. Somente com esta condição tornar-se-á capaz de operar
de modo cognitivo.”83
própria e a fenômenos. Nenhuma dessas duas referências pode ser deixada de lado,
(nóesis) e referência externa (nóema); e isso numa forma processual, temporal, de tal
modo que a consciência pode oscilar entre entrega ao mundo (Hingabe an die Welt) e
82
LUHMANN, N. Idem, p. 437.
83
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
84
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
50
externas.”86
sem que houvesse um esgotamento de sua análise a partir de pormenores, visto que os
continuidade da reflexão. Desta feita, vale destacar alguns pontos antes que se mude o
foco para o mundo da vida, contudo levando-se em conta o que já foi visto.
em sua análise da sociedade que produziram não apenas críticas vigorosas, mas
sociedade mundial.”87
85
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
86
LUHMANN, N. Idem, ibidem.
87
BECHMANN, G.; STEHR, N. Niklas Luhmann, p. 193.
51
emancipação, com o argumento de que esses conceitos não servem mais para nada, não
são funcionais no atual sistema de sistemas. No seu lugar entra a relação funcional
universal entre sistema e mundo circundante, tida como a única capaz de reduzir a
não cumpre o que promete, isto é, não fornece ajuda quando se trata da escolha de
pseudo-alívio para a complexidade do indivíduo, que não decide por si mesmo, uma
mundo da vida por parte de uma visão unicamente sistêmica, tendo-se como
Segundo Habermas, “Luhmann afirma que as sociedades complexas não são mais
88
SIEBENEICHLER, Flávio Beno. A Sociedade como Mundo da Vida e como Sistema – Um
confronto entre J. Habermas e N. Luhmann, p. 38.
89
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, p. 39.
52
de valor – tem uma capacidade muito reduzida para articular entre si os carecimentos
pensa acerca da relação entre a sociedade e os indivíduos, sem que haja a necessidade
social. A realidade sistêmica da sociedade foi, por assim dizer, posta além da
indivíduos pertencem agora ao ambiente que circunda seu sistema social. A sociedade
adquire em face deles uma objetividade que, não mais se referindo à subjetividade, já
90
HABERMAS, Jürgen. Para a Reconstrução do Materialismo Histórico, p. 95.
91
HABERMAS, J. Idem, ibidem.
53
numa segunda onda de objetivação – esta é alienada do mundo compreensível, mas não
para cair sob o pensamento objetivante, e sim para atribuir aos sujeitos a posição de
ambientes sistêmicos. Porém, tão logo os indivíduos e sua sociedade passam a manter
entre si uma relação recíproca de sistema e ambiente, desaparece o terreno que pode
desumanizada agora não só toma o lugar da consciência histórica, que passa então a
Assim, tal sociedade desumanizada “não apenas se autonomiza enquanto sistema com
relação aos indivíduos, mas termina por se estabelecer fora do mundo habitável por
indivíduos.”93
social e como algo que faz parte – enquanto delimitações – da análise sistêmica dos
problemas de direção e controle. Uma teoria dos sistemas ensandecida, que negligencia
92
HABERMAS, J. Idem, p. 96.
93
HABERMAS, J. Idem, p. 97.
54
sentido da evolução. Com efeito, de acordo com os critérios de uma vida social que
radicalmente sistêmico afirma que “seu descartar integral dos atores individuais e de
qualquer tipo de agência significa que se a sociologia luhmanniana deve reter a sua
vitalidade após a morte de seu fundador, ela terá de seguir seu caminho sozinha, ao
vida que tinha Husserl e posteriormente Habermas. Segundo Beyme, o mundo da vida
para Luhmann não é mais que um aspecto, não merecendo assim qualquer defesa
normativa de sua parte; ao passo que mesmo que a evolução dos sistemas traga em si
contradições e rupturas, ele já não as critica. Nesse sentido, Beyme afirma que “muitas
94
HABERMAS, J. Idem, p. 98.
95
DOMINGUES, J. M. Criatividade e tendências mestras na teoria sociológica contemporânea, p. 7.
55
teórica. Parece muito mais forte seu vínculo com a fenomenologia de Husserl. Neste
realizou suas pesquisas e construiu sua teoria, e conseqüentemente qual foi o preço
pago por tal escolha, ou seja, colocando a comunicação como unidade elementar de
autoconstrução dos sistemas no lugar que antes era ocupado pela ação no, segundo sua
concepção, velho paradigma. Dessa forma, tudo o que ocorre no sistema aparece como
gerado e controlado interiormente, ainda que elementos do controle interno tenham sua
origem fora do sistema, tendo assim que adequar-se à circularidade interna a partir do
momento em que são redefinidos como meras comunicações. Segundo ele, Luhmann
96
“Muchas veces se ha denominado a Luhmann continuador de la tradición del hegelianismo de
derechas (Spaemann 1990: 64). Probablemente, de Hegel le atraía sobre todo su comprehensiva
ambición teórica. Parece mucho más fuerte su vínculo con la fenomenología de Husserl. En este
aspecto pueden descubrirse paralelismos con Habermas, en cuyo desarrollo teórico también es evidente
la vinculación de la tradición filosófica alemana con la investigación norteamericana de sistemas.” Cf.
BEYME, K. Teoría política del siglo XX – De la modernidad a la postmodernidad, p. 227. A tradução
livre é nossa.
56
desafios peculiares que este apresenta ao sistema social é obrigado a reconhecer que os
mesmos não são simplesmente dados, mas sobretudo, aparecem seletivamente pré-
preservação de padrões de interação social a que se atribui valor cultural. Desta forma,
independentemente das estruturas sociais, como se fossem fatos objetivos aos quais
97
“En el plano empírico se había ocupado de datos autoproducidos, en el teórico con clásicos
autoproducidos y se había mostrado incapaz de aprender en el contexto interdisciplinario. La
capacidad de aprendizaje de Luhmann, por el contrario, superó considerablemente la mera importación
de conceptos desda la biología. Luhmann los interpretó de modo peculiar y llevó a nuevas y
sorprendentes asociaciones. El precio de tanta originalidad fue sin embargo elevado: tuvo como
consecuencia la sobregeneralización, la confusión de planos y nuevas cosificaciones. Sus sistemas
autopoiéticos se expusieron a la sospecha de haber sido definidos de forma conscientemente
inaplicable y no operacionalizable (Bühl 1987: 229).” Cf. BEYME, K. Teoría política del siglo XX –
De la modernidad a la postmodernidad, p. 228. A tradução livre é nossa.
57
sobrevivência biológica.”98
apresentada por Ingram quando o primeiro afirma que neste modelo “é impossível
lembra que os valores culturais ‘servem não só para orientar os sistemas sociais mas
funcionam também dentro do sistema para objetivos que não estão nele refletidos’.
da integração do sistema.”100
herança da filosofia do sujeito. Segundo Habermas, “essa teoria dos sistemas não
98
INGRAM, David. Habermas e a dialética da razão, p. 181.
99
INGRAM, D. Idem, ibidem.
100
INGRAM, D. Idem, p. 182.
58
de resolver problemas. Para tanto, efetua uma mudança de perspectiva que torna inútil
mesma, a teoria sistêmica da sociedade não pode senão adotar uma atitude afirmativa
teoria sistêmica no âmbito da filosofia do sujeito leva Habermas a concluir que sob
esse aspecto “é o próprio mundo da vida que deve ser apropriado em uma perspectiva
de auto-objetivação, de modo que tudo aquilo que, dentro de seu horizonte, se nos abre
apenas segundo os modelos das ciências naturais.”103 Assim sendo, Habermas ressalta
que “um efeito de objetivação realiza-se à medida que a teoria dos sistemas penetra no
101
HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade, p. 511.
102
HABERMAS, J. Idem, p. 525.
103
HABERMAS, J. Idem, p. 532.
59
continua ele, “na medida em que a teoria de sistemas não presta sua contribuição
104
HABERMAS, J. Idem, p. 533.
105
HABERMAS, J. Idem, p. 534.
106
HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos, p. 31.
60
ressaltar que tal conceito só foi desenvolvido por Habermas a posteriori, servindo-se
Husserl; ao que Beyme, referindo-se a Husserl e aos problemas que sua fenomenologia
enfrentava, escreve:
107
“Para la fenomenología no era ya posible un retorno a la metafísica. Husserl había retenido la
concepción de la filosofía como “guía de la humanidad”. La filosofía parecía llamada a luchar contra el
“diluvio escéptico” de la ciencia positiva, como otrora la concepción griega de la episteme (ciencia) se
había enfrentado a la mera doxa, la experiencia cotidiana intuitiva. A la naturaleza científicamente
“idealizada”, expresémoslo así, de las ciencias naturales opuso Husserl (1982: 12, 54) la naturaleza
intuitiva precientífica, el mundo de la vida: “este mundo realmente intuitivo, realmente experimentado
y experimentable, en el que se desarrolla en la práctica nuestra vida entera”. Este mundo de la vida no
es transformado en su “propio estilo causal concreto” por la razón escindida racionalmente. El mundo
de la vida como “razón oculta”, el “acertado retorno a la ingenuidad de la vida”, fue contrapuesto a la
ingenuidad objetivista de la filosofía tradicional, que no plantea ninguna “reflexión que se levanta por
encima de sí misma” sobre la vida.” Cf. BEYME, K. Teoría política del siglo XX – De la modernidad
a la postmodernidad, p. 243. A tradução livre é nossa.
61
relação existente entre estes dois momentos, e mais do que isso, ao apresentar o
estudo acerca do mundo da vida, mas também como uma base para o desenvolvimento
não só do conceito de mundo da vida por parte de Habermas, como também de toda a
Para Habermas lhe parecia inadmissível exigir dos científicos empíricos que
meditassem sobre a construção transcendental do mundo social. Por isso, se
substituiu a análise da consciência da fenomenologia pela análise da linguagem. As
análises da linguagem permitiam reconstruir as estruturas da experiência e da
comunicação tal como se davam na realidade social. Habermas se distanciava na
forma mais decidida da fenomenologia: “As mônadas não têm a intersubjetividade
da linguagem senão a partir de si mesmas. Todavia não se percebeu que a
linguagem é como uma tela de cujos fios pendem os indivíduos e donde, e só aí, se
constituem como indivíduos”. Habermas tomou o termo básico de “mundo da vida”
da fenomenologia. Com ele não pretendia, contudo, penetrar nas estruturas da
consciência subjetiva, senão investigar as condições formais da “intersubjetividade
na comunicação lingüística”.109
108
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método, p. 374.
109
“A Habermas (1982: 233) le parecía inadmisible exigir de los científicos empíricos que meditasen
sobre la construcción transcendental del mundo social. Por ello, se sustituyó el análisis de la conciencia
de la fenomenología por el análisis del lenguaje. Los análisis del lenguaje permitían reconstruir las
estructuras de la experiencia y de la comunicación tal como se daban en la realidad social. Habermas
64
... para Habermas, a ação comunicativa surge como uma interação de, no mínimo
dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações interpessoais com o
objetivo de alcançar uma compreensão sobre a situação em que ocorre a interação e
sobre os respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações pela via do
entendimento. Neste processo, eles remetem-se a pretensões de validade criticáveis
quanto à sua veracidade, correção normativa e autenticidade, cada uma destas
111
PINTO, José Marcelino de Rezende. Administração e liberdade: um estudo do conselho de escola à
luz da teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas, p. 75.
66
112
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, p. 42.
113
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, p. 43.
114
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, p. 44.
67
comunicação, Beyme apresenta que por mais que haja a tentativa crescente de
115
“Por medio de la integración de los aspectos teóricos del mundo de la vida y del sistema, el debate
en torno a los enfoques del mundo de la vida salió de los círculos de las pequeñas sectas. Fue fructífera
la conclusión de que la teoria del sistema no puede ser adscrita exclusivamente a la
macroinvestigación, igual que los enfoques del mundo de la vida no pueden ser adscritos
exclusivamente a la microteoría (Habermas 1986: 394). Habermas intentó prestar una mayor atención
a los puntos de contacto entre las partes objetivas y subjetivas de la comunicación. Como Husserl,
68
comunicativa, o mundo da vida cobrava uma nova classe racional. Não se contrapunha
constató que persistía la amenaza sobre los campos subjetivos del mundo de la vida en sociedad. Esta
amenaza fue conceptuada bajo la fórmula transparente de “colonización del mundo de la vida”. Con
otras denominaciones, la tesis de la colonización había sido tema de muchas teorías crítico-dialéticas.
En la sociologia de Karl Marx, una de las ideas centrales consistía en que el proceso de producción
capitalista, que se independiza del trabajo concreto y de la orientación de las personas por el valor de
uso de los productos, se ve envuelto cada vez más en la lógica de acción del pensamiento económico-
calculador. El mundo de la vida del trabajo se ve amenazado por este proceso.
En Habermas, el análisis de la sociedad está tan fuertemente “parsonizado”, que el esquema de base-
superestrutura no sirve ya como punto de partida. El mundo de la vida ocupa el lugar que las
circunstancias económicas ocupaban en Marx. Sin embargo, las relaciones de cambio de ambos
sectores son bastante más complejas que en los enfoques marxistas (cfr. cap. I.3.c). Con todo,
Habermas tuvo que defenderse ante la crítica de que él había desligado completamente un sector del
outro y que, con ello, los había cosificado. En el modelo de sociedad de Habermas, el mundo de la vida
está, en realidad, únicamente desligado de los subsistemas de la política y la economía sujetos a los
medios de control, pero no de todos los mecanismos de integración en el conjunto del sistema.” Cf.
BEYME, K. Teoría política del siglo XX – De la modernidad a la postmodernidad, p. 250. A tradução
livre é nossa.
116
“En la teoría de la racionalidad comunicativa, el mundo de la vida cobraba un nuevo rango racional.
No se contraponía de forma enfática el mundo de la vida al “mundo” o al “sistema”. Los dos ámbitos
son esferas en condición de igualdad.” Cf. BEYME, K. Idem, p. 252. A tradução livre é nossa.
117
“La colonización del mundo de la vida representaba para Habermas el fenómeno patológico más
importante de la modernidad. Se perciben aquí de nuevo influencias tanto de la tradición de la teoria
marxista de la alienación como, una vez más, de la fenomenología de Husserl.” BEYME, K. Idem, p.
253. A tradução livre é nossa.
69
se coloca de forma secundária, mas vai mesmo à raiz de toda a questão. Dentro desse
contexto, Lima Vaz afirma que “a racionalidade que organiza em sistema a produção
riqueza não é um fim em si.”118 Beyme por sua vez apresenta a posição habermasiana,
ou seja,
degradação: o mundo da vida não está submetido unicamente à colonização, senão que
118
VAZ, Henrique C. de Lima, Escritos de filosofia II: ética e cultura, p. 24. Os grifos são nossos.
119
“Para Habermas (1981, tomo 1:25), la racionalidad estaba ligada a la capacidad de comunicación
lingüística. No es, al contrario de lo que ocurre en el racionalismo occidental, una racionalidad
instrumental enfocada sobre objetos externos y sobre la dominación de la naturaleza, y tampoco se
refiere únicamente de forma reflexiva a sí misma, como en la autopoiesis, sobre la que sigue recayendo
la sospecha de constituir una escolástica de procesos sin individuos. La intersubjetividad presupone la
existencia del mundo, común al ego y al alter, los cuales mantienen entre sí una relación discursiva y
no están, como las mónadas, cerrados en sí mismos.” BEYME, K. Idem, p. 254. A tradução livre é
nossa.
120
“no interpretó los aspectos sistémicos como incremento de los márgenes de libertad del individuo.
Sin embargo, tampoco ofreció una teoría unilateral de la degradación: el mundo de la vida no está
sometido únicamente a la colonización, sino que experimenta también una racionalización que se juzga
positiva.” BEYME, K. Idem, p. 259. A tradução livre é nossa.
70
tocante à análise do racionalismo, isto é, Habermas, segundo ele, “se desprende das
diferença com relação a Luhmann, haja vista que este último assume a posição do
observador ao passo que o primeiro opta por uma postura de quem participa,
hermenêutica. Desta forma, Habermas não nega a importância do sistema, mas sim, o
possibilidade que tal acoplamento entre sistema e mundo da vida poderá trazer à
121
“se desprende de las conclusiones a las que había llegado Weber en su análisis del racionalismo
occidental. La pérdida de libertad del individuo ya no se atribuye – como en Weber – a la
burocratización, sino al desacoplamiento entre sistema y mundo de la vida.” BEYME, K. Idem, p. 260.
A tradução livre e os grifos são nossos.
71
de tal sociedade complexa desconsiderando-se, ora o ser humano como sujeito agente
dentro dessa mesma sociedade, ora toda a influência dos sistemas sociais sobre as
possibilidades de ação desses mesmos sujeitos, sem que haja ao menos uma tentativa
de diálogo entre essas duas concepções diferentes de estudo da sociedade, ainda que
não se saiba quais serão seus resultados e suas conseqüências, só leva a inferir que tais
processo de análise e estudo será fruto e obedecerá aos limites impostos pelo método
confiáveis, em que pese que, o discurso sobre o método garante à busca pelo
72
para que tal conhecimento seja entendido em todas as suas particularidades e nuanças
após a avaliação e a aceitação do discurso, fica claro que não é simplesmente o método
que possui um discurso que o valide, mas sobretudo, é o discurso mesmo que possui,
utiliza-se e vale-se agora de métodos que caracterizam-se não mais como instituintes
de forma subserviente.
propriamente dito, uma breve explanação sobre a ideologia tácita do discurso, assim
lógica, obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular
universalizada, isto é, a imagem da classe dominante.122
fora do lugar e também fora do tempo. Segundo Chaui, “a ideologia é aquele discurso
explicitamente afirmado.”123 Ou seja, “as idéias deveriam estar nos sujeitos sociais e
em suas relações, mas, na ideologia, os sujeitos sociais e suas relações é que parecem
estar nas idéias.”124 Ainda, “dizer que a ideologia não tem história significa apenas
não dependem de uma força que lhe seria imanente e que o faria transformar-se e, sim,
que tais transformações decorrem de uma outra história que, por meio da ideologia, a
significa que a tarefa precisa da ideologia está em produzir uma certa imagem do
história.”125
122
CHAUI, Marilena de Sousa, O discurso competente, p. 3.
123
CHAUI, M. S. Idem, p. 4.
124
CHAUI, M. S. Idem, ibidem.
125
CHAUI, M. S. Idem, ibidem.
74
porque perdeu os laços com o lugar e o tempo de sua origem.”126 Ou seja, segundo
afirma Chaui,
dos fatos e na suposta eficácia dos meios de ação e, que tem o papel de dissimular a
dos homens enquanto sujeitos sociais e políticos.”128 E conclui, “para que esse discurso
possa ser proferido e mantido é imprescindível que não haja sujeitos, mas apenas
126
CHAUI, M. S. Idem, p. 7.
127
CHAUI, M. S. Idem, ibidem.
128
CHAUI, M. S. Idem, p. 11.
129
CHAUI, M. S. Idem, ibidem.
75
identificando-os diretamente, ao menos afirmar que o método que tal discurso possui
envolvidos.
haja vista que, segundo demonstra Castanheira Neves, “a palavra (o discurso, a razão,
metodologia (...). E nessa base poderá ela definir-se como a ‘lógica’, a razão (a
esse método.”131
130
NEVES, A. Castanheira. Metodologia jurídica: problemas fundamentais, p. 9.
131
NEVES, A. C., Idem, ibidem.
76
diferentes, a saber: como uma relação de exterioridade construtiva, como uma relação
consequentemente a isso pode-se correlacionar também, e isso será visto mais adiante,
os tipos de ações praticadas pelo homem que terão a partir dos tipos específicos de
racionalidades como que os vetores, ou seja, os eixos que conduzem essas mesmas
ações.
... o método será objecto da razão que o modela como um instrumentum (uma
operatória instrumental) finalisticamente predeterminado – é o sentido que
corresponderá ao método definido nestes termos: “um conjunto de procedimentos
intelectuais ordenados segundo um plano racional pré-estabelecido aplicáveis a um
dado domínio em vista de um certo fim” (...), que já estava na definição de
DESCARTES (Regulae ad directionem ingenii: “por método entendo um conjunto de
regras certas e fáceis, graças às quais todos aqueles que as seguirem jamais tomarão
por verdadeiro aquilo que é falso e, sem sobrecarregarem a mente inutilmente, mas
aumentando progressivamente o saber, obterão o conhecimento verdadeiro de todas
as coisas de que forem capazes” (...) ), e em que ele se nos oferece, nesse seu modo
de processo teleologicamente programado de actividade(sic) intelectual,
verdadeiramente como um artifício (artefacto) racional que se avalia pela sua
aptidão a lograr o fim em vista, e assim com a índole de uma técnica. Trata-se de
um modelo prescrito para uma prática, e que não só pré-determina e mesmo pré-
132
Cf. a esse respeito: HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e interesse.
77
constitui uma prática, como será ainda o decisivo critério de validade dessa
prática.133
tipo de racionalidade que direciona as ações humanas, ou seja, a metodologia que será
fruto dessa relação intencional buscará um conhecimento que sirva de instrumento, isto
supra citadas.
mesma prática e por isso só reconhecível a posteriori através de uma sua análise
133
NEVES, A. C. Idem, p. 10.
134
NEVES, A. C. Idem, p. 11.
78
estratégica.
têm, como será visto adiante, a tarefa de através da realização de uma crítica, que seja
também reflexiva, tirar o homem daquela situação em que ele é tratado como objeto e
levá-lo a refletir criticamente sobre sua própria condição e assim assumir sua condição
135
NEVES, A. C. Idem, ibidem.
79
Neves, quando a prática racional do domínio que lhe corresponde e ela pressupõe se
sempre a problemática exige, para que emirja como tal, uma certa situação de crise:
quando surgem as aporias (“dificuldades ou ausência do caminho”) o que até então
era natural e, portanto, se resolvia naturalmente (acriticamente), torna-se ou
explicita-se como problema que exige uma crítica (uma reflexão crítica). E de
modo muito especial é assim nos problemas de segundo grau – só a suspeição
quanto à “natural” intentio directa provoca que se reverta problematicamente à
intentio obliqua que a constitua, e que, porque a constitui, vai nela oculta. “Natural”
é conhecer, e só quando o conhecimento natural se faz em si mesmo duvidoso ou
aporético, a interrogação se dirige ao implícito e constitutivo actus do
conhecimento enquanto tal.136
Lembremos que a palavra odos foi invocada pela primeira vez por PARMÊNIDES,
quando, tendo chegado à consciência do pensamento puro (ou da lógica), procurava
para ele um “caminho” recto. E se SÓCRATES se enfrentou com os problemas
postos pela crise sofística, pôde dele dizer W. JAEGER (Paideia, trad. esp., p. 444)
que o “diálogo socrático não pretende exercitar nenhuma arte lógica de definição
sobre problemas éticos, pois que é simplesmente o caminho, o ‘método’ do logos
para chegar a uma conduta acertada”. Assim como não ignoramos também que
PLATÃO, ao querer dar solução ao sentido problemático aberto por SÓCRATES, teve
de constituir o método da dialética – a própria palavra método é sua (...). Nem por
outra razão no tempo de ruptura e, portanto, de crise que foram os sécs. XV e XVI,
não só se divulgou a palavra methodus (tradução latina da correspondente grega),
como tiveram um quase obsessivo tratamento os problemas especificamente
metodológicos (...). E a presidir ao grande século da “crise da consciência
europeia” (P. HAZARD) não esteve o Discours de la méthode de DESCARTES? E o
que significa a actual grande discussão gnoseológica-epistemológica-metodológica
sobre a “ciência” – T. S. KUHN, The Structure of Scientific Revolutions, 2ª ed.;
136
NEVES, A. C. Idem, p. 23.
80
Nesse sentido, apenas para ilustrar, vê-se como um dos autores supra
137
NEVES, A. C. Idem, p. 24.
138
GADAMER, H.G. Idem, p. 672.
81
matemático que lhe colocam – uma vez que lhe falharam, uma após a outra, todas
as opiniões prévias e insustentáveis –, toda negatividade dialética contém uma
espécie de desenho prévio do que é verdade.
E não somente na conversação pedagógica, mas em todo pensamento, a única coisa
que deixa emergir o que há na coisa é a perseguição de sua conseqüência objetiva.
A própria coisa consegue fazer-se valer, na medida em que nos entregamos por
completo à força do pensar e não deixamos valer as idéias e opiniões que pareciam
lógicas e naturais. Platão une a dialética eleática, que conhecemos sobretudo por
Zenão, com a arte socrática da conversação, e a eleva em seu Parmênides, a uma
nova etapa da reflexão. O fato de que, na conseqüência do pensamento, a coisa se
inverta sob nossa mão e se converta em seu contrário, que o pensamento ganhe
força “ainda que sem conhecer o ‘quê’, mas extraindo tentativamente conclusões, a
partir de supostos contrários”, tal é a experiência do pensamento, a que apela o
conceito hegeliano do método como autodesenvolvimento do pensamento puro na
direção do todo sistemático da verdade.139
assim sendo,
139
GADAMER, H.G. Idem, ibidem.
82
140
NEVES, A. C. Idem, p. 30.
141
NEVES, A. C. Idem, p. 34.
83
discursos, ou seja, em primeiro lugar, “o discurso que se tem pela racionalidade das
o inter-legere, se não o espelho (speculum) discursivo dela e que por isso se dirá
142
NEVES, A. C. Idem, p. 35.
143
NEVES, A. C. Idem, ibidem.
84
seguinte maneira:
144
NEVES, A. C. Idem, p. 36.
145
NEVES, A. C. Idem, ibidem.
146
NEVES, A. C. Idem, ibidem.
85
Pode-se agora, a partir de tudo o que foi visto até o momento, refletir
acerca da emancipação humana propriamente dita, e de como chegar até ela, visto que
Quer-se aqui, dessa forma, colocar não apenas uma preocupação com
através da relação com os demais, mas sim, apresentar uma proposta, como viu-se
anteriormente, que seja inovadora e que se entrelace com a tradição. Assim sendo, o
que virá apresentado na seqüência nada mais é do que uma tentativa, uma proposta
mesmo, dentre tantas outras que possam vir a existir, de como superar a perda de
mundo da vida.
147
NEVES, A. C. Idem, ibidem.
86
do mundo da vida e capaz de revelar para o sujeito humano o sentido dos diferentes
fragmentos dos sistemas nos quais a sociedade, a ciência, a arte, a educação, etc. estão
se decompondo, ou seja, uma visão que torne possível relacionar entre si esses
sociedade.”148
busca uma justificação plausível para a utilização dos esquemas gráficos, à semelhança
dos apresentados no capítulo 1, para uma explicação que leve em conta a necessidade
de ter coerência, validade e unidade com relação ao que se quer refletir. Além disso,
148
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, p. 40.
149
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, ibidem.
87
mundo da vida de uma possível colonização por parte do sistema, afirma que isso “só
sociedades modernas dispõem de três recursos que podem satisfazer suas necessidades
influência desses recursos teriam de ser postas em um novo equilíbrio. Eis o que quero
‘forças’ dos outros dois recursos, dinheiro e poder administrativo.”150 Habermas mais
adiante, buscando explicar melhor essa idéia de esferas de influência e como a teoria
dos sistemas apresenta como resultado uma política simbólica a partir da relação entre
apresenta a distinção dessas arenas feitas por Claus Offe e na seqüência apresenta o seu
... arenas diferentes sobrepondo-se umas às outras. Claus Offe, por exemplo,
distingue três dessas arenas. Na primeira, facilmente reconhecível, elites políticas
levam a termo suas resoluções de dentro do aparelho estatal. Abaixo está uma
segunda, na qual um grande número de grupos anônimos e de atores coletivos
influem uns sobre os outros, formam coalizões, controlam o acesso aos meios de
produção e comunicação e, já menos nitidamente reconhecível, delimitam
progressivamente (através do seu poder social) o campo para a tematização e
resolução de questões políticas. Por fim, uma terceira arena encontra-se abaixo, na
qual fluxos de comunicação dificilmente palpáveis determinam a forma da cultura
política e com ajuda de definições de realidade rivalizam em torno do que Gramsci
chamou hegemonia cultural – aqui realizam-se as reviravoltas nas tendências do
espírito da época. A reciprocidade entre as arenas não é fácil de captar. Até agora
os desdobramentos parecem ter primazia na arena do meio. Saia como se sair a
150
HABERMAS, J. A nova intransparência, p. 112. Os grifos são nossos.
88
intente realizar o que Habermas afirma, ou seja, redirecionar a solidariedade, com fins
seja, quais os elementos necessários que o caracterizam como tal. A resposta a essa
apoiar o processo de emancipação, uma vez que está excluída a identificação pura e
Habermas concorda com Hegel que o processo de formação, que culmina numa
identidade racional, dá-se através do emprego de símbolos lingüísticos (dar nome
às coisas), da utilização de instrumentos (trabalho), que leva à satisfação de
carências e necessidades humanas, à libertação em relação à fome e à fadiga, bem
como através do agir voltado para a reciprocidade (interação), que leva à libertação
da escravidão e da degradação humana.153
151
HABERMAS, J. Idem, p. 113. Os grifos são do autor.
152
SIEBENEICHLER, Flávio Beno. Jürgen Habermas: razão comunicativa e emancipação, p. 48.
153
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, ibidem.
89
Ainda que o Hegel posterior não derive “mais a unidade dos três
mesmo no outro. E sendo assim, linguagem, trabalho e interação não são mais
garantindo a cada um dos três mediuns sua autonomia categorial com relação aos
demais. Dessa forma pode-se assim afirmar, que o homem caracteriza-se como tal, ou
seja, só o é de fato, porque nele se cruzam não três mediuns, mas sim três eixos que
fazem com que este homem tenha assim sua existência marcada e pontuada no tempo e
no espaço, ou como afirma Habermas, num tempo histórico e num espaço social. Faz-
se aqui essa distinção não porque não se possa falar em mediuns, mas apenas para
universal.
tal, no cruzamento dos três eixos, agora tendo cada um deles seu nome distintivo, ou
num primeiro momento como o homem, ou ainda, o indivíduo, pode ser tratado a partir
154
SIEBENEICHLER, F. B. Idem, ibidem.
90
do aspecto subjetivo, depois considerar como uma abordagem objetiva afeta o seu
seu princípio do homo mensura, de que o homem é a medida de todas as coisas, mas
afirmar mesmo, que mais que medida, é no homem mesmo que se dá a síntese de todas
homem, pois a elas está sujeito (do latim, subjectus, a, um = lançado debaixo), ou seja,
Linguagem
Eticidade
homem, ou do ser humano, tentando-se fugir ou desligar de qualquer um dos três eixos
mencionados, tentativa essa sempre frustrada, visto que no cruzamento mesmo de dois
dos três eixos aparece sempre o terceiro eixo, eixo esse do qual se tenta desligar, de
91
forma latente. Assim, observe-se a figura 14 que demonstra o que significa essa
objetivação, isto é, quando tomamos o homem não por sujeito, mas por objeto (do
Trabalho
Objeto
(Sujeito projetado)
Objeto Sujeito
(Sujeito projetado)
Linguagem
Objeto
Eticidade (Sujeito projetado)
que o quer(em) ver projetado, ou melhor, como um objeto, demonstra através da figura
o que Chaui afirma sobre a diferenciação que o filósofo alemão Martin Heidegger faz a
essência própria de um ente, aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua
diferença em face de outros entes, suas relações com outros entes. Ontológico se refere
92
ao estudo filosófico dos entes, à investigação dos conceitos que nos permitam conhecer
métodos adequados para o estudo de cada uma delas, quais as categorias que se
aplicam a cada uma delas. Em resumo: ôntico diz respeito aos entes em sua existência
própria; ontológico diz respeito aos entes tomados como objetos de conhecimento.”155
Chaui analisando a partir de Heidegger como o homem reage frente à essa realidade
afirma o seguinte:
A partir desse estado de angústia, abre-se para o homem, segundo Heidegger, uma
alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão mais profunda, isto
é, o ser, e retornar ao cotidiano; ou superar a própria angústia, manifestando seu
poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo. Aqui surge um dos
temas-chave de Heidegger: o homem pode transcender, o que significa dizer que o
homem está capacitado a atribuir um sentido ao ser. O homem está naturalmente
fora de si mesmo, sobre o mundo, em relação direta com o mundo que ele produz e
para o qual ele se projeta incessantemente: “Produzir diante de si mesmo o mundo é
para o homem projetar originariamente suas próprias possibilidades”.
Entretanto, nesse projetar-se sobre o mundo, o homem não estaria sozinho. Ele é
um ser-com, um ser-em-comum e isso se manifesta sobretudo no trabalho, mas
ainda mais profundamente na solicitude por outrem, fato que conduz ao amor e à
comunicação direta. É principalmente em relação a si mesmo e a seu próprio futuro
que o homem não cessa de transcender-se. O ser humano jamais seria um ser
acabado e nunca seria tudo aquilo que pode ser; estaria sempre diante de uma série
infinita de possibilidades, sobre as quais se projeta. Estabelecendo um estado de
permanente tensão entre aquilo que o homem é e aquilo que virá a ser, essa
projeção constituiria a inquietação. A inquietação estrutura o ser do homem dentro
da temporalidade, prendendo-o ao passado, mas, ao mesmo tempo, lançando-o para
o futuro. Assumindo seu passado e, ao mesmo tempo, seu projeto de ser, o homem
155
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia, p. 238. Os grifos são nossos.
93
angustiado, fugindo de uma reflexão acerca de sua própria condição, ou tentar superar
essa angústia projetando-se sobre o mundo. Esse projeto (do latim projectus, a, um =
que o ser humano tem como característica de sua condição propriamente humana. Mas
apesar disso, apesar dessa constante tensão, dialética, porque não dizer, pode-se atingir
mas no retorno que se faz depois dela, através de um processo crítico de reflexão
mesmo. Essa seria a dimensão dialética do próprio homem, diante de uma situação
tese, ou melhor, ao defrontar-se com algo dado já afirmado, busca ele superar tal
nega a própria negação, realizando assim o retorno, mas não ao mesmo lugar e nas
mesmas condições, mas concluindo um processo de síntese capaz de lhe dar sentido.
156
CHAUI, Marilena de Souza. Vida e Obra. In: Heidegger (Coleção Os Pensadores), p. 9.
94
caminho de uma historicidade para uma história real. Em seguida, Heidegger não
intersubjetividade que, segundo Habermas, Heidegger não atingiu. Antes, porém, vale
ressaltar a exposição daqueles três eixos supra citados, mas agora levando-se em conta
correspondente a cada um. Assim, pode-se observar na figura 15 o que acaba de ser
exposto.
157
HABERMAS, J. Martin Heidegger – Obra e concepção do mundo. In: Textos e contextos, p. 53.
158
HABERMAS, J. Idem, p. 55.
95
Razão Instrumental
O Homem como
(Trabalho)
sujeito
Razão Comunicativa
(Linguagem)
Razão Estratégica
(Eticidade)
Com isso, a saída proposta para a emancipação humana não se faz fora
dos trâmites da razão. A razão comunicativa apresenta-se como sendo aquela capaz de
trazer o homem de volta ao seu lugar de sujeito, justamente por ser o aspecto de uma
permite suprir os elementos que faltam para a integração e realização do homem no seu
todo. Assim, o que se quer é afirmar a necessidade da razão comunicativa sim, mas não
parte e compõem a razão humana, que têm sua unidade e ponto de integração, sua
humana, que tem muitas vezes sua busca e sua luta em aspectos que ainda são faltantes
muitas vezes, por ser mais grave um aspecto do que outro, seja ele o social, o político
política por já estar pressuposto que não é preciso lutar, ao menos por ora, pelos outros
racionalidade comunicativa, justamente por ser esta a racionalidade por ora em déficit
no ser humano, para fazer frente, ou melhor, possibilitar uma integração com as outras
sociedade. Não se quer aqui propor meramente a troca de uma pela outra, mas sim,
afirmar a necessidade de equilibrar as forças entre as três; e isso só pode ser feito no
contexto próprio do mundo da vida, visto que ao tratar-se cada uma delas isoladamente
agora a um aspecto intersubjetivo, através da relação dos homens entre si. Para isso,
observe-se a figura 16, que já segue apresentando os elementos presentes tanto sob o
como o ponto de síntese que caracteriza a individualidade de cada um, tão necessária
cada um dos três eixos, o aspecto sistêmico encontra-se como que subsumido ao
Razão Instrumental
(Trabalho)
Sistema ECONÔMICO
Sistema SOCIAL
Plano do Dinheiro
Plano da Solidariedade
(distribuição x acumulação)
(cooperação x competição)
Razão Comunicativa
(Linguagem)
Sistema POLÍTICO
Plano do Poder
(consenso x dissenso)
Razão Estratégica
(Eticidade)
categorias supra citadas, que podem ser planas ou espaciais, podendo ainda, ser
solidariedade e o dinheiro. Contudo, tais categorias são dialéticas, ou seja, cada uma
delas tem em si uma tensão constante tentando determiná-las, ou seja, com relação ao
poder, por exemplo, a expansão de poder através do consenso intersubjetivo, e que será
determinar o mundo da vida seria apenas reflexiva, e tiraria deste sua característica
vida, colonização essa que teria como resultado justamente uma concentração objetiva
coerciva.
decisão a um número maior de afetados que serão atingidos de alguma forma por tal
medida).
mundo da vida) são tratados como tal ou, se relega-se seu poder de decisão a outros, e
habermasiana dá-se justamente aqui, ou seja, todos são sujeitos e como tal estão aptos
humana. Coisifica-se o ser humano e passa-se a tratá-lo como objeto, com o argumento
concedido benevolamente por nenhum outro sujeito, isto é, não é nenhum favor que se
faz quando trata-se o homem como homem, em sua dignidade propriamente humana,
sujeito de e à sua própria história. Tê-lo por objeto é simplesmente coisificá-lo a ponto
dele poder ser manipulado, e daí a recusa dos integrantes da Escola de Frankfurt em
há massa, a massa não pensa, não reflete, não decide. Com relação a isso, Chaui afirma
uma cultura democrática, pois em uma democracia não há massa; nela, o aglutinado
100
amorfo de seres humanos sem rosto e sem vontade é algo que tende a desaparecer para
não como sendo este o projeto do irrealizável, do sonho distante e impossível, mas sim
como aquilo que ainda não tem lugar, mas que pode vir a ter, em contraposição
aniquilação do ser humano poder ser realizada por ele mesmo. Com isso, resta saber
para qual espécie de utopia a humanidade caminha. Tal afirmação pode ser ilustrada
Desenvolvimento
Evolução
Utopia
consenso cooperação distribuição
159
CHAUI, M. S. O discurso competente, p. 8.
101
de sua história, mas não como se realizasse sua história e determinasse sua vida
sua felicidade se sua subjetividade for posta não em função da objetivação de outros
homens, mas sim, como elemento necessário para que uma intersubjetividade
aqueles que ainda estiverem sendo tratados objetivamente, nem mesmo afirmar se
compete àqueles que já são sujeitos, ou tentam a todo custo não deixar-se objetivar,
empreitada rumo à emancipação. Contudo, vale lembrar que mesmo aqueles que
daquela resistência e inquietação típicas de cada ser humano. Ainda que o fato destes
verem negados, através dos sistemas, sua subjetividade, tal negação tenta esconder na
realidade, ideologicamente, aquilo que de fato não pode ser escondido, ou seja, a
do discurso e curso de suas próprias vidas. Esse sim, é o desejo mais genuinamente
rapidamente, sua ligação com o desejo e o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto
que o discurso – como a psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que
manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que
– isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que
traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o
epígrafe desse trabalho, sem querer assim afirmar se o que aqui foi proposto ou
160
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso, p. 10.
161
HABERMAS, Jürgen. Passado como futuro, p. 94.
103
CONCLUSÃO
um processo de emancipação? Ligadas a essa questão estão outras duas que darão
A resposta a essas questões não são simples e não se quis através desse
definitiva, mas contudo, a preocupação com o ser humano em função das dificuldades
em responder tais questões não pode ser abandonada, sendo esta preocupação o que
orientou e serviu como baliza para que não se incorresse justamente naquelas
o mundo ele está corretíssimo em sua afirmação, haja vista o papel dos filósofos na
alegoria utilizada por Platão na célebre passagem do mito da caverna, fica claro que o
lugar, o homem em sua condição de escravo, cujo representação de mundo que este
mais que isso, consciência de todo o seu potencial frente a um mundo novo que se
sido Marx na ocasião aquele que retorna à caverna depois de contemplar tudo aquilo
que os que estavam dentro dela estavam deixando de fruir. No entanto, a análise de
Marx foi a possível à época, dados os contextos históricos por ele vividos, e em grande
parte tudo aquilo que o motivou a chamar a atenção e o fruto mesmo de sua reflexão
se utilizou para elaborar sua teoria e desenvolver seu próprio pensamento, contudo,
assim como a dialética não passou a existir, ou melhor, a explicar a realidade apenas a
afirmar que quando Habermas afirma que Marx compreende a realidade social de sua
época a partir apenas de uma razão instrumental, não significa que devamos assim
por Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, não significa que tal conceito não possa
105
ser a posteriori utilizado para interpretar melhor a complexidade das relações humanas
desde o tempo de Marx. Dessa forma, quando Habermas chama a atenção para a sua
teoria da ação comunicativa e afirma que, mais que pensar num mundo apenas do
trabalho, devemos pensar num mundo da vida, isso não significa que esteja rechaçando
lugar, ou talvez até esteja quando pensa-se esse lugar como sendo um lugar central,
fundamental sim, mas não central, bem como as categorias da linguagem e da eticidade
possa realizar-se enquanto tal. É sim, o homem, enquanto sujeito a essas três
categorias, não apenas o responsável por sintetizá-las, mas o elemento mesmo dessa
síntese, o ponto de conexão e agregação daqueles três eixos fundamentais para que ele
aptos ao discurso em qualquer lugar e a qualquer tempo. Não basta a preocupação com
o método, e neste caso visualizamos aqui a preocupação com o discurso do método que
Contudo, tal conhecimento é fruto de análises inúmeras que são sistematizadas nos
interligá-lo ou saber qual o ponto de toque, de conexão, entre todos eles. Provém daí o
Nesse sentido, não se está aqui mais apenas garantindo um discurso ao método, para
que ele seja eficiente e eficaz na busca do conhecimento, mas sim garantindo ao
discurso um método que seja capaz de fazer crer que é o homem fruto do sistema e não
tocante à condução histórica de sua vida, já que teríamos, por exemplo, em relação ao
sendo toda a culpa atribuída ao mercado, uma entidade que obtém assim uma
político, temos o Estado ocupando essa posição de destaque, como se tudo que
ocorresse nele não fosse fruto das ações políticas de todos os homens, sejam elas ações
sociedade, seja ela civil ou não, querendo determinar aquilo que no fundo ela só
através de uma teia intersubjetiva que se forma, possibilitando-se assim a síntese entre
novamente aos sujeitos, deixando estes de ter o status de meros objetos, cuja
responsabilidade e autoria daquelas ações presentes nos sistemas são agora também
com sua própria realidade, tomar consciência de sua condição, ser sujeito de sua
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