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TEMPO COMUM. VIGÉSIMO NONO DOMINGO.

CICLO B

47. SERVIR
– A vida cristã consiste em imitar Cristo.

– Jesus nos ensina com a sua vida que não veio para ser servido, mas para servir. Imitá-lo.

– Servir com alegria.

I. COMO O DISCÍPULO diante do mestre, como o menino junto da sua mãe,


assim deve estar o cristão em todas as suas ocupações diante de Cristo. O
filho aprende a falar ouvindo a sua mãe, esforçando-se por copiar as suas
palavras; da mesma forma, vendo Jesus fazer e agir, aprendemos a conduzir-
nos como Ele. A vida cristã consiste na imitação da do Mestre, pois Ele se
encarnou deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos1. São Paulo
exortava os primeiros cristãos a imitarem o Senhor com estas palavras: Tende
entre vós os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus2. Ele é a causa
exemplar de toda a santidade, isto é, do amor a Deus Pai. E isto não só pelas
suas obras, mas pelo seu ser, pois o seu modo de agir era a expressão externa
da sua união com o Pai, do seu amor por Ele.

A nossa santidade não consiste tanto numa imitação externa de Jesus, mas
em permitir que o nosso ser mais profundo se vá configurando com Cristo.
Despojai-vos do homem velho com todas as suas obras e revesti-vos do
homem novo...3, recomendava São Paulo aos Colossenses.

Esta renovação diária significa limar constantemente os nossos costumes,


expurgar da nossa vida os defeitos humanos e morais, suprimir o que não
combina com a vida de Cristo... Mas significa sobretudo procurar que os
nossos sentimentos sobre os homens, sobre as realidades criadas, sobre a
tribulação, se pareçam cada dia mais com os que teve Jesus em circunstâncias
semelhantes, de tal maneira que a nossa vida seja em certo sentido um
prolongamento da sua, pois Deus nos predestinou para sermos conformes com
a imagem do seu Filho4.

A própria graça divina, na medida em que correspondemos à acção contínua


do Espírito Santo, vai acentuando a nossa semelhança com Cristo. Seremos
santos se Deus Pai puder afirmar de nós o que um dia disse do seu Filho: Este
é meu filho bem-amado, em quem pus as minhas complacências5. A nossa
santidade consistirá, pois, em sermos pela graça o que Cristo é por natureza:
filhos de Deus.

O Senhor é tudo para nós. “Esta árvore é para mim uma planta de salvação
eterna; dela me alimento, dela me sacio. Pelas suas raízes eu me enraízo, e
pelos seus ramos eu me estendo; a sua sombra alegra-me e o seu espírito,
como vento delicioso, fertiliza-me. À sua sombra levantei a minha tenda, e,
fugindo dos grandes calores, ali encontro um abrigo cheio de frescor. As suas
folhas são a minha defesa, os seus frutos a minha perfeita delícia, e eu
saboreio livremente os seus frutos, que me estavam reservados desde o
princípio. Ele é o meu alimento na fome, na sede a minha fonte e na nudez o
meu vestido, pois as suas folhas são espírito de vida. Quando temo a Deus,
Ele é a minha protecção; e quando vacilo, o meu apoio; quando combato, o
meu prémio; e quando triunfo, o meu troféu”6. Nada desejo fora d’Ele.

II. O EVANGELHO DA MISSA7 relata-nos o episódio em que Tiago e João


pedem a Jesus que lhes reserve os dois lugares de maior honra no seu Reino.
Ao ouvi-los, os demais Apóstolos começaram a indignar-se contra eles. Jesus
disse-lhes então: Vós sabeis que os que são reconhecidos como soberanos
das nações as dominam; e que os seus príncipes lhes fazem sentir o seu
poder. Porém, entre vós não deve ser assim, mas o que quiser ser grande
faça-se vosso servo; e o que entre vós quiser ser o primeiro faça-se escravo de
todos. E dá-lhes a razão suprema: Porque o Filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção de muitos.

Em diversas ocasiões o Senhor proclamará que não veio para ser servido,
mas para servir: Non veni ministrari sed ministrare8. Toda a sua vida foi um
serviço contínuo e a sua doutrina é um apelo constante aos homens para que
se esqueçam de si próprios e se dêem aos outros. Percorreu os caminhos da
Palestina servindo a cada um – impondo as mãos a cada um9 – dos que
encontrava à sua passagem. Permaneceu para sempre na sua Igreja – e de
modo particular na Sagrada Eucaristia – para nos servir diariamente com a sua
companhia, com a sua humildade, com a sua graça. Na noite anterior à sua
Paixão e Morte, querendo ensinar algo de suma importância, e para que
ficasse sempre clara esta característica essencial do cristão, lavou os pés aos
seus discípulos, para que eles fizessem também o mesmo10.

A Igreja, continuadora da missão salvífica de Cristo no mundo, tem como


tarefa principal servir os homens pela pregação da palavra e pela celebração
dos sacramentos. Além disso, “participando das melhores aspirações dos
homens e sofrendo por não os ver felizes, deseja ajudá-los a conseguir o seu
pleno desenvolvimento, e isto precisamente porque lhes propõe o que ela
possui como próprio: uma visão global do homem e da humanidade”11.

Nós, os cristãos, que queremos imitar o Senhor, temos que dispor-nos a


fazer da vida um serviço alegre a Deus e aos outros, sem esperar nada em
troca; dispor-nos a servir mesmo aos que não agradecerão o serviço que lhes
prestarmos.

Haverá ocasiões em que muitos não entenderão esta atitude de


disponibilidade alegre; bastar-nos-á então saber que Cristo a entende e nos
acolhe como verdadeiros discípulos seus. O “orgulho” do cristão será
precisamente este: servir como Jesus serviu. Mas só aprenderemos a dar-nos,
a estar disponíveis quando estivermos perto de Jesus.
“Ao empreenderes cada jornada para trabalhar junto de Cristo e atender
tantas almas que o procuram, convence-te de que não há senão um caminho:
recorrer ao Senhor.

“Somente na oração, e com a oração, aprendemos a servir os outros!”12

É da oração que obteremos as forças e a humildade necessárias para


fazermos da vida um serviço.

III. O NOSSO SERVIÇO a Deus e aos outros deve estar impregnado de


humildade, mas vez por outra pode caber-nos a honra de levar Cristo aos
outros, como a coube ao burrinho sobre o qual Jesus entrou em Jerusalém13.
Então, mais do que nunca, temos de estar dispostos a purificar a intenção, se
for preciso. “Quando me elogiam – escreveu aquele que mais tarde seria João
Paulo I –, experimento a necessidade de comparar-me com o jumento que
levava Cristo no dia de Ramos. E digo de mim para mim: «Como teriam rido do
burro se, ao escutar os aplausos da multidão, tivesse ficado cheio de soberba e
tivesse começado – asno como era – a acenar agradecimentos à direita e à
esquerda!... Não vás tu cair em semelhante ridículo...!»” 14 A nossa
disponibilidade para as necessidades alheias deve levar-nos a ajudar os outros
de tal forma que, sempre que seja possível, não o percebam e assim não
possam dar-nos nenhuma recompensa em troca, nem sequer um sorriso
esboçado. Basta-nos o olhar de Jesus sobre a nossa vida. Já é suficiente
recompensa!

O serviço deve ser alegre, como nos recomenda a Sagrada Escritura: Servi
o Senhor com alegria15, especialmente nos trabalhos da convivência diária que
possam ser mais difíceis ou ingratos e que costumam ser com frequência os
mais necessários. A vida compõe-se de uma série de serviços mútuos diários.
Procuremos exceder-nos nessas tarefas, mostrando-nos sempre alegres e
desejosos de ser úteis. Encontraremos muitas ocasiões de serviço no exercício
da profissão, na vida familiar..., com parentes, amigos, conhecidos, e também
com as pessoas que nunca mais voltaremos a ver. Quando somos generosos
na nossa entrega aos outros, sem indagar se a merecem ou não, sem ficar
muito preocupados se não nos agradecem..., compreendemos que “servir é
reinar”16.

Aprendamos de Nossa Senhora a ser úteis aos outros, a pensar nas suas
dificuldades, a facilitar-lhes a vida aqui na terra e o seu caminho para o Céu.
Ela nos dá exemplo: “No meio do júbilo da festa, em Caná, apenas Maria
repara na falta de vinho... Até aos menores detalhes de serviço chega a alma
se, como Ela, vive apaixonadamente pendente do próximo, por Deus”17.

Então encontramos facilmente Jesus, que vem ao nosso encontro e nos diz:
Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a
mim o fizestes18.
(1) 1 Pe 2, 21; (2) Fil 2, 5; (3) Col 3, 9; (4) Rom 8, 29; (5) Mt 3, 17; (6) Santo Hipólito, Homilia
de Páscoa; (7) Mc 10, 35-45; (8) Mt 20, 8; (9) Lc 4, 40; (10) cfr. Jo 13, 4 e segs.; (11) Paulo VI,
Carta Encíclica Populorum progressio, 26.03.67, 13; (12) Bem-aventurado Josemaría Escrivá,
Forja, n. 72; (13) cfr. Lc 19, 35; (14) Albino Luciani, Ilustríssimos senhores, pág. 59; (15) Sl 99,
2; (16) cfr. João Paulo II, Carta Encíclica Redemptor hominis, 4.03.79; (17) Bem-aventurado
Josemaría Escrivá, Sulco, n. 631; (18) Mt 25, 40.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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