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Fontes Chaveadas - Cap. 10 MODELAGEM DE CONVERSORES UTILIZANDO MODELO DA CHAVE PWM J. A.

Pomilio

10. MODELAGEM DE CONVERSORES UTILIZANDO MODELO DA


CHAVE PWM

As topologias básicas de conversores cc-cc possuem uma chave controlada e outra


não-controlada associadas a elementos lineares invariantes no tempo. O conjunto destas
duas chaves recebe o nome de chave PWM [10.1].
O objetivo neste capítulo é desenvolver um modelo linear para estas chaves, válido
em torno do ponto de operação. O projeto adequado do compensador necessita um
conhecimento do modelo matemático do comportamento do conversor frente a pequenas
perturbações.

10.1 Propriedades invariantes das chaves PWM

A figura 10.1 mostra os conversores básicos, indicando terminais chamados a, p e c,


denominados ativo, passivo e comum.

a c L L c p
ia ic ic
Vi C Vi C
p a ia

L1 a p L2 a c p
i a C1 ia
Vi
Vi C L C
c
ic
ic

Figura 10.1 Conversores básicos indicando terminais ativo (a), passivo (p) e comum (c).

A chave pode ser modelada da seguinte forma:

a δ c
ia ic
δ*

Figura 10.2 Modelo da chave PWM.

onde δ é o ciclo de trabalho e δ*=(1-δ), o seu complemento.


No modo contínuo, ic será sempre diferente de zero. No intervalo (δ.τ) (chave
controlada fechada), independentemente da topologia, tem-se:

i a(t)= i c (t) (10.1)

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v ap (t)= v cp (t) (10.2)

No intervalo complementar:

i a(t)= 0 (10.3)

v cp (t)= 0 (10.4)

Novamente, também neste tipo de análise, interessam os valores médios das variáveis
(uma vez que se pretende utilizar ferramentas de análise linear de sistemas). No estudo do
comportamento dinâmico, as perturbações estudadas serão, por hipótese, em frequência
muito menor do que a frequência de chaveamento e de pequena amplitude.
As grandezas médias serão expressas por tipos maiúsculos, enquanto os termos
relativos às perturbações serão indicados com uma letra em estilo script: d, v, etc.
Pode-se demonstrar que a seguinte relação é verdadeira:

I a = δ⋅I c (10.5)

Considerando as formas de corrente ia(t) e ic(t) mostradas na figura 10.3, e ainda a


presença da resistência série do capacitor do filtro de saída, tem-se as ondas de vap(t) e
vcp(t) indicadas na figura 10.4, considerando e desprezando a ondulação na corrente.

ia (t)

Ia=Ic. δ

tT t
τ
i c (t)
Ic

Figura 10.3 Corrente nos terminais ativo e comum.

A forma retangular de vap(t) (exceto no conversor abaixador, quando vap(t) é


sempre igual à tensão de entrada), decorre, assim, da presença de resistência no caminho da
corrente ic(t). Desprezando a ondulação desta corrente, a ondulação na tensão vap(t) pode
ser dada por:

Vr = I c ⋅ Re (10.6)

onde Re é função da resistência série equivalente do capacitor e da carga, Ro.

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vap (t) vap (t)

Vr
Vap
tT tT

vcp (t) τ t vcp (t) τ t

Vcp

δ δ∗ t δ δ∗ t

(a) (b)

Figura 10.4 Tensões nos terminais da chave PWM sem (a) e com (b) a ondulação na
corrente considerada.

Nos conversores elevador e abaixador-elevador, o capacitor de saída está em


paralelo com a carga, de modo que o valor de Re é a associação em paralelo de Rse e R. No
conversor Cuk Re = Rse.
Da figura anterior, pode-se obter:

Vcp = δ ⋅ ( Vap − I c ⋅ Re ⋅ δ* ) (10.7)

10.2 Modelo CC da chave PWM

Seja o ciclo de trabalho composto por uma componente de valor constante e uma
perturbação:

δ= D+ d (10.8)

Para um ciclo de trabalho constante (δ=D), e supondo que as variáveis sofram


alguma perturbação devido a mudança na tensão de entrada ou na carga, tem-se:

(I a + i a ) = D ⋅ ( I c + i c ) (10.9)

ia = D ⋅ ic (10.10)

vcp = D ⋅ vap − D * ⋅D ⋅ R e ⋅ i c (10.11)

Das equações anteriores, obtém-se o circuito equivalente dado na figura 10.5, no


qual o "transformador" é um elemento fictício e que permite a transformação de tensões ca
ou cc.

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a c

ia . . D.D*.Re ic

vap 1: D

vcp

Figura 10.5 Circuito equivalente (fictício) para chave PWM com transformador CC.

10.3 Modelo CA da chave PWM

Para uma pequena perturbação no ciclo de trabalho, tem-se:

ia = D ⋅ ic + I c ⋅ d (10.12)

vcp = D ⋅ ( vap + I c ⋅ R e ⋅ d − i c ⋅ R e ⋅ D* ) + d ⋅ ( Vap − I c ⋅ R e ⋅ D* ) (10.13)

[ ]
vcp d
vap = + i c ⋅ R e ⋅ D * − V ap + I c ⋅ ( D − D* ) ⋅ R e ⋅ (10.14)
D D

V D = Vap + I c ⋅ R e ⋅ ( D − D* ) (10.15)

Destas equações pode-se representar a chave como mostrado na figura 10.6:


Na verdade, este modelo é geral, podendo ser usado para a análise CC fazendo-se
d=0 e ic = Ic.

a c
- +
ia
VD d
. . D.D*.Re ic
D 1: D
d.Ic
vcp

p
Figura 10.6 Modelo da chave CA

10.4 Efeito das perdas em condução e do tempo de armazenamento sobre o modelo da


chave PWM

Especialmente para os transistores bipolares, a atraso decorrente do tempo de


armazenamento provoca uma alteração no ciclo de trabalho efetivo do conversor, de modo
que a perturbação no ciclo de trabalho pode ser representada por:

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ic
δ ef = δ − (10.16)
I me

onde I me é um parâmetro que depende do tipo de circuito de acionamento de base do


transistor.
Substituindo (16) em (12) e (14) chega-se a:

 Ic 
i a = D − ⋅ i + Ic ⋅d
I me  c
(10.17)

vcp  r  V
vap = + i c ⋅  Re ⋅ D * + m  − D ⋅ d (10.18)
D  D D

VD
rm = (resistência modulada)
I me

Como geralmente D >> Ic/Ime, pode-se reescrever (10.17):

ia = D ⋅ ic + I c ⋅ d (10.19)

Isto significa que, no modelo, a inclusão do tempo de armazenamento não afeta o


comportamento da corrente, mas apenas o da tensão, como se pode observar na figura 10.7,
na qual são incluídas as resistências de condução do diodo (rd) e do transistor (rt).

a c
r D.D*.Re r
ia t m ic

r
d

Figura 10.7 Modelo da chave incluindo resistências do diodo, do transistor e “modulada”.

Vcp = D ⋅ ( Vap − I c ⋅ D * ⋅Re − I c ⋅ rt ) − D * ⋅I c ⋅ rd (10.20)

Admitindo uma perturbação no ciclo de trabalho, δ = D + d, de (10.20) chega-se a:

vcp VD
vap = + i c ⋅ rc − d ⋅ (10.21)
D D

rc = rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + D ⋅ D * ⋅Re (10.22)

VD = Vap + ( D − D* ) ⋅ I c ⋅ Re + I c ⋅ ( rd − rt ) (10.23)

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O que leva ao modelo mostrado na figura 10.8:


a
- +
ia . . D.D*.Re rm D rt +D*rd i c c
VD d
D 1: D
d.Ic

Figura 10.8 Modelo completo da chave PWM.

10.5 Análise do conversor abaixador de tensão

As seguintes relações serão obtidas:

vo(s)/vi(s) : variação da saída frente a perturbação na entrada


M = Vo/Vi : taxa de conversão
Zin : impedância de entrada
Zout : impedância de saída
vo(s)/δ(s) : variação da saída frente a perturbação no ciclo de trabalho

O circuito (figura 10.9) e o modelo (figura 10.10) estão indicados a seguir.

a c L
ia ic
Vi C
p

Figura 10.9 Conversor abaixador de tensão.

VD d
D r m D r +D* r L RL io
a a1 c1 D.D*'.Re t d
- +
ia . . ic c
+
Rse
d.Ic 1: D
vap vc1p Ro vo
vi va1p C
vcp
i1
p

Figura 10.10 Modelo para o conversor abaixador de tensão.

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10.5.1 Análise CC
Analisando o modelo, e considerando que: o ciclo de trabalho é constante (d = 0); os
indutores são representados apenas por suas resistências; os capacitores estão abertos; a
tensão de entrada; Vi é constante; Re = 0, obtém-se:

Vap = Vi (10.24)

Vc1p = D ⋅ Vap (10.25)

Vc1p − Vo = ( RL + rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd ) ⋅ I c (10.26)

Vo
Io = (10.27)
Ro

de cujas equações se obtém:

Vo D ⋅ Ro
M= = (10.28)
Vi Ro + R L + rm + rt ⋅ D + rd ⋅ D *

Desprezando rm, RL , rt e rd, então:

Vo
M= =D (10.29)
Vi

10.5.2 Determinação de vo(s)/vi(s)


Admitindo ciclo de trabalho constante (d = 0) e que a tensão se entrada sofra
pequenas perturbações (vi = Vi + vi ), da inspeção do modelo tem-se:

D ⋅ vi − vo = ( rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + R L ) ⋅ i c + L ⋅
di c
(10.30)
dt

vo = Ro ⋅ i o (10.31)

R1 = rm + D ⋅ rt + D * ⋅rd + R L (10.32)

∫ i ⋅ dt
1
vo = R se ⋅ i 1 + (10.33)
C 1

i c = i o + i1 (10.34)

Aplicando a transformada de Laplace às equações anteriores e resolvendo-se, chega-


se ao diagrama de blocos mostrado na figura 10.11:
Pelo diagrama, obtém-se:

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D ⋅ Ro ⋅ (s⋅ C ⋅ Rse + 1)
vo (s) ( Ro ⋅ C ⋅ L + Rse ⋅ C ⋅ L )
= (10.35)
vi (s)  C ⋅ ( Ro ⋅ R1 + Ro ⋅ Rse + R1 ⋅ Rse ) + L  Ro + R1
s2 + s⋅  +
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )

vi + 1 ic + i1 1 vo
δ Rse+
- sL+R 1 sC
-

io
1
Ro

Figura 10.11 Diagrama de blocos do sistema.

Desprezando os elementos parasitas do modelo, recai-se na expressão clássica para o


conversor:

1
vo (s)
= D⋅ L ⋅C (10.36)
vi (s) 1 1
s2 + s⋅ +
Ro ⋅ C L ⋅ C

Nota-se de (10.35) e (10.36) que o comportamento depende do ponto de operação,


ou seja, do ciclo de trabalho.

10.5.3 Cálculo de vo(s)/d(s)


Sabendo que V ap = V i , e admitindo vi constante (vi = 0) e que o ciclo de trabalho
sofra pequena perturbação, da análise do modelo tem-se:

d
vap = va1p − VD ⋅ =0 (10.37)
D

vc1p = D ⋅ va1p (10.38)

o que resulta em:

vc1p = VD ⋅ d (10.39)

Como não existe ondulação de tensão em vap (já que para este conversor Re = 0),
pode-se escrever, de (10.23):

V D = Vi + I c ⋅ ( rd − rt ) (10.40)

Definindo R2 = rd - rt +RL (10.41)

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chega-se ao seguinte sistema de equações, o qual leva ao diagrama de blocos mostrado na


figura 10.12:

di c
VD ⋅ d − vo = R 2 ⋅ i c + L ⋅ (10.42)
dt

vo = Ro ⋅ i o (10.43)

1
C∫
vo = R se ⋅ i 1 + i 1 ⋅ dt (10.44)

i c = i o + i1 (10.45)

d + 1
ic + i1 1 vo
VD Rse+
- sL+R 2 sC
-
io
1
Ro

Figura 10.12 Diagrama de blocos do sistema.

Do circuito equivalente (figura 10.10) obtém-se:

vo (s)
= VD ⋅ F(s) (10.46)
d(s)

Ro ⋅ (1 + s⋅ C ⋅ Rse )
L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )
F(s) = (10.47)
 C ⋅ ( Ro ⋅ R2 + Ro ⋅ Rse + Rse ⋅ R2 ) + L  Ro + R2
s2 + s⋅  +
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )

V D = Vi + I c ⋅ ( rd − rt ) (10.48)

Nota-se que a resposta independe do valor médio do ciclo de trabalho, ou seja, do


ponto de operação.
A figura 10.13 mostra os diagramas de Bode da função de transferência entre a
tensão de saída e o ciclo de trabalho, considerando e desprezando as resistências “parasitas”
do modelo.

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50
Ganho (db)

0
Com Rse e R2
Sem Rse e R2
50
1 10 100 1000 110 4 1105
Valores usados:
0 Vi=100 rm=1
Ro=10 δ=0,5
Fase (graus)
Rse=0,3 C=100uF
L=10mH
100 Po=250W
rt=0,1 rd=0,3

200
1 10 100 1000 110 4 1105
f (Hz)
Figura 10.13 Diagramas de Bode relativos à figura 10.12.

10.5.4 Cálculo de Zin (impedância dinâmica de entrada)


Por definição:

Zin = Vin(s)/Iin(s) (10.49)

Do modelo, V in(s) = vi (s) e I in(s) = ia(s). Admitindo um ciclo de trabalho constante (d = 0),
tem-se:

ia = D ⋅ ic (10.50)

Do diagrama de blocos tem-se:

s⋅ C ⋅ Ro R 1 
⋅  se + + 1
i c (s) L ⋅ C ⋅ (Ro + Rse )  Ro s⋅ C ⋅ Ro 
= (10.51)
D ⋅ vi (s)  L + C ⋅ (Ro ⋅ ( R1 + Rse ) + R1 ⋅ Rse ) R1 + Ro
s2 + s⋅  +
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )

 L + C ⋅ (Ro ⋅ ( R1 + Rse ) + R1 ⋅ Rse ) R1 + Ro


E = s2 + s⋅  + (10.52)
 L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )  L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )

vi (s) 1 E ⋅ C ⋅ L ⋅ ( Ro + R se )
Z in = = 2⋅ (10.53)
i a (s) D 1 + s⋅ C ⋅ ( Ro + R se )

10.5.5 Cálculo de Zout (impedância dinâmica de saída)


Por definição, curto-circuitando as fontes de tensão, e abrindo as fontes de corrente,
tem-se:

 v (S)   1 
Zout =  o  / / Ro / / Rse + (10.54)
 i c (S)   S⋅ C 

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Módulo
[Ω]
6

4 4 5
10 100 1000 1 10 1 10

100

Fase
(graus)
50

0 5
10 100 1000 1 10 4 1 10

f (Hz)
Figura 10.14 Comportamento da impedância de entrada.

Do diagrama de blocos,

vo (s)
= s⋅ L + R1 (10.55)
i c (s)

Trabalhando as equações precedentes, tem-se:

Ro ⋅ R1  S⋅ L 
⋅ 1 +  ⋅ [1 + s⋅ C ⋅ Rse ]
L ⋅ C ⋅ ( Ro + Rse )  R1 
Zout = (10.56)
E
1.5

Módulo
[Ω] 1

0.5

0 4 5
10 100 1000 1 10 1 10

Fase
(graus)
20

40 4 5
10 100 1000 1 10 1 10
f (Hz)
Figura 10.15 Comportamento da impedância de saída.

10.6 Referências Bibliográficas

[10.1] Vorpérian, V.: “Simplify PWM Converter Analysis Using a PWM Switch Model”.
PCIM, March 1990, pp. 10-15.

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