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VESTIDO

No início de O vestido, o tom poético está mais próximo de Drummond e a figura do


poeta não se deixa esvanecer, para, depois, pouco a pouco, se criar um distanciamento,
pois outra história se
conta preenchendo as lacunas da primeira. O tom poético não se perde, apesar de a
segunda
história ser mais narrativa: se o poema de Drummond é dramático, com um cenário
teatral, no segundo texto, de Carlos Herculano, predomina a narrativa, à qual,
entretanto, não falta a
modulação poética, que não deixa o leitor esquecer do texto de origem. Mais
exatamente, uma
prosa atravessada por um tom poético, dentro de uma estrutura mais épica do que teatral
com um seu cenário ampliado em relação à primeira. Rapidamente o tom de segredo,
estabelecido num espaço estreito, de âmbito doméstico, fechado, se abre para um espaço
geográfico que abrange cidades e se estende por uma paisagem rural que remete a uma
história real de lutas de cobiça e poder.

MARILIA DE DIRCEU

O livro Marília de Dirceu consiste sobretudo nas novidades sentimentais e


concepcionais que trouxe para uma literatura, derrancada no esforço de remoer sem
cessar a antiguidade. Um amor sincero, na idade em que o homem sente fugir-lhe o
ardor da mocidade, e uma prisão injusta e brutal - foram estas duas experiências que
fizeram desferir à lira de Dirceu acentos novos. Estamos ainda convencidos de que o
clima americano, mais arejado e mais forte, contribuiu poderosamente para a revelação
desse estilo, em que se sentem já nitidamente os primeiros rebates do romantismo e a
impressão iniludível das idéias do tempo.

CARTA LA DO CAMARADINHA
A carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei d. Manuel é considerada o
primeiro documento da nossa história, e também como o primeiro texto literário do
Brasil e é o mais minucioso e importante documento relacionado à viagem da esquadra
de Cabral ao Brasil e foi publicada pela primeira vez apenas em 1817, mais de trezentos
anos após haver sido redigida, como parte do livro Corografia Brasílica..., de autoria de
Manuel Aires do Casal. Isto significa que, até essa época, a história contada sobre a
viagem de 1500 foi substancialmente diferente da narrada depois.

O texto de Pero Vaz de Caminha tem a preocupação básica de informar, procurando


transmitir o máximo possível de dados a respeito do que ocorria e do que o escrivão
via, ouvia e sentia.

O fato de ser um texto informativo alia-se a outras importantes dimensões do


documento, pois insere-se no esforço conjunto dos europeus, concretizado nos textos de
viagem da época (especialmente nos escritos por integrantes das expedições), no sentido
de construir alteridades, à medida mesmo que os navegantes entravam em contato com
diversas terras e povos — alguns, como os índios e o futuro Brasil, totalmente
desconhecidos deles —, com os quais seria preciso conviver dali em diante e, para
conseguir dominar, sobretudo conhecer.

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