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Ministra anunciou sete mil avaliações impossíveis

PEDRO VILELA MARQUES

Os professores contratados que cumpram seis meses numa escola e que entretanto deixem de dar aulas sem
serem avaliados podem ficar sem os seus contratos de trabalho renovados, o que pode abranger os sete mil
professores que a ministra da Educação garantiu à SIC estarem em condições de ser avaliados já neste ano
lectivo. O aviso é lançado pelos sindicatos da educação, que afirmam ser este mais um exemplo da precipitação
da entrada em vigor do processo de avaliação por parte do Ministério.

O secretário-geral da Fenprof lembra mesmo que os sete mil professores que a ministra Maria de Lurdes
Rodrigues referiu sábado no Jornal da Noite estarem em condições de serem avaliados são docentes
contratados, que nunca poderão ter a sua avaliação concluída de imediato, por este ser um processo que
demora dois anos. Segundo Mário Nogueira, além de colocar em causa as renovações dos contratos dos
professores contratados, a avaliação dos docentes apresenta outras graves injustiças. "Não faz sentido nenhum
que se avalie o desempenho de um ano inteiro apenas em três meses, o que só vem provar que este é um
processo precipitado", argumenta Mário Nogueira, que acusa a ministra da Educação de confundir avaliação, que
decorre durante dois anos, com classificação.

Na fase da negociação do processo de avaliação dos docentes entre o Ministério da Educação e os sindicatos,
ficou estabelecido que um professor terá de dar um mínimo de seis meses de aulas num mesmo
estabelecimento de ensino. O objectivo da medida é, por um lado, o de encontrar solução para os casos de
docentes contratados por curtos períodos de tempo e que mudam constantemente de escola e, por outro, criar
alguma relação entre o docente e a escola onde vai ser avaliado. Desta forma, todos os professores que
cumpram menos de seis meses numa escola podem voltar a ser contratados sem qualquer tipo de
condicionantes, mas os que passem o mínimo de tempo exigido pelo processo de avaliação ficarão
impossibilitados de renovar contrato enquanto não receberem a correspondente nota positiva.

Segundo o secretário Geral da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, João Dias da Silva, a pressa do
Ministério da Educação em estabelecer a avaliação do desempenho criou situações insustentáveis, onde estes
professores já deviam ter sido avaliados para poderem ver as expectativas de renovação de contrato satisfeitas.
"É por estas razões, a juntar a muitas outras, que nós dizemos que não estão reunidas as condições para o
arranque deste processo de avaliação dos professores", defende João Dias da Silva. "As escolas devem-se
limitar a trabalhar até final deste ano a fazer os documentos da avaliação, pois já se percebeu que ainda não
tiveram tempo para definir os parâmetros, e arrancar no próximo ano lectivo, ainda a título experimental".

O secretário-geral da Fenprof partilha das preocupações do seu congénere da FNE e acrescenta que os
problemas dos contratados não se resumem à falta de avaliação. "Importa perceber também que o Ministério
não quer reconhecer o tempo de serviço aos docentes que cumpram menos de seis meses de trabalho. Já
apresentámos queixa na Comissão de Trabalho da Assembleia da República, porque a tutela está a assumir que
um professor que trabalhe um mês, por exemplo, não tem direito a ter o seu tempo de serviço contabilizado".

João Dias da Silva, da FNE, questiona ainda "o que acontece a um professor que dá aulas em duas escolas
diferentes e que tem duas avaliações diferentes em cada estabelecimento". Interrogações em torno de uma
avaliação muito polémica. |
In DN, 10/03/08

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