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O modelo de auto-avaliação das bibliotecas escolares, promovido pela RBE,

encontra-se inserido num contexto de mudança do sistema de ensino português. A


organização escola tem sofrido sucessivas alterações as quais se repercutem,
inevitavelmente, nas bibliotecas escolares. Enquadra-se, igualmente, numa política
prospectiva de desenvolvimento das bibliotecas que permite à RBE tomadas de decisões
perante os órgãos de tutela.
Outrora, a avaliação das bibliotecas escolares incidia, essencialmente, sobre a
gestão da mesma, relacionando inputs e outputs.
Esta avaliação, que mediava a relação custo e eficiência, está ultrapassada e, nos
dias de hoje, surge a necessidade de avaliar o impacto das bibliotecas escolares no
processo ensino aprendizagem.
Actualmente, interessa-nos saber o impacto da biblioteca no sucesso dos alunos e
na sua construção do conhecimento, para que se possa estabelecer uma relação entre
“qualidade de trabalho da biblioteca escolar e os resultados escolares dos alunos”.
(bibliotecas escolares: modelo de auto-avaliação)
É fundamental valorizarmos as experiências e as mais-valias que resultam da
biblioteca escolar, tendo em conta que o aluno não é mais um ser passivo receptor dos
saberes emanados pelo professor, mas participante activo do seu próprio caminho.
O conhecimento constrói-se a partir de questões para as quais se tenta encontrar
resposta num manancial de recursos, mudando de questões a partir do momento em que
mais se aprende, demonstrando assim o que aprendeu através de diferentes formatos, e
partilhando novos conhecimentos com os outros, num verdadeiro ambiente de
aprendizagem.
A introdução de novas tecnologias provocou o desenvolvimento de redes e a
necessidade de se desenvolverem competências de literacia numa perspectiva de
aprendizagem ao longo da vida. É, pois, necessário o desenvolvimento de práticas
sistemáticas de recolha de evidências no dia-a-dia das bibliotecas como prova do
impacto das mesmas nas aprendizagens.
Por fim, a avaliação é fundamental na determinação de benefícios e na satisfação
dos utilizadores que se traduz no valor e na qualidade de um sistema.
Segundo Todd (2008) o valor de uma biblioteca pode ser medido através de
documentos que provem a sua importância nos resultados das aprendizagens bem como
no desenvolvimento cultural, social e pessoal dos alunos.
A avaliação tem, como ponto fulcral, o impacto qualitativo da biblioteca escolar
no que respeita a atitudes, valores e conhecimento, traduzindo-se na eficácia dos
serviços/resultados produzidos.
O modelo de auto-avaliação, proposto pela RBE, tem como propósito ser um
instrumento de melhoria, orientado numa perspectiva formativa, no que concerne a toda
a actividade de gestão da biblioteca, incidindo, principalmente, sobre áreas nucleares
que “têm sido identificadas como elementos determinantes e com impacto positivo no
ensino e na aprendizagem.” (Modelo de auto-avaliação RBE).
Trata-se de um modelo essencialmente qualitativo que visa dotar as bibliotecas
escolares de um instrumento que lhes permita identificar os pontos fracos e que,
posteriormente, se actue com vista à melhoria e mudança nas práticas. Por outro lado,
permite a identificação das áreas de sucesso e a sua valorização.
É um modelo que irá permitir às bibliotecas escolares procederem a uma
avaliação relativamente ao cumprimento dos seus objectivos e da sua missão, tornando-
se, por isso, um instrumento de integração e de promoção da biblioteca escolar na
comunidade onde está inserida.
Este modelo de auto-avaliação permite, igualmente, afirmar o reconhecimento da
biblioteca escolar tanto a nível interno como externo e usar a informação de forma
estratégica, apontando na direcção da melhoria das políticas dirigidas à biblioteca.

A grande inovação e consistência deste modelo de auto-avaliação é assentar num


processo de recolha sistemática de evidências que demonstram práticas e fornecem
informações sobre domínios essenciais no desenvolvimento das bibliotecas escolares,
para os quais procuramos constantemente a melhoria de práticas e novos caminhos de
actuação. (Evidence- Based practice)
A apresentação de resultados, por parte das organizações, é, cada vez mais, pertinente;
prestar contas e resultados deveria ter sido prática desde sempre.
A prestação de contas corroborando Todd (2008) irá credibilizar o papel da
biblioteca e do professor bibliotecário dentro da instituição escola uma vez que a partir
do modelo de auto-avaliação se irá estabelecer compromissos de crescimento a partir da
análise dos progressos e das práticas.

Será este o modelo ideal para a nossa realidade? Será um modelo demasiado
ambicioso?
São questões às quais saberei dar resposta à medida que eu própria for
implementando o modelo e ele próprio ser objecto de avaliação.
Pelo que conheço do modelo, a sua pertinência, actualidade e fundamentação são
razões muito fortes e válidas para a sua implementação:
• Saber objectivamente qual a eficácia dos serviços prestados pela biblioteca
escolar, o seu impacto no processo ensino/aprendizagem e o grau de satisfação
dos utilizadores;
• A importância de se ter informação institucionalizada que permita integrar a
auto-avaliação da biblioteca no contexto da avaliação externa das escolas
realizada pelo IGE;
• Desenvolver Planos de melhoria;
• A pertinência de existir documentos orientadores uniformizados que permitam
avaliar, equitativamente, nas escolas, o trabalho realizado pela biblioteca
escolar. Este modelo permite identificar pontos fortes e pontos fracos no
desenvolvimento das bibliotecas, possibilitando a planificação estratégica da
sua acção.
• Responsabilização da equipa responsável das bibliotecas escolares perante os
órgãos de gestão e comunidade educativa. A informação fornecida pela
avaliação deverá ser utilizada como valor estratégico para a escola, servindo
como suporte para a definição de estratégias de actuação, tanto a nível humano,
como material, como financeiro. Pode ser o fundamento da mudança que tanto
clamamos.
• Avaliar o trabalho colaborativo, relativamente às bibliotecas escolares,
desenvolvido pelas várias instituições e parceiros;
• Validar todo o trabalho realizado pelas bibliotecas escolares a nível das
estruturas e provar, com as evidências recolhidas, que decisões e políticas
poderão ser desenvolvidas para uma verdadeira consolidação das bibliotecas
escolares.
O sucesso deste modelo de auto-avaliação depende da forma como o mesmo se
integra e adapta à realidade de cada escola. Por isso, é fundamental que a escola
reconheça a importância deste modelo, enquanto instrumento de melhoria e eficácia
dentro da organização escola. A avaliação deverá ser participativa, divulgada e
integradora de todas as estruturas de gestão e pedagógicas da escola.
A sua adaptabilidade é, quanto a mim, um enorme factor de sucesso, uma vez que
pode ser adaptado às condições da escola, projecto educativo, faixas etárias, condições
socioeconómicas do meio, projecto curricular e a objectivos e estratégias de
aprendizagem.
A divisão do modelo de auto-avaliação em quatro domínios fundamentais “para
que a biblioteca escolar cumpra, de forma efectiva, os pressupostos e objectivos que
suportam a sua acção no processo educativo” (Modelo de auto-avaliação RBE), são
determinantes no processo ensino/aprendizagem, a saber:
1. Apoio ao desenvolvimento Curricular
2. Leitura e literacia
3. Projectos, parcerias e actividades livres e de abertura à comunidade.
4. Gestão da BE
Estes domínios são fundamentais para o desenvolvimento e qualidade das
bibliotecas escolares e estão directamente relacionados com a sua integração no
processo de ensino/ aprendizagem e com as várias vertentes da literacia.
Estes domínios fornecem-nos indicadores da integração efectiva da biblioteca na
escola, através da ligação ao currículo e através do desenvolvimento de programas de
literacia de informação e de leitura. Permitem-nos ainda aferir a articulação da
biblioteca com os restantes elementos da comunidade educativa a nível de actividades
devidamente planificadas e desenvolvidas em interligação com o currículo.
Constata-se, ainda, através deste modelo de avaliação, qual a organização, acesso
e qualidade da colecção da biblioteca.
O professor bibliotecário vai ser o grande “motor” de todo este processo de
avaliação, é a ele que cabe a tarefa de mobilização e participação de todos neste
processo. (Líder)
Segundo Eisenberg (2002), será primordial o professor bibliotecário desenvolver
um foco estratégico no seu papel e no seu empenho em apostar essencialmente no
ensino da literacia da informação, na promoção da leitura e na gestão da informação.
Tem ainda que ser um conhecedor e executor no uso das tecnologias e na informação e
que tenha capacidade e visão para planificar, agir e avaliar o programa da biblioteca
regularmente.
“O modelo indica o caminho, a metodologia, a operacionalização. A obtenção da
melhoria contínua da qualidade exige que a organização esteja preparada para a
aprendizagem contínua. Pressupõe a motivação individual dos seus membros e a
liderança forte do professor coordenador, que tem de mobilizar a escola para a
necessidade e implementação do processo avaliativo.” (RBE. Modelo de auto-
avaliação)
O professor bibliotecário tem de assumir uma atitude estratégica e visão política
que lhe permita estar atento a todas as oportunidades, planificando estrategicamente a
longo prazo. Tem de ter uma grande capacidade de adaptação de modo a poder adaptar
as suas planificações aos constrangimentos e oportunidades que lhe vão surgindo.
Este modelo tem ainda uma particularidade que me parece muito interessante:
todo ele assenta no diálogo e na comunicação. Desde o início que todo o processo passa
por uma comunicação constante, tanto com a equipa, como com os órgãos de gestão,
como com a restante comunidade educativa. Este pressuposto faz, desde logo, a
diferença deste modelo de auto-avaliação.
Temos que estar cientes que o modelo de auto-avaliação é um desafio e uma mais-
valia para as bibliotecas escolares e para as equipas coordenadoras das mesmas. O
modelo tem de ser implementado a partir de uma estratégia planificada de intervenção
para que toda a escola se sinta implicada na implementação do processo de avaliação.
Esta estratégia tem de ser planificada, calendarizada e direccionada aos vários
públicos da escola: estruturas de gestão, estruturas intermédias e professores.
Antes da aplicação do modelo, é fundamental a preparação da sua aplicação, uma
vez que o mesmo se focaliza em domínios e práticas que implicam grandes alterações
no trabalho com os professores, principalmente a articulação com o currículo, as
literacias e o impacto que a biblioteca escolar tem nos comportamentos, atitudes e
saberes dos alunos.
Todas estas questões têm de ser alvo de uma reflexão para que, aquando da
implementação do modelo, não constituam constrangimentos à aplicação do mesmo.
Não queremos ter um modelo alvo de críticas permanentes, alvo de resultados dúbios e
pouco fiáveis. Não queremos um modelo alvo de discórdias.
Queremos, sim, um modelo unificador, que nos permita a todos os que lutam pelo
ideal das bibliotecas escolares há tantos anos, dar visibilidade ao trabalho que se faz no
terreno e, acima de tudo, que prove a eficácia e qualidade das bibliotecas escolares nos
resultados dos alunos.
Cabe ao professor-bibliotecário desenvolver competências de antecipação, de
trabalho colaborativo e de estratégias para que todo o processo de auto-avaliação seja
tomado como parte integrante da escola.
Resta-me acrescentar que a formação que, quanto a mim, deveria ser alargada a
equipas de bibliotecas, directores executivos, conselhos pedagógicos, poderá ser um
elemento fulcral para o sucesso deste modelo de auto-avaliação.

”A avaliação não constitui um fim, devendo ser entendida como um processo que,
idealmente, conduzirá à reflexão e originará mudanças concretas na prática.” (RBE,
modelo de auto-avaliação)

Documentos consultados:

Eisenberg, Mike (2002). This Man Wants to Change Your Job


http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA240047.htm
Documento
http://forumbibliotecas.rbe.min-edu.pt/mod/resource/view.php?id=9531

Todd, Ross (2008).If school librarians can’t prove they make a difference, they may
cease to exist
http://www.schoollibraryjournal.com/article/CA6545434.html#Multiple%20types%20o
f%20evidence

Modelo de auto-avaliação da BE
http://forumbibliotecas.rbe.min-edu.pt/mod/resource/view.php?id=10010

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