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Análise Crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das

Bibliotecas Escolares

É prática comum, na sociedade actual, conceituados organismos e


entidades, públicos e privados, recorrerem à “Evidence-based practice”, de
forma a validar a sua linha de actuação e identificar eventuais
constrangimentos, visando a melhoria.
Também a Biblioteca Escolar necessita de aferir sucessos e pontos
fracos e obter orientações acerca das mudanças a introduzir, tendo em vista a
adopção de estratégias de melhoria.
É importante que a Biblioteca Escolar tenha conhecimento não só do
grau de eficiência dos serviços disponibilizados e de satisfação dos
utilizadores, mas também do impacto que vai tendo no sucesso educativo e na
promoção da aprendizagem ao longo da vida.

São estes pressupostos que se me afiguram ter presidido à criação do


Modelo de Auto-Avaliação para as Bibliotecas Escolares que o Gabinete da
Rede de Bibliotecas Escolares lançou há dois anos atrás.
Mais do que um documento descritivo e com evidente intencionalidade
pedagógica, este Modelo apresenta um conjunto de orientações para a
implementação de um processo de auto-avaliação, disponibilizando
instrumentos que tendem a estruturar as práticas, conduzindo à qualidade de
trabalho, e que permitem aferir o desempenho da Biblioteca Escolar e o seu
impacto no funcionamento da escola e na aprendizagem dos alunos.
Ross Todd defende que as Bibliotecas Escolares têm de provar o seu
impacto nas aprendizagens e no sucesso educativo dos alunos, desenvolvendo
práticas sistemáticas de recolha de evidências:

(…) school libraries need to systematically collect evidence that shows how their
practices impact student achievement; the development of deep knowledge and
understanding, and the competencies and skills for thinking, living and working.
(2008)

Este autor considera que a denominada “evidence-based pratice”


legitimará a razão de ser da Biblioteca Escolar, enfatizando o seu trabalho e

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demonstrando o seu contributo para a construção do conhecimento: “Evidence-
based practice in school librarianship is driven by central questions that give
school libraries their raison d’être.” (Todd, 2008).
Importa, pois, que a Biblioteca Escolar se reorganize, que cresça e que
redefina rumos, a partir dessa recolha sistemática de evidências e da auto-
avaliação.
A implementação do Modelo de Auto-Avaliação, que assenta neste
conceito de “evidence-based practice”, vem, exactamente, facultar a
identificação de pontos fortes e de outros menos conseguidos, orientando a
definição de objectivos e de prioridades, com vista à melhoria da qualidade do
trabalho da Biblioteca Escolar e à sua integração nos objectivos programáticos
e educativos da escola.
O Modelo pode ainda favorecer o reconhecimento do papel
imprescindível da Biblioteca Escolar na comunidade educativa, na medida em
que permite determinar o grau de consecução dos objectivos estabelecidos e o
nível de cumprimento da sua missão, no contexto e realidade em que a escola
se insere.

O Modelo de Auto-avaliação das Bibliotecas Escolares estrutura-se em


quatro domínios e subdomínios que correspondem às áreas fulcrais do trabalho
da Biblioteca Escolar e com impacto determinante no processo de
ensino/aprendizagem:

DOMÍNIO SUDOMÍNIO
A. Apoio ao Desenvolvimento A.1. Articulação curricular da BE com as
Curricular estruturas pedagógicas e os docentes
A.2. Desenvolvimento da literacia da informação

B. Leitura e Literacias

C. Projectos, Parcerias e C.1. Apoio a actividades livres, extra-curriculares


Actividades Livres e de e de enriquecimento curricular
Abertura à Comunidade C.2. Projectos e parcerias

D: Gestão da Biblioteca Escolar D.1. Articulação da BE com a Escola/Agrupa-


mento. Acesso e serviços prestados pela BE
D.2. Condições humanas e materiais para a
prestação dos serviços
D.3. Gestão da colecção/da informação

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A análise destes quatro domínios/subdomínios permite-nos concluir da
actualidade/modernidade do Modelo, na medida em que atende às
consideráveis transformações que advêm da evolução do paradigma
tecnológico e às consequentes implicações no acesso e uso da informação.
Todd afirma:

The information environment of the 21st century is complex and fluid, connective
and interactive, diverse, ambiguous and unpredictable, and one no longer
constrained by physical collections, time, place and national boundaries.
(2001)

E é esta noção de imprevisibilidade e a capacidade de “preparing our


students today for tomorrow’s unknown world” (Todd, 2001) que me parece
estar contemplada nos domínios/subdomínios do Modelo.

Para cada domínio e subdomínio são elencados indicadores


correspondentes a áreas de intervenção mensuráveis e que poderão permitir
uma aferição da qualidade da Biblioteca Escolar.
Paralelamente, é apresentado um conjunto de factores críticos de
sucesso e acções para melhoria que fornecem linhas de orientação sobre o
funcionamento da Biblioteca Escolar na sua inter-acção com a escola e
apresentam sugestões de acções a implementar.
São ainda apontados possíveis instrumentos para a recolha de
evidências que irão suportar a avaliação. Convém, todavia, salientar duas
recomendações que constam do Modelo e que me parecem extremamente
pertinentes:

A avaliação da BE deve apoiar-se em evidências, cuja leitura nos mostra os aspectos


positivos que devemos realçar e fazer sobressair, comunicando os resultados, ou
aspectos menos positivos que nos podem obrigar a repensar formas de gestão e
maneiras de funcionamento. (…) Convém igualmente que a recolha de dados se faça
de forma sistemática, ao longo do ano lectivo (…).
(Bibliotecas Escolares: Modelo de Auto-Avaliação, 2008: 4)

No entanto, embora o Modelo proponha instrumentos que visam criar


uma uniformidade quanto à informação a ser recolhida, a possibilidade de os
adequar ao contexto e à realidade de cada Biblioteca Escolar fica sempre em
aberto.

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Cabe, então, ao professor bibliotecário e à sua equipa a implementação
do processo de auto-avaliação, adequando instrumentos e estratégias à
realidade escolar e promovendo o envolvimento de toda a comunidade.
Neste sentido, mais uma vez, as capacidades de liderança, de diálogo,
de relacionamento e de integração em grupo do professor bibliotecário,
associadas a uma profícua visão estratégica, parecem-me cruciais para a
eficácia da aplicação do Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares.
Não obstante, o acompanhamento por parte da Direcção da
escola/agrupamento não pode, nem deve, na minha opinião, ser descurado.

O Modelo de Auto-Avaliação apresenta, ainda, perfis de desempenho


para cada um dos domínios/subdomínios que correspondem ao que se espera
da Biblioteca Escolar.
Realizada a avaliação, os resultados obtidos serão comparados com os
perfis de desempenho para cada um dos domínios, cuja caracterização se
subdivide por uma escala de quatro níveis, a fim determinar em que nível se
situa a Biblioteca Escolar.
O Modelo salienta, no entanto, que o desempenho da Biblioteca Escolar
não depende única e exclusivamente da Biblioteca Escolar:

(…) esse desempenho não depende da acção isolada da própria BE, estando
envolvidos outros actores, como o Conselho Executivo e os professores de sala
de aula, pelo que a avaliação da BE acaba, de facto, por envolver e implicar toda
a Escola.
(Bibliotecas Escolares: Modelo de Auto-Avaliação, 2008: 5)

É, precisamente, esta partilha, este compromisso, esta inter-acção entre


a Biblioteca Escolar e toda a comunidade escolar que, na minha opinião, dá
consistência ao Modelo proposto. Só neste pressuposto é que as acções de
melhoria farão sentido, pois um melhor desempenho da Biblioteca Escolar irá,
necessariamente, influenciar um melhor desempenho da escola/agrupamento.

Não apliquei ainda este Modelo. Só no corrente ano lectivo o estou a


analisar. É um desafio considerável!!! Mas é um desafio estruturado,
consistente, ambicioso!
Valerá a pena?
“Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena.”

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Bibliografia

EISENBERG, Michael & MILLER, Danielle (2002), “This Man Wants to Change
Your Job”, School Library Journal, 9/1/2002.

Modelo de Auto-Avaliação (2008) Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares.

TODD, Ross (2001), The 2001 IASL Conference.

TODD, Ross (2002), “School librarian as teachers: learning outcomes and


evidence-based practice”, 68th IFLA Council and General Conference August.

TODD, Ross (2008), “The Evidence-Based Manifesto for School Librarians”,


School Library Journal, 4/1/2008.

Ana Paula Almeida


08/11/09

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