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Resumo
Este trabalho se propôs estudar o livro eletrônico literário enquanto objeto artístico das
poéticas experimentais, repensando a passagem do códex tradicional ao livro surgido das imbricações
de recursos multimídia. Para desenvolvê-lo, partimos da hipótese de que a forma do objeto escrito
dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem, e que, no caso do livro de artista, o suporte
é também objeto de fruição estética. Neste sentido, buscamos confrontar alguns leitores com a
experiência dessa leitura, de forma a coletar informações sobre suas impressões no contato com essa
obra fluída. Os resultados apontaram para a subjetividade que o livro eletrônico permite ao leitor,
mesmo sendo capaz de “direcionar” a forma de leitura.
Introdução
A pesquisa que iniciamos sobre as Metamorfoses do livro: multimídia e escrita
literária foi desenvolvida em duas etapas durante o período de março/2008 a fevereiro/2009.
Na primeira delas analisamos os suportes de leitura, em especial os suportes eletrônicos e,
conseqüentemente, a diversidade nos modos da expressão artística/literária e, na segunda,
buscamos avaliar qual o interesse do público leitor diante dessas manifestações.
Assim, a primeira etapa incluiu o estudo de obras cujo conteúdo versam sobre o
assunto, tanto em modelo impresso quanto eletrônico, bem como a participação em
seminários e eventos na área de língua portuguesa, literatura e informática.
Método
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Trabalho apresentado nas Sessões de Pôsteres, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
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Discente do curso de Graduação em Radiologia, bolsista do PIBIC/FAPEMIG, tobiascefet@gmail.com
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Doutor em Literatura Comparada, professor-orientador, rogeriobsilva@adm.cefetmg.br
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história do livro, é fácil verificarmos discursos apocalípticos sobre o fim do livro, tal como o
entendemos. Sendo assim, torna-se necessário não só mapear o desenvolvimento do livro
como objeto de consumo e como desafio aos processos cognitivos, mas também analisar as
tensões que a linguagem cria em função dos processos tecnológicos que a criação poética
absorve e deseja transformar. Tais estudos visam o aprimoramento dos leitores no campo da
leitura e no conhecimento dos processos cognitivos, muitas vezes desenvolvidos de forma
inconsciente no contexto tecnológico de nossa época.
Para isso, tomando como ponto de partida o que foi apreendido a partir da experiência
da leitura de textos em suporte tradicional (livros impressos) e em suportes eletrônicos
(computadores), relataremos, brevemente, os tópicos mais significativos que contribuíram
com o embasamento de nossa pesquisa e também sobre as experiências adquiridas na
participação de seminários e eventos da área.
Assim, uma dessas obras, a do escritor francês Roger Chartier, descreve esse caráter
evolutivo do livro, cujo título “A aventura do livro: do leitor ao navegador” já nos sugere a
ideia de querer apresentar um panorama sobre a evolução dos suportes de leitura e os aspectos
que a condicionaram, assim como os novos hábitos condicionados por ela.
Segundo Chartier (1999), essa transformação, que pode ser considerada uma
revolução, diz respeito tanto ao modo de produção quanto à reprodução dos textos,
ocasionando mudanças nas maneiras de ler, de escrever, de compreender e também nas
questões jurídicas como os direitos autorais e a identificação do autor, uma vez que o livro
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vem sofrendo a transformação do texto fixo e imutável dos antigos suportes para um texto
fluído, disforme e que permite interpolação, inovando-se e tomando um novo significado,
caracterizando assim o modelo do livro eletrônico.
Entretanto, para que tais recursos sejam possíveis, ela ressalta que é necessária uma
alteração na formatação da interface de navegadores-padrão e na concepção de um modelo
para o livro eletrônico, não para exterminar a forma consagrada do livro impresso, mas para
permitir celebrar a recomposição e o sentido da linguagem no livro da leitura em aberto,
independente do formato e do suporte.
Foi nesse sentido que ao conhecer obras publicadas com distintivos estritamente
eletrônicos conforme enunciado por Beiguelman, a exemplo, “Librare” de Álvaro Andrade
Garcia ou “Mar de Sofia” de Rui Torres, dentre outras, selecionamo-las para que pudessem
fazer parte do conjunto de obras eletrônicas que desejávamos que os leitores convidados para
participar dessa pesquisa conhecessem.
Tais obras estão disponíveis em nosso blog por meio de links que encaminham os
leitores para o site dos autores onde esses e-livros se encontram hospedados. Esse recurso de
lincagem, que cria e recria o ambiente virtual por meio de hipertextos - valendo lembrar que o
hipertexto não é exclusivo para textos, sejam eles impressos ou eletrônicos, e que não exclui
nem imagens nem sons, permitindo o acesso a dados multimodais - permite também que o
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texto seja desterritorializado, isto é, que ele possa ser acessado a partir de qualquer ambiente
virtual que permita o acesso a dados eletrônicos que estejam disponíveis na rede, conforme
esclarece Lévy (1996).
Esse conceito, desenvolvido por Pierre Lévy, permitiu-nos entender que deveríamos
relativizar nossa preocupação com licenças de direitos autorais ao disponibilizar obras de
outros autores em nosso blog, uma vez que não estávamos tomando essas obras como nossas,
mas somente utilizando seus nomes e suas imagens para encaminhar o leitor, por meio de um
link, à própria obra do autor. Não só por isso, entretanto, a contribuição de seu livro “O que é
o virtual?” para a nossa pesquisa merece também ser destacada.
Essa obra busca explorar diversas definições que permitem compreender em amplitude
a virtualização. Dentre seus nove capítulos, aquele que mais interessa à nossa pesquisa, é o
que trata da virtualização do texto. Ele nos importa, pois define alguns conceitos essenciais
para a composição desta pesquisa, como por exemplo, a ideia do hipertexto em caráter
eletrônico ou convencional e a questão da interatividade do leitor com a obra. Ao mesmo
tempo, ele trabalha as transformações do texto enquanto leitura, escrita, digitalização e
desterritorialização do mesmo. Nesse sentido, o conceito de rede é realmente importante,
porque o texto tornado disponível nesses meios nos obriga a compreender um aspecto que
sempre esteve presente na história dos livros, especialmente os de literatura, mas que acabava
sempre esquecido ou sublimado: a ideia de que um livro sempre se reporta a outro, e sua
existência só pode ser concebida a partir dessa mesma relação que há entre eles, que os textos
fomentam na memória do leitor, ou na concepção de uma biblioteca.
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Também interessante nessa bienal, foi uma exposição no stand da Rede Globo que
apresentava um projeto chamado “Leia o livro e veja a cena” em que, por meio de uma tela
de computador, o visitante podia escolher entre algumas obras literárias de autores brasileiros
que foram adaptadas para a televisão, em novelas ou mini-séries da rede, e ler um trecho do
livro ao mesmo tempo em que assistia a cena correspondente, onde som, imagem em
movimento e texto foram dispostos num único suporte, permitindo uma nova experiência de
leitura.
Ainda, nessa primeira etapa da pesquisa, diversos sites sobre o assunto foram
pesquisados, dentre eles ciclope.art de Álvaro Andrade Garcia, telepoesis.net de Rui Torres e
refazenda.com/aleer de André Vallias. Esses sites, que foram os mais relevantes por trazerem
material inovador no campo da literatura eletrônica, tiveram parte de seu conteúdo divulgado
em nosso blog, por meio de links, para que o leitor conhecesse a obra fluida, mutável e
hipertextual que é o livro eletrônico, além de nos servir para avaliar como se dá a interação do
leitor com os novos modos de ler.
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Concluída essa etapa, demos início à preparação de um suporte que pudesse abrigar
nosso projeto e torná-lo disponível online para que tivéssemos condições de permitir uma
interação entre o material eletrônico e alguns leitores previamente convidados para tal.
Então, a partir do protótipo de um site criado anteriormente por outros bolsistas [Fábio
Aguilar da Silva, André Rodrigues de Barros e Silva e Vinícius Eustáquio de Sousa
Fernandes] no ano anterior, em pesquisa semelhante na área de tecno-poesia, remodelamos as
páginas que foram disponibilizadas em um blog e publicadas em rede, conforme
demonstraremos adiante.
Assim, merecem ser citadas duas delas. Uma realizada no próprio CEFET-MG com o
tema “Usabilidade e Design Centrado no Usuário”, como resultado de uma parceria entre o
Departamento de Computação (DECOM) e o Laboratório de Pesquisa em Leitura e Cognição
(LPLC) da própria instituição, e a outra, realizada durante a Feira Nacional do Empreendedor
2008, organizada pelo SEBRAE/MG, cujo tema “Educação Sem Fronteiras” foi apresentado
pelo empresário do ramo da informática, Marcos Resende.
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Construindo um blog
Essa facilidade de manejo das ferramentas contribuiria com o nosso tempo que já se
encontrava curto, uma vez que, como não tínhamos experiência nem conhecimento técnico de
como se fazer para construir um blog/site, teríamos trabalho redobrado na busca de materiais
didáticos e na aprendizagem para fazê-lo.
Entretanto, não era suficiente que o espaço escolhido oferecesse apenas ferramentas de
fácil edição e publicação, pois, também era nosso objetivo proporcionar ao leitor uma
interface que facilitasse a interação homem-máquina, por isso, a escolha de um ambiente que
oferecesse um layout agradável e com informações bem dispostas na tela foi tarefa trabalhosa.
Após escolhermos o espaço para publicar nosso projeto, o passo seguinte foi trabalhar
o conteúdo dos textos que iríamos publicar para que eles não se tornassem obstáculos na
compreensão do leitor, quanto ao objetivo do projeto.
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Discussão e Resultados
Antes de tudo, é válido lembrar que os resultados aqui apresentados se baseiam nas
impressões coletadas a partir dos comentários registrados pelos leitores e que visam atender
ao objetivo inicial deste projeto: avaliar as mudanças de comportamento no campo da leitura
em função das alterações dos suportes e da ampliação dos objetos dados ao ato de ler.
Para essa experiência, um número de sete alunos foi convidado e seis deles aceitaram
o convite. Todos os convites foram realizados e confirmados por e-mail, entretanto somente
três participantes concluíram as atividades, ao passo que os demais relataram ter acessado o
blog, mas não tiveram condições de responder às perguntas devido a problemas de conexão
ou não conseguiram ler os e-livros pelo fato de não terem conseguido instalar alguns
softwares em seus computadores.
Assim, partindo somente dos registros deixados pelos três convidados que concluíram
as atividades, pudemos perceber, de modo geral, uma boa aceitação dos leitores pelos novos
suportes de leitura e também pelas diferentes formas de expressão artística manifestadas nos
e-livros, embora as avaliações por eles realizadas tenham sido bastante superficiais em relação
ao enredo e restritas unicamente na observação do livro enquanto produção estética e objeto
de entretenimento.
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Nesse caso, especificamente, deveríamos ter autorizado a publicação das respostas dos
participantes no blog somente após todos terem respondido para que a resposta de um não
influenciasse a do outro. Se tivéssemos tomado essa precaução, talvez, cada um daria sua
opinião sem se basear na idéia do outro.
“Tanto o livro tradicional quanto o eletrônico tem muitas vantagens a oferecer, uns
mais outros menos, dependendo do tipo de leitor. Sendo assim, espero que esse novo formato
de livro possa facilitar o acesso de um maior número de pessoas à literatura de qualidade e
também que ele seja empregado da melhor maneira possível no incentivo à leitura”. Rúbia
“Dinamismo na leitura em primeiro lugar. E depois, ele deve ter a mesma magia que
um livro tradicional [...] e aí depende só do autor”. Corine
Essas respostas são importantes para afirmarmos que houve uma boa aceitação dos
leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora o número de leitores que
concluíram a participação se tornou reduzido.
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O último motivo que suspeitamos estar relacionado aos resultados não muito positivos,
está associado ao período que disponibilizamos para a participação dos leitores. No plano de
trabalho da pesquisa estava previsto um período de 6 meses, entretanto, somente 1/6 desse
período foi disponibilizado aos leitores, devido a atrasos em etapas anteriores.
A partir desse registro coletado das impressões dos leitores, fizemos uma avaliação
preliminar do impacto dessa leitura em novos suportes, o que nos permitiu concluir a
pesquisa. É válido lembrar que essa conclusão não encerra a pesquisa definitivamente e sim,
um ciclo de atividades previstas no plano de pesquisa.
Conclusão
Esse contato só foi possível a partir de um embasamento teórico amplo que permitiu a
nós pesquisadores selecionar livros que apresentavam características próprias para o meio
eletrônico e elaborar para os leitores testes compatíveis com o objetivo de nossa pesquisa,
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sem que isso implicasse em alguma dificuldade para eles que estavam tendo o primeiro
contato com um livro eletrônico no formato que apresentamos.
Estes testes geraram resultados que ao serem analisados puderam comprovar dois fatos
interessantes para a nossa pesquisa: a confirmação da hipótese de que a forma do objeto
escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem e a boa aceitação dos
leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora alguns relatos
apontavam para a complexidade que o material disponibilizado apresentava.
Referências
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