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III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO

Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009

METAMORFOSES DO LIVRO: MULTIMÍDIA E ESCRITA LITERÁRIA1

Tobias SANTOS (CEFET-MG)2


Rogério BARBOSA (CEFET-MG)3

Resumo
Este trabalho se propôs estudar o livro eletrônico literário enquanto objeto artístico das
poéticas experimentais, repensando a passagem do códex tradicional ao livro surgido das imbricações
de recursos multimídia. Para desenvolvê-lo, partimos da hipótese de que a forma do objeto escrito
dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem, e que, no caso do livro de artista, o suporte
é também objeto de fruição estética. Neste sentido, buscamos confrontar alguns leitores com a
experiência dessa leitura, de forma a coletar informações sobre suas impressões no contato com essa
obra fluída. Os resultados apontaram para a subjetividade que o livro eletrônico permite ao leitor,
mesmo sendo capaz de “direcionar” a forma de leitura.

Palavras-chave: História do livro; poesia e tecnologia; leitura na tela; livro eletrônico.

Introdução
A pesquisa que iniciamos sobre as Metamorfoses do livro: multimídia e escrita
literária foi desenvolvida em duas etapas durante o período de março/2008 a fevereiro/2009.
Na primeira delas analisamos os suportes de leitura, em especial os suportes eletrônicos e,
conseqüentemente, a diversidade nos modos da expressão artística/literária e, na segunda,
buscamos avaliar qual o interesse do público leitor diante dessas manifestações.

Assim, a primeira etapa incluiu o estudo de obras cujo conteúdo versam sobre o
assunto, tanto em modelo impresso quanto eletrônico, bem como a participação em
seminários e eventos na área de língua portuguesa, literatura e informática.

Já, na segunda etapa, a partir de um suporte eletrônico por nós desenvolvido,


disponibilizamos alguns modelos de e-livros online de autorias diversas, buscando promover
uma real interação do público leitor com o material disponibilizado para que pudéssemos
avaliar seu interesse pelos novos suportes de leitura e também pelas possibilidades de
manifestação artística/literária neles permitidas.

Método

A razão primeira desta pesquisa é a necessidade de compreendermos as relações


complexas que os novos processos tecnológicos impõem aos objetos e aos modos
consagrados da leitura. Num momento em que presenciamos um crescente interesse pela

1
Trabalho apresentado nas Sessões de Pôsteres, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
2
Discente do curso de Graduação em Radiologia, bolsista do PIBIC/FAPEMIG, tobiascefet@gmail.com
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Doutor em Literatura Comparada, professor-orientador, rogeriobsilva@adm.cefetmg.br

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história do livro, é fácil verificarmos discursos apocalípticos sobre o fim do livro, tal como o
entendemos. Sendo assim, torna-se necessário não só mapear o desenvolvimento do livro
como objeto de consumo e como desafio aos processos cognitivos, mas também analisar as
tensões que a linguagem cria em função dos processos tecnológicos que a criação poética
absorve e deseja transformar. Tais estudos visam o aprimoramento dos leitores no campo da
leitura e no conhecimento dos processos cognitivos, muitas vezes desenvolvidos de forma
inconsciente no contexto tecnológico de nossa época.

Estudar as relações entre a linguagem criativa e a tecnologia, observando a construção


do sentido e a performance dos textos verbais e não-verbais nos suportes tradicionais e
eletrônicos foi o objetivo deste trabalho, considerando o livro e suas transformações nos
ambientes eletrônicos e/ou online. Assim, procuramos enfocar os novos usos tecnológicos na
produção poética e o seu alcance como meio de discussão e transformação da língua e da
linguagem enquanto práxis e instrumento de criação.

Ao observamos a incorporação de recursos multimídia na composição de um livro que


possua caráter eletrônico, podemos questionar quais são as especificidades desse novo
material e também qual o impacto dessas transformações.

Para isso, tomando como ponto de partida o que foi apreendido a partir da experiência
da leitura de textos em suporte tradicional (livros impressos) e em suportes eletrônicos
(computadores), relataremos, brevemente, os tópicos mais significativos que contribuíram
com o embasamento de nossa pesquisa e também sobre as experiências adquiridas na
participação de seminários e eventos da área.

Entre o material pesquisado, algumas obras merecem destaque por apresentarem


características que demonstram a presença das transformações sofridas pelo livro, não
somente nos últimos tempos, mas desde o seu surgimento.

Assim, uma dessas obras, a do escritor francês Roger Chartier, descreve esse caráter
evolutivo do livro, cujo título “A aventura do livro: do leitor ao navegador” já nos sugere a
ideia de querer apresentar um panorama sobre a evolução dos suportes de leitura e os aspectos
que a condicionaram, assim como os novos hábitos condicionados por ela.

Segundo Chartier (1999), essa transformação, que pode ser considerada uma
revolução, diz respeito tanto ao modo de produção quanto à reprodução dos textos,
ocasionando mudanças nas maneiras de ler, de escrever, de compreender e também nas
questões jurídicas como os direitos autorais e a identificação do autor, uma vez que o livro

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vem sofrendo a transformação do texto fixo e imutável dos antigos suportes para um texto
fluído, disforme e que permite interpolação, inovando-se e tomando um novo significado,
caracterizando assim o modelo do livro eletrônico.

Também, se lembrarmos do surgimento do livro que do rolo ao códex, do manuscrito


ao impresso, do in-fólio ao livro de bolso e agora do papel para a tela do computador,
percebemos que essas características evolutivas são evidentes ao longo do tempo. Por isso,
citar a obra “O livro depois do livro” da escritora brasileira Giselle Beiguelman é de
fundamental importância para embasar nossa pesquisa porque, essa obra, além do modelo
impresso é também publicada no modelo eletrônico, o que confirma essa possibilidade
metamorfoseada do livro.

E, além desse caráter dual da obra, Beiguelman questiona a possibilidade de se editar


livros com características próprias para a web, livros estes fluidos, com caráter não linear, de
forma a permitir que “a internet seja ela mesma uma aplicação inteligente”, como ela escreve
ao citar essa frase de Maciej Wisniewski (apud BEIGUELMAN, 2003, p. 70). Quer, com isso,
permitir o uso máximo das potencialidades desse meio e não apenas compreende-lo como um
“recurso de otimização para a mídia impressa [ou] uma versão expandida do livro impresso”
(BEIGUELMAN, 2003, p. 68-71).

Entretanto, para que tais recursos sejam possíveis, ela ressalta que é necessária uma
alteração na formatação da interface de navegadores-padrão e na concepção de um modelo
para o livro eletrônico, não para exterminar a forma consagrada do livro impresso, mas para
permitir celebrar a recomposição e o sentido da linguagem no livro da leitura em aberto,
independente do formato e do suporte.

Foi nesse sentido que ao conhecer obras publicadas com distintivos estritamente
eletrônicos conforme enunciado por Beiguelman, a exemplo, “Librare” de Álvaro Andrade
Garcia ou “Mar de Sofia” de Rui Torres, dentre outras, selecionamo-las para que pudessem
fazer parte do conjunto de obras eletrônicas que desejávamos que os leitores convidados para
participar dessa pesquisa conhecessem.

Tais obras estão disponíveis em nosso blog por meio de links que encaminham os
leitores para o site dos autores onde esses e-livros se encontram hospedados. Esse recurso de
lincagem, que cria e recria o ambiente virtual por meio de hipertextos - valendo lembrar que o
hipertexto não é exclusivo para textos, sejam eles impressos ou eletrônicos, e que não exclui
nem imagens nem sons, permitindo o acesso a dados multimodais - permite também que o

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texto seja desterritorializado, isto é, que ele possa ser acessado a partir de qualquer ambiente
virtual que permita o acesso a dados eletrônicos que estejam disponíveis na rede, conforme
esclarece Lévy (1996).

Esse conceito, desenvolvido por Pierre Lévy, permitiu-nos entender que deveríamos
relativizar nossa preocupação com licenças de direitos autorais ao disponibilizar obras de
outros autores em nosso blog, uma vez que não estávamos tomando essas obras como nossas,
mas somente utilizando seus nomes e suas imagens para encaminhar o leitor, por meio de um
link, à própria obra do autor. Não só por isso, entretanto, a contribuição de seu livro “O que é
o virtual?” para a nossa pesquisa merece também ser destacada.

Essa obra busca explorar diversas definições que permitem compreender em amplitude
a virtualização. Dentre seus nove capítulos, aquele que mais interessa à nossa pesquisa, é o
que trata da virtualização do texto. Ele nos importa, pois define alguns conceitos essenciais
para a composição desta pesquisa, como por exemplo, a ideia do hipertexto em caráter
eletrônico ou convencional e a questão da interatividade do leitor com a obra. Ao mesmo
tempo, ele trabalha as transformações do texto enquanto leitura, escrita, digitalização e
desterritorialização do mesmo. Nesse sentido, o conceito de rede é realmente importante,
porque o texto tornado disponível nesses meios nos obriga a compreender um aspecto que
sempre esteve presente na história dos livros, especialmente os de literatura, mas que acabava
sempre esquecido ou sublimado: a ideia de que um livro sempre se reporta a outro, e sua
existência só pode ser concebida a partir dessa mesma relação que há entre eles, que os textos
fomentam na memória do leitor, ou na concepção de uma biblioteca.

Também, em outros textos, reunidos no volume “Cultura em fluxo – novas mediações


em rede” (2004), organizado por André Brasil e colaboradores, pudemos identificar outras
características dos ambientes virtuais, como a possibilidade de reciclagem de material
eletrônico, que é citada por Marcus Bastos, ao se utilizar dos recursos de colagem, por
exemplo, aproveitando um material anteriormente já criado.

Ao mesmo tempo em que compreendíamos conceitos a partir da leitura em livros ou


na tela do computador, experimentando a sensação propiciada pelos novos modos de leitura
através dos novos suportes e das novas possibilidades de expressão artística/literária,
buscávamos a participação em eventos que pudessem nos trazer a experiência daqueles que
atuam nesse meio da ciberliteratura.

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Por isso, a participação no 1° Seminário Nacional dos Professores de Português,


realizado no CEFET-MG, com o tema “Linguagem e tecnologia: novos códigos, novos
saberes”, foi também importante para a nossa formação teórica, ao mesmo tempo em que se
começava a desenvolver em nós algumas ideias para a aplicação prática do trabalho.

Esse seminário foi explorado por meio da participação em palestras, mesas-redondas e


sessões temáticas permitindo nosso contato direto com algumas pessoas que já trabalhavam
com literatura no ambiente virtual. Esse contato possibilitou que avaliássemos e discutíssemos
as transformações e os princípios das tecnologias da comunicação e da informação com os
novos suportes para a leitura e para a produção escrita.

Outro evento ocorrido simultaneamente ao SENAPP, e que pudemos acompanhar, foi


a Bienal do Livro de Minas Gerais, realizada entre os dias 15 e 25 de maio de 2008, e que
apresentou, entre outras atividades, alguns projetos ligados a área da literatura eletrônica,
como o projeto da Universidade FUMEC, denominado “Escreva sua história”, no qual cada
visitante, por meio de um computador, podia escrever seu texto de forma livre e intuitiva,
dando continuidade a uma história iniciada por outros visitantes.

Esse caráter participativo do leitor/escritor evidenciava a coletividade que uma obra


eletrônica pode tomar como é proposto por alguns escritores que defendem uma interatividade
colaborativa ao se produzir um novo modelo para o livro eletrônico.

Também interessante nessa bienal, foi uma exposição no stand da Rede Globo que
apresentava um projeto chamado “Leia o livro e veja a cena” em que, por meio de uma tela
de computador, o visitante podia escolher entre algumas obras literárias de autores brasileiros
que foram adaptadas para a televisão, em novelas ou mini-séries da rede, e ler um trecho do
livro ao mesmo tempo em que assistia a cena correspondente, onde som, imagem em
movimento e texto foram dispostos num único suporte, permitindo uma nova experiência de
leitura.

Ainda, nessa primeira etapa da pesquisa, diversos sites sobre o assunto foram
pesquisados, dentre eles ciclope.art de Álvaro Andrade Garcia, telepoesis.net de Rui Torres e
refazenda.com/aleer de André Vallias. Esses sites, que foram os mais relevantes por trazerem
material inovador no campo da literatura eletrônica, tiveram parte de seu conteúdo divulgado
em nosso blog, por meio de links, para que o leitor conhecesse a obra fluida, mutável e
hipertextual que é o livro eletrônico, além de nos servir para avaliar como se dá a interação do
leitor com os novos modos de ler.

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É relevante, ainda, ressaltar nossa participação na IV Semana de Ciência e Tecnologia:


Evolução e Diversidade, realizada pela Diretoria de Pós-Graduação do CEFET-MG, em
outubro de 2008. Dentro do seminário organizado pela Coordenação de Língua Portuguesa,
participamos da mesa intitulada “Palavra, arte e tecnologia”, entre os dias 20 e 22 de outubro
de 2008, onde pudemos apresentar comunicação relatando a pesquisa em desenvolvimento e
discutir os resultados parciais com os participantes, isto é, bolsistas de outros projetos,
professores e convidados presentes. Na mesma semana, participamos do VIII SEVFALE
2008, organizado pela Faculdade de Letras da UFMG, onde também apresentamos
comunicação sobre a pesquisa em andamento. Tais eventos, além de excelentes para
divulgação dos trabalhos científicos desenvolvidos no âmbito do CEFET-MG, contribuíram
para as reflexões que vínhamos fazendo, então, sobre o projeto ao permitir um diálogo com
pesquisadores da área e de outras especialidades com os quais interagimos.

Concluída essa etapa, demos início à preparação de um suporte que pudesse abrigar
nosso projeto e torná-lo disponível online para que tivéssemos condições de permitir uma
interação entre o material eletrônico e alguns leitores previamente convidados para tal.

Então, a partir do protótipo de um site criado anteriormente por outros bolsistas [Fábio
Aguilar da Silva, André Rodrigues de Barros e Silva e Vinícius Eustáquio de Sousa
Fernandes] no ano anterior, em pesquisa semelhante na área de tecno-poesia, remodelamos as
páginas que foram disponibilizadas em um blog e publicadas em rede, conforme
demonstraremos adiante.

Nesse sentido, foi de grande importância a experiência adquirida em algumas palestras


em eventos de informática onde temas como ‘interface homem-máquina’ foram discutidos e
puderam ser aplicados de forma significativa na elaboração de nosso blog, uma vez que
buscávamos desenvolver uma interface simples que pudesse oferecer ao leitor facilidade na
interação com o material eletrônico que dispúnhamos na rede.

Assim, merecem ser citadas duas delas. Uma realizada no próprio CEFET-MG com o
tema “Usabilidade e Design Centrado no Usuário”, como resultado de uma parceria entre o
Departamento de Computação (DECOM) e o Laboratório de Pesquisa em Leitura e Cognição
(LPLC) da própria instituição, e a outra, realizada durante a Feira Nacional do Empreendedor
2008, organizada pelo SEBRAE/MG, cujo tema “Educação Sem Fronteiras” foi apresentado
pelo empresário do ramo da informática, Marcos Resende.

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Essas duas palestras nos permitiram explorar os obstáculos da aprendizagem à


distância, uma vez que os leitores que selecionamos para participar do nosso projeto não
tiveram nenhum treinamento anterior de como deveriam se comportar ao interagir com o
nosso blog e com o material nele exposto, uma vez que objetivávamos uma participação livre
e intuitiva por parte deles, embora, partindo do pressuposto de que os leitores já possuíssem
conhecimentos básicos de informática e navegação pela internet, além da capacidade de
compreender as instruções disponíveis no próprio blog e nas páginas dos sites onde os e-livros
selecionados estavam disponíveis.

Também, com a intenção de conhecer o que os leitores conseguiram apreender da


leitura nos e-livros, para avaliarmos qual a potencialidade dos textos criados em ambientes
eletrônicos na formação de novos hábitos de ler, elaboramos um questionário com oito
perguntas discursivas que deveriam ser respondidas após a leitura de algum desses livros.

Construindo um blog

Durante a segunda etapa do projeto, após selecionarmos os e-livros que estariam


expostos em nosso blog, começamos a explorar os portais que ofereciam espaço gratuito para
abrigá-lo e que também disponibilizavam ferramentas de fácil utilização para a edição e
publicação do conteúdo.

Essa facilidade de manejo das ferramentas contribuiria com o nosso tempo que já se
encontrava curto, uma vez que, como não tínhamos experiência nem conhecimento técnico de
como se fazer para construir um blog/site, teríamos trabalho redobrado na busca de materiais
didáticos e na aprendizagem para fazê-lo.

Entretanto, não era suficiente que o espaço escolhido oferecesse apenas ferramentas de
fácil edição e publicação, pois, também era nosso objetivo proporcionar ao leitor uma
interface que facilitasse a interação homem-máquina, por isso, a escolha de um ambiente que
oferecesse um layout agradável e com informações bem dispostas na tela foi tarefa trabalhosa.

Assim, dentre os sítios disponíveis, optamos pelo blogspot da Google devido à


agilidade e à facilidade na publicação do conteúdo graças às ferramentas de interação que são
manipuladas de forma simples por parte do administrador do blog, por terem funções claras e
objetivas.

Após escolhermos o espaço para publicar nosso projeto, o passo seguinte foi trabalhar
o conteúdo dos textos que iríamos publicar para que eles não se tornassem obstáculos na
compreensão do leitor, quanto ao objetivo do projeto.

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Dessa forma, buscamos trabalhar com informações claras e explicativas, tanto ao


justificar o objetivo do projeto quanto ao tentarmos demonstrar o caminho que queríamos que
o leitor seguisse para que, então, ele pudesse retornar com o seu registro sobre as impressões
de leitura em ambiente eletrônico.

O endereço eletrônico do nosso blog ficou registrado no seguinte domínio:


<http://pibic.blogspot.com/>, através do qual pode-se acessar e conhecer o conteúdo prático
da nossa pesquisa, além de interagir com os e-livros lá expostos.

Discussão e Resultados

Antes de tudo, é válido lembrar que os resultados aqui apresentados se baseiam nas
impressões coletadas a partir dos comentários registrados pelos leitores e que visam atender
ao objetivo inicial deste projeto: avaliar as mudanças de comportamento no campo da leitura
em função das alterações dos suportes e da ampliação dos objetos dados ao ato de ler.

Portanto, atendendo ao objetivo do projeto, alguns alunos da Instituição CEFET-MG


foram convidados para participar de forma voluntária dessa pesquisa, de modo a interagirem
com os e-livros publicados no blog e, em seguida, oferecer seu comentário através de um
questionário de oito perguntas dissertativas. Essa participação poderia ser feita a partir do
próprio computador, em casa, desde que os convidados tivessem acesso à internet e instalado
em suas máquinas alguns softwares necessários para a exibição de alguns dos e-livros
expostos no blog.

Para essa experiência, um número de sete alunos foi convidado e seis deles aceitaram
o convite. Todos os convites foram realizados e confirmados por e-mail, entretanto somente
três participantes concluíram as atividades, ao passo que os demais relataram ter acessado o
blog, mas não tiveram condições de responder às perguntas devido a problemas de conexão
ou não conseguiram ler os e-livros pelo fato de não terem conseguido instalar alguns
softwares em seus computadores.

Assim, partindo somente dos registros deixados pelos três convidados que concluíram
as atividades, pudemos perceber, de modo geral, uma boa aceitação dos leitores pelos novos
suportes de leitura e também pelas diferentes formas de expressão artística manifestadas nos
e-livros, embora as avaliações por eles realizadas tenham sido bastante superficiais em relação
ao enredo e restritas unicamente na observação do livro enquanto produção estética e objeto
de entretenimento.

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Observamos também que algumas respostas desviavam-se um pouco da idéia central


da pergunta, de forma a empobrecer o depoimento dos participantes, de modo que, algumas
delas, sobre questões diferentes, apresentavam uma definição muito semelhante umas das
outras e, às vezes, parecia que um participante dava sua resposta como que em continuidade à
resposta do outro para uma mesma questão.

Nesse caso, especificamente, deveríamos ter autorizado a publicação das respostas dos
participantes no blog somente após todos terem respondido para que a resposta de um não
influenciasse a do outro. Se tivéssemos tomado essa precaução, talvez, cada um daria sua
opinião sem se basear na idéia do outro.

Contudo, é interessante transcrever algumas respostas dadas à pergunta central do


questionário. Ao perguntarmos o que o leitor esperava de um livro eletrônico em oposição ao
impresso, as seguintes respostas foram redigidas:

“Pessoalmente espero que os recursos ajudem a direcionar e estimular a leitura pelo


leitor. [...], ou que agregue o próprio sentido do livro sem nenhum recurso adicional.[...]”.
Rafael

“Tanto o livro tradicional quanto o eletrônico tem muitas vantagens a oferecer, uns
mais outros menos, dependendo do tipo de leitor. Sendo assim, espero que esse novo formato
de livro possa facilitar o acesso de um maior número de pessoas à literatura de qualidade e
também que ele seja empregado da melhor maneira possível no incentivo à leitura”. Rúbia

“Dinamismo na leitura em primeiro lugar. E depois, ele deve ter a mesma magia que
um livro tradicional [...] e aí depende só do autor”. Corine

Essas respostas são importantes para afirmarmos que houve uma boa aceitação dos
leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora o número de leitores que
concluíram a participação se tornou reduzido.

Desse modo, como apontamento para as causas dos problemas apresentados no


resultado, suspeitamos que eles foram ocasionados devido a três motivos.

Um deles, talvez, seja a maneira como as questões foram elaboradas, restringindo-se a


determinados aspectos ou tendo, algumas vezes, o mesmo sentido uma das outras, como é o
caso de duas perguntas que questionavam, respectivamente, se “um livro eletrônico deveria
apresentar características próprias” e “quais as características deveriam ser apresentadas por
um livro eletrônico em oposição a um livro impresso”. Esse caso se repetiu em outras três
questões que tinham como idéia central o contato do leitor com o livro eletrônico.

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Outro motivo foi, sem dúvidas, o número restrito de participantes. Talvez, se


tivéssemos convidado um número maior de leitores e realizado um acompanhamento de
feedback, os resultados poderiam ter sido mais satisfatórios, embora, correr-se-ia o risco de
serem manipulados por nós, uma vez que poderíamos induzir o leitor a comportar-se de
acordo com a nossa visão sobre o assunto. Se isso acontecesse, a leitura não aconteceria de
forma livre e intuitiva como objetivávamos.

O último motivo que suspeitamos estar relacionado aos resultados não muito positivos,
está associado ao período que disponibilizamos para a participação dos leitores. No plano de
trabalho da pesquisa estava previsto um período de 6 meses, entretanto, somente 1/6 desse
período foi disponibilizado aos leitores, devido a atrasos em etapas anteriores.

Não obstante, uma das hipóteses levantadas ao descrevermos o projeto da pesquisa


pôde ser confirmada no depoimento dos leitores ao responderem à questão que indagava qual
o conceito de livro eletrônico tido por eles. A nossa suspeita era de que a forma do objeto
escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que lêem e, essa resposta foi dada por
eles: “acredito que esse formato de livro pode direcionar ou até mesmo limitar a imaginação
do leitor” (Rúbia) ou, “tinha o conceito de uma obra com maiores riscos de subjetividade (no
sentido da informação apresentada) do que outras como o livro não eletrônico” (Rafael).

Nesse sentido, mesmo com as deficiências ocorridas durante a execução do projeto,


podemos observar também que pontos favoráveis à nossa pesquisa foram alcançados,
permitindo encerá-la com expectativas de que apontamos para o caminho certo.

A partir desse registro coletado das impressões dos leitores, fizemos uma avaliação
preliminar do impacto dessa leitura em novos suportes, o que nos permitiu concluir a
pesquisa. É válido lembrar que essa conclusão não encerra a pesquisa definitivamente e sim,
um ciclo de atividades previstas no plano de pesquisa.

Conclusão

A cogitação sobre as mudanças de comportamento no campo da leitura em função das


alterações dos suportes dados ao ato de ler pôde ser comprovada através desta pesquisa que
utilizou de ferramentas e recursos que permitiram um contato direto do leitor com o livro
eletrônico que era o objeto de investigação.

Esse contato só foi possível a partir de um embasamento teórico amplo que permitiu a
nós pesquisadores selecionar livros que apresentavam características próprias para o meio
eletrônico e elaborar para os leitores testes compatíveis com o objetivo de nossa pesquisa,

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sem que isso implicasse em alguma dificuldade para eles que estavam tendo o primeiro
contato com um livro eletrônico no formato que apresentamos.

Estes testes geraram resultados que ao serem analisados puderam comprovar dois fatos
interessantes para a nossa pesquisa: a confirmação da hipótese de que a forma do objeto
escrito dirige o sentido que os leitores podem dar àquilo que leem e a boa aceitação dos
leitores em relação aos e-livros apresentados em nosso blog, embora alguns relatos
apontavam para a complexidade que o material disponibilizado apresentava.

Também encontramos algumas deficiências em nosso projeto, como o curto período


que disponibilizamos para a participação dos leitores e também o número restrito deles que
foram selecionados para participar.

Entretanto, a experiência adquirida pôde enriquecer nosso conhecimento, além de


poder contribuir com o adensamento de uma bibliografia e de uma abordagem ainda pouco
usual no campo dos estudos literários e lingüísticos.

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