O documento discute a relação entre o Modernismo brasileiro da década de 20 e o romance da década de 30. Apesar das críticas iniciais dos autores de 30 ao Modernismo, Luis Bueno argumenta que ambos os movimentos faziam parte do mesmo momento histórico, embora com ênfases diferentes: enquanto os modernistas se concentravam no aspecto estético, os romancistas de 30 priorizaram o âmbito ideológico. No entanto, Bueno também aponta diferenças fundamentais de visão de mundo entre as duas gerações.
O documento discute a relação entre o Modernismo brasileiro da década de 20 e o romance da década de 30. Apesar das críticas iniciais dos autores de 30 ao Modernismo, Luis Bueno argumenta que ambos os movimentos faziam parte do mesmo momento histórico, embora com ênfases diferentes: enquanto os modernistas se concentravam no aspecto estético, os romancistas de 30 priorizaram o âmbito ideológico. No entanto, Bueno também aponta diferenças fundamentais de visão de mundo entre as duas gerações.
O documento discute a relação entre o Modernismo brasileiro da década de 20 e o romance da década de 30. Apesar das críticas iniciais dos autores de 30 ao Modernismo, Luis Bueno argumenta que ambos os movimentos faziam parte do mesmo momento histórico, embora com ênfases diferentes: enquanto os modernistas se concentravam no aspecto estético, os romancistas de 30 priorizaram o âmbito ideológico. No entanto, Bueno também aponta diferenças fundamentais de visão de mundo entre as duas gerações.
Luis Bueno inicia a discusso em torno do romance de 30 com uma provocao trazida por Fbio Lucas, que expe um questionamento sobre a esttica modernista: A invaso futurista de 1922, de certa maneira, provoca uma imploso da modernidade criada dentro do projeto literrio brasileiro tradicional, que vimos descrevendo, substituindo-a pela importao das vanguardas. A modernidade deixa de ser uma resultante do processo local para ser uma unio hiposttica com o progresso alheio (p.46).
A provocao trazida por Fbio Lucas , de acordo com Luis Bueno, parte de um movimento de reao j cristalizada postura de ver a literatura brasileira do sc. XX a partir do movimento modernista (p. 46). Ou seja, para a tradio literria, o modernismo colocado no centro da nossa produo, o que acaba por gerar a criao de termos como pr-modernismo e pensamentos questionveis que do sentido obra literria de outros autores ao afirmar que os mesmos antecipavam certos aspectos do movimento modernista (pp. 46-47).
Alm desse conflito existente entre as geraes anteriores Semana de 22 e os autores de fato considerados modernistas, Bueno tambm chama ateno para o conflito que se deu com os autores da gerao posterior, pertencentes dcada de 30. Estes autores foram costumeiramente vistos como participantes de um desdobramento do modernismo de 22, uma segunda fase da literatura surgida na Semana de Arte Moderna (p. 47) e foi Joo Luiz Lafet que props uma viso crtica que integrasse o romance de 30 ao movimento modernista.
Para conseguir aproximar esses dois momentos, Lafet defendeu a teoria de que todo movimento esttico tem um projeto esttico e um projeto ideolgico (p. 47), portanto, o foco dos primeiros modernistas estivera no projeto esttico e, durante a dcada de 30, o foco mudara para o plano ideolgico. De acordo com Lafet essa diferena no sustentaria uma separao no movimento, uma vez que no existiu mudana radical no corpo das doutrinas do Modernismo (p. 47).
Entretanto, o pensamento de Lafet continua permeado pela viso de que o movimento modernista est no centro de nossa produo e, portanto, subordina as experincias de 30 a 22. Ao expor a crtica feita por Lafet sobre Agripino Grieco e Octvio de Fria, Bueno exemplifica de maneira mais direta essa forma centralizadora de pensar do autor.
Bueno segue retomando as recusas que os escritores de 30 tinham em relao ao modernismo e que muitas dessas manifestaes contrrias ao movimento acabaram por gerar o melhor do romance de 30 (p. 50). Para exemplificar, o autor cita um artigo de Graciliano Ramos que afirma que o pas havia vivido uma fase de estagnao, de academicismo estril, alheio aos fatos nacionais. Graciliano tambm chama ateno para o aspecto destruidor do movimento, incapaz de construir o que quer que fosse (p. 52). E nesse cenrio que os autores do romance de 30 surgem, construindo uma arte nova que consegue, efetivamente, fugir das convenes lingusticas redutoras (p. 52).
Muitas revistas surgiram nesse momento criticando o movimento modernista e, apesar das crticas serem mais numerosas nos veculos de posicionamento direitistas, elas se encontravam presente entre todas as ideologias. Em suma, as revistas foram da mesma opinio de Graciliano Ramos e afirmavam que o modernismo fato passado que, embora no tenha deixado obras importantes, preparou o terreno para os autores que surgiram em 30 (p. 54). Todavia, Bueno questiona a legitimidade desse balano uma vez que nenhum representante efetivo da Semana registrou sua posio.
Qualquer histria da avaliao do modernismo feita nos anos 30 apontar uma recusa: partindo de pontos de vistas diferentes, quase todos acabam chegando a lugares semelhantes (p. 55). Bueno complementa essa afirmao trazendo uma metfora de Jos Paulo Paes que compara a relao entre os modernistas e a gerao de 30 com uma relao de conflito entre pais e filhos. Parecia que a nova gerao precisava afirmar sua diferena dos modernistas para conquistar seu lugar no ambiente literrio (p. 55).
O constante ataque ao modernismo tambm pode ser interpretado como uma clara comprovao de sua permanncia nos anos 30 e no faltaram intelectuais que, mesmo que eventualmente, enxergassem tal permanncia (p. 56). Para exemplificar, Luis Bueno trs um artigo de Carlos Lacerda que foi publicado como reao publicao da Lanterna Verde em relao ao balano do modernismo.
Apesar das grandes divergncias entre Carlos Lacerda e Octvio de Faria, Luis Bueno consegue perceber uma semelhana muito grande nas publicaes de ambos, que apesar de estarem defendo discursos e pensamentos declaradamente distintos, acabavam definindo, contraditoriamente, o que foi o movimento modernista e o que a gerao de 30 de maneira semelhante. interessante ver como o que nega e o que afirma acabam se encontrando. A isto talvez se possa chamar, sem medo, de manifestao de um esprito de poca (p. 63).
Nesse momento Luis Bueno retoma a teoria de Lafet que defendia que a dcada de 20 e a de 30 faziam parte de um mesmo momento, porm de fases distintas desse momento. claro que a dcada de 20 se preocupava mais com o fator esttico enquanto a de 30 focava no mbito ideolgico, mas, para Bueno, entre essas duas geraes no houve a continuidade de um mesmo projeto e portanto essa mudana de nfase no seria o suficiente para colocar os dois movimentos dentro de um mesmo momento.
Para Bueno, o que houve entre essas duas geraes foi uma mudana na viso de Brasil que acarreta num afastamento ideolgico considervel entre ambas. Para os modernistas havia a ideia de pas novo, a ser construdo, que plenamente compatvel com o tipo de utopia que um projeto de vanguarda artstica sempre pressupe: pensando o presente como ponto de onde se projeta o futuro (p. 65). J o esprito que orientava os romancistas de 30 era o de uma conscincia nascente de subdesenvolvimento, que adia a utopia e mergulha na incompletude do presente (p. 65).
Para ilustrar claramente essa diferena de viso de Brasil, Bueno trs uma carta escrita por Mrio de Andrade e endereada a Murilo Miranda onde conseguimos perceber a discrepncia no pensamento de ambas geraes.
Em relao ao sentimento anti-Macunama que imperava na dcada de 30, Bueno afirma que os romancistas em geral no deixavam muito claro os motivos dessa opinio to desfavorvel, mas Bueno trs um excerto de Jose Lins do Rego que consegue argumentar de maneira efetiva as falhas enxergadas em Macunama.
Para Lins, a linguagem modernista (aqui exemplificada por Macunama), apesar de se propor, assim como os romances de 30, despida dos atavidos da forma (p.69), acabava se tornando artificial a um ponto que impossibilitava a sua compreenso por camadas menos intelectualizadas e, portanto, s era consumida por eruditos. Os modernistas no eram lidos (p. 69). J as obras de Lins, em contrapartida, eram um sucesso de vendas e lidas e compreendidas por todos, uma vez que o autor se utilizava de uma linguagem dita mais `natural.
Sobre esse assunto, a crtica Lucia Miguel Pereira chamada por Bueno para retomar a discusso de que os romances de Jose Lins e dos outros romancistas de 30 no existiriam se no fosse pela existncia a priori do movimento modernista. E, se surgisse, no teria a boa recepo que teve, mas provocaria escndalo, precisaria lutar para ser aceito (p. 72).
Apesar da influencia que modernismo exerceu na gerao seguinte, responsvel por abrir o caminho para o surgimento do romance de 30, Lucia Miguel frisa que a integrao existente no da continuidade de projetos estticos ou ideolgicos que fala, mas do impacto sobre nosso sistema literrio (p. 72).
Luis Bueno conclui essa parte do seu texto afirmando que o romance de 30 o momento da literatura na revoluo e que o modernismo de 22 o da revoluo na literatura (p.74) e que apesar dessa diferenciao entre ambos os momentos existir, ela no deve ser compreendida como um afastamento dos projetos. Para compreendermos melhor esse aspecto, o autor inicia agora uma discusso sobre arte utpica e arte ps-utpica.
Haroldo de Campos afirma que todo movimento de vanguarda s pode existir afinado com algum tipo de utopia (p. 75) e que sem perspectiva utpica, o movimento de vanguarda perde seu sentido (p. 75), ou seja, no momento em que deixa de existir uma utopia, passamos a falar em poesia ps-vanguarda, justamente por ela ser ps-utpica.
Esse entendimento se aplica de maneira bastante clara no entendimento da transio entre os anos de 20 para os anos 30, uma vez que durante o modernismo ns tnhamos uma sociedade que ainda percebia o Brasil como um pas novo, mas j na dcada de 30 a frustrao local mentalidade anti-liberal (p.77) que dominava a intelectualidade brasileira fazia com que essa viso de pas novo se perdesse. A arte da dcada de 30 no poder, portanto, abraar qualquer projeto utpico e necessariamente se colocar como algo muito diverso do que os modernistas haviam levado acabo. nesse sentido que se pode dizer que o romance de 30 vai se constituir numa arte ps-utpica (p.77).
nesse momento que surgem obras que manifestam a descrena no poder da modernizao e, para ilustrar essa movimentao geral, Bueno aborda um pouco o enredo de So Bernardo e de Maleita.
Em seguida, Bueno discute a afirmao de Hildebrando Dacanal de que o romance de 30 est impregnado de um otimismo que poderia ser qualificado de ingnuo (p. 80) e diz que tal afirmao s poderia estar baseada num fator externo s obras e justifica sua opinio na anlise das obras Cacau, Capites de Areia e Jubiab.
Concluindo essa segunda fase do texto, Bueno afirma: Nem mesmo para o mais otimista dos romancistas de 30 o tempo da utopia pode ser visvel como fora para os modernistas, que o vislumbram a partir de um presente no qual conseguem identificar os prenncios desse futuro ao mesmo tempo utpico e palpvel (p. 84).
Luis Bueno inicia a terceira e ltima parte do seu texto tratando da figura do fracassado, cujos romancistas de 30 se dedicaram tanto a descrever e que Mrio de Andrade foi o primeiro a perceber e criticar sua recorrncia.
A hiptese de Mrio de Andrade a de que o fracasso domina o romance de 30 e define sua viso de nacionalidade. Contrapondo sua prpria viso de nacionalidade, natural que v considera-la derrotista, vetor da desistncia, sintoma de que o homem brasileiro est s portas de desistir de si mesmo (p. 86).
Bueno reconhece a anlise feita por Mrio de Andrade de que a presena do personagem fracassado realmente era algo generalizado nos romances de 30, mas tambm chama ateno para uma outra anlise: a da natureza do fracasso e sua articulao com uma ideia de identidade nacional (p. 87).
Assim como no adequado falar em otimismo ingnuo generalizado no romance de 30, tambm no muito apropriado identificar a explorao artstica constante do fracasso desistncia. Trata-se antes de manifestao daquela avaliao negativa do presente, daquela impossibilidade de ver no presente um terreno onde fundar qualquer projeto que pudesse solucionar o que quer que seja uma manifestao do esprito ps-utpico (pp. 87-88).
O autor segue com uma anlise de Crime e Castigo de Dostoivski e de O Crime do Padre Amaro, de Ea de Queirz para exemplificar obras que tambm trataram do personagem fracassado, mas sem uma perspectiva completamente pessimista, uma vez que as desgraas do presente so uma forma de entreabrir as cortinas e vislumbrar o futuro (p. 89). Diferente do que Mrio de Andrade afirmou em sua crtica, o pessimismo nos romances de 30 trata-se de uma nacionalidade que pretende mostrar sua fora e seu aparelhamento para a vida ao encarar e incorporar o fracasso ao invs de escapulir para outros planos (p. 90), como os meramente estticos, por exemplo.
Luis Bueno finaliza seu texto afirmando que o romance de 30 se define mesmo a partir do modernismo e certamente no poderia ter tido a abrangncia que teve sem as condies que o modernismo conquistou para o ambiente literrio e intelectual do pas (p.92). Entretanto, por se tratar de um movimento ps- utpico ele acabou por ganhar contornos prprios.
A Arte de Ator, Da Técnica À Representação Elaboração, Codificação e Sistematização de Técnicas Corpóreas e Vocais de Representação para o Ator by Luís Otávio Burnier