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Tratamentos térmicos dos aços 1

TRATAMENTOS TÉRMICOS DOS AÇOS

Os tratamentos térmicos empregados em metais ou ligas metálicas, são


definidos como qualquer conjunto de operações de aquecimento e resfriamento, sob
condições controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de
resfriamento, com o objetivo de alterar suas propriedades ou conferir-lhes
características pré-determinadas.

Os principais objetivos dos tratamentos térmicos dos aços envolvem:

ƒ Remoção de tensões residuais decorrentes de processos mecânicos de


conformação ou térmicos
ƒ Refino da microestrutura (diminuição do tamanho de grão)
ƒ Aumento ou diminuição de dureza
ƒ Aumento ou diminuição da resistência mecânica
ƒ Aumento da ductilidade
ƒ Melhoria da usinabilidade
ƒ Aumento da resistência ao desgaste
ƒ Melhoria da resistência a corrosão
ƒ Melhoria da resistência a fluência
ƒ Modificação de propriedades elétricas e magnéticas
ƒ Remoção de gases após operações de recobrimento por meio de processos
galvânicos (desidrogenação).

Tratamentos térmicos

Os tratamentos térmicos abordados no curso serão:

1- Alívio de tensões
2- Recozimento
3- Normalização
4- Têmpera
5- Revenimento
6- Austêmpera
7- Martempêra

Marcelo F. Moreira / Susana M. G. Lebrão


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FATORES QUE AFETAM OS TRATAMENTOS TÉRMICOS

ƒ Taxa de aquecimento
De maneira geral os tratamentos térmicos dos aços são realizados em temperaturas
dentro do campo austenítico, visando-se a completa austenização do aço.
As velocidades ou taxas de aquecimento máximas dependem da condutividade
térmica do aço, do tamanho e da forma do componente. Velocidades de
aquecimento muito elevadas podem causar distorções ou, até mesmo, trincas,
porém, em alguns casos, velocidades muito baixas de aquecimento pode causar
crescimento de grão (ex: aços fortemente encruados).
Normalmente, as taxas de aquecimento empregadas pela indústria são normalmente
determinadas pelos fornos de tratamento, ou seja, os componentes são aquecidos
com a taxa imposta pelo equipamento. Valores típicos em fornos de aquecimento
resistivo ficam entre 600 e 1200°C /h. Fornos de indução e fornos do tipo banho de
sal apresentam taxas mais elevadas. Nestes casos, são recomendados cuidados
adicionais no controle da potência dos fornos de indução ou a prática de pré-
aquecimento das peças em fornos tipo banho de sal.

ƒ Tempo de permanência na temperatura de tratamento


O tempo de permanência na temperatura de tratamento é a soma do tempo para a
homogeneização da temperatura no componente e o tempo da transformação de
fase. Períodos superiores ao descrito, provocam o crescimento do tamanho de
grão. O tempo para a homogeneização de temperaturas é calculado por meio de
equações de regime de calor transiente (números de Biot e Fourier) e o tempo de
transformação em austenita é da ordem de alguns segundos. A literatura
normalmente descreve equações empíricas para a determinação do tempo de
permanência aplicada em aços de construção mecânica. A equação mais
conhecida é:
tp = 0,5 . eeq
onde:
tp - tempo de permanência em [h]
eeq- espessura equivalente em polegadas [pol]. Para fornos com duas fontes
de calor (duas baterias de resistências ou maçaricos em duas paredes) a
espessura equivalente é 0,5 da maior espessura do componente em
polegadas.
Ex. para um componente com espessura de 100mm (~4 polegadas), a espessura
equivalente (eeq) é 2 pol. e o tempo de permanência (tp) será de 1h.

ƒ Taxa de resfriamento
É o fator mais importante do ciclo térmico pois determina a microestrutura final
obtida no tratamento térmico.

ƒ Atmosfera do forno
A presença de oxigênio na atmosfera do forno provoca oxidação do ferro e a
descarbonetação da superfície do aço. Este efeito é deletério e começa a se
manifestar a partir de 500ºC. Em componentes sem o sobre-metal previsto ou no
estado acabado são empregados fornos com atmosferas inertes (á base de N2 ou Ar)
ou levemente redutoras (contendo H2 ou CO).

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1-ALÍVIO DE TENSÕES

Objetivos:

Redução de tensões residuais provenientes dos processos de fabricação ou


adquiridas durante serviço. As tensões residuais mais comuns são:
ƒ Tensões residuais de soldagem
ƒ Tensões residuais de conformação mecânica (encruamento)
ƒ Tensões residuais de solidificação (componentes fundidos)
ƒ Tensões de usinagem (operações de torneamento, fresagem ou retificação)
ƒ Absorção de hidrogênio durante operações de recobrimento galvânico (fragilização
por hidrogênio)

Execução do tratamento:

O aquecimento é realizado em temperaturas abaixo do limite inferior da zona


crítica, sendo comuns temperaturas de até 600ºC. Em componentes temperados e
revenidos, o alívio de tensões é realizado em temperaturas abaixo da temperatura
empregada para o revenimento. O tempo de permanência varia de 1 até 100h e o
resfriamento é retirando-se o componente do forno e deixando este ao ar.

ƒ ALÍVIO DE TENSÕES NATURAL:

Atualmente é muito raro a prática do alívio de tensões natural. Foi muito


comum em fundições que dispunham de estoque de fundidos.
Consiste em deixar ás intempéries componentes fundidos durante meses ou até
anos. Estima-se que seja capaz de eliminar somente 10% a 20% das tensões
residuais.

ƒ DESIDROGENAÇÃO

A desidrogenação é um tratamento térmico de alívio de tensão aplicado após


operações de recobrimento galvânico visando a remoção de hidrogênio. É realizado
em estufa, em temperaturas da ordem de 150 a 250ºC imediatamente após o
processo de recobrimento. A maioria dos processos eletroquímicos apresentam
quantidades significativas de hidrogênio no estado iônico que difunde-se para o
interior do metal pela diferença de concentração de H. A difusão de hidrogênio
apresenta diversos efeitos deletérios, que incluem: geração de tensões internas,
fragilização e/ou a precipitação de hidretos.

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2- RECOZIMENTO

Objetivos:
ƒ remover tensões decorrentes de tratamentos mecânicos a frio ou a quente
ƒ reduzir a dureza
ƒ aumentar a usinabilidade
ƒ facilitar o trabalho a frio
ƒ regularizar a textura bruta de fusão
ƒ eliminar os efeitos de quaisquer tratamentos térmicos ou mecânico anterior

Microestrutura obtida:
ƒ Perlita grossa (com dureza na faixa de 80 HRB a 20 HRC) + ferrita pró-eutetóide
para hipoeutetóides
ƒ Perlita grossa e cementita pró-eutetóide para aços hipereutetóides

Resfriamento: desliga-se o forno e deixa-se que o aço resfrie com a taxa de


resfriamento do forno

TIPOS DE RECOZIMENTO:

2.1- RECOZIMENTO PLENO


- aquecimento acima da zona crítica até a total austenitização seguido de
resfriamento lento dentro do forno (resfriamento contínuo com a taxa de
resfriamento do forno).

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2.2- RECOZIMENTO ISOTÉRMICO OU CRÍTICO

ƒ Aquecimento até a total austenitização, seguido de resfriamento até a temperatura


de formação de perlita grossa. Permanência nesta temperatura até transformação
(isotérmica) total, seguida de resfriamento rápido até a temperatura ambiente
ƒ a microestrutura final é mais uniforme que no recozimento pleno, isto é não
apresenta variações entre a superfície e o núcleo.
• ciclo de tratamento é mais rápido e econômico

2.3- RECOZIMENTO PARA ESFEROIDIZAÇÃO

A esferoidização tem como objetivo alterar a morfologia da cementita (Fe3C) de


lamelar para esferoidal. A microestrutura formada pelo recozimento para
esferoidização apresenta os valores máximos de ductilidade e usinabilidade e os
valores mínimos de resistência para um dado aço.
ƒ pode-se aquecer a uma temperatura logo acima da zona crítica seguido de
resfriamento lento;
ƒ aquecimento prolongado logo abaixo da zona crítica ou
ƒ aquecimento e resfriamento alternado acima e abaixo da zona crítica

723ºC
Temperatura

Tempo

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ƒ Correlação entre as microestruturas obtidas pelos tratamentos de recozimento
pleno e recozimento para esferoidização com a dureza e usinabilidade do aço AISI
5160.

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3- NORMALIZAÇÃO

Objetivos:
ƒ refino de grão e homogeneização de microestruturas de produtos conformados a
quente
ƒ melhoria da usinabilidade
ƒ refino microestrutural de estruturas brutas de fusão

Microestrutura obtida:
ƒ Perlita fina com dureza na faixa de 30 a 40 HRC + ferrita pró-eutetóide para aços
hipoeutetóides e,
ƒ Perlita fina e cementita pró-eutetóide para aços hipereutetóides

Resfriamento:
Normalmente o resfriamento é realizado de maneira contínua , retirando-se a peça do
forno e deixando-a resfriar ao ar.

Tempo

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