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social e outros mecanismos cognitivos que, ao que culturas e estilos musicais nos princípios subjacentes
tudo indica, são adaptações universais a: 1) produção das melodias (combinação sucessiva
evolutivamente determinadas, uma vez que tais de notas através da qual reconhecemos uma música)
comportamentos e processos cognitivos estão [20]; 2) percepção dos intervalos (diferença de altura
universalmente distribuídos entre as culturas entre duas notas) consonantes e dissonantes que
humanas como, por exemplo, a linguagem e os provocam uma sensação psicoacústica agradável ou
números [15]. Nesta perspectiva, então, devemos desagradável, respectivamente; e, finalmente, 3)
nos dar conta de que o processo de seleção natural organização das notas musicais em escalas e sua
molda as espécies à sua ecologia não somente nos organização temporal (metro e ritmo) [21,22]. Um
seus tratos físicos e fisiológicos, mas também nos estudo com macacos do gênero Rhesus mostrou que,
seus tratos comportamentais. Essas características assim como os humanos, eles são sensíveis às
comportamentais, por sua vez, refletem importantes melodias consonantes, ou tonais, sendo capazes de
sistemas neuronais desenvolvidos para fazer generalização de pequenas melodias de 6 a 7
desempenhar determinadas funções cognitivas ou notas quando estas são transpostas, porém somente
formas de raciocínio e comportamento para atender quando a transposição é feita em 1 ou 2 oitavas [23].
e processar os aspectos físicos, biológicos e sociais Tem-se observado que os bebês processam a
do meio relevantes para a sobrevivência. De acordo música de forma muito similar à dos adultos. Por
com a psicologia evolucionária defendida por Geary exemplo, assim como os adultos, os bebês
[16], a linguagem e a música foram domínios respondem melhor às escalas com distribuição
cognitivos evolutivamente determinados para atender, desigual de tons tais como as pentatônicas e
principalmente, aos aspectos sociais. Neste sentido diatônicas, às melodias e aos acordes que são mais
é interessante notar que quanto mais evoluída no consonantes, bem como aos rítmicos métricos
comportamento social é uma espécie, mais importante (baseados em pulsações regulares), mesmo os
se tornam os tratos neuropsicológicos relacionados complexos [24,25]. Além disso, estudos sugerem
ao comportamento social. Por exemplo, estudos fortemente que já nascemos com o tão mistificado
neuroanatômicos comparativos aliados a estudos dom do ouvido absoluto (a capacidade de identificar
psicológicos demonstram que significativas porções a altura exata das notas musicais, que permite a
do cérebro e mente humana estão dedicados às alguns músicos nomear uma nota musical tocada
relações sociais [14,17,18]. sem nenhuma referência), uma habilidade que antes
era considerada um privilégio de poucos músicos
Universalidade da música bem dotados. O que ocorre é que com o tempo, e
se não formos devidamente estimulados, retemos
A busca por circuitos neuronais relevantes para somente a capacidade do ouvido relativo por ser este
a música se inicia a partir de fortes indícios de que mais útil tanto na linguagem quanto na música [26].
ela possui uma origem evolucionária: a música é Finalmente, há evidências de que componentes
distribuída universalmente, e apresenta universa- estruturais da música como contornos melódicos e
lidades cognitivas; ela é encontrada em membros os intervalos são codificados automaticamente pelo
imaturos da espécie; e apresenta algum grau de cérebro, mesmo em indivíduos não músicos [27]. Toda
automação [19]. estas evidências são consistentes com estudos com
Diferentemente da escrita, a música e a linguagem lesões cerebrais [28] e estudos neurofisiológicos [29]
não foram inventadas numa determinada época por que mostram que os princípios básicos que regem a
um ou alguns grupos humanos para depois, então, se teoria da harmonia e a consonância e dissonância
espalhar para outras culturas. Até onde se sabe, todas são, na verdade, o reflexo das propriedades
as sociedades humanas sempre tiveram a música e a anatômicas e fisiológicas de nossos circuitos
linguagem no centro de suas manifestações. Sabe-se, auditivos. Estudos interculturais comparativos
também, que o comportamento musical não é recente sugerem que a prevalência dos intervalos de oitava
na evolução humana. Achados arqueológicos mostram (que equivalem à distância, no piano, entre duas notas
que nossos ancestrais, o homem de Cro-Magnon e o Dó separadas por 12 teclas brancas e pretas) e quinta
homem de Neandertal eram tão aficionados por música justa (a distância entre Dó e Sol separadas por 7
quanto nós. teclas) em culturas muito diferentes pode ser o
Neste mesmo sentido, há evidências de caracte- resultado de como nossos ouvidos foram
rísticas comuns, ou universais, entre diferentes desenvolvidos. Até mesmo animais como macacos,
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ratos e pequenos pássaros distinguem entre sons disciplina bastante antiga que surgiu há quase 2
culturalmente classificados como consonantes e séculos atrás quando os cientistas franceses
dissonantes [30]. Bouillaud (1796-1881), Marc Dax (1770-1837), e
Em suma, resultados experimentais têm sugerido Broca (1824-1880) fizeram estudos sobre déficits
certas universalidades no processamento mentais específicos associados a lesões cerebrais
neurocognitivo da música. Todos os estudos localizadas, cujo marco foram os casos de afasia
experimentais sobre consonância e dissonância dos expostos por Broca em 1861 em função de lesões
intervalos musicais, por exemplo, com ouvintes de específicas numa pequena região do lobo frontal
diferentes países, gerações, e de experiências musicais inferior esquerdo, hoje conhecida como a área de
distintas, bebês e pássaros, mostram que mecanismos Broca [52]. Boillaud realizou os primeiros estudos
comuns do processamento auditivo básico suportam da neuropsicologia musical descrevendo casos com
a categorização perceptual dos intervalos na música vários tipos de déficits musicais decorrentes de
[29]. Por exemplo, ouvintes de culturas tão diferentes lesões cerebrais, inclusive um caso espetacular de
quanto os balineses [32] ou os indianos [33] preservação das habilidades musicais em um
freqüentemente usam mecanismos ou esquemas paciente que, apesar de não poder mais falar, e nem
cognitivos similares aos ocidentais para processar escrever, ainda era capaz de compor e transcrever
seqüências de tons. Assim, mecanismos perceptuais suas músicas [53]. Portanto, estudar déficits
similares estão associados com emoções e contextos seletivos devidos a danos cerebrais localizados é o
sociais similares através das diferentes culturas. método mais antigo e bem conhecido da
Baseando-se nestes critérios acima expostos, neuropsicologia, inclusive para estudar o proces-
muitos têm estudado a existência de redes neuronais samento musical [54].
especialmente relevantes não somente para a Além dos estudos com lesões há, também, as
linguagem [34-37], o domínio espacial [38-40], e o desordens congênitas, assim chamadas por serem
numérico [41,42], mas também para a existência de detectadas desde muito cedo no desenvolvimento,
redes neuronais especialmente relevantes para a nas quais ocorre um déficit inesperado em um dado
música [11,43,13,44,19]. Mas, independentemente domínio a despeito do funcionamento normal das
do interesse específico sobre as origens evolucionárias outras habilidades cognitvas e sócio-emocionais. A
da música e sobre suas especializações neuronais, disfasia (distúrbios da fala), a dislexia (distúrbios da
a compreensão de seu processamento no cérebro leitura e escrita) e a discalculia (distúrbios numéricos)
produz importantes esclarecimentos sobre o são exemplos de déficits congênitos em que cada
funcionamento básico do córtex auditivo, além de abrir qual pode afetar de 5 a 17% da população normal.
as portas para a compreensão das funções cerebrais Alguns consideram estas desordens congênitas
superiores [19]. Hoje há evidências suficientes mos- evidências adicionais aos estudos com lesões para
trando, por exemplo, que a audição musical atenta, a existência de especializações neurais para estas
além de envolver mecanismos perceptuais básicos funções cognitivas [13], entretanto a história pode
no processamento das variações spectrais (tonais) e ser um pouco mais complicada [56]. Similarmente
temporais dos eventos auditivos, também envolve a ao que ocorre com as funções lingüísticas e
memória, incluindo as várias formas de memória de matemáticas, há evidências de que aproximadamente
trabalho, além da atenção e até mesmo imaginação 5% da população demonstra ser musicalmente inepta
motora [45], bem como o processamento semântico enquanto as outras habilidades parecem normais,
[46] e o processamento multisensorial de regras como é o caso do famoso revolucionário argentino
abstratas de alta complexidade que pode ser Che Guevara, que era incapaz de distinguir entre um
compartilhado com o processamento numérico e sintá- tango e um samba. Esses déficits musicais
tico da linguagem [47]. Finalmente, emoções são específicos de origem hereditária são denominados
consistentemente provocadas pela ativação de áreas de amusia congênita.
cerebrais tradicionalmente envolvidas no processamen- Outra área de investigação sobre a relativa
to auditivo, inclusive por estímulos musicais [49-51]. autonomia de alguns domínios cognitivos são os
casos de anomalia cerebral congênita que levam a
As bases neurais da música uma deficiência mental. Apesar de alguns casos
tornarem as pessoas completamente dependentes
A neuropsicologia busca relacionar os de muitas tarefas mesmo na fase adulta, os
mecanismos neurais com as funções mentais. É uma pacientes ainda conseguem apresentar grande
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fluência lingüística e musical como é o caso da sofrem de epilepsia musicogênica, uma forma mais
syndrome de Williams, ou até mesmo atingir níveis rara de desordem neuropsicológica na qual os
de expressão altamente proficientes em alguns casos ataques ocorrem especificamente sob a forma de
de autismo [13,12]. Em suma, se estas evidências audição de determinadas peças musicais. Estas
de distúrbios seletivos congênitos, juntamente com evidências sugerem que estas regiões contêm
os casos de lesões cerebrais, são usados como circuitos de memória específicos à experiência
argumentos para a noção de uma modularidade musical [14].
cerebral de domínios como a linguagem e a Um caso conhecido de amusia foi o do
matemática, esses domínios existem igualmente para compositor francês Maurice Ravel, que sofreu de uma
a música. doença cerebral progressiva que inicialmente afetou
Hoje sabemos que a crença de que a música é seu hemisfério esquerdo e lhe causou prejuízos na
uma capacidade específica do hemisfério direito é linguagem (afasia) acompanhada de um déficit na
inadequada (como é, de uma maneira geral, o antigo escrita (alexia) e de uma incapacidade de desenvolver
conceito de uma dicotomia hemisfério esquerdo movimentos coordenados (apraxia ideomotora). Ravel
verbal/hemisfério direito não-verbal). Uma análise tornou-se incapaz de compor, embora declarasse que
criteriosa dos estudos de pacientes com danos os pensamentos musicais permaneciam intactos.
cerebrais sugere que a percepção musical envolve Curiosamente, um estudo recente sugere que os
ambos os hemisférios [56], e revelam que a maioria efeitos de sua doença podem estar refletidos em
dos casos de amusia ocorre associado a afasia [58]. uma de suas mais famosas composições, se não a
Alguns aspectos da melodia, como os intervalos, são mais famosa, feita nos últimos anos de vida: o
seletivamente prejudicados por lesões no hemisfério Bolero (La Valse). De acordo com os autores, esta
esquerdo, enquanto a percepção dos contornos obra deveria sua extrema riqueza em timbres de
melódicos continua intacta. A percepção do ritmo diversos instrumentos à preservação e à prevalência
também é seletivamente prejudicada por lesões no das regiões do hemisfério direito, conhecidamente
hemisfério esquerdo, e normalmente aparece intacta importantes no reconhecimento e processamento de
em lesões do hemisfério direito [19]. Por outro lado, timbres, e portanto na seleção dos elementos dessa
há suficientes evidências neuropsicológicas de composição [69].
dissociação entre a música e a linguagem que Normalmente, os casos de dissociação nos
sugerem que, assim como a linguagem, a música quais o processamento musical é danificado e a
corresponde a um sistema neuronal relativamente linguagem é preservada, ao contrário do caso de
autônomo [59-61,66-68]. Ravel, ocorrem devido a lesões no hemisfério direito.
Um problema para o estudo de lesões que Nesses casos o paciente fica impossibilitado de
afetam o processamento musical é que os relatos reconhecer sons como musicais, de perceber a
são na maioria anedóticos. Somente os trabalhos métrica e a duração dos sons com precisão, de
mais recentes oferecem avaliações criteriosas dos perceber quando as notas estão desafinadas ou
déficits seletivos no processamento musical e as dissonantes, e de perceber as diferentes
lesões cerebrais especificamente envolvidas [59]. entonações tanto na música quanto na linguagem,
e ambas soam monotônicas (ou monótonas) ao
Amusias paciente [57].
Déficits mais severos no processamento das
A perturbação específica do processamento melodias decorrem, em sua maioria, de lesões que
musical é um tipo específico de agnosia auditiva atingem as áreas auditivas dos lobos temporais,
denominada amusia. O termo de uma forma geral principalmente o giro temporal superior direito
se refere à incapacidade para se reconhecer melodias [60,66,11]. Lesões nessa área normalmente
antes muito familiares. Estas podem ser amusias ocasionam déficits irreversíveis na percepção tonal,
adquiridas em função de danos cerebrais devido a impedindo que o paciente perceba diferenças de
doenças ou acidentes, ou amusias congênitas altura entre duas notas e, conseqüentemente,
devido a fatores hereditários. Ao contrário, a perceba as diferenças entre duas melodias distintas
estimulação elétrica direta de áreas específicas do e/ou não consiga reconhecer melodias que antes
córtex auditivo de pacientes epilépticos também pode lhe eram muito familiares, ao passo que suas
induzir alucinações musicais altamente realísticas, capacidades verbais parecem ficar intactas. Lesões
similares àquelas que ocorrem em pacientes que do lobo frontal direito, apesar de não afetarem a
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[63,60] que, assim como acidentes vasculares um papel crucial e primordial no processamento
cerebrais [70,67], causam lesões esparsas . Estudos melódico [78,79,73]. Outro importante achado de
neuropsicológicos anteriores aos de Peretz, Zatorre é a existência de uma memória de trabalho
realizados pela equipe canadense de Robert Zatorre específica para tons executada por uma rede neuronal
em pacientes com lesões unilaterais e mais fronto-temporal formada por córtices auditivos
focalizadas, resultantes de lobectomias unilaterais secundários que realiza a percepção, e córtices
temporais, frontais ou fronto-temporais para frontais que realizam o prolongamento da experiência
eliminação de foco epiléptico, mostraram que o auditiva. Assim, essa memória de trabalho para tons
hemisfério direito parece ser mais especializado no pode ser prejudicada tanto por lesões focais nas áreas
processamento tonal, apesar dessas lesões auditivas quanto nas áreas frontais [73].
produzirem déficits musicais menos severos e que Resultados mais recentes, incluindo o registro
não caracterizam amusia. Os resultados mostraram de novos casos típicos de amusia, reforçam a noção
o papel crucial na percepção melódica dos córtices de uma especialização tonal do hemisfério direito
auditivos do giro de Heschl, localizado na parte central proposta por Zatorre [80]. Os dados de Zatorre e sua
do giro temporal superior, onde se localizam o córtex equipe explicam por que os déficits na percepção
auditivo primário (PAC) e áreas circundantes do córtex global do contorno melódico normalmente ocorrem
auditivo secundário [77,78]. Além disso, também associados a déficits na percepção dos intervalos e
mostram que, embora o hemisfério esquerdo seja decorrem de lesões que atingem o giro temporal
importante no processamento de padrões tonais, superior direito em pacientes destros [61,71,60], ou
tanto de melodias quanto de acordes, são as áreas na mesma área contralateral ao hemisfério lingüístico
auditivas do hemisfério direito que desempenham nos indivíduos sinistros [66], mesmo em caso de
lesões focais restritas ao giro temporal
Figura 1 - Comparação direta entre os hemisférios (subtraindo-se a ativação superior [71,66]. Por outro lado, o déficit
durante variações espectrais da ativação durante variações temporais e seletivo na percepção local dos
vice-versa) dos volumes de ativação combinados de TEP (Tomografia de
intervalos, preservando a percepção do
emissão de pósitrons) e IMR (imagem de ressonância magnética). A
imagem à esquerda mostra a secção horizontal na região do giro de Heschl contorno melódico, geralmente ocorre
(z=0), mais ativado nas variações temporais do que nas espectrais e com somente em lesões no hemisfério
predominância no hemisfério esquerdo. A imagem à direita é uma secção esquerdo [70,71,60,72], mesmo
horizontal na altura da região temporal superior que mostra maior ativação quando as lesões são focais e restritas
nas variações espectrais do que nas temporais, com predominância do
ao giro temporal superior esquerdo [71].
hemisfério direito. Os gráficos mostram a diferença percentual entre as
duas condições nas regiões em questão. Imagem cedida gentilmente pelo Entretanto, é importante salientar
Dr. Robert Zatorre, Montreal Neurological Institute. que esta especialização do hemisfério
direito não ocorre em todos os estágios
do processamento dos tons. A simples
discriminação de freqüência não parece
envolver preferencialmente o hemis-
fério direito mesmo em pacientes
epilépticos que se submetem à excisão
unilateral dos córtices primários e
secundários [78,73]. Até mesmo
lesões bilaterais mais extensas do
córtex auditivo não parecem ocasionar
danos permanentes na simples
discriminação [63]. Juntos estes dados
sugerem que a especialização tonal
dos córtices auditivos do hemisfério
direito surge em tarefas perceptivas
específicas e, provavelmente, em
estágios mais complexos e posteriores
à simples extração da freqüência
(altura) dos tons por estruturas
auditivas de ambos os hemisférios.
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para uma especialização do hemisfério direito tanto frontal esquerdo na área 47 de Brodmann [88,93].
na percepção melódica, através dos córtices auditivos Na maioria dos trabalhos, tarefas de discriminação
secundários do lobo temporal, e na memória tonal melódica mais complexas levam a ativação
de trabalho através de uma rede fronto-temporal inesperada de áreas normalmente envolvidas com o
[84,11]. O papel fundamental dos córtices auditivos processamento visuo-espacial como o cuneus e
secundários no giro de Heschl vai além da audição precuneus, o lobo parietal superior direito, e o giro
real de melodias e se estende para as tarefas de supramarginal, bilateralmente [84,11,88,87,94,
imaginação melódica na qual pede-se aos sujeitos 43,95,93]. A audição analítica da música, tanto em
que imaginem uma melodia bem conhecida [43]. O indivíduos músicos e não músicos, parece recrutar
papel primordial do hemisfério direito é reforçado nas áreas adicionais do hemisfério esquerdo, o que em
observações com vários tipos de estímulos tonais músicos pode gerar uma lateralização esquerda
tais como a apresentação binaural de música mesmo na audição passiva [86], e induzir a
instrumental [86], pares de tons tocados estratégias cognitivas de natureza visuo-espacial
sucessivamente [87], seqüências melódicas [84,88], mesmo em indivíduos não-músicos [88,94]. De fato,
percepção dos tons nas sílabas [89] e da prosódia muitos trabalhos têm mostrado que o treinamento
lingüística [90], manutenção da altura/tom durante musical parece incrementar as habilidades espaciais
o canto [11], na simples imaginação de uma melodia e matemáticas [96], e trabalhos mais recentes têm
[43], e percepção de acordes fora do tom, provido cada vez mais suporte a esta idéia,
desafinados [91]. Portanto, observa-se que apesar mostrando alterações plásticas no cérebro dos
do hemisfério direito ser especializado para tons ele músicos como o aumento das conexões no corpo
processa tanto os tons provenientes de padrões caloso da parte mais frontal que pode refletir efeitos
musicais quanto de eventos auditivos de outros motores e cognitivos do treinamento musical [97],
domínios como, por exemplo, a linguagem [92]. ou da área de Broca (BA44/45) que além da
Por outro lado, consistentemente com os linguagem tem estado associada a processos viso-
estudos com lesões, o processamento local do ritmo espaciais. De fato, indivíduos músicos testados
e dos intervalos, bem como as representações apresentaram um incremento na matéria cinzenta da
musicais semânticas (memórias musicais de longo área de Broca bem como uma performance
prazo), ativam estruturas do hemisfério esquerdo significativamente superior à dos não músicos nos
[88,93]. Em concordância com os estudos com processos visuo-espaciais [98]. Mais interessante
lesões, os lobos temporais normalmente não são ainda são os efeitos, recentemente estudados, do
ativados nas tarefas de ritmo as quais, na realidade, treinamento musical na memória de trabalho, na
ativam áreas frontais inferiores, principalmente a área abstração e nas habilidades numéricas [99].
de Broca (BA44/45). Representações semânticas Por outro lado, as relações entre a música e a
ativam especialmente regiões inferiores do lobo linguagem se tornam mais claras à medida que os
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estudos sobre a percepção musical vão progredindo. notavelmente consistentes e confiáveis entre os
Muitas evidências têm sido produzidas sobre o sujeitos experimentais não músicos. Ouvintes comuns
compartilhamento de mecanismos cognitivos e são capazes de detectar o caráter triste ou alegre de
recursos neurais entre a sintaxe lingüística e a sintaxe excertos musicais com grande rapidez e facilidade,
musical representada nas regras da teoria da em menos de um quarto de segundo [102].
harmonia da música ocidental. A equipe do Dr. As forças emotivas da música são tão claras e
Koelsch do Instituto Max Planck têm mostrado que tão evidentes, independentemente de suas origens,
as áreas frontais inferiores, incluindo a área de Broca, que o psicólogo John Sloboda da Universidade de
não são tão domínio-específicas como antes se Keele, Inglaterra, desenvolveu um trabalho de
acreditava. A área de Broca é especialmente ativada pesquisa, em uma amostra de 83 ouvintes de
nas tarefas que envolvem a percepção de acordes música, no qual tinha-se que denominar peças
impróprios, fora da tonalidade, propositadamente musicais que provocavam sensações físicas como
colocados numa seqüência harmônica e com vários leves tremedeiras, lágrimas, ou nós na garganta,
graus de impropriedade. Até mesmo crianças de bem como identificar tão precisamente quanto
apenas 5 anos de idade sem nenhuma formação possível em que momento da peça musical ouvida
musical são capazes de identificar os acordes essas sensações ocorriam. Sloboda verificou que
impróprios e mostrar ativações frontais compatíveis noventa por cento dos voluntários reportaram que
com aquelas produzidas por construções sintáticas sentiam frios na espinha, e praticamente todos
impróprias usadas nos experimentos em linguagem eles sentiram nó na garganta ou chegaram às
[100,44,101]. lágrimas ou sorrisos. O mais importante é que, para
cada ouvinte, os trechos musicais que inspiravam
A música e a emoção essas reações eram consistentemente os mesmos.
O biopsicólogo Jaak Panksepp, da Universidade
Embora a música seja caracterizada como a de Ohio, propôs uma intrigante hipótese para explicar
linguagem das emoções, ironicamente a grande os calafrios provocados pela música. Segundo
maioria dos estudos experimentais tem se dedicado Panksepp, eles podem derivar da habilidade de uma
ao processamento da estrutura musical como uma estrutura acústica particular - por exemplo, um
linguagem não-verbal, e raramente como uma crescendo de altura (quando as notas vão ficando
linguagem emocional. Parte dessa situação pode ser mais agudas) das notas, ou um solo instrumental
atribuída a uma crença largamente difundida de que que vai emergindo pouco a pouco de dentro de um
a interpretação da música é altamente pessoal, uma bloco de sons simultâneos como um acorde denso
experiência que varia muito de indivíduo para indivíduo e longo ou uma cadência de acordes - que é capaz
e de cultura para cultura, e que por isso escapa a de excitar regiões cerebrais primitivas dos mamíferos
uma analise mais objetiva e científica. Entretanto, as quais respondem, por exemplo, ao sinal de aflição
esta postura é conflitante com a idéia de que a quando um filhote perde repentinamente seus pais,
música é um forte mecanismo emocional que age ou se perde do grupo. O efeito dos uivos pungentes
como uma força social altamente coesiva. Muitos é fazer os pais sentirem uma perturbação física, como
autores sustentam que a maior razão para a um calafrio ou tremor, que dessa forma os alerta
existência e a persistente presença da música na para prontamente procurar pelo calor implícito no
sociedade humana são as respostas altamente conforto do reencontro.
emocionais que elas induzem e que agem como Estudos recentes com imagens cerebrais parecem
um forte fator de coesão social. Achados recentes sugerir que as hipóteses de Panksepp não são
mostram que, ao contrário da crença de que as especulações improváveis. Um estudo com PET mostrou
respostas são altamente variáveis de indivíduo que a dissonância e a consonância na música recrutam
para indivíduo e de cultura para cultura, as mecanismos neurais das regiões paralímbicas
respostas emocionais à música são relativamente normalmente associados aos estados emocionais de
homogêneas entre os indivíduos e compartilhadas desprazer e prazer, respectivamente. Além disso,
por todos os membros de uma dada cultura. Os pacientes com lesões nestas áreas ficam incapacitados
resultados obtidos por Peretz em estudos especifi- de identificar expressões emocionais [50].
camente dedicados aos aspectos emocionais da As intensas respostas emocionais que experi-
música mostram que os julgamentos emocionais mentamos, de tristeza ou euforia dependendo da
dos materiais musicais empregados nos testes são música, se devem às respostas autonômicas e
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