DE TARSO.
MIRANDA, Marcos Vinícius Fernandes (UEM)
PEREIRA MELO, José Joaquim (UEM)
De ahí nació la leyenda que atribuía autenticidad a unas pretendidas cartas cruzadas
entre San Pablo y Séneca: en una de las cuales , por cierto, habría deseado el filósofo
hispano ocupar entre los suyos una elevada autoridad, semejante a la ocupada por el
apóstol romano entre los cristianos (URMENETA,1966, p.302).
Mesmo que haja um consenso entre os estudiosos de que tais cartas foram
escritas por membros da igreja com vistas a legitimar a fé cristã, elas representam a
expressão da influência que o estoicismo exerceu na estruturação do pensamento
cristão. Essas cartas, voltadas ou não ao proselitismo, prestaram um serviço à Igreja
como instituição. Por ironia, ou até mesmo por uma reciprocidade da “sorte”, “essas
cartas, que apresentam Sêneca como cristão iniciando Nero no conhecimento da
religião, mediante a leitura das cartas de São Paulo (...) contribuíram eficazmente para
a conservação dos escritos genuínos de Sêneca” (ULLMANN, 1996, p.16)..
Lúcio Aneu Sêneca (4 d.C – 64 d.C), filósofo, político e escritor, uma das
personalidades de grande expressão em Roma no alvorecer da era Cristã, foi o maior
representante do estoicismo imperial. Quando jovem, seu interesse pela filosofia
começou com o pitagorismo e ele se aproximou do filósofo Sotion. Posteriormente,
recebendo os ensinamentos de Átalo, interessou-se pelo estoicismo. “Aos 25 anos,
com a saúde debilitada, foi tratar-se em Alexandria, maior capital intelectual da época,
e, enquanto se restabelecia, teve contato com importantes filósofos e com os arcanos
das religiões orientais” (MAROTE, 2005, p.9). Escolhido como preceptor do imperador
Nero Cláudio César (37 D.c. – 68 D.c.), esteve à frente do império romano por quase
dez anos. Acusado de conspiração, foi condenado ao suicídio pelo mesmo imperador a
quem devotou grande parte de sua vida. O ecletismo resultante de tantas influências, e
no qual prevalece o estoicismo, possivelmente desencadeou sua preocupação com
questões éticas e morais, em especial, com o combate aos vícios.
Paulo nasceu em Tarso da Cilícia, cidade que lhe emprestou o nome. Seu nome
original era Saulo (cerca de 3 a. c. – d.c. 66), considerado por alguns estudiosos da
doutrina cristã uma das mais importantes figuras no processo de propagação do
Cristianismo nascente. Ao contrário dos demais apóstolos, não conheceu Jesus
pessoalmente. Homem culto, teve sua primeira formação em sua cidade natal, como se
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infere pelo domínio da língua grega e pela retórica helenística que manifestava em
seus escritos. Em sua juventude, estudou na escola rabínica de Jerusalém, presidida
por Gamaliel, o mais célebre rabino da época. Nessa escola recebeu ampla formação
farisaica e, possivelmente o título de “rabino”. Destacou-se, na esfera intelectual e
prática a ponto de receber encargos diretos do sinédrio, ou tribunal judeu da sua
cidade. “A sua mudança repentina do Judaísmo para o Cristianismo inquietou tanto os
judeus como os cristãos, a ponto de os primeiros o perseguirem como apóstata e os
segundos demorarem em aceita-lo” (SANCHEZ, 1996), o que não inviabilizou a sua
ação missionária entre os povos que chamavam de pagãos.
Eu me considero feliz com a leitura das cartas que você mandou para os Gálatas,
Coríntios e Aqueus. Desejo que possamos viver em harmonia de acordo com as
exortações de suas cartas, uma vez que você demonstra ser inspirado pela graça
divina; porque é o Espírito Santo que está em você e acima de você, quem expressa
estes exaltados e adoráveis pensamentos. No entanto, peço que se acautele, para que
o refinamento do estilo não esteja manifestando o desejo de glorificação do
pensamento. Irmão, não escondo nada de você, e tendo isto em minha consciência,
confesso que Augustus foi tocado por suas visões. Quando eu li para ele, revelando o
poder que há em você, suas palavras foram estas: “Gostaria de saber como um
homem não regularmente educado possa pensar assim”. Eu repliquei que os deuses
muitas vezes falam por intermédio da boca dos simples, não daqueles que tentam
enganosamente mostrar o que podem fazer através de seus conhecimentos; e quando
mencionei o exemplo de Vatienius , o rústico, a quem dois homens apareceram no
território de Reate, os quais posteriormente ele reconheceu como Castor e Polluxvi, ele
pareceu completamente convencido. Adeus
foi feito de forma descuidada, perdoe-me. Eu lhe mandei um livro sobre a elegância de
expressão (provisões de palavras). Adeus querido Paulo!
falar sem risco nesse tempo de trevas, tudo se tornaria evidente para todos. Cristãos e
judeus são comumente executados como os autores do incêndio. Quem quer que seja
o criminoso, cujo prazer é o de um açougueiro e que se esconde atrás de uma mentira,
ele terá sua hora: e como o melhor homem foi sacrificado por muitos, assim ele, jurado
de morte por todos, será queimado com o fogo. Cento e trinta e duas casas e quatro
quarteirões foram queimados em seis dias, o sétimo trouxe uma pausa. Eu rezo para
que você esteja bem, irmão.
Dado em 5 das calendas de abril. Frugi e Bassus – cônsules (64 d.c.).
uma alma eterna que se dirigirá, conseqüentemente, para Deus. Adeus, Sêneca, mui
querido para mim.
Dado nas calendas de agosto. Leo e Sabinus, cônsules
REFERÊNCIAS
i
Epistolae Senecae ad Paulum et Pauli ad Senecam ‘quae vocantur’ (Rome 1938) -Papers and
Monographs of the American Academy in Rome.
ii
Estoicismo.
iii
catálogo dos santos.
iv
Sêneca, quase sempre nosso.
v
Imperatriz, esposa de Cláudio.
vi
Castor e Pólux são personagens da mitologia grega.
vii
Sorte é um conceitos próprios do Estoicismo, segundo o qual todo àquele que busca sabedoria deve
se submeter à sorte, ou à fortuna.
viii
Presumo que o autor faz menção ao Summum Bonum, ou Supremo bem dos estóicos. Estado
daquele que atingiu a apatia, ou invulnerabilidade.
ix
A impressão que temos é que nesse momento o ideal estóico de formação do sábio é substituído pela
graça alcançada pela conversão.