Você está na página 1de 3

SESSÃO Nº 3 

TAREFA 2 
1ª PARTE 
 
ANÁLISE CRÍTICA AO MODELO DE AVALIAÇÃO DAS BIBLIOTECAS 
 
“How  can  we  ensure  that  students  learn  essential  informational  skill?  How  can  we 
partner  with  teachers  to  provide  meaningful  learning  opportunities?  How  can  we 
ensure that school librarians are central players in our school?” (1) 
 
Estas questões e muitas outras são colocadas por todos nós, professores bibliotecários, 
ex‐coordenadores  de  bibliotecas  escolares.  Vou  começar  pela  minha  própria 
experiência, pois penso que é mais elucidativa do que qualquer texto ou teoria. No ano 
passado, passei a ser coordenadora da biblioteca a tempo inteiro, tendo até ficado um 
pouco lisonjeada pois ainda pertencia à experiência… Quando, na minha calma diária 
de preparação de trabalhos e do que coloquialmente chamamos “papeladas”, recebi a 
visita  do  meu  coordenador  de  zona.  Explicou‐me  as  diferenças  entre  ser  “a  tempo 
inteiro” ou não Margarida, o grau de exigência tem de aumentar, a Margarida agora 
está muito mais tempo na biblioteca e eu, claro, claro, claro e ele, tem de ler isto e isto 
e isto e depois deu‐se uma conversa de orientação que me deu um estado agonizante 
por uns dias e me fez sentir que a fome no Mundo não existia, nem a Guerra, porque a 
única infeliz era EEEEEUUUUU!!!!!  E, ao olhar‐me ao espelho, vi‐me VERDE! Durante 
esses  dias,  remexi  papéis,  mudei‐os  de  lugar,  convivi  muito  com  os  meus  colegas  na 
sala  de  professores  e,  por  fim,  telefonei  ao  meu  coordenador,  por  favor  venha  cá  
outra vez que eu não sei fazer nada! 
Bom, vamos mudar de tom, dar um salto diacrónico e explicar que um dia acordei e 
decidi,  antes  de  mais  nada,  pegar  num  lápis  e  ler  o  documento  regulador  da  auto‐
avaliação  das  bibliotecas  escolares.  Inicialmente,  não  entendi  todo  o  vocabulário, 
pensei que o mundo dos bibliotecários não era o meu, voltei a pensar que queria ser 
só  professora  e  quase  me  esverdeei  novamente  (!!!).  Recordo  aqui  os  mails 
desesperados que troquei com a minha amiga Dores Pinto e recordo particularmente 
um  deles  em  a  Dores  me  respondeu,  simplesmente:  “Onde  nos  viemos  meter… 
amiga!”. 
Então, tomei a decisão de ter a atitude defendida por Mike Eisenberg e por Danielle H. 
Miller,  que  é  apenas  uma  atitude  positiva  de  quem  diz  “eu  sou  capaz”,  o  que  é,  de 
resto, um cliché muito utilizado nas escolas por professores, pais e psicólogos. Como 
todas  as  teorias,  são  mais  fáceis  quando  são  ditas,  do  que  quando  se  referem  a  nós 
próprios.  
EU  SOU  CAPAZ  E  VOU  COMPROMETER‐ME  A  FAZER  O  MEU 
MELHOR E A ACALMAR‐ME! 
De lapinhos na mão, usei e abusei dos dois (então) livrinhos e comecei a perceber que, 
na  verdade,  cada  biblioteca  escolar  devia  elaborar  o  relatório  no  final  do  ano,  de 
acordo com as instruções da RBE, mas nunca seria possível uniformizar um serviço de 
um  país  inteiro  sem  um  documento  que  regulasse  as  práticas  das  equipas 
bibliotecárias. Todos fizemos bem, mas à nossa maneira, permitam‐me ir mais longe,  
 
(1) In “This man wants to change your job”, Mike Eisenberg e Danielle H. Miller 

1   
 
à maneira portuguesa: não sei bem, vou inventar. E penso que as bibliotecas escolares, 
talvez  por  serem  constituídas  por  professores,  inventaram  mesmo  bem…  mas  cada 
uma à sua maneira. 
Este documento vem, então, uniformizar procedimentos, práticas, conceitos. Trata‐se 
de um instrumento pedagógico que tem por objectivo uma melhoria dos serviços, mas 
uma melhoria contínua, como afirmavam os autores já referidos. Além disso, ele deve 
permitir  que  os  órgãos  directivos  e  os  próprios  professores  bibliotecários  avaliem  o 
trabalho  desenvolvido  na  biblioteca  e  o  seu  impacto  na  escola  e,  sobretudo,  nas 
aprendizagens dos alunos. Este modelo orienta‐nos de forma a detectarmos os pontos 
fortes e os pontos fracos de um modo mais rigoroso, através da recolha de evidências 
reais,  existentes  nas  nossas  bibliotecas.  Tal  é  precioso  para  a  existência  de  um  rigor 
que, antes da introdução do modelo dificilmente se atingiria. 
 
Voltando ao lapinhos na minha mão, relato como procedi: 
li  os  títulos  dos  domínios,  por  exemplo:  Domínio  A  ‐  Apoio  ao  Desenvolvimento 
Curricular  ‐  A.1  Articulação  Curricular  da  BE  com  as  Estruturas  de  Coordenação 
Educativa e Supervisão Pedagógica e os Docentes (É claro que este título, para quem 
não é um bibliotecário, mas sim um professor, dá logo uma cor esverdeada ao nosso 
coração  e  ao  nosso  amor‐próprio,  sobretudo  porque,  quando  começamos  a  ler  os 
Factores Críticos de Sucesso e as Evidências, começamos tristemente a ver o que não 
fizemos!!) Mas depois li melhor o que se seguia, além dos objectivos, os Indicadores, 
os Factores críticos de Sucesso, as Evidências e as Acções para a melhoria/ exemplos. A 
partir  daí,  compreendi  que  o  documento,  não  só  me  ajudava  a  trabalhar,  como 
também me indicava caminhos para eu trilhar, com mais ou menos força, e ainda me 
possibilitou uma enorme reflexão sobre o que havia feito nos quatro anos anteriores e 
no  que  deveria  fazer  então.  A  primeira  coisa  que  fiz,  depois  de  estudar,  sublinhar 
muito  bem  o  documento  e  ver  bem  as  acções  para  melhoria,  etc.,  etc.,  foi  alterar  o 
modelo de Plano Anual de Actividades. O anterior estava bem feito, mas não servia as 
novas  exigências.  Como  o  elaborar?  Seguindo  a  orientação  do  próprio  documento. 
Dito e feito. No final, considerei que tinha tido uma trabalheira doida, que o meu PAA 
estava  lindo  de  morrer  (até  lhe  avivei  as  cores  mortiças  do  modelo),  mas  que  não 
substituía  a  eficácia  do  meu  anterior.  Antes,  eu  olhava  para  a  tabela,  que  estava 
organizada diacronicamente e sabia logo o que se ia passar na semana seguinte. Ora, 
com  este  modelo,  isso  não  acontecia  pois  o  plano  fora  elaborado  de  acordo  com  os 
domínios e os subdomínios. Novo telefonema para o meu coordenador de zona que, 
eficientemente (não estou a dar graxa porque já não é o mesmo!) afirmou que deveria 
desdobrar o grande PAA em PAA’s mensais, o que fiz prontamente e me resolveu os 
problemas anteriores para sempre. 
O ano decorreu, houve uma indecisão por parte da tutela (como agora se diz) quanto à 
AA das bibliotecas, faz‐se não se faz vai mudar não vai e… é para fazer já! Mais uma 
vez  fiquei  esverdeada,  mas  foi  o  próprio  documento  que  me  devolveu  a  minha  cor 
natural.  Seguindo  as  suas  instruções,  fui  andando,  andando,  com  a  ajuda  de  duas 
colegas  de  equipa.  O  cronograma  inicial  não  foi  cumprido,  mas  serviu  sempre  como 
um  ponto  de  referência.  Quanto  aos  inquéritos,  alguns  itens  não  estão  muito 
adequados  à  realidade  de  todas  as  escolas  e  houve  até  alunos  que  não  os 
compreenderam.  Procedemos  à  análise  dos  inquéritos,  onde  também  se  aprende 
muito  e  depois  foi  a  fase  das  conclusões,  da  elaboração  do  relatório,  o  que  veio 

2   
 
esverdear outra vez o ambiente. O encontro em Viseu também me ajudou e colegas 
coordenadores,  na  fase  final  da  elaboração  da  auto‐avaliação,  promoveram,  aqui 
mesmo,  no  Fundão,  encontros  informais  de  esclarecimento  de  dúvidas  uns  com  os 
outros, ou seja, encontros entre pessoas que sabiam aproximadamente o mesmo. Da 
discussão  reflexiva,  desvaneceram‐se  as  grandes  dúvidas,  embora  ainda  tenhamos 
ficado  com  algumas,  as  quais  continuo  a  ter,  para  poder  seguir  a  grande  máxima  de 
dizer  que  “só  sei  que  nada  sei”…  Também  neste  final  de  história,  considero  útil  o 
Modelo de Auto‐Avaliação, pois não se foge à aferição uniforme. Este ou aquele ponto, 
ou  se  encaixa  aqui,  ou  ali,  não  suscitando  dúvidas.  Foi  um  processo  difícil,  moroso  e 
trabalhoso.  No  fim,  a  nossa  atitude  é  diferente,  o  nosso  entendimento  da  biblioteca 
escolar não é o mesmo, funciona como uma acção de formação auto‐didacta.  
Bem,  esclareço  que  não  sou  do  governo,  não  sou  uma  “yes‐woman”,  mas  que  o 
modelo  de  Auto‐Avaliação  das  Bibliotecas  Escolares  é  mesmo  orientador  e,  se  o 
seguirmos,  veremos  que  o  nosso  trabalho  abrange  áreas  de  que  não  nos  tínhamos 
lembrado  antes  e,  além  disso,  permite‐nos  ver  logo  se  teve  impacto  ou  não,  se 
incluímos todos os agentes educativos, enfim, regula. E quando escrevo regula, refiro‐
me a um aspecto muito mais abrangente: se me regula a mim, também vai regular a 
nível  do  país,  sendo  que  haverá  uma  aferição  nacional,  o  que  considero  muito  bom. 
Actualmente,  encaro  o  documento  como  se  fosse  de  estudo.  Não  consigo  decorar 
nada,  mas  tenho‐o  sempre  perto  de  mim,  mais  perto  do  que  o  dicionário  de  Língua 
Portuguesa, tão perto como o computador. 
Podia  passar  a  tecer  considerações  a  propósito  dos  textos  que  li  (li  e  tomei 
apontamentos,  embora  possa  parecer  que  li  na  diagonal),  dizendo  que  a  biblioteca 
deve  articular  com  todos  os  elementos  da  comunidade  educativa  e  com  os  decision‐
makers, que deve divulgar junto deles as suas acções  e impactos nas  aprendizagens 
dos  alunos,  que  deve  adaptar‐se  ao  ritmo  das  novas  tecnologias,  bem  como  das 
transformações  sociais,  que  deve  adoptar  estratégias  e  planear,  mas  manter‐se 
flexível, de modo a re‐planear quando necessário, ser um centro difusor de literacias, 
tudo, tudo, tudo, para atingir O RESULTADO ESPERADO, mas não o vou fazer. A minha 
experiência aqui relatada também é um texto. 
 
 
 
 
Maria Margarida Teles Damázio Dias Ferreira 
Fundão, 14 de Novembro de 2009 

3   
 

Você também pode gostar