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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

Ciências da Comunicação

CURSO DE LETRAS

PROGRAMA DE APRENDIZAGEM ANÁLISE E REFLEXÃO LINGÜÍSTICA

Atividade: Noções Básicas de Lingüística (EAD)

PROFESSORA: Cátia de Azevedo Fronza

MONITORA: Haike Krummenauer

Leonardo Vidal e Pamela Gerling

Pode-se dizer que Fiorin (2002) estrutura o capítulo em 3 temas: 1) atos de


fala e performativos; 2) princípio da cooperação e máximas conversacionais; e
3) pressupostos e subentendidos.Considerando os comentários desse autor
sobre cada tema, busque, em situações do cotidiano e na mídia, 2 exemplos
de uso da linguagem que se refiram a um dos temas ou mais, se preferir. Você
deve apresentar a situação, aproveitando-se das reflexões de Fiorin (2002) e
de outras fontes (que precisarão ser mencionadas!). Você pode aproveitar o
site http://video.globo.com e verificar programas humorísticos, por exemplo.
As charges, cartuns e as histórias em quadrinhos também oferecem dados para
essa reflexão. Procure verificar e analisar a presença dos performativos ou
como o princípio da cooperação, através das máximas conversacionais, é ou
não observado na conversação, ou, ainda, quais situações de uso de linguagem
dependem da percepção de conteúdos implícitos pelos falantes. Lembre-se:
são dois exemplos e, de preferência, de origens bem diferentes!

Pressupostos e Subentendidos:

Observemos a tira abaixo, de autoria de Laerte:

Overman, personagem criado para ironizar os super-heróis, enfrenta


julgamento por vender contrabando.
Temos os personagens inseridos em um mesmo contexto: um tribunal. No
entanto, o protagonista (Overman) é continuamente mal-entendido pelo juiz, por usar
um recurso que se tornou comum nas hsitórias e desenhos de super-heróis, comuns no
mercado: a maldição. Heróis e vilões dos quadrinhos dizem esse tipo de coisa. O
discurso, próprio dos quadrinhos, seria, no entanto, completamente inapropriado quando
em um tribunal. O cartunista brinca com essa diferença para fazer uma situação em que
o acúmulo de mal-entendidos se torne cômico, em vez de uma simples situação,
passível de ocorrer na comunicação cotidiana.

Como costuma afirmar Koestler (1981), todo humor deriva da tensão. E a


tensão pode ser gerada não apenas pelo uso de conceitos de alto cunho emocional, mas
também pelo choque de dois sistemas lógicos coerentes, mas mutuamente
incompatíveis. No caso, Overman agindo pela lógica das histórias de super-heróis, e o
juiz, de acordo com o comportamento comum em um tribunal. O resultado se dá pela
fricção entre as duas lógicas, os dois comportamentos comuns, mas que não funcionam
em conjunto.

Na questão linguística, podemos dizer que o mal-entendido se dá porque cada


personagem (o juiz e Overman) está falando em um contexto diferente: o juiz emite a
sentença em um tribunal, e o super-herói em uma tira de jornal. Assim, o recurso verbal
para expressar desapontamento (droga, maldição), comum nas histórias em quadrinhos
(que não contam, como o cinema, com uma série de imagens, expressões e posturas
para fazer os personagens “atuarem”, então devem, por vez, recorrer ao verbal para
mostrar isso ao leitor) é entendido como um adendo ao discurso. Overman estava sendo
preso por contrabando. Quando diz “droga”, o juiz subentende que é uma correção à sua
sentença, pois o contexto não admitiria outra opção (na opinião do juiz... o subentendido
é de responsabilidade do ouvinte). Ao modificar a sentença, baseado na informação
adicional que recebeu, o juiz da tira ouve o réu encapado proferir uma “maldição”.
Legalmente, em um tribunal, o único lugar em que uma maldição se enquadraria seria
como desacato, o que o leva a aumentar mais uma vez a sentença do réu. O réu esboça
uma tentativa de explicar novamente, mas é interrompido pelo guarda, solícito, que
sugere que este cale a boca. Do contexto apreendemos (e, portanto, está subentendido)
que o guarda está agindo no interesse do personagem, pois Overman se enterraria cada
vez mais ao usar uma forma de expressão inadequada para a situação em que se
encontra.

Na tira seguinte, do Síndico, também personagem de Laerte, podemos destacar


alguns pressupostos:
Mais uma vez, temos um problema de comunicação. Pelo ato contínuo do
Síndico (o carequinha de óculos escuros) ao repetir a como indagação última palavra da
frase do flanelinha, podemos é pressuposto que ele não entendeu a frase. No terceiro
quadro, a repetição nos traz a pressuposição de que a repetição não é uma dúvida, mas
sim algo proposital. Certamente o Síndico não está duvidando que o flanelinha tenha
uma cara. Finalmente, no último quadro, a introdução de um novo personagem (outro
flanelinha) dizendo ao primeiro que inverta os papéis e dê um real ao Síndico, em vez
de o contrário, para ser deixado em paz, faz com que o leitor pressuponha que ou o
Síndico é conhecido do flanelinha, ou é famoso entre os flanelinhas, pois ele ainda
acrescenta que o “tio” (o Síndico) “é pior que carrapato”. O ato de adjetivar o
personagem e compará-lo a um carrapato (ainda é pior), bicho que gruda, também infere
que o Síndico só pararia com o jogo, se recebesse o dinheiro. Essa é uma questão que
está subentendida no desenvolvimento da história. Dessa maneira, mesmo que não tenha
sido explicitamente posta em texto (ou mostrada), a inversão do papel de quem dá e
quem recebe dinheiro na relação flanelinha/motorista se encontra perfeitamente
inteligível. As pistas estão ali. Basta saber lê-las.

A seguir, alguns exemplos de diferentes usos de pressupostos encontrados em


jornal local:

1. Os adjetivos ou palavras similares:

• “A igrejinha é a única parte que remete ao propósito inicial do prédio.”

O adjetivo única pressupõe que somente a igrejinha remete ao propósito inicial


do prédio.

VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS;


Turismo. 2008.

2. Verbos que indicam permanência ou mudança de estado:


• “Apesar das manchetes sobre a crise financeira mundial, o mercado imobiliário
do País continuará crescendo.”

O verbo continuar deixa pressuposto o seguinte: que o mercado imobiliário do


país está crescendo.

VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS;


Viver e Morar. 2008, pág. 2.

3. Verbos que revelam um ponto de vista a respeito do que é expresso por seu
complemento: (Não foi encontrado um exemplo específico, mas a frase “ele se
supõe inocente” pode exemplificar perfeitamente; o pressuposto é que ele não é,
necessariamente, inocente.)

4. Certos advérbios:

• “Poderemos crescer um pouco menos em 2009, mas será muito mais do que nos
anos anteriores em que o setor estava praticamente estagnado.”

O advérbio mais implica a informação de que o setor irá crescer mais do que
estava.

VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS;


Viver e Morar. 2008, pág. 2.

5. As orações adjetivas:

• “O governo, como controlador, permitira que a Caixa mantenha em um fundo de


reserva parte dos dividendos que seriam distribuídos para a união.”

A oração como controlador é uma adjetiva explicativa. Essa frase deixa


implícito que todo o governo é controlador.
VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS;
Viver e Morar. 2008, pág. 2.

6. Certas conjunções:

• “Não se trata de culinária italiana, mas de culinária criada por descendentes


italianos, adaptada às características do Brasil.”

A conjunção faz com que a segunda frase se oponha à idéia apresentada na


primeira, descartando-a como tendo qualquer validade.

VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS;


Turismo. 2008, pág. 4

Referências Bibliográficas

Koestler, Arthur, Jano, Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1981.

VS, Jornal. Suplemento especial dos jornais NH, VS e DIARIO DE CANOAS; Turismo. 2008

Tiras retiradas de http://www.laerte.com.br

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