Teoria da despesa pública (Adolf Wagner, início do século XX): há
1 tendência irredutível/inelutável para o crescimento da despesa pública, por causa dos:
- factores aparentes/exógenos do crescimento da despesa pública:
são circunstâncias/ /vicissitudes da vida que se projectam na realização da despesa pública, mas que não condicionam internamente/realmente o crescimento da despesa.
Ex: o crescimento da população, da inflação aumentam a despesa
pública.
- factores endógenos/reais do crescimento da despesa pública (são
estes factores que interessam): são as iniquidades e disfuncionalidades da forma como o Orçamento de Estado se prepara. São vicissitudes não externas, relacionadas com o modo/esquema de funcionamento do Estado e de determinação da despesa e da receita.
Ex: crescimento da máquina administrativa e suas exigências
aumenta a pressão sobre o Orçamento de Estado;
relacionamento dos grupos de interesse com a máquina
administrativa (pressionam-na e fazem-lhe pedidos aumenta a despesa).
Decisão financeira enquanto decisão orçamental
Decisão financeira > Decisão orçamental
Decisão orçamental: afectação de recursos tendo por base o
Orçamento do Estado.
Orçamento de Estado: mecanismo de afectação da receita e de
determinação da despesa públicas.
Sistemas de orçamentação
As disfuncionalidades do processo orçamental põem em causa a
racionalidade da decisão orçamental.
A optimização da decisão financeira não é necessariamente a
optimização do orçamento.
Ex: teoria da provisão óptima dos bens colectivos; teoria da
tributação óptima – são estudos de optimização parcelar da decisão financeira, e não são estudos de optimização da decisão orçamental no seu todo.
Teoria da optimização do orçamento geral (Samuelson, na obra
“Teoria Pura da Despesa Pública e da Tributação”, 1952): 1ª tentativa de estudar a optimização da decisão financeira. Aí, o autor desenvolve 1 modelo (abstracto, mas com pretensão de poder servir 1 qualquer esquema de orçamentação), concebido à moda do modelo do equilíbrio geral valdasiano, construído a partir do observador/árbitro imparcial, omnipresente e omnisciente – o árbitro:
- conhece todas as preferências dos indivíduos em torno dos bens
(privados e colectivos),
- define com precisão e eficiência as pseudo curvas da oferta e da
procura em torno dos bens privados e colectivos,
- estabelece as respectivas curvas de indiferença, e
- estabelece 1 ponto/critério óptimo de afectação dos bens colectivos
e do esforço fiscal necessário para obter a provisão desses bens colectivos.
Evolução histórica dos sistemas de orçamentação, de acordo com
Allen Schick e baseada na racionalidade da decisão orçamental
No século XX houve 3 tipos/sistemas de orçamentação, de
acordo/consoante as 3 funções do orçamento:
1. Função de controlo operacional (até 1935): predominava o
modelo do orçamento de meios. O orçamento não é 1 modelo finalístico de tomada de decisão orçamental. O orçamento é 1 espécie de interface, funcionando como 1 meio/instrumento para a realização da despesa pública e serve para controlar essa despesa.
Como é que isto se obtém em termos de estrutura e
organização do orçamento? O orçamento de meios coincide normalmente com a estrutura/esquema de orçamentação por rubrica/objecto orçamental (estrutura orçamental tradicional): temos grandes dotações de despesa afectas a rubricas orçamentais.
Ex: despesa com o pessoal da Administração Pública: o pessoal
é a rubrica, as remunerações (são despesa corrente), pensões, cuidados de saúde são sub-rubricas orçamentais, e, dentro destas, há outras sub-rubricas (ex: remunerações certas e permanentes, variáveis…). “A cada rubrica, o seu valor”.
Como o objectivo é o controlo da afectação da realização da
despesa, há 1 elevado grau de detalhe/exigência/precisão – a especificação orçamental (níveis de desagregação: divisão das dotações orçamentais).
2. Fase/função do orçamento como instrumento de
gestão/managerial (fim dos anos 30, mas sobretudo a partir de 1949, com os trabalhos de reforma do orçamento pela Comissão Hoover, nos EUA): procurou introduzir 1 nova metodologia de orçamentação e especificação/apresentação da despesa pública porque o sistema de orçamentação tradicional herdado dos anos 20 era ineficaz/ineficiente. Mas não se abandonou totalmente o orçamento de meios.
A lógica da orçamentação por objecto/por rubrica é o embrião
da classificação funcional/por funções: nela temos as grandes funções (económicas, sociais, de soberania), que se desdobram/desagregam em sub-funções e, dentro destas, há ainda as actividades do Estado. A partir da identificação das grandes funções do Estado, tenta-se conhecer exactamente quanto é que cada função do Estado gasta e pode-se identificar e criar novas formas de especificação orçamental, concretamente, a programação por actividades (performance budgeting/ /orçamentação ou gestão por objectivos – resultado + importante da Comissão Hoover (dúvida: estes conceitos são sinónimos?)).
Isto funciona como 1 compasse para a definição das actividades
orçamentais.
As actividades orçamentais trazem 1 nova lógica/entendimento
do que deve ser a orçamentação.
Segundo a nova ideia, deve-se orçamentar por actividade (e
não por objecto). Os serviços devem ter 1 dotação geral para a realização das suas actividades ainda que não haja o nível de detalhe/desagregação por item/objecto: dá-se 1 acervo de verba global ao serviço, tendo em conta/para prosseguir as suas actividades, e o serviço, com alguma liberdade/discricionariedade/ /flexibilidade gestionária/managerial gasta como entender, prosseguindo o objectivo/as suas actividades, que é afectar e realizar a despesa com boa performance orçamental. Não há os condicionamentos da orçamentação por rubrica (ex: tem de gastar x em papel e y em computadores). Há influências/exemplos deste modelo de gestão/managenment em instrumentos actuais – ex: Lei de enquadramento Orçamental (ex: orçamentação e gestão por objectivos).
3. função de planeamento (anos 60 – período de grande
intervenção do Estado na economia (isto tem consequências na orçamentação) e arranque da informática (corolário: os instrumentos de análise têm 1 grande capacidade de previsão e exactidão) –, graças ao secretário de Estado da defesa norte- americano Mc’Cartner): é 1 lógica de orçamentação de programa: identifica grandes programas de despesa pública é 1 perspectiva antagónica da antiga orçamentação de meios dos anos 20.
Desenvolve-se o sistema de Planing Programing Budjecting
Sistem, que é condicionado por 2 preocupações:
- do ponto de vista externo: é a ideia de fazer do
orçamento 1 instrumento de intervenção e planificação económica (o orçamento pode condicionar o funcionamento da economia). Até aí não era claramente percepcionado. Esta é a grande revolução em termos de orçamentação pública, a ideia de que o orçamento é 1 instrumento de racionalidade compreensiva (ideia cartesiana de que consegue tudo abranger, estimar, prever, definir e estabelecer racionalmente) da decisão porque pode ser 1 bom instrumento de planificação racional, coerente e integrada da economia.
- do ponto de vista interno: é a ideia de que o orçamento
deve ser aperfeiçoado como 1 bom instrumento de gestão a nível administrativo, burocrático, criar todas as condições para aperfeiçoar o modo como o orçamento aparece discriminado/especificado para obter 1 melhor desempenho interno.
A especificação por programas orçamentais é feita, 1º, pela
definição dos grandes objectivos e, depois, pela estratificação.
Ex: programa de reabilitação do parque escolar; dentro dele:
sub-programas – ex: reabilitação de escolas C+S; dentro dos sub-programas, há medidas e, dentro destas, projectos.
Ele tem 1 perspectiva ≠, que é a definição dos programas em
termos de especificação orçamental (existe na maioria dos países e é 1 herança do sistema PPBM).
O sistema PPBM é composto por 3 fases:
- fase do planeamento: define os grandes objectivos económico-financeiros do país. Ex: em termos de políticas económica, social, agrícola, infra-estruturas, grandes agregados macroeconómicos (emprego, inflação, crescimento do PIB).
- fase da programação financeira: identifica os meios
financeiros necessários para concretizar os objectivos definidos na 1ª fase.
- fase da orçamentação (fase do budjecting?): faz-se 1
nova abordagem orçamental, com a introdução dos/que se estrutura nos programas orçamentais (o PPBM).
As fases estão interligadas por 1 perspectiva de top down,
numa cadeia lógica/racional e concatenada.
Os sistemas PPBM são “sistemas integrados” porque integram o
planeamento na orçamentação num esquema coeso e coerente (planeamento, programação e orçamentação).
O decisor público/orçamental é 1 espécie de árbitro omnisciente, que
consegue abranger a realidade económica globalmente, planeá-la, definir os grandes objectivos (comporta 1 conjunto de valorações e agregações de preferências muito aprofundado de que o decisor é capaz de ter ao seu dispor técnicas de previsão macroeconómica e orçamental muito desenvolvidas).