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OS TANT
MURULH
.
oJardim
a, a Rua e
a Cas
Aos meus vizinhos de quarto Mirian, Konstantin e amada
Wendy. Ao meu fiel escudeiro Felipe Pernambuco que me
ensina o valor de cada instante. À pequena Julia, à enorme
Carla. Ao meu porto seguro Parque Amazônia, e minha avó
Marlene, ao oráculo Baiana. Aos integrantes do grupo ao
qual me dedido de corpo e alma; o EIA. Ao príncipe Yuhzô,
com seu harém oriental e o herdeiro Lacê. Aos eremitas
Fumaça e Wilmar, ao indomável Luis Parras e ao caseiro
Antonio Kelh. Ao Machado Flávio, que tantas lenhas já me
ajudou a reflorestar...
“(...) e para mim toda arte chega nisto: a necessidade
de um significado supra sensorial da vida,
em tranformar os processos de arte
em sensações de vida.” 1
Hélio Oiticica
Partitura sensorial
2. Bússolas pg. 8
_ Nortes para Marulhar
4. A pg. 25
Casa
5. A RUA pg. 33
_EIA, o SPA, SPLAC, Salão de
Maio e Projeto Matilha
7. O JarDim pg. 57
6
Proponho aqui que possamos entrar, percorrer,
derivar, marulhar, num esforço aconchegante, que
apresenta-se como metáfora totalizante "Murulhos
Tantos: A Casa, A Rua e O jardim", duas realidades
extremas, que compreendem as nossas necessi-
dades básicas de retiro e expansão, de intimidade
e extroversão, de passividade e atitude.
Realidades estas conectadas pelo jardim, que aqui
será tratado, concreta e metaforicamente, como
espaço relacional. Cada uma destas metáforas é
em si uma forma de estar no Mundo, me proponho
aqui, a encontrar espaços que as relacionem. Que
possamos percorrer e ocupar seus aposentos,
criando ainda outros espaços e relações possíveis,
acessos secretos.
7
Bússolas_ Nortes para Marulhar
8
9
artista digerindo estrelas
“um parasita
Hector Zamora
paraquedista;”
“estrela no que
Hélio Oiticica se refere ao
termo de Ambiental;”
“Hundertwasser, conste-
Hundertwasser lação de espaços rela-
cionais;”
10
trabalho
Casa Paraquedista.
Bólide Área 2.
Casas Colina.
11
“estrela no que se
Lygia Clark refere ao termo
Relacional;”
deslocador
Marepe
em vigília;
12
Objetos relacionais.
Telhado.
13
Dentro desta tabela gostaria de aprofundar dois
conceitos chave:
Ambiental: sentido do termo ampliado graças as
contribuições plásticas e escritas de Hélio Oiticica
e do contato que tive com o Grupo de Interferência
Ambiental, GIA, o qual recebeu-me e hospedou-
me na capital baiana por conta do Salão de Maio,
que o mesmo grupo organizou em maio de 2004.
Este foi um marco importante em meu breve per-
curso, nele realizei a primeira Experiência
Ambiental "Faixa de descalços" que consiste em
sobrepor faixas de pedestres com placas de
grama.
14
Hélio Oiticica rompendo os limites de categorias
artísticas, conferiu a suas obras possibilidades
experimentais dentro de uma estratégia e programa
que chamou de Programa Ambiental, caracterizado
pela procura de totalidades ambientais, não esta-
belecidas a priori, criadas segundo as necessidades
criativas nascentes.
15
Experiências assumidas pelo próprio artista como
"autênticas experiências, manifestações ambientais,
sensoriais, participação pública" e apropriação ambien-
tal que teria com função "tirar o artista do marasmo
bodento dos ateliês" através da prática na rua, e acres-
centa Hélio ainda no catálogo da exposição
Whitechapel, "O museu é o mundo". Exemplos destas
expe-riências podem ser conferidas em trabalhos como
os Parangolés, o Bólide Área 1 e o Bólide 2.
16
Bólide área 2, Hélio Oiticica.
Parangolé.
17
Relacional: termo em si já propositivo, mas que transbor-
da quando utilizado à luz do tratamento que a artista Lygia
Clark fez dele.
18
Nesse período sua atividade se afasta da produção de
objetos estéticos e volta-se sobretudo para experiências
corporais em que materiais quaisquer estabelecem
relação entre os participantes. Retorna para o Brasil em
1976; dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuti-
cas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Sua
prática fará que no final da vida a artista considere seu
traba-lho divergente à arte e próximo da psicanálise.
Trabalha no sentido da experimentação, do encontro de
soluções próprias, integrando autor, obra e fruidor.
19
Dedica-se à prática terapêutica, usando Objetos
Relacionais, que podem ser, por exemplo, sacos
plásticos cheios de sementes, ar ou água; meias-
calças contendo bolas; pedras e conchas. Na terapia,
o paciente cria relações com os objetos, por meio de
sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade
ou movimento. Eles permitem-lhe reviver, em contex-
to regressivo, sensações registradas na memória do
corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição
da linguagem.
20
"Vou criar o que me aconteceu, só por que viver não
é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre
a vida. Criar não é imaginação é correr o grande
risco de se ter a realidade." 2
Clarisse Lispector
21
Venho descobrindo toda uma metodologia para
projetar e realizar minhas experiências. Aqui
entram as agulhas de marear, as cartas de
marear e os estudos de campo imersivos. Sendo
as primeiras instrumentos básicos de trabalho:
lápis, bússola e mapas, as segundas são cader-
nos, pastas e/ou malas nas quais organizo os
estudos, estes consistem nas expedições à
procura dos locais e na observação destes, tais
como de fluxos, contexto geográfico, usos recor-
rentes, habitantes locais e entorno.
C artas de Marear
+
Agulhas de Marear
+
Derivas
=
E studos de C ampo Imer sivos
22
3. Cartas de Marear_ Linhas de Rumo
Depois, os pregos,
os parafusos, a furadeira,
a tico-tico, muitas dobradiças,
alças e o martelo.
23
Caricatura Hundertwasser por Dieter
Zehntmayr no jornal Neue Krone
Zeitung, 16 janeiro de 1991.
24
A "Todo espaço realmente habitado traz a noção de casa
Casa (...) a imaginação trabalha neste sentido quando o ser
encontrou o menor abrigo: veremos a imaginação constru-
ir "paredes" com sombras impalpáveis, reconfortar-se com
ilusões de proteção (...)O ser abrigado sensibiliza os lim-
ites do seu abrigo.” 5
26
A partir destas necessidades, estes homens bus-
caram novas soluções, percebendo que a própria
terra poderia fornecer acolhimento. Alguns passam a
cavar, esculpindo seus abrigos no solo, transforman-
do-os em "cuevas". As vezes cavavam na própria
rocha como é o caso de alojamentos trogloditas em
Túnez.
27
Trago estas imagens mitológicas para refletir sobre as
primeiras instâncias de proteção do homem e como
este é capaz de criar soluções e adaptar-se a um meio,
sendo o local determinante desde o princípio, a partir do
qual este homem se organiza no mundo. "O espaço era
concebido com medidas do seu próprio corpo, como
polegada, o palmo, os pés. O abrigo era concebido na
escala humana, refletindo sua esfera pessoal" 7
28
Habitáculo, trabalho realizado no SPLAC,
I Salão de placas Imobiliárias, 2005.
29
Esta idéia de abrigo está muito presente no projeto
Murulhos, ainda em andamento que consiste em
construir "habitáculos" em cima de árvores localizadas
em canteiros a beira de vias de alta circulação de car-
ros. O primeiro Murulho foi construído a beira da
Marginal Tietê, num canteiro em frente a ponte da
Casa Verde durante o EIA em 2004. O segundo foi
construído na Bahia, num pequeno canteiro localizado
no cruzamento de vários viadutos, na Fonte Nova em
Salvador durante o segundo Salão de Maio, em 2004.
30
Murulho I, Marginal Tietê, 6 meses depois, maio de 2005.
31
"Já a rua tende a ser tomada, pelo discurso dominante por
um código que produz uma "fala totalizada, fundada em
mecanismos impessoais, onde leis e jamais entidades
morais como pessoas, são pontos focais e dominantes.
Ocorre uma reitificação abusiva de conceitos e relações,
numa visão onde ninguém rigorosamente poderá modificar
seu lugar" 8
Roberto da Matta
32
a Rua
33
Esta dimensão pode também ser apreendida quando
evocamos as expressões populares " O espaço lá
de fora", "Ser posto para fora de casa", "Vá para o
olho da rua", "Sem eira nem beira", "Estou na rua da
amargura", "Pelos trancos e barrancos".
34
Esta visão negativa do espaço público fundada no
descaso e na linguagem da lei é a qual tenho procu-
rado combater tanto na minha pesquisa poética como
na diversidade de movimentos com os quais tenho
me envolvido (coletivos, encontros, fóruns, debates,
festas populares brasileiras)
_ É na busca por outras relações e meios práticos
possíveis que estou propondo toda esta reflexão!
35
Para isto seria, e é necessária, uma mudança radical
na forma conformista com que é levada a vida. Esta
transformação envolve uma tomada de consciência
das condições de vida que nos são impostas e dos
meios práticos para mudar tal situação. Sendo impre-
scindível uma pesquisa da "disposição dos elementos
do quadro urbano em estreita ligação com as sen-
sações que eles provocam, além da definição de
algumas áreas provisórias de observação".13
36
Equipamentos urbanos, os quais estou estu-
dando para futuras
interações.
37
Ribanceira, 2005.
38
Tenho identificado inúmeros pontos de con-
vergência entre minha pesquisa bem como os
impulsos que me mobilizam e as propostas e
reivindicações situaicionistas. Mas vale ressaltar
uma diferença marcante. O programa situa-
cionista propunha-se a agir em escala macro-
estrutural, projetando na escala do urbanismo.
Minha pesquisa e meu trabalho atuam dentro de
uma dinâmica micro- estrutural, na escala do
indivíduo. Propostas que se dão num espaço
macro (da cidade) mas que trazem a noção do
indivíduo. Não um indivíduo alheio ao mundo e
sim observador e atuante.
39
Estudos para Ribanceira, que consistiu em construir uma escada de
perpendicular a Dr. Arnaldo.
40
corda e madeira ligando a a Avenida Sumaré e uma pequena praça
41
EIA, Salão de Maio,
SPA, SPLAC e
Projeto Matilha.
42
O primeiro deles é um "salão" de arte pública
organizado pelo Grupo de Interferência
Ambiental, o GIA, que aconteceu por dois anos
consecutivos, 2004 e 2005 na Bahia. O segun-
do, um encontro já na sua quinta edição organi-
zado por diversos artistas com amplo apoio da
prefeitura de Recife; o terceiro e, para mim mais
significativo na medida em que faço parte do
grupo desde a sua fundação em 2004, consiste
em um encontro de arte anual organizado por
um coletivo multidisciplinar interessado em
reunir, viabilizar e propor ações no espaço da
rua. A idéia é reunir os artistas e promover um
intercâmbio cultural sobre as ruas de São Paulo
num encontro que chamamos de Experiência
Imersiva Ambiental, EIA.
43
Uma semana de imersão no ambiente urbano, na
qual formamos uma grande equipe colaborativa
composta normalmente pelos responsáveis pela
organização do encontro, pelos artistas propo-
nentes que já residem em São Paulo, por outros
que chegam de diversos estados (os hospedamos
durante a semana imersiva em nossas casas e
ateliês) e todos aqueles interessados em partici-
par da mesma. No último encontro recebemos
artistas de Rondônia, Minas Gerais, Recife,
Fortaleza, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro.
Nosso intuito é criar uma zona de ação, reflexão e
interlocução. Momento e oportunidade de compar-
tilhar sonhos e anseios, de manifestar nossas
idéias de concepção e atuação no espaço, elabo-
rando-as de forma crítica e poética. Há trabalhos
de perfor-mances, oficinas, sons, apropriações,
interferências, ativismos, instaurações, pirações,
objetos, situacionismo, materiais em suporte gráfi-
co e intervenções. (www.eia05.zip.net)
44
Temos procurado dar continuidade a semana de
imersão, propondo outros projetos coletivos ao
longo do ano como foi o caso do SPLAC, do Baile
dos Espantalhos, do Interrogacidade e do Projeto
Matilha.
45
Alimento uma rede de laços dados, de braços fortes.
Cansados de tanto saber e ver o óbvio, e permanecer
calados. Juntamos os trapos, os cacos e rompemos as
cercas, saímos dos cascos. Propomos um despertar
contínuo, um desenvolver vontades, facilitar desloca-
mentos. Estar avesso a petrificação, a alienação, a
museificação da vida; ser simultâneo ao invés de contra,
criar alternativas e plataformas de convívio.
46
47
"O ninho do homem, o mundo do homem, nunca
acaba. E a imaginação ajuda a continua-lo." 14
Bachelard
48
Reinventando a gramática dos espaços
Roberto da Matta
apresenta uma
visão da sociedade
brasileira como
constelação so-
ciológica com pelo
menos três
perspectivas com-
plementares entre
si: a casa, a rua e o
outro mundo. O antropólogo demarca claramente os
limites e apresenta as distinções entre estes espaços.
Me proponho a questionar tais limites e utilizar suas
especificidades para justamente criar relações entre
estes espaços, como acontece no trabalho "Projétil
para um Mundo Novo", no qual trago para dentro do
ambiente da casa condições de jardim, seja na
construção da cama de grama como no recolhimento
de materiais nos entulhos para compor o ambiente. Ou
quando levo a cama para o espaço do jardim.
49
"Você conhece algum lugar
que eu possa deitar?" Foi o
que me perguntou um senhor
deitado na porta da garagem
da minha casa, de modo que
era impossí-vel abri-la para guardar o carro. Meu
carro tem lugar no Mundo e eu não soube como
acolher aquele moço loiro quase moreno de
poeira, de olhos azuis. Subi e encontrei a casa
posta, tudo em seu devido lugar, me esperando.
Havia deixado uma música bem calma a fim de
manter o ambiente aquecido para quando eu
voltasse. Está quente aqui dentro e da janela
ainda dava para ver o moço, ele começara a falar
sozinho deitado em frente da minha casa num
cantinho do mundo. Levou as mãos dentro da
calça, permaneceu um tempo. Depois começou a
procurar nos bolsos. Frequentemente ajeitava o
cabelo e tornava a buscar nos bolsos.
50
Então sentou-se na sarjeta, desta vez buscou algo
debaixo da blusa. Sacou um boné amarelo, todo
dobrado, sacudiu o boné, ajeitou o cabelo, vestiu o
boné. Constantemente olhava para os lados como
se procurasse alguém, como se escolhesse para
onde ir. Vestiu o boné e permaneceu sentado e
olhou mais uma vez para cada lado. Tornou a levar
as mãos debaixo da blusa e encontrou uma cor-
rente. Tirou a corrente do pescoço, contornando o
boné, era uma medalha. Uma medalha bem grande
prateada. Pegou a medalha, olhou a medalha e a
levou novamente ao pescoço, guardando-a como
quem guarda um segredo. Começou a se levantar,
parecia estar pesado, insistiu ajudando com as
mãos. Ficou de pé tendo de buscar o equilíbrio,
escorou-se ao muro e permaneceu um tempo. Mais
uma vez olhou para os lados e permaneceu. Ainda
escorado no muro começou a caminhar, à esquer-
da, e desapareceu da minha janela. Pretendo
começar colocar estas camas de grama em praças
e cantos pela cidade.
51
Qual espaço eu procuro?
_ Beirais, limítrofes, pontes, espaços relacionais que se
inspiram dentro da "gramática da Casa" nas varandas,
janelas, portas, alçapões, porões, corredores, jardins,
quintais e terraços. Revelam-se dentro da "gramática
da Rua" nos muros, terrenos baldios, viadutos, pas-
sarelas, faixas de pedestres, praças e canteiros.
52
“ Mas nossos espaços nem sempre são marcados pela
eternidade. Há também espaços transitórios e problemáticos
que recebem um tratamento muito diferente. Assim, tudo o
que está relacionado ao paradoxo, ao conflito ou à con-
tradição - como as regiões pobres ou de meretrício - fica num
espaço singular. Geralmente são regiões periféricas ou
escondidas por tapumes. Jamais são concebidas como
espaços permanentes ou estruturalmente complementares às
áreas mais nobres da mesma cidade, mas são sempre vistos
como locais de trânsitação: "zonas", "brejos", "mangues" e
"alagados". Locais limiares, onde a presença conjunta da
terra e da água marca um espaço físico confuso e necessari-
amente ambíguo". 17
Roberto daMatta
53
Hector Zamora, artista mexicano, é para mim referên-
cia ilustre desta perspectiva de reivenção da gramáti-
ca espacial, como podemos conferir em seu trabalho
Casa Paraquedista, no qual o artista constrói uma
habitação suspensa na parte exterior do Museo. Além
de construi-la, Zamora se propos a viver ali por três
meses, servindo-se da energia elétrica e da água do
museo. A entrada da casa foi construída sobre a escul-
tura que localiza-se na fachada do museo. Hector
Zamora e sua Casa Paraquedista, são para mim refe-
rência central no que diz respeito à criação e subver-
são estrutural e funcional, bem como à inauguração de
espaços.
54
Vista da Casa Paraquedista de Hector Zamora, México.
55
Espaço Inaugural
Esquece.
O tempo que se perde
É o mesmo que fenece
A cada hora.
Na hora do homem
em casa.
Na hora do homem
Na rua.
Na hora do espanto
Desse homem
Sem tempo
No espaço de cada canto.
O espaço do homem
Na praça.
O espaço do homem
Em luta
Com a fúria de outro tempo
: sua surda fúria muda. 19
Mário Chamie
56
O JarDim
57
Estes usos da cidade me fazem reconhece-la como
campo de ação de todos. Me interessa e me instiga
dialogar com estas ocupações, propondo uma espé-
cie de intervenção sobre intervenções, apropriação
de estruturas, sugerindo outros usos possíveis.
58
Casa Lambida, pretendo realizar na atual fase
desta pesquisa; consiste em uma inserção numa
das "rampas anti-mendigo" postas pela prefeitura
de São Paulo abaixo do viaduto da Paulista. Por
conta destas rampas, as pessoas seriam impedi-
das de utilizar este espaço para dormir. O que
ocorre é um deslocamento das mesmas para os
arredores. Manobra do governo que simplesmente
faz migrar o problema e evidencia uma política de
higienização e gentrificação em zonas de grande
especulação imobiliária dentro da cidade.
59
Alguns fatores me estimulam a concretizar este tra-
balho: primeiramente a minha perplexidade perante
tal estrutura, o que me levou a observa-la continua-
mente e a tentar verificar as mudanças no fluxo
local. Segundo a própria forma que foi dada ao con-
creto que logo se revelou para mim enquanto casa,
afinal como diria Gaston Bachelard "um sonhador de
casas vê casas em todas as partes, tudo serve de
motivação e abrigo".
60
Esta matéria de jornal me fez rever a Ribanceira,
evidenciou outras relações que se estabelecem
dentro da própria dinâmica do local e das transfor-
mações nos fluxos urbanos. Revelou-me toda uma
teia de relações onipresentes, que participam de
uma cadeia de ações e reações, reverberações e
reflexos; conexões entre este organismo que é a
cidade.
61
Pensei nesta Ribanceira, no acesso que ela oferece, nas
conexões que estabelece, no seu aspecto inclusivo.
Acredito neste percurso que a Ribanceira oferece como
o acesso pelo qual se chega a porta, uma porta que
agora irei materializar no Viaduto da Paulista, mas que
proponho que cada um de nós aventure-se a abri-la,
adentrando neste espaço que já não é nem Casa, Rua,
ou jardim mas organismo, corpo vivo!
62
Ribanceira, 2005.
63
Estas experiências, estas práticas ambientais,
surgem primeiramente enquanto sonhos, em traços
traçados nas paisagens que percorro todos os dias;
ruas, jornais, faróis, esquinas, canteiros e viadutos;
logo tornam-se esquemas, extensões nos cadernos
todos, cartas de marear; depois concretizam-se no
espaço, oferecendo e criando sítios de experiência.
Seguem instaladas na memória de quem viveu, uma
memória corporea, advinda da experiência, da
escolha feita frente ao que se apresenta ou se ocul-
ta. O espaço inaugurado, inaugura em nós um aces-
so, espaço constituinte.
64
Nada, nem ninguém
pode, neutralizar a
força e a potência
de uma experiência
vivida, de um per-
curso percorrido.
"Ancestrais desejos
nômades irrompem"
22, é preciso ocupar,
percorrer, derivar,
marulhar. O teto
ultrapassa os limites Ilustração de Hundertwasser,
o pintor das cinco peles.
da casa, do ateliê e
descobre-se céu. O corpo expande e descobre-se
célula, partícula de um organismo maior, transpes-
soal, interdependente. A cidade como morada, a
morada enquanto corpo.
65
Bibliografia
66
DEBORD, Guy Ernest. "Relatório sobre a construção de
situações e sobre as condições de organização e de
ação da tendência situacionista internacional", in
JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos
situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da
Palavra, 2003.
67
Fontes de pesquisa
Textos
BAHIA, Dora Longo. Gordon Matta Clark:
objeto a ser destruído. Dezembro 2000.
Biblioteca FAAP
68
Teses, dissertações e monografias
69
Notas de fim
70
12.G DEBORD, G. "Relatório sobre a construção de
situações e sobre as condições de organização e de
ação da tendência situacionista internacional", in
JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva:
escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro,
Casa da Palavra, 2003. Pg 43.
13.DEBORD, G. "Introdução a uma crítica da
geografia urbana", in JAQUES, Paola Berenstein.
Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a
cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg. 41.
14.BACHELARD, Gaston. A poética do espaço.
Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo
Martins Fontes, 1993. Coleção Trópicos. Pg. 116.
15.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço,
cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição.
Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 50.
16.Idem. Ibidem. Pg 48.
17.Idem. Ibidem. Pg. 45.
18.CHAMIE, Mário. Objeto Selvagem. São Paulo,
Quíron, 1977. Pg. 45.
19.Idem. Ibidem. Pg. 31.
20.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço,
cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição.
Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 43.
21.Idem. Ibidem. Pg.44.
22.JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva:
escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro,
Casa da Palavra, 2003. Pg. 11.
71