Orientadora:
Sílvia Alícia Martinez
Comissão Examinadora
____________________________________________________
Jorge Hudson Petretski Doutor em Ciências ( Biologia Celular )
____________________________________________________
João Carlos de Aquino Almeida Doutor em Ciências ( Biofísica )
____________________________________________________
Sílvia Alicia Martinez Doutora em Educação
Ao autodidata Cis Pereira de Souza com quem tive o privilégio de conviver toda minha infância e
receber os ensinamentos que para sempre marcaram minha vida. Em memória de meu avô.
Agradecimentos
1- Introdução...................................................................................................................... 1
1.1 – Objetivos.................................................................................................................... 4
1.1.1 – Objetivo Geral..................................................................................................... 4
1.1.2 – Objetivos Específicos.......................................................................................... 4
2- Justificativa.................................................................................................................... 5
3- Revisão da Literatura..................................................................................................... 8
3.1 – Promoção de Saúde..................................................................................................... 9
3.2 – Educação em Saúde.................................................................................................. 11
3.3 – Educação em Saúde na Escola.................................................................................. 13
3.4 – Doença Cárie: “só há prevenção com educação...”................................................... 15
3.5 - O Programa Saúde na Escola –PSE – a caminho da promoção da saúde ................. 19
3.5.1– Histórico ........................................................................................................... 19
3.5.2– Bases Conceituais ............................................................................................ 22
3.5.3- Objetivos ........................................................................................................... 22
4 - Materiais e Métodos .................................................................................................... 24
5 – Resultados ................................................................................................................... 27
5.1 – Resultados obtidos no inquérito epidemiológico sobre cárie dentária em escolares
dos CIEPs pesquisados ................................................................................................. 27
5.2 – Leitura analítica do questionário aplicado aos professores nos CIEPs
pesquisados..................................................................................................................... 31
6 – Discussão .................................................................................................................... 53
7 – Conclusões .................................................................................................................. 68
8 - Referências bibliográficas ........................................................................................... 71
9 – Bibliografia complementar ......................................................................................... 77
10 – Anexos ...................................................................................................................... 78
ÍNDICE DOS GRÁFICOS
Ceo – índice que mede o ataque de cárie dentária à dentição temporária. Suas iniciais
significam respectivamente: dentes cariados (c), com extração indicada (e) e obturados (o).
CPO-D – índice que mede o ataque de cárie dental à dentição permanente. Suas iniciais
significam respectivamente: dentes cariados (C), perdidos (P), obturados (O) e a unidade de
medida que é o dente (D).
SUB – SEDEC – Sub Secretaria de Estado de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro
A educação em saúde na escola já passou por muitas fases. Hoje o novo olhar é sobre
uma escola que promova saúde considerando cada indivíduo influenciado pelo ambiente em
que vive, as formas de convivência com a família e com a sociedade, alimentação e nutrição
adequadas, oportunidades de aprendizagem e de aquisição de conhecimentos, acesso ao lazer,
ao trabalho e a segurança, a importância dada à conservação dos recursos naturais e a
responsabilidade global para com o planeta. O Programa Saúde na Escola (PSE), implantado
nos CIEPs do Estado do Rio de Janeiro, apresenta-se como uma oportunidade de somar às
atividades próprias da escola, a construção de um conhecimento compartilhado que visa à
promoção da saúde. Com nossa atenção focada nos professores pela sua importância na
formação de cidadãos, o objetivo da pesquisa foi o de identificar, conhecimentos percepções e
práticas voltadas para saúde e saúde bucal, com vistas a observar se suas contribuições
pedagógicas são favoráveis para o desenvolvimento biopsicossocial e cultural dos escolares e
indiretamente para as ações do PSE. Para este estudo foram selecionados 2 Centros Integrados
de Educação Pública, escolas públicas de tempo integral onde o PSE está implantado, situado
em dois municípios vizinhos no norte fluminense, Campos dos Goytacazes e São Fidélis. O
estudo foi realizado em duas fases. Realizou-se na primeira fase um inquérito epidemiológico
das condições de saúde bucal dos escolares através de exames clínicos. Na segunda fase, um
questionário com questões fechadas foi aplicado aos professores para diagnosticar ações
pedagógicas básicas favoráveis ao desenvolvimento de hábitos saudáveis em seus alunos
relacionados à saúde e saúde bucal e aqueles relativos a sua autopercepção do tema. Conclui-se
que o índice de placa bacteriana depositada sobre a superfície dentária assim como o índice de
cárie dentária é elevado nestes escolares. O movimento das escolas em direção à promoção da
saúde, destacando-se a saúde bucal, representada neste estudo pelos professores, caminha de
forma lenta em direção a uma Escola Promotora de Saúde. O Programa Saúde na Escola que
traz as bases e as propostas para trabalhar as questões sociais mais significativas na promoção
do homem, também vive, nestes CIEPs, em busca de sustentabilidade a partir de caminhos
próprios que não sejam estritamente as políticas de governo que tendem a ser mais ou menos
descontinuadas a cada mudança de gestão.
Palavras-chave: Promoção de Saúde; Programa Saúde na Escola; Educação em Saúde;
Saúde Bucal; Escola Promotora de Saúde; Centros Integrados de Educação Pública.
Abstract
The education in health at school has been went by a lot of phases. Today the new
glance is on a school that promotes health considering each person influenced by the
environment in that he/she lives, the coexistence forms with the family and with the society,
feeding and nutrition adapted, learning opportunities and of acquisition of knowledge, access to
the leisure, to the work and the safety, the importance given to the conservation of the natural
resources and the global responsibility to the planet. The Health Program in the School (PSE),
implanted in CIEPs of the State of Rio de Janeiro comes as an opportunity to add to the own
activities of the school, the construction of a knowledge shared that it seeks the promotion of
the health. With our attention focused in the teachers by his/her importance in the citizens'
formation, the objective of the research was to identify knowledge perceptions and practices
returned for the health and buccal health, with views to observe if their pedagogic attributions
are favorable for the development biopsicossocial and cultural of the scholars and indirectly for
the actions of PSE. For this study 2 Integrated Centers of Public Education were selected,
public schools of integral time where PSE is implanted, located in two neighboring municipal
districts in the fluminense north, Campos of Goytacazes and São Fidélis. The study was
accomplished in two phases. It was used in the first phase an epidemic inquiry of the conditions
of the scholars' buccal health through clinical exams. In the second phase, a questionnaire with
closed subjects was applied the teachers to diagnose basic pedagogic actions favorable to the
development of healthy habits in their students related to the health and buccal health and those
relative ones his/her solemnity-perception of the theme. It is ended that the index of bacterial
plate deposited on the dental surface as well as the index of dental decay is high in these school
ones. The movement of the schools towards the promotion of the health, standing out the
buccal health, acted in this study by the teachers, he/she walks in a slow way towards a School
Promoter of Health. The Health Program in the School that brings the bases and the proposals
to work the more significant social subjects in the man's promotion, also lives, in this CIEPs, in
search of sustainability starting from own roads that you/they are not strictly government's
politics that tend to be discontinued more or less to each administration change.
Word-key: Promotion of Health; Program Health in the School; Education in Health; Buccal
health; School Promoter of Health; Integrated centers of Public Education.
1
1. INTRODUÇÃO
dias de restrições em suas atividades escolares se comparadas às das classes mais favorecidas.
Segundo nossa própria observação, os CIEPs em questão são escolas situadas em áreas
periféricas das cidades, regiões de grandes carências socioeconômico e culturais.
O trabalho que desenvolvemos ao longo de anos na clínica odontológica levou-nos à
frustrante, mas valiosa descoberta de ver que o modelo clássico de se tratar cáries dentárias
não foi nem é capaz de manter o controle das doenças bucais ou de evitar que as pessoas
percam seus dentes. O levantamento bibliográfico fez ver que uma nova filosofia de abordar
saúde de forma multidisciplinar permeia cárie e patologias bucais e nesta concepção a figura
do professor é ressaltada como importante recurso não odontológico para promoção de saúde
bucal. De acordo com Franchin e col (2005, p.105-106), os professores, pelo maior convívio
com os escolares, são fundamentais para educação em saúde bucal porque observam,
percebem os problemas e orientam os alunos visando melhorar a aprendizagem e obter ganho
em qualidade de vida. Com a visão de que saúde bucal não se dissocia de saúde em geral e
que a infância é uma etapa da vida propícia para se despertar a formação, as noções e os
hábitos de higiene, é importante para que a educação tenha sucesso, o somatório de todos os
esforços que inclua meios de comunicação, profissionais de saúde e professores,
principalmente os de ensino infantil e fundamental.
Ao destacar a figura do professor como principal ator para o sucesso dos programas
escolares nos reportamos a Bastos e col (2003), que atribuem isto ao grau de formalização de
atitudes que há entre os membros da escola como instituição social. Segundo Granville-
Garcia e col (2007, p.32), o professor tem o importante papel de educar, motivar e despertar
nos alunos o interesse em manter cuidados necessários com a saúde geral e a saúde bucal em
particular. Fato a ser considerado uma vez que conhecimentos sobre saúde bucal, mesmo
quando veiculados na grande mídia, não atingem a população como um todo e dificilmente
produzem conhecimento ou atitudes relacionados com a apreensão de hábitos saudáveis de
higiene bucal. O professor auxilia o cirurgião dentista ao falar sobre higiene bucal, ao
observar o aluno ou ao informar os pais sobre qualquer distúrbio percebido gerando uma
interação multidisciplinar que se transforma em benefício da comunidade.
A saúde bucal é estudada no contexto escolar dos CIEPs onde o PSE está implantado
tendo como principal coadjuvante o professor, que segundo Franchin e col (2005), por meio
de suas ações pedagógicas desperta no aluno, através da vivência escolar, o desenvolvimento
de suas potencialidades físicas, psíquicas, cognitivas e sociais, melhorando suas condições de
aprendizagem e qualidade de vida.
3
Este estudo visa apresentar-se como mais uma sugestão dentre tantas, para que a
promoção de saúde bucal se realize em todo contexto escolar, não ficando restrita ao
consultório odontológico. Mudar a visão do sujeito do trabalho em saúde bucal de apenas a
figura do dentista para uma equipe multidisciplinar, visando promover e recuperar a saúde do
escolar, é a idéia que defendemos. Esta não é outra senão a concepção do Programa Saúde na
Escola, um programa cujo objetivo principal é: construir, de forma compartilhada, os
conceitos e as diretrizes das Escolas Promotoras de Saúde nos CIEPs do Estado do Rio
de Janeiro (www.saudenaescola.rj.gov.br).
4
1.1. OBJETIVOS
Conhecer a percepção dos professores quanto à noção de cuidados com sua própria
higiene bucal.
1
Nomes fictícios dados às Instituições estudadas como forma de manter o anonimato.
5
2. JUSTIFICATIVA
reflete no próprio escolar que se mostra com pouca habilidade em cuidar de sua saúde
apresentando-se com unhas grandes e sujas, andando descalço, cabelos com piolhos, micoses
e feridas infectadas na pele, sem falar na falta de hábitos de higiene bucal e o alto índice de
cárie dentária. Além disso, não demonstram nenhum cuidado com a manutenção do prédio
escolar nem se preocupam em evitar o desperdício de materiais e bens de consumo, não
permitindo o convívio em um ambiente saudável. Não se trata de responsabilizar somente o
professor por estas mazelas porque as fontes de educação são variadas e vão além da
educação formal. Trata-se de chamar a atenção para a re-organização de seu trabalho didático
incorporando em sua prática, urgentemente, as questões sociais como temas transversais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs Brasil,1998), apresentam os temas
transversais como uma abertura para abordar questões sociais e complementar a
interdisciplinaridade do currículo. Em seu capítulo 8 destacam que “o compromisso com a
construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a
compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal,
coletiva e ambiental”.
Já no capítulo 9 afirmam que a educação em saúde é plenamente justificável na escola,
pois esta se destaca como local ideal para promoção de atividades e transmissão de
mensagens sobre saúde. Os professores ao detectarem eventos que fogem à normalidade física
e emocional dos alunos devem encaminhar estes ao sistema básico de saúde.
Ao mesmo tempo em que este estudo adquire um propósito em considerar o grande
potencial ainda tímido dos professores em contribuir mais efetivamente com o PSE na busca
das bases de uma escola promotora de saúde, ele também nos leva a outra reflexão. É preciso
que os profissionais de saúde envolvidos no Programa Saúde na Escola repensem sua
participação em todo esse processo médico–pedagógico. A visão parcelada do ser humano
não cabe mais nos dias de hoje na nova e ampla promoção de saúde que já não admite a visão
dentocêntrica na qual o indivíduo é visto como uma coleção de dentes. Necessário se faz re-
organizar nosso trabalho em saúde bucal para ao invés de tratarmos os dentes tratarmos
indivíduos com dentes. Dessa forma é que a atenção em saúde bucal pode evoluir de cuidados
com a cárie e a doença periodontal para o cuidado com a saúde como um todo como pretende
o PSE.
Os esforços deste estudo são no sentido de contribuir para difundir as experiências e os
conhecimentos com ele acumulados nos espaços de discussões e reflexões dos meios
escolares dos CIEPs onde está implantado o PSE assim como no próprio PSE. A
Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF tem responsabilidade na participação
7
desses debates visto que a promoção de saúde na escola é uma questão social que urge ser
enfocada. Os cursos de formação pedagógica, de acordo com Iervolino (2000, p.87), carecem
desenvolver um currículo formal obrigatório ainda durante a formação acadêmica e
continuado durante a carreira profissional, com o apoio de órgãos governamentais em que
neles esteja inserida uma visão mais humanística do professor voltada para a valorização de
programas de prevenção, educação e promoção de saúde.
8
3. REVISÃO DA LITERATURA
O termo promoção de saúde citado pela primeira vez em 1974 por Mark Lalonde,
ministro da saúde e do bem-estar do Canadá, destacou por aquela ocasião que o ambiente, o
comportamento dos indivíduos e seu estilo de vida são as causas da doença e morte e não
somente suas características biológicas (BASTOS et al 2003, p.121).
Ainda assim, Nadanosvsky (2000), afirma que as formas de prevenir doenças nos dias
de hoje, se baseiam em informar as pessoas sobre doenças específicas através de meios de
comunicação de massa tentando persuadi-las a mudar de comportamento.
Promoção de saúde não é sinônimo de educação em saúde, como muitos entendem.
O novo movimento rumo à promoção de saúde, utiliza-se da educação em saúde para
melhor equipar os indivíduos para que eles próprios façam suas escolhas e que estas sejam as
mais saudáveis. Paralelamente, a promoção de saúde tenta fazer com que essas escolhas sejam
as mais fáceis (MILIO 1983, citado por NADANOVSKY 2000, p. 295).
Podemos afirmar que promoção de saúde é um movimento amplo em busca de
qualidade de vida das pessoas que considera que para ser saudável a ausência de doença não é
necessária nem tão pouco suficiente. Os fatores sociais, econômicos e psicológicos é que irão
determinar o binômio saúde-doença, não estando estes condicionados aos serviços médicos ou
medidas eficientes de saúde pública. As ações de promoção de saúde consideradas como uma
nova saúde pública não tem apenas o serviço médico como atividade de saúde; estão
presentes na escola, no local de trabalho, no comércio e na indústria.
Segundo Valadão (2004, p. 22), a promoção de saúde se efetiva através de cinco áreas
de ação que mutuamente contribuem para a melhoria da saúde da população. Estas incluem:
educação em saúde, intervenções clínicas, políticas públicas de saúde, organização das
comunidades em prol da aquisição de práticas saudáveis e a criação de ambientes favoráveis à
saúde. Valadão acrescenta que sendo a escola um espaço social, ela representa um local
perfeito para a promoção da saúde visto que as políticas educacionais que nela se
desenvolvem, visam à satisfação do indivíduo e da coletividade. A escola de ensino
fundamental é um espaço que agrega em si todos os aspectos favoráveis à promoção da saúde.
Como não poderia ser diferente, esta nova filosofia de abordar a saúde de forma
multidisciplinar permeia a cárie e as patologias bucais.
10
das ciências da saúde através da troca de idéias, acatando a participação de novos atores
dentro e fora da comunidade escolar.
É melhor tentar e falhar do que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão,
do que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes, em casa me
esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver...
Luther King, Jr(1929-1968).
influências de todo tipo sejam elas intencionais ou não e vindas de muitas e diferentes
instâncias e meios sociais. Nosso olhar volta-se para o indivíduo como fruto de uma cultura,
no qual o seu corpo e o estado de saúde ou doença são produtos de uma construção lingüística
e cultural e não simplesmente matéria biológica (MEYER et al 2006, p. 1337).
Sob esta ótica, a relação educativa com as pessoas preza pelo diálogo e valoriza a
sabedoria prática dos indivíduos e comunidades que produzem resultados significativos em
usuários e agentes educativos. Passa-se a considerar que as pessoas não são vulneráveis, mas
podem estar vulneráveis a alguns agravos e não a outros sob determinadas condições, em
algum momento de suas vidas. Esta nova maneira de reorganizar o campo da educação em
saúde sob a perspectiva da vulnerabilidade permite gerar mudanças nas condições de vida das
pessoas. Para que os processos educativos tenham sentido, as experiências mais ou menos
patogênicas devem estar ligadas às relações inter-subjetivas dos sujeitos de acordo com seus
padrões culturais já estabelecidos socialmente, permitindo que a possibilidade de adoecer seja
trazida para o mundo real do sujeito (MEYER et al 2006, p.1342).
A educação em saúde sob esta perspectiva considera que a possibilidade das pessoas
adoecerem é o resultado da soma de fatores individuais, coletivos e contextuais. A mera
transmissão de conhecimentos técnico-científicos de forma racional que tentam persuadir o
indivíduo a agir desse ou daquele modo, como nos discursos positivistas, não é suficiente para
mudar comportamentos. A educação em saúde mais abrangente, é que nos orienta para
escolhas político-pedagógicas significativas as quais buscam um ponto de intersecção dentre
as diversidades dos sujeitos que se reflita em cumplicidade com a auto proteção e da
coletividade. Diferentemente do que ainda hoje se processa nos projetos educativos, a
educação que se propõe não é aquela que torna iguais os diferentes modos de ser e de viver
das pessoas, mas aquela que busque uma convergência entre os desiguais (MEYER et al
2006, p.1344).
Esta aproximação entre saúde e educação não é espontânea. Ela depende de intenções
das instituições através de planejamentos, políticas públicas, alocação de recursos e
implementação de projetos em prol de melhores condições de vida. Os resultados satisfatórios
não são obtidos a curto espaço de tempo. Envolvem profundas mudanças de valores sociais e
atitudes num processo amplo de transformação da sociedade (VALADÃO, 2002).
13
Educar em saúde nos dias de hoje só adquire sentido quando se tem como perspectiva
uma melhor qualidade de vida. As formas tradicionais de educação em saúde já não atingem
os objetivos propostos diante dos muitos desafios que surgem neste campo. Precisamos
considerar a grande diversidade humana, as mudanças de valores e as transformações
ocorridas nos estilos de vida das pessoas como processos causadores de experiências mais ou
menos promotoras de bem estar.
No campo da saúde bucal um programa pioneiro foi implantado nas escolas brasileiras
nos anos 50 do séc XX pelo Serviço Especial de Saúde Pública / Ministério da Saúde. Este
programa chamado de sistema incremental, tinha por base a prevenção de cáries dentárias e
assistência curativa tratando àquelas já existentes. Como apoio a estas ações existia um
programa educativo cuja finalidade seria somar todos os esforços em prol da mudança de
comportamentos. Conforme acrescentou Pinto (1992), o programa tinha como pilar a
epidemiologia, atuando em escolares sobre suas necessidades acumuladas e por faixa etária.
O sistema incremental não surtiu os efeitos esperados pelo poder público e foi retirado
das escolas nestas permanecendo somente as ações preventivas (CRUZ et al 2005, p.109).
Diante de ações educativas fracassadas que não suprem as necessidades atuais, há uma
busca incessante por recursos para diminuir a vulnerabilidade das pessoas de forma que estas
ações atinjam seus objetivos e não gerem frustrações por não terem cumprido o resultado
esperado. Para isso precisamos compreender que os fatores que interferem nas escolhas
saudáveis de vida e de saúde dos indivíduos não se dão isoladamente, são constituídos por
múltiplas dimensões biológica, social e cultural. Ao entendermos que estes fatores
influenciam nas atitudes e práticas de uma vida mais ou menos saudável podemos perceber
que intervir nas questões de saúde e doença deveria ser uma escolha saudável de todos nós
(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002, p.11-12).
Em todo processo educativo em saúde torna-se necessário direcionar o ensino
aprendizagem para a construção e incorporação de conhecimentos em lugar de decorar
conceitos. A aprendizagem se dá com a resolução de problemas que gera o desenvolvimento
de atitudes para a prática de uma vida mais saudável. Os conhecimentos só terão sentido se
quando incorporados impulsionem as pessoas a refletir e tomar iniciativas a favor de escolhas
saudáveis que visem o seu bem estar e da sociedade (IERVOLINO 2000, p.31).
Na escola não é diferente. Os conhecimentos, as atitudes as aptidões e práticas
adquiridas são grandes valores dos quais a sociedade se beneficia. É na escola que a saúde
14
adquire um sentido social quando vivenciada como um tema transversal que, se levada à
realidade do aluno, aumenta a importância do professor e da escola na formação da cidadania
(BRASIL,1998).
De acordo com a contextualização, o tema saúde, assim como outros podem apresentar
diversos significados. Esta mobilidade é que permite ao aluno uma participação ativa no
processo de aprendizagem levando-o a ampliar suas potencialidades pessoais e sociais. Da
forma como é tratada a saúde na escola, ela não toma o lugar das tarefas específicas da
educação, pois se tratadas assim não teriam sentido. A saúde na escola só adquire sentido se
trabalhada nas diversas áreas do conhecimento através de seus conceitos, informações e do
valor que se atribui a este tema, porque saúde por si só já é uma tema relevante que permeia o
cotidiano escolar (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002, p.10).
O professor é um educador em saúde não só quando desenvolve os conteúdos do
currículo, mas também de maneira não formal ao implementar projetos, observar as
necessidades emergentes dos alunos ou participando de campanhas que visem promover o
bem estar da comunidade. A educação em saúde na escola interpõe-se nas escolhas dos
professores quando selecionam os currículos, ao transmitir conceitos e valores em suas aulas,
no processo de avaliação, através da metodologia e das situações didáticas criadas por eles
(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002, p. 8).
De acordo com Valadão (2004, p. 110), a aprendizagem em saúde faz parte da
vivência escolar e está presente nas experiências educativas processadas pela escola e
inerentes a seu currículo. Por outro lado não se pode dizer o mesmo da assistência individual
e a aplicação de tecnologias, as quais são específicas do setor de saúde e não fazem parte do
currículo escolar.
A complexidade dos temas relacionados à saúde faz com que seu conteúdo não possa
ser esgotado por nenhuma disciplina isolada. A transversalidade é considerada o recurso mais
importante para se trabalhar a promoção de saúde na escola porque integra a vivência escolar
à construção de conhecimentos significativos e não meramente informativos e restritos ao
universo das disciplinas. A problematização da realidade utilizada como recurso na educação
em saúde permite que este tema adquira sentido na experiência de ensinar e aprender,
traduzindo-se em oportunidades de convivência na escola que permitam o confronto de idéias,
gerem curiosidades, motivação e abram caminho para novos conhecimentos (VALADÃO
2004, p. 91).
Para Iervolino (2000, p. 36), o objetivo maior da educação em saúde na escola não
deve ser a simples transmissão de informações e sim a capacitação dos indivíduos e
15
coletividade levando-os a refletir sobre as bases sociais de suas vidas que são as condições de
trabalho, moradia, lazer, auto-estima, amor, entre outros e estabelecer uma relação entre estas
e a doença que se instalou em seu corpo afetando sua vida no bairro, na fábrica, na escola e na
comunidade.
enquanto outros fatores poderão influenciar e modular a atividade da doença, dentre os quais
destaca-se a presença de grande quantidade de carboidratos na dieta assim como sua
freqüência de ingestão. Há também os fatores socioeconômicos e culturais que podem ser
chamados de indicadores de risco, porque influenciam indiretamente os indivíduos quanto à
sua dieta, higiene oral, uso do flúor, aumentando ou diminuindo a susceptibilidade em relação
à doença cárie.
Ainda segundo Groisman e Medeiros (2003, p.109-110) os indicadores de risco que
agem de forma indireta no desenvolvimento das lesões cariosas são:
• Fatores relacionados à saúde em geral como: as doenças gerais, deficiências físicas,
senilidade, os quais podem alterar o fluxo salivar ou contribuir para uma higiene bucal
deficiente.
• Fatores epidemiológicos: podem detectar a presença da doença cárie ou a falta de
políticas públicas traduzida em uma população com alto índice de cáries no presente e
em sua história pregressa.
• Fatores clínicos: dentes recém erupcionados, com fissuras e sulcos profundos, raízes
expostas, são mais susceptíveis às lesões cariosas.
• Fatores socioeconômicos: as condições de desemprego, moradia precária, falta de
saneamento básico, baixo nível de escolaridade, falta de acesso aos serviços de saúde
bucal, podem influenciar no desenvolvimento de lesões cariosas em regiões sem
abastecimento de água fluoretada ou insuficiente uso de produtos fluoretados.
De forma direta temos como fatores que contribuem para o desenvolvimento das lesões
cariosas:
• Fatores bioquímicos de desmineralização do esmalte dentário: grande quantidade de
placa bacteriana sobre a superfície do dente, dieta rica em carboidratos, redução do
fluxo salivar, baixa capacidade tampão da saliva e a ausência de fluoretos na cavidade
bucal facilitando a desmineralização.
O equilíbrio ou o desequilíbrio entre estes fatores é que vai gerar todo o processo saúde-
doença e, portanto, para que os indivíduos tenham saúde bucal é preciso que tenham saúde de
modo geral, não considerando-se a boca parte separada do todo (ASSAF & PEREIRA, 2003).
Meneghim (2003), baseando-se em vários autores, afirma que a cárie dentária é
considerada uma endemia da era moderna, exacerbada a partir da revolução industrial pela
alta produção e consumo de produtos açucarados observando-se que teve sua prevalência
17
positivo em razão da alta prevalência de cáries que por sua própria natureza gera dor e ainda,
por acharem os tratamentos odontológicos desconfortáveis.
A educação em saúde bucal envolve uma atenção ampla na qual os aspectos
preventivos, curativos, biopsicossociais e ambientais se interpõem, nos dando uma visão do
processo saúde/doença no indivíduo de modo global (PETRY & PRETTO 1999, p. 372).
É necessário levar em consideração não apenas a doença, mas o doente e a maneira
como este atua sobre ela, ou seja, a forma como a comunidade encara o problema. Mas nem
sempre foi este o pensamento predominante. A educação em saúde bucal em todo o mundo,
sempre foi pautada pela transmissão vertical de informações não se preocupando com doentes
que se comportavam como meros receptores de informações (TAMIETTI et al 1998, p.35 -
36).
Hoje o novo modelo de atenção à saúde bucal tem por fim transformar a visão fatalista
tradicionalmente cultivada do processo saúde/doença e levá-los a perceber que possuir bons
ou maus dentes não é questão apenas de hereditariedade, mas das vinculações que se
estabelecem entre os fatores biológicos e sociais. O desenvolvimento progressivo da saúde
bucal levou a concluir que a educação em saúde só tem sentido se for uma educação para a
vida, tendo como um dos princípios a participação ativa da comunidade na construção de
saberes em saúde, aproveitando toda sua experiência anterior e assumindo juntos o
compromisso de melhorar e que esses ganhos são para o bem de todos (CARDOSO et al
2006, p. 47).
A educação em saúde bucal se desenvolvida em escolas resgata as experiências e
saberes da comunidade escolar habilitando-a para resolver seus próprios problemas (FLORES
2003, p. 744).
Entretanto para que o processo educativo transcorra da forma como se aspira, e atinja
os objetivos almejados, deve se esperar que: seu desenvolvimento transcorra sem
interrupções; esteja em conformidade com a realidade da comunidade a qual se propõe e haja
participação ativa da comunidade envolvida. Neste caso, os programas educativos tem nos
pais e professores sua grande estratégia de êxito (CAMPOS & GARCIA 2004, p. 58 ).
Os estímulos contínuos, segundo Santos et al (2002), é que consolidam as
informações. Para Petry & Pretto (1999), é preciso sempre cultivar o desejo de aprender,
estimular a atenção e o interesse para tomar atitudes e assim obter resultados favoráveis a uma
boa saúde; fazer nascer e crescer do íntimo, condições propícias à aprendizagem e esta,
quando alcançada, irá proporcionar satisfação em ter aprendido fazendo com que os
indivíduos a ela mobilizem todas as suas forças e seu tempo.
19
3.5.1. HISTÓRICO
A história do Programa Saúde na Escola confunde-se com a própria história dos
CIEPs, escolas com propostas inovadoras de educação em tempo integral,
transdiciplinaridade, exploração de várias formas de linguagem como expressão do aluno e
20
2
Atualmente Sub-Secretaria de Estado de Defesa Civil como parte da Secretaria de Estado de Saúde.
22
3.5.3. OBJETIVOS
O principal objetivo do PSE é construir de forma compartilhada, os conceitos e as
diretrizes das Escolas Promotoras de Saúde nos CIEPs do Estado do Rio de Janeiro.
Tem por objetivos específicos:
• O desenvolvimento de ações de prevenção primária, por meio de ações educativas e
sanitárias. (ANEXO III)
• A capacitação de profissionais de saúde, educação, alunos, familiares e comunidade
no que concerne à promoção de saúde, à prevenção de agravos e a recuperação da
saúde em idade escolar.
• Implementação de atividades de ensino e de vivência da escola relacionados às
necessidades da comunidade local.
23
4. MATERIAIS E MÉTODOS
cuidados de saúde em geral e da saúde bucal, em especial nas camadas de baixa renda, que
reflete a mortalidade dentária ao longo do tempo (PINTO 2000, p.181-86).
O levantamento feito em escolares ocorreu entre setembro e novembro de 2006
incluindo crianças de todas as séries do ensino fundamental com idades entre 6 e 12 anos.
Estas idades foram analisadas porque por volta dos 6 anos surgem na cavidade bucal em
posição posterior a dentição decídua, os primeiros molares permanentes3. A erupção continua
com a idade, passa pela fase de dentição mista com decíduos e permanentes presentes na
cavidade bucal. Posteriormente vai ocorrendo a esfoliação dos dentes decíduos e erupção de
outros permanentes até que toda dentição se complete. Por volta dos 12 anos de idade os
incisivos, os caninos, os pré-molares, os primeiros e segundos molares permanentes
encontram-se presentes na cavidade bucal. Dessa forma Pinto (2000, p.182), explica que,
devido ao crescente número de dentes cariados que são reflexos dos vários ataques de cárie ao
longo da vida, os resultados do índice CPO devem ser expressos por grupos etários.
No CIEP SOL, foram examinados 193 escolares; 48,25% do total daqueles que
freqüentavam a época. No CIEP LUA, foram examinados 75 escolares; 45,73% do total
daqueles que freqüentavam a época.
Os exames foram todos feitos em ambiente clínico, os consultórios odontológicos dos
CIEPs, utilizando além da luz natural, a luz artificial do refletor odontológico. Todos os
exames foram feitos por um único examinador após a profilaxia prévia dos dentes, secagem
com jatos de ar, uso de espelho plano e sonda exploradora curva. Todos os pontos acima
citados são os sugeridos para estudos epidemiológicos nacionais e foram rigorosamente
observados.Embora atualmente haja controvérsias quanto ao uso da sonda exploradora nos
exames epidemiológicos, sob alegação desta causar danos ao esmalte das fissuras, Chan
(1993) apud Pinto (2000), argumenta sua utilidade na detecção de cáries de dentina, margens
de restaurações e locais que não se permite somente o alcance visual. Também para remover
detritos e placa bacteriana de fóssulas e fissuras dentais ( PITTS et al 1997 apud PINTO 2000,
p.179-80 ).
Pinto (2000, p.183), considera diversificada a condição epidemiológica em relação às
cáries dentárias no Brasil, sendo inadequado que sigamos modelos europeus para inquéritos
epidemiológicos, onde a cárie dentária possui baixa prevalência em quase todo aquele
continente. A OMS utiliza o índice CPO aos 12 anos como indicador básico para comparar o
estado de saúde bucal entre populações diversas definindo o valor 3,0 como satisfatório. Em
3
Os primeiros molares permanentes erupcionam na cavidade bucal por volta dos 6 anos de idade sem
que nenhum dente da dentição decídua tenha se perdido por rizólise.
26
dados referentes ao estado do Paraná, em 1996, aos 12 anos encontrou-se um CPO médio de
4,0; mas em um terço dos municípios, o índice permanecia 7,11 por pessoa, numa prevalência
muito alta.Outros estudos mostram que a prevalência de cárie é pior que a encontrada em
pesquisas do Ministério da Saúde. Em conseqüência disto é que se sugere seguir os critérios
como os recomendados para estudos epidemiológicos nacionais inclusive usando a sonda
exploradora.
Fase 2 – Trabalho com os Professores
Após essa primeira aferição em escolares, nos propomos a colher informações junto
aos professores sobre saúde, higiene corporal e saúde bucal de seus alunos e sua auto-
percepção sobre esses cuidados.
Trata-se de uma pesquisa conclusiva/descritiva, via levantamento de campo. A
finalidade é investigar e identificar se os professores dos CIEPs pesquisados tem algum
conhecimento básico sobre saúde bucal que possam se transformar em ações pedagógicas
capazes de proporcionar aos escolares a construção de escolhas mais saudáveis em relação à
saúde como um todo. Os resultados obtidos foram comparados a estudos anteriores,
encontrados nas referências bibliográficas, a cada questão proposta.
A coleta de dados foi feita através da abordagem aos professores, por meio da
aplicação de um questionário com questões fechadas, de forma que não houvesse rejeição à
participação por não disporem de muito tempo para responder. O questionário contém 14
perguntas algumas com desdobramento de acordo com a resposta dada (sim ou não). As
perguntas foram elaboradas de acordo com o conhecimento básico de saúde, higiene corporal,
saúde bucal e aplicado no 1º semestre de 2007, antes da realização de qualquer atividade
educativa programada pelo PSE. Todos os questionários foram distribuídos e recolhidos no
mesmo dia para que não houvesse nenhuma indução quanto às respostas (ANEXO I).
No CIEP SOL foram distribuídos 17 questionários, um por professor, tendo sido
devolvidos 14. No CIEP LUA foram distribuídos 14 questionários tendo sido devolvidos 14,
ou seja, todos os professores deste CIEP responderam.
De início nota-se certo receio por parte dos respondentes.Trata-se de pesquisa de aluna
da UENF ao mesmo tempo cirurgião dentista do CBMERJ. Depois, com a explicação da
finalidade da pesquisa, a informação que não é preciso identificar-se e com o conhecimento
que o pesquisador tem com as pessoas da escola, essa diferença inicial foi rompida. A direção
das escolas foi fundamental no apoio ao nosso trabalho.
Posteriormente, os resultados encontrados foram tabulados e analisados na forma de
tabelas e gráficos, de acordo com os objetivos do trabalho.
27
5. RESULTADOS
QUADROS 1-2 - Índices ceo e CPO-D do ano de 2006 – CIEPs Sol e Lua
Os quadros acima ilustram o crescente ataque de cárie aos dentes permanentes e a diminuição
deste ataque aos dentes decíduos correlacionados à idade do escolar. Aos 12 anos observamos
um CPO-D 6,7 nos dois CIEPs, bastante elevado para os padrões da OMS.
GRÁFICOS 1-2 - Proporção de escolares dos CIEPs Sol e Lua por necessidades de tratamento
de lesões cariosas de acordo com a idade no ano de 2006.
40
30 B 5 a 9 anos
C 10 a 14 anos
20
10
0
Sem Lesões Até 5 Lesões Mais de 5 lesões
40
30 B 5 a 9 anos
20 C 10 a 14 anos
10
0
Sem Lesões Até 5 Lesões Mais de 5 Lesões
Estes gráficos ilustram o aumento das lesões cariosas com o aumento da idade nos dois
CIEPs estudados. O caráter acumulativo da cárie dentária está relacionado com o aumento da
idade quando esta doença não está sob controle (NAVARRO 1996, p.154).
29
O aumento progressivo das lesões cariosas de acordo com a idade deve-se à ausência ou
busca tardia de orientação de um profissional de saúde bucal, ao aumento de infecções por
microorganismos patogênicos, ao aumento do número de dentes erupcionados na boca, aos
hábitos dietéticos e a falta de higiene oral (BERKOWITZ 1975; WALTER e COL 1987;
COUTO e COL 1998 citados por FLÓRIO e PEREIRA, 2003 p. 414).
GRÁFICO 3-4 - Porcentagem dos componentes dos índices ceo e CPO-D no ano de 2006 nos
CIEPs Sol e Lua.
Gráfico 3: Porcentagem dos componentes dos índices ceo e CPO - D no ano de 2006 -
CIEP Sol
100 %
80
Cariados
60
Perdidos
40
Obturados
20
0
ceo CPO-d
Gráfico 4: Porcentagem dos componentes dos índices ceo e CPO - D no ano de 2006 -
CIEP Lua
100 %
80
Cariados
60 Perdidos
40 Obturados
20
0
ceo CPO-d
30
Estes gráficos foram obtidos separando o total de cada amostra em três categorias:
cariados perdidos e obturados na dentição decídua e na permanente. Ele retrata de forma clara a
situação que se encontram os escolares dos CIEPs Sol e Lua no ano de 2006.
Para o CIEP Sol, observa-se pelo gráfico muitos dentes cariados na dentição decídua, padrão
que se repete na dentição permanente com crescente elevação do número de dentes cariados.
Muitos dentes decíduos perdidos por cárie ou por esfoliação natural e poucos dentes obturados.
Isto pode ser devido à falta de acesso ao serviço curativo-preventivo que não funcionava
integralmente neste CIEP.
Para o CIEP Lua este padrão se repete, apenas observamos um maior número de dentes
obturados. Isto pode ser devido ao maior acesso ao serviço de saúde bucal pelos estudantes.
É durante o início da vida escolar entre os 5 e 7 anos que começa na boca a erupção dos dentes
permanentes e com ela a história da cárie dentária nesta dentição que iniciará com zero dentes
atacados e irá crescendo progressivamente durante a vida. Os dentes vão sendo atacados,
destruídos e eliminados à medida que cuidados básicos são desprezados. Então a mortalidade
dentária será crescente no decorrer da vida dependente da intensidade dos ataques de cárie e do
grau de abandono (CHAVES 1986, p.32).
31
7% 0% 2º Grau
36% Especialista
Mestre
Outros
Curso Normal
Graduação
57%
Não Opinou
No CIEP LUA, 57% dos professores possuem graduação, 22% curso normal, 7% possuem
ensino médio, 7% são mestres e outros 7% ainda cursando a graduação.
7% 7% 0% 7% 2º grau
0% 22% Normal
Graduado
Especialista
Mestre
Outros
57% Não respondeu
32
No CIEP SOL, 64% responderam que obtiveram conteúdos em sua formação, 29% não
obtiveram e 7% não responderam.
7%
Sim
50% 50% Não
33
GRÁFICO 7 – Diz respeito ao nível escolar no qual estes conteúdos foram estudados pelos
professores que responderam afirmativamente a questão anterior.
No CIEP SOL, 26% estudaram na escola de 1ª a 4ª séries4, 26% na escola de 5ª a 8ª séries, 12%
no 2º grau ou correspondente e 36% não obtiveram estes conteúdos.
Gráfico 7: Nível escolar que obteve conteúdos relativos à saúde e higiene bucal – CIEP Sol
Escola de 1ª a 4ª série
Escola de 5ª a 8ª série
12% 0% 2º grau ou correspondente
36% Outros
Não obteve
26%
26%
Gráfico 7: Nível escolar que obteve conteúdos relativos à saúde e higiene bucal – CIEP
Lua
21%
50%
17%
4% 8%
Hoje seria de 2º ao 5º ano. Neste trabalho manteremos a denominação anterior, visto que era a
vigente quando da aplicação do questionário.
GRÁFICO 8 – Quando interrogados se trabalham o conteúdo “saúde e higiene corporal” com
os alunos os professores do CIEP SOL e os do CIEP LUA foram unânimes e 100%
responderam sim.
Gráfico 8: Trabalha o conteúdo Saúde e Higiene Corporal com seus alunos? – CIEP Sol
Sim; 100%
Gráfico 8: Trabalha o conteúdo Saúde e Higiene Corporal com seus alunos? – CIEP Lua
100%
4
Hoje seria de 2º ao 5º ano. Neste trabalho manteremos a denominação anterior, visto que era a vigente
quando da aplicação do questionário.
35
GRÁFICO 9 – A freqüência com que os alunos levantam dúvidas sobre o conteúdo “saúde e
higiene bucal” foi questionada aos professores.
No CIEP SOL, 79% respondeu que ocasionalmente seus alunos levantam dúvidas, 14%
disseram que freqüentemente e 7% disseram que sempre os alunos levantam dúvidas.
Gráfico 9: Freqüência com que os alunos levantam dúvidas sobre o conteúdo Saúde e
Higiene Bucal – CIEP Sol
0% 7%
14%
Sempre
Frequentemente
ocasional
nunca
79%
No CIEP LUA, 72% respondeu que ocasionalmente, 14% freqüentemente, 7% disseram sempre
e outros 7% disseram que nunca seus alunos levantam dúvidas.
Gráfico 9: Freqüência com que os alunos levantam dúvidas sobre o conteúdo Saúde e
Higiene Bucal – Lua
dado.
7% 7%
14%
Sempre
Freqüentemente
Ocasionalmente
Nunca
72%
36
Gráfico 10: Trabalha o conteúdo Saúde e Higiene Bucal com seus alunos? CIEP Sol
100%
No CIEP LUA, 93% afirmam que sim e 7% não trabalham o conteúdo com os alunos. Estes
quando perguntados o porquê não responderam.
Gráfico 10: Trabalha o conteúdo Saúde e Higiene Bucal com seus alunos? CIEP Lua
7%
Não
Sim
93%
37
GRÁFICO 11 - Informação sobre quais recursos pedagógicos o professor utiliza para trabalhar
o conteúdo “saúde e higiene bucal”.
Recursos pedagógicos utilizados por professores do CIEP SOL: 40% através de exposição oral,
32% livros, revistas e folhetos, 12% filmes, 8% pesquisa feita pelos alunos, 4% aulas práticas e
4% não respondeu.
4%
0%
12%
4% 40%
32%
8%
Recursos pedagógicos utilizados por professores do CIEP LUA: 38% através de exposição oral,
27% livros, revistas e folhetos, 16% pesquisa feita pelos alunos, 11% aulas práticas e 8%
filmes.
8% 0%
11%
38%
27%
16%
Gráfico 12: Frequência com que os alunos se interessam pelo conteúdo "Saúde e Higiene
Bucal" - CIEP Sol.
22%
Às vezes
Nunca
Comfreqüência
28% Sempre
50%
0%
No CIEP LUA, 31% dos professores responderam que os alunos se interessam com freqüência,
54% responderam às vezes e 15% disseram que sempre os alunos se interessam.
Gráfico 12: Frequência com que os alunos se interessam pelo conteúdo "Saúde e Higiene
Bucal" - CIEP Lua .
15% 0%
31%
54%
Gráfico 13: Fonte de aquisição de conhecimento sobre Saúde Bucal dos professores –
CIEP Sol
0%
4% 15%
4%
0%
12% 35%
26%
No CIEP LUA, 27% responderam que foi o cirurgião dentista, 24% a família, 20% o ensino
fundamental, 14% em livros e revistas, 7% com a televisão, 4% com colegas e 4% não
respondeu.
Gráfico 13: Fonte de aquisição de conhecimento sobre Saúde Bucal dos professores –
CIEP Lua
Bucal dos professores.
20%
27%
0%
4% 14%
0% 4% 24%
7%
Gráfico 14: Opinião dos professores quanto à integração profissional entre professores e
dentistas – CIEP Sol
14%
43% Às vezes
Não opinou
Não
Sim
36%
7%
No CIEP LUA, 36% dos professores respondeu que às vezes há integração, 36% disse não
haver, 21% disse sim, que há integração e 7% não respondeu.
Gráfico 14: Opinião dos professores quanto à integração profissional entre professores e
dentistas – CIEP Lua
36% 36%
Às vezes
Não opinou
Não
Sim
21% 7%
41
GRÁFICO 15 – Os professores foram interrogados com relação à higiene bucal dos alunos. Se
estes escovam os dentes pelo menos uma vez no período em que estão na escola.
No CIEP SOL, 36% responderam sim, 36% responderam não, 21% não sabem e 7% não
responderam.
Gráfico 15: Seus alunos escovam os dentes no período que estão na escola? CIEP Sol
36% 36%
Não
Não opinou
Não sabe
Sim
21% 7%
Gráfico 15: Seus alunos escovam os dentes no período que estão na escola? CIEP Lua
0%
21%
Não opinou
Não
Não Sei
Sim
79%
42
Gráfico 16: Seus alunos se alimentam dentro da sala de aula, fora do horário de recreio?
CIEP Sol
7%
21%
Não opinou
Não
Sim
72%
No CIEP LUA, 72% responderam que sim e 28% responderam que não.
Gráfico 16: Seus alunos se alimentam dentro da sala de aula, fora do horário de recreio?
CIEP Lua
28%
72% Não
Sim
43
7%
Não opinou
Não
36% Sim
57%
43%
Sim
Não
57%
44
7%
14%
Não opinou
Sim
Não
79%
43%
Sim
Não
57%
45
Gráfico 19: Influência da dieta alimentar na saúde dos dentes - CIEP Sol
7%
14%
Não opinou
Não
Sim
79%
Gráfico 19: Influência da dieta alimentar na saúde dos dentes - CIEP Lua
Sim; 100%
46
7%
14%
Não opinou
Não
Sim
79%
7%
Não
Sim
93%
47
0%
0%
7%
0% Nunca
1 x dia
2 x dia
3 x dia
36%
57% mais de 3 x dia
Não opinou
No CIEP LUA, 57% dos professores responderam escovar os dentes três vezes ao dia e 43%
mais de três vezes ao dia.
0%
0%
0%
43%
57%
GRÁFICO 22 – Auto-percepção de cuidados com a saúde bucal quanto ao uso do creme dental.
No CIEP SOL, 64% dos professores utilizam o creme dental três vezes ao dia, 28% mais de
três vezes ao dia e 7% não respondeu.
Gráfico 22: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso de creme dental
– CIEP Sol
0%
0%
7%
0%
28% Nunca
1 x dia
2 x dia
3 x dia
mais de 3 x dia
65%
não opinou
No CIEP LUA, 57% dos professores utilizam o creme dental três vezes ao dia e 43% mais de
três vezes ao dia.
Gráfico 22: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso de creme dental
– CIEP Lua
0%
0%
0%
Nunca
43% 1 x dia
2 x dia
57% 3 x dia
Mai de 3 x dia
49
GRÁFICO 23 – Auto-percepção de cuidados com a saúde bucal quanto ao uso do fio dental.
No CIEP SOL, 72% dos professores responderam que usam o fio dental mais de uma vez ao
dia, 7% uma vez ao dia, 7% ocasionalmente, 7% nunca usam e 7% não responderam.
Gráfico 23: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do fio dental –
CIEP Sol
7% 7% 7%
7% Nunca
1 x dia
Ocasionalmente
Mais de 1 x dia
Não opinou
72%
No CIEP LUA, 50% dos professores responderam que usam o fio dental mais de uma vez ao
dia, 36% uma vez ao dia e 14% ocasionalmente.
Gráfico 23: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do fio dental –
CIEP Lua
0% 14%
50%
36%
Gráfico 24: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do palito – CIEP
Sol
28%
44% Nunca
Ocasionalmente
Freqüentemente
Não opinou
0% 28%
No CIEP LUA, 14% não responderam, 7% usam ocasionalmente, 65% nunca usaram e 14%
usam freqüentemente.
Gráfico 24: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do palito – CIEP
Lua
14%
14%
7% 65%
Gráfico 25: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso de enxaguantes
bucais – CIEP Sol
14% 22%
Nunca
Ocsionalmente
Freqüentemente
Não opinou
36%
28%
Gráfico 25: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso de enxaguantes
bucais – CIEP Lua
7%
36%
Nunca
Ocasionalmente
Freqüentemente
57%
52
Gráfico 26: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do flúor - CIEP
Sol
6%
Na pasta de dente
29% Bochechos
47%
Ingestão água fluoretada
Através do dentista
6% Não opinou
12%
No CIEP LUA, 56% usam através do creme dental, 19% aplicações feitas pelo dentista, 19%
em soluções para bochechos e 6% não respondeu.
Gráfico 26: Auto-percepção de cuidados com Saúde Bucal quanto ao uso do flúor - CIEP
Lua
6%
19%
0% 56%
19%
6. DISCUSSÃO
O inquérito epidemiológico realizado para medir o índice de cárie dentária nos CIEPs
Sol e Lua, apesar de ser um estudo de caráter quantitativo, não deixa de chamar a atenção do
pesquisador sobre importância dos fatores sociais influenciando a saúde bucal destas
comunidades, situadas em áreas geográficas desfavorecidas. Os fatores sociais também ditos
ambientais podem nos ajudar a entender o porquê da falta de cuidados com a saúde e a saúde
bucal. Pudemos observar no cotidiano escolar, e mencionamos: o tamanho da família, a baixa
renda, falta de emprego dos pais, moradia precária, baixo grau de instrução, falta de flúor na
água de abastecimento público e a falta de estruturação da família no controle e prevenção de
doenças bucais.
Destacamos a influência dos colegas na formação de atitudes e valores em relação à
saúde bucal. As experiências positivas que acontecem quando da visita ao dentista do
consultório do CIEP, são disseminadas pelos alunos e aos poucos vão atingindo toda
comunidade escolar. Por tudo isso nos parece importante utilizar a escola como um meio
social para se promover à saúde bucal sem jamais deixar de perceber que os escolares não
vivem isolados do mundo e que suas escolhas são diretamente influenciadas por estes fatores
sociais.
Embora não tenhamos medido, observamos de forma direta uma enorme quantidade
de placa bacteriana depositada sobre a superfície dentária dos escolares, resultado da falta de
uso de métodos de higiene bucal. Como se não bastasse, a maioria que vai ao consultório da
escola quando perguntados, respondem que não usam creme dental devido à falta de recursos
dos pais para adquiri-los. Isto demonstra que estão desprovidos de qualquer fonte de
fluoretos, já que o creme dental é considerado um método bastante abrangente de se veicular
flúor à cavidade bucal por atingir as massas.
Navarro (1996), ao pesquisar alunos de escolas públicas da cidade de São Paulo,
enfatiza que é primordial ensinar práticas de higiene oral nas escolas, as quais considera locais
bastante viáveis e dos quais já se conhecem resultados positivos e concretos neste assunto.
Desta forma defende que a educação, o estímulo e a supervisão são fatores essenciais para que
as crianças em idade escolar desenvolvam os hábitos de higiene oral. Para ele, os estudantes
são abertos a novos conhecimentos, influenciam-se mutuamente e o ambiente escolar é
favorável a essas práticas.
54
Outro ponto que mereceu atenção é o tipo e a freqüência do alimento ingerido, seja ao
observar crianças no pátio, na sala de aula ou quando estes estão grudados aos dentes,
detectados no momento em que o escolar vai até ao consultório odontológico do CIEP.
Blinkhorn (1982) citado por Mialhe e Pereira (2003), afirma que a mãe de baixa renda
compensa sua ausência, ao apanhar os filhos na escola, oferecendo doces como forma de
afeto, assim como continuam a oferecê-los e a ingerí-los em casa. Estes alimentos são os
preferidos porque segundo Freire (1994) apud Mialhe (2003) são mais baratos.
A grande maioria dos alunos destes CIEPs reside em bairros adjacentes à escola e se
caracteriza por apresentar baixo nível sócio-econômico
Ainda segundo Mialhe e Pereira (2003), citando Mendonza e Col (1995) estudando a
atividade de cáries em escolares observaram forte associação entre esta e a freqüência da
ingestão de alimentos como salgadinhos, biscoitos e bebidas açucaradas e outros tipos de
guloseimas. Quanto maior a freqüência de ingestão de alimentos rapidamente fermentáveis e
de consistência pegajosa, maior a atividade de cárie dentária.
Não podemos deixar de comentar sobre o baixo nível de instrução das mães que nos
procuram no consultório do CIEPs que sabemos, assim como outros fatores já citados, tem
direta relação com o índice de cárie encontrado nos escolares.
Mialhe e Pereira (2003, p. 219) citam o estudo de Maltz e Silva (2001), que ao
selecionar uma amostra de 1000 alunos de escolas públicas e privadas avaliaram o nível de
escolaridade dos pais e observaram que existe uma forte correlação entre escolares com índice
CPO-D maior que 4 e pais com pouca instrução
Se consideramos o perfil epidemiológico da cárie dentária nos CIEPs Sol e Lua que
apresentam no ano de 2006 um CPO-D igual a 6,7, pode-se afirmar que apresentam os dois
CIEPs uma prevalência de cárie muito alta quando os dados são comparados ao que preconiza
a Organização Mundial de Saúde - OMS, em relação a esta doença para os anos de 2000 e
2010.
A meta da OMS para o ano de 2000 seria um CPO-D aos 12 anos, igual ou menor que
3,0 enquanto que para o ano de 2010 a meta é um CPO-D menor que 1,0 (OMS 1984; 1994
apud BASTOS e COL 2003 ).
A nível de população, o índice CPO-D é o resultado da soma de todos os dentes
atacados pela cárie dividido pelo número de indivíduos (alunos) examinados e é expresso por
uma média. Como as lesões de cárie aumentam com a idade, recomenda-se um cálculo
também por faixa etária (KLEIN e PALMER, 1937 apud PEREIRA & COL 2003).
55
saúde bucal durante a formação pedagógica. Uma falta de percepção dos professores quanto
ao seu papel na saúde pode transferir conhecimentos irreais aos alunos.
Torna-se necessário uma revisão curricular para uma melhor formação pedagógica ou
mesmo a capacitação sobre este tema (BOGUS et al: 1990 apud GRANVILLE-GARCIA
2007).
Quando questionados se trabalham o conteúdo saúde e higiene corporal com os alunos
todos os professores responderam que sim (GRÁFICO – 8).
De acordo com Valadão (2002), conteúdos sobre saúde e doenças, já no século
passado, foram agregados ao currículo nas disciplinas Higiene e Puericultura, hoje Ciências
Naturais ou Biologia. Com a lei 5692/71 de diretrizes e bases da educação, o tema saúde
tornou-se obrigatório no currículo com a denominação de Programas de Saúde. Sua finalidade
era despertar a criança e o adolescente para o desenvolvimento de hábitos saudáveis de
utilização prática para preservar sua saúde e a dos outros. Com a nova lei 9394/96 de
diretrizes e bases da educação e os Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais
(PCNS), saúde e orientação sexual tornaram-se temas mais expressivos para a aprendizagem
do aluno. São tratados como temas transversais que contribuem para a formação do ser como
um todo e repercutem em melhoras em sua vida pessoal e da coletividade. A escola trabalha
os temas saúde e orientação sexual de muitas formas em seu cotidiano, seja através dos
currículos, nas formas de relações interpessoais, através de projetos ou até mesmo quando
omite questões relevantes5.
Parreira e Teixeira (2002), nos falam que a elaboração dos PCNS é a realização de um
sonho de integrar saúde e educação e contribuir na formação continuada dos professores para
que se estruture uma nova cultura de saúde que vise obter qualidade de vida. Para que os
professores trabalhem os PCNS é necessária uma reflexão de suas práticas de saúde assim
como de alunos, funcionários e toda comunidade escolar. Os próprios PCNS cooperam para
que o professor dê sentido às questões de saúde que permeiam o dia a dia da escola, cujo
cenário é próprio para as trocas de conhecimentos entre alunos, pais, professores e
comunidade. Em outras épocas, quando da implantação vertical e obrigatória dos programas
de saúde, as ações de saúde na escola eram dirigidas apenas para a higiene pessoal. Hoje,
devido a sua importância na sociedade e às questões emergenciais que afloram, saúde deixou
de ser tema específico e passou a ser tratado como tema transversal. São as situações
concretas do cotidiano que surgem e o professor precisa organizar e ao mesmo tempo
5
O currículo nulo refere-se a tudo aquilo que os alunos não tem oportunidade de aprender sob a
responsabilidade da escola. São as ditas ausências (MOREIRA 1994, p. 4-5).
57
estimular as aprendizagens nas quais saúde é concebida como um direito, valorizando a sua
promoção.
Em outra questão procuramos saber dos professores com que freqüência os alunos
levantam dúvidas sobre saúde e higiene bucal.
Nos dois CIEPs pesquisados os professores, em sua maioria, responderam que só
ocasionalmente isto ocorre (GRÁFICO – 9).
Isto denota desinteresse pelas questões de sua saúde bucal ou mesmo aprendizagem
deficiente da importância desta para sua saúde como um todo, podendo mesmo ser influência
do meio cultural do qual o aluno participa.
Em um estudo feito por Tamietti e col (1998, p.44), com alunos de 5ª a 8ª séries numa
escola pública de Belo Horizonte, que possui equipe odontológica, constatou-se
desconhecimento de cuidados para manutenção da saúde bucal. Foram apontadas como
causas as formas tradicionais de educação que não despertam o interesse dos alunos,
desconsideram sua capacidade cognitiva e trabalham transmitindo conhecimentos como
ordens e como se estes fossem verdades incontestáveis.
Em outro estudo feito por Flores e Drehmer (2003, p.751), em escolas públicas de
bairros de Porto Alegre, dados coletados concluem que adolescentes consideram doença
somente as enfermidades que o impedem de realizar atividades rotineiras. No entanto cárie e
doença periodontal são considerados problemas comuns, aceitos como normais e decorrentes
de situações de desequilíbrio. Isto não desperta qualquer interesse por parte dos alunos em
relação a dúvidas porque para eles são doenças habituais. O tédio da rotina escolar e as
características comportamentais da adolescência também concorrem para esta indiferença
entre os jovens.
Os professores foram então questionados se trabalham o conteúdo “saúde e higiene
bucal” com os alunos, quais os recursos pedagógicos utilizados e com que freqüência os
alunos manifestam interesse pelo tema (GRÁFICOS 10, – 11, – e 12).
No presente estudo a maior parte dos professores dos CIEPs pesquisados respondeu
transmitir informações sobre saúde e higiene bucal para os alunos. Uma pequena parcela disse
não transmitir estas informações, porém não justificou quando perguntado o porquê.
Os professores afirmam que as informações são transmitidas principalmente através da
exposição oral em sala de aula, seguido de livros, revistas, folhetos informativos ou cartazes.
Outros recursos pedagógicos usados em ordem do mais para o menos usado são
respectivamente: pesquisa feita pelos alunos, filmes e aulas práticas.
58
não se concretiza, o ato de aprender será negativo, gerando medo e o aluno manifesta isto com
desinteresse.
Meyer (2006, p.1337-1344), fala que em diferentes experiências educativas práticas no
campo de educação e saúde, a implementação de programas com temas como drogas, álcool,
tabaco, práticas sexuais desprotegidas, gravidez na adolescência, nutrição ou trânsito, com
raras exceções, não mudam comportamentos das pessoas. Isto nos alerta para desviar o foco
de atenção da questão central em educação que é a mudança de comportamento. Necessita-se
visualizar que a educação é um conjunto de processos pelos quais os indivíduos vão se
transformando em sujeitos de uma cultura reconhecendo a existência de várias instituições
sociais mais ou menos formais envolvidas no processo de educar. No sentido mais amplo a
educação em saúde precisa ser pensada como um caminho para escolhas político-pedagógicas
significativas para um dado grupo ou contexto. Não se objetiva a homogenização das formas
de pensar ou levar a vida, mas uma cumplicidade na busca de proteção.
Quando os professores foram perguntados quanto à fonte de aquisição de
conhecimento em saúde e higiene bucal, observa-se variações do perfil das respostas entre os
professores dos dois CIEPs pesquisados (GRÁFICO –13).
No CIEP SOL a fonte que mais contribuiu foi a família, seguida da leitura de livros e
revistas, depois o cirurgião dentista e a seguir outros como a televisão, colegas e ensino
fundamental respectivamente. No CIEP LUA, o cirurgião dentista vem em primeiro lugar
seguido da família, ensino fundamental, livros e revistas, televisão e colegas respectivamente.
Importa observarmos que o papel da escola como fonte de informações sobre saúde
bucal não vem nos primeiros lugares entre os professores dos dois CIEPs. No presente
trabalho a escola representou a fonte de contribuição em aquisição desses conhecimentos para
20% dos professores do CIEP LUA. No CIEP SOL, apenas 4% dos professores afirmam ser a
escola a fonte de aquisição desses conhecimentos. Nas duas escolas, só o ensino fundamental
foi citado. Isto é preocupante já que é interessante para a escola e para os alunos que o
professor tenha conhecimento adequado sobre saúde incluindo a saúde bucal devido a sua
interação diária com os alunos e as oportunidades que tem de influenciá-los negativamente
caso não dominem o assunto.
Em relação à questão se há integração profissional entre cirurgiões dentistas e
professores, ambos os grupos de professores relataram em sua maioria que só às vezes ocorre
esta integração. Somente uma pequena parcela afirma haver esta integração ficando a resposta
não em posição intermediária nos dois grupos (GRÁFICO – 14).
60
Isto nos leva a re-pensar nosso trabalho no Programa de Saúde na Escola -PSE-, o
qual desenvolvemos dentro destes CIEPs buscando promover saúde bucal através de ações
básicas de saúde e saúde bucal, sejam elas preventivas, curativas ou até mesmo no convívio
com a comunidade escolar.
Medeiros et al (2004), afirmam a importância do trabalho multidisciplinar entre
cirurgiões dentistas e professores nas escolas, para a promoção de saúde bucal com vistas à
educação em saúde.
Ferraz (2002) apud Franchin et al (2005), observam que mesmo que professores se
mostrem capacitados para educação em saúde bucal não há integração entre escola, família,
equipes de saúde e ação política, o que facilitaria o desempenho dos professores.
Quando perguntados se o aluno escova os dentes no período que está na escola,
chama-nos a atenção dois fatos: (GRÁFICO – 15).
O primeiro é que no CIEP LUA, 79% dos professores respondeu que sim. Isto pode se
justificar porque neste CIEP, que é municipalizado, cada aluno possuía àquela época sua
escova de dentes identificada com seu nome no cabo, e doada pela prefeitura. Os alunos de 2ª
a 6ª feira realizavam a escovação após o almoço servido na escola. A escovação seria feita nos
lavatórios do térreo que ficam ao lado do refeitório às vistas do professor e sob a supervisão
da ACD- auxiliar de consultório dentário do PSE.
O outro fato é que no CIEP SOL, que não é municipalizado, 36% dos professores
respondeu que sim. Isto parece contraditório ao observar as condições sócio-econômico e
culturais dos alunos e de seus pais que desconhecem o uso da escova de dentes por não terem
condições de adquiri-la ou não darem valor ao ato da escovação, como nos mostra a prática
profissional. Os alunos que vão ao consultório odontológico destes CIEPs não possuem o
hábito da escovação, muitas vezes só sendo realizada por nós na consulta odontológica.
Observamos um alto índice de placa bacteriana quando da realização de exames clínicos.
Permanece nestas comunidades a cultura da não higienização bucal e a perda dos dentes é tida
como processo natural e gradativo.
Nos dois CIEPs pesquisados, 21% dos professores não tem a percepção se seus alunos
fazem a escovação diária na escola. Isto parece demonstrar que higiene e saúde da boca não é
fundamental ou mesmo não diz respeito às suas tarefas.
Se o professor assume uma postura de dar significado ao ato da escovação como algo
importante e inerente ao processo de aprendizagem, os alunos o imitarão, o que mostra a
capacidade de influência que o professor exerce sobre os alunos (ROCHA, PEREIRA 1994,
citados por FRANCHIN et al 2005).
61
Sutcliffe (1983) apud Freire, Melo (1996), afirma que a prática de higiene bucal está
direcionada à menor incidência de cárie embora não haja relação de causa e efeito, já que a
cárie é uma doença multifatorial. Pais ou crianças que já tem hábitos de higiene bucal são
mais conscientes em adquirir outros hábitos básicos de prevenção em saúde.
Barros et al (2001), considera a importância da higiene bucal na prevenção de doenças
bucais em nossos dias, preconizando o uso de métodos preventivos eficazes que tenham
alcance coletivo e impacto na sociedade como o é o uso da escova para limpeza das
superfícies dentais.
Já Chaves (1986), relaciona escovação à promoção de saúde bucal na medida em que
aquela provê o indivíduo de melhores condições para resistir ao ataque de cáries conseguindo-
se assim um ambiente favorável à sua saúde bucal e conseqüentemente à saúde como todo.
Em um estudo clínico com escolares de uma escola pública estadual da cidade de São
Paulo, Navarro (1996), conclui que há necessidade de enfatizar o ensino de práticas de
higiene bucal em escolares em estabelecimentos de ensino. Preconiza que sua implementação
é viável e que pode alcançar resultados positivos concretos em Saúde Pública.
Numa outra questão que se refere ao ato dos alunos ingerirem alimentos com
freqüência e fora dos horários das principais refeições, não se nota diferença nas respostas
entre os CIEPs. A maioria respondeu que sim (GRÁFICO – 16).
Freire e Melo (1996, p.219), citam o estudo de Blinkhorn (1982) feito com crianças
que freqüentam creches, no qual observou-se que a área de residência influencia as condições
de saúde bucal e os hábitos alimentares quanto ao consumo de açúcar durante o dia. Ao
apanharem seus filhos na escola os pais oferecem-lhe doces como forma de compensação de
sua ausência bem como permitem que continuem o consumo em casa, com o mesmo objetivo.
Pais de nível sócio-econômico mais elevado tem predisposição em acatar
recomendações nutricionais em geral e relativas a diminuição do uso de sacarose na dieta
(PERSSON e SAMUELSSON 1984, citados por FREIRE , MELO 1996).
Freire Melo (1996), pesquisando creches na cidade de Goiânia concluíram que as
condições de saúde bucal de crianças com índices elevados de cárie tem relação muito mais
com os fatores externos à escola, ou seja, àqueles de dentro de seus lares. Isto devido ao curto
tempo que as crianças permanecem dentro das creches. O alto índice de cáries é então
atribuído à alta ingestão de carboidratos em seus lares, à falta de acesso aos fluoretos no
creme dental e na água de abastecimento, assim como a falta de informação dos pais sobre
saúde bucal.
62
Por outro lado, no estudo que realizamos, as crianças permanecem nos CIEPs por um longo
período diariamente. Como observado por nós in loco, dentro da escola há um alto consumo e
alta freqüência de ingestão de alimentos açucarados adquiridos por eles próprios fora do
ambiente escolar. Há que se considerar não só o fator açúcar como condicionante do alto
índice de cárie dentária encontrada nos alunos dessas escolas. Porém este tem um grande peso
quando somado às privações nos quais vivem essas comunidades e sua herança cultural.
Caufield et al (2005), apontam a cárie dentária como doença do homem moderno e que vem
aumentando devido às dietas ricas em sacarose.
Os professores foram questionados se os antibióticos causam cáries (GRÁFICO – 17).
Nos dois CIEPs a maioria dos professores mantém este pensamento. Este questionamento foi
feito em virtude de não raro escutarmos pessoas na clínica que para justificar a falta de
cuidados com a saúde bucal sua ou de um filho pronunciam a seguinte frase: -“Ele(a) tomou
muito antibiótico quando pequena(o) e seus dentes estragaram”.
O fato de a maior parte dos professores responder sim a esta pergunta, mostra que
acreditam neste mito, o qual é passado de geração em geração. Isto é preocupante. O
professor diz em questionamento anterior passar conteúdos sobre saúde bucal para os alunos,
mas desconhece as reais causas das lesões cariosas. Poderá ocorrer uma transmissão
equivocada de informações perpetuando a cultura do senso comum que não deve ser negada,
mas que não explica o processo carioso e suas causas de maneira adequada.
Estudos como os de Tamietti et al (1998, p.38-41), em uma escola pública de Belo
Horizonte procuraram investigar esta questão junto aos adolescentes alunos dessa escola e
observaram que 80% destes consideram antibiótico causador de cáries dentárias. Ele comenta
sobre o antibiótico tetraciclina, que se tomado por crianças ou grávidas nos períodos de
calcificação dos dentes, afeta a estrutura dental que apresenta manchamentos intrínsecos mais
ou menos escurecidos de acordo com a intensidade e o período das doses. Outros antibióticos,
se usados nos períodos pré-eruptivos, não afetam em nada a calcificação dentária. Talvez essa
crença de se atribuir ao antibiótico o poder de causar cáries venha de uma má interpretação ou
desconhecimento da população dessas informações, incluindo-se os professores.
A explicação para a criação deste mito também pode ser entendida pela presença de
sacarose nos antibióticos de uso infantil na forma de xaropes, que se tomados sem as devidas
medidas de prevenção, podem acelerar o processo carioso (HOLMAK et al 1989, citado por
TAMIETTI et al 1998). A análise de vários antibacterianos nacionais em solução e de uso
pediátrico feito por Neiva et al (2001) apud Mialhe e Pereira (2003), permitiu observar que
estes apresentam altas concentrações de sacarose, elevada viscosidade e ph inferior ao
63
tolerado pelo esmalte dentário para o início da desmineralização, podendo se usados com
freqüência e sem os cuidados de higiene oral, levar à progressão rápida de lesões cariosas.
O conhecimento da cárie como doença infecciosa foi investigado entre os professores
(GRÁFICO –18).
De acordo com os resultados obtidos observa-se o baixo grau de conhecimento dos
professores sobre cárie como uma doença que pode ser transmitida. No CIEP SOL, apenas
14% respondeu ser a cárie doença infecciosa. Isto revela que a formação do professor ou as
fontes de aquisição de conhecimentos sobre saúde bucal podem estar ineficientes. No CIEP
LUA este número subiu para 43% mostrando que parecem estar um pouco mais informados.
A transmissibilidade da cárie foi demonstrada definitivamente em 1960 através de
estudos de Keys que a enquadrou como doença infecciosa. Há fidelidade de transmissão da
cárie dentária de mãe para filho ainda bebê, transmissão vertical, num período chamado de
primeira janela de infectividade (KEYS 1960, citado por CAULFIELD et al 2005). A
transmissão horizontal, segundo Keys (1960) apud Pinheiro et al (2005), pode ocorrer
através do uso em comum de utensílios domésticos e pelo beijo na boca. Navarro (1994) apud
Tamietti et al (1998), acrescenta ainda que o beijo pode transmitir em média 600 mil
bactérias cariogênicas comprometendo a saúde bucal da outra pessoa.
O fato do professor não considerar a cárie como doença transmissível nos leva a voltar
nossa atenção para a maneira pela qual todos nós, incluindo os cirurgiões dentistas, estamos
educando em saúde bucal. Muitas vezes, para facilitar o processo educativo ou mesmo a
comunicação com crianças, acabamos usando termos que criam conceitos distorcidos da
realidade como: -“O bichinho vai comer seu dente” ou correlacionando placa bacteriana à
“sujeira”. Desta forma conceitos inadequados poderão ser perpetuados entre a população
(SANTOS et al, 2002).
Quando questionados se a dieta alimentar pode influenciar a saúde dos dentes, a maior
parte dos professores de cada CIEP respondeu positivamente, sendo 79% os do CIEP SOL e
100% no CIEP LUA. Neste item as respostas foram satisfatórias (GRÁFICO – 19).
A dieta que corresponde a tudo o que é ingerido independente de seu valor nutritivo,
pode influenciar diretamente a saúde dos dentes. Os alimentos em contato com a superfície
dentária podem ser modificados por outros fatores presentes no meio, favorecendo ou não o
desenvolvimento das lesões cariosas (NIKIFORUK 1970, citado por BEZERRA e TOLEDO
1999).
64
A literatura afirma que mais de cem estudos feitos comprovam que realizar escovação
com dentifrício fluoretado reduz a incidência de cáries (WORLD HEALTH
ORGANIZATION 1994, citado por BUISCHI 1999).
Em relação ao uso do fio dental, 72% dos professores do CIEP SOL e 50% do CIEP
LUA afirmam que o utilizam mais de uma vez ao dia. Também há professores que nunca
usam ou só o fazem ocasionalmente. Porém não se sabe se o seu uso está se processando de
maneira correta. Muitos pacientes na clínica fazem diferentes alegações para justificar o não
uso do fio dental: -“Minha gengiva sangra porque o fio machuca”ou “Meus dentes são
muitos juntos e o fio não entra”. O que se observa é um desconhecimento tanto da forma
correta de uso deste método de prevenção como da morfologia dental que se hígida ou com
restaurações funcionais, sempre permite o acesso do fio dental, tão necessário na remoção da
placa bacteriana na área interproximal (GRÁFICO – 23).
Embora a prevalência de cáries e gengivites seja alta nas superfícies interproximais
devido ao acesso limitado da escova dental, requerendo um cuidado adicional na remoção da
placa bacteriana nesta região, a maior parte das pessoas não se preocupa em higienizar esta
área. O uso do fio dental vem complementar a escovação e está recomendado para remover a
placa bacteriana interproximal podendo até remover a placa depositada subgengivalmente na
região de molares (BUISCHI, 1999, p.130).
Observa-se que existe uma variedade de respostas em relação ao uso do palito.
Também uma parcela significativa de professores não opinou neste item. Nos dois grupos
estudados 46% nunca usou, 18% usa ocasionalmente, 7% com freqüência e 29% não opinou.
Há diferença entre os dois CIEPs. No CIEP SOL, 28% nunca usou e 28% só usa
ocasionalmente Os outros 44% não opinaram. No CIEP LUA, 65% nunca usou, 14% usa
freqüentemente, 7% ocasionalmente e 14% não opinou ( GRÁFICO – 24).
Talvez essa indecisão em usar ou não o palito dever-se ao desconhecimento da
população dos benefícios deste método quando usado de forma correta. Um fator a ser
considerado é o de nós, cirurgiões dentistas, não difundirmos seu uso. Outro motivo pela
afirmação do não uso do palito pode estar vinculado a questões de boas maneiras.
Buischi (1999, p.133), acrescenta que como a placa bacteriana interproximal em
adultos jovens fica ocultada devido à papila gengival preencher todo o espaço interproximal,
principalmente em dentes posteriores, é preconizada a utilização do palito para limpeza destas
regiões inserindo-o pela região do dente voltada para a língua, ou seja, lingual. Em adultos
nos quais o espaço interproximal já se encontra mais ampliado, o uso do palito é
recomendável em todas as faces interproximais. Quando perguntados sobre o uso de
66
enxaguantes bucais há diferentes respostas nos dois grupos pesquisados quanto à freqüência
de uso (GRÁFICO –25).
No CIEP SOL, 36% usam freqüentemente, 28% ocasionalmente, 22% nunca usam e
14% não opinou. No CIEP LUA, 14% usam freqüentemente, 57% ocasionalmente e 7%
nunca usam.
No mercado existe uma variedade de enxaguantes bucais com as mais diferentes
composições. Sabemos que seu uso deve ser diário e contínuo, mas segundo Assaf (2003),
enxaguantes bucais só trarão benefícios se tiverem em sua composição substâncias de efeito
antimicrobiano que irão controlar a quantidade de placa bacteriana produzida. Duas
substâncias presentes nos enxaguantes que atendem a esta exigência são: a clorexidina um
antimicrobiano e o flúor com seu poder antimicrobiano e remineralizador.
Como observamos na clínica, o efeito antimicrobiano dos enxaguantes bucais ou
mesmo seu poder de remineralização de lesões cariosas no esmalte dental quando em sua
composição está presente o flúor, é desconhecido por grande parte das pessoas. Estes não são
usados pela população para um controle químico terapêutico da placa bacteriana, mas como
nos falam Flores e Drehmer (2003), muito mais para evitar que odores da boca possam
dificultar a convivência e causar constrangimentos entre as pessoas, garantindo-lhes boa
aparência.
Questionados sobre quais métodos lançam mão para levar flúor à cavidade bucal
houve uma diferença importante entre as respostas dos professores nos dois CIEPs . Os meios
que o professor usa quase se repetem nas duas escolas. Em primeiro lugar o creme dental
fluoretado, a seguir as aplicações feitas pelos cirurgiões dentistas e os bochechos com
soluções fluoretadas respectivamente. Um dado importante e que faz a diferença entre estes
dois grupos de professores é que no CIEP SOL uma parcela correspondente a 6% ingere água
fluoretada (GRÁFICO – 26).
O CIEP SOL localiza-se em região onde a água de abastecimento público é
fluoretada. Apesar disso uma grande parcela da população não tem acesso à água tratada e
mesmo em bairros próximos à área central da cidade continua a ingerir água de poço. Da
mesma forma professores residentes em diferentes áreas geográficas da cidade muitas vezes
não se beneficiam deste bem público quanto mais a clientela estudantil dos CIEPs que reside
em locais periféricos desassistidos.
O CIEP LUA está situado em região onde a água de abastecimento público não é
fluoretada. Além do creme dental, as veiculações de flúor à cavidade bucal se dividem entre
67
7. CONCLUSÕES
atuais e suas dimensões afetivas e culturais alastraram-se pela escola mesmo que de forma
desorganizada do currículo.
Este estudo destacou a figura do professor como o principal ator na construção diária de
um conhecimento compartilhado a caminho da promoção de saúde em escolares, objetivo
maior do PSE. Diante disto conclui-se que para que uma aliança entre estas partes se
concretize, precisamos, como afirma Valadão (2004), desmistificar uma idéia muito difundida
da resistência dos professores em trabalhar temas extracurriculares de significado social. Os
professores a cada dia incorporam à sua prática pedagógica muitas vezes de forma espontânea
ou desordenada do currículo estas questões sociais relevantes, mesmo sem um projeto cultural
pedagógico.
Os resultados deste estudo demonstram que a promoção de saúde bucal na escola é
vivenciada ainda de forma tímida ou descompromissada, situação que pode estar relacionada
a problemáticas tais como:
• Desvalorização do magistério
• Carência de programas de educação continuada para aprimoramento profissional
• Falhas no sistema de ensino profissional oferecido aos professores em geral
• Falhas no setor de saúde aqui representado pelo PSE em assumir a população escolar
nas ações educativas em saúde
• Carência de alianças entre trabalhadores da saúde, professores, gestores e comunidade
escolar
Conclui-se que a participação dos professores relacionadas à promoção de saúde bucal
na escola em parceria com o PSE pode constituir-se num caminho sob determinadas
condições:
• Quando o professor associar a teoria à prática compreendendo saúde como direito de
todos, inclusive de crianças e adolescentes e seja competente para reconhecer seu
papel de educador em saúde assim como o setor de saúde representado pelo PSE seja
competente para assumir a população escolar nas ações educativas, de assistência
individual e aplicação de tecnologias.
• Ao buscar desenvolver um trabalho conjunto com os professores, que os auxilie a
refletir, opinar, participar nas questões de promoção de saúde e saúde bucal na escola,
contempladas nos objetivos do Programa Saúde na Escola –PSE.
70
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Barros OB, Pernambuco RA, Tomita NE. Escovas Dentais. PGR- PÓS GRAD Rev
Fac. Odontol. São José dos Campos 2001;v.4;n1;32-37.
3. Bastos JRM, Peres SHCS, Ramires I. Educação para a saúde. In: Pereira AC &
Colaboradores. Odontologia em saúde coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2003. cap.6, p.117-
139.
4. Berg JH. Detecção Precoce de Cáries Dentárias como Parte da Manutenção da Saúde
Bucal Infantil. Compêndium de Educação Continuada em Odontologia 2005; v.26; 5
(supl.1); p.26-31.
5. Bezerra ACD, Toledo AO. Nutrição, Dieta e Cárie.In: Kriger L. ABOPREV: promoção
de saúde bucal. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. cap.3, p. 43-68.
6. Botazzo C. Saúde bucal e cidadania: transitando entre a teoria e a prática. In: Pereira
AC & Colaboradores. Odontologia em saúde coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2003. cap.1,
p.18-27.
10. Cardoso AL, Medeiros UV, Bastos LF. Evolução da prática odontológica: educação em
saúde em seu contexto.RBO,v.63,n 1 e 2, p.45-48,2006.
11. Caulfield PW. Cárie Dentária: Uma Doença Infecciosa e Transmissível. Compendium
de Educação Continuada em Odontologia 2005; v 26; 5(sup.1); p.11-18.
12. Cavaliere AM. Para Onde Caminham Os CIEPs? Uma Análise Após 15 Anos. Cad. de
Pesquisa, São Paulo,v. 119, p.149-176,2003.
14. Chaves M. Odontologia Social. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1986.
15. Cruz GM, Salvador MS, Drumond MM. Satisfação Do Usuário Adolescente Em
Relação A Um Programa De Saúde Bucal Escolar: Um Estudo Qualitativo. Arquivos em
Odontologia, Belo Horizonte, v.41,n.2,p.105-192,abr/jun.2005.
16. Dias AF, Barbosa GB, Prais MLCF. Papel Social Da Escola Na Construção De Hábitos
Saudáveis Por Meio Do Programa De Promoção Da Saúde Bucal Bucal.[Monografia de
Especialização em Saúde Coletiva].Brasília: Associação Brasileira de Odontologia DF;2004.
18. Egypto AC, Vonk FVV, Barbirato MA, Silva MCP, Saião Y. A escola e o professor no
trabalho com orientação sexual, prevenção da DTS/AIDS e drogas. Programa Salto para o
Futuro/TVescola,2002.Disponível em:
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/sos/teimp.htm [ 2008 jan. 25]
73
20. Flório FM, Pereira AC. Alicerce para a promoção de saúde bucal: o início precoce. In:
Pereira AC & Colaboradores. Odontologia em saúde coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2003.
cap. 25, p.413-425.
21. Franchin V, Basting RT, Mussi AA, Flório FM. A importância do professor como
agente multiplicador de Saúde Bucal. Rev. da ABENO 2005;v.6(2); 102-108
22. Freire MCM Melo RB.Assistência À Saúde Bucal Nas Creches De Goiânia. ROBRAC
– Revista Odontológica do Brasil Central,6(18),p.04-08;1996
23. Graville-Garcia AF, Silva JM, Guinho SF, Menezes V. Conhecimento de professores do
ensino fundamental sobre saúde bucal.Porto Alegre. RGO Porto Alegre;2007;55;29-34.
26. Medeiros MID, Medeiros LADM, Almeida RVD, Padilha WWN. Conhecimentos e
Atitudes de Professores de Ensino Fundamental Sobre Saúde Bucal: Um Estudo
Qualitativo. Pesq Bras Odontoped Cln Integr, João Pessoa, v.4,n.2, p.131-136; maio/ago
2004.
27. Meneghim MC. Dieta, nutrição e cárie dentária. In: Pereira AC & Colaboradores.
Odontologia em saúde coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2003. cap.17, p.301-309.
74
28. Meyer DEE, Mello DF, Valadão MM, Ayres JRCM. Você aprende.A gente ensina?
Interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da vulnerabilidade.
Cad. Saúde Pública(FIOCRUZ), 2006; v.22(6), p.1335-(1342).
29. Mialhe FL, Pereira AC. Diagnóstico da doença cárie. In: Pereira & Colaboradores.
Odontologia em saúde coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2003. cap.13, p.216-240.
32. Ministério da Saúde; Valadão, Marina Marcos. Saúde na Escola.[on line]. Textos de
Apoio.Brasília(DF), 2002. Disponível em
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/sos/teimp.htm [ 2007 jul. 13]
33. Nadanovsky P.Promoção Da Saúde E A Prevenção Das Doenças Bucais. In: Pinto
VG.Saúde Bucal Coletiva. 4.ed., São Paulo: Santos, 2000.cap.9, p.293-310.
34. Navarro RS, Esteves GV, Youssef MN. Estudo Clínico Do Comportamento De
Escolares Mediante Escovação Supervisionada E Motivação No Controle De Placa
Bacteriana. Rev.Odontol.Univ. São Paulo 1996;v10;n.2;153-157.
35. Oliveira TCC. Escola Pública em Tempo Integral: a experiência dos CIEPs em
Americana – SP.[Monografia para obtenção do título de licenciado em Pedagogia].
Campinas: Faculdade de Educação,Universidade Estadual de Campinas;2006.
37. Pereira AC. & Colaboradores. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e
promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed, 2003.
38. Petry PC, Pretto SM. Educação e Motivação em Saúde Bucal. In: Kriger L. ABOPREV:
promoção de saúde bucal. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1999. cap. 7, p. 121-139.
39. Pinheiro HHC, Cardoso DG, Araújo MVA, Araújo IC. Avaliação do nível de
conhecimento sobre saúde bucal dos professores da Creche Sorena, Belém, Pará. Rev.
Inst Ciênc Saúde 2005 out/dez; 23(4);297-303.
40. Pinto VG. Saúde Bucal. Odontologia Social e Preventiva. 3.ed., São Paulo: Santos, 1992.
41. Pinto VG. Saúde Bucal Coletiva. 4. ed., São Paulo: Santos, 2000.
44. Santos PA, Rodrigues JA,Garcia PPNS. Avaliação Do Conhecimento Dos Professores
Do Ensino Fundamental De Escolas Particulares Sobre Saúde Bucal. Rev. Odontol.
UNESP, São Paulo,31(2):205-214,2002.
45. Silveira EG, Silva RHH, Almeida ICS. Uma Metodologia Para Um Programa
Educativo Preventivo Em Saúde Bucal Para Escolares. Rev Paul. Odontol.v.20,n.1;p.8-16
g, 1998.
47. Tamietti MB, Castilho LS, Paixão HH. Educação Em Saúde Bucal Para Adolescentes:
Inadequação De Uma Metodologia Tradicional. Arquivos em Odontologia, Belo
Horizonte, v.34, n.1,p.33-45, g 1998.
76
9. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ANEXO I
QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES
79
Questionário
Licenciatura em Biologia
( ) Sim ( ) Não
80
( ) Sim ( ) Não
( ) Filmes
O que o leva a não trabalhar este conteúdo? (Se necessário marque mais de uma
alternativa)
6. Qual fonte mais contribuiu para sua aquisição de conhecimentos em Saúde e Higiene
Bucal?
( ) Família
( ) Televisão
8. Seus alunos escovam os dentes pelo menos uma vez durante o período que estão na
escola?
9. Seus alunos costumam alimentar-se durante o período que estão dentro da sala de aula
fora do horário do recreio?
( ) Sim ( ) Não
10. Para você a cárie dental pode ser causada pelo uso de antibióticos?
( ) Sim ( ) Não
( ) Sim ( ) Não
12. Você acha que a dieta alimentar pode influenciar na saúde dos dentes?
( ) Sim ( ) Não
13. Você acha que a freqüência da ingestão de alimentos pode influenciar na saúde dos
dentes?
( ) Sim ( ) Não
14. Ao realizar sua higiene bucal, o que você usa e com que freqüência?
( ) Escova de dente
( ) Palito
( ) na pasta de dente
ANEXO II
RESOLUÇÃO CONJUNTA SEE – SEDEC – SES
85
86
87
ANEXO III
AÇÕES EDUCATIVAS E PREVENTIVAS EM SAÚDE BUCAL
DESENVOLVIDAS NOS CIEPs PELA EQUIPE DO PSE
88
89
ANEXO IV
AÇOES CURATIVAS EM SAÚDE BUCAL DESENVOLVIDAS
NOS CIEPs PELA EQUIPE DO PSE
90