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Qualquer interferência precisa ser justificada, com argumentos econômicos e técnicos. Os motivos técnicos de
restringir vôos de mais de mil quilômetros, eu desconheço. Se você não consegue justificar tecnicamente, fica uma
decisão política, o que é péssimo. Por isso, as companhias começam a driblar as regras. Elas investem milhões de
dólares em aeronaves, pensando numa política, e a regra muda da noite para o dia. São medidas que não servem
para nada, não são previamente estudadas. A regulação no setor não é racional, é reativa e emocional.
Já era assim na época dos militares, criticados por não justificar suas medidas. A agência civil, o Ministério da Defesa,
é tudo a mesma coisa. É preciso parar para pensar, não dá para agir de rompante. Restringiu-se em mil quilômetros
com base em quê? Por que mil é bonito? E 950 ou 1.500?
O sr. acha que o governo deveria definir uma vocação para Congonhas, como, por exemplo, vôos a
negócios. Seria uma saída?
Não, privilegiar o passageiro de negócios não é uma justificativa econômica. Todos são iguais perante a lei, o turista e
o empresário. Um exemplo de boa justificativa econômica foi a transferência de vôos fora da ponte aérea do Santos
Dumont para o Galeão. Havia capacidade ociosa no Galeão. Em Guarulhos, não há capacidade ociosa. E para jogar o
tráfego para Campinas há um custo social de deslocamento, sem falar no custo ambiental.
O ministro Jobim provocou polêmica ao exigir das companhias que aumentem o espaço entre as poltronas.
O que o senhor acha disso?
No mundo inteiro a configuração interna do avião é de responsabilidade da companhia. Com emoção não se raciocina.
Daqui a pouco vão exigir a volta das poltronas executivas nos vôos domésticos. Uma coisa é o passageiro reclamar,
outra coisa é a autoridade.
A mudança na Anac e a criação da Secretaria de Aviação Civil vão resolver a falta de comando?
Só uma diretoria técnica e competente na Anac não resolve. Continua faltando planejamento integrado. A Infraero só
olha para os aeroportos, a Anac só cuida de fiscalizar - quando fiscaliza - e a Aeronáutica só olha para o controle. Do
jeito que a secretaria foi estruturada, não muda nada. Estou cético. A secretaria foi pensada para arrumar a casa e
não para pensar no longo prazo.
Para fazer o que estão fazendo não precisava de secretaria. Tem uma diretoria para olhar a Infraero, outra para a
Anac, outra para o espaço aéreo. Você tem diretorias dentro da secretaria, pois não confia nos outros braços. É
absurdo. Para que serve a Anac se tem uma diretoria que cuida dela? É o órgão para supervisionar o órgão. Se a
estrutura é ineficaz, tem de acabar com a estrutura antiga.
É preciso fazer um estudo sobre as atribuições de cada um e acabar com as sobreposições. Não se sabe quem manda.
A Anac, teoricamente, tem de regular e fiscalizar os aeroportos e a Infraero administrá-los. Ela não pode meter o dedo
no controle do espaço aéreo. Mas aí tem problema em aeroportos com base aérea. Não se sabe quem manda. A
aviação está fragmentada. Agora tem outra fragmentação, na Defesa. Em vez de reduzir o número de caciques,
aumentaram.
A crise vai acabar em março do ano que vem, como prevê Jobim?
No dia 1º de março começa a baixa temporada. Na baixa, tudo melhora. Até a próxima temporada. De novo, o
culpado é o crescimento econômico, como disse lá atrás o ministro Guido Mantega. A culpa é do passageiro que quer
viajar.
A crise aconteceu porque ao longo de 6, 7 anos o investimento foi contingenciado e muito do que foi investido foi em
cima de decisões erradas. Não vai ser em um ano que vamos resolver o problema.
Fonte: O Estado de São Paulo - 04/11/2007
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071104/not_imp75204,0.php