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PROCESSO N. 96.0004704-9
SENTENÇA
1. RELATÓRIO
Na fase de diligências (CPP, art. 499), o MPF requereu que fosse oficiado
o Ministério da Fazenda no estado da Paraíba para enviar informações sobre o
procedimento administrativo de sindicância instaurado para a apuração dos fatos
sobre que versam os presentes autos, bem como a juntada das certidões
atualizadas dos cartórios distribuidores criminais das justiças federal e estadual
nesta capital, além da folha de antecedentes atualizada do INI/DPF em relação aos
denunciados (fls. 970/971).
É o relatório.
DECIDO.
2. FUNDAMENTAÇÃO
Humberto César Monteiro de Farias (fl. 27), ouvido pela autoridade policial,
afirmou que não conhecia Nelcijone da Costa Monteiro e recusou-se a fornecer
material gráfico para o exame grafotécnico.
interrogatório, hoje, se trata de meio de defesa, entendo que não cabe ao juiz
obrigar o réu a prestar interrogatório. Nessa linha, adoto a tese de que a própria
ausência do acusado pode traduzir parte da estratégia de defesa, o que deve ser
aceito em razão da garantia constitucional da amplitude de tal direito.
Judas Tadeu Costa de Lima declarou estranhar o fato de haver sido indicado
como testemunha, pois teria participado de uma comissão disciplinar para apuração
desses fatos, recordando-se que o posicionamento da comissão foi pela aplicação
da pena de demissão, não sabendo se houve alguma falha ou se haveria sido
designada outra comissão.
O fato de tal assinatura ter sido conferida pelos fiscais – segundo relatos da
“mecânica do concurso”, já comentados acima – nos diz que a assinatura constante
da folha de presença era a mesma que constava da carteira de identidade (item 1) e
do cartão de inscrição (item 2), relembrando-se que o candidato somente poderia
fazer a prova se apresentasse os dois documentos e se as assinaturas coincidissem
“entre si”, bem como a conferência visual do sujeito com a fotografia constante da C.
I. e do cartão de inscrição.
Daí porque, não obstante a inexistência nos autos dos referidos documentos
(carteira de identidade e cartão de inscrição utilizados por Humberto para fazer as
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que deles tinha perfeito conhecimento, uma vez que seu objetivo dependia
necessariamente, como antecedente instrumental, desses fatos delituosos. Trata-se,
portanto, de participe dos crimes de falsidade material e uso de documento falso,
devendo por eles responder na medida de sua culpabilidade, a teor do art. 29 do
Código Penal brasileiro.
Mesmo que eu viesse a adotar uma linha bem mais rígida na apreciação da
prova e negasse a constatação da autoria da falsidade do documento de identidade
e do cartão de inscrição por Humberto César Monteiro de Farias, ainda assim teria
de concluir que Humberto César usou efetivamente ambos os documentos falsos
como meio necessário para submeter-se às provas do concurso e lograr a
aprovação de Nelcijone da Costa Monteiro.
Em outras palavras, ainda que não se entenda ser Humberto César o autor
da falsificação dos documentos (CP, art. 297), é indubitável entender-se que foi o
autor, no caso em tela, de um crime de uso dos mesmos documentos falsificados
(CP, art. 304), para cuja prática o Código Penal comina rigorosamente as mesmas
penas do crime de falsificação (crime secundariamente remetido).
297 do Código Penal brasileiro. O uso dos documentos falsos, por aplicação do
princípio da consunção, fica absorvido pela condenação nos crimes de falsidade
material.
Por fim, entendo que, embora hajam sido três os documentos falsificados
por condutas distintas, as falsificações ocorreram numa seqüência interligada
espacial, temporal e teleologicamente, não sendo adequado visualizar um concurso
real de crimes. A distinção entre as condutas através de que se obteve cada uma
das falsificações também impede a configuração de um concurso ideal de crimes.
Por outro lado, a conexão intrínseca entre os fatos afasta o concurso real. Nessa
ordem de idéias, penso que a situação se amolda com perfeição à figura da
continuidade delitiva, nos termos do art. 71 do Código Penal brasileiro.
Por outro lado, não se pode argumentar que o prejuízo teria sido causado ao
candidato preterido pela nomeação de Nelcijone. Primeiro, porque o crime, nesse
caso, não teria sido cometido em prejuízo de entidade de direito público, mas de
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3. HC DENEGADO.
3. FIXAÇÃO DA PENA
1
HC 79966 / SP - SÃO PAULO
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 13/06/2000 Órgão Julgador: Segunda Turma
20
Atento a essas circunstâncias e aos limites abstratos do art. 297 do CP, fixo
a pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.
Publicação
DJ 29-08-2003 PP-00034 EMENT VOL-02121-15 PP-03023
PACTE. : INAIÁ MARIA VILELA DE LIMA
PACTE. : WALTER VILLELA PINTO
IMPTE. : ALFREDO DE ALMEIDA
COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(oito) meses de reclusão, para cumprimento em regime inicial semi-aberto (CP, art.
33, § 2º, “b”).
quarenta penas restritivas e quarenta penas de multa (uma restritiva e uma de multa
para cada crime).
Por esse motivo, penso que a tese no sentido de que o exame deve ser feito
desconsiderando-se a continuidade delitiva leva a situações absurdas, que devem
ser evitadas pelo julgador na interpretação e na aplicação do direito.
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HC 79966 / SP - SÃO PAULO
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 13/06/2000 Órgão Julgador: Segunda Turma
Publicação
DJ 29-08-2003 PP-00034 EMENT VOL-02121-15 PP-03023
PACTE. : INAIÁ MARIA VILELA DE LIMA
PACTE. : WALTER VILLELA PINTO
IMPTE. : ALFREDO DE ALMEIDA
COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Atento a essas circunstâncias e aos limites abstratos do art. 297 do CP, fixo
a pena-base em 4 (quatro) anos de reclusão.
Por esse motivo, penso que a tese no sentido de que o exame deve ser feito
desconsiderando-se a continuidade delitiva leva a situações absurdas, que devem
ser evitadas pelo julgador na interpretação e na aplicação do direito.
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4. DISPOSITIVO
Diante do exposto, com fundamento no art. 383 c/c os arts. 387 e seguintes
do CPP, julgo PROCEDENTE a denúncia e CONDENO Nelcijone da Costa
Monteiro e Humberto César Monteiro de Farias como incursos no art. 297 (três
vezes) c/c os arts. 29 e 71, todos do Código Penal, aplicando-lhes, a cada um:
Custas ex lege.
João Pessoa,