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E este mesmo homem se tornou, com o passar dos anos, deão da Catedral de São Paulo, respeitado por seus sermões, em que
discutia com brilhantismo os dilemas da fé, num tempo em que a religião era, literalmente, um assunto de vida ou morte.
A propósito, tão grande era a importância da religião que a poesia religiosa, negligenciada na era elisabetana, volta a aparecer
com destaque. O próprio Donne escreveu poesia religiosa, embora a impressão que ela nos passa e mais de brilhantes discussões com
Deus, temperadas pelo medo e pela dúvida, do que de devoção sincera a Ele.
Na mesma linha da poesia religiosa de Donne, porém mais contida, está George Herbert (1593-1633), outro metafísico. À
maneira de Donne, Herbert usa imagens incomuns em sua poesia. Talvez menos intensa que a de Donne, a de Herbert tem um tom
quase doméstico, em que Cristo perdoa o poeta pecador e o recebe em Sua paz.
Embora puritano como o grandiloquente Milton, Andrew Marvell (1621-1678) pode ser visto como um poeta que soube juntar a
tradição do cavalheirismo e da poesia metafísica de Donne e Herbert. Sua poesia e bem cuidada formalmente, canta o amor com
equilíbrio e elegância, mas é perpassada da seriedade, do escopo intelectual e da sagacidade da poesia metafísica.
(...)
These pleasures, Melancholy, give.
And I with thee will choose to live.
Uniesp – Letras 3
Disciplina: Literatura Inglesa II
Profa. Dra. Adriana Silene Vieira
Notícias das convulsões sociais que agitam os últimos anos do reinado de Carlos I fazem com que Milton volte à Inglaterra.
Defensor da liberdade, o poeta era contra o rei e os bispos. Durante a guerra civil, de 1642 a 1647, Milton se coloca ao lado de Oliver
Cromwell. No governo parlamentarista que segue, é nomeado Secretário para Assuntos Latinos. É a época dos panfletos, nos quais
Milton defende a causa puritana e até mesmo o regicídio. Outras causas, como o divórcio e a liberdade de imprensa, também são
defendidas por esses panfletos.
Após a morte de Cromwell, veio a restauração da monarquia. Milton retirou-se da vida pública para dedicar-se integralmente à
poesia, em que pese a cegueira que o acometera em 1651. É da Restauração a maior obra de Milton - Paradise Lost - épico que narra
nos versos grandiloquentes, característicos da poesia miltônia, a queda de Adão. Inquestionavelmente uma grande obra, Paradise Lost
não é uma leitura fácil, e necessitamos de notas explanatórias que nos guiem na floresta de citações que compõe o épico.
Paradise Lost é o fiel da balança na disputa que divide a crítica inglesa com relação a Milton. Os seus méritos tem sido
aumentados ou diminuídos de acordo com a tendência de cada corrente crítica. O século XIX, por exemplo, tendia a colocá-lo nas
alturas de Shakespeare, uma das poucas unanimidades a vencer as correntes e as modas. Para nós, Milton, produto de uma época que
soube traduzir bem, peca justamente por suas virtudes: a erudição clássica que exclui o leitor menos informado, o intelectualismo que
tira a emoção tão vibrante em outros grandes poetas, e o estilo grandiloquente, a dificultar ainda mais a apreensão.
Após Paradise Lost, Milton ainda compôs Paradise Regained, outro épico religioso, desta feita contando a vida de Cristo. Seu
último trabalho foi Samson Agonistes, uma tragédia para ser lida, narrando a vida de Sansão, o herói bíblico, cego como o poeta, como
ele tentado pelos prazeres, mas lutando para manter seus princípios morais.
Milton, apesar de uma vida pessoal relativamente tranquila, de homem abastado e talentoso, presenciou o fim de uma era. A
Revolução Puritana, embora derrotada pela restauração da monarquia, mudou consideravelmente o espírito da Inglaterra. Um novo
tempo de tolerância e de diminuição do poder político do rei, bem como de limitação do poder moral da Igreja, se abria nos últimos
anos da vida do poeta. E a nova era exige novas vozes.