Dezenove anos após “a queima dos sutiãs” foi lançado no Brasil uma
propaganda que até hoje meche com o imaginário sexual masculino e
teve grande repercussão no futuro comportamento feminino: “O primeiro
sutiã a gente nunca esquece”. A propaganda “parida” da cabeça do
homem conhecido por Washington Olivetto tinha como estandarte a
revalorização do espartilho moderno: o sutiã. Esta indumentária do
vestuário feminino havia sido descartada a duas gerações como uma
representação simbólica da libertação do corpo feminino. Mas como é
comum, para que tal legitimação se fizesse compreensível era necessário
uma contribuição do próprio oprimido, neste caso um “toque feminino”.
foto de normalista
Mas este não foi o maior dos males, a soma ideológica da psicologia do
desejo sexual dentro do marketing e da difusão propagandística da
mulher/menina como objeto no cinema, provavelmente tem hoje
resultados diretos no comportamento sexual descrito como pedofilia.
E não se assustem e nem minimizem o poder que os comerciais de TV
têm na cabeça das futuras gerações, pois se você é capaz de lembrar-se
destes comerciais, mesmo que passados cerca de 20 ou 10 anos, é sinal
de que as imagens se enraizaram em seu imaginário e provavelmente seu
comportamento psíquico foi de algum modo influenciado. Vamos a um
teste: alguém se lembra dos comerciais do ”Tio Sukita” dentro de um
elevador com uma “sexy ninfeta”?
É..., vivemos uma das fases mais conservadoras da história recente das
mulheres e, quiça, do mundo. O reacionarismo existente nesta
propaganda se não foi mais um colaborador deste fato no Brasil, ao
menos, foi um visionário do futuro que se projetava para as mulheres
após a fase radical da última onda feminista. Namoro na TV, anel de
castidade, sonho de moda e modelo (a nova miss universo), os
cosméticos (que assumiram o papel dos eletrodomésticos) são os temas
em voga por influência das Vogues da mídia.
Mas não é porque tem uma criança “vestida de anjo” que o comercial não
terá conotação “pornográfica/erótica”. Na verdade, vai ser bem mais
perverso por sua “cortesia”. Pois a sutileza de tal propaganda tende a nos
direcionar para a negação da sexualidade, reprimindo-a. Tende a nos
induzir a não observar o que realmente acontece, pois o politicamente
correto impõe que se crianças não possuem sexualidade (obvia mentira),
não se pode ter a sexualidade despertada pela imagem dela. E assim,
negamos o que vimos. Ou seja, se você identificar algo erótico, vulgar ou
pornográfico nas imagens de TV seria porque estes são seus desejos?
Ou seria o caso de admitir que estamos sendo manipulados? Mas já que
estamos numa sociedade individualista, já que cabe a culpa, a “culpa”
então acaba sendo individualizada. A culpa recai sobre as vitimas que
denunciam tais atos, pois possuem uma mente poluída ou suja – como se
ainda existi-se algum lugar no mundo que já não tivesse sido infectado
pela química história das indústrias. Ficando assim a máxima de que
“cada cabeça é um mundo” e “a maldade esta na cabeça de cada um”.
Mas nós Maçãs Podres não nos enganamos, neste “universo que é a
humanidade” não existe ou existiu uma só pessoa que não soubesse
diferenciar o que é ou não opressão e exploração. Ainda mais quando o
fato se dá no campo da sexualidade. Analisando como a mídia utiliza a
mulher e a criança para vender produtos de diversas origens, desde um
carro até uma boneca a idéia sempre é oferecida como proposta de
presente (compra/troca), de futuro (tempo) e em questões que resumem a
mulher como objeto de desejo, mãe e esposa “com sorrisos de creme
dental e felicidade de margarina”.
A condição torna-se ainda mais degradantes quando ficamos sabendo
que os comerciais dos produtos a serem vendidos para as mulheres têm
– digamos - uma “essência masculina”. Por exemplo: a frase do comercial
“o primeiro sutiã a gente nunca esquece” foi inspirada em vários homens
ligados a virilidade sexual como o Pelé (representante da destreza física -
“a primeira Copa a gente nunca esquece“), Ayrton Senna (representante
da projeção do falo num automóvel - “a primeira Ferrari a gente nunca
esquece”), segundo o tal de Olivetto. Assim, a visão de mundo que se
vende para as mulheres é a visão que os homens têm do mundo. E o
maior malefício é a contribuição das mulheres para tais vendas.
http://www.4shared.com/file/95676533/e97016ba/As_organizacoes_nao-
governamentais_feministas_brasileiras.html