O documento analisa 64 publicações sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2008 a 2012 no Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. As publicações tratam principalmente de atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID (64%) e pesquisas sobre o programa (24%), e a maioria demonstra otimismo em relação ao PIBID, apesar de algumas também apontarem fragilidades. O documento fornece detalhes sobre o PIBID e sua implementação como política pública de
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O Que Dizem as Publicações Sobre o PIBID No Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE) – Período 2008 a 2012
O documento analisa 64 publicações sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2008 a 2012 no Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. As publicações tratam principalmente de atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID (64%) e pesquisas sobre o programa (24%), e a maioria demonstra otimismo em relação ao PIBID, apesar de algumas também apontarem fragilidades. O documento fornece detalhes sobre o PIBID e sua implementação como política pública de
O documento analisa 64 publicações sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) no período de 2008 a 2012 no Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. As publicações tratam principalmente de atividades desenvolvidas no âmbito do PIBID (64%) e pesquisas sobre o programa (24%), e a maioria demonstra otimismo em relação ao PIBID, apesar de algumas também apontarem fragilidades. O documento fornece detalhes sobre o PIBID e sua implementação como política pública de
O que dizem as publicaes sobre o PIBID no Encontro Nacional de Didtica e Prticas
de Ensino (ENDIPE) perodo 2008 a 2012?
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Camila Itikawa Gimenes i Selma Garrido Pimenta ii
i Doutoranda do Programa de Ps Graduao em Educao pela FE-USP, pesquisadora do GEPEFE 2 . ii Professora Titular da Universidade de So Paulo, coordenadora do GEPEFE 2 .
Resumo O Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (PIBID), financiado pelo governo federal e coordenado pela CAPES, tem seu primeiro edital publicado em 2007, tendo como objetivo a formao de profissionais do magistrio para atuar na educao bsica. Atualmente, disponibiliza mais de 40.000 bolsas para estudantes de graduao, nas mais diversas reas do conhecimento, envolvendo 195 instituies de ensino superior no pas. Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo compreender o que dizem as publicaes sobre o PIBID no Encontro Nacional de Didtica e Prticas de Ensino (ENDIPE). Optamos pelos trabalhos desse evento devido a sua relevncia nacional e pela relao com a rea de formao de professores, uma vez que tem como temtica a Didtica e a Prtica de Ensino. Ao todo, foram identificados 64 trabalhos no perodo de 2008 a 2012. A seleo desses trabalhos (simpsios, painis e psteres) se deu pela presena, no ttulo, de um dos descritores: PIBID ou Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia. Da anlise dessas publicaes, pudemos observar que esses trabalhos distribuemse pelas regies brasileiras nas seguintes propores: 45% - Sudeste; 22% - Nordeste; 14% Sul; 11% Norte; 8% - Centro-Oeste. A respeito da natureza administrativa das instituies em que so desenvolvidas, as publicaes investigadas so distribudas em: 61% - instituies federais; 31% - instituies estaduais; 6% instituies municipais; 2% instituies confessionais. Quanto relao que os autores estabelecem com o PIBID, identificamos 4 categorias de anlise: atividades desenvolvidas no mbito do PIBID 64%; pesquisa sobre o PIBID 24%; PIBID como poltica pblica 6% e trabalhos que no tomam o PIBID como objeto 6%. Os trabalhos classificados como atividades desenvolvidas no mbito do PIBID so escritos pelos professores coordenadores institucionais, professores coordenadores de rea, professores supervisores e/ou licenciandos bolsistas, que relatam as atividades realizadas durante um dado perodo de vigncia das bolsas de iniciao docncia; concentram-se em analisar os efeitos desses subprojetos nos sujeitos envolvidos. Interessante ressaltar que, apesar das diretrizes que instituem o PIBID no abordar a questo da formao continuada, 31% dos trabalhos analisados apontam para essa dimenso formativa e 5 publicaes discutem a relao entre PIBID e estgio, ainda que as determinaes da Capes neguem essa relao. Dessa forma, observamos que essas publicaes problematizam e at mesmo superam, em alguns pontos, fragilidades desse programa. Em 81% dos trabalhos analisados, fica evidente o tom de otimismo em relao novidade que o PIBID, inclusive, de modo a negar a licenciatura, pois o sucesso do PIBID apontado por essas publicaes se d em funo do fracasso das licenciaturas. Entretanto, o PIBID um programa que atinge menos de 3% dos futuros professores, de modo que nessa perspectiva elitista em que ele vem sendo implantado e se considerado um fim em si mesmo, vai sendo delineado um programa que prope uma mudana na formao inicial docente com o objetivo de que nada mude. Palavras-chave: formao docente, PIBID, poltica pblica, licenciatura, estgio.
1 Pesquisa financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo - FAPESP. 2 GEPEFE/ FEUSP Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formao do Educador, coordenado por Selma Garrido Pimenta, Maria Isabel de Almeida e Jos Cerchi Fusari. Introduo O Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (PIBID), institudo em 2007 pelo governo federal, tem por objetivo valorizar a formao dos estudantes dos cursos de formao de professores aproximando-os da realidade das escolas pblicas, em um projeto que integra a universidade e essas escolas. Oferece bolsas para os estudantes e os docentes da universidade e da escola bsica que se responsabilizam pela superviso e acompanhamento dos estudantes. Assim, tem se constitudo como uma importante poltica para a formao docente, seja enquanto financiamento ou enquanto discurso. Por isso, de especial interesse compreender o modo como o PIBID vem sendo implementado enquanto programa de formao docente. Nesse sentido, esse trabalho tem como objetivo compreender o que dizem as publicaes sobre o PIBID no Encontro Nacional de Didtica e Prticas de Ensino (ENDIPE) no perodo de 2008 a 2012 a respeito da formao docente. Optamos pelos trabalhos desse evento devido a sua relevncia nacional e pela relao com a rea de formao de professores, uma vez que tem como temtica a Didtica e a Prtica de Ensino.
1. Sobre o Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia O PIBID uma iniciativa financiada pelo Ministrio da Educao, atravs da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), que possui tradio no ensino superior e se destaca na induo, fomento e avaliao da ps-graduao strictu sensu brasileira. Criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto n 29.741, mais de meio sculo aps sua criao, com a lei 11.502/2007, volta-se para a educao bsica, e passa a induzir e fomentar a formao inicial e continuada de professores para o ensino fundamental e mdio. Os programas de fomento sob responsabilidade da Diretoria de Formao de Professores da Educao Bsica (DEB) so centrados em trs vertentes: formao de qualidade; integrao entre ps-graduao, formao de professores e escola bsica; e produo e disseminao de conhecimento. Alm do PIBID, a CAPES/DEB tambm coordena os programas: Plano Nacional de Formao de Professores da Educao Bsica (Parfor), Programa de Consolidao das Licenciaturas (Prodocncia), Programa Observatrio da Educao, Programa Novos Talentos. A atribuio da CAPES com a educao bsica consolidada pelo Decreto n 6755, de 29 de janeiro de 2009, que instituiu a Poltica Nacional de Formao de Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, que inclui o Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (http://www.capes.gov.br/sobre-a-capes/historia-e-missao). Em janeiro de 2011, o PIBID o segundo maior programa de bolsas da CAPES. O PIBID tem como objetivo aproximar as secretarias estaduais e municipais de educao e as universidades pblicas, a favor da melhoria do desempenho das escolas pblicas e o incentivo carreira do magistrio, contribuindo para o aperfeioamento da formao de docentes em nvel superior. O programa tem por metas: incentivar a formao de docentes em nvel superior para a educao bsica; contribuir para a valorizao do magistrio; inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pblica de educao, proporcionando-lhes oportunidades de criao e participao em experincias metodolgicas, tecnolgicas e prticas docentes de carter inovador e interdisciplinar que busquem a superao de problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem; incentivar escolas pblicas de educao bsica, mobilizando seus professores como coformadores dos futuros docentes e tornando-as protagonistas nos processos de formao inicial para o magistrio; e contribuir para a articulao entre teoria e prtica necessrias formao dos docentes, elevando a qualidade das aes acadmicas nos cursos de licenciatura (BRASIL, 2010, artigo 3). Para tanto, so ofertadas bolsas para os estudantes em formao (alunos dos cursos de licenciatura), para os supervisores (professores da escola pblica da educao bsica que recebem os licenciandos), para os coordenadores de rea (professores da universidade que coordenam projetos na sua rea acadmica especfica) e para a coordenao institucional (professor da instituio de ensino superior responsvel pelo acompanhamento, organizao e execuo das atividades de iniciao docncia previstas no projeto institucional, junto CAPES). Na configurao atual, podem participar do PIBID instituies pblicas de ensino superior federais, estaduais e municipais - e instituies comunitrias, confessionais e filantrpicas, privadas sem fins lucrativos, participantes de programas estratgicos do MEC, como o REUNI, o ENADE, o Plano Nacional de Formao para o Magistrio da Educao Bsica Parfor e UAB. Com a substituio das portarias que regulamentavam o PIBID pelo decreto n 7.219 de 24 de junho de 2010 (BRASIL, 2010), esse programa institucionaliza-se como poltica pblica para a formao docente. Atualmente, disponibiliza mais de quarenta mil bolsas para estudantes de graduao, nas mais diversas reas do conhecimento, envolvendo 195 instituies de ensino superior (http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid). As instituies j contempladas pelo PIBID podero concorrer aos prximos editais de maneira simplificada: a manuteno ou o crescimento dos projetos institucionais ser feita com base nos relatrios apresentados e em justificativa e planilha com previso de atendimento. Tal prtica busca, segundo a CAPES (2012), evitar os lapsos de tempo e as lacunas no trabalho pedaggico decorrentes de procedimentos operacionais demorados que podem atrasar a prtica dos alunos. Novos editais sero lanados para instituies que ainda no trabalham com o PIBID. Com a Lei 12.796 (BRASIL, 2013), altera-se a LDB 9.394/96, para dispor sobre a formao dos profissionais da educao e dar outras providncias. Nela, o PIBID regulamentado como poltica de Estado no artigo 62, 5o A Unio, o Distrito Federal, os Estados e os Municpios incentivaro a formao de profissionais do magistrio para atuar na educao bsica pblica mediante programa institucional de bolsa de iniciao docncia a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de graduao plena, nas instituies de educao superior (BRASIL, 2013).
Portanto, o PIBID apresenta-se em processo de construo enquanto poltica de Estado, num movimento em que h ampliao de recursos financeiros a ele destinado e ampliao, tambm, de abrangncia de reas do conhecimento, de quantidade de instituies atendidas e de quantidade de bolsas. Ainda, amplia-se nesse processo a importncia que a ele conferida segundo os prprios sujeitos que o constitui, como ser discutido na anlise proposta nesse artigo.
2. Sobre a formao docente Entendemos que a formao docente deve ter como fundamento e finalidade a prxis educativa e social. Ou seja, a formao docente, integrada a processos educativos mais amplos, desenvolve-se em um determinado contexto e voltada a um determinado projeto de sociedade e, por isso mesmo, apresenta-se como possibilidade de transformao das estruturas sociais. Por outro lado, o movimento de formao docente proposto pelas atuais polticas pblicas outro. As polticas de accountability 3 vm progressivamente ganhando espao na agenda educacional brasileira com valorizao da prtica (numa perspectiva de pragmatismo), currculo por competncias, responsabilizao dos professores, centralidade na avaliao. Essas polticas alinham-se teoricamente proliferao e ao uso indiscriminado do termo reflexo e seu derivados, que cumprem uma funo de legitimao dessas reformas educacionais, uma vez que o docente como profissional reflexivo goza de grande aceitao no meio acadmico e gera uma viso positiva dos professores (PIMENTA, 2002). O conceito professor reflexivo ganha fora no final dos anos 1980 com influncia crescente no meio acadmico, coincidindo com o movimento das reformas educacionais ps LDB 9.394/96. Muitos so os avanos na compreenso do processo educativo advindos com o programa reflexivo como a recusa do professor meramente tcnico, a afirmao da prtica docente como uma ao consciente e deliberada, a correspondncia entre teoria e prtica nas aes cotidianas, a aceitao da existncia de
3 Segundo Kane e Staiger (apud FREITAS, 2013), o conceito de accountability baseia-se em trs elementos: testes para os estudantes e eventualmente tambm professores; divulgao pblica do desempenho; e recompensa e sanes. O ncleo da definio est na existncia de teste e na existncia de recompensa. pressupostos imperativos e valorativos na atuao e nas decises profissionais (LIBNEO, 2010). Entretanto, necessria a ampliao das preocupaes desse programa, como a reflexo para alm dos problemas imediatos da prtica docente e que no fique restrita a reflexo na ao, a reflexo sobre as condies estruturais do ensino, a reflexo fundamentada teoricamente para permitir novos olhares a fenmenos sociais complexos e a reflexo que vise transformao da sociedade pautada nos princpios igualitrios e democrticos. O desenvolvimento dessa concepo de docncia se d a partir da crtica ao modelo de racionalidade tcnica de tradio positivista, tradio esta bastante forte no Brasil at os dias atuais. A docncia passa a ser entendida a partir do prisma da prtica, defendendo-se que a produo intelectual e os avanos tericos tm afetado muito pouco a prtica dos professores e, quando chegam escola e sala de aula, sua apropriao precria ou equivocada, uma vez que os professores no compreendem o conhecimento abstrato e o discurso complexo produzido e divulgado pela academia (KUENZER, 2008). Ou seja, vemos que seja na racionalidade tcnica como na racionalidade prtica tem-se a dualidade entre teoria e prtica posta, ora valorizando uma, ora outra. O que se pe para a discusso da concepo de formao do profissional da educao a possibilidade efetiva de relao intrnseca entre estes dois polos, o terico e o prtico. Relao essa que constituinte tanto da teoria como da prtica, ou seja, uma no existe sem a outra. A teoria sem a prtica mero academicismo. J a prtica sem teoria mero pragmatismo. Estes polos se relacionam intrinsecamente constituindo a prxis. A prxis, como atitude humana transformadora da natureza e da sociedade, atividade terica e prtica; prtica, na medida em que a teoria, como guia da ao, molda a atividade do homem, particularmente a atividade revolucionria; terica, na medida em que essa relao consciente (VZQUEZ, 1977, p. 117). Desse modo entendemos o movimento de formao docente enquanto processo de autonomia e dependncia entre teoria e prtica. A prtica fundamento, finalidade e critrio de verdade da teoria. A primazia da prtica sobre a teoria, longe de implicar contradio ou dualidade, pressupe ntima vinculao a ela (VZQUEZ, 2011). Essa concepo de formao rompe com a viso - seja via pragmatismo, seja via academicismo - da docncia como soluo instrumental de problemas mediante a aplicao de um conhecimento tcnico, previamente disponvel, que procede da pesquisa cientfica ou da prtica exclusivamente. Para a formao do professor nessa perspectiva, entendemos a formao inicial docente no como a prxis do futuro professor, mas como a formao terica (terico-prtica) preparadora para a prxis transformadora do futuro professor (PIMENTA, 2010). A atividade terica caracteriza-se pela produo de conhecimentos e de objetivos, possui o papel de antever idealmente onde se quer chegar, de modo a antecipar idealmente uma realidade que ainda no existe e que se quer que exista. Para chegar antecipao ideal de uma realidade, requer que se parta do conhecimento (terico-prtico) da realidade que j existe (...) e determinada por fatores sociais que a antecedem e por fatores sociais que lhe so extrnsecos. Isto , a atividade terica que possibilita conhecer a realidade (a prtica objetiva), tomando-se essa realidade como objeto de conhecimento, como referncia, para, a seguir, estabelecer-se idealmente a realidade que se quer (PIMENTA, 2010, p. 183). Ou seja, essa formao terica toma a prtica como ponto de partida atravs do estudo sistemtico da realidade existente e suas contradies e como ponto de chegada como realidade futura. A natureza pedaggica dessa concepo de formao docente vincula-se constitutivamente a objetivos educativos de formao humana que se relaciona com a humanizao do mundo e a justia social. O currculo do curso no seu todo (disciplinas e atividades) precisa captar na prxis os conflitos, os avanos, os retrocessos, enfim, as contradies nela presentes e a identificar a reproduo e a produo das relaes sociais (PIMENTA, 2010). Nesse sentido, o estgio ocupa lugar estruturante no curso e deve fazer parte de todas as disciplinas, percorrendo o processo formativo desde o incio precisamente pela relao que estabelece com a realidade e tem como finalidade integrar o processo de formao do futuro professor, de modo a considerar o campo de atuao como objeto de anlise, de investigao e de interpretao crtica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso (PIMENTA & LIMA, 2004). A pesquisa apontada como caminho metodolgico para a formao de futuros professores por Pimenta (2010) e Pimenta e Lima (2004) nessa concepo de estgio em defesa da relao intrnseca entre teoria e prtica, que tem por base a concepo do futuro professor como intelectual em processo de formao e a educao como um processo dialtico de desenvolvimento do homem historicamente situado. A importncia da pesquisa se d no movimento que compreende os docentes como sujeitos que podem construir conhecimento sobre o ensinar na reflexo crtica sobre a sua atividade, na dimenso coletiva e contextualizada (PIMENTA & LIMA, 2004, p. 236). A pesquisa no estgio entendida atravs da mobilizao de pesquisas que permitam a anlise das condies concretas e do contexto histrico onde os estgios se realizam, a fim de que os estagirios desenvolvam postura e habilidades de pesquisador a partir das situaes de estgio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender, problematizar, refletir e propor solues s situaes que observam. Ainda, o lugar da constituio da identidade profissional atravs da significao social da profisso e da ressignificao de prticas consagradas culturalmente (PIMENTA & LIMA, 2004).
3. Sobre os artigos a respeito do PIBID publicados no ENDIPE O presente trabalho tem como objetivo compreender o que dizem as publicaes sobre o PIBID no Encontro Nacional de Didtica e Prticas de Ensino (ENDIPE) a fim de compreender como esse programa tem se constitudo enquanto poltica pblica e enquanto prtica de formao docente. Optamos pelos trabalhos desse evento devido a sua relevncia nacional e pela relao com a rea de formao de professores, uma vez que tem como objetivo socializar e debater pesquisas, estudos e propostas sobre a Didtica e as Prticas de Ensino como reas de conhecimentos especficos, reas disciplinares e reas de prticas pedaggicas. Utilizou-se a abordagem qualitativa como metodologia para o desenvolvimento da pesquisa e a seleo desses trabalhos (simpsios, painis e psteres) se deu pela presena, no ttulo, de um dos descritores: PIBID ou Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia. Todos os artigos analisados foram lidos na ntegra. Ao todo, foram identificados 64 trabalhos no perodo de 2008 a 2012, que compreende os encontros: XIV ENDIPE, Porto Alegre, 2008; XV ENDIPE, Belo Horizonte, 2010; XVI ENDIPE, Campinas, 2012. A metodologia utilizada baseia-se na pesquisa do tipo estado do conhecimento (ROMANOWISKI & ENS, 2006), pois aborda apenas um setor das publicaes sobre o tema estudado, no caso, as publicaes do ENDIPE. Esse procedimento discute a produo acadmica em um determinado campo do conhecimento em uma dada poca; neste estudo, no campo da pesquisa sobre e no PIBID no perodo de 2008 a 2012, possibilitando uma viso geral do que vem sendo produzido na rea e a perspectiva da evoluo do conhecimento nessa rea do saber. No XIV ENDIPE (2008), no foi identificada nenhuma publicao com os descritores PIBID, provavelmente essa ausncia se deve a proximidade temporal entre o primeiro edital para concesso de bolsas PIBID ser lanado em dezembro de 2007 e a realizao desse evento ocorrer em abril de 2008. No XV PIBID (2010) foram identificados 13 trabalhos e no XV PIBID (2012), 51 artigos, como se pode observar no Grfico 01. Portanto, observa-se um vertiginoso crescimento no nmero de publicaes a respeito do PIBID nesse evento.
Grfico 01 Quantidade de publicaes referentes ao PIBID nos ltimos ENDIPE. 0 10 20 30 40 50 60 2008 2010 2012
Da anlise dessas publicaes, pudemos observar que esses trabalhos distribuemse pelas regies brasileiras nas propores apresentadas na Tabela 01. A porcentagem de trabalhos apresentados de cada regio proporcional porcentagem que essas mesmas regies representam na quantidade de bolsas PIBID recebidas para as regies Centro-Oeste, Norte e Sul, de acordo com os dados da CAPES (2012). Para a regio Nordeste, a presena no ENDIPE (22%) menor do que a regio, proporcionalmente, recebe de bolsas (35%). Para a regio Sudeste, observa-se o oposto da regio Nordeste. O Sudeste concentra 27% das bolsas PIBID e representa 45% das publicaes sobre o programa de iniciao docncia desse evento. Essa diferena pode ser resultado da organizao desse evento que nas edies entre 2008 e 2012 foi sediado no eixo Sul-Sudeste dificultando o acesso e a participao das demais regies. Tabela 01 Distribuio das publicaes analisadas nas regies federativas de acordo com o local onde o projeto PIBID desenvolvido. 2010 2012 TOTAL % TOTAL Centro-Oeste 1 4 5 8% Nordeste 4 10 14 22% Norte 4 3 7 11% Sudeste 3 26 29 45% Sul 1 8 9 14% TOTAL 13 50 64 100%
Na configurao atual, podem participar do PIBID instituies pblicas de ensino superior federais, estaduais e municipais - e instituies comunitrias, confessionais e filantrpicas, privadas sem fins lucrativos, participantes de programas estratgicos do MEC, como REUNI, ENADE, Plano Nacional de Formao para Magistrio da Educao Bsica Parfor e UAB que oferecem cursos de licenciatura. Para tanto, as instituies interessadas em participar do programa de bolsas devem candidatar-se atravs de projetos de iniciao docncia conforme os editais de seleo publicados para concorrerem aos recursos destinados ao programa. A respeito da natureza administrativa das instituies que recebem o PIBID, observamos nos artigos analisados o predomnio das instituies pblicas 98% das publicaes, conforme apresentado na Tabela 02. Observa-se, portanto, uma complexa situao entre PIBID e financiamento da educao pblica, pois as matrculas em licenciatura em instituies pblicas correspondem a 43,4% do total das matrculas em cursos de formao de professores (INEP, 2011). Ou seja, a grande maioria das bolsas PIBID destina-se a uma minoria dos licenciandos, demonstrando o carter elitista que esse programa apresenta nesse momento de seu desenvolvimento e sinaliza para a necessidade de financiamento pblico para a formao de professores enquanto rea estratgica para o desenvolvimento da sociedade brasileira. Tabela 02 Distribuio das publicaes analisadas de acordo com o modo de administrao das instituies a qual o projeto PIBID investigado se insere. 2010 2012 TOTAL % TOTAL Federal 13 25 38 61% Estadual 0 20 20 31% Municipal 0 4 4 6% Confessional 0 2 2 2% TOTAL 13 51 64 100%
A Tabela 03 apresenta a distribuio das publicaes analisadas de acordo com a rea do conhecimento na qual o projeto PIBID investigado se insere. H trabalhos que investigam dois ou mais projetos de diferentes reas do conhecimento, por isso o total de reas (84) maior que o total de artigos analisados (64). Os trabalho publicados no ENDIPE 2010 so, em geral, projetos em fase inicial de desenvolvimento (a maioria analisa o primeiro ano de implementao do PIBID) e das reas das cincias naturais - Biologia e Qumica - e Matemtica, provavelmente, reflexo do primeiro edital que priorizava essas reas historicamente com falta de professores para a concesso de bolsas. Os outros 4 artigos que so classificados como No discutem uma rea do conhecimento especfica referem-se a trabalhos escritos pelo coordenador institucional e todos eles referentes s reas de Biologia, Fsica, Qumica, e Matemtica. Os primeiros editais do PIBID voltaram-se exclusivamente para reas da educao bsica com maior carncia de professores com formao especfica: cincia e matemtica da segunda etapa do ensino fundamental e fsica, qumica, biologia e matemtica para o ensino mdio. No entanto, com os primeiros resultados positivos, as polticas de valorizao do magistrio e o crescimento da demanda, a partir de 2009, o programa passou atender a toda a Educao Bsica, incluindo educao de jovens e adultos, indgenas, campo e quilombolas. Atualmente, a definio dos nveis a serem atendidos e a prioridade das reas cabem s instituies participantes, verificada a necessidade educacional e social do local ou da regio (CAPES, 2012). Tabela 03 Distribuio das publicaes analisadas de acordo com a rea do conhecimento na qual o projeto PIBID investigado se insere. 2010 2012 TOTAL Artes 0 1 1 Cincias Biolgicas 1 9 10 Cincias Sociais 0 1 1 Educao Especial 0 1 1 Educao Fsica 0 5 5 Filosofia 0 1 1 Fsica 0 5 5 Geografia 0 2 2 Histria 0 2 2 Letras 0 5 5 Matemtica 5 9 14 Pedagogia 2 13 15 Qumica 1 4 5 No discute uma rea do conhecimento especfica. 4 13 17 TOTAL 13 70 84
Quanto relao que os autores estabelecem com o PIBID, identificamos 4 categorias de anlise: atividades desenvolvidas no mbito do PIBID 62%; pesquisa sobre o PIBID 24%; PIBID como poltica pblica 6% e trabalhos que no tomam o PIBID como objeto 6%. Os trabalhos classificados como atividades desenvolvidas no mbito do PIBID so escritos pelos professores coordenadores institucionais, professores coordenadores de rea, professores supervisores e/ou licenciandos bolsistas e relatam as atividades realizadas durante um dado perodo de vigncia das bolsas de iniciao docncia; concentram-se em analisar os efeitos desses subprojetos nos sujeitos envolvidos, entendendo o PIBID enquanto lcus de experincia docente para o futuro professor. De modo geral, h a descrio de atividades de interveno em sala de aula. A ideia de docncia presente nessas publicaes ainda est restrita s atividades realizadas em sala de aula, podendo indicar que a ideia de docncia est restrita s atividades realizadas em sala de aula, no considerando as demais dimenses do trabalho do professor, desconsiderando a necessidade de ampliao da participao e do compromisso dos bolsistas de iniciao docncia em outras tarefas escolares, tais como, participao nas instncias deliberativas das escolas, organizao e operacionalizao do projeto poltico-pedaggico, organizao e desenvolvimento das reunies pedaggicas, participao em Conselhos de classe, reunio de pais etc. Essas publicaes que descrevem atividades desenvolvidas no mbito do PIBID demandam pesquisas que aprofundem a discusso: de que prtica estamos falando? O PIBID tem sido construdo como interveno crtica e criativa nos processos de formao humana ou apenas tarefeira e reiterativa? A formao docente deve ter como fundamento e finalidade a prxis educativa e social e, para tanto, a prtica por si s no ensina, a no ser atravs da ao pedaggica intencional. O aprendizado da docncia no se d espontaneamente atravs do contato com a realidade, mas demanda o domnio das categorias tericas e metodolgicas atravs do aprendizado do trabalho intelectual (KUENZER, 2008). Tabela 04 Distribuio das publicaes analisadas de acordo com a relao que os autores estabelecem com o PIBID. 2010 2012 TOTAL Experincia de um PIBID 11 29 40 Pesquisa sobre o PIBID 1 15 16 PIBID como poltica 0 4 4 No discute o PIBID 1 3 4 TOTAL 13 50 64
A forma de sistematizao das atividades desenvolvidas ao longo dos projetos bastante semelhante. De modo geral, os projetos iniciam com estudos tericos com reunies semanais e com uma aproximao realidade escolar atravs de visitas s escolas e observao de aulas. So bastante comuns relatos sobre monitoria, aulas de reforo e/ou aplicao de uma ou poucas aulas isoladas pelos bolsistas a partir de uma proposta inovadora. Sobre a proposta especfica de cada projeto, esse um item bastante diverso, h propostas de produo e execuo de planos de ensino, produo de material/recurso didtico, produo de propostas inovadoras, trabalhos centrados nas tecnologias da informao e da comunicao, interveno pedaggica, roda de conversa, pesquisa ao, dentre outros. H grande estmulo para que os licenciandos bolsistas participem de eventos cientficos e divulguem os resultados do projeto em que se inserem. Em 81% dos trabalhos analisados, fica evidente o tom de otimismo em relao novidade que o PIBID. Dentre os aspectos positivos que so destacados, a articulao entre universidade e escola e a articulao entre teoria e prtica so os principais motivos para o otimismo em relao a esse programa. Ou seja, percebe-se um interesse positivo com a insero do licenciando na realidade escolar, para alm dos muros da universidade, sendo comum nesses trabalhos afirmaes que vo ao encontro a Carneiro (2012) um dos artigos analisados nessa pesquisa sobre as atividades desenvolvidas no mbito do PIBID despertarem nos sujeitos participantes desse programa o sentimento, a possibilidade de renovao de metodologias de ensino e o despertar para prticas docentes mais inovadoras e dinmicas, a partir da troca de experincias entre a escola e a Universidade. H, ainda, outros aspectos positivos citados nos artigos: espao e estmulo reflexo; valorizao da profisso docente para a educao bsica; integrao entre formao inicial e continuada; planejamento de atividades; melhoria da qualidade de ensino da educao bsica; identificao de dificuldades enfrentadas por alunos e professores no processo ensino-aprendizagem; desenvolvimento de esprito de liderana; melhoria das relaes interpessoais/trabalhar em equipe; maior domnio do contedo especfico e pedaggico; melhoria da autoconfiana; mudana de concepo dos futuros professores; propiciar primeiros contatos com a sala de aula; aprendizado de novas metodologias; interesse de professores supervisores e licenciandos bolsistas em fazer mestrado na rea de Educao ou Ensino de.
4. Consideraes Finais inegvel o avano para a formao e valorizao representado pelo PIBID. O tom otimista dos artigos analisados mostra que uma poltica que tem produzido bons resultados e que esse prograva deve ser consolidado como poltica de Estado a fim de garantir a sua estabilidade e continuidade. inegvel o incentivo, a valorizao e a elevao da qualidade da formao dos futuros professores que dele participam. Entretanto, o PIBID insere-se numa trama complexa de relaes entre formao docente e projeto de sociedade. Nessa trama articulam-se elementos de disputa de poder do campo das polticas pblicas, envolvendo a poltica de formao de professores e a poltica para a educao bsica. Alm disso, o PIBID centra-se na questo da formao inicial docente, negando-se, enquanto poltica pblica, a discutir a formao continuada e as formas de organizao da educao pblica, que envolvem o acesso, a estruturao do trabalho nas escolas e a carreira docente. Esse programa de bolsas insere-se na lgica de accountability, lgica dominante das polticas pblicas para a educao. Uma das caractersticas obrigatrias dos projetos institucionais para concorrer s bolsas de iniciao docncia diz respeito ao IDEB das escolas parceiras. Segundo portaria da CAPES (2010), recomendvel que as instituies, comprometidas com a educao de sua localidade/regio, desenvolvam as atividades do projeto tanto em escolas que tenham obtido ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica IDEB abaixo da mdia nacional como naquelas que tenham experincias bem sucedidas de ensino e aprendizagem, a fim de apreender as diferentes realidades e necessidades da Educao Bsica e de contribuir para a elevao do IDEB, aproximando-o do patamar considerado no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao. Ou seja, o PIBID faz parte do mesmo projeto de educao e sociedade que as polticas de accountability vm progressivamente instituindo para a educao bsica e superior. Outra caracterstica do programa nessa mesma linha diz respeito ao valor constitutivo do programa, que se baseia na meritocracia, uma vez que o programa tem como base a concorrncia atravs de editais, sendo que apenas um projeto aprovado por instituio. Ainda, o PIBID centra-se no indivduo e em aes individuais ou de pequenos grupos de acordo com as polticas de responsabilizao do professor; no favorece, necessariamente, o vnculo institucionalizado entre universidade e sistemas municipais e estaduais de ensino. A relao entre escola e universidade se d a partir de relaes individuais, atravs do vnculo do professor da educao bsica via bolsa individual para cooperar com um projeto PIBID, numa relao que pretende ser horizontal, porm estruturada de maneira vertical entre a universidade e escola, em que a primeira elabora o projeto e escolhe o professor supervisor. urgente a construo de parcerias institucionalizadas entre escola e universidade, de modo a valorizar no apenas o professor da escola bsica colaborador dos projetos PIBID como tambm aqueles professores que recebem estagirios em suas classes, pois so, igualmente, co-formadores dos futuros professores. Por outro lado, a questo desse individualismo de aes de cada projeto tem, contraditoriamente, um aspecto positivo ao permitir que aflore a autonomia dos professores e futuros professores, que podem construir o projeto de acordo com seus referenciais. Desse modo, pudemos observar avanos no desenvolvimento do PIBID para alm do que proposto pela CAPES, como pudemos observar nas publicaes analisadas a respeito da formao continuada e do estgio. Apesar das diretrizes que instituem o PIBID no abordar a questo da formao continuada, 31% dos trabalhos analisados apontam para essa dimenso formativa e 5 publicaes discutem a relao entre PIBID e estgio, ainda que as determinaes da Capes neguem essa relao. Por isso, fundamental que mais pesquisas sobre o PIBID sejam desenvolvidas na direo de compreender a complexa e contraditria rede de relaes que o configura enquanto poltica pblica e enquanto prtica social. Lima (2012) nos lembra da necessidade de explorar o PIBID teoricamente e em suas metodologias; descobrir o seu lugar na formao docente, sem perder de vista a estrutura curricular e o grupo, mesmo que contraditrio, do corpo docente e discente que come esse coletivo de aprendizagem. O nosso esforo, como pesquisadores com o compromisso com outro projeto de sociedade, deve ir em direo a oferta do programa de iniciao docncia para todos os alunos licenciandos. O PIBID entendido como componente curricular obrigatrio para todos os alunos dos cursos de formao de professores, ou seja, estamos nos referindo ao estgio realizado com bolsa e com verdadeira colaborao entre escola e universidade, entendendo os sistemas municipais e estaduais de ensino como co-formadores do futuro professor. No presente momento, mesmo que aparentemente semelhantes, PIBID e estgio curricular pertencem a campos de poder, estrutura, funcionamento e condies objetivas diferentes (LIMA, 2012). O PIBID pode constituir-se em um interessante programa de formao docente, desde que seja entendido como uma etapa para a sua instituio para todos os licenciandos de todas as licenciaturas. Ou seja, quando eliminado seu carter elitista, pois at o presente momento, as suas bolsas atingem menos de 3% dos futuros professores em formao, de modo que vai sendo delineado um programa que prope uma mudana na formao inicial docente com o objetivo de que nada mude. Nessa mesma direo, deve ser levado em considerao nessas discusses que o ensino superior vem sofrendo um processo de concentrao na iniciativa privada. O PIBID exclusivo para as instituies pblicas, assim como muitas das iniciativas promovidas com a legislao de 2009. Nesse sentido, reiteramos a luta por um sistema pblico de formao de profissionais da educao e, ainda, a luta pela valorizao no apenas da formao docente como tambm das condies de trabalho e de um plano de carreira que valorize a funo docente e o trabalho pedaggico profisisonal.
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