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O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares: metodologias de

operacionalização (conclusão)
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Referências à BE nos Relatórios de Avaliação Externa (IGE) –


análise e comentário crítico

A. AMOSTRA DE RELATÓRIOS

Para este trabalho, escolhi três escolas, de diferentes regiões e tipologias, para
verificar melhor a importância da BE enquanto núcleo gerador de saberes de uma
escola. Quis ver se a resposta da periferia seria muito diferente da que é dada por uma
escola mais central, se as bibliotecas do Norte do país têm um desempenho diferente
das do Centro e do Sul.

Escolas seleccionadas:

 Agrupamento de Escolas de Agrela e Vale do Leça

 Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico da Batalha

 Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico do Restelo

B. ANÁLISE

Depois de analisar todos os relatórios, verifica-se que as referências às BE na


avaliação externa são muito poucas e superficiais. Torna-se claro que o modelo de
avaliação externa utilizado pela IGE não coloca em evidência o papel da BE no seio da
escola, embora reconheça o seu valor. Prevê-se que, com a generalização da aplicação
do MABE, esta situação se inverta nos próximos anos.
A IGE utiliza um quadro de referência para a avaliação de escolas e
agrupamentos de que fazem parte cinco domínios:
1. Resultados
2. Prestação do serviço educativo
3. Organização e gestão escolar
4. Liderança
5. Capacidade de auto-regulação e melhoria da escola
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Tendo por base estes domínios e a amostra que elegi, apresento a seguinte
tabela com as referências às Bibliotecas Escolares seleccionadas:

Campos de análise Agrupamento de Escola Secundária Escola Secundária


/Domínios de Escolas de Agrela e com 3º Ciclo do com 3º Ciclo do
referência Vale do Leça Ensino Básico da Ensino Básico do
Batalha Restelo

Caracterização da Inexistente Directa Inexistente


Escola

Organização e Inexistente Directa Inexistente


gestão escolar

Participação e
desenvolvimento Indirecta Inexistente Directa
cívico

Diferenciação e Directa Inexistente Inexistente


Apoios

Abrangência do
currículo e
valorização dos Directa Inexistente Inexistente
saberes e da
aprendizagem
Concepção,
planeamento e Directa Inexistente Inexistente
desenvolvimento
da actividade
Gestão dos
recursos materiais Directa Directa Directa
e financeiros

Abertura e Indirecta Directa Inexistente


Inovação

Parcerias e Indirecta Inexistente Directa


protocolos

Auto-avaliação Inexistente Directa Inexistente


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Verifica-se, pela análise da tabela, que os campos de análise e os domínios de


referência da IGE, em que as BE são mencionadas, variam de escola para escola. Ora,
tal facto, poderá ter a ver com a importância que cada escola atribui à sua BE ou,
então, com a própria equipa de avaliação externa, que nem sempre atribui à BE o
mesmo grau de importância. O facto é que as referências nem sempre ocorrem da
mesma forma (directa ou indirecta), nem nos mesmos campos/domínios.
Assim, nos relatórios analisados, só a Escola da Batalha aparece referida
no campo da caracterização da escola “… dispõem de biblioteca integrada na rede de
Bibliotecas Escolares…” . Neste campo, não há referências à BE em nenhum dos outros
relatórios. Também no campo da organização e gestão escolar, só o relatório da Escola
da Batalha contém uma referência à BE “Destaca-se a biblioteca, integrada na Rede
Nacional de Bibliotecas Escolares, importante pólo dinamizador de iniciativas e
projectos diversos.”. Isto não significa, não pode significar, que as outras BE, também
elas integradas na RBE, não dinamizem iniciativas e projectos. Omissão da IGE, ou falta
de assunção da importância da BE neste campo pela escola?
Chegados aos factores que contribuem para os domínios de referência para a
avaliação de escolas e agrupamentos, também aqui se sentem diferenças nos
relatórios da IGE.
No domínio da participação e desenvolvimento cívico, a Escola da Batalha não
contém referências à BE. Já a Escola do Restelo contém uma referência directa,
dizendo que o Regulamento interno se encontra disponível na biblioteca. E, quanto ao
Agrupamento da Agrela, surge uma referência à feira do livro, mas não diz que a
mesma é organizada pela BE. Será esta, apenas, a participação destas BE no
desenvolvimento cívico dos alunos?
No domínio da diferenciação e apoios, apenas surge uma referência ao
Agrupamento da Agrela, onde fica registado o contributo do centro de recursos
educativos para as necessidades educativas especiais e dificuldades de aprendizagem
dos alunos. Nos outros relatórios não é referido esse contributo, que seria de esperar
de uma BE.
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No domínio da abrangência do currículo e valorização dos saberes e da


aprendizagem, é novamente o Agrupamento da Agrela que leva vantagem: são
referidas actividades da BE que “contribuem para o aprofundamento da Língua
Portuguesa… e estimulam a valorização do conhecimento e da aprendizagem
contínua.” No que diz respeito às outras escolas, uma vez mais, o relatório da IGE é
omisso.
No domínio da concepção, planeamento e desenvolvimento da actividade,
novamente o Agrupamento da Agrela sai em vantagem: “Há preocupações com o
desenvolvimento transversal da Língua Portuguesa, reforçadas pelas iniciativas da
Biblioteca Escolar e do Plano Nacional de Leitura…”. Nos outros relatórios, também
não há referências ao envolvimento da BE na concepção, planeamento e
desenvolvimento de actividades escolares.
No domínio da gestão dos recursos materiais e financeiros, em todos os
relatórios surgem referências directas à BE. No entanto, na Escola do Restelo, a mesma
surge apenas relacionada com as obras de requalificação escolar. Já nos relatórios das
outras escolas, as referências são mais abrangentes, focando aspectos como formação
de utilizadores, bibliotecas itinerantes e espaços agradáveis.
No domínio da abertura e inovação, não aparece referência à BE da Escola do
Restelo.
No relatório da Escola da Batalha há uma referência directa à Biblioteca Escolar,
e no Agrupamento da Agrela, há uma referência indirecta, através da menção ao PNL e
à biblioteca itinerante.
No domínio das parcerias, protocolos e projectos, o relatório da Escola da
Batalha não refere a BE. Já o da Escola do Restelo refere o PNL e a integração da
biblioteca na RBE.
Quanto ao relatório do Agrupamento da Agrela refere a parceria com a
Biblioteca Municipal de Santo Tirso, mas não diz se essa parceria contempla a BE.
Finalmente, no domínio da auto-avaliação, apenas há uma referência à BE no
relatório da Escola da Batalha, onde se apontam relatórios anuais dos detentores de
cargos (BE incluída), que são analisados em Conselho Pedagógico.
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C. CONCLUSÂO

Da análise destes três relatórios, podemos concluir que a biblioteca escolar


ainda não é devidamente valorizada, independentemente da tipologia da escola e da
zona do país, muito embora as diversas referências (directas ou indirectas) feitas nos
relatórios da IGE apontem no sentido da sua importância. Penso que, após uma
verdadeira auto-avaliação constante e sistemática, a BE será capaz de impor a sua
presença também nestes relatórios. Veremos o que o futuro nos reserva.

Braga, 06 de Dezembro de 2009

António José Roque Salgado

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