Você está na página 1de 3

Relatório de Presença no

I Seminário Brasileiro de Direito Penal Econômico


Venho, por meio deste, solicitar abono das faltas da manhã do dia
5 de novembro de 2009, visto que estava no evento em pauta. Provo:

Dotti desembarcou no auditório às 9:13h com sua comitiva de 6 ou


7 sacristãos, alardeado pelos flashes de uma câmera profissional. O
combinado era às 8:00h.

Ninguém se justificou ou demonstrou o mínimo remorso pela


indelicadez para com a centena de presentes, nem hesitaram em exibir a
retórica verbosa que lhes é habitual; o presidente do IBDPE (Instituto
Brasileiro de Direito Penal Econômico), Rodrigo Sánchez Rios, chegou
mesmo a ficar ofegante, sem ar em meio a tantos agradecimentos a
Deus e ao mundo. E exultamentos a René Ariel Dotti. Explicou que o
fundamento do instituto é a defesa dos direitos fundamentais. O
nome, que envolve economia, foi adotado não pela restrição de assunto,
mas pela necessidade de um nome original e inconfundível.

Após, o vice-reitor da Universidade Positivo, Pio Martins, varão


de cordas vocais tronituantes, proferiu um preito ao evento, marco de
exatos 21 anos da Constituição de 88 e de 20 da derrubada do muro de
Berlim, “a derrocada do sistema socialista à União Soviética”, e, como
efeito, a preponderância e a dominação do Capitalismo.

Vez, então, do presidente honorário do IBDPE, René Ariel Dotti,


apresentado pelo mestre de cerimônias Robson Galvão. Criticou o
positivismo jurídico, que repele considerações apriorísticas e metafísicas
e foi uma doutrina que influenciou o movimento nazifascista nos anos 30
e 40.

Dotti denunciou a volta dessa diretiva positivista, a


contemporânea inversão e subversão de valores, nacionalmente entre os
anos 1964 e 1985, os atos institucionais da ditadura militar. A partir daí,
leu quase linha por linha o editorial que escreveu na edição de
lançamento do Boletim IBDPE, distribuído entre os espectadores. Trata-se
da inflação legislativa penal e suas consequências.

Entretanto, à guisa de posfácio, citou algum autor: “A guerra é


muito importante para ser decidida por militares”. E parafraseou: “A lei é
muito importante para ser feita só pelo legislador”. E ufanou a Positivo e
sua promoção da liberdade e da cultura.

Segundo e último palestrante, Miguel Reale Júnior, progênie de


Miguel Reale. Distinto jurista, insigne pensador, admirável humano. Foi o
que expressou ao fluir sobre a lavagem de dinheiro, não sem antes
dizer que Dotti é um exemplo a ser copiado, palmitado(?) por todos
aqueles que querem uma vida moral elevada. Apontou uma base do seu
pensamento, que bem poderia ser unânime no congresso nacional: A lei
não modifica a mentalidade nem dos juízes! (Que continuam a aplicar
lei anterior.)

O tema “lavagem de dinheiro” é agudo e engloba uma


problemática reflexiva, que envolve desde a questão do elemento
subjetivo (representação e conhecimento em sua integralidade) como
conditio sine qua non para a ocorrência do crime à busca de provas da
fraude geradora para determinação do crime. Mencionou legislação
estrangeira que pune o prestador de serviços que aceita o dinheiro
lavado “sabendo ou devendo saber” da sua origem escusa, atingindo do
gari ao advogado.

Quanto à discussão de qual é o bem jurídico protegido pelo crime


de lavagem de dinheiro, Miguel Reale Júnior deu seu pitaco: Não é a
ordem econômica nem a livre concorrência que alguns alegam; uma
“pizzaria fantasma”, que declara produção de 2000 pizzas diárias,
não as fabrica verdadeiramente, ou seja, não atinge outras pizzarias,
e está, com o fim de regularizar o dinheiro, pagando imposto,
excluindo igualmente a hipótese de proteção da ordem econômica.
Resta, então, como bem jurídico tutelado pelo crime de lavagem de
dinheiro, a administração da justiça, pois impede a apuração do crime
gerador obstruindo caminhos e propagando a imagem de que o crime
compensa. Solução proposta por Reale Júnior é combater a receptação
para que não se frua de bem ilícito, e assim se combata o mal pela raiz.

Ao final, recebeu, contente, a declaração de membro honorário


do Instituto Brasileiro de Direito Penal Econômico sob aplausos de uma
plateia que aprendeu e riu com seus exemplos inspirados. Até porque,
como ele mencionou, o Brasil é o “país da piada pronta”; onde mais um
general chamado Kruel instituiria o tenebroso “Esquadrão da Morte”?

Antoine Youssef Kamel

Você também pode gostar