O documento discute os fundamentos evolutivos dos ritmos biológicos em diferentes níveis de organização animal, incluindo como os ritmos circadianos são controlados por relógios endógenos e influenciados por estímulos ambientais. Ele explica como os ritmos são regulados no nível celular em invertebrados e como os vertebrados desenvolveram estruturas cerebrais complexas como a glândula pineal e o núcleo supraquiasmático para regular ritmos. O documento também discute como as aves usam pistas de luz para regular seu comport
O documento discute os fundamentos evolutivos dos ritmos biológicos em diferentes níveis de organização animal, incluindo como os ritmos circadianos são controlados por relógios endógenos e influenciados por estímulos ambientais. Ele explica como os ritmos são regulados no nível celular em invertebrados e como os vertebrados desenvolveram estruturas cerebrais complexas como a glândula pineal e o núcleo supraquiasmático para regular ritmos. O documento também discute como as aves usam pistas de luz para regular seu comport
O documento discute os fundamentos evolutivos dos ritmos biológicos em diferentes níveis de organização animal, incluindo como os ritmos circadianos são controlados por relógios endógenos e influenciados por estímulos ambientais. Ele explica como os ritmos são regulados no nível celular em invertebrados e como os vertebrados desenvolveram estruturas cerebrais complexas como a glândula pineal e o núcleo supraquiasmático para regular ritmos. O documento também discute como as aves usam pistas de luz para regular seu comport
Iju 2012 Fundamentos evolutivos da ritmicidade biolgica
A organizao temporal de um ser vivo pode ser expressa como reao a estmulos ambientais, que apresentam efeitos importantes sobre a expresso dos ritmos endgenos, promovendo ajustes atravs de mecanismos biolgicos especficos e dentro de limites bem definidos para cada espcie. Muitos processos fisiolgicos e comportamentais expressos por organismos vivos so rtmicos, e ocorrem com periodicidades de cerca de 24 horas. Tais ritmos biolgicos so referidos como circadianos (do latim circa=cerca, dies=dia) A periodicidade desses ritmos biolgicos equivale quase aos ciclos dirios de claro/escuro. Porm, nos organismos tambm aparecem ritmos com perodos inferiores 20 horas que se conhecem como ritmos ultradianos (respirao, batimentos cardacos, disparos de neurnios, etc.) e ritmos cujo perodo superior a 28 horas, os ritmos infradianos (ciclo menstrual, ciclo sazonal climtico, reproduo, etc.). Entende-se hoje que os ritmos biolgicos, tais como os observamos na natureza, so o resultado da interao entre relgios biolgicos endgenos e a fatores ambientais exgenos aos quais os organismos esto submetidos. O processo atravs do qual se d essa interao conhecido como sincronizao ou arrastamento, e os ciclos ambientais capazes de promov-la em uma determinada espcie so identificados como agentes sincronizadores ou arrastadores. Entretanto, experimentos feitos em condies constantes de laboratrio (ex. um laboratrio sob iluminao constante), demonstraram que diversos ritmos biolgicos continuam a se expressar durante dias, meses ou anos, dependendo da espcie e das condies experimentais. Estes ritmos so conhecidos como ritmos em livre-curso e so a expresso de relgios biolgicos endgenos. Em condies de livre-curso, o perodo torna-se ligeiramente diferente daquele exibido em condies naturais, desviando-se do valor preciso ambiental de 24 horas. Assim, apesar do relgio endgeno manter a periodicidade, os organismos precisam de pistas ambientais para sincronizar suas atividades de forma mais precisa.
Os ritmos biolgicos nos vrios nveis de organizao animal
Todos os sistemas circadianos se constituem, em pelo menos trs elementos: (1) uma via aferente que transmite informaes do meio ambiente; (2) um ou mais osciladores capazes de gerar a oscilao, e (3) vias eferentes, atravs das quais o oscilador regula a expresso de diversos ritmos. Os fotorreceptores so a primeira via de captao e identificao do ciclo ambiental e, dependendo do organismo, os fotopigmentos constituem-se em receptores, que no caso dos microorganismos so as flavoprotenas.
Invertebrados Em invertebrados, que apresentam um sistema nervoso central relativamente simples, o ritmo de atividade centralmente controlado pela oscilao do relgio dentro de neurnios laterais). Os neurnios laterais so sincronizados pela captao de luz por fotopigmentos, mas tambm pelo menos indiretamente pela entrada de luz por fotorreceptores visuais. Em tecidos perifricos, entretanto, o arrastamento do relgio endgeno muito dependente da entrada de luz por fotopigmentos. Alm disso, quando rgos perifricos so removidos de uma mosca, por exemplo, o relgio dentro desses rgos isolados podem ser arrastados pelos ciclos claro/escuro independentemente de qualquer sinal do sistema nervoso central.
Vertebrados Em vertebrados, que possuem um sistema nervoso central complexo, o arrastamento totalmente dependente da captao de luz por fotorreceptores e da resposta ao ambiente ftico pelo sistema nervoso central. Nos vertebrados em que o sistema nervoso foi lesionado, ritmos perifricos tornaram-se completamente dessincronizados mesmo aplicando-se focos de luz em rgos perifrico desses indivduos. Assim com o aumento da complexidade do sistema nervoso central, a dependncia do ritmo circadiano perifrico a um mecanismo ligao central tambm aumenta. Em vertebrados no mamferos, trs estruturas junto com suas interconexes formam uma central, o eixo circadiano que controla e regula seus mais variados ritmos. Essas estruturas so: a retina; o complexo pineal, que de acordo com registro fssil um aspecto tpico da evoluo de vertebrados e o ncleo supraquiasmtico do hipotlamo. Todas essas estruturas apresentam fotorreceptores capazes de fornecer informaes sobre a quantidade de luz no ambiente. Os mamferos so os nicos que no possuem fotorreceptores extrarretinianos, em vez disso, eles usam a retina tanto para deteco de imagem como para a regulao do tempo biolgico. O eixo circadiano dos vertebrados no mamferos muito antigo, sendo encontrado at mesmo nos vertebrados mais primitivos, e tem sido modificado muitas vezes nos ltimos 500 milhes de anos, cada vez em resposta a presses seletivas dos nichos ecolgicos. Esse eixo circadiano vantajoso na medida em que cada um dos vrios fotorreceptores pode estar sintonizado para responder a diferentes aspectos do ambiente ftico, ou cada fotorreceptor pode prover informao sobre o ambiente ftico para um tecido especfico no qual ele reside. Os mamferos usam exclusivamente fotorreceptores da retina. Essa diferena na localizao de fotorreceptores em vertebrados mamferos e no mamferos pode ser avaliada pelo incio da histria evolutiva dos mamferos. Com sua nova habilidade adquirida de se termorregular fisiologicamente, os mamferos primitivos que estavam ativos durante a noite podiam sobreviver melhor, j que as horas claras do dia eram ocupadas com predadores rpteis. Animais noturnos so expostos apenas luz fraca do entardecer e/ou do amanhecer. Nesse ambiente ftico apenas os fotorreceptores mais sensveis, nos locais mais expostos, podem receber luz o suficiente para garantir a resposta. Sob essas circunstncias o organismo com mltiplos fotorreceptores corre o risco de receber mensagens conflitantes. Um dos fotorreceptores dir que ainda est claro enquanto os outros sinalizaro escuro. Tais sinais conflitantes no apresentam vantagem seletiva, levando a perda da foto-sensibilidade dos demais rgos. Quando muitos rpteis desapareceram e alguns mamferos voltaram a ser diurnos, no deve ter havido presso para reobter o sistema distribudo de seus ancestrais. Pode-se ver essas mudanas tambm em vertebrados noturnos no mamferos. Peixes, anfbios e rpteis Em peixes, anfbios e rpteis identificam-se osciladores circadianos oculares, com as propriedades descritas para invertebrados, como moluscos e crustceos. Mesmo sem tentar qualquer interpretao de carter evolutivo, percebe-se que as modificaes dos padres anatmicos tomaram rumos bastante paralelos nos dois grupos zoolgicos. Em ambos observa-se uma tendncia interiorizao dos osciladores, que em grupos anteriores ocupam uma posio bastante perifrica, em geral, junto aos olhos, ou ento so estruturas visuais, como clulas retinianas, que adquiram funo de osciladores. Neste nvel da escala filogentica aparece a funo da glndula pineal como marca- passo circadiano. Alm da funo da retina e da pineal, como osciladores hierarquizados, identificam-se em certos peixes, anfbios e nos rpteis, especialmente nos lagartos, um conjunto de neurnios hipotalmicos osciladores, que se pode considerar como precursores dos neurnios supraquiasmticos de mamferos.
Aves Os ritmos dirios so fundamentais para a organizao temporal de comportamento e fisiologia das aves. Como vimos anteriormente seus sistemas de marca-passo circadiano so complexos quando comparados com os dos mamferos, podendo estar relacionados com a complexidade e diversidade dos vrios estilos de vida que as aves apresentam em uma variedade de ambientes diferentes. As aves percebem a informao sobre o ambiente ftico por fotorreceptores da retina, da glndula pineal e do hipotlamo. Todos esses trs componentes podem contribuir na regulao da ritmicidade fisiolgica e comportamental. A glndula pineal, produzindo ritmicamente melatonina, o oscilador hipotalmico possivelmente age produzindo sinais neurais, e a retina ou produz melatonina periodicamente ou produz sinais neurais. Um exemplo de ave que utiliza pistas fticas para seu deslocamento dirio (dormitrio coletivo locais de alimentao dormitrio coletivo) o Papagaio-do-mangue Amazona amazonica, espcie que se distribui amplamente pela Amrica do Sul, e realiza esses deslocamentos em funo dos horrios do nascer e do pr-do-sol. Porque as aves voam e a massa corprea uma limitao, durante a estao no reprodutiva a maioria das aves inativa completamente seu sistema reprodutivo (ex. regresso gonadal), sendo capazes de alocar recursos a outras atividades sazonais como muda ou migrao. Assim como as aves, os morcegos tambm mostram um grau de regresso gonadal durante a poca no reprodutiva. Enquanto essa inativao completa do sistema reprodutivo durante a estao no reprodutiva garante benefcios energticos, tambm impe uma restrio temporal porque a reativao do sistema reprodutivo requer semanas ou, at mesmo, meses. Para neutralizar essa restrio temporal, animais que vivem em hbitat sazonalmente previsveis preparam-se para a prxima estao reprodutiva usando o fotoperodo como um sinal confivel para seguir condies favorveis. Atravs das pistas fornecidas pelo fotoperodo, as aves restringiro sua reproduo aos momentos em que as condies ambientais estiverem favorveis, porque elas tm altas taxas metablicas e necessidades de dieta especializada para a manuteno dos filhotes. Portanto, a disponibilidade de alimento para ninhego um fator significativo para o timing da reproduo em aves. O perodo anual de reproduo em populaes de aves tropicais geralmente mais varivel que em aves de latitudes maiores. Contudo, a maioria das espcies de aves estudadas tendem a ter uma discreta estao reprodutiva que usualmente relacionada com o padro anual de chuva, quando h alimentos em abundncia. Mamferos Em mamferos, a informao de luminosidade na retina influencia o oscilador circadiano primrio localizado no ncleo supraquiasmtico via uma projeo neural distinta chamada de trato retino-hipotalmico. Um pr-requisito para um completo desenvolvimento da ritmicidade de recm-nascidos dessa classe o ritmo circadiano intacto de sua me. Informaes temporais provenientes da me parecem estar envolvidas no arrastamento do ncleo supraquiasmtico do feto, j que o ambiente uterino no constante, estando submetido a inmeras oscilaes produzidas pelo organismo materno (hormnios, temperatura, suprimento de sangue). bastante provvel que essa capacidade de arrastamento fetal tenha consequncias adaptativas, preparando o organismo para caractersticas temporais do novo ambiente que ir enfrentar . Quanto produo de melatonina, esta varia de forma importante ao longo dos diversos momentos do desenvolvimento ontogentico, sendo, na espcie humana, mxima nos primeiros anos de vida, caindo no perodo que precede a puberdade e tornando-se mnima com a idade avanada. Este fato traz algumas consequncias durante o envelhecimento tais como: aumento da fragmentao do sono, aumento da frequncia de cochilos diurnos, mudanas de fase do sono, com avano de 1 hora mais cedo por dia (tendncia a deitar cedo e levantar cedo), maior fadiga diurna e alterao nos sincronizadores sociais (rotinas de alimentao, sono, atividades fsicas e outras).
Adaptaes temporais de alguns organismos ao ambiente: estado de dormncia
Para os seres vivos, geralmente vantajoso permitir-se entrar em estado de dormncia durante perodos em que as condies ambientais no esto favorveis, principalmente no que se refere falta de alimentos. O termo estivao, refere-se a uma dormncia em que algumas espcies de vertebrados e invertebrados entram em respostas a temperaturas ambientes elevadas e/ou perigo de desidratao. Caramujos terrestres como os dos gneros Helix e Otala tornam-se dormentes durante longos perodos de umidade baixa aps selar a entrada da concha pela secreo de um oprculo semelhante a um diafragma que retarda a perda de gua por evaporao. Os peixes pulmonados africanos do gnero Protopterus, para sobreviverem em perodos de estiagem, em seus lagos secos, estivam no fundo semi-seco at que a prxima estao de chuva encharque a rea. O peixe pulmonado prende-se em um casulo, no qual um pequeno tubo liga a boca do peixe ao exterior para permitir a ventilao dos pulmes. Outro tipo de dormncia profunda a hibernao, que dura semanas ou mesmo vrios meses em climas frios. A Hibernao comum em mamferos das ordens Rodentia (ex. marmota Marmota marmota), Insectivora (ex. ourio-cacheiro Erinaceus europaeus) e Chiroptera (ex. morcego-rato-grande Myotis myotis), que podem estocar reservas de energia suficientes para sobreviver aos perodos em que no h alimentao. Como poderia ser esperado, as funes corporais so bastante prolongadas no tempo abaixamento da temperatura corporal e menor a velocidade de converso dos estoques de energia, como o tecido adiposo, em calor corporal. Assim, levando em considerao pistas ambientais e o relgio endgeno, os seres vivos podem antecipar condies ambientais desfavorveis, preparando-se para melhor enfrent-las.
Bibliografia CIPOLLA-NETO, Jos; MARQUES, N. & MENNA-BARRETO, L.S. Introduo ao Estudo da Cronobiologia. 1988. So Paulo: Icone-EDUSP. HILDEBRAND, M. (1995). Anlise da estrutura dos vertebrados. So Paulo: Atheneu, p. 414. RANDALL, D.; BURGGREN, W. & FRENCH, K.. 2000. EICKERT - Fisiologia Animal: Mecanismos e Adaptaes. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro.
SCHMIDT-NIELSEN,K. Fisiologia Animal: adaptao e Meio Ambiente. 1996. So Paulo: Livraria Editora Santos.