Você está na página 1de 3

Com a criação da figura jurídica legal do “emprego público” se constitui uma das

mais importantes modificações introduzidas na gestão de pessoal da administração pública.


Todo esse processo aconteceu em decorrência das revisões constitucionais associadas
às iniciativas da Reforma Administrativa do Estado como um todo, históricamente o emprego
público compõe parte das medidas de flexibilização do trabalho que foram adotadas pelo
governo Fernando Henrique Cardoso com o explícito propósito de ajustar a economia em
geral e a administração pública em particular a requisitos de eficiência e controle de gastos,
como comseguinte, tal figura reintroduz a CLT ¹ como um regime de trabalho alternativo no
âmbito do serviço público, modalidade que chegou a ser bastante difundida nos anos 70 e 90,
mas que havia sido deixada de lado pela Constituição de 1988, quando prescreveu que os
servidores públicos de todos os entes federados seriam regidos por um estatuto unificado, um
regime jurídico único; essa criação ocorreu com a promulgação da Emenda Constitucional n.
19/1998.
Em síntese, conforme o art. 41 da Lei Maior, servidores nomeados para cargo de
provimento efetivo em virtude de concurso público, após cumpridos os requisitos
constitucionais, adquirirão estabilidade, só podendo ser desconsiderada nos casos
expressamente previstos no corpo da Lei Maior (arts. 41 e 169). Ressalte-se que tal garantia
restringe-se aos cargos de provimento efetivo, carecendo de sentido falar-se em de confiança
e temporários (CF/88, art. 37, IX), em face de suas características próprias.
Nesse contexto, é importante distinguir de forma a caracterizar as modalidades de
cargo público e de emprego público.
Para Celso Antonio Bandeira de Melo o primeiro é a mais simples e indivisível
unidade de competência a serem expressadas por um agente, previstas em número certo, com
denominação própria, retribuídas por pessoas jurídicas de direito público e criados por lei. Os
servidores titulares de cargos públicos submetem-se a um regime especificamente concebido
para reger esta categoria de agentes,e tal regime é estatutário ou institucional; logo, de índole
não-contratual. O segundo é um núcleo de encargos de trabalho a serem preenchidos por
ocupantes contratados para desempenhá-los, sob relação trabalhista. Os empregados sujeitam-
se a uma disciplina jurídica que, embora sofra algumas inevitáveis influências advindas da
natureza governamental da entidade contratante, basicamente, é a que se aplica aos contratos
trabalhistas em geral; portanto, a prevista na CLT ¹.

¹ Consolidação das Leis do Trabalho.


Se fizermos o destarte, a relação de trabalho estabelecida com a administração pode
ser pela unilateralização do vínculo, havendo o cargo público. É por este motivo, que somente
são considerados como servidores públicos os que titularizam um “cargo público“; ao passo
que a relação de trabalho que resulta do vínculo administração-empregado, caracteriza-se
pelo regime contratual, portanto, bilateral, onde o que prevalece para regrar essa relação são
as leis trabalhistas, enquanto aos servidores o que prevalece é o estatuto local.
Não bastasse isso, leva-se em conta o regime a que estão submetidos; enquanto, para
o ocupante de cargo público exista previsão legal de submissão estatutária (Lei 8112/90), por
outro lado os próprios tribunais pátrios tem entendido que os não fazem jus à estabilidade os
empregados de empresa pública e de sociedade de economia mista. Vejamos, o entendimento
do STF e súmula do TST abaixo colacionados:

STF, AI-AgR 561.230/RS, relator Ministro Gilmar Mendes, publicação


DJ 22/06/07: Funcionários de empresa pública. Regime Celetista.
Readmissão com fundamento no art. 37, da Constituição Federal.
Impossibilidade. Estabilidade que se aplica somente a servidores
públicos. STF, AI-AgR 630.749/PR, relator Ministro Eros Grau,
publicação DJ 18/05/07: A estabilidade dos servidores públicos não se
aplica aos funcionários de sociedade de economia mista. Estes são
regidos por legislação específica [Consolidação das Leis Trabalhistas],
que contém normas próprias de proteção ao trabalhador no caso de
dispensa imotivada.

Súmula 390, TST: (…) II – Ao empregado de empresa pública ou de


sociedade de economia mista, ainda que admitido mediante aprovação
em concurso público, não é garantida a estabilidade prevista no art. 41 da
CF/1988.

E exigência de aprovação em concurso público não seria um elemento capaz de


estender ao empregado público a estabilidade constitucional. Em outras palavras, aprovação
em concurso público tem relação com o ingresso na administração e jamais, como garantia de
permanência no serviço.

Por derradeiro, concordamos com parte da doutrina que, mesmo não aceitando a
aplicação do artigo 41 aos empregados públicos, considera que a Administração pública direta
não pode praticar atos ao seu bel prazer, de modo que somente poderia proceder dispensa de
empregados públicos mediante motivação. Pois este é um elemento de validade da demissão
por parte da Administração (art. 37, caput, CF).
Por todo o exposto, concluímos que o empregado público não faz jus à estabilidade,
porém qualquer dispensa de empregado não pode ser feita sem qualquer fundamentação uma
vez que a Administração pública deve motivar seus atos através dos mecanismos legais
estabelecidos.

REFERÊNCIAS

MODESTO, Paulo. Estágio Probatório: questões controversas. Revista Eletrônica de


Direito do Estado (REDE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, n°10,
abril/maio/junho, 2007. Disponível http://www.direitodoestado.com.br/rede.asp .
Material da 2ª aula da disciplina Direito Administrativo, ministrada no curso de pós-
graduação lato sensu televirtual em Direito Público – Anhanguera-UNIDERP|REDE
LFG.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de, “Curso de Direito Administrativo“, Editora Malheiros,
São Paulo, 1999, pp. 126 e 127. Disponível: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2150
Acesso em 17.11.2008.

Você também pode gostar