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CIP-Brasil, Caralogacao-na-Fonte ‘Camara Brasileira do Livro, SP Chomsky, Noam, 1928 : C4741! Reflexdes sobre a linguagem / Noam Chomsky: tradugio de Carlos Vogt... (et al.). — Sio Paulo: Cultrix Q 1980. 1. Linguagem 2. Lingdistica 1. Titulo. Cbb-410 400 Inulies jrata catdlogo sistematico: U Laypseage ee 100) S Langa 110 NOAM CHOMSKY REFLEXOES SOBRE A LINGUAGEM Tradugio de CaRLOs Voor, CLAUDIA TEREZA GUIMARAES DE LEMOS, MARIA BERNADETE ABAURRE CNERRE, CLARICE SABOIA MADUREIRA, E VERA LUCIA MAIA DE OLIVEIRA (do Departamento de Linguistica do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, $P) ‘SBD-FFLCH-USP. WOE ~~ . EDITORA CULTRIX “TO te humana, Mais inirigame ainda, pelo menos para mim, € 3 possibilidade de descobrit, através do estudo da linguagem, priacipios abstratos que go vemnam su estrutura e uso, principios que sic universais por necessidade biol6gica © mio por simples acidente historien, e que decorzem de caracters ticas mentais da especie. Uma lingua humana @ um sistema de nocdvel ‘complexidade. Chegar a conhecer uma lingus humana seria tum feito inte lectual extraordinirio para uma criatura nao especidicamente dotada para realizar esta tarefa, Una criantca normal adqaire esse conhecimento expon dose relativamente pouco ¢ sem treinamento especifico. Fla consegue, en to, quase sem esiorso, fazer uso de uma estrutura intrincada de reyras es pecificas e principios rexuladores para transmitir seus pensamentos ¢ senti- ‘mentos 205 outros, provocando nestes idéias novas, peroepgOes e juizos sit tis, Para a mente consciente, ndo especialmente dotada pare tal finalidade, reconstruir e compreender © que a crienga realivou intuitivamente ¢ com esforco minimo € ainds um objetivo distance. A linguagem €, assim,0 es pelho do espitito, num sentido profundo ¢ significtivo. Bla é umn produto dda inteligencia humana, wana criacao cenovada em cada individuo através de ‘operagies que ultrapassam o alcance da vontade ou da consciéncia Estudando as propriedades das linguas naturais, sua esteutura, organiza lo e uso, podemos esperancasamente chegar a entender um pouco 2s ca Tacteristcss especifcas de intligencia humana, Podemos talvez aprender a- ‘guma coisa a respeito da natureza humana: alguma coisa significaiva, se & Nerdade que a capacidade cognitiva do homem & 0 trago verchdeiramente istintivo e a mais admirivel das caractesisticas da espécie. Alem disso, nao 6 absurde pensar que o estudo desta faculdade especitica do omen, a capa: cidade de falar e de entender uma lingua humana, possa constituir um mo- delo sugestivo para a pesquisa em outros dominios da competéncia e da aio humana, menos acessiveis & investigacdo direca ‘As questtes que pretendo examinar sio clissicas. Nos pontos mais im portantes ndo ultrapassamos, neste dominio, @ antiguidade classica na for- imulagdo clara dos problemas, om nas respostas as questdes que imeédiata mente se levantam. Desde Piatdo até os tempas stuais, grandes filésofos mustrararse perplexos ¢ intrigados diante da pergunta que Bertsand Rus- sell, ean tim de seus tikimos trabalhos, assim formulou: “De gue modo os eres humanes, cujos cantatas com o mundo so breves, pessoais e limita hs, conseguem upesar de tudo chegar a saher tanto quanto sabem?""(Rus. sell, 1948, p. 5.). De que modo conseguimos adquirie sistemas de conheci: mente tae elabociles, dacs toss experincia pobre e fraymentaria? Os cé- tices dogmaticos poeriam responder que io dispomes de tal tipo de co- abecimento, Suis objegies slo ieelevantes para a presente discussie. A mesma questo se cnloca. cosno questde cientifica, se perguntarmas de gue modo os sens huuanes. + partir de experiencias tio limitades e pessoais, 10 ‘mostrum tanta convergéncia nos complexos « altamente estruturados sist ras de crenga, sistemas esses que regulam suas ages ¢ inercdmbios, bern como sua interpretacao da experiencia. Na ttadicdo clissica, muias foram 4s respostas oferevidas, Poder-se-ia argumeatar, a0 modo de Aristbtelcs, que © mundo se estnutura de determi- nada maneira e que o espirito humano & capaz de perceber essa estrutura, partindo dos casos individnais pura chegar a especie, a0 genero e depois a uma generalizaglo mais ampla, alcangando, assim, o conhecimento dos uni- versais a partir da percepedo dos cisos particulares. Uma “base de conheci- mento preexistente’” seria pre-requisite para 4 aprendizayem, Devernos ter ‘ama capacidade inata para atingir estigies desenvolvides de conhecimento, ‘mus tis capacidades “ito sfo inatas numa forma determinada, nem se de- senvolvem a partir de outros estgios superiores de conhecimento, mas a partir da percepyao dos sentidos"”. Dado um conjunto elaborado de pressu: postos metafsicos, & possivel imaginar que uma mente “*constitaida de mo do a poder realizar esse processo”” de “‘inducio™ seria capaz de adquiris tum sistema elaborado de conhecimento. ‘Mais fecunca e @ ahordagern que procura assentar 0 essencial da explice go nfo na estrutura de crundo, mas ma estrutura do espirito. O gue pademos conrecer vria determinad pelos “*modos de concepgao do enter mento’; entio, aquilo que conhecemes, ov aquile em que acrecitames, depencleriam das experiénciss especificas cue estimulam zlguma pant do sister Cegnitivolateate een nceso espe. Na epoca modema, sobretudo pela influencia do pensamento cartesiano, & pergunta ““o que posers conhecer?” colacourse novamente ao centro 485 indagagées, Para Leibniz. e Cadworh, 4 doutrina de Platio, segundo a qual no adquirimos novos conhecimentos, € sim recuperamos © que ja era conhecido, parecie plassivel, coatanto que *depurada’ da iddia etrada de uma existéncia anterior"*.? Cudworth defen- dexs longemente 2 idea de que o espitito tem unt “poder cognitive inato”” que fornece os principios eas concepedes constitutives de nosso conhecimento, quande devidamente estimulado pelos sentidos. “Mas as coisas sensiveis em si (como, por exemplo, x luz e as cores) alo. sdo conbecidas e entendidas, nem através da paicio ou da fantasia dos sentidas, nem atraués de algo meramente exterior e fortuito, mas através de idtias i eligveis producides pelo préprio espirito, isto &, pot algo gue the & natural «interior. Portanta, 0 conhecimento “*consiste em despertar e estinnular ccapacidades ativas inerentes ac espirito”’, que “‘exerce sua prépria atividade interior sobre”? os objecos apresentados pelos sentidos, chegando assim a ‘conhecer ou a compreender, (.. a apreender algo através de alguns racio- ‘inios abstratos, da razdo livre ¢ universal...” O olho percebe, mas o espiri to pode comparar, analisar, ver relagées de causa ¢ efeito, simetrias, etc, pproduzindo uma iia abrangente do todo com suas partes, relagoes ¢ pro) ” ——R~——$ porydes. Para Cudworth, o “livro da natureza é “legivel apenas para o coho intelectual”®, da mesma forma que um homem que Ie um livro nome Ungua que conhece & capaz de aprender alguma coisa a partit das "*garati: jas da pena’, *'Os objetes primeiros da citncla ¢ da intelecgdo”", isto &, "as esstncias inteligiveis das coisas", “*existem tdo-somente no prépric es. plrito, criacées suas que slo (..) Através destas idéias inerentes, que sto seus objetos primeires, o espitito conhece e apreende todas as coisis exte- lores particulares, que sio apenas objetas secundarios do conhecimento”” Entre as “ideias inatas"” ou “*nogdes comuns” discutidas na obra rica vatiada das racionalistas do século XVI esto, por exemplo, conceitos geometricos e similares, mas também “idéias relacioneis ov categorias {que entzam em toda apresentacdo de abjetes e tornam passivel a unidade € ain terconexidade das experiéncias racionais’”5, incluindo-se “*nogées relativas como “Causa e Bfeito’’, Todo ¢ Parte, Semelhante e Diferente, Proporgio e Analogia, Iguaidede e Desigualdade, Simetria ¢ Assimetria"’. Todas estas idtias retativas’”... [sho] ... 20 maccas materials exteriores impressas na alma, mas sua propria utividade de concepyao prodistla pur ela proprid ma medida em que registra os objetos exterieres''S. Seguindo o desenvolvimen to destas ideias, chegamos ao conceito similar de Kant de ‘*conformidacle dos (os a nosso moda ce cagaicao”*.O espirito fornece os meias para a analise dos dados da experiéncia, ¢ fornece também uma esquematizagio geral que delimita as estruturas cognitivas desenvolvids com base as experiencia, Para voltar & intecrogagio de Russell, se somos capazes de conheves tan ts coisas & porque, de certo modo, ji a8 conheciamos antes, mesmo se for aim necessitios os dados dos sentidos para provocar e fazer emergir esse co- nhecimento. Ou para dizéto de usa forma menos paradoxal, nosscs siste- mas de crenga sto 0s que 0 espirito, enquanto estrutura biolbgica, esta des- tinado a construir. Jnterpretamos a experiéneia de determinada maneira em fungdo das caracteristicas especificas de nosso espirito. Atingimas 0 conhe- cimento quando as *‘ideias interiores a0 proprio espirito”” e as estruturas que ele cria se conformam 4 narureza das cos, E preciso descartar certos elementos das teorias racionalistes, mas sue forma geral parece admissivel, ‘Trabalhos recentes tém demonstrado que grande parte da estrotura detalhada do sistema visual esté ja “*previamente instalads"’. meso que seja necessario o estimule de uma experiéncia para que o sistema entce om funcionamento. Ha evidencias de que 9 mesmo seja valido para ay estruturas auditives que analisam pelo menos alguns tragos fonérieos distintises. (CL Eimas et al, 1971) A medida que as téenicas Ge investiga se aperteigoam, argument Bower, ‘mais soisticado se re veli o sistema perceptual thes bebés’”. Bower examina alguns fatos que su erem que “0 vstemat perceptual des bebés parece capar de tratar todos os a problemas tradicionais da percepcdo do espaco tridimensional” — percepeao Ge corpos sélidos, da distancia, das invariantes dimensio distancia ¢ da con- servagio das dimensées. Assim, ““contrariamente a tradicdo berkeleiana, 0 mundo do bebé parece ser inerentemente tridimensional” (Bower, 1972). Hé evidencia de que, antes mesmo de serem capazes de segurar urn objeto, cs bebés conseguem distinguir os que podem ser pegos dos que no o por dena, através de informagées puramente visuais (Bruner ¢ Koslowski, 1972) Gregory observa que ‘a capidez com que os bebés conseguem associar 45 propriedades dos objetos e logo em seguida aprender como prever pro- priedades escondidas ¢ acontecimentos futiros seria impssivel a menos que tema parte da estrutura do mundo fosse hereditaria — fosse, de algum mo- do, parte da constituigio inata do sistema neryoso"”.” Sugere mesmo que ‘deve haver uma "gramatica da visio”, semelhanga da gramdtica da lin ‘guagem humana, e possivelmente relacionada com esta na evolucdo da es ‘pécie. Fazendo uso dessa *'gramética da visio"” —- inata em grande parte “os animais superiores sto capazes de ‘ler nas imagens setinais mesmo 18 eragos ocultos das objetos € prever seus estados futuras imediatos™, de ‘modo a *classificar 0s objetos segundo urna gramatica interna, ler a realida- de a partir de seus préprios olhos"”. Vai-se gradualmente conhecendo a base neurologica desse sistema, desde 0 trabalho pioneiro de Hube] ¢ Wiese) (1962). De um modo mais geral, tudo leva a supor que "*o comportamento de aprendizagem ocorre através dx modilicagio ce uma organizacio estrutu- ral que jf & funcional’”; “‘a sobrevivencia seria improvavel se na nacureza a aptendizagem exigisse a repetigio prolongads caracteristica da maior parte os procedimenton condicionadores'”, « & fato bastante conhecido que os animais adquirem sistemas complexos de comporamento por outras vies ohn, 1972}, 'A despeito da plausibilidade de muitas de suas ideias diretrizes ¢ de sua afinidade com. 0 ponto de vista dos ciéncias naturais em alguns aspectos cru ciais, 2 tradicao Tacionalista tem sido muitas veres refutada on ignorada no estudo do compartamento e da cognicao. E um fato curiose, aa histéria in telectual des ultimes seculos, a diference na abordagem do desenvolvimento fisico e mental. Ninguém levaria a sério a hipotese de que 0 organismo hu ‘mano aprende pela experiancia a ver bragos ett luger de asas, of a hipotese de que a estrutura de orgios especificas resulta de experigncias acidentais, Pelo contrariv, & panto pacifico que a estrutura fisica do organismo € gene sicarente determinada, embora, & caro, variagdes quanto a tamaniio, ritmo de desenvolvimento, e coisas desse tipo, dependam em parte de fatores ex temas. Do embrito 20 organismo adulto, ha um padrio preestabelecido de desenvaivimente, com determinados estigios, tais coma 0 inicio da puber- dade ou a etapa final do crescimento, previstos para ans depois. A vasies de dentro desses padrées fixos pode ter grande importéncia para a vida hu: 4 mana, porém as questées bisicas de interesse cientifice ligam se ao esquema fundamentat de crescimento e desenvolvimento, geneticamente determins- do, que & caracteristico da espécie e di origem a estruturas de maravilhosa complexidade. ‘As caracteristicas da especie, por sua vez, desenvolveram-se a0 longo de muito tempo e, ¢ dbvio, o ambiente produz as condigtes de uma diferen iacio nz reproducdo, o que acarreta a evolngio da especie. Mas twata-se de Juma questdo inceiramente diferente, e também neste caso se podem levan- tar indagecbes respeito das leis fisicas que regem essa evolugio. E claro ‘que nfo se sabe 0 suliciente para justificar quaisquer pretensdes de grande aleance ( desenvolvimento da personalidade, os padres de comportamento © as estruturas cognitivas dos orgenismos supetiores tem sido muitas vezes enfocados de modo bem diverso. Supte-se geralmente que, nesses dominios, fo ambiente social ¢ 0 fator dominante, As estruturas do espirito que se de- senvolvern ao longo do tempo sZo tidas como arbitririas e contingentes; no ha uma “‘aatuzeza humana" fora daquilo que se desenvalve como pro- duto historico especitico. De acordo com essa visio, tipica da especulagto empirista, alguns principios gerais de aprendizagem que sic comuns em sua esséncia @ todos (ou a uma ampla classe de) ongenismos sdo suficientes para explicar as estruturas cognitivas desenvolvidas pelos seres humanos, estru- turas que incorporam os principios a partir das quais o comportamento u- rmiano & planejado, organizado e controlado, Ponho de lado, sem mais co- rmentarios, a concepe&6 estranha — ainda que influent — que preconiza « ino considcragio de" estides intemes"” no estude do comporamento.® ‘Ora, of sistemas cognitivos hummanos, quando estadados com scriedade, revelam se tic mataviliosos e intrincados quanto as esteuturas fisicas que se desenvalvem durante a vida do organismo, Por que, entio, nio deveria~ sos estudar @ aquisic’o de uma estrutura cognitiva tal como a linguagem imais ou menos da mesma forma que estudamos um érglo fisico complexo? ‘A primeita vista, a peoposta pode parecer absurd, pelo menos diante da grande variedace de Kinguagens humanas. Mas uma consideragéo mais, atenta dirime as dvidas. Mesmo conhecendo pouca coisa de substancial a respeite dos universais lingtisticos, podemos estar bastante seguras de que 4 variedace possivel de linguas ¢ rigidamente limitada, Observages supetf- Cais hastam para que se estabelegam algumas conclusdes qualitativas. Deste nnealo, & evidente que x lingua que cada pessoa acquire € uma construgdo #- ‘Gre complexa, que nao poderia ser determinada pela evidencia Srapmentiria Uisponivel, F por cvs razde que a indagacéo cientifica a respeito da nature ‘ava lingysigens nt tantas dificuldades e resultados tao limitados. O pensa- merit const ieate nao & dglado de qualquer conhecimento prévio (on, ei do Atistateles mais uma vez, © dotado apenas de conhecimesto previo insu- 4 ficiemtemente desenvolvide), Assim, ele se vé frustrado pelas limitacdes da ‘evidencia disponivel e se depara com intmeres teorias explicativas possiveis, muvaamente incompativeis, mas accquadas aos dados. Ou entdo — situalo fambem infeliz — nao consegue elaborar nenfruma teoria razodvel, Conte Go, os membros de uma comunidade lingtistica desenvolvem basicamente luma cesta Hingua. Este fato so pode ser explicado pela pressuposicio de que esses individuos empregam principios altamente restrtivos que rien tam a constmusa da gramética. Por outro lado, & um facto dbvio que ndo ha rho homem uma predeterminagao para que aprenda esta e ao aquela li ‘gua; o sistema de principios deve ser uma propriedade da espécie. Restricdes poderosas devem operar na delimitagao da variedade de linguas. © natural ue em nossa vide didtia nos interessemos apenas pelas diferencas entre as pessoas, e que negligenciemos as uniformidades estrutureis, Mas quando buseamos entender o organismo humano, s80 outtas as exigencias intelec- tuais que se impdem "A idéia de considerar o desenvolvimento da linguagem andlogo ao de senvolvimento de arm drgto fisico &, portanto, perfeitamente natural e plax~ sivel.£ justo pergontar por que a crenca oposta los empiristas tem sib tho atraente para o gosto modem, Por que se aceitou to facilmente a ideia de {que existe uma ""teoria da aprendizagem"” que pode explicar aquisigio de Gstruturas cognitivas através da experiéncia? Haver’ um conjunto de evi Gencias, estabelecido pela indagugio cientfice — ov observagdo, ou incros- pecglo —, que nos leve a considerar dhlerentemente o desenvolvimense ental ¢ 6 isico? A resposta é, certamente, ndo. A ciéncia no fomece ne ‘shuma razfo para que se “‘accite a maxima comum de que afo hé nada no intelecto que nio tenha passado antes pelos sentides””, ow para que se ques tone a negacio dessa mixima aa flosofie racionalista.? A investigagz0 das realizacdes intelecteais do homem, mesmo 2 mais comam,nio sustents essa tese, ‘A especulagio empirista e a “‘ciencia do comportamento”” que se de senvolveu em seu Ambito tém-se mostrado um tanto estéreis, talver devido fos pressupostas peculiazes que norteiam e limitam suas indagacses. A. au: didncia da dovtrina empirista no periodo moderno, fora das cigncias natu rais, deve ser explicada em termos sociologicas ¢ histérices.1° A. posigao em si tem pouce a recomendirla ne que toca a evidéncia empicica, a plausi bilidade inerente, ou a0 poder de explicacio, Nao acredito que esta doutrina atraia um cientista capa de por de lado o «ito tradicional ¢ abordar os pro- blemas de modo novo. Ac contritio, ela funciona como um impedimento, tum obsticulo intransponivel para a indagacao produtiva, tal como os dow ‘mas teligicsos que cutrora se pascram ao caprinho das ciencias natu ‘Argumentase, as vezes, que o empirismo moderno supera as i ies da tradigo anterior, mas acho que esse visto incorre em sériv Hume, por exemplo, apresentou tha teoria consistente a respeito das ‘fon. {es e principios secretos, que esto na base das operacdes do espirito huzna ‘no’. Em sua investigecto sobre os fusdamentos do conhecimento, sugere principios espectficos que constituem “uma espécie de instinto natural” Os empiristas modernos que menosprezam Hume nao fazem mais que substitui a sua teoria por sistemas vazios que preservam a terminologia, empirista (ou mais estritamente. behaviorisis), a0 mesmo tempo que sub- traem as idéias tradicionais sua substéncia. Tratei desse essunto alhures (cf cap. 4) € nao o desenvolverei aqui. [Nos iiltimos anas, muitas dessas questies, por muite vempo adormeci das, foram novamente trazidas 2 baila, em parte em conexdo com 0 cstudo da linguagem. Tenv'e discutido muito a chamads ““hipotcse do inatismo"’. que coloca entre 25 faculdades da mente comuns a espécie, ur faculdade de Tinguagem que desempenha as énas fungSes bisicas da teoria racionalis- ta: prevé um sistema sensorial para ¢ anilise preliminar dos dados Jingist- cas. © um conjunto de esquemas que determina, de modo muito preciso, tuma certa classe de gramaticas. Cada gramitica ¢ uma teoria de uma dere rminada Kingus, especificando propriedaces formais e semanticas de um con- junto infinito de sentencas. Estas sentencas, cia uma com uma estrutura particular, constituem a lingue gerada pela gramatica. As Kinguas assim ge radas sao’ as. que podem. ser “‘aprendidas'’ normalmente. A taculdade de Tinguager, dado o estimulo adequado, comstruira uma gramatica: a pessoa conhece a lingua gerada pela gramatica construida. Esse conhecimento pode fentio ser aplicado na compreensie do que & cxtvido © na producdo do dis- ‘curso enquanto expressio Go pensamento dentro des limites impestos pelos principies internalizades, de modo apropriado as situagdes tais como conce- bidas por otras faculdades montais, independentemente do controle de est mulo.t! As questoes relacionadas com: a faculdade de Linguagem e seu exer: Cicio s80, pelo menos em minha opiniao, as que conterers um intcresse im relectual mais amplo ao estudo teciico da linguagem, Gostaria agora de considerar a chamaca *“hipotese de inatismo"”, iden tificur alguns clementcs conurovertides ¢ deFinear aljons problemas que sur gem quand se procura resolver @ controversia. fim seguida, tentaremos ver 0 ye se pode dizer a respeito da natureza ¢ do exercicio da comperéncia Lingiistica adkuirida, ¢ outros assuntos relacionados ‘Come observagio preliminar, devese dizer que a expressée “hipbtese dd inatismna’” & enais emprepadz’ pelos criticas do que pelos defensores da posigao a qquv se refere. Nunca empreguei essa expressito, pois el Teva ape nas a equivocos, Tors “teoria da aprendizagen:”” digna de consideragae in- corpora uma hipenee de inativmso, A eoria de Hume, por exemplo, propde escruturas inatas espoviticus «kt mente € procura explicar wodo 0 conheci mento humane com hase nests estrutaras, postulando inclusive conheci: 6 ieato inconscience ¢ inato. (Ch cup. 4.) A questio nao & determinur se a aprendizagem pressupde ou no uma estructura inata — € claro que pressu- poe: isso munca foi posto em divida ~-,mas sim quais sto as naturezas ina- tas em dominios especificos, ‘O que & uma teoria da aprendizagem? Hit uma seoria que seja a teoria da aprendizagem, a ser descoberta? Tenteatos aproiundar ¢ talvez dar ak gong passos em diregao as cespostas a ais perguntas Considere-se primeiramente como um cientista neutro — esse idea) imaginario — procederia ao investigar exsa questfio. O primeiro passo seria naturalmente selecionar um organismo, O, em um dominio cognitive ra- zoavelmente delimizada, D, © tentar consteaic uma teoria que poderiamos cchamnar de "a teoria da aprenizagem pare 0 organismo O 20 dominio D’” Esta teoria — chamemorla TA (,D) — pode ser vista como um sistemna de principias, uum mecanismo, uma funglo, que tem am deterrninado **input’* fe um determinado “‘output’” (seu dominio ¢ seu escopo, respectivamente} 0 “input?” do sistema TA (Q,D) sera uma analise dos dados de D por O: o “ourpui’” (que &, obviamente, uma representacio interna, nao uberta ou exposta) sera algum tipo de estrotura cognitiva. Esta estruture cognitive & tum ete mento de estagio cognitive alcangado por O, Por exemplo, suponka-se que O represente seres humanos, ¢ D lingua gem. Entao, TA (FL) — a teoria ¢a sprendizagem dos seres humans no dominio linguagem — sera o sistema de principios através dos quis 05 se res humanes chegam 20 conhecimento de uma lingua, a partir de experién: Gia linguistica, ou seja, a partir de uma andlin« preliminar que desewvolvem para os dados da lingua. Ou suponha-se que O tepresente rates, e P percr so de labirintos. Enido. TA (R.P} sera o sisterna de principios empregade pelos ratos pars aprender a percorrer labirintos. O “input” TA (RP) é & analise preliminar des dades: — scja ela qual for — empregada pelos racos para realizar esse (cito, ¢ © “ourpuc’’ & & estrutura cognitiva zelevante, sen ddo que « sua earacterizzqao deve ser feita enquanto componente de win esta gio alcangado pelo rato que sabe percorrer um labirinto, Nao ha razao para Guvidar que a estrutura cognitive adquiride ¢ o estigio cognitive do qual & ‘um constituinte sejam bastante complexes. Para facilitar a discussto, facamos dues supasicées simplificadoras. Pri meito, que 0s individuos da espécic O sob investigagaa sie essencialmente identicos quanto & sua aptidae para aprender sobre co dominio D — por ‘exemplo, que 0s seres humanos ndo diferem quanto & capacidade de apren der ums lingua. Segundo, que a aprendizagem pode ser concepeualizada co- smo processe sinstantineo 0 seguinte sentido: suponha que TA (O.D) se apresenta com um registra curnulativo de todos 0s dados acessiveis a O ate tum determinado momento, e que TA (Q,D}, operando sobre tais dads, produz estrutura cognitiva aleangada naquele momento, Nenu dessas 0 suposigdes ¢ verdadeira: existem diferencas individuats, e a aprendizagem le va algum tempo, as vezes um longo tempo; voltarei depois a tratar de "quo falsas’” sio essas suposicées. Acho que elas permitem urna primeira aproximacio proveitosa, itil para z formulago de certas questies ¢ talver para muito mais. Para desenvolver o estado de uma dada TA (O.D) de mode racional, passaremos pelas seguintes etapas da pesquisa 1 — Batabelecer 0 dominio cognitive D 2— Detorminar de que modo O ear ipréseorcomente™” os dides em D, cons ‘lado assim o oc podertamcn chemar "experigncia de O eax D' (sem enquecer (que &*“aprendizager instantanes"” ¢ um conceto eal. 3 -- Betesmivara naurera tt evituea cogaitva aaqulig, ite 6, deterinar, ns med a do pessivek a qe ¢ agrondide or O no dominio D 4 —Determinar TA (OD), 0 stoma gue elaciona 2 experifnda an que €xprendido ‘A etapa 4 apbia-se nes resultados obtidos nas ctapas 2 € 3. Para evitar interpretagies equivoras, talver. ev deva frisar que a ordem das ctapas é uma espécie de reconstrugio racional ca investigacao racional Na pratica, nao hd uma seqléncia estrita, © trabalho no nivel 4, por exem- plo, pode convencer-nos de que # nossa delimitacio inicial de D estava erta a, de que nic consequimos abstrair um dominio cognitive coerente. Ou pode levar-nos a concluir que interpretamos mal o carater do que é aprendi do na etapa 3. Ainda assim, permanece vélide a afirmaco de que so pode- remos descobrir alguma coisa no nivel 4 aa medida em que chegarmos & certa compreensi dos niveis 2 © 3 ¢ tivermas feito uma escolha judiciose {ou feliz) no nivel 1, Nc ha sentido ema relacionar dois sistemas — no caso, a expeziéncia € o que € aprenddo — ser uma ida bastance clara sobre eles. Entre parénteses, pode-se observar que a etapa 3 esta ausente de muitas formulagées da teoria psicalogica, se bem que em prejuizo proprio. Na ver dad, mesmo o conceito de "0 que € aprendido”” esté ausente em “teorias du aprendizagem’’ correntes. Nestes cases, as questoes basicas sobre “te ria da aprendizagem”” nio podem sequer ser formuladas. De que mado se encaisa neste quadre 0 estude do comportamento? Sem dkivida, uma compreensic da naturezz de um organismo é pré-requisi- fo para o estude de compertamento — “pre-requisite” no sentido expli- cade acinna. Um erganismo atinge determinado estigio ateavés da macura- Gio e da experiencia. O organismo defronta:se com determinadas condighes objetivas, ¢ entde faz alguma coisa, Em principio, podesiamos querer inves: tiger o mecanisnio M, gue determina o que o organismo fz (talvez. em te:- ‘mos de prohablidade, sala sus cxperiéncia anterior e suas condigSes de es: timulo no momento. Dig “em principio", porque duvide que se posse di 22 muita coisa subse ess quest 18 Ceramente 0 que o organismo faz depende em parte de sua experién: cia, mas parece-me totalmente inauspicioso investigar iretamente a relagao entre @ experiencia e a acdo. Em lugar disso, se estivermos intetessados no problema da “causalidade do comportamento” enquanto problema cientifi- o, deveremos 20 menos analisar a relagio entre a experincia € 0 compor- ‘tamento em duas partes: em primeire lugar, TA, que relaciona a experién- Gia 20 estigio cognitivo,!? e em segundo, um mecanismo, Mec, aue rela- cone condigies de estimulo @ comportamento, dado estigio cognitive EC. Esquematizanclo, em lugar da tareia inauspiciosa de investigar M, como fem (J), & mais razodvel pesquisar a natureza de TA, como em (II, ¢ Mec, como ern fl), UD. M: cexperiénci. eondites de estomilo)—e comportemet, Ul) TA" expenncis— extigio cognitive EC Al} Mec: suighes de estilo —enenpereament {dado EC) Creio que podemos fazer progressas consideraveis na compreensao de TA, como em (ID cu seja, na compreensio das TA (O,D) para varias esce- thas de D dado O, ¢ de suas interagdes. Este € um problema que quero abordat aqui. Nao ercio que possamos aprender muita coisa, ao menos en: ‘quanto ciencistas, a cespeito da segunda dessas duas partes, Mec. Cont: do, parece ime muito improvavel haver qualquer progresso cientitico sem ‘que pelo menos se analise o problema da ““cusaldede do comportamento™ cs dis componentes, TA © Mec ¢ seus elementos, tenativa na linha ie (), de estudar diretamente a relagdo entre comportamento ¢ experiencia pessala e presente ests fadida civulidade e 4 tignictnca centtica ‘Voltando so problema da aprendizagem, suponhha-se que determinemos uum certo mimero de TA (O.D), para varias escoihas de organismo O dominio cognitive D. Podemas, entio, retomar a pergunta: 0 que ¢ uma ““teoria de aprendizagem”"? Ou melhor: existe uma teoria que seja a tcoria da aprendizagem? A questio pode ser posta de varies maneiras, por exem: plo destas du (2) 8 verdide que pura qualquer esestha de O © D enconstumas ¢ reste TA (O.D)? (2) Fit peoprctdes signieativas conus a ses ae TA (OD)? ‘Amtes de considerar essas questées, voltemos & primeira suposicio sir plificedora que fizemos, a saber, a que se refere a variabilidade deniro da pécie O. Gostaria de sugerir que as questoes mais interessantes sobre “teoria da aprendizagem’. ayuelas que podem conduzir a uma sooria mais esclarecedora ¢ enfim relacionada de modo mais geral com 2s conquistas de ciencia natural, serao aquelas para 25 quais nossa primeira supasigoy © «5 9 sencialmente valida. Ou seja, as questies interessantes, as que nos podem Propiciar alguma compreensio da natureza dos organismos, sto #s que se ccolocam na unvestigacio da aprendizagem em dominios onde hi tuma uni- formidade estrutural invulgar entse os membros de O (com possibitidade de variago em certas parimetros relacionados com a rapicez é2 aprendizagem, 0 escopo da aprendizagem, a proporcio dos esquecimentos ¢ outros feadme- ‘nos marginais), S30 esses as questdes que tratarn de caracteristicas significa tivas das espécies, ou talvez dos organismos em gersl. Mais urna vez, a0 vejo por que ndo investigar as estruturas cognitivas da mesma mancira que se estudam os orgios fsicos. O cientista natural estar fundamentalmente interessado na estratura geneticamente determinaca desses Orgiios e em sua inceragdo, uma estrutnra comum & espécie nos aspectos mais zelevantes, abscraindo-se 0 tamanho. a variagdo em ritmo de desenvolvimento e coisas assim. ‘Se aceitarmos esse ponto de vista, entdo TA (O,D) pode caracterizar se para O, enquanto espécie ¢ nio enquanto individho, ¢, conseqlientemente, para 08 individuos, com excegao das anomalias patemtes. Podemos entl0 ‘ualiicar a pergumta (2), indagando se TA (©:D) € iikatica a TA (O',D"), desconsiderades fatores (ais como rapier, facilidade, escopo e retengdo, gue podem variar entge as especies ¢, em menor proporgdo, entre os individues de uma dada especie, Considere-se agora a questdo (1), assim qualificada, Certamente @ res posta seri um ndo categérico, Mesmo as considera,ses mais grosseiras bas- tam para comprovar 4 impassibilidade de chegar a uana sesposta positiva par fa tal guestio, Digamos que O ¢ igual a humanos (He O" a ratos (R, D igual a linguayem (L) ¢ D* ao percurso de labirintos (P). Mesmo se uma abordagem vaga da questao (1) desse urna resposta positiva, esperariamas que os humanos dossem 180 superiotes aos rats na aprendizayem de Tabi Fintes quanto o sic na aprendizagem linglistica, Mas isso € tio redonda- mente falso que a questao no pode ser ciscutida a serio, Os seres humanos so prussciramente compariveis aos ratos do dominio P, mas nao compar vei no dominio L. Na verdade, parece que "“os rates brancos podem supe far estudantes universitasios neste tipo de aprendizagem" — a saber, aprendizagem de labirintos (Munn, 1971, p. 118). A cilerenca entre o pat TA (HA) TA (RL), de um lado, e o par TA (H.P}- TA (RP), de outro, nd porle sor atsibuist a sistemas de processamento senserral & coisas seme Thantes, come pexkimes verificar ““transpondo"” a lingwagem para uma mo- dalidude acessivel aos rates. (Cf. cap. 4, nota 14.) Pelo que se sabe até 0 moments ¢-akrmuo apesae das Sugestdes em contrarie —, 0 mesmo & vilido se vonsickerariies outros organismes (digames, chimpanzés) em lugar Ge rats, Dexia le Lido esta questao interessante, mus perifrica, & certs mente olivin que ai vale pena dc utr neshurna versio d questo {1}. 20 Voltemo-nos, entio, para a especulacto mais plausivel formulada ne questdo (2). Até agora nto hi sesposta passivel para cla. A questio € inte mediavelmente prematura. Falta-nos uma concepcic interessante de TA (©.D) para virias escolhas de Oc D. Deram-se, acho eu, alguns passos im- portantes em diego a TA (HL, mas nio ha nada compardvel em outros dominios da aprendizagem humans. E, que eu saiba, 0 que se conhece respeito de outzos animais nfo sugere nenhuma resposta interessante para (2). Os animais aprendem a cuider de sua prole, construir ninhes, orienta se fo espace, encontrar seu Lugar numa estrutura de dominagao, identificar sia especie, cfc., mas no hd por que esperar descobrir propriedades signifi- cativas comuns a diversas TA (O.D) que paricipam dessas realizagies. O Ceticismo em relagio & questdo (2) justitica-se plenamente pelo muito pouco que se sabe. Creio eu gue, para o bidloRo, 0 fisidlogo comparatista, ou 0 psi Cologa fsielogista, tal cevicismmo pareceria trivial. Poetanto, nao parece haver, até o momento, nenbuma cazao para supor a existéncia da teoria da aprendizagem, Eu, pelo menos, nie enconteo ne rnhuma formulagio interessante da tese de que exista uma teoria que eenha piausibilidade inicial ou justificacao empirica significativa. No interior da singular variedade de empirismo conhecida come “'beha- viorismo", 4 expressdo "“teoria da aprendizagem”” tem sido comumente uusada, ndo como designacdo de uma teoria (se é que existe) que explique a aquisigao de estraturas cognitivas a partic da experiencia (ou seis, (ID) ‘ma), mas antes como uma teoria que se ocupa da relacao entre a experi¢n- cia ¢ 0 comportameato (ou sea, (1) acimaa), Umma ver que nio ha raza para supor a existencia de uma teoria du aprendizegers, ceruamente no hi rizilo para supor a esistencia de tal “‘teoria do comportermento'” Poderiamos considerar controvérsias mais plausiveis que as implicitas nas questées (1) ¢ (2). Suponha-se que nes fixerios no organismo O ¢ deine amos D vasiar entre muitos dominios cogritives. Poderiamos, entio, indagar ‘ha uum conjunto relevante de dominios Dy... Dy, tais que 3) TA (O.D)=1A (O.Dy: a8 TA (OLD, € senename em axpectos celevautes « TA Ob} Deve haver um modo de delimitar dominios que fernege uma resposta positive para (3). Se assim for, poderemos dizer que, dentro dessa delimita- Gio, a aprendizagem eferuada pelo organismo & semelhiante oo idéntica em Virios dominios cognitives. Seria interessante, por exemplo, descobrir que thé um dominio cognitivo D, diferente de linguagem, para o qual T’A (H\L) € idéntica ou semelhance a TA (H,D). Até 0 momento, nao se fez nen: ma sugestio convincente a esse tespeito, muas & concebivel que cxista tal dominio, Nao hi uma ravio particular para esperar que exista esse dominio, aI 56 podernas ficar espantados diamte da concepeo dogmatica, comomente cexpressa, de que & aprendizagem da lingua se faz. pela aplicacdo de capacida- des de aprendizagem gerais, O maximo que podemos dizer & que a possibil dade no esté excluics, embora mio hgja nenhuma evidéncia de cue isso ocorra e a argumentagio seja pouco plausivel. Meso ao nivel do processa mento sensorial parece haver adaptacées diretamente relacionadas com a linguagem, conforme ja observamos.! A hipdtese de que a aprendizagem dda lingua ¢ simplesmente uma instincia de “*capacidades de eprendizagem seneralizadas’* tem tanto fundamento, no estégio atual de nosso conhecs mento, quanco mma afirmagao de que as esteucuras neurais especificas que garantem nossa orgunizagae do espaco visual devem ser um. caso especial da classe de sistemas igualmente envolvidos no emprego da linguagem. Isto & valido, segundo o que sabemos, mas apenas para um nivel to geral que n&o nos da nenbum conhecimento sobre 0 carter ou ¢ funcionamento dos di versos sistemas, ara qualquer organismo O. poxemos tentar descobrir os dominios cog: nitivos D para 0s quais o organismne O cispoe de uma TA (O,D) interessan- te — ou seja, uma TA (OD) que no tem apenes uma estrutura de apren sdizagem por temativa ¢ efro, generalizacio em dimensies fisicamente ca és, inducdo (em qualquer sentido bem defizid dessa noio) e latores dessa ‘ordem. Podesiamos definic a “‘capacidsde cognitiva’” de © como o sistema ‘de dominios D para os quais ba uma teoria de aprendizagem TA (O,D} in Coressante nesse sentido." Para um D incluido na. capacidade cognitive de , razoavel supor que exista um esquernatismo delimitador di classe de cestrutucas copnitivas que podem ser adquiridas, Por conseguinte, seri poss vel que um tal D e uma estrutuca cognitiva rica, complexa ¢ alearnente att ‘culaca sejam adquirides com uniformidade consideravel entze 0s individuos {abstraidas as questies de rapidez, escopo, persistincia, etc.) a partir de fatos esparsos e restites, ‘Na investigacio ds capacidade cognitiva dos humans, poderiamos con- siderar, por excinplo, a aptidio pora reconhecer e identificar rostas apés tumas. poucas observagées, para determiner a estrutura da personalidde de ‘outes pessoa depois de um breve contato (pdkndo assim antever, com conta peecisdo, oe que modo aquela pessoa reagirt em uma série de condigees) para reconhecer uma melodia num tom diferente ou com outras modifica gies, dominae a ramos da matertica que tecorrea a imtuigie numérica ‘ou espacial, criar formas artisticas que Se basciem em. certas principios de estrutura o wrjanizagao, et, Os bumanos parecer ter aptiiies caracterist cas € nutdveis nesses demines, pois coasteoem um Sstemes intelectual com plex © inurincadks rapt © uinitormemente, a parti de fates degenerados. E dius particularmente takemtosos dentro des rs, excitantes e instigantes da refles20, as esteuluras eras porn ses Tiesites sil amtelielvers © ate 2 ‘mesmo para os nao especialmente dotados de aptidées criativas. A pesquisa pode, portanto, conduzir a TA (H,D} nao trivias, para D assim escolhidos. Tal pesquisa implicaria cxperimentacio ou mesmo pesquisa histérica — por exemplo, pesquisa de desenvolvimentos em formas de composigao artistica ‘ou em matematica que pareceram ‘naturais"” ¢ se mostraram proveitosas ‘em determinados momentos historicos, contribuindo para ume “‘corrente principal” da evolugio intelectual, an invés de desviar encrgia para sim ca- nal lateral improdativo.t® Suponhames que se chegue a ter algum conhecimento sobre a capacida- 4e cognitiva de um organismo O, desenvolvendo um sistema de TA (OD) para varias escolhas de D, com as propriededes em bruto delineadas acima, Teremes, entio, chegsdo ums teoria do pensamento de O, em um dos sentides do termo. Poleremos conceber “‘pensamento de O'", adaptando uma formulagdo de Anthony Keany.!? como a capacidade inata de O de cconstruir estrucuras Gognitivas, isto &, de aprender. ‘Adastome aqui da formulagio de Kenny em dois aspectos que taivez merevamt referencia, Fle define “pensamenta”” (mind) come uma capacid de de ordem secundaria (second-order capacity} para acquinir “"apeiddes in- telectuais"” (intellectual abilities), tsis como © conhecimento do inglés — sendo este, "'por sus vez, uma capacidade ow aptiddo: uma aptidio cujo exercicio consiste em falar, entender e escrever em inglés”, Além disso, “‘possuit um pensamento € ter capacidade de adquisir aptidto para operar ‘cam simbolos de tal modo que 2 prépria atividade do individuo os torne simbolos e lhes confira significagto’”: dai que os automates, capazes de ope- rar com elementos formais que sio simbolos para nés, mas ade para cles, ‘ado posstiam pensamnento. Nesta discussdo, estou indo alérn das capacidades de primeira ordem que envelvem operagces com simboios, e considerando, pois, cepacidades de segunda ordem num sentido mais lato do que o de pensamento"’, inteiramente natural para Kenny. Até aqui, trata-se apenas de uma questio terminologica. Em segundo lugar. gostarta de considerar © pensamento (no sentido mais amplo ow restrito) como uma capacidade inata para fotmar estruturas cognitivas, e nao capacidades de primeira ordem para acto. As estraturas cognitivas obtidas fazem parte de nassas capacidades de primeira ordem paca a acio, mes néo se identilicam com estas, Portanio, nndo me parece apropriado falar no “*coshecimento do inglés’ como senda uma capacidade ou aptidio, embora ele participe da capacidade ou aptidio, cexercida no uso da linguayem. £m principio. € possivel que uma pessoa te- nha @ estratura cognitive que chamamos de “‘conhecimente do ingles" to talmente desenvolvid, sem tar capacidade de fazer uso desse estruturas!* « ccertas capacidades de’ desempenhar “‘atividades intelectuzis"” podem’ ni envolver estruturas copnitivas, ¢ sim uma simples rede de disposigées ha bitos, algo bem diverse.’ Conhecimento, compreensio ow crenga esta ent 23 um nivel been mais abstrato do que capacidade. Na filosofia analitica moderaa temvse verificado uma tendancia a empre ‘Rat a no¢ao de ““disposicio”” ou “‘capacichde’’ onde, seyrundo creio, 0 con. ceito mais abstrato de “esirutura cognitiva’” seria mais apropriads. (Ct. cap. 4; tambem Chomsky, 1975a.) Perso que se trata de um lamentavel re sidno Ye empirismo, As nogées de “eaptcidade"” e “conjunto de disposi goes"? ligam-se mais intimamente a comportamento. e “‘uso. da linguagem’’; elas nfo nes levam a indagacdes sobre a natureza do *'espicit ‘da maquina” através do estado de esteunuras cognitivas e sta organizacio, como pediriam « pritica cientifica e @ curiosidade intelectual normais. A maneita certa de exorcizar o espirico da maquina consisie em determiner a estruturi do pensamento e suas produgées.22 Nao ht nada de essencialmen te misterioso no conceito de uma esteutars cognitiva abstraca, eriads por toma ficuldade mental inata, representada de moxky ainda nao conhecido no ‘érebro, © com participacio no sistema de capucidades e disposigies para agir e interpretar. Pelo contrério, uma formulagic nessa linha, in¢onporan do a distingae conceptual competenciz-desempenho (cf. Chomsky, 1965, cap. 1) parece ser pré-requisito para um esiudo sézio do comportamento. A. aagio fiumana s6 pode ser compreendida a partic da premisst de que as capa cidades de primeira ardem e os conjuntos de dispesigées comportamentais envolvem 6 uso de estruturas cognitivas que expressam sistemas de conine Cimentos (inconscientes}, de crengas, de previsoes, de avaliggbes, de julga mento, etc. Pelo menos é o que me parece. Voltande eo nesso tema principal, suponha-se que selecionemos agora tum problema num dominio D que esteja fora da cepacidade cognitiva de O. ‘O nde seberd, endo, como proceder, pois nfo dispord de uma estrutura ‘eognitiva para atecar 0 problema, nem uma TA (O,D} que a capucite a de senvolver tal estrunura. Portanto, O recorrera @ procedimentos tais como tentativa ¢ erro, associagio, indugdo simples e generalizagio em certas di mensoes disponiveis faparecendo aqui algumas questoes, que nao conse tei). Se O for ignal a seres humanos, por exempla, nao vamos esperar que 3 pessoa sez Capa de descobrir on construir usm meio complexo e compreen- Sivo de: atacar 0 problema, de desenvolver uma estrotura cognitiva relevante pelo mak intuitivo, inconsciente, caricteristico dz apzendiagem de uma Jingu € de outros dominios em que os seres humanos se distinguem. ‘Os humanios talver. sejam capazes de construir uina teoria cientifica que aborde problemas do dominio cm questio, mas isto € um caso diferente — ‘ou melhor, parcialmente diferente, uma ver que também ai existem cons ‘rangimentes cruciais. Una ciéncia intelectual sigailicativs, uma teoria ex plicativa imtelipivel, puelesn ser desenvolvidss pelos seres humanos s¢ oor fer que alguma coisi priixima 4 verdadeica teoria num determinado domi niio esteja dentro das espacidudes humanas de" construgdo dk ciéncia”™. AS. 4 TA (HLD) envolvidas na investigacao cientifca, sejam elas quais forem, de vem ser especiais e restritivas, ou seria impossivel haver convergencias em Ire os cienustas quanto a0s seus julyamentas sobre teorias explicativas part cculares que vio muito alem dos fatos dspensivels, tal como @ comum ocorter naqueles poucos campos onde ha realmente um progresso significativo, 40 mesmo tempo em que se rejeitam muitos fates, por ittetevantes ow no per tinences, pelo menos naquele momento. AS mesmas TA (H,D} que tornam possivel 0 vaste ¢ impressioaante escapo do entencimento cientitico devem Tambem restringiz rigdamente a classe das ciéncias acessiveiy acs humans. Nao ha, por certo, qualquer presdlo evolntiva no sentido de fevar es huma rnos a terem mentes capares de descobrit teorias explicativas significativas fem campos especiticas de investigacgo, Vendo 0s hummanos como organis- mas biol6gicos no mundo natural, trate-se apenas de um acaso feliz se suas capacidades cognitivas combinam bem com a verdade cienttica em alguma frea, Nao deveria causar surpresa, ento, que scjam tao poucas as ciéncias € que tanta investigacio humana nao chegue @ alcangar nenhuma protundida- de intelectual. A investigacdo da capacidade cognitiva humana poderi nos dir algum esclarecimento sobre a classe das ciencias humanamente ating: veis, possivelmente um pequeno subconjunte das ciéacias potenciais rete entes a assunios sobre o quais esperantios (em vio) obter algum vislumbre fe entendimento, Um exemplo bastante ilustrutivo & a nossa quase total impossibiidade ‘de descobrir uma teoria cientifica que permits uma anilise de Mec segundo ‘0 esquema (Hf1), na pagina 19 — ou soja, nossa limitado progresso ne de senvolvimento de uaa woria cienttica de ceria prafuncidade pare dar conta dey usa normal da linguagem (ou de ores aspectos do comportamento). Parece faltar-nos ate os conceitos relevantes; de Tato, no se propds. ne hum principio inielecuslmente satisiatoric que tenha forga explicativa, cembora as questives sejam muito antigas. Nao 5 exciui a hiporese de que as capacidaces humanas de construcio cientifica simplesmente nao se esten- dem & este dominio, ou a quaiquet dominio cavolvende o excrcicio da von- tade, de modo que para os seres humanos tais questées ¢Stardo sempre co voltas em mistério, ‘Observemos. de passagem. quio equivocade seria falar simplesmente de itagdes”” da capacidade humana de elaboragao cientifica, As limitagtes existem, sem divid, mas tém origem na mesma fonte que determina nossa aptiddo para coastruir sistemas cognitivos elaborades, em primeiro Lugar, a partir dc evidencias limitadas, Nao fossem os fatores que limitara o conhest ‘mento cientiica, nio podertamos ter este conhecimento em dominio algurm,“ Suponba-se que a0 investigarmos organismos decidamos, por espitito de contradigdo, considerar apenas as atividades e 05 problemas exteriores 3 sua capacidace cognitiva. Sem ditvida, descobririamas entio “leis de aprendiza- 2 sxe" mais ox menos gerais ¢ simples, Suponha-se ainda que definamos co- my “bos experiéncie™” aquela que produz curvas de aprendizagem suaves, Prrogressos ¢ diminuigces regulates, ¢ assim por diante. Neste caso, sé have 14 “boas experigncis”” nos dominios exterioces 2 capacidade cognitiva de ©. Por exeraplo, nao haverd “boas experiencias’” ao estudo da aprendiza gem de linguagem humana, embora possamos encontri-las se enfocurmos a memorizacdo de silabas sem signifcaca, @ associagio verbal e outras ta refas para as quais os seres humanos nao tém aptiddes especificas. Suponha-se agora que se desenvolva um ramo de investigecto, limitado cm principio a “boas experincias”” aum sentido semelhante a esse, Tal disciplina poders, por certo, elaborat leis de aprendizagem que nao variem muito de um dominio cognitivo para outro, para um dado orgenismo, ¢ que tem certa validade para diferentes especies, Bla eviturd, necessariamente, 0s dominios em que um orgenismo apresenta-se especialmente dotado para a¢- quirir estruturas cognitivas complexas, que participam intimamente de sua vida. Tai disciplina, parece me, nao tera virtualmente qualquer interesse in- {electual, ama ver que se restringe por principio as questies que sb nos po dem ensinar muite pouco a respeito da natoreza dos orpanismes. Pois sé podemos aprender algo de signiiicativo sobre essa natureza investiganda 2 capacidade cognitiva do organisrmo, e essa investigagZo no permitira “boas sxperitneias"” no estranho sentido especificado acima, embora posse condo- zir a descoberta (através de experiéncias e observagées) de TA (O,D) intrin- cadas e sem dvida altamente especifcas. Os resultados @ as realizagoes des- sa disciplina obstinadanente limitada e suicida sio antes de velo um aztifi- cio. Fla estaré condenads em principio @ investigacao de assuntos perifei cas, tais como a velocidade ¢ o alcance da aquisicao de informagies, « rela so entre a ordenagao dos reforgos e a forga da resposta, o controle do com portamento, e similares, A discipfina em questo pode continuar indefinida mente 2 rcusir informacées sobre tais assuntos, mas cabe questionar o inte: resse ou objetivo de tais esforcus. Um esturlo mais elaborado da capacidhde cognitive apresenta ainds ou- ‘tvs problemas, Por exemplo, algumas ealizay6es intelectusi, tas como a apren- dieayem de Tinga, estdo estritamente demure de capacidace cognitiva biologice- mente ceterminada, Para tais empreendimestos estames *especiaimente plangjades"", de sorte que estruturas cognitivas de grande complexidade © interesse se desenvolvem com certa rapidez e pouco — se & que existe csforge consciente. Hi outros empreendimentas, ndo mais ‘‘compiexos"”, segundo qualquer escalt absoluta (suponda que seja possivel atribuir um sentido a esti tuto), que sero totalmente frustrantes, por estarem além da capacidade copnitiva. Consiileremos os problemas gue Se situa nos limites da capacidade coxnitiva. Ustes propiciario um intrigante jogo intelectual. O xadtez, por exeinplo, nde csi Hy dstante da capacidade copnitiva a ponto 26 de ser meramente fonte de cnigmas insohiveis, mias ao mesmo tempo esta suficientemente além de noses aptildes natusais pars ser um desafio, um jogo intrigante, Nestas ciecunstincias, seria de esperar que as pequenas die rencas entre os individuos se apresentem come notaveis divergencias de aptidio. © estudo de empreendimentes intelectuais com tal cariter de desafio pode resultar em alguma compreenso da inteligencia humana, nos limites a capacidade cognitiva, tak como o estudo di capacidade de’ correr uma milha em quatto minutos pode fornecer informagées proveitosas sobre a fir siologia humana. Mas seria imitil estudar esta sltima proeza se fhosso en tendimento da locomogio humana fosse apenas incipiente — por exemplo, ‘se soubessemas apenss que 05 seres humanos nao voam. ¢ sins andam, Para lelamente, no presente estagio de nosso entendimento das faculdades men: tais, parece-me, por exemplo, que 0 estudo dos programas de enxadrisma pode ensinar alguma coisa sobre a teoria do xadrez, mas & improvavel que d€ uma grande contribuigio ao estude da inteligencia humana, Um proced: mento aconselhavel € estudar es fatores principais antes de considerar ete tos de décima ordem, estudar as ceracteristicas basics de usm sistema intr cado antes de explorar seus aspectos marginais, ainda que naturalmente nao se possa prever qual a linha de investigacto que fomecert uma sibita ilu smynacio.? No caso da cognicio humana, & ao estudo das estruturas cognitivas ba sicas, dentro da capacidade cognitiva, seu desenvolvimento e aplicacéo, que se deve dar prioridade, creio eu, se quisermos obter um conhecimento ver dadeiro sobre a mente ¢ seu funcionamento. "A discussto precedente nfo est muito precisa. Fspero que ao menos ela posse sugerir como proceder num estudo racional da aprensdizagem. Voltemo-nos agora para as questoes particularmente referentes a linguagem dentro da “teoria da aprendizagem". Suponhi-se que O representa seres humanos (H), e D, linguagem (L) O que € TA (H.L}? Dos dois pressupostos simplifcantes mencionados az- tes, © primeizo — invatiabilidade dentro da expécie —- 6, pelo que sabernos, st: ficientemente razoivel. Parece fornecer uma boa aproximagto dos fatos. Aceltemorlo, entio, sem mais ciscusséo, a0 mesmo tempo que manteremos ‘uma posigo cautelasa e cética diante do segundo pressuposto — 0 de que 2 prendizagem é "‘instantanea’’. Voltarei a este assunto no capitulo 3 TA (H.L) é 0 sistema de mecanismos e principios operantes na aquisi- to do conhecimento de uma lingua — aquisigao da estrutura cognitiva es pecifica que estamos chamando de ‘gramatica’” — a partir de dados que sio uma amostra razodvel e adequaca desta lingue.?3 A gramitica ¢ um sis- tema de regras e principios que determsinam as propriedades semanticas formais das sentengas. A gramética é posta em uso, intenaginde com outres, 2 mecanismos da mente, na producto € compreensio da fala, Esta visio do conhecimento de uma lingua liga-se a pressupostes empirices ¢ distingbes conceptuais que podem estar errados ou mal orientados, mas acho razcaivel gue, dado © nosso conhecimento até o momento, continuemos trabalhando com eles, Para ligar estas observacies 4 discussie anterior, note-se que estou in- sistindo em que a relagdo entre a experiencia e a agio s¢ subdivide em dois sistemas: TA (HL) que relaciona a experiéncia ao estagio cogtitivo alcanga: do, ¢ Mec, que relaciona as condigées presentes & acto, dado 0 estagio cog- nitivo alcangado (cf. (H} (ID. p 19), Uma das estruturas cognitivas que en- tra no estagio cognitive EC alcangado e posto em uso por Mec & a gram ca. Repito que vejo poucts perspectivas, no momento, para o estudo de ‘Mec, conquanto me pareya possivel deseavolver com bons resultados 0 es- tudo de TA GD). Definamos ““gramética universal’” (GU) como o sistema de principios, condigoes € regras que sto elementos on propriedades de todas a8 linguas hhumanas, nao por mero acaso, mas por necessidade — quero dizer, & claro, necessidade biologics, e nfo légica. Entio, podese dizer que GU expressa “a esséncia da linguagem hamana’”. GU sera invariaate etre os huma ‘nos. GU especificaré o que aprendizagem da lingua deve alcancar, se for bem sucedida. Portanto, GU sera um componente significativo de TA (ELL). © que for aprendido, a estrotura cognitiva obtida, deve ter as pro priedades de GU, embora tenha também outras propriedades, acidentais. ‘Todas as linguas humanas conformar-se-do a GU; as linguas diferirdo quan- to.a outcas propriedades, acidentais. Se construissemos uma lingua que vio- lasse GU, veriticariamas que ela nao seria aptendida por TA (HL). On se- ja, no poderia ser eprendida sob ex condigbes normais de acesso e expesi- G20 aos dads, Possivelmente seria aprendida pela aplicardo de outras facul- ddades da mente; TA (H,L) nao esgora as capacidades da mente humana. Essa Lingua inventada poderia ser aprendida como um quebra-cabegas, ou sua gr matica poderia ser descoberta pela investigacdo cientiica ao longo de gera ‘des, com a intervencio de genios individuais, com articulacto explicita de Principios © experimentagio cuicadosa. Iso seria possivel se tal linguagem. ‘aisse por casualidade dentro dos limites do componente de **construgio cientifica’* da capacidade cognitiva humana, Mas a descoberta da gramatica cles lingua nie seria comparavel a aprencizagem de wma lingua assin como at investigagion na Fisica € qualitativarente diferente da aprendizagem de ume lingua GU especificurs propriedades da organizaggo sonora semantica ¢ estrt- turai, Podemurs esperar que GU imponba em todos esses dominios condictes Jue Festcinjam cigndamente a variedade das linguas. Por razées muito conbe- ilas, ao podentes conchuir do. cunho altamente restritivo de GU que exis- 28 ta um procedimento de cesta generalidade ou signlicagao pata a pritica da tradugo, mesmo em principio (cf. Chomsky, 1965). E, de modo bastante Sbvio, ndo ha nenlsuma implicagdo quanto a possibilidade de traduzir texts reais, uma ver que 0 falante, ou o eseritor, pressupoe naturalmente um vas to “background” de conceituagies, crengas, atitudes e convengdes no es pecificadas, Esse ponto talvez mereca ser ressaltado, uma vez. que tem havi do muizos mal-entendidos a esse respeito. Para alguma discussio, ver Key- set (1975), ‘Sempre que nos depararmas com propriedades d lingua que podemos razoavelmente supor nao terem sido aprendidas, tems possibilidade de g3- har alguma campreensto sobre GU e, por conseguinte, sobre TA (1,1) Pera ornas mais concreta a discussio, considere-se um exemplo bem co hecida, talvex © que € mais simples sem ser de todo trivial. Tome-se ‘o processo de formacio de perguntas no inglés, Imagine-se novamente nosso ‘ientista neutral observando ume crianga que esta aprendendo o inglés. Su- ponhamos que ele descubra que a crianga aprendeu a formar perguntas Como as de (A}, corresponcentes as sentengas declarativas associadas: (Ay The maa is tall — iy che man eal? ‘The book is om the table — isthe book os dhe rable? ete" Observando esses fatos, 0 cientista poderia chegar & seguinte hipotese- tentativa sobre 6 que @ cance esté fizendo, pressupondo'se agora que as sentengas esto anulisadas em palavras Hipstese 1 A esanga process ssentenga declarnsiva a pacts da primeira paloves (ie, da “eequerde gare a direta’” continvande até chogar ¢ primeies ocortencla ca palaoea “TE ee atres sechanis: omy, ul” et: ata endo et oot de “is, ptalorinca 3 pergunta cofrespandente (com algumas modificacbes concomitant deforma que nap nes imeressam Fsta hipdtese funciona bastante bem, E @ também extremamente sim- piles. O cientista tem tado diseito de ficar satisfeito © podent encontrar uma ‘grande quantidade de evidéncias escorando sua hipotese-tentativa. A hipote- se € obviamente falsa, como se veriie através de exemplas como (B) e (Ci: (8) Te man ho is tli in the room — isthe man who i all inthe room? * 6C) Tre man ho sal in the room —3 the an who tall sin he foo? *TA}Obemem é grande és homom grande? O lio est sobrew mesa esto livze soles mes? **(B}O homnem que é gran esti no gum» — Est o homem que é rande no quarts? 177 (G)O homum due ¢ yrande esta no quarto Estas howe que grande ¢ no gar? (ses soluydes do pretender, de mode algun, reproduzir on poctuaits btenometo sintiticn sdeeto por Chomsky pars ings. Nig passa de um eapecinte pa tila a kitiea € “ompeeeiso de secs gumentos ma tracagio brasileira). [NT] 29 Nosso cientista descobriria, por certo, que, se the fosse apresentado um exemplo como “the man who is tall is in the room’, a erianga formaria sem hesitar a pergunta (B) € néo (C) (se € que ela ja € capaz. de manejar 0 exemplo). As criangas cometem muitas erros na aprendizagem da lingua, ‘mas nunca erros do tipo exemplifcado em (C). Se o cientista for razodvel, a descoberta vai surpreenidé-o cnormemente, pois demonstra que sua singela hipetese 1 € alsa e que ele precisa de construir uma hipatese bem mais complexa para dar conta cos fatos. A hipdtese correta, ignorando-se compli- cagdes que slo irrelevantes no momento, & a seguinte™ Hipotese 2. 8 criange analisa a semenga decartiva er tess abst 4 seg localiza ‘ prita certéncia de “is” et.) depois do primero sintagms aamiaal, enti, aaepoe sta oorctacia de is" formando a perguncs eoxcespandente A hipétese 1 sustenta que a crianga esté aplicando uma “‘regra inde pendente da estratura’’ — ou seja, uma regra que envolve apenas a andlise ‘em palavras e a propriedade “primeira ocarréncia’” ("*mais & esquctda"”} efinida em termos de scqiéncia de palavras. A hipotese 2 sustenta que a crianga esti aplicando ums “‘regra dependente da estrucure"”, uma tegca que envolve @ anilise em termos, de palavras e sintagmas e a’ propriedade “primeira ocorréncia’” definid em termos de seqlléncia de palavras analisa- das em sintagmas abstratas, Os sintagmas sio abstratas no sentido em que ‘etn seus limites nem suas categorias (sintagma nominal, sintagma verbal, etc.) precisam ser fisicamente marcades. As sentencas ndo apresentam pa sénneses, limites entonacionais que marquem regularmente os sintagmas, ‘ou rotulos identficenco os tipos de sintagmss, ou coisas assim. Segundo qualquer parimerco aceitavel, a bipétese 2 & muito mais com plexa © “improvével” Go que a hipixese 1. O cientista precisaria ser levado pelos fatos, tais como (B), (C), para postular a hipétese 2 em lugar da ips fese 1, mais simples e elementar, Do mesmo modo, o cientista deve per -umtar por que a crianga sem hesitar fez uso da regra dependente da estru- tura postulada na hipdtese 2, e no da regra mais simples, independente dda estrutura, da hipdtese 1. Nao parece haver qualquer explicago em ter- mos de “*eficiéncia comunicativa’” ou consideragdes similares. F certamen te absurdo arguimentar que as criangas sao treinadas para usar repras depen: dentes da estruturs, neste caso. Na verdade, este problems mince se ple na aprendizagem da lingua. Uma pessoe pode passer uma parte consiceeivel de sa vide sem se deparar com fstos relevantes, mas néo hesitara 40 usar a re- agra dependente da esirutura, mesmo que toca sua experiéncia seja compat vel com a hipoiese 1. A tities conclusio razoavel a ser tirada é que GU contém o principio de wgie tis repras devem ser dependentes da estrutura, On seja, a mente da criangaespecificamente, sen componente TA (H,L) 30 a 7 — comtém a seguinte instrugdo: Construa uma regra dependence da estrutu- 1a, ignorando todas es regras independentes da estrutura. O principio de de- pendéncia da estrutura nao ¢ aprencido, ¢ sim faz parte das condides para ‘8 aprendizagem da lingua. Para corroborar esta conelusdo 2 respeito de GU — e, por conseguinte, TA CLL) — 0 cientista deve perguntarse se as outras regras do ingles sf0 invariavelmente dependentes da estrutura. Pelo que se sabe até 0 momento, a cesposta 6 positiva, Se for encontrada uma regra alo dependente da estru- tura, 0 Gentista verse-a diarste de um problema, Fle precisara de aprofun- car suas investigagBes sobre GU, para descabrir que principias adicionsis distinguem as duas categorias de regras, de modo que a crianga possa saber sem insteusdo explicita que uma ¢ dependente de estraturas € a outra nao. Tendo chegado a este posto, o ciensista concluiré que as outras iinguas de- ‘vem ter a mesma propriedlde, & partir do pressuposto de que os seres ha manos ndo so especificamente planejados para aprender esta e no aquela lingua, digamos, inglés e nlo japonés. Com base neste razoivel pressuposto, o principio da dependéncia de estrutura (talvez, se necessisio, com a qualifi- cago indicada acima) deve ser universalmente valido, s¢ € valido para o in: gles, Examinando as conseqiléncias de seu raciocinio, 0 cientista descobri fia (pelo que sabemas até agora} que a conclusac esta cocreta. [Exemplos mais complexos podem ser aduzidos, mas este exemplo sim- ples ilustra 0 argumento. Procedendo deste modo, o cientista pode elaborar algumas hiporeses fecundas e interessantes sobre GU e, por conseguinte, TA GAL). A teoris da aprendizagem para os seres humanos 9 dominio da linguager incorpora, como se vé, 0 principio da dependéacia da estratura, juntamente com outfos principios mais intricados (€, devo acrescemtar, mais, controvertides) desse tipo. Voluarei a considerar esses principios ne terceiro capitulo. 'Pensando cinda neste tnico exemplo de um principio de GU, voltenos aayoca & ““hipOtese do inasismo"”. Lembre-se que ndo se discute a necesside ‘de de tal hipotese, mas t2o-somente sua forma, Accitande-se, por enquanto, como legitimo o pressuposto simplficador da aprendizagem instanténea, « “hipétese do inacismo”” consistiré de varies elementos: principios para a anilise pretiminar, pré-teérica dos dados en: quanto experiéncia, que vem a ser o “input” de TA (HL: propriedades de GU, que determinam o cariter daguilo que é sprendido; outros princt pios de um tipe nko abordado na discussio anterior. Haveria, entao. condicies razoiveis para formularmos uma teoris da Tinguagem que relletisse esse modo de consierar ‘TA (HL). Uma teotia € lum sistema de principios expressos em cermos de determinados conceit. Os principios sao dados como verdadeiros para o objeto da teoria. Uma apresentacdo particular de uma teoria toma alguns conceites como primit a vos e alguns principios como axiomas. A escolha de primitivos ¢ axiomas deve satisfazer a condiclo de que todos as conceitos sejam definidos em ter mos de primitives e todos as principios sejam derivados de axiomas. Po- demos querer formular a teosia lingilistica tomando como primitivos os conceitos que entram nz aadise preliminar dos dadas enquanto experitucia, incluindo nos axiomas os principios que expressam rekaGes entre 96 con- ceitos primitivos que entram nessa analise preliminar (gortanto, ss nocdes primitives sao “epistemologicamente primitivas"’, satistuzem uma condicdo emipitica externa & parte de suficiéncia de definicao} Os termos definidos pertencem a GU, ¢ 0s principios de GU serio teocemas desta teoria, Assim concebida, a teoris lingiistica € uma teoria de GU incorporada a TA (H\L), tal como foi deserito. ‘A “hipétese do inatismo’” pode, enti, ser formulada da seguinte ma- neira: A teoria linglistica, @ teonia de GU, concebida tal como foi delineado acima, uma propriedade inata da mente humana. Em principio, devesia- mos poder explici-la em termos de biologia humana, A edias que nosso preasuposto simplifiader solve & aprendizagem instwatinea exigem uma revisie — cujas Hiahas serio trasadas adiante~ , pprecisames complicar correspondentemente a ‘*hipstese da inatismo”*. ‘Uma versio mais completa da “‘hipdtese do inatismo"” para os sezes hhumanos especificara os vatios dominios pertencentes a capacidade cogniti va, a faculdade mental TA (H,D) para cada um desses dominios D, as rela ges entre tais faculdades, seus modes de maturagdo © as interacoes entre clas através do tempo. Ao lado da faculdade de linguagem e interagindo ‘com esta de mado bastante intimo, esté a faculdade mental que consteoi o ‘que chamamos de “entendimento baseado no senso comam". um sistema de crengas, expectativas € conhecimento a respeito éa matuzeza ¢ do com: portamento di objetas, da lugar destes num sistema de “especies natu zis", da orgunizacto ce tais eategorias, ¢ das propriedades que determina a categorizacdo de objets ¢ a analise de acontecimentos. Uma “hipotese do inatismo”’ geral incluisa ainda principios que repercutemi no lugar papel das pessoas num mundo social, na natureza e nas condigdes de trabalho, na estrutura da ago, vontade e escolha humanas, ¢ assim por diante, Estes ss temas podem See em sua maior parte inconscientes e mestio estar alexa do aleance da intzospecgdo consciente. Pode-se também querer tomer isolada mente como objeto de estudo as faculdades envolvidas em solugto de pro- Dlemas, consteugzo de conhecimento cientifico, criagdo © expressto artist cas, jogos, ou qualquer aspecto que se revele categoria adequade para o es: tudo da capucidlade copnitiva ¢, indiretamente, da asio humans. Nos dis capituios seguintes, pretendo dizer mais algumas coisas a res peito de alisamus dew faculdades mentais e de sua interacao. CAPITULO 2 OOBJETO DA -INVESTIGAGAO Espero no me tornar muito repetitive se comecar por apresentar um bre- vve sumério do que disse até aqui, elahorando alguns aspectos 0 decorrer da exposigao. ‘A teoria da linguagem &, simplesmente, aquela parte da psicologia humma- tna que se ocupa de um ““6rgao mental”* pasticular: a linguagem humana, Es- timulada por experiéncis apropriada e continua, « faculdide da linguagem cria sama gramatica que gera sentengas com propriedades formais e semantics, Dizemos que um individuo domina a lingua gerada por essa gramatica. Util zanderse de outias faculdades mentais relacionadas e das estrucuras por elas prodzidas, ele pode entio passar a usata lingua que domina! ‘Com o progresso da ciéncia, poderemos vir a saber alge a respeito da representagio fisica da gramatica ¢ da laculdac da linguagem — e, corcespon- dentemente, do estado cognitive atingido no aprendizado da liaguagem ¢ do estado inicial na qual existe uma representacao da GU (aramatica universal, mas nio de nenhuma gramitica especifica que se conforme a GU. Por en: ‘quato, podemos apenas caructerizar as propriedades de gramticas Ga facul- dade da linguagem em termos abstratos ‘Argumenta'se, por vezes, que essa contingéncia, da qual por enquanto into se pode escaper, priva a teoria da linguagem de contetide empirico. Tal conclusio é incorreta. Assim, o nico exemplo que dei ate o momento, o do principio da depeadéncia de estruturs, pode facilmente ser falsificado, se also, ‘© mesmo sendo valido para ontras propastas feitas no interior da GU ou de ‘pramaticas particulares. Analogamente, & possivel imaginar descobertas em neurofisiologia ou no estudo do comportamento ¢ da aprendizagem que pode: riam nos levar a rever ott abandonar uma dada teoria da linguagem ov uma _gramatica particular, com suas hipdteses sobre os componentes do sistema & sua interagao. A natureza abstrata dessas teorias permite cetta variagdo na in- terpreta;to de resultados particulares, especialmente na medida em que nd possuimos usm quadro claro 20 gue concerne & maneira pela qual estruturas Cognitivas ve inserem na teoria do desempenho. Possibilidack de variacdo nao 33 significa, no entanto, liberdade total. © psicélogo tedrico (nesse caso, o lin- _Uista), 0 psicélogo experimental e o neurofisiblogo esto enpajades em uma empresa comum, ¢ cada um deve explorar tio completamente quanto possivel as perspectivas provenientes de todas a5 abordagens que procuram determinar estado inicial do organismo, as estruturas cognitivas atingidas, e a maneira pela qual essas estruturas cognitivas sto utilizadas, E necessario cautela, ‘no emtanto. Nio é infregtiente lermos ne literatura psicolingtistica que conclu sdes particulares a respeito da natureza da gramatica ou da GU, ou ainda a respeita do papel da gramatica no uso cla lingua, devem ser rejeitadas por serem inconsistentes com o que se sabe sobre @ organizacao da memoria, do Compartamento ¢ assim por diante. Mas o que realmente se sabe 2 respeito desses assuntos, ou mesmo o qué se supoe saber dentro dos limites do plausi vel, élimitado e geraimente bastante distanciado ainda dos problemas que sur gem no estudo tedrico da linguagem, Existem algumas relacdes sugestivas en- tte complexidade sentencial ¢ diliculdade de processamento, ¢ entre alguns ‘outros topices. Tal evidéncia deveria ser seriamente levada em conta por sua possivel relagdo com a natureza do estado cognitivo aicangado © os mecanis ‘mas necessaries o seu aleinée.” Os dados disponiveis no corroboram, po- rém, 98 conclustes trangtilamente apresentadas na literatura, sem argumnen- tos, como se fossem, de alguma forma, um fato estabelecido.> Um érgio fisico, « coracto, digamos, pode variar de individuo para indivi- duo em dimensto ou poténcia. Sua estrutura basica, porém, bem como st fungio na fisiologia humana, séo comuns 4 espécie. Anglogamente, dois in vviduas na mesma comunidace lingiistica podem adquirir gramaticas que ram um pouco em escala e sutileza.* Alem do mais, 0s produtos da faculdade a linguagent variam dependendo da experiéneia que os desencadeia, vatiaceo esta que cobre a classe de linguas tuumanas possiveis (em principio), Essas vit faces estrucurais S40, sem diivida, severamente limitadas pela GU: e as fun Restringico:nos por ora aos seres humanos, suponhamos que a Psicologia seja a tcoria da mente, no sentido precedentemente delineado. A Psicclogia vem a ser, entio, a parte da Biologia humana que diz respeito, em: seu nivel ais profundo, 8 capacidade de segunda ordem de construir estrutatas cogni- tivas que interferem nas capacidades de primeira ordem de agir e interpretar a experiencia, A Psicologia tem como primeiro objetivo o estudo das faculdades da mente envolvides a capacidace cognitive, Cada ume dessas faculdades mentais ¢ representada como uma das TA (H,D)s da discussdo precedente. Tais faculdades permitern-nos atingir esteutures cognitivas intricadas ¢ uniformes que sto, em grande parte, subdeterminadas pelas experigncias de- Sencadeadoras, e que nao ttm. necesseriamente com tais experiéncias, um 34 relacignamento simples (como, por exemplo, gencralaages, generlizaes de ordem superior, etc). Ao contrario, a relagao entre uma estrutura cogniti- vaea experiencia oe ser tio remota e intricada quanto a relacdo entre uma teoriacenica no eval os dos, dependendo do cried hipsese do §natismo’”, a relagio poderia ser até mais parcial ¢ indice. | ais esiruturas cognitivas fazer parte do estado cognitvo atingido pelo indviduo em umm determina esto de matsrarh, Esse estado incorpre também estruturas de habitos, cisposicces e capacidades para empregar esiru- tras copnitivas. A preocupacao primaria clo estudo da aprendizagem ¢ idea- tificar 0s dominios compcendides pela capacidade cognitiva e descobrir uma TA (HD) para cada dominio D. Alem disso, esta investigacdo procurara pro- jet o sistema completo de capacidade cognitiva, explorando as relagbes entre virios dominios, a intergdo entre as TA (H.D)s na aprendizagem, propriedsdes comuns ou semelhangas (se houver) entre elas, a ordem de acessibilidade de estruturas cognitivas ou acessbilidade celativa a estruturas atingidas,¢ assim por diante | ’A Psicologia exploraré também a organizacto do comportamento em de- terminedas situagdes,a medida que essts situagbes sie. analisadas por estru turas cognitivas vilidas (este €0 estudo de Mec; ef (IIL), pag. 19). Poderia sos tent bord 9 cisco problema de como dv conta da acto que ape iada a situagdes mas que no é controlada por estimulos, nos seguintes ter- Tost ad sistema parclenente etraturad que fomece ura aavaliagto dos resultades, escolhas que sito casuais exceto pelo fato de maximizarem “‘valor" podem ter a aparéncia de comportamento livre, intencional ¢ inte- figente — mas devemos manter-nos céticos com relacdo a essa abordagem, cembora seja a tinica que pareca se situar dentro de qualquer quadro conceitual mpreensivel para ns somo interior da capacidade cogaitva, a teoria da mente tem win cadterni- tidamente racionalista. Aprender é, antes de tudo, uma questao de preencher detalhadamente uma estrufura que & iaata. Afastamornos da wadigao ere varios aspectes, particularmente a0 considerar © ‘sistema a prieri”” como Vologicamence ceterminado.© Fora dos limites da eapaciéade cognitiva, & necessario, infelizmente, aplicar uma teoria empirista da aprendizagem, Por ‘sso, pouca aprendizagem é pssivel, 0 escopo da descoberta € minimo, ¢ en- Nao ha nenhuma cazde ge ‘nérica para se supor que ura linguagem humana possua “‘subsistemas pri mitivos”” em qualquer sentido interessante, assim como também no hi nenhuma evidencia convincente em favor de tal cxenga, ‘A observagiio dos primeiras estigios de aquisigdo da linguagem pode condarir 2 mal-entendidos nesse sentido. F possivel que em um estagio primitivo haja uso de expresses semelhantes & linguagem, mas fora ainda do quadro de releréncia imposto, em um estagio mais avangade de marara- Gio intelectual, pela faculdade da Knynayem — da mesma forme como um ‘Gao pode ser treinado para responder a certas atdens, embora no se possa concluir, a partir deste fato, que ele esteja usando inguagem. O maximo que se pode dizer dentro dos mites do plausivel € que existe uma relagdo- de “compatibiiidade”? entre a gramatica construida e um determinado est3- gio do crescimento mental ¢ & experiéncia lingtistica, enquanto matéria analisada pelos mecanismes mentais naqucle estagio. Dada a idealizacio da aquisicao instantinea, anteriormente discutida, podemos dizer que cs ele- ‘mentes primitives da teoria lingttistica, selecionados segundo o critério, da @ prioridade epistemol6gica, fornecem uma andlise da experigncia fingiistica que serve como um des termos na relagio de compatibilidade. Alem disso, Porém, ha pouco a dizer no momento, e mesmo este pouco pode envolver assungdes setiamente falsificaveis, um assento ao qual deva ainda retornar. ‘Mas mesmo sc iegitimas, como una primeira aproximacao, estas assungdes no suportarao 0 peso que Ihes € imposto por muita especulac2o filosdfica a respeito de como & a linguagem oa de como deve ser aprendida, Com rela ‘sao & assercao adicionai de que a linguagem no € somente aprendida mas fambém ensinada, sendo tal ‘‘ensino”” essencial pare o estabelecimento do significado das expresses lingtisicas, al concerto mio recehe nenhuma base empirica ou conceitual.” John Searle recomenda com insistencia uma distingZo entre “fatos bru- tos" ¢ ““fatos institucionais”” (Searle, 1969, pp. 50 e seguintes). Entre os primeiros estio os descritos pelas assim chamadas sentencas de recons- ‘trugio do conhecimento cientitico: ‘0 papel de tornassol & vermelho”, “a ponteiro registra 23.6", e coisas semelhantes, A existéncia de “fatos ins titucionais’’, no menos objetives, “*pressupoe a existéncia de certas ins- tituigoes humanas’’. E um fato objetivo, digamos, que Mr, Smith tenha se casado com Miss Jones, mas ‘*é somente em decorréncia da instituicts do casamento que certas formas de comportamento constituem 0 casamento de Mr, Smith com Miss Jones”. As instituigdes hnmanas sio ‘sistemas de repras constitutivas”” da forma: “"X vale por Y no contexto C"".Searle pro- pée: ‘falar uma lingua ¢ executar atos de acorde com regras constitutivas"” que determinam fatos institucionais. Ele argamenta ainda que fatos institu ionais nao podem ser explicados em tetmos de fatos brutes, mas somente “em termos das regras constitwtivas a eles subjacentes"” Na concepgio que estamos considerando, a assercdo de ““fatos brutos”” tem lugar dentro de um quadro de referéncia dupla (pelo menos), que en volve a interagao do sistema da lingua com o sistema de entendimento be seado no senso comumn. De forma semelhante, a assercAo de fatos instita- cionais pressupde uma teoria das instituigdes humanas e um sistema lin- Distice relacionado. No acredito que os principios que entram na teoria cas instituigées humans desenvolvidas pelas pessoas (em grande parte de forma inconsciente) possam ser reduzidos simplesmente 4 forma “'X vale por Y no contexto C’, como sugere Searle. Uma andlise da estrutura ins- titucional parece requerer principios ce natureza muito mais absteata Deixando'se de lado os preconceitos empiristas, ha poucos motivos para abandonarmos, por intimidades, essa conclusio, Trata-se, novamente, de uma questio de descoberta e ndo de convencdo; neste caso, descobertafeita no decorrer da investigacio de mais uma faculdade da mente e de seu funcicy namento. Em geral, estruturas cognitivas de tipos variados sto construidas & me 46 dida que um individuo amadutece, interagindo com a gramatica e fornecen- do condigées para o uso da lingua, Um estudo integrado do conhecimento, deveria tentar precisar estas conextes, conduzindo assim — como podernos especulat — a outras propriedades inatas da mente. : Note-se, mais uma vez, que ndo ha inconsisténcia alguma entre esta ‘concepgio e a tese da autonomia da gramatica formal, isto &, a tese segundo a qual a faculdade da linguagem constréi um esqueleto formal abstrato revestido de significado pelas regras interpretativas, uma estrutura integrada que se encaisa de maneira definida dentro de um sistema de uso da lingua. Em outra parte, Searle sugere que tal tese, embora ndo seja interna. mente inconsistente, deriva, contude, de uma abordagem ¢a lingua que “6 contraria a assungdes bestente ordinirias, plausiveis e do senso comom a respeito da lingua’’. Ele considera a ‘‘imagem da linguagem humana de acordo com 0 senso comum"” como algo semelhante ao seguinte: © objetivo da ingusger #2 comunicago, quase di mesmt forms como o propésin do cormcio ¢ hombear sang, Exe ambos os cass, € posivel estudar a estrutury indeperdente Jrente da fungde, mas ¢ mite tamieen utp equivoco fazet tal cows, A que esteusuca © fongin imeragemde maneita Go ObviaNEs aan comunicamas em prineire agar com cx (ras pesocas, us tam consace serve, coms durante um sclquis, ov com guano pense com palaveas, A linguagem & sistema comnicativo por excelencia, e & “‘estranho exctntsico”” insistir no estudo da estrutura da linguagem separando-a de sua fung8o comunicativa Searle apresenta a minha perspectiva concorrencial nos seguintes termos: exceto pelo fto de poser tals propsitos gerais come & expressdo dos penssmentos saunos, « Enguagem Azo fem neahum sbjeivo essencal, ou, se tem, no 4 menu cor rhexlo imeressante entte seu cbjetiva © sta estrutira, As etrocuras Sinica das inguas Ibumanas si0 ov produtos de propriedudes inauas Gt smemte humana, © mio 1m neohwna conexao signalicaliva com 2 gamonicagao, embora, naturalmente, as pessoas a8 usetn pa ts, entteoutece propaitay,o comunicagto. O aspecto essencial das linguae, ct apo de Finidoe, a sua weruua. Searle sugere que eu *‘assumi arbitrariamente"” que ‘uso € estrutura {aio}... influencian um ao outro", que este abordagem um tanto estranha impediu a construgae de uma teoria do significado, e que, na verdade, ew ‘estou conduzindo ima “aco de retaguanda"* contra '*o estudo dos atos de fala", que oferece a saida para os problemas tradicionais em semantica, E esta ‘Malha em ver a conexio essencial entre linguagem e comunicacio, entre significado e atos de fala", que constitui o maior ““defeito da teoria chomsky ana”, segundo cle sugere.“7 re Examinemos estas objecdes, petguntando-nas se 2 perspectiva que Sear- le rejeita & de fato to indtil e estranha como ele sugere. Tnicialmente, eu deveria esclarecer que sempre fejeitei algumas das po sigdes que Searle me atribui. Assim, nunca sugeri que “'nio hi nenhuma conexio interessante” entre a estrutura da linguagem e o "seu objetivo”, inclusive a fungao comunicativa, nem *‘assuimi arbitrariamente™” que uso estratura ndo influenciam um 40 outro, embora ex tenha argumentade — corretamente, acho — que determinadas propostas a respeito desta rela- sd so incorretas.?* Existem, ceramente, conexdes significativas. entre estrutura e fungio; isto nunca se colocou em diivida.2? Além do mais, eu no sustento que “0 aspecto essencial das linguas... € a sua estrueura’’ Tenho freqlentemente descrito o que chamei de “‘uso cristivo da ingua’™ como uma propriedade essencial, no menos essencil do que suas propre dades estruturais, distitivas. Pode-se mesma esperar que o estudo da estru- tra, uso e aquisicdo da linguagem forneca alguma perspectiva com relacio 4s propriedades essenciais da lingua. . Consideremos agora os outros pontos levantados por Searle. Ele afirma que & lingua possui um “objeto essencial"®, a comunicagio, ¢ considera minha negacdo da sua assercac como contraria ao senso comum, ¢ implau- sivel. E dificil discutir a respeito de senso comum. Existe, de fato, uma tra dicao muito respeitavel, que revi noutra parte,” a qual considera uma dis- torgdo vulgar a “*concepcao. instrumental" da lingua como ‘‘essen- ciaimente’” um meio de comunicagdo, ou como um meio para atingir de- terminados fins, A lingua, argumente-se, € ““essencialmente”” um sistema para expressio do pensamento. Concordo basicamente com esta concepcio. Suspeito, no entanto, que pouca coisa est em jogo aqui, dado o conceit de “'comunicagio’” de Searle, que inclui, comunicagao consigo proprio, isto &, pensar com palavras, Estou certo que nos pensamos também sem palavras — pelo menos assim parece indicar a introspeccio. Mas, na medida em que estamos usando a lingua para “‘comunicarmo-nos conosco _mesmos””, estamos simplesmente expressando nossos pensamentos, ¢ 2 distingdo entre 1s das imagens de Searle desmorona. Desta forma, concordo com Searle fem que ha uma conexio essencial entre lingua € comunicago, uma vez que tomemos ““comunicago"’ no seu sentido mais amplo — usm passo in- feliz, acho, ja que a nogée de “‘comunicacéo”” fica assim despojada de seu cariter essencial © interessante. Continuo ro convencido, no entanto, do gue Searle alega, isto €, de que ha uma conexdo essencial do tipo que ele reivindica entre significagao ¢ aves de fala Antes de retomar a este ponto de discordincia — 0 tinico, penso, ‘quando se especiticam apropriadamente as questdes —, consideremos a ale- pacto de Searle de que € “‘inotil € também um equivoco”” estudar a estrutura da lingua “‘independenterente da fungdo"", tendo em mente as “8 wgdes que acabames de fazer. Prosseguinclo com sua analogia, no ba diivida de que 0 fisiologo, ao estudar o corago, prestara atengio a0 fazo de ‘que ele bombeia sangue. Mas ele tambem estudara a estrumra do coracao € 4 origem desta esteutura 20 individuo e na espécie, semn assumir quaisquer pposigdes dogmaticas sobre a possibilidade de ‘“explicar"” essa estrutura em teemos funcionais ‘Analegamente no caso da lingua, Consideremos, novamente, © pric pio da dependéncia de estramara discutido antes, Fsta patece ser uma pro- priedade geral de uma classe interessante de regras linghisticas inatas & mente, Seguindo o que interpreto como sendo a sugestio de Searle, ten- temos dar conta de tal propriedade em termas de comunicacto. Nao vejo nenhuma maneira de fazé-lo, Este principio, certamente, encra na fungao da linguagem; poderiamas muito bem estudar dé que forma isso se process. Unna lingua, no entanto, poderia funcionar igualmente bem para fins de ccomunicagio (ou para autres fins) com regras independentes de estrutura, ao que parece. Para uma mente constituida diferentemente, regras indepen dentes de estrutura seriam muito superiores, no sentido de que nao requerem nenhuma anilise abstrata de uma sentenga, para além das pala vras, Acho que o exemplo tipico. Onde se pode demonstrar que as estruturas servern 4 uma func3o particular, essa & uma descoberta valiose, ‘Acho que dar conta de, ov, de algama forma, expiicar a estrutura da GU ou de gramaticas particulares com base em consideracdes funcionais & uma perspectiva bastante sem esperanga; talver seja mesmo um “equivoca” assumir outra posiglo. Talver. Searle tenha alguma outra coisa em mente, mas, com franqueza, ndo vejo aqui nenhuma saida, nenhuma contrapropos te a imagem que Searle rejeita, qué tenha qualquer plausibilidade. Searle argumenta que ‘“é bastante razoavel supor que as necessidades de comunicagio influenciaram 2 estrutura”” da finguagem & medida que cla evoluin na pré-historla humana, Concocdo. A questio é 0 que podemos Cconclair a partiz deste fato? A sesposca é muito pouco. As necessidades de Yocomogio influenciaram ¢ fato de os homens desenvolverem pernas, © 05 pissaros, asas. Esta observagto no ausilia rmito fisidlogo preocupado ‘com a natureza do corpo humano. Como as estrutiras fisicas, 08 sistemas. ‘cognitivos sem duvide evoluiram de determinacas maneiras, embora na0 possamos seriamente, em nenhum dos casos, pretender compreendet os fatores quie entraram em um curso particular éa evolucao, determinando ou mesmo influenciando significativamente seu resultado, E ber verdude que, se sistemas geneticamente haseados se tivessem mostrado_setiamente disfuncionsis, 0 desenvolvimento evolutivo poderia ter abortado, ¢, na medida em que eles facilitaram a teprodugde diferencial, contribuiram para 4 evalugio. Mas observagbes desse nivel de generalidade nao sio de muito interesse. Entre os sistemas que os setes humanos desenvolveram durante © 9 ‘curso da evolugto, estdo & capacidade de elabotar conhecimento cientifico € 42 capacidade para lidar intuitivamente com propriedaces bastante profundas do sistema de niimeros. Pelo que sabemos, estas capacidades no possuem valor seletive, embora seja bem possivel que se tenham desenvolvido come parte de outros sistemas que possufam tal valor.3! Sabemos muito pouco a respeito do que acontece quande 10!” neurdnies se aglomeram formando algo do tamanho de uma bola de basquete, com condicdes adicionais im postas pela mancira especifice segundo a qual este sistema se desenvoiveu ‘no tempo. Seria um grave erro supor que todas as propriedades, ott a8 pro- priedades interessantes das estroturas que evoluiram, podem ser tex: plicadas"* em termos de selecao natural. Certamente ndo hd nenhurna ‘garantia para tal suposigo no caso das estruturas fisicas. ‘Quando Searle diz que “‘em geral uma compreensio dos fatos sintaticos requer uma compreensio da sua fungio tia comunicagdo, jé que @ lingua, em todos os aspectas, @ camnnicagao"”, concordo apenas em parte, Se to- smarmos comunicacic come incluindo expresso do pensamento, como ele faz, entio a alinmagio se torn pelo menos uma meia-verdade; assim, tere- ‘mos apenas uma compreensto parcial da sintaxe, se nao considerarmos 0 seu papel na expressic do pettsamento e outros usos da linguagem. Ate aqui no deveria haver controvérsia. Mas, a partir desta observacao inat vel, niio se deduz, de forma alguma, que a tese da autonomia da simaxe € “estranha e excéntrica’’. Se vamos pensar em linguagem cam base sa ana Jogia com um drgio fisico como 0 coragio, entio é pouco provavel que ex- plicagdes funcionais nos levem muito longe, ¢ deveriamos nos preocupar com a estratura do orgto que serve z essas fungtes.22 Trate-se, novamente, de ums questo de fato, € nio de estipulacio, saber se a organizacio da inguagem envolve uma sintaxe auténoma no sentido que foi proposto, Nao se pode tet nenhara intuiglo « priori a respeito desta questo, da mesma forma como nao se pode argumentar sensivelmente, com base na ineuicao, que ura certa teoria da estrutura do coracio é um “equivoco”” Voltemos agora ao tinico ponto sério de discordincia, a ‘‘conexao ex sencial’” que Searle alega existir entre linguagem e comuniciglo, entre significaglo ¢ atos de fala. Considerando estes problemas como relacionados, Searle (1972) argumenta contra a teoria de que as “‘sentencas so objetos abstratos produzidos € compreendidos independenternente co seu papel na comunicacdo"”, com base na supasigio de que ‘qualquer tentativa para dar conta do significado de sentengas partindo de tais assungées ¢ ou circular ou inadequada’”. Ele alega, ainda, que o tratamento oferecido por fildsofos por ele citados (Wittgenstein, Austin, Grice, Searle, Strawson) “nos fonnece uma soluggo para este dilema”, explicando “‘significagao" em termos daguilo que o falante intenta que a auditncia acredite on que ela fags. Outros tambem fizeram a mesma assetc4o, argumentando que hi uma van- 50 tagem na abordagem que explica o significado des expressées linglisticas fem termes clas intengdes do falante, no sentide de que esta abordagem nos permite escapar ca “orbita do espaco conceitual”” que inclui os conceitos de “ideia"’, “*marcador semantico’”, sentido fregiano, ¢ assina por diante,?4 Esta abordagem evita a *‘circularidade”” contra a qual Searle objeta em sua ‘critica da semantica cléssica, e, em particular, da minha versio deta ‘© tratamento 20 gual Seale faz alusio evitaria, se carreto, a “circule- ridade"* que cle alepa existir.34 Este tratamento, porém, falha em m aspectos, Fin particular, ele nto ofetece nenhuma maneira para se lidar com os m™muitos casos nos quais a Bngua nao é usada pare comunicagdo (no sentido mais estrito}, casos normais, para as quais @ intencio do falante com relagic a uma audiéncia nao oferece nenhuma perspective particular com felagio A significacdo literal do que ele diz. Além disso, uma andlise das propostas que tém sido apresemadas mostra que a “significacdo litera!"" vem sendo reintroduzida como uma nogéo ndo explicada. A ubordagem permanece, entéo, dentro da“‘rbita do espago conceitual”” da qual se havia procurado escapar. Consiéeremos, inicialmente, a pretensa conexdo “‘essencial’” entre Lnguagem e comunicagio. Searle objeta contra a minha afirmacdo de que © uso significative da linguagem “nao tem necessariamente que envalver comunicacio on mesmo a tentativa de comunicar’', como quando “Ten uso a linguagem para expressar ou esclarecer meus pensamentos, com a in tengio de enganar, para evitar um siléncio embaragoso, ou em uma cUzia de outras manciras’’. Nestes casos, sugeri ex, “‘minhas palavras tém wm significado estrito € posso muito bem querer significar o que eu digo, mas & ‘compreensio total daquilo em que tenciono que minha audiéncia (se houver alguma) acredite on gue ela faga poderia fornecer pouca ou nenhuma indi cago do significado do men ciscursa”” (Chomsky, 1971, pag, 19). ‘Apesar dos escripulos de Searle, wdo isso me parece lugar-comum e Sbvio, Eu posso estar usando a linguagem no sentido mais estrito, sem enhuima intengto de comunicacao, Embors meus enunciades tenham tum significado definido — seu significado normal —,minhes intengBes com relagdo a uma audigncia nao podem, todavia, lancar nenttuma luz sobre este significado, Tomemos alguns exemplos coneretes. Enquanto aluno de pés- sgraduacdo, passei dois ates eserevendo um longo manuscrito, convencido durante todo 0 tempo de que ele nunca seria publicado*? ou lide pot ninguém. Eu queria realmente dizet cada coisa que escrevi; sem nenhuma pretensio quanto aos créditos que pudessem ser atribuidos as minhas opi- rides, e de fato tomando como certo que nio haveria nenuuma andiéncia, ‘Una vez por ano, juntamente com muitos outfos, escrevo bma carta para a Delegacia do Imposto de Renda explicando, com tanta elogiéneia quanto me & possivel reunir, 0s motivos pelos quais ndo estou pagando parte éo 31 ‘meu imposto de renda, Ao explicar isto, en sou sempre sincero. Nav tenho 4 intengZo, no entanto, de me comunicer com o leitor ou de fazer com que cle acredite em algo ou faca alguma coisa, pelo simples fato de eu saber per- feitamente bem 0 que 9 “leitor’” (provavelmente algum computador) nzo se importa minimamente com as minhas explicagées. O que es minhas afirmagoes na carta significam, o que eu quero dizer — em um certo sen- rida — 20 fazer esas afirmagies, nao & explicivel em termos do que eu quero significar, do que pretendo, a0 escrever a carta, ou sejs, muanilestar ‘meu apoio as pessoas que estio empreendenclo de maneiza mais significativa a resistencia contra a violéacia criminosa do Estado. Certa ver, passei pela ‘curiosa experiéncia de fazer um dliscurso contra a guerra do Vietna para um grupo de soldados que avancavam com equipamento completo de combate, rifles na mio, com 0 objetivo de desimpedir a area onde eu estava falando, Ev queria realmente dizer © que estava dizendo — minkas afirmagdes tinham seu signiticado estrito e literal — mas isto tinha pouco a ver com as minhas intengoes naquele momento. Estes exemplos sio desorientadores porque sio, talvez, fora do comum. Na realidade, a situagdo que ilustram @ lugar-comum. Em inimeras cr cunstancias bastante normais — pesquisa, conversa casual, e assim por dante — a lingua & usada apropriadamente, as sentengas tm o seu significado estrito, as pessoas tem uma intengao de significaczo no que sizem ou escrevem, mas nfo hi intengto de fazer com. que a audiéncia (que nao se supde existiz, cu que se supde nio existir, em alguns casos) venha a ter certas opinides ou empreenda certas acdes. Teis exemplos banais ccolocam dificuldades para uma andlise da signilicagao em termos da in- tengo do falante com relagto 2 uma audiéncia, ainda que fosse possivel dar contz, no caso de haver intengao de comunicar, do que a senvenga significava estes termes — e disso também eu duvido, por motives 20s quais retornarci. Searle (2 ser publicado) afirma que: (A) 0s casos mus simples de signiicacie sio aqueles em que o falante enuncia una sence € quer surcar exata e literamenie © que diz Ea ws cos, 0 alan fc tencions procuzir um certo efetoilocucsoairie no ouvinte, ¢ tencioma proc ‘ete efit procurando fazer com que 9 ouvinte ecenhega soz intengda x9 produc Io, eletencinafaver comm que u ouvinse ceconege eas inlengho em vir doo "hecinente que 9 covines pass dis eeprax que govern 2 nuncio de senteaga, Ele prossegue, entio, com uma discussio interessante de outros ““cas0s de signiticagto"” menos simples, tais como “em palpites, insinuagées,ironia e metifora’”. Permanece, porém, o probiema de que (A) & freqlientemente falso, mesmo nes casos mais simples. O falamte pode querer significar exata € literalmente 0 que ele diz, mas sem nenhuma intencéo do tipo que Searle 52 ‘lega exist, As intengBes reais do falante podem variar largamemte, mesmo nesses ‘casos mais simples”, ¢ podem néo iluminar de forma alguma 0 significado do que ele diz, Searle no jgnorou inteicamente estes problemas. Assim, cle leva em ‘conta a teoria de Grice de que ‘dizer que um falante F quis dizee alguma coisa por meio de X é dizer que F intentou que o enunciado X produzisse algum efeito em um ouvinte © por meio do reconhecimento desta sntencBo.” Como Searle nota, o cAlculo filha porque'*ndo mosita a conexko entre fato de alguem querer dizer alguma coisa por intermédio do que diz, ¢ 0 que aquilo que alguem ck realmente significa na lingua". Para superar estz dificuldade, Searle revé a definigio de Grice em varios aspectos. Introduz ‘a nogdo de regras para a utilizagao de expressbes ¢ desenvolve ura node mais ampla de “efeitos produzides 20 ouvinte™. Para Searle, estes efeitos incluem “‘entender o que eu disse”’, Desta forma, na revisio da sua ex plicagdo (J969, pag. 48), o signiticado de uma sentenca & determinado por egras; enunciar uma sentence e querer dizer o que cla significa @ uma ‘questio de intentar lazer com que o ouvinte saiba que certos estados de coisas especificados pelas regras passam a existir, com 0 corolitio de in- tengo de fazer com que © cuvinte saiba estas coisas pelo reconhecimento i primeira intencio, e de intentar fazer com que ele reconhea a primeira intengao em virtude do scu conhecimento das repras para a sentenca anun- ciada — essenciaimente (A), acima. Mais tarde retomarei a questo de saber se esta referéncia a regras ¢ assim por diante no nos levatia a fazer pressuposigdes infundadas a respeite de problemas cruciais, Acredito gue sim. Comecemos, porém, por indager como estas revisdes dio conte de um problema geral levantado por Searle contra a teoria de Grice, ou seja: ““Eu posse fazet uma alirmacio sem me preocupar com o fato de a minha audiéncia acreditar nela ou no, mas sim- plesmente porque penso ser men dever fazé-ia’’. Ou como essas revisdes Gio conta dos exemplos que acabei de mencionar, que sto, em um certo sentido, ainda piores, j¢ que admite ndo existir audiéncia (cf. nots 36). Infe- Tizmente, 2 dificuldade que Searle menciona contra Grice sobrevive as revisdes. Nos casos citados, eu, o filante, nto tec nenbuma intencdo de fazer com que o ouvinte saiba ou teccnecs alguma coisa, mas o que eu digo tem o seu significado estrito, ¢ quero significar © gue digo. Desta for- ‘ma, a revisio de Searle, s6 por este motivo, deixa de capturar 4 nocto pretendida de significacio: como uma assercao factual, ela é falsa. O mesmo @ vilido para todas as outras tentativas que conheco de explicar “significa ‘Gio! em termos de “intencio do falante ao se comunicaz"’. ‘Ao claborar a questio que levanta contra Grice, Searle passa, sem comentarios, de uma discussao sobre significacéo para ume discussio sobce comunicacio. Esta passagem é importance, A 'teoria de intengao do falante 33 pode muito bem ser uma contribaigdo para uma teoria dz comunicagao bem sucedida, Searle, no entanto, mo oferece nenham modo de fugir aos problemas que levanta contra abordagens alternativas. Outros problemas surgem ainda, como veremes, quando se considera a natureza das regras envolvidas nas teorias de Grice 7 Searle. Outros filosofos tm argumentado dentro de perspectiva semelhante, Assim @ que P. F. Strawson (1970) fala de uma ‘‘luta homérica””, em tor rho de uma questie central ds filosofia, entre “*teoricos da comnunicacao-in- tencdo"” e “tedricos da_semantiga formal’’. Como Grice © Searle, ‘Strawson opwa pela teoria da comunicacaointencao. Antes de examinar as ‘suas razées, tentemos esclarecer 0 que, exatamente, est ern questo. A investigagio mostra que ha realmente um’ acordo bastante grande centre as faogdes no que conceme a esta “uta em torne do que parece ser ‘um problema to central em Filosofia”. Diz Strawson particularmente que todos concordam em que ““os significadas das sentengas de uma Kngua sio em grande purte determinados pelas regras ou convengbes semmticas e sin- taticas daquela lingua"’. Ha, portanto, um projeto comum — e é isso que ze interessa em particular — ow seja, descobrir essas regras © convenes semidnticas ¢ sintiticas, e, mais especilicamente, extrair o elemento univer- sal nelas presente. ‘Quando 0 teGrico da comunicaggo intenkao quer suena promes- sa de ir & loja de uma promessa de enxugar os pratos, referir-se- aos sesul- tados desta empresa comum, que encontra o sed lugar, em sua teoria, no principio de que “a significado de uma sentenga é determinado por regras, essas regras especificam tanto as condicSes| de enunciade da sentenca, como também valor da sentenca”’ Searle, 1969, gig. 48); em um caso, 4 sentence vale por uma promessa de ir 3 loja; ne outro, por umia promessa de enxugar os pratos. A respeito desta parte da teoria, tedricos da comuni- cacdo-intencdo tém pauco a dizer, E justamente esta parte que me ineressa =e suspeito que interesse também a outros, aos quais Strawson chama de “‘tebricos da semfatica formal?* {eu sou citado como um dels) Analogamente, suponhamos que Searle e Strawson possam distinguir uma promessa de um aviso, ou de uma previsto, on de uma ameaca. Seus resultados serdo, entio, de interesse imediato para o mais incorrigivel ex poente das "‘significadas”? abstratos, o qual deseja expressar de alguma forma o fato de que uma dada forma Iingtistica — digamos, “‘os drinques serdo servidos as cinco’? — pode ser usada como um promessa, uma previsto, um aviso, uma ameaga, uma afirmaydo ou um convite, Isto nao significa negar que ha uma divergencia entre Serawson ¢ seus oponentes, mas tona-se menos simples determinar em que consiste tal divergéncia. De acordo com Strawson, ‘'é a respeito das relagtes entre as fegras da lingua que determinam o significado, por um lado, € a lunge da 34 comunicagio, por outro, que as duas concepgtes diferem: uma facgao in siste, ¢ a outra (aparentemente) se recusa a aceiter, que a natureza geral dessas regeas pode ser entendida apenas mediante referéricia 4 esta fungao Stravison prossegue, entio, na investigacto do significado dessa recusa. Desde a formulacao inicial, porém, sua discussio € errénea. Teria sido mais apropriado transferir o Gnus implicito da prova, ¢ dizer que anna facgio afirma que a natureza getal das regras que determinam o significado pode ser compreendida mediante referéncia a (e somente mediante referén- cia 4) funcdo da comunicacgo, enquamo que a outta faccio exige um argumento © nao se mostra muito impressionada pelo que esta por vir. A formulacdo errénea de Strawson persiste, no entanto, Assim, 2 “questo central” @ posta nos seguisies termos: “Ela consiste em nada mais nada menos do que na questio aparentemente simples de saber se a nocao de condigdes de verdade pode ela propria ser explicada ou entendida sect referencia @ fangio da comunicacao.”” Reformulando 0 problema de ‘maneira mais apropriada, pode-se dizer que esta consiste na questio de se saber se a referéneia 4 fungio da comunicacao & essencial para a analise do significado ou para se explicar ““2 nogio de condigoes de verdade’”, con forme alega Sirawson, ou se na verdade tal referencia nos auxilia, de alguma forma, no tratamento dos problemas centrais da sigaificagio. O “rebrico da seméntica formal’” nao esta convencido. Colocando © énus da prova no seu devide lugar, consideremos defesa que far Strawson de suas asserctes, Ele sugere que tomemos como um elemento primitiv a nogdo “expressdo de opinio dirigida a audiencia™” (EODA), Para ilustrar, “um falante poderia ter, como uma de suas inten- {205 a0 executar o sew enunciado, a de fazer com que sua aucliéncia pense que cle, 0 enunciante, acredite em alguma proposigao, por exemple, proposigae de que p; ¢ ele poderia pretender que esta intencdo fosse com: pletamente aberta, para ser claramente reconbecida pela audiéncia, ‘Assim poderia cle fazer — e poderia também ter a intencio de expressar ‘honestamente a proposigao, talver, para esclarecer seus proprios peasamen- tos, talvez por um senso de integridade pessoal, poucy se importando com © fato de se @ sua audigncia acrecita que cle actedita em tal proposigio, on ‘mesmo pouco se importando com o fato de haver ou nao ume audiéncia Certamente tais casas constituem um Iugarcomum. Talvec, ainda, a sua intengao seje divertir a audiéncia, manter viva a conversacio, ou intumeras coutras possibilidades O que 0 teérico da comunicugdo deve demonstrar, de alguma forma, & que 4 EODA ¢ central © que a comunicagdo é, como pretendido, a "*hungio essencial’” da linguayer, Ele deve demonsirar que referéncis 4 RODA, refertncia as intengies do falante com relacio aquilo em que a axdiéncia acreditard on ao que fara, explica alguma coisa — explica, por exemple, por 33 ‘que a afirmaczo de que p ¢ signiticativa quando prechizida sem nenhuma in. tengio a no ser a de ume autoexpressio honesta, Isso 0 tedrico di comu: inicagao no pode fszer. Mas ele deve fazer ainda mais, para comprovar suas assergbes. Deve demonstrar de que maneira a releréncia 4 RODA auxilia no desenvolvimento de uma explicayio do que significam as sentences. Tal perspective parece mais incerts ainda, Se pudermos fornecer ura explicagio para a nolo “‘o enunciante acredita na proposigao de que f”", que aparece sem explicagdo no exemplo de Strawson citado acima, ¢ explicer de que maneira ela difere de “‘acreditar na proposigio de que q'", entao poder parecer que os problemas centeais foram solucionados que a referencia an terior d EODA nao é muito interessante. Porém a nogao crucial, “0 enun- ante acredita na proposicdo de que p (nao g)"", & comum aos oponentes na uta mencionada por Strawson, ¢ ndo é, ce forma algums, esclarecida por meio de referencia 2 FODA, contrariamente 20 que Strawson sugere. Dada esta nogao, nés podemos (mas de maneira nao interessante) interpretar cdo lingufstica’’ de conformidade com es revisdes de Siravison; si semt ela, parece que tal interpretago & impossivel “Strawson suugere que uma ‘andlise proposta por Paul Grice fomece raiGes para Se penisar que ‘*é possivel explicar cal conceito de comunicacao- intengao ou, come ele o chama, significado do emuaciante, v qual € & prova de objecto endo pressupte 4 nacio de significacdo lingilistica”, evitando, desta forma, a "‘circularidade’” de Seale. A analise de Grice, todavia, falha nos casos cruciais. Observando mais de perto © modo como ela falha, desco- brimos que as diferengas entre os oponentes nessa lita, talvez menos do ‘que homériea, parecem diminuir ainda ma Grice considera a nov crucial “‘signiticasdo de acasi¢o na auséncia de uma audiencia"” — o uso, por exemplo, de um enuaciado para auto expres: , esciarecimento do pensamento, ¢ assim por diante (Grice, 1969), Ele afirma que dizer que 0 falante significa isto ov aquilo ao enunciar x é dizer que hd ume proptiedade P tal que x € emunciado com a intencao de que qualquer pessoa que possna P pense o que se espera cue uma audiéncia apropriada pense no caso “*normal’* de comunieagdo com uma audiéncia (com varias sutilezas que poxlemos ignorar aqui Nao vejo, porém, nenhum motive para acreditar que o falante deva possuir intencoes tais como as especificadas no defimiendim de Grice. Em casos do tipo mencionado, o flante nao term intengdes relevantes com reli gle ao que possa vir a pensar um oavinte que possua a propriedade P, nto importa como tl cuvinte tenha sido escolhido, No caso da autc-expressio hozeste, o falante nde se importa, No caso da conversacdo casual, as inten ges do falante com relacio « uma audiéncia hipotérica néo necessitam it alem de suas intengdes com relaciio 4 andiéncia real, ¢ simplesmente no ha necessidade de nenhuma intencio de que a audigncia seal acsedite que as 56 opinides do falante sd0 eas ou aquclas, Altm disso, considerese propriedade P que aparece na definicio de Grice. Esta propriedade, suzere Grice, pode ser, por exemplo, a propriedade de ser um lalante de ingles. Isso, porém, nao funcionara, Suponamas que o falante acredite que hi falantes nativos de inglés que habitualmente compreendem mal o que leem ‘ou ouvem — 0s ctiticos des seus livros, por exemplo, Nesse caso, mesmo ‘que aconteca de esse falante ter a intengie que Grice pretende ser necessa- fa, serd necessacio considerar P algo como: **¢ umn fulante de inglés que pensari que o enunciame aeredita que Q ao ouvir x””, onde Q é o signifi do literal dex. E somente para tais “‘ouvintes"” que o falante iatenta que & resposia cognitiva corresponda ao que ele quis dizer da maneira exigida ‘Mas, desta forma, tudo incorre em petiglo de principio. 4 nocdo de ‘signi: ficacio literal", ou aigo equivalente, x intromete novamente, sem que tenha sido proposia nenhuma maneita para se escapar da “‘érbita do espace conceituai’”, que inclui as nogées abstratas suspeitas de “‘significacao lin. ica’’ ¢ coisas semelhantes, mesmo se é o caso de o eaunciante possuir as intengées postladas com relacio a uma audiéncia hipetética, o que ndo é de maneira nenduma necessétia no uso normal da lingua.>? Podentse imaginar modificas8es da definigao proposta que nfo en: volvam assergies incorretas a respeito de intengdes, mas nao sem se intro: duzir alguna’ nogao como *'significagic lingtistica’’, pelo que vejo. Como vyeremos diretamente, a teoria mais -explicita e abrangente de Grice falha ‘também nesse aspecto. Acho que o problema & que os ““tebricas da come: nnicagio" no esto analisando “‘sighificacao"', mas sim algo diverso: talver “‘comunicagao bem sucedida’’. Este conceito pode realmente envelver referencia essencial 4 nogdo de Grice de “‘intengdo de $ (ignificar)”. (a saber, a intengao de um falante de produzir no ouvinte um efeito por meio do reconhecimento, por parte deste, das suas intencoes), com as elaboragoes sugeridas por Searle, Grice e outros. Mas comunicagic € apenas uma fungdo da linguagem, ndo sendo, de forma alguma, uma funglo essencial A anilise “instrumental”? da linguagem como dispositive para atingir algum fim é seriameme inadequada, ¢ as ‘jogos de lingnagem’’ que tem sido criados para esclarecer esta func s4o da mesma forma engenadores.2® Durante a reflexdo, a inguiriggo, 0 intercambio social normal, o plancje mento € direyio das proprias agdes, a atividade de escrita criativa, a aute~ expresso. honesta, e aumerosss outras atividades que envolvem a Tinguagem, usarn-se expressdes com seu significado lingiistico estrito in- dependentemente das intencdes do ‘‘enunciante’’ com selagdo a uma audiéncia; e, mesmo nos casos que © teorica da comunicasio considera centrais, a referencia implicita a "‘regras’” e “‘convengbes’” parecer, ma explicagio de Grice, incorrer em mais grave petigio de principio, um assuz- 8 20 qual voltarei diretamente a” De qualquer maneira, parece haver uma geande quantidade de problemas interessantes no espaco cormum partithado pelas chias teorias que Strawson contrapte: a saber, 08 problemas de analisar como o significado das sentengas de uma lingua so determinados pelas regras da Lingua, isto é, @ gramatica em interagio, possivelmente, com outras estruturas cognitivas, 1a forma anteriormente delineada. Strawson falhou a0 tentar estabelecer as afirmagdes do “tedrico da comunicagao”’, ¢ as fontes as quais ele faz referencia nao se sacm melhor neste sentido, Consideremos agora seu atgumento contre o tedrien da se- ‘mantica formal, Note-se que este argumento poderia muito bem ser correto sem que Strawson fzesse sun primeira afrmasio, Seri mesmo coreeto ta ‘argumento? Strawson considera a teoria contriria inadequada porque se baseia na ogo nto anulisid ¢ inexplicada de “‘expressar ma opiniao’”. As “‘regras que determinars a significagao de ume sentenca da lingua”, de acordo com esta concepcdo, “so as regras que determindm gue opiniao € convencio- rnalmente articulada por algném que, em determinadss condigées contex- ttiais, enuncia a sencenca’’; "'determinar que opinio & esta é a mesma coisa que determinar que assercao é feita"” Mas, argumenta Strawson, a noao de ‘um conceito essencialmente independente da expresséo”", sem nenhuma referencia a intenglo comonicative, requer uma explicacao ulterior. £ incompleca porque ‘somos impedidos de fazer da referencia & finalidade ou objetive da comunicagio uma parte essencial da nossa hist’ *. A desctigio nao nos diz. qual necessidade do falame & satisfeita pela expressZo de sua opinido, Além disso, parcce que, nesta explicagzo, é “wma verdade bastante comtingente a respeito de lingua o fato de as regras ou convencaes que dete:minam os significades das sentencas de uma Ingua serem convengoes ou regras piblicas on sociais, Isto no seri de forma algomeressencial ao conceito de lingua; &, por assim dizer, um fato natural, uum fato da natureza..."" Assim, nesta teoria, as pessoas aprendem uma Jingua na qual podem expressat opinides,?° e wmbém ““adquirem a habili- dade secundiria de comunicar suas opiniges, mas esta altima € "simples: mente algo acrescemtado, um beneficio extra ¢ ado estipulade con. ceitualmente, relativamente acidental no gue concerne @ desctigio do que significa ter dominado as regras de significagto da lingua’. Os ouvintes poder supor que expressdes de opinito expressam de fato opinides & que sto enunciadas com tal proposito, mas este € nm fato meramente con Fingente: ““Na medids em que & 0 nucleo comum que esta em questdo, @ fangdo da comunicacio permanece secundaria, derivativa, conceitualmente desnecessaria”. Sem mais argumentos, Strawson descarta essa explicagio como “‘ertonea € arbitraria demais para satisfazer os requisitos de uma teozia acci- 38 oonaag tavel””, Desta forma, deve'se seconhecer que © tedrico da comunicacio “‘venceu [0 jogo]”” Notese que a questio de saber se a comunicagao é “primaria’? & “conceitualmente essencial’’ esté incursa em petigio de principio em toda 2 contra-azgumentagio de Strawson. Além disso, 0 quadro que Strawson Fejeita como erréned ¢ arbitririo parece bastante razodvel ¢ provavelmente correto, embora nao pareca muito esclarecedor, O organismo € constituico de forme a adguizir um sistema de linguagem que inciui “regres de deter: ‘minacao do significado (de novo, talvez, em interagdo com outras faculda- des da mente), Fstas regras sto entao ussdas pelo falante paca expressar suas opinides nder alia). O aptendiz nao tem nenhum “‘morivo"” para \dquitir a linguagem; ele ndo decide aprender. ¢ nao pode deixar de apren: der em condigdes normais, da mesma forma como ele nfo decide organizar © espago vistal de uma determinads mancira {mas o organiza) — ou, seguinde 0 mesmo raciocinio, da mesma forma como certas células no em brid nfo decidem se tornar (mas se tomam) um brage 08 os centros visuais do cérebro, em condicoes ambientais apropriadks. Tendo adquirida 0 sistema da Lnguagem, o individuo pode (em principio) decidir utiliz-lo ou io, da mesma forma como ele pode decidir segnir ou abandonar suas opinides relativas & posicdo dos objetas no espaco. Fle nio pode decidi tazer a5 sentencas significazem algo diferente do que significam, da mesma forma como nae pode decidir ter os objetos distribuides no espace perceptual de ‘uma forma diversa daquela em que esto. Comunicagao & uma das funcdes que o sistema deve desempenhar; como sé observou virias vezes, ela no & cde maneira alguma a tinica funcao, e Steewson néo oferece cm parte alguma ‘um argumento piausivel de que ela € a ‘*fngac essencial"” {# menos que trivializemos 0 problems ingoduzinds ““comunicacao conosco miesm0s"” ‘como um caso de “‘communicagio"), e nem mesmo nos esciarece a respeito Go que significa considerar um dos usos dé linguagem como sua “funcde essencial’”. Com relagao a “‘qual das necessidaces do individuo & satisteita"” rna expresso de suas opinites, as respostas podem variar muito: talver. a rnecessidade de ser honesto e rete, ou de impressionar os outros e subir em sua carreira, on de enyanar-se a si proprio, ou de manter certas relacdes sociais em um grupo, entre muitus cutras possibitidads. Com relage a0 fato de as regras da lingue serem **regras publicas””, isto é, na realidade, urn fato contingente. O tito de as estruturas cognitivas ‘desenvolvidas pelas pessoas no interior da capacidade cognitiva serem semelhantes, em virtude de sua constituigdo inata semelhante, ¢ um fato da natureza. Assim, partilhamos com outros regras da lingua, da mesma for- ‘ma que com cles partlhamos uma organizacao do espaco visual, Ambes os sistemas partlhados desempenham um papel a comunicigo bem sucedida, Os ouvintes algumas vezes assumem que 0 falante est exprimin: 59 do opinides que possui, outras vezes no, dependendo das cireunstincias. Nao ha nada surpreendente em nentume destas coisas, embora nos ainda compreendamos muito pouco a respeito das estruturas cognitivas desen: volvides e de sue base nas feculdades mentais; ¢ podem-se levantar questies sobze problemas comuns a amhas as abordagens, especiticamente sobre 0 problema que ¢’esclarccer as nogées: “*usar uma cegra lingtlistica™, “ex Pressar a opiniao de que #"", e assim por dante. A opinito de Strawson de que este quacko ¢ erréneo e arbitrisio deriva, talver, de sua assunczo injustificada de que a Tinguagem & ensinada conscientemente por condicionamento € treinamento, sendo, poranto, bas- tante diferente das estrutaras cognitivas ou fisicas que se desenvolvem no ‘orgenismo em virtude de sua natureza, sob condigées ambientais apropria- chs, Ceramente, hi diferencas importantes entre o crescimento da linguagern, 4 construgdo do espace perceptual, o desenvolvimento dos éryaos no em: brio, e outros processos de desenvolvimento fisico e cognitive. Acho, pe rem, que essas diferencas no sto as que Strawson parece super. Com relagao a questées que cle levanta, os processos. si semelhantes em importantes aspectos. Hm nenham ‘desses casos, levastiamse questoes de ““escolha”” ou “razio"* ou “fiaalidades e propésites’” ao se dar con ta do desenvolvimento das estruturas em considera;ao no individuo. Es- ‘amos lidando aqui, com sistemas que se desenvolvem de modo natural como uma espécie de instinto animal, para citar a frase de Hume, sem ne- nhuma escolha consciente, sem motivos (para o orginismo) e, certamen- te, sem nenhuma necessidade de treinamento € condicionamento, Anatu- eva das estrututas que se desenvolvem & em grande parte, pecdeterminada pela organizagio biclogicamente dads da’ mente. Se 0 que estou sugesindo aqui for de modo geral verdudeiro, como acredito que seja, entdo sho as questdcs que 0 “*tebrico da semantica formal” pode dar a eis, segunda as Tinhas que acabamos de indicar Enfatizo novamente, contudo, que mesmo se as propostas do ““teérico da secmintics formal"* fossom tio ““erréneas ¢ arbitratias’” como acredita Strawson, isto no absolveria de forma algurza o “‘zeorico da communica: 20"". Antes, faz-se necesséria uma demonstragdo pesitiva para as assercoes do teérico da comunicagio”’,¢ isto ainda esta faltando, Searle especula que men’ motivo para (segundo se pretende) conduzir uma “acto de setaguarda contra [o estudo das atos de fila)"” & que vejo nessa teoria um retomo ao behaviorisma (Searie, 1972}. A conclusto é in- coreeta, Minhas objegdes a tooria dos atos dle fal. na forma como tem sido desenvolvida até o momento, sto hasicamente aquelas ja expostas: cla po- de auxiliar na andlise ile commanicugao bem. sueedida ¢ tem levade a des- Cobertas interessantes a respeito das propricdades semanticas das enum ciados, mas nao nox oferece: acnhuma maneira de escapar di Grbita do 6a. espaco.conceitual que inclsi nogdes tais como “‘signiticagdo_lingiisti- ca”. Sem tal intromissio, a teorla simplesmente expressa afirmacées fal sas a respeito da signifcag Quanta ao retorae ao behaviorisme, parece verdide com relagdo a0 trabaiho mais cuidadosamente elaborado dentro da teoria. Naquilo que, pelo ue sei, se constitni no estorco mais cnidadaso e abrangente para explicar a significacao das expressées lingiisticas dentro deste quadro de referéncia, Grice apresenta um sistema de definigdes baseadas nao somente em inten: ‘sbes, mas também nia “*poiitica’’, na “*pratice’” € no “habito”” do falante, tia idéia de um “*repertorio de procedimentos"’. Um individuo possui um ptocedimento em seu repertirio quando possui "ima prontidio constante (disposicio, preparo), em algum gran para..."", onde ‘uma pronti para fazer alguma coisa [é] um membro da sesma familia... que uma intengao para fazer aquela coisa’’, Grice reconhece @ inadequacac dksta analise, mas fornece apenas alguns * comentarios inlormais’” @ respeito de como teveria ser consteuida uma definigao apropriada, Ele cita “*trés casos principais em que se poderia falar legitimamente de umn procedimento estabelecido com respeito ao tipo de enunciado X"", Um deles, que podemos deixar de Taco, tem a ver com um sistema de comunicagto planejado artiicialmente, mas runes colocado em: uso. A analise dos outros dois cases revela, de maneira muito clara, exatamente come a abordagem om sua totalidade nos condwz em uma diregac inteiramenie ereada, embora bastante familar. Os dois casos relevamtes se reduzem a “pritica™, isto 6 a costume € habito, Um € 0 caso no qual um falante cem a “'pratica de enunciar X estas e naquelas citcunstincias", e assim “passané a estar de prontidic paca enuncias X nestas e naquelas circunstincias’’, Isto, porém, é inadequado, j4 que um falante pode nao ter “*nenhum gran de prontidao para enunciar a expresso em quaisquer que sejam as circunstincias"”. O problema, como observa Grice, € que nés parecemos precisar “'da idéia de que [0 falante] esteja equipade pare usar a expressio"’; isto &, nds precisa. mos da nogie de “‘comperéncia"", no sentido familier da teoria lingtistica, antericrmente delineada, Esta nogao Grice @ considera *'problematica’’, embora néo explique por qué. Ele serie realmente problematica para uum behaviorista, mas nao, 20 que parece, dentro de uma abordagem que Consicera os seres humanos como organisms destzo do mundo natural. E verdade que hi muita coisa ainds rao bem compreendids, mas parece nic hhaver problema, em principio, em investigar a namureza, 0 uso @ & aquisico dis estruturas cognitivas, se renunciarmes as eriticas a priori © com: pletamente injustificadas a legitima construcdo de teorias, crticas essas que sto parte do programa behaviorista, Grice apresenta o caso final com a intense de ocuparse do problema nv de um falante poder estar “equipado’” para usar expressdes apropriadamen- te, mas no possuir prontidao para fazt-lo. Ele sugere que uma pessoa pode ter um “*procedimento para X"" no sentido requerido se ““enunciar X em tais e tais circumstincias for parte da pritica de muitos membros do"’ grupo do qual 2 pessoa faz parte. Isto é, outras membros do grupo ““tém de fato uma prontidio para enunciar X’em tais.e tais circunstincias"”. Mas, por fazdes que ncs sto familiares, esta andlise & imitil, Nao ha nenhuma pritica, costume ou hébito, senhuma prontidio, disposigao on preparo que nios levem muito lenge na explicagio do uso criativo normal da linguagem, se consideramos s praticas de uma pessoa ob de um grupo. Assim, qualquer falante de ingles esta “‘equipado"', no sentido que Grice exige, para falar ou entender uma sentenca arbitraria nesta pagina, mas nem um determinade falaate nem qualquer grupo tem pritica ou prontido para fenunciar estas sentencas em qualquer circunstincia, O mesmo é valido até ccom relag2o a palavras isoladas, se levarmos a sério as nogdes de “*pratica’* fe prontidao"™ “Tedos estes esforgos levarn ao caminho ettade, um snico ja lavrado pelos proponentes do mito empirista e, mais recentemente, por proponentes «lo curioso desvio da pratica cientitica normal chamado “behaviorismo”” ‘Uma dificuldade afim € a que tem a ver com a. passagem dos sinais nao estruturados para os enunciados estruturados. A passagem ¢ feita em termos de uma nocio de “procedimento resultante™”, a qual, contorme ob- setva Grice, “*permanece bastante obscura'*. Sua tentativa de esclarecer tal nocio envolve uma mudanca de ‘*procedimente’’ no sentido de “pratica costumeira’’ para ‘“‘procedimento’” no sentide de ““fegra”", uma nogao ‘muito diferente, pertencente a um ‘espago conceitual’” totalmente diverso, © centro da questio é, como indica Grice, que nds, mum certo sentido, aceitames implicitamente ¢ parecemas seguir certas egras Lingiisticas — “‘um problema ainda nao salucionado”’, como eie © coloca, mas que € 0 problema central, nao um problema marginal. Grice observa que “a inter- pretagio adequada da idéia de que més de fato aceitamos estas regras torna- se algo como um misténio, se se deve distinguir a ‘aceitagdo’ das regras da existéncia das praticas a elas relacionadas: mas parece que este € um mistério que temos que engolir, pelo menos por enquanto™ Uma ver. que 08 problems centrais permanecem sei solugio, ¢ uma vex que ado ba além do mais, nem uma vaga ideia sobre como proceder pera chegar a ela, parece que Searle, Strawson ¢ outros foram muito além do que seria apropriado nas suas reivindicagGes em favor da teoria da ‘comunicacao intengio ¢ dos atos dé fala, “Seguindo esta abordagem, voltamos acs veihes nuisterias; em que sentido “‘aceitamos'” as egras da lingua € de que mancira as seguimos para expressar nossos pensamentos, rnossas opinides, mosses descjos, ¢ assim por diante? Referéncia wos 62 costumes ¢ pritices é simplesmente irrelevante, completamente init Alem do mais, nas agora nos deparamos com novos problemas, tais como 0 problema de dar conta dos usos normais da finguagem citados anteriormen- te. A teorla da comnnicacao-intengdo parece uma passagem sem luz, 4? Devemos distinguir entre o significado literal da expressao inglstica produzida por F, © 0 que F queria dizer a0 produzir esta expressio (ou a0 dizer isto ou aquilo, independentemente das expressdes que tenha usado). A. primeira nocao € urna das que devem ser explicadas na teoria da linguagem. ‘A segunda ndo tem nada em especial que ver com a linguagem; posso per- feitamente perguntar, valendo-me do mesmo sentido de "*significagao"’, © ue $ queria transmitic ao bater a porta, Dentro da teoria da comunicagao bem sucedida, podemos, talver, estabelecer uma conexio entre estas nogoes. Tal esiorco, no entanto, parece ndo esclarecet em nada a teoria da significacao. (© mistério que Grice cita pode ser ligeiramente atenuado pela distingao das duas nocdes de “aceitagRo"” das regras: na aquisicdo da linguagem € 20 uso da finguagem, Em qualquer dos casos, a ‘‘aceitacso”” das regras deve set ‘*discriminada da existéncia das praticas a elas relacionadas”. Em geral, no hi priticas relacionadas. No primeiro caso, porém, deveriames aban- donar completamente a nogao de “Taceitagio”* das regras, bem como a idéia associada de que as regras sto “‘escolhidas’” e Ge que temos.r4z5es par estas escolhas, como na discussio de Strawson, As regras das Uinguas nio so aceitas por determinadas raz6es, mas so, isto sim, desenvolvidas pela mente quando colocada em certas condigies objetivas, de maneiza bem semelhante aos érgios do corpo que se desenvolvem de um mode predeterminado sob condigdes apropriadas, Axé aqui no ha mistério, Surgiria um mistério se tentassemos dar conta do desenvolvimento das repras em termos de priticas ¢ costumes. De medo analogo, haveria um istério se tentéssemos dar conta da “‘aceitagao’” dos principics pelos quais ofganizamos 0 espaco visual em termos de nossas priticas € de noss0s cos tumes. Até acui, pelo menos, 0 mistétio pode ser resolvido abandonande-se esse residuo de empirismo € empreendendc-se a andlise da capacidade cognitiva segundo os principios esboradas anteriormente, Permanecem mistérios, no entanto, quando nos voltames para a “*acei tagdo"” das regras no nso da lingua, Uma vez que o sistema da linguagern € outras esteuturas cognitivas slo desenvelvides pela mente, a pessoa possui ‘um certo limite de escolhas disponiveis com relaga0 a0 uso destes sistemas. (O que significa dizer-se que uma pessoa “‘aceita’” a5 regras, neste contex to? Significa, talvez, que ela decide seguir as regras que sto parte do seu ‘estado cognitive atual © que pertencem as extruturas cognitives praduvidas pela sua mente. Nao consigo ver o que tal incagacie poderia significar além disso. A esta altura, no entanto, nos defrontarios com alguns misterios 63 reais, ou seja, aqueles relacionados com a tearia da agdo humana (a teoria do Mees cf. pig. 19 } As cegras que una pessoa ““accita"” nao Ihe indicat © que dizer. Podemos indagar como ou por que colocamos em uso 0 sistema de regras desenvolvido pela meme. Em que circunstincias cecidimos violar estas regras? Que tipos de sofisticagio esto envolvides nesta decisao e o que sio as suas limitagSes conceituais? E assim por diante, apelo avs costumes ¢ praticas & notoriamente inatil, mas 0 apelo a outros modes de explicagte também nao nos leva muito longe. © estudo do desenvolviments das estruturas cognitivas (“aceitagae de regras"?, no primeiro sentido} apresenta problemas a serem rescividos, mas nnio, ao que parece, mistérios impenetraveis. O estudo da capacidade de usar estas estruturas € 0 exercicio desta capacidade, contudo, parecens escapar ainda 8 nosse compreensic. CapiruLo 3 ALGUMAS PROPRIEDADES GERAIS DA LINGUAGEM. |Até aqui, a discussdo "tem sido bastante absirata. Mencionei_ apenas ‘uma propriedade geral que penso poder, de modo plausivel, ser atsibuida a faculdade de Finguagem, que € 0 principio de dependéncia estrutural das regras gramaticais. Se as especulagées sobre seméntica ¢ sobre a interacio da faculdade da linguagem com oentendimente baseado 0 senso comum vierem a ter substincia real e a uitrapassar o limite de uns poucns exer plos, entio poderiam valet como uma hipotese sobre a organizaczo inata da ‘mente humana. Levando essas rellextes adiante, gostaria de abordar trés sopicos, Pei meiramente, quero sistematizar um pouco a analise da faculdade da fingnagem, Isso posto, gustaria de voltar a hipdxese simplificadora de que o aprendizado da lingua é instantineo, adotada antes a titulo especulativo. E, finalmente, retomarei algumas das questées levantadas no cumeco, relativas a possibilidade de uma toora mais ampla da natureza humana’ e suas im: plicages Ac discutir varias abordagens da semantica dss linguas naturais, notei {que ha um projeto comum a todas, que € 0 de descrever “as regras seman: ticas € sintiticas ou convengées [que determinam] os significedos das sen: tengas de uma lingua’ (Strawsor, 1970) ¢, o que é mais importante, o de descobrir os principios de gramética universal (GU) para alem das regras particulares. Alguas acreditam que **a naturcza geral de tais regras ¢ con- vengoes 56 pode, em tltima inst&ncia, ser entendida com reteréncia ao con: ceito de comunicagc-intencao"" (Strawson, 1970), Por razdes jf discutidas, fu nivo acredito que essa exigencia tenha sido suficientemente substanciada tenho diividas de que possa vir a sé-lo, Parece-me que se esti concebendo erroncamente o carater geral do uso da Linguagem ¢ ignorande um elemen- to intelecutal que no pode ser eliminad® de nenhuma abordagem adequada esse asssunto. Mas, seja qual for 0 futuro dessa discusstio, podemos ainda voltar com proveito 20 projeto comum, O que, entao, de plausivel pode ser dito sobre as regras que determinam as propriedaces formais e semanticas 6 das sentencas de uma Hingue, ou sela, da sua gramatica? Ha alguns anos, varias abordagens da questo 18m sido desenvolvidas ¢ aplicadas com resultado ptomissor. Eu nao seria capaz ce examind-las aqui, nem de dar cusisquer razdes decisivas em apoio daquelss que me parece mais promissoras, nem mesmo de tratar das objecoes levantadas 20 porto de vista que apresentarei.) No presente contexto, tais deficiéncias talvez sejam menos sérias do que poderiam parecer. Meu primeira objetivo & dar alguma idéia do tipo de principios e do grau de complenidade estrutural que parece razodvel atribuir a faculdade da linguagem como un propriedade geneticamente determinada, especifica da especie. Acredito que abordagens alternativas, embora diferentes sob varios aspectos,? so com- ppariveis em suas implicacdes relativas ds questoes mais gerais que tenho em riente. ‘Vamos comecar considerando algumes implicacdes do principio de de- pendéncia estrutural, Se ele esti correto, entlo as regsas da geamiitica se aplicam a cadeias de palavtas analisadas cm sintagenas abstratos, isto é, a estruturas que sto chamadas “‘indicadores sintagméticos"” na. literatura tecaice. Por exemplo, 4 sentenca (1) pode ser atribuido um indicador sin- tagmético que represente a estnutura indicada com clareza pelos parénteses e105, a0 lado de outras estruturas aqui omitidas (2) [ssn [DET ely man]is who [sy i a] fsye bevel] (8: semtengs: SN: sintsgma nominal: DET: deverminante: N:ceme; SV; satagmavezbal)” ‘A ocorrtncia em itilice de Js 6 a snica que segue o primeiro sintagma no- minal; € essa ocoméncia cue € anteposta para produzir a pergunta simounto correspondente, com seu indicador sintagmatico. A regra que executa essa operagao recebe 0 nome de ““transformacio (gramatical)"*. Assim, as transformagdes ordenam indicadores sintagmiticos ‘et, outros indécadores sintagmaticos. Um componente da sintaxe de uma Yngua consiste de tais transformagdes, qualquer que seja a estrutura (isto &, 4 ordenacao) impesta a esse conjumto. A esse componente denominemos componente transformacional’’. Para que o componente transformacional funcione gerando sentengas estraturadas, & necessario que Ihe seja fornecide algum tipo de indlicadores sintagmaticos iniciais. Suponhamos, entio, que a sintaxe Contenha também, um “componente de base’? que gera uma classe de ‘‘indicadores sin tagméticos iniciais’’. Tememos essa classe corno infinita, atribuindo assim. a0 componente de hase a propriedade recursiva que toda gramatice deve possuir. (1) fs [swf Der olfry homem|f 5 que [gv ¢ ako)]][sv esé aqui] 66 A tase, pot sua yez, consiste de dois subcomponentes: um “com- ponente categorial”” e um lésico. Q componente categorial apcesenta a estruturas abstratas basicas por meio de “‘regras de reescritura’” que dizem como uma cateyoria sintitica pode ser analisada numa seqliéncia de tais, categoria, Uma regra cesse tipo, por exemplo, diria que uma Sentenca ‘cansiste de um Sintagma Nominal seguido de um Sintagma Verbal (em simboles: S-»SN SV}. Entre as categorias que figuram no componente categorial estao as “‘categorias lexicals'”, Nome (N), Verbo (V), Adjetivo (A), e outtas. E simples imaginar um procedimento pelo qual as regras do Componente categorial possam gerar indicadores sintagmaticos do tipe apro- priado, com categorias lexicais em lugar dos itens lexicais que devem, por fim, aparecer nessas posicies ( lexicn consiste dos itens lexicais gue pertencem as categorias lexicais, cada um deles com suas propriedades fenoligicas, seménticas ¢ sintdticas. Gontém igualmente as regrds de “tormacae de palavras”” que. delimitam a classe das itens lexicais e exprimem suas propriedades gerais.> 'Transfor rmacies lexicais’” inserem itens do lexico nos indicadores sintagmaticos. abs- tratos gerados pelo componente categorial, ‘produzindo os ““indicadores sintagmiticos iniciais''? Esses altimas ainda so abstratos, pois somente ela aplicagao de ansformagées gramaticals € outras regres & que eles se tor nario seq(iéncias de palavras que valem como sentencas da lingua, fonologi- ‘camente representadas? ‘Assim, os civersos componentes da base interagem para gerar in- dicadores sintagmaticos iniciais, ¢ @ componente transformacional converte ‘um indicador sintagmatico inicial, passo a passe, numa sentenca fenologica- mente representada com seu indicador simagaiitico. A esse ‘iltimo com- pplexo chamamos “‘estrutura superficial”. A seqlitacia de indicadores sin- agmaticos assim geridos recebe o nome de *’derivagao transtormacional” Ha muito mais a diver sobre a estrutura do componente categorial da base € o léxico, mas no desenvolverei aqui esse rapics ‘Na chamach “teoria standerd"*?, os indicadores sintagmdtices iniciais ‘eram denominaclos “‘estruturas profundas'’, mes eu vou evitar aqui esse termo, por varias razdes. Na teoria standard, as estruturas profundas efam caracterizadas er: termos de duas propriedades: seu papel na sintaxe, iniciando as derivactes sransformacionais, e seu papel na interpretacio semintica. Quanto a esse iiltimo, pestulava-se que as estruturas profundas ‘avam toda a informacao exigica para determinar © significado das senten- cgas8. E claro que essas caracterizagdes sao independentes; pode-se vir a en- Tender que a3 estruturas que iniciam as derivactes transformacionais nao fo aguelas que determinam a interprewc2o semfntica. Actedito que seja esse 0 cas0?, A “‘teoria standard ampliada’” postula que as esieutras superficiais contribuem de modo definitive para a interpretagdo semintice or Na versio que delincarei aqui, vou sugerir que talvez toda informagia semintica seja determinada por uma mnogo de estrutura superficial cenriquecida, Nessa teoria, entdo, as propriedades sintaticas e scmanticas das antigas “‘estruturas profundas"” sio dissociadas. Qualquer uma dessas classes de propriedades poderia, entdo, ser tomada como definidora da nocao técnica de “"estrutura profunds”, Para evitar a discussio, e a pssivel con fuste que seguiria, simplesmente suprimo esse termo, ¢ vou falar apenas de “‘indicadores sintagmaticos iniciais”” e “estruturas superficiais”” Ha uma outra rardo para essa mudanca terminologica. Q termo “‘estrutura profunda’” tem, infelizmente, suscitado muitos equivocos. Assim € que al: ‘guns chegaram a supor que as estruturas profundas ¢ suas propriedades se iam as linicas realmente “‘profundas’” no sentido mo-técnico da palavra, enguanto 0 resto sevia superficial, sem importincia, diferente de lingua para lin ‘2ua, e assim por diante, Nunca se pretendeu isso. A teoria fonoldgica inclui Prncipios sobre a linguagem que so profondos, universais, inesperados, reveladores, etc.; acredito que o mesmo se pode dizer da teoria das estruta- ras superticiais e de outros elementos da gramatica. As vezes, o termo “estrumra profunda’” tem sido com o sentido de ‘*gramatica’” ou “‘pramitica universal”” ou “‘propriedades abstratas das regras’’, ou com ‘outros sentides igualmente confusos. Espero que ninguém seja levado a0 engano de acreditar que as propriedades dos. indicadores. simtagmiticos iniciais esgotem necessariamente o que possa ser considerado ‘*profundo”’, nem que hipoteses sobre tais estraturas constituam as teses fundamentais da gramatica transformacional, sem as quais ela entra em colepso. Em parte, a crenga de que apenas as “estruturas profundas"” sto im- portanies deriva do papel que thes é atribuido na interpretacto semAntica. Hi uma impressio bastante difundida de que a semantica ¢ a parte realmen- te profund ¢ importante da lingua, € que o estudo da lingua é interessante principalmente na medida em que contribua para o atendimento dessas questdes de real profundidade, Hla algum meérito nessa concepcio, Desta maneira, as questdes que tém a ver com o que 2s pessoas dizem e por que 0 dizem, questdes que tém 2 ver com o “aspecto cfiativo do uso da linguagem", sto certamente questées de grande interesse intrinseco e estio cuigé envolvicas em certo mistério, num sentido em que os principios de ordenacdo de regras em fonologia nao esto, Analogamente, poderiamos dizer que as questées relatives 2o comportamento hurmano tém para nés um. interesse intrinseco que o comportamento dos objetos inanimades nao chega a ter — mas nao iriamos por isso concluir que a Fisica @ superficial porque seu dominic é 0 das coisas inanimadas ¢ ela faz abstracao dos ates humanos (como, por exemplo, da possibilidade da intervengio humana tor- nar falsas 2s predigdes dos experiments tisicas, fato que — pelo que sei — 68 ‘no pode ser incorporado 2 teoria fisica}. A importincia da Fisica nto deriva do interesse inerinseco que possvi o seu objeto de estudos ninguém se preocupa com o que acontece em condicoes exéticas a um experimenco fisico, se isso no Liver relago com a teoria, A Fisica & significativa para alem ‘de suas aplicagdes, por causa da sua profundidade intelectual, € se viéssemos a descobrir que os principios da fonologia so consideravelmente ‘mais sofisticades e intrincados do que os COMP Spe Até aqui nao fiz distingo entre S¢ Sped. ¢ voU ignotd-la, quando irre- levante, em discussdes posteriores. Aqui, vamos admitic que o movimento de wh mio antepée simplesmente a palavra wb mas o coloca na posicao de complementizador, Por razses que no cabe expor aqui, tal proposta me pa rece bem motivada.2? Ha regras que agora mio vou discutir, que in- troduzem “'that"” na posic2o do COMP sob certas condicdes — quando esta posigo nil est preeachida por ume palavra wh, Desta teoria, seuese que nao pole haver movimento de wh dentro de sintagmas que nzo tem car) Dolla sabe quem: OFBI descobriu que Bil matow tos” 73 complementizadores, como, por exemplo, sintagmas nominais. Comparem- s¢ as duas estruturas, (13) e (14) (23) COMP jobn discovered [5 COMP But ad seen who} (14) COMP John dcovered [sy pictarés of who] De (13) podemos derivar (13°) © depois (13"") pela repeticio da movi mento ciclico de wh: (13) COMP Joba discovered wha Bill id seen (13) who dif Jobe discover chat Bil ad seen? No entanto, de (14) s6 podemos derivar (147°), ndo (147) (14) COMP Joh discovered who pictures of (18 oho dd Jobm dscover pctanes cl? No caso de (14""), a aceitabilidade da sentenca depende em parce do verbo principal; por isso, alguns acharam-na mais natural com “find” em lugar de **discaver"’ 22Quanto a (14°), senhuma mudanca de verbo ajuda rig a aceiti-la; tem um status inteiramente diferente de 14"). & sim: plesmente agramatical, e assim permanece com qualquer troca de itens lexi ‘ais. A estrutura & que € possivel. A. diferenga fundamental entre (13°) (24°) resulta do fato de que os sintagmas cominais no t¢m complemen tizadores. Note-se que nao ha violagio de subjacéncia na formacao de (14°*) a partir de (14) mediante uma tinica aplicagio de movimento de wh. (CE nota 21.) ‘Comparem-se agora os indicadores sintagméticos iniviais (15) e (16) (13) COMP Job belied [5 COMP Mary seid [5 COMP Tom saw whsoracone]|*“* (16) COMP John believed [5 the claim [5 COMP Tom sav wbsoxzeoae|}* Partindo de (15), podemos derivar a sentenca (10), aqui repetida como (15'), tepetindo 2 apticacao da regra ciclica de movimento de wh, obser vvando 0 principio de subjacéacia: (15°) who did Ju believe that Mary sid that Tom saw? No entanto, a partir de (16), ndo podemos derivar de modo analogo (16°) (16°) whe dd Jon bev the ai that Tom san? ** “G) COMP John descobria [s COMP Bill tena vito quem} (14) “COMP Join descobrin [sy eet de quera}"” *2°(15'} “COMP John aceditou [g COMP Mary diste [COMP Tom six wh — alguém}] (16) “COMP Joh acreditou [gp 4 afirroasio [g COMP Tom viu wh — aiguém)]” "1 +(467) “quem Jot acceditou oa afirmasfo de que Tom wis?” ” Bssas sentencas tm uma estrutura andlogs, diferenciando-se apenas pe Jo fato de que (15) tem uma sentenga com um COMP enquanto (16) tem tum SN sem COMP. Como sabemos, © movimento de wh move uma pala ra wh para @ posicio do COMP, de modo que (15°) pode ser derivada ppasso por passo exatamente como (9) o foi (ct. (9°), (9°"))- Porém, & impos sivel derivar (16°) cicKicamente, de modo paralelo, pois ndo ha nenhuma posigdo de COMP para receber a palavra wh na estrutura intermediaria SN. ‘Alem disso, pelo principio de subjacéncia, (16°) ndo pode ser derivada dire- tamente de (16). Porumio, ela nfo pode de modo algum ser derivada. Nao hha nenhuma sensencatgramatical correspondente ac indicador sintagrnatico inicial (16)"4, conquanto possamos derivar de uma estrutura como (15) trés estruturas. superficiais bem formadas, a depender da escolha dos itens Texicais Evidentemente, ndo ha aenhum problema semintico no caso de (16") Se a sentenca fosse siniaticamemte bem focznads, teria um significado definido endo ambiguo, € ado ha escolha possivel de itens lexicais que nela possam caber, como houve no caso de (931124 O principio de subjacencia, junto com outras suposigdes consideradas ao argumente precedente, di ex- plicacéo para a ageamaticalidade Ge (16"). Por sua vez, exemplos como (167) fornecem um suporte empirico ao principio de subjacencia No primeiro capitulo, afirmei que o principio de dependéncia estrutural deveria fazer parte da gramétice universal, pois & usado corretamente nos ‘casos ali ilustrados, mesmo na auséncia de experiéncia relevante, Isso tam- him 6 verdade para esse caso que acabamos de discucr. E dificil imaginar que todo faiante de inglés, que seja capaz de fazer as discriminagées em que se baseit 0 nosso argument, tenha tido instrucdo especifice, ou mesmo provas relevantes, para estabelecer o fato. Suposico bem mais razoavel seri a de que os principias gerais que excluem (16') (entre outros, o princi- pio de subjacencia, se estiver correto o argumento que acabamos de exper) sejam simplesmente inatos 4 faculdade da linguayem, como parte do esquematismo que determina gramitices admissiveis e as formas pelas quais se aplicarn suas regras, determinando assim a classe das linguas acessiveis 205 humanes pela aplicagao da faculdade da lingaager, Contra essa conclusio, dois argumentes podem ser aduzidas (¢ freqen emente tém sido, emt casos compartveis a esse). Primeiro, nao termes conhecimento de nenhuri mecanismo genético adequado para dar conta das estruturas inatas postuladas. Segundo, ¢ inapropriado (ou talver. incorter em ‘‘eirculo vicioso"?} atribuir tal complexidade & mente como ume propriedade inata. Quanto ao primeiro argumento, ele € corteto, mas itrele vante. Os mecanismos genéticos sto desconhecidos, tanto. quanto os mecanismes responsiveis por qualquer aprendizado, ou quanto os mecanismes de desenvolvimento dos orgies fisicos. O argumento aqui ” apresentado & um argumento de psicologia tebrica, Estudando 0 uso e enten- dimento da linguagem, chegamos a certas conclusdes sobre a estratura ccognitiva (gramazica) que esta sendo posta em uso, criando assim um certo problema para o neurologists, cuja tarefa é descobrir os mecanismos envol vidos na competéncia e no desempenho Hinglisticas. Notande que 0s mecanismos parecem funciomar sem © concurso de experiencia relevante € ‘de modo quase uniforme em individuos com experiéncias muio diversas, ramos a conclusio natural de que tais mecanismes ndo sao aprendidos, mas fazem parte do sistema que torna possivel a aprendizagem, Fal conclusie ria uma nova tarefa para @ biologia humana, qual seja, ade tentar desco- brir ox mecanismos genéticos que asseguram que o rgio mental, linguagem, tenba o catiter que Ihe atribimos. Nada mais se tem a dizer a esse respeito, segundo argumento tem ainda menor peso. E uma afirmacdo dogen tica, e nao particularmente plausivel, & de que as principios em questo tenham sido elaborades depos de aiguns anos de experiencia, endo de deze has de milhares de anos de evolucio, oa talvez pela opetacdo ¢e leis fisicas ainda igaoradas, Nao se incorre em cireulo vicioso quando se chega & natu- ral conclusto de que a mente € comparavel em complexidade a orgies fisi- cos do corpo que nao estio diretamente envolvides em fungdes mentais mais altas. O argumento meramente reitera 0 preconceito empirista, Nao & mais interessante do que a exigencia de que o homem deva ter uma alma imoral. ‘Voltando novamente 4 discussde técnica, penso que © principio de sub- jacéncia esteja razoavelmente bem motivado, @ que pode, portant, ser pro- posto como. um principio da gramadtica universal, 20 lado de outras hipoteses que temas estado consideranco, sujeitas a uma investigacdo adi- ional. Aplicando este principio ¢ outros de generalidade comparivel, pode- mos explicar um bom numero de fendmenos notados por Ross no estudo muito esclarecedor que fez das “‘ilhas anaforicas” (islind constraints)? oss sugeriu em seu trabalho que as regras de movimento para a cireita so “'Timitadas" — em nossos termos, restritas pelo principio de subjacén- Gia —. enquanto as tegras de movimento pata a esquerda nio precisa sé lo. Assim, ay regras de movimento para a esquerda dividem-se em duas categorias, 2 das sujeitas @ subjacéncia e a das nao limitadas. A distingac persistiu em trabalhos subseqiientes,com regras tais como a de movimento- wh dadas como exemplo de nac-limitacio, mas nao de anteposicio de SN, que vem sendo vista como limitada ¢ ciclica. Na presente analise, movimento-wh tambem & uma regra limitada e ciclica. A aparente assime- tria entre regras de movimento para a esquerda e regras de movimento para a direita reduz-se a uma assimetria, independentemente da direcao do movi- ‘mento, quanto d posigto do complementizador. Variay restrigées interessan- 7% tes sobre regras ficam de fora como casos especiais, Se todos os exempios de regras supostamente aio limitadas forem sujeitos a uma anilise semelhance, entdo poderemos melhorar consideravelmente a teoria geral das transforma ‘g0es, eliminando a categoria de regras ndo limitadas, Embora nao tenham sido resclvidos todos os problemas que aparecem quando se procura levar a ‘cabo essa abordagem, minha impressio pessoal é de que ela & provavelmen- te comreta. ‘Além das tegras governadas por subjacéncia ¢ das regras néo limitadas, tem-se geralmente assumide cue ti regras governadas por uma “resitigio por solidariedade entre sentencas”” (‘‘clause-mate constraints’’) que impede © relacionamento entre um item da sentenga encaixada e algo fora dessa sentenca. Em termos da formula abstzata (4), equi modifcada para (4°) para evitar a discussio sobre subjacéncia, uma regra governada pela restrigio por solidariedade nio pode, por exemple, mover um item da posigdo X” para a posicio ¥, ou conversamente, nic pode modlficar um item na posigio X ‘em virtude de sua relago com um item na posigio Y, se B=S 8 feeYo [Bo LMFT Yo] Tenho argumentado, em outras oportunidades, que nao ha evidénia de tal restrigao. Os exemplos que tém sido usados para motivé-la explicam-se por principios gerais independentemente motivados.2° Se isso estiver correto, entéo hé apenas uma categoria de regras transformacionais: todas essas regras sio governadas pelo principio de subjacéncia. Uma questao in- teressame € a de saber se (ou eté que ponto) as regras de interpretacio semantica tambem so governadas por esse ou por um principio similar.?” Em ver de prosseguir nesse ponto, vamos volar aos exemplos (9"°) € (11D, aqui repetidos: (9) the patie think whe the FI discovered thet Bil shot 11) the police know who the FBI discovered hat Bil shoe Podemos supor que @ palavra wh numa pergussta (iret ow indireta) & uum tipo de quantifcadot. Desse modo, pode-se tomar como @ “forma lgica”* de (9°) e (21), (17) e (18), respectivamente: (27) the palice shin for which person x, the PBL discovered tut Bill shor" (G8) ce pole kgs for which perc x the FBI discovered that Bill shor Nessas formas logicas. ht uma varidvel x e um quantificador, “for which x", ligandoa. Vamos supor que identifiquemos a variavel x com o polka pensa de qual pessia xo FBT desea que Bill matou tros2"* “a polica sabe deal pessca x FBI descr que Bll matou a tros2”" 7 vestigio v deixado pela regra de movimento, Lembremos que a estritura ‘superficial de (11), na presente tcoria, é algo como (19) (19) [the polce know [5 who the FBI discovered [gta Bl shore] Para converter (19) em sua forma Tigica, tudo o que se necessite & a in formacio de que ‘“who"” € us quantificador que liga Ve significa *‘de qual pessoa V.28 Com modificades apenas notacionais na teoria das transforma- .gdes podemos assegurar que o item “‘who"” se identifica na estrutura super ficial como o item que liga V. Com um principio ulterior que interpreta “ewho™” como ‘de qual pessoa x"”, derivames 2 forma logica (18) da estram- 1a superficial (29). Aiinda no decidimos a questio da base da distincdo de gramaticalidede entre (9°) e (11). E uma diferenga sintatica ou semintica? E determinada ao nivel da estrutura de base ou de estrutura de superticie? Uma possibili dade € que as perguntas, diretas ou indiretas, tenham um complemen- tizador distinto daquele que aparece com estroturas declarativas, € que os verbos sejam marcados no Iéxico quanto 0 poderem ou nao poderem ocor rer com complementos sentenciais que contenham esse complementizador. A interpretagao semantica envolveré a posigtio desse complementizador relativamente & de outros itens na estrutura superficial. Elaborei uma ver sto dessa andlise mum outro trabalho, mastrando como algons exemplos uum, tanto complexos podem ser tratados partindo desse ponto de vista, de uma forma que parece bem natural, (Ver Chomsky, 1973 a, para alguma discussio.) Essa proposta ainda deixa em aberto o status da distingao: sintitica ow seméntica? Nao estou convencido de que 4 questac fuga muito sentide, ou de que exista algum critério razoavelmente clato para decidi-la. Vamos supor que alguém afirme ter um tipo de “‘intuigdo gramatical"” muito refi nada que Ihe diga se o desvio de (9) & *'sintitica”” ou "semantico. Tal pessoa, entio, teria uma sesposta para a questo aqui deixada em aberto, Pessoalmente, nao tenho tais intuigdes. Sou capaz de julgar que algumas sentengus silo boas € outras desviantes (por exemplo, (11) e (9""), respect vvamente), mas nfo tenho cutras intuigdes que me esclaregam em casos, como estes, quanto a base desses julgamtentos. Sou, portanto, cético quanto 2 possibilidade de outros terem tais intuigdes. Suspeito que eles esteiam aderindo a certas explicagées tradicionais, que podem ser corretas on no. (Ver Chomsky, 1965, cap. 4) Permanece, ew acho, questao aberta ¢ talvez interessante, a de estabelecer criterias mais definides que ajudem « tornar ais precisa a pergunta “‘sintético on semantico?"” em cases como estes. ‘Aiinda que essas questoes se resolvam, temos efetivamente um modo simples de derivar a ‘forma logica’” das sentencas em questao a partir de 18 estruturas superficiais em que o vestigio aparece. Vamos agora estipular ex- plicitarente o que estivemos tacitamente assuminds: quando uma trans- formaco move um sintagma S da posicuo X para a posicio Y, deixa na posiclo X um vestigio limitado por S. Como veremos diretamente, esta "teoria do vestigio das regras do movimento’’ tem justificacdo considerave} sob varios pontos de vista independentes. Note-se que o que estamos desenvolvendo € uma teoria de interpretacao semantica de estruturas superficiais. A posi¢ao do "‘quantificador’” relativa ‘mente aos verbos na estrutura superficial determina se a sentenga tem. um significado e o que é esse significado. Mas ai surge um problema, pois, para entender as sentencas que estivemos discutinds, devemos seguramente saber cambém. a posicio, no indicador sintagmatico inicial, do sintagma que foi movido, Assim, vamos considerar novamente (6), derivada de (6") pela antepasicao de SN. (6) John seems [gto be 2 vice fellow] (6) ¥ seems [s Joba so be a nice fellow] Para entender a sentenca (6), precisamus saber que ** John" € o sujeito da sentenga encaixada. O indicador sintagmatico inicial da essa informagio, ‘mas a estrutura superficial (parece que) nao da. Isso também se verifica nos outros exemplos que estivemas discutindo. Em verdade, foram precisamen: te essis consideragdes que motivaram 0 principio da teoria standard de que as estruturas proftindas (nossos “*indicadores sintagmasicos iniciais""} deter- minamn a interpretagao semantica. Notese, entretanto, que na teoria do vestigio para as regras de movimento tal motivacdo desaparece. A posi¢io do vestigio ligado na estru: tura superficial nos permite determinas a relacao gramatical de **John”* em (6) como sujeite da sentenga encaixada. Do mesmo modo, nos outfos cases. Segue-se, entdo, que exempios como esses no influem numa escolha entre a teoria standard e a teoria de que a inierpretagio é determinada pela estru- ‘tara superficial se a esta incorporames a teoria do vestigio para regras de movimento. Temos, no entanto, rizies para supor que a estrumars superfici cefetivamente desempenha um papel nz interpretagao semantica; no caso de sentengas como (9}(11), por exemplo, = posigto do quantificador ““who”’ ‘na esttutura superficial € relevante para a sua interpretacao. Ha bastante evidencia, além dessa, em favor da idéia de qiie ht informagdes ia estrutura superficial que contribuem para « detersninacio da significagto. Assim, pa rece razcivel postular que sio apenas as estrnturas superticiais que estilo sujeitas a interpretacio semnantica, embora nossas ‘“estruturas superticias” no mais sejam idénticas aguelas da teoria standard, em virtuce da teoria do vestigio para regras de movimento. 79 A isso me vem objesdes & mente; voltarei a slgumas delas daqui a pouco, Vamos deixé-las de lado, no momento, ¢ continuar a explorar a pos: sibitidade de, com a tcoria do vestigio para regras de movimento, unificar a teoria da interpretacdo semantica, restringindo-a a estraturas superticiais. ‘A motivacao original da teoria do vestigio foi em parce 0 fato de que ela facititaria a interpretagio semantica na linha que estamas indicando, Mas hhavia também consideragoes independentes que levavam a mesma teoria. (C4. Chomsky, 1973a.) Antes de voltar estas, vamos considerar outras aplicagdes da teoria do vestigio na interpretacio seméntica Considerem-se pares ativa-passiva tais como (20}{21) (20) beavees build dams" (21) acne are built by beavers” * Ha varios problemas na anilise da construgio passiva, mas todas 2s abordagens dentro do esquema da geamatica transformacional ste cuncordes fem admitir gue um dos componentes da passiva é uma regia que move sintagma nominal “‘dams"™ de sua pasigdo subjacente como abjeto, como fem (20), para a posigiio de sujcito, onde aparece em ¢21), Dai, pela teoria do vestigio, a estrutura superficial de (21) seria algo como (22): (22) éamms are [gn built» by beavers] E evidente que as sentengas (20) e (21) diferem quanto ao significado. A sentenca (21), em sua interpretcdo mais natural, alirm que ser construt das por castores ¢ uma propriedade das represas. Sob essa interpretaglo, « sentenga € falsa, pois ha represas que nfo sio construidas por castores. In- versamente, nfo se pode interpretar a sentenga (20), pelo menos com uma entoagio normal, de forma a entendé-la como a asser¢do de que as represas, tém @ propriedade de ser construidas por castores; (20) nao pode ser enten: dida como se referindo a todas as represas. A sentenca (20) afirmra que 05 castores tém uma certx propriedade, qual seja, a de serem construtares de represas, mas 140 implica (em nenkuma interpretagio) que sua atividade seja 4 responsivel pela construgio de todas as represus; de fato, (20) podria ser verdadeira mesmo se os castares nunca tivessem. manilestado essa carac- reristica de sua esplcie, isto 6, se todos os castores estivessem nos jardins zehbgicos. ‘Vemos assim que a posigto da palavra “‘dams”* na estrutura superticial tem um pape! na determinacdo da significacto das sentencas (20) € (21). Em particular, pars entender (21), € importante saber que o sintagma nominal ‘‘dams" € o sujeito da sentenga. TIO) stores constormn sores” ++ 21) “repress sf construldss por castes” 80 meas Entretanto, para entender (21) & também importante saber que o sin tagma nomial ‘dams’ entra aa relagio gramatical de objeto direto. do verbo “build”, como se mostra no indicador sintagmético inicial, Dai precisarmos de saber que ‘‘dams"” é o sujeito de (21), em um sentido, mas 6 0 abjeto do verbo de {21}, ¢ portanto nao o sujeito, em outro sentido. A informacao necessaria é fornecida pela estrutura superficial (22), Podemos assumir que a relacio sujeito-predicado ¢ definida nas estrueures supesticiais e, messe caso, ‘*dams”” € 0 sujeito de (21). Mas a posicao do vestigio ligado por ‘dams’? serve para iadicar que ele entra noma relacio semantica apro Priada com o verbo ‘‘huild’’. Voltaremos a ciscurir esse _ponto. No momento, quero sitnplesmente observar que parece haver dois tipos de “relacio gramatical”” envalvidos na interpretagilo de sentencas como (20) € (21): um, a Felecia verho-objeto do indicador sintagmitice inicial, respon: dendo pela similaridade de significado entre essas sentencas; © outro, a relagio sujeito-predicado da estrutura superficial, respondendo pela diferenga de significado, Ambas as relacées esto apropriadamente represen: tadas na estrutura superficial Notese que nesses exemplas parece estar envolvida uma cuestio de quantificas2o. Ja observamas que em alguss casos ha im tipo no conven ional de quantificagio que € determinado pela estrutura superficial. Ha considerivel evidencia de que isso & verdadeizo para um dominio maior de fates, inclusive 0 do escopo das particulas logicas ¢ outros aspectos do que podemos chamar de ‘forma légica’” 29 Consideremos agora algumas relagdes entre a regra de movimentows € a interpretagio des pronomes notada originalmente por Paul Postal (1971), ‘Adapio aqui uma reanilise desse material e dé outro com ele relacionado, de Thomes Wasow (4 suit). Comparem-se as sentecas (23) ¢ (24) : (23) bo said Mary kissed im? (28) wo cide say Mary Kiss No caso da sentenga {23}, podlemos entender que o pronome (“him”) se refere & pessoa cujo nome responde 4 pergunta “*who?"*. Mas no caso de (24) essa imerpretagio @ inapropriada. Em termos no muito claros, pode-se dizer que hi ume relagio de andfora ou co-referéncia entre as ex: pressdes em itilico de (23) mas ndo entre as de (24), embora (24) tenha luma estrotura em que € possivel haver andifora: veja-se, por exemplo, a sen- teaga (25), que é andloga a (24) em termos de estruture categorial, conquanto © proniome ‘*he"” possa ser entendido como zeferiado-se a John: ‘quem dise que Mary o bijou?” quem ele disse que Mary beijou” a (25) Job said be thought Mary Tee* Qual a explicacto desse fato curioso? Introcuzindo 6 vestigio nas estruturas superficiais de (23) ¢ (24), obte ‘mos (23°) ¢ (24”) respectivanente correspondentes* (23) who [S red ¥ said Macy kissed him) 24°) whe [5 ced he said Mary Kissed Y] Em ambos es casos, a regra de movimento de wb fez. ascender a palavra, wh “who” para a posigao do complementizador, deixando 0 vestigio na pasico em que estava a palavra wi no indicador sintaymético inicial Aplicando © método de interpretagao semantica, ja esbocadlo, tems. as “formas logicas’” (23"*) € (24°): (237) for which pemum x, x said) Mary kissed hiro? (24° for which person x, he said Mary kissed x? ‘A variavel ligada x funciona mais-ou menos como nome proprio. ‘Assim, esperariamas que (23°) e (24”) tivessem interpretacdes andloges (26) e (27), cespectivamente: (26) Job suid Mary kissed ham = (27 be said Mary kissed Jobr"** Na sentenga (26), © pronome pode se referit a John, mas em (27) nio pode. Novamente © principio relevante envolwe estratura superficial. (Cr. Wasow, 1972, a sair; Lasnik, 1974.) Podemos assumi-lo sem mais discussio, aqui. Aplicando o principio que governa (26) ¢ (27) aos exemplos anitogos (23°) € (24"), vemos que em (23””) © pronome “him” nao pode estar numa celagio anaférica com a varidve! ligada x (como em (26}}, enquanto em (24") 0 pronome "he" nie pode estar numa relacio anaférica com x (como em {27)). Sendo assim, podemos entender (23"") como uma expres- So que tem essencialmente o sigaificado cepresentado em (28): (28) or whic petson sd Mary kissed «?** No caso de (24°"}, no € possivel essa interpretagao, 0 mesmo se dando com a construsdo (27), ansloga. O pronome “he” deve, portanto, set en- +25)" fob disse que efe pensou gue Maria tisha saldo™ +°(26)" "Joa disse que Mary bij” (27) "le diste que Mary beiou Joh *77"€2a) de qual pessoa x. x dise q e Maty beijos x?” 82 tendide como referéncia a algném cuja identidade ¢ fixada em outro ponto do discurso ou contexto de enunciagao. Fica, pois, explicada a distingZo entre (23) ¢ (24), mediante mecani mes j4 conhecidos e o concurs da tworia do vestigio e dos principios de in- respretacio semantica da estrutura superficial sugeridos anteriormente. Sem comtar que agora podemos dispessar nodes. como “‘co reterencia entre Le who" ow “reiaches anafiricas"” entre esses termos-nogdes sem sentido, estritamente falando. pois “"who"’ nao & uma expressio referencial, mas sim uma espécie de quantificador nesses casos, no podendo, portanto, en trar em telacoes de anafora: preciso acrescentar certas qualificagdes para estender essa abordagem a uma classe maior de casos e, mesmo assim, como nos casos discutidas an- tes, ficam certos problemas por resolver. Acho, porém, que apreendemas & esséncia da questic. Prosseguindo essa abordagem, desenvolveremos: a teoria da unifora de modo a se aplicar a ‘formas logicas”” derivadas da estrutura superticial, fazendo essencialmente uso do vestigio como andlogo a.uma varidvel ligada.2! ‘Voltemos ayora a algumas linhas de argumentagdo independentes que conduzem tambem 4 teoria do vestigio para regras de movimento, Con- sideremse as sentengas (29}(32) : (29) it seems to us that ill kes each ether (G0) we expected Bil ro like each atner G1) we were shoxted by Bill's hatced ofeach other (G2) Tom seems 0 us (Bee each acher™ Nenhurna dessas sentencas & gramatical, HA neias algo que tem a ver com violacées de condicio de subjactncia, como (1.67). Isto & as sentengas ‘nao sdo sem sentido. Nao ha razdo semantica por que elas nto tenham os mesmos significados que (29°}(32"), respectivamente, assim como (33) € (337), que sto quase sin6nimas: (29°) it sems co each of ws that Bil Bes the other) {G07 cach ef us expected Bilt ike dhe others) (GY) exch of us was shocked by B's hatred of otbexs)** (29) parece nos que Bill gosea urs dy outrs”* 150) “esqusivamor que BAL gowasse am do out (31) “tices chocedos como dio de Bil eum pela outro (32) “Tom aos parece gostae um de utra"™ +-(29°) pareve s cada um cle nex que Bil gosta dos) ouer) (Buh) **ceda vende nds esperava gue Pil estas dos our 05)” (31°)-feada um de ats ficou choezdo com o exe de Bil pels) omens 83 (32°) Toa seums co each of us to like the other(s) (33) we seem ta lke each other (33°) cach of us Seems to ike the oxhers)* Bm goral, as estnuturas each of us .. the otber(s, we each ... the cubes, we ech ether ean sgaifcades muito semelantes, 240 iden ticos, Por isso, ndo ha justificetiva para descarae as sentencas (29}(32) alegando nao terem sentido. Hees 10D Hsses © muitos outros exemplos ilustram a “‘condiczo de sujeito especi ficado”, que & uma outra condigzo geral de aplicacio de repras. A condi- séo, que nao tentarei formular precisamente aqui32, implica que menhuma segra pode ligar X © Y numa estrutura como (34), em que o & uma categoria ciclica subjacente a X e Z & 0 sujeito: 69x [gZ Pd Considere-se agora a regra reciproca que relaciona o sintagma ‘each other’? ao sintagma nomtinal seu antecedente; pocemos deixar de lado a in teressante questo de haver ou ndo haver uma regra que move “‘each"* do sintagma nominal antecedente pare formar o sintayrna “each other”, além a regra interpretativa que zelaciona o antecedente e o sintagma reciproco. Tomando X' de (34) como “‘we" (ou us"), Z como “Bill”, e ¥ como “cach other", a regra de reciprocidade € bloqueada em (29) ¢ (30) ¢com « spre em (31) (com «= SN}, em virtnde da condicao do sujeito cado, Ainda inexplicado, porém, esté 0 exemple (32). Aqui, no hi sujeito ‘encaixade Z, como nos outros trés casos. Nao ha sintagma correspondente ao sintagma nominal sujeito “Bil de (29}{31). Esse siltime comentario deve set qualificaco. Nao ha sintagma nominal sujeito fisicamente presente ra posigie correspondente a de “Bill” em (29}(31), isto é antes de “to like each other"’. Mas hi um sintagma nominal sujeito ‘‘mentalmente Presente’” nessa posigio, qual seja ‘“Tom”*, que entendemos ser © sujeito de ““like"”, da mesma forma que ‘Bill (fisicamente presente) é o sujeito de ‘“like'” em (30), Evidentemente, 40 interpretar essas sentengas nio estamos preocupades com a posigio fisica do sujeito nas sentengas, mas com @ sua “‘posicdo memral”’, isto ¢, suz posicdo nas estruturas abstratas que estamos. postulando na subparte da psicologia tedrica {chamada “‘lin- “32°) "Tom parere a cada wn de 96s gosta def) utes" (33) “parecemos gestar um do outro" (39) cada um dens pareve gastar de) ontraty"™ 84 aeaicy Bistica"") que estamos desenvolvendo. Nosse teoria deve dar conta do fato de que uma pessoa que saiba ingles opera apropriadamente com estruturas mentais abstratas, qualquer que seja a forma fisica da sentenga, E, mum nivel mais profundo, nossa teoria geral deve dar conta do fato de que © falante vem a saber que sdo as estruturas abstratas, mais que as fisicas, as relevantes para interpretar (29)(32). [Note-se mais uma vez que, como no caso do principio de dependéncia estrutural, @ dificil acreditar que a pessoa que esta clesenvolvendo um ‘conhecimento de ingles como “orgao mental’” tenha sido ensinada a user 6s principios relevantes. As pessoas no sdo treinadas ou condicionadas a tratar (32) “por analogia’* com (29)31). Ac invés disso, elas simplesmente sabem que tém de proceder de uma certa forms, quase sem treino ou mesmo apresentacao de experiéncias relevantes que possam determinar essa conclusio. Nossa psicologia tedrica tem que explicar esses fatos, Recordemes que (32) @ derivada de uma estrutura absirata (35) pela regra de anteposicao de SN, tal como (6) se formeu de (6"): (39) Y seems co us [5 Tom oo like each othet}* A estrutura superficial correspondente a (32), na teoria do vestigio, € portanto, (36): (36) Torn seeens cous [5 #10 like each other)" Dessa forma, na teoria do vestigio ha um sujeito Z na sentenga en: ccaixads na estrutura supertcial, exatamente na posi¢ao preenchida por Bill nas categorias ciclicas encaixadas de (29}(31), Assuminds, como antes, que a condicio do sujeito especificado aplica-se a estruturas superficzis, deverminando a relacdo do sintagma especifico “each other"” com o seu an tecedente, temos uma explicago pant o status nao gramatical de (32). A saber, a condicio de sujeito especificado faz. dela uma seqiiéncia nto gramatical, exatamente como no caso de (29}(313. Um falante que esta formando e interpretando sentencas pelos meios postulados (especificamen te, fazendo uso da condiga0 do sujeito especificade ¢ da teoria do vestigio) vai perceber (32) como andloga, em seus aspectos relevantes, a (29)-(31), Se, além disso, a condigio do sujeito especificado ¢ a teoria do vestigio fizerem parte da gramatice universal, forem parte do esquematismo biolo~ gicamente necessirio que determina a *‘esséncia da linguagem humana”, 0 'Y parece-nos [x Tom gostar um do oucto]" =*(36) “Tor parece-nos(, # gowar wim do ou] 8 falante sabera tudo isso sem insirugio ou mesmo evicencia relevante, como parece ser 0 caso. Portanto, temos uma motivagdo inteiramente independente para a teoria do vestigio. Resurnindo essas observag3es, parece que wmes a seguinte estrutura para a gramitica. As regras do componente categorial e a léxico Jornecem indicadores sintagmaticos iniciais. Destes, aplicando transiormacées, derivamos estruturas superficiais (incluinde vestipios), que sto submetidas & interpretagdo seméntica. As regras de interpretagao semantica atribuem 0 escopo de operadores légicos (“not’”, “each”, “‘who"’, ete.) e fixam seu significado, atribuem antecedentes a expresstes anaféticas como as de reciprocidade (“each other") e necessariamente limitam anaforas [como no caso de “his!” (sua’’) em "John lost his way” (“John perdeu sua diregio™), onde “‘his"” deve seletirse a'John, diferentemente da andfora nao limitada “‘his'* em “‘John found his book’® ("‘John schou seu I vro""), onde “‘his'” pode se referir a qualquer individue, masculino, in- cluindo John] 55. Ao resultado da aplicasito dessas regras’ podemos dar 0 nome de **forma logica”” Seria razoavel dizer que a teoria da gramatica — on mais peecisamente, da “‘gramatica da sentenge"” — termina neste ponto. As condigées da ramitica até aqui discutidas — a condigio do sujeito especificada, sub- jacéncia, etc. — aplicamse as da gramdtica da sentenga. A gramética dh sentenga envolve regras como anteposigio de SN, movimento de wh, atribuigdo de escopo, attibuigto de amvecedentes a andforas limicadas, ¢ também regras que determinam relacées tematicas e outros aspectos da estrutura semantica que podem ser adequadamente atribuidos a0 sistema abstrato da lingua, dependendo de como se tesponda as questdes levantadas 0 capitulo precedente, ‘© que estivemos chamando de ‘‘gramatica”” na discussdo precedente & na verdade, gramatica sentencial, nesse sentido. Dadas as formas logicas ‘etadas pela gramatica sentencial, novas regras podem se aplicar, Pronomes sem atribuigdo de antecedente podem ser tomados como referindo-se a enti dades designadas em outras partes da sentenca, embora isso nunca seja necessério ¢ nem seja permitido sob certas condigdes, como, por exemplo, em (27)", Tais repras posteriores de determinacdo de referéncia também podem envolver propriedades do discurso, de algum modo; elas ainda in teragem com consideractes relativas & situacio, & intencio comunicativa ¢ guejandos. Do mesmo modo, ainda que ao reciproco “each other”? em (29}31) deva ser atribuido um antecedente por uma regra da gramatica sentenciul, 0 sintagma correspondente the others" em (29'}(31°} no precisa de ser tomado como referente a membros de uma classe desiynada Gsto é, por “each of us") em outzo ponto na mesma sentenga. Conforme j& 86 apontamos, as regras da gramatica sentencial obedecem a condigées diversas das que se aplicam depois. Por exemplo: as primeiras sao governadas pela condigdo do sujeito especificado; as segundas ndo o sdo (wer também nota 27), Outeas repras sernanticas se aplicam, interagindo com repras perten- centes 2 ontras estruturas cognitivas, para formar representagées mais com: pletas do “‘significado’” (num determinado sentido). ‘Esquematicamente, esse me patece um quacro razoivel da natureza sral da gramatica e do seu lugar no sistema das estruturas cognitivas. fecapitulando sob forma de diagrama, podemos ter um sistema aproxima- damenie com a estrutura que se segue: (37) Gramatica seonenciat » Bg 151T_y rs BSA {EZ FL > “signified essa forma, as regras da base (B}, incluindo a5 regras do comporen- te categorial e o léxico, formam indicadores sintagméticos iniciais (ISI. As reyras do componeme transformacional (T) convertem-nos em. estruturas superficiais (ES), que, por sua vez, so convertidas em formas légicas (FL) por certas regras de interpretacio semantica (RS-1, ou sea, as reyras que ‘envolvem anafors limitada, escopo, relagdes temiticas, etc). Isso constitu ‘em sua maior parte a gramitica sentencial, certas condigies gerais de regras patecem aplicar-se em odo esse sistema. As formas logicas assim geradas sfo sujeitas a nova interpretacdo por outras regras semanticas (RS-2) intera- gindo com outras estrutoras cognitivas, dando representagdes mais com- pletas do significado, Exemplos do tipo dos aqui discutides oferecem apoio empirico para a tcoria do vestigio com respeita ao funcionamento das regras. gramaticais, sintaticas ¢ semAnticas. Ha uma ontra linha de argumentario independente, de um tipo mais abstrata, Consideremos 0 efeito da regra de anteposicao de SN nos indicadores sintagmaticos. No caso de exemplos como {6} e (36), essa regra coma o sujeito de uma semtenga encainada ¢ 0 faz ascender & posigao de sujcito de uma ‘‘oragdo subordinada mais alta’’. O efeito, entio, & tal como ilustraco em (38) : 9) ¥ fy SN] SN LS 9 od Em contraposigio, nfo ha tegras que “‘rebaixem’? um sintagma nomi- nal para a posigdo de sujcito (ou, segundo creio, para qualquer posigae) na sentenca encaixada. Esta assimetria, posiamos estipular que € ume nova condigio para as transiormacoes. a7 Voltemos agora a construcdo passiva e, em particular, @ regra que move 0 sintagma ominal que segue o verbo para a posigdo de sujcito, 2 fim de dar formas tais como (22) (22) dams are (gy Bulle» by beav-1s} Ela também € uma regra de antecipagdo de SN. De fato, embora isso seja discutivel, penso que € a mesma que 2 anteposicao de SN de sujeito- para-sujeito, que vinos em (38). O efeito da anteposicio de SN, n0 caso de (22) ¢ de moitas outras passivas, & como o que se indica em (39} (39) ¥ [oy V SN] —__y SN (gyVoI* ‘Outra ver. temos assimetria, Ha regras que fazem ascender chjetos para 4 posigic de sujeito, mas nenhuma regra, parece, move sujeitos para a pesigae de objeto. De novo pademos estipular esta assimetria como mais uma condigao paca as regras. E claro que existe algo semelhamte entre essas duas assimetrias en volvendo a regra de antepesigio de SN. Como podemos apreendé lo? Podia ‘mos estipular que hid uma hierarquia de posigdes, com os sujeitos tendo Precedéncia sobre os objetos* © os sujeitos de oragées subordinadas mais altas tendo precedéncia sobre os sujeitos das oragdes subordinadas encai- xadas, S6 @ permitido que as regras movam elementos para posicdes que tenham precedencia na hierarquia, Isso, porém, nao & um progresso real, E apenas uma convengao notacionai, e podemos perguntar-nos por que estabelecemos esta hierarquia, ao invés de outra qualquer, por exemplo, uma outta em que os sujeitos precedem objetos e nig ha nenhuma telasao (nem a relacio conversa) entre elementos que nic esto na mesma ‘etagio subordinada. Nao ha conexdo légica entre os. principios ilustrados em (38) ¢ (39) que determine a estrutura da hierarquia, Uma abordkigem consideravelmente melhor petmitiria explorar 0 fato de que em ambos os casos as regras permitidas sto regras de ““ascensio"* que movem um sintagma nominal mais para perto da ‘rac da sentence", quer dizer, para uma posicao menos encaixada; as regras ndo permitidas so as de “‘zebaixamento'', que aumentam o yrau de “‘encaixamento™’ do sis- tagma nominal. Podiamos estipular, emtio, que as regras de ascensio sa0 permitidas, mas nto as de rebaixamento, Assish os dois principias se furtdem, rum sé, Isso @ um avango, mas ha dois problemas. Primeiro, ha contra exem- plos propesta, tal como esti. Segundo, podiamos ainda tentar encontrar ume explicacdo para o principio de ascensio, na medida em que for verda- (22) “represas so [gy consevidas » pot casrores}" 88 ean deiro. Isto é, podiames esperar dar conta dele em termos de algum principio independent. wa ilustrar que é falsa a conjectusa sobre a ascensto consideremse as sentencas (40}(42): (10) there i 2 hook cn the table [d2) che ety ws destsoged by the enerny . (42) the candidates have cach indicated thelr willingness to debate Fxistem andlises conhecidas — nfo exclusivas, mas pelo menos bem plausiveis — que postulam que nesses casos aplique-se uma regra de rebai- xamento, No caso de (40), podemos argumentar que sua origem é (43) € que uma regra tcansformacional forma (43°), que por sua vez. torna-se (40) através de uma regra de insergao do there, que apaga (substitu) 0 vestigic: (43) « book [sy #s om the cabled (43°) [gy 183 Book on the table} No caso de (41), podemas assumir a derivacao (44): £38) 6 the enemy Ey deste be cs] Crear snag ins) Aah foe escape the ay by te even] {oa tsrhe de SN ip Dee |g was destroyed # by he enemy) {ow anepngao des) Omitinos aqui umas questies interessantes sobre o status do sintagma introduzido por dy, que € agente, do ausiliar e da flexao verbal; ver pagina 94 ¢ nora 46. A regra de anteposicio de SN apaga o vestigio deixado pela osposigio de SN. Por entengu (42) pode ser formada por uma cegrt de movimento de each na estrutura (45%: (4) the candidates exch {5y have i: Essas todas sio anilises plausiveis. Em cada caso, esté se aplicando uma repea de rebaixamento. "Gy a an ar ee aes (11) a edad ox destuida pelo ining (22) “tach am do ah eet vont oh **(43) "uum lisa (gy esd sobre 2 mesa]! (45°) “IgV esté um liven sobre a mesa 44) (9 "o inimige [sy destutu a cidade] (i) fg deserulu a edade pelo int . (i) "a cidade [gy foi desuuida pelo intmigo} . +7 (45) “cad um dos candidates [sy manifestou sua vootade de debater] ated their wihingness to debate] Robert Fiengo cbservou que a teoria do vestigio para regras. de movimento nos permite formular as conjecturas a respelto das assimetrias (38) e (39) de modo a evitar os contru-exemples e ao mesmo tempo reduzir a conjectura # ust principio independente, superando assim ambos os problemas que aparecem’7. Consideremos cutra vez regra de anteposigao de SN como em (38) e (39), que & permitida, ea regra ude permitida de rebaixamento de SN que inverte a diregfo das setas em (38) e (39). A regra permitide proc as estraturas (46), e a reara nilo permitida as estruturas (47) (646) (1) SN I 7) (ldo deta de (38)) (SNe Vel (lado dizeita de (39) DP [SSN -o) (ive foe V 8N] Tomando, come antes, v como uma variavel limitada por SN como an: tecedente, note'se que os Cas0s permitidos sto exemplos de relagbes permi: tidas entre um sintagma nominal antecedente e um elemento ‘“anaforico’” por ele controlado, enquanto que os casos ndo permitides sic exemplos de relagdes anaforicas ndo permitidas®®, Assim, os exemplos (46") sto da for ima {46} e sd0 gramaticais, enquanto os exemplos (47°) sao da forma (47) € Slo agramaticais: (4S) she camduates expected Js, each osher co win 29 i) ie onda {Sy ted eacé sary APG) each orber expected gy the candidates 0 00] Lu) each coher [sy bated se candidates” __Em casos como esses, tum antecedente deve ser “superior”, no in- dicador sintagmatico, a anifora que controla. Assumindo que a relagio en- tre sintagma nominal e vestigia ¢ andloga a relacdo entre antecedente e and- fora, 0 que é ineeiramente natural, podemes reduzir o principio de ascensao uma condigfo indepeadentemente znotivada sobre a relacdo antecedente anafora, Esse € um avango substancial, Agora temos uma explicegio para a. onvenco de sacensi, se ¢ que ets s€ mantém. Dads a tora do vestige, la se segue como conseqiiéncis de um principio independente de Tinguagem. Nessa alse 0 problema com cs exeraplos no penmtidas So tipo de (47) € que eles tém, de fato, uma variavel livre, fora do escopo de qualquer quantificedor ou sintagma nominal em sua interpretago seman- fica, € dessa forma nao slo senten;as. (46°) () Sos eamaidarasexperaram [5 wm ao outro vencer)” (ii) "ossanaidasos [gy odiavars xm wo ontro}” (47°) 6) “ume aa outro esperavam |§ 05 eandidatos vencet) {ip “ue ao ontro Igy odiavara os candidetos!” Contudo, a mesma anilise também supera a dificuidade de set o princi pio de ascensio falseado pelos contra-exemplos (40}(42). Nos casos (40) ¢ (41), © vestigio, que seria o obstéculo, foi apagado por uma regra posterior; assim, a estrutura superficial no viola o principio de antecedente-andfora. No caso de (42) nao hi nenbuma relagdo antecedente-anafora entre 0 sit tagma movido © seu vestigio; € sem sentide, nesse caso, considerar o vesti Rio ume veriével limitada, embora seja de bom alvitre fazé-lo quando o sin- tagma movido for nominal. Desse modo, podemos intenpretar (6) de acordo ‘com 6 gue indicamos antes, como tendo a forma logica (48): (6) Joba seins [#19 be a sce fellow] 48} for = John, seems [5 20 bea nce fellow] Porém no case do movimento de each, nenhisma andlise dessa forma & possivel, pois “each” ndo € uma expressdo teferencial, nem limita uma variivel como um quantificador, exceto quando associado a um sintagma nominal que da o tipo da variavel, como em ‘the candidates each’, que pode ser interpretado como “*para cada a , x um candidato’*. Mas no caso que estamos examinando, € todo 0 sintauma nominal “the candidates each’ ¢ nao a paluvra “each” que limita a varidvel, agora crucialmente distinta do vestigio deixado pela regra de movimento de each. principio de ascensio deveria ter sido enunciade na forma (49) para evitar os contra-exemplos notados: (49) As eegras de stovimento. podem fazer escender constitnntes na estrucars mas nao poser fi low descer, menos quc 4 posigfo deixsda pwr eles varia seis freeebids por uina repre pastenie, ob que'o item rebaixado ndo sje om siniap. ‘nein! Assitn formulada, « convengo contorna 05 contra-exemplos, zaas ainda & muito ad hoe park que possa realmente merecer crédito; e, além disso, fica sem explicagio ou sem anilogo significative em outro ponto da teorla Enttetanto, pela tcoria do vestigio, (49) seguese como conseqiiéncia jmediata de principios independentes da anifora. ‘Ja que o vestigio esta sendo interpretado como uma_variivel de fato, 0 principio geral que emerge desta discussio, mais uma vez, & que as estruturas Superficiais com vestigios precisam satistazer as condiges gerais para expres: ses que contémn expresses semelhantes a varidveis, tais como o sintagma ce ‘ciproco "each other’’. Nada mais precisa ser dito, pelo menos sobre esses ca 505, para distinguir as aplicagGes de regras permitidas das ndo permitidas. “(aa) “para x = John, x parece [g ser um rapaz simpético]"” 91 Essas consideragdes novamente fazer uso essencial da teoria do vesti ‘gio, ¢ assim fornecem motivagio independemte para essa teorla nurs nivel de discussio inteiramente diferente ¢ mais abstrato Principios do tipo das que estivemos discutindo so de consicerivel im- portincie, Restringem a classe das regras possiveis, ¢ também a possivel aplicagio de cegras estabelecidas. Portanto, contribuem para resolver o problema fundamental da tworia linglistica, conseqilente da ‘‘teoria éa aprendizagem”” como foi construida no primeiro capitulo, ov seja: restrin ‘i a classe dos “sistemas que se podem aprendes"” para tornar possivel ex plicar a sapidez, unifermidade © riqueza da aprendizagem denteo da capaci- chde cognitiva, O mesmo se pode dizer do argamento, j4 apresentado, de que pocemos eliminar da teoria das transformagées as nogées de ‘nie limi- tado"” “‘oracao subordinada solidiria’’. Em geral, isso também & verda- iro de todas as condigoes pare a organizacao de gramatica e plicagae das zegras que estivemos descrevendo. Todos estes so passos em diteclo 26 que vem sendo chamado de ‘‘adequacdo explicativa’™*°. De um ponto de vista, pedemos dizer com propriedade que esses principins dic explicagio para o fato de que os dados sejam dessa ou daquela forma, e assim vamos hem além das deserigdes de tais fatos nas gramiticas particulares. De outro ponto de vista, os mesmos principios servem para dar conta de um aspccto importante «la zprendizagem humana, qual seja, o da construgio de certas estraturas copnitivas que desernpenbam um papel essencial no pensamento © em sua expressao (¢, conseqiientemente, na comunicasto). Se tais principios puderem ser substanciadus © apetfeigoudos, a classe és possiveis gramaticas ficari bem zeduzida. Muitas eegras potenciais ficam auomaticamente eliminadas, Ademsis, limitands a aplicacao possivel de regras, 08 principios do tipo aqui discutido tosnam desnecessinio dispor-se nna teoria das (ranstormacdes de um aparato tao complexo quanto seri preciso ter para delimitar 2 uplicucio de seuras particulares, caso deles nko dlispuséssemos. Conseqientemente, os principios restringem a variedade de _gnicniticas redkvindo 0 “poder expressivo'” das segras gramaticais. Podemos até mesmo visar 0 ebjetivo, ainda distante mas talvez ating’- vel, de restringit de tai forma o aparato da teoria das transformacées que as regeas possam set dadas apenas na forma ““mova SN’’, com as outras con- cides para a sua aplicagao expressas ou como condigdes gerais pare repras, ou como propriedades dos. indicadores sintagmaticos iniciais, ou come propriedades clay esteutusas superticiais. Nos trés casos, vamos procurar, nataralmente, abstrair propriedades da gromética universal das. condigdes particulares para regras, indicadores sintagmaticos iniciais e estruturas super- ficiais. Como um caso a resolver, recordemas as condigées para a anafora nas cestruturas Supericiais, a que recorremos na andlise da convengio de ascens2o. Caso esse objetivo possa ser atingido, rio apenas se podera tewtar, como 92 uum iinico caso, dos varios tipes de amteposigio de SN, mas também se in- cluird nesse caso a regra de posposicdo de SN que produziu (44ii). Restri- {ges a0 “poder expressivo’” das regres, mesmo vo to dramiticas como as Sugeridas por essas especulagées, contriuiem para o duplo cbjetivo de atingic a adequagdo explicativa e der conta da aquisigao de estruturas cognitivas, isto é da aprencizagem humana. Principios tais como subjactncia, a teoria do vestigio ¢ a condigao do especificado contribnem para esse fim, juntamente com outros, entre les o principio de dependéncia estruural e as condigdes pera a onganizaso da gramitica ¢ os varios tipos de regras que podem aparecer nes diversos componentes da gramitica. Se cozretas, essas propostas so contribuicdes a gramatica universal, conscqdentemente 4 caracterizacao di fuculdade da Jinguagem que € um componente essencial da estrutara mental inata. Prosseguindo na discussie de regeas possiveis. cunsidere-se novumente a derivaginy (44), sugerida para as passivas. Derivagao analogs poderia ser proposta para as ~ passivas’” dexconstrucces ncruinais, Por exemplo, (50): (50) (i) cae enemas — destruction of the city (ase irarate ince (ig) destzaetion of the city by Owe enerny Up ranantde 8) iy the city's — destruction 2 by the enemy” Ha, entretamto, uma surpreendente diferenca entre as derivuctes (44) © 650): Ou seja, no caso da passiva da sentenia, (1%), a rogra de anteposi ‘Go de SN tem que se aplicar caso se aplique a regra de posposicto de SN. Nao existe uma sentenca como (51), coerespondende a (lil) = 51) deszoped the city by the enemy ** }4 no caso da “*passiva’’ do sintagma nominal, (50), 4 regra de pospo- site ide SN pode se aphicar sem uma aplicagio subseqiiente de anteposicao de SN, dando sentengas como (52), correspondendo a (50) + (52) the destruction of the ccy bythe eneany"* A distincio & explicavel em nossos termos, No caso de (51), um vest “(SO}H) “oinimigo— desiruigandacidede™* i) SY deste da cidade pelo amigo’ 6: 93 gio mai situado, que viola as condigges de anafora, aparecendo como varidvel livre na forma logica derivada da estrutura supericial, Mas em (52) © vestigio foi apagado por uma regra que explicita o determinante.*? Pode acontecer, entio, que encontremos regras idéniticas com diferencas de apli cabilidade redutiveis a outras propriedades das construgdes envolvidas. Notames alguns casos que parecem todos softer a aplicagio de uma regra de anteposiglo de SN, sem, contado, cairem num certo numero de dificuldades que aparecem quando estes fendmenos so unificados oo as possiveis solugdes para tais dificuldades. Estivemos discurtado casos como 8 abaixo (63) Joha seems (5 # w be a nice fellow] (54) John isceritn [52 20 wie the elecica] (59) the city [gy was desuoyed » by the enemy] (56) the ciy’s [gq destuccion » by the cncmy] ‘urros exemplos estio no mesmo caso: (37) Jobn [sy was believed [s » 10 be suitable condidace]j (58) che bed [sy was alee ia nae Outros tipos algo diversos tambem me vém 4 mente como passiveis candidatos a uma analise similar A regra de anteposigao de SN aplica-se sobre um vaste conjunto de construges possiveis, como seria de esperar se as especulacdes da discusslo precedente provassem ter justificativa. Devese notar que, se 20 houvesse passivas como (57), (58), ¢ as da nots 43, poderiaines hesitar em postular uma reura de formacge de pas siva em’ primeiro lugar. Muitas linguas ado tém tis construgdes, res tringindo a “‘passiva’® 2 passivas reduridas como (59), sem sintegma de agente € com © Sujeito servindo de objeto direto das canstraySes transitivas relacionadas, onde *pass"” indica uma cersa flexdo passiva (59) Jou ki-pass cana Yah was ie" Fm tais casos, no hit motivasfio pars postular uma regra de formar passivas a partir de ativas; os fatos podem ser desctitos sem maior (com “(63) “Jobn parce [, vst um rapes simpético)* (54) "John ent cert [g de gana a eleigio]" + +(38) “a cidade [gy for esta» pet mig” 436) “a da cidade [ny destruisato, ¢ pelo inimigo]"* + +2437) Soh gy eta aeeditao |, # ser um candidato comenient]f™ 458) “a eama fy otva adres em (69) “Jobin marar— pass andl « "Jon for mt") 94 menor, acho} dificuldade dentso do lexico, com as regras de formacio de palavras,19 A teoria da gramatica torna disponivel uma variedade de recurses, ¢ 38 linguas podem diferir quanto sua escolha, Esperamos que essas escolhas, ‘tenham algumas conseqénicias tanto na sintaxe como na semintica, Quere dizer, dificilmente sera acidental que a passiva do inglés faca uso da copula € que @ morfologia do verbo seja tio claramente analoga & de certas cons trugtes adjetivas, de modo que as regras que formam passivas organizam indicadores sintagmatices iniciais em estruturas independenterente existen: tes da forma snjeito-predicado.1© Esse fato pode bem se situat numa teoria da interpretacao semmantica da estrutura superficial que faya uso essencial da construgiio sujeito-predicado na estrutura superficial, da teoria do vestigio € de outras ideias relacionadas. Prosseyuir nessa discussio nos Ievaria muito além, a dreas que ate aqui tem sido escassamente exploradas na teoria da sgramatica gerativa. Estiveros operando até agora com a assungde de que apenas as estru- turas superficiais se submetemn a interpretagio semantica, Mas hi algumas objegdes bvias a essa conjectura. Consideremos 0 fato'de que ha varias fegras, enre as que vimos, que apagum o vesigio detado peas regras. de movimento anteriores. Bm tais cases, a posicdo de um sintagma em indica- dores sintagmaticos iniciais nao estaré mais marcada na estrutura superfi Gal. Mas, em alguns casos pelo menas, essa posigae inicial parecia essencial para a interpretagao semantica. Vejamos, pois, as passivas (44iii}e (S0iti) (GER th the city way desteoned «by the enemy {500 Gi) he siy"s destruction & by the enemy As formas supericiais mio contém nenhum vestigio para 6 sintayma “ihe enemy””. Mas, para entender a8 sentengas, precisamos saber que esse simagina entra na celagio semantica de “'agente™* com © verbo “destroy"”, como esta indicado nos indicadores sintagmaticas iniciais (44i) € (503). Logo, parece que, comtrariamente a nossa conjectara, os indicadores sin tagmiticos imiciais precisam entrar na interpretaciio semantica, Foi por razes como essa que as formulagdes da teoria standard ampliada postile ram, no passado, que a interpretagao semantica se apliceva go par estrutura profunda ¢ superficial (indicadores sintagmaticos inicial e superficial), Joha Goldsmith abservou que nas formas derivadas (4 uma estrutura formal que indica a relagdo semantica do sintagma enemy” com o verbo, qual seja, sintagma by, De modo semelhante, nas cconstrugdes “there is” ( cf. (40) ), apesar de ser apagude 0 vestigio, a estrotura superticial é suficiente para determinar as relagces que tem com o vyetbo 0 sintagma nominal movido, Ele propée, .entto, que uma regra so 95 possa apagar um vestigio se o elemento Timitador do vestigio aparecer na estrutura superficial numa posicdo que identifique a relagio semantica em que ele entra, Assim, a regra de anteposicio de SN pode aplicar-se para dar as passivas, apagando um vestigio, mas ndo pode haver nenhuma regra que apague, por exemplo, 0 vestigio em (53) (=‘*John scems v to be a nice fellow"), e nenhuma derivagio como a de (60), dando (62) a partir do in- dicador sintagmatico inicial (61) : (60) fi] SN, V SN, [5 X'SV] Gindicador snuagentic incl) {ii ¥ SN, [6SN, SV] {por posposido de SN) (ii) SN, ¥¥ [SN, S¥] {Por ansepongéo de SN) {62} John petsuaded Bil [5% wo stay while] (62) il peesaded v fs John to stay swhile|* A estratura (60) no viola as condicées para a anifora, pois a derivagdo (60) nao pode ser excluida segundo as diretrizes da nossa discussto anterior sobre rebaixamento. Mas a derivacio viola o principio de Goldsmith. Em muitos casos bem conhecidos, esse pincipio parece set suficiente. E mais um principio que tem importante propricdade de restringir subs- tancialmente as aplicacdes possiveis das regras, um desideratum importan: te, pelas razoes jt explicacas, Accitandy © principio de Goldsmith, da recuperabilidade das relagoes semanticgs, parece que podemas postular tentativamente que apenas 3s estrutoras superficisis se submetem a interpretagdo seméntica, Com este passo, polemos unificar um acervo consideravel dz pesquisa frutuosa de alguns anos pura ei, pesquisa que mostrou que muitos aspectos da interpre tacdo semantica sao melhor expressos em termos de propriedades da estru- tua superficial, Em peral, isso € verdade no que diz respeito ao que se pode chamar de “propricdades logicas"” das seatengas. propriedades que en volvem escopo de quantificadores e particulas lonicas, anafora, pressupos lo e similares. Em versbes anteriores da teoria stendard ampliada, props se que a estrutura superficial determinasse todas as propriedades seminticas excete as “relagtes temiticas’” tais como ago, objetivo, instrumento, sen- do estas deverminadas pele interagio de propriedades lexicais ¢ relagces sramaticais cos indicadores sintaymaticos iniciais (estruturas profuncas)'” Se estiver correto © argumento aqui apresentado, podemos melhorar esse quedro, considerando as estrunuras superficiis (agora enriquecidas pela ‘coria de vestigio) come os tnicos elementos que entram na interpretacio semantica “(61) "Joba persuadiu Bill |, Xa fear um pouco mais)” (62) "Bll fo persuadide » [g Joha a flear um poueo mis)” 96 Com cfeito, a teoria do vestigio nos permite trazer’ para as estruturas superficiais certas propriedades dos indicadores simtagmaticos que iaiciam derivagdes on que aparecem num estigio intermediario de derivagto."® Pode-se argumentar que esse € até certo ponto uma extensa € indesejavel ‘modificagao da teoria anterior, algo como 2 introdugio de ““regras globais’”: fegras que se aplicam ndo ac ultimo indicador sintagméice de uma deri vacio até © ponto em que est4 constmida, mas a todo um conjunto de in- dicadores sintagmaticos jé derivadas, incluindo 0 uhimo, Entender assim a mudanca que propomos seria entendé-la mal, Ha, certamente, uma objecao séria a regras glohais. nm recurso que aumenta enormemente a classe de pramiticas admissiveis @ assim nos faz dar um grande passo em direyto ‘pasta so nosny objetive de atingir a adequacZo explicativa em teoria lingiistica © dar conta da possibilidade de aprendizado da lingua.*? Assim, pois, sO se aceitariamn regras globais sob pressdec de evidencias muito fortes, 45 quis, creio eu, até agora nilo estio 4 vista. Quanto a teoria do vestigio, cla nao amplia a classe de grasiticas admissivels. Nem restringe essa ciasse. Ela apenas muda a classe €, portanto, esta imune as objecdes metodolagicas que, com razao, foram levantadas & introdugio de regras globais. As estruturas geraday sto enriquecidas, mas a classe de gramaticas io & E verdade que a tcoria do vestigio permite que propriedades de estigios anteriores de derivacao aparegam na estrutuca superficial, mas isto em si mesmo nfo € nada novo. Poderst ia imaginar uma teoria de transfor magdes que postulasse operacdes sem considetar as cateyorias dos indica dores. sintazmaticos iniciais (os rotulos nos parénteses, ma notagéo que estamos aqui usando), Em comparacio, a teoria convencional transporta ain formacao categorial para a estrunurs derivada. Nao se podesis alegar. a partir disso, que a tcofia convencional j4 possui regras globais, uma vez que propziedades dos indicadores sintagmiticos iniciais (sto é, a8 categorias que rcles aparecem} sio traridas para as estruturas superficiais, A teoria con: vencional gera estruturas superficiais mais ricas do que uma outra, alterna tiva, que nao considerasse as categoriay nas desivagies transfocmacionais, € esse mesmo sentido, a tcoria do vestigio entiquece a classe das estruturas derivadas, se comparadz com a teotia convencional, exiginda que propriedades adicionais de estigios anteriores ce derivagio aparecam em. estagios posteriores (inclusive nas estrucuras supecticisis) Com toulas as con- seqiléncias que se seguem na aplicagio de regras, A questto do carater xglobal das regeas nao tem fugar em nossa discusséo. De modo algum esta discuss exaure os arguimentos pro e contra; além disso, evitam-se aqui sérias questdes que aparecem em uma for- milacao mais cuidadosa © em uma aplicagho mais extensiva, Espero que, apesar disso, ela seja suficiente para dar indicacdes sobre © tipo de principios 97 que parece razoavel postuler come propriedades gerais da linguagem humana. Esta discussdo tem-se restringido ao inglés, o que & uma séria limitagae. A despeito disso, no hesitei em sugerir que os prineipios que parecem ter poder expiicativo em inglés sejam principios da gramatica universal, Na hi- poiese de que a faculdade da linguagem seja uma possessio comum a todos os homens, a inferéncia ¢ plausivel (embora, obviemente, sic demonstrati va). A logica do angumento j foi esbogada, Ne hipdrese da uniformidade da capacidade lingilistica em toda « espécie, se se confirma empiricamente, paca uma dada lingua, um principio geral, ¢ se, além disso, ha razdes para acreditar que ele nto é aprendido (e seguramente nao ensinada), entio & apropriado pastular que 0 principio pertenca a grematica universal, como parte do sistema de ‘‘conhecimento preexistente”” que tora possivel « aprendizagem, Sobte as hipéteses simplificadoras do capitulo 1. entdo, & razodvel proper que principios do tipo dos aqui delineados tenham seu lugar no componente da faculdade inata da linguagem que determina © po de sistema que pode ser aprendido, Lembremas que havia cuas hipéteses simpli icedoras principais: primeiro, que as diferencas individuais podem ser ignoradas; segundo, que o eprendizado & ““instantineo"’. Como antes se oto, a primeira hipotese & verdadeiea em yrande parte, pelo que se sabe. Com excecdo de grandes anormalidades, no se conhece nenhum motivo pata supor que os individuos scjam diferentes quanto ao que se levou em conta na presente discussio; embora, sem divida, se encontrem difesencas de flutncia, talento ¢ conhecimento, que aparecem num exame mais deta Thad, Jia suposigio de que 0 aprendizado € instanténco € obviamente lalsa. Poderiamos, mais sealisticamente, dizer que as criangas progridem numa seqiiéncia de estagios cognitives So, Sian Sf, onde Sp € 0 “Testigio inicial’”, anterior a qualquer aprendizado da linguagem, € Sf € 0 “estigio final’’, 0 ‘“estigio de estabitidade’”, que @ atingido nos primeiros anos de vida e que nfo muda em aspectos significativos dessa fase em diaate. Quan- do a crianga atingiu esse estagio de estabilidade, dizemos que ela aprendeu a Lingua. Atngir o estigio de estabilidade num estigio de desenvolvimento intelecttal ng muito avangado @ presumivelmente caractertstico do “‘aprendizade’* que se eferua dentro dos limites da capacidade cognitive. Considere-se agora a transigio de um estigio para o seguinte, por exemple, do cstagio 55 para o estigio So, Podemes levantar muitas questdes 4 respeito dessa transigao. Primeito, qual & 0 mput para a teoria do aprendizado acessivel a crianga esse estagic, que chamamos TA? Para ser tealista, no é absolutamente © conjunto de 98 sodos os dados acessiveis até o estégio 55, considerados um registro camnlativo. Ninguém se lembra que sentengas ouviu no passado. Mais exa tamentc o input de TA5 consiste de duas partes: (i) a gramatica atingida no estigio $5; (fi) novos dados acessiveis em $5, Desse modo, TAS vai operar fa teoria tentativa construida até entao pela ctianga, teoria esse que ‘organiza a experiencia passada, € nao uma lista de todos os dados até entio utilizados.5° Podemos perguntat agora se iriamos falsear seriamente 0 cOm puto do aprendizado (em case afirmativo, sob qze aspectos) assuminde que © input de TAS sao 0s dads até entio utilizados, ao invés da gramética que representa a teoria da crianca nesse ponto (juntamente com novos dads). Podemos tambérn formular uma pergunta um pouco mais sutil, A gramitica gera um sistema de “‘experiéncia potencial”’, incluindo a experi- éncia reak que levou a construgio dz gramitica (e excluindo partes di expe: rigncia real que foram descanadas, por errineas ou inrelevantes, no curso da aprendizaem), mas incluindo também muitas coisas mais, na verdade infinicamente mais. Alem disso, como {4 se notow, ninguém pede se ler brar das seritencas que cuviu (com excesées irelevantes), A node de “familiaridade’” absolutamente nao se zplica de modo relewante as senten 05 de wma lingua. As idéias expressas podem ngo ser familiares, assim come 35 construcées frasais. Mas uma vasta colegio de sentencas 56 nos & “familiac"™ se faz parte da lingua gerada por nossa grantitica, sujeita a qualiticacées quanto a duracio, complexidace, logicidade, percuciéncia, exc., Coisis que no estio em jogo no presente contexto. Podernos agora pergun- tarnos se estamos falscando o cOmputo de aprendizado, assuraindg que © Input para TA é a lingua gerada pela gramatice acessivel no estigio $5, ao invés da _gramética; as duas possibilidades ciferem, pois. gramaticas diferentes podem gerar & mesma lingua Sem levar adiante tais complicacies, vamos cistinguir duas maneiras de aboedar 2 questio do input de ‘TAs: uma abordapem extensional, que tors como input «“experitacia’” (ligames, sentengas com propriedides formals e sexta. ‘as, tanto o registro finito de experiencia até ento, quanto o conjunto infinita pe rado pela gramatica acessivel no estagio Ss; € uma abordagem dntensional, que assume que 0 input de TAS & 4 propria gramética, Em ambos os cascs, um se _gundo input & 6 conjunto de mover dacs disponiveis, Podesiamos levantar mais algumas questies. TAS € diferente de TAG? Mais geraimente, TA; é diferente de TAj, pare 7 diferente de 7? Em diferentes estigios de desenvolvimento, & diferente a capacidade da crianga para aprender? Sera que ela manuseia diferentemente as evidencias nesses diferentes estagios? Havera estigios bem definidas, matcados por diferentes modes de aprender, as “‘estratépias de aprendizegem’’ vio amedurecendo mais ou menes ceatinuamente, permanecem constantes (com mudangas 9 apenas em outcos sistemas, tais como concentra¢ao da atengdo, memoria), ou vie decaindo? Haveré *‘periodos criticos”” nas virias fases de apten- dizado da linguagem? Dependers, em parte, TA; das teorias ja construides, oon sera fixada muma sequéncia maturacional? Todas essas slo perguatas sérias, perguntas do tipo que costuma aparecer na psicologie do desenvalvi mento.) Que eu saiba, nfo ha respostas que sejam muito iaformativas no nivel exigido para progredie na investigacac do aprendizaco linghistico para alem dos. primeiros estagios, aqueles que envolver muito pouco da estrutt: sa especifica da lingua Se houvesse respostes @ perguntas como essas, poderiamos deseavolver uma teoria mais realista do aprendizado lingtistico. Poder-se-ie revelar que = nossa hipotese simplificadora, qual seja, a de que © mecanismo do aprendi- zado lingiistice ¢ extensional ¢ instantaneo; era uma hipatese muito fora de propésito. Seguir-se-ia, entéo, que as conclusoes sugeridas com relagdo ‘gramatica universal teriam qué set mudadas tambem. Francemente, duvide que a hipotese simplificacora, apesar de ob viamente falsa, afete de mode significative a validade da anglise que nee se baseie. Se nossa hipstese inicial falseia, de fato, seriamente, a situaglo; se hi estapies fundamentalmente diferenses com TA; fundamentalmente diferen- tes: se estas sio intensionais em pontos importantes; ¢ se, alem disso, carater de TA; depende das gramiticas (1 outras estruturas cognitivas) jf atingidas, de todo significative — entlo teriamos que esperar encontrar Gierenges substanciais no resultado da aprendizayem lingtiistica, depen- dente de fatores como ardém de apresentacae dos dados, tempo de apresen- gio, e assim por diante, Mas mio ¢ iss que encontramos, pelo menos ne nivel de preciso dos instrumentos analiticos de que dispomes. A experiéa cia ordinaria também nao sugere que assim seja. A despeito da vasiedade considerével nas esperiéncias de aprendizado, as pessoas podem prontamen- te se comunicar (no nivel de comonicagio felevante nesta discussdo), sem nenluma indicagdo de que estejam falando lingnagens fundamentalmente clferentes. Parece que a estrutura cognitiva atingida — a gramética — ndo varia tanto assim, significativamente, no que tange aos fatores que poderian conduzir « diferencas imensamente. grandes, se de fato postas em prittica todas as possibilidades aqui levantadlas. Isso parece verdade dentro de certos Timtes amplos. Principies da gramatica universal tsis como v principio de dependéncia estrstural ¢ outces mais intrincados parecem imunes a variabi- Tidade no que diz respeito a estes fatores. Parece gue ha uniformidades surpreendentes de estabilidade, apesar de grande variagao nas condigées de aprencizagem. Esses fatas sugerem que a idealizagéo inicial, com sua hipdtese falseadora sobre aptendizado exten sional instantanco, cra, apesar de tudo, uma hipétese legitima e possibilitava uma base apropriada para progredir numa investigacio séria sobre a capaci 100 cade cognitiva do homem, Num certo estagio da investigagdo sem divvida et teria que ser qualiticada, mas ainda se pode questionar seriamente se esse estagic jé foi atingido pelo estude da comperéncia e da gramética universal. Estas so conclustes imprecisas ¢ qualitativas, baseadas em evidencias que ndo sao esmagadoras. Elas certamente podem ser questionadas, A mim ‘ais conclusies parecem bem razodveis, dado 0 que até agora se conhece. Quanto mais @ hipdtese simpiificadora sobre aprendizado extensional instan thneo precisar ser revista, tanto mais precisaremos complicar a “‘hipotese inatista"* formulada anteriormente, ou seja, a de que a teoria da gramatica universal & uma propriedade mental inata. Fecharei a discussdo com esses observagdes inconclusivas, Outras proposias substantivas s20 infelizmente algo limitadas, embora nao inteiramente deficientes (ver nota 50}, ‘Venho tentundo situar a iinguagem, conceizualmente pelo menos, num sistema geral de capacidade copnitiva determinado pelas faculdades mentais, inatas, @ tentando mostrar como uma linha particular de investigasio empirica poderia conduzir a um melhor entendimento da faculdade inata da Tinguagem. Passem oa no passem no teste do tempo e das. pesquisas posteriores as idéias aqui esbocadas, parece me que as questécs levantadas se dirigem as mais sérias discusses mo campo que @ por vezes enganosamente rotalado de “*teoria da aprendicagem"”, © estudo da linguagem seca; naturalmente a0 campo da biologia humana. A faculdade da lingnagem, que de aiguma forma sargin na pre historia humana, possibilita c admirivel feite que ¢ o aprendizado lingtisti- co, estabelecendo, ao mesmo temper limites quanto ac tipo de linguagem que pode ser normalmenty adquirida. Interagindo com outras faculdades mentais, tornia possivel 0 uso coerente € criativo da lingue com formas que as vezes podemos descrever, mas apenas comecamos a entender. Se levarmos a cabo o estudo dos seres humanes como organismas do mundo natural, a abordapem que esbocei vai parecer inteiramente tazoavel Considerando © papel da linguagem na vida humana € provavelmente na sua evolugao, ¢ sua intima relacio com © que venho denominande “entendimen: to baseado no senso comum””, ndo seriz muito surpreendente descobrir que outros sistemas no dmbito de’ capacidade cognisiva tém algo do carater da faculdade da Jinguagem € de seus produtes. Deveriamos antecipar que esses outros sistemas cognitives também impoem limites ao alcance do intelecto humano, em virtude da propria estrutura que tbe torna possivel adquirir sistemas ricos ¢ abrangences da crenga e conhecimento, intuicio e enten- dimento. Ja discuti brevemente esse assunto em conexic com a “‘capacida- de de fazer ciéncia"” (Seja ela.0 que for). Gostaria dle acentuar «pail i que essas conjectures nao deveriam aparecer de modo algum surpreendentgs para o cientista natural, Na verde de, elas esto bem razgayelmente em Gonformidade com o que se conhece Agee) rot acerca do desempenho do cérebto em outros dominios, como a construcao do espaco visual ou, mais genericamente, nosso conceito de espaco fisico & das objetos nele presentes. Ademais, conforme apontaram muitos biéloges, algo do mesmo tipo deve ser esperado nos campos de estudo da evolucio, pura e simplesmente, Citando Lorenz,>2 Gunther Stent aponta que as con- sideracdes darwinistas oferecem urt "“alicerce biologico"* a um tipo de epis- temologia kantiana, mas, alam disso, essas consideracces coricernentes & crigem evolucionaria do cérebro explicam ““nio apenés por que nasses con- ceitos imatas se adeptam ao mundo, como também por que nao funcionam mais tao bem quando queremes mergulhar no mundo para conhecé-lo em seus aspectos cientificos mais profundos’’, pondo assim talver ‘‘nma burreira ao progresso cientfico iimitado’”?%."A razio, simplesmeme, € que ‘do hé nenhuma razdo para supor que as capacidades adquiridas através da evolugio nos tenharn posto aptos para ‘‘mergulhar no mundo para conhe- cele ext seus aspectos cientificos mais profundos"’. Ele umbém adverte que “e importante dar o devido reconhecimento a esta limitacao epistemo- Jogica fundamental das cigncias tumanas, pelo menos como uma salvaguarda contra as prescrigdes psicolégicas ou socioiégicas avancadas por aqueles que alegam que j& atiagiram um entendimento cientificamente valido do homem"’. Essa € uma adverténcia que deveriamos ter em mente ‘num periodo em que pretextos pseudocientificos servem tao bem. as necessi dades de ideologias coercitivas dominantes.°4 Note-se que esses ponics de vista bem naturais sobre 0 escopo ¢ os limites do conhecimento nao impéem nenhum iimite ao progresso humano. Os inteiros formam um conjumto infinite, mas nfo esgotam os némeros ‘reais. De modo semelnante, 05 setes humanes podem desenvolver suas ca- pacidades sem limite, mas sem nunca escapar de certas fronteiras objetivas, estabelecidas por sua natureza bicldgica, Suspeito que nao exista nenhum, dominio cognitivo a que sejam inapropriadas essas observacixs Suponhames «ue as condigées sociais e materiais que impedem o desen- volvimento intelectual livre sejam superadas, pelo mentos para uma quan: tidade substancial de seres bumanos, Ai, citncia, matemética e arte Bores- ceriam, pressionando os limites da’ capacidade cognitiva, Nesses Limites, como anteriormente vimos, encontramos varias formas da atividade intelec tual e significante diferenciagao entre individuos, com pouca variagd0 no dominio ca capacidade cognitiva. A medida que mentes criativas se aproximem dos limites de capacidade cognitiva, sri limitado nao apenas 0 ato de criagdo a uns poucos talentosos, mas ate mesmo a apreciacto ¢ a Campreensio do que tiver sido criado. Se 0s dominios cognitives sto mais, ‘ou menos comparaveis em complexidade e escopo potencial, tais limites po: derio ser tocados mais ou menos simultaneamente em varios dominios, dando origem a uma “crise de modernismo"’, marcada por um agudo de 102 clinio a acessibilidade geral 20s produtos das mentes criativas, um obscure- cimento da distingto entre arte e quebra-cabeya, € uum agudo crescimento do “*profissionatismo"” na vida intelectual, afetando ndo apenas aqueles que procuizem trabalho criativo mas também sua audiéncia patencial. Nesse estigio de evolucio cultural seria de esperar tornar-se virtualmente uma forma de arte o desafio as convengdes que estio, em Ultima analise, tunda- mentadas na capacidade cognitiva humana. Pode ser que algo assim esteja acontecendo na histaria recente. Ainds que corretas, tais especulacdes no nos levariam @ negar que ha seguramente um vasto potencial criativo ainda inexplorado, ou a considerar o fare de que para a-maior parte da raga humana as privagdes materiais e as estruturas sociais opressivas fazem dessas quest0es académicas, se no obscenas. Como escrevew Marx em seus primeiros manuscritos, retomanda Hursboldt, os animais “produzem ape fas sob a compulso de necessidades fisicas dizetas, enquante 0 homer pro- daz quando esta livre de necessilades fisicas e sb produz verdadeiramente quando liberto de tais necessidades”’. Por esse critério, a historia humans mal comecou para a maicr parte da humanidade. Se for apropriada a abordagem so estudo da capacidade cognitiva esbo- ‘sada anteriormente, entio podemos esperar desenvolver uma teoria. da atureza humana em seus aspectes psicologicas. A possibilidade de tal teoria tem sido freqientemente negada. Essa negacdo esti implicita na dou- trina escoléstica de que a mente nada contém lem daquilo qué os sentidos Ihe transmitem. Poderseia ler uma conclusde semelhante nos. varios eslotgos, na idide moderna, paca telacionar 2 razio humane ¢ 0 escope da inteliggncia humana @ feaqueza do instinto, idéia que pode ser acompanhada pelo menos até Herder. (Cf. Chomsky, 1966, pp. 13 3s.) A psicalogia em- pirista ¢ a behavioriste mais recente estdo firmemente alicercadas na doutri- nna de que nio hd teoria ndo trivial dz natuseza humana, Ou, mais precisa- mente, que tal teotia ¢ limitada aos Orgias fisicos do corpo, com 4 Anica ex- cecio daquelas partes do cérebto envolvidas em fungées mentais mais aeas Volterei diretamente a algumas cs ramificacdes desta doutrina, Penso que € justo dizer que esses concepgées empiristas sdo mais plau- ‘siveis nos. campos em que somes mais ignorantes. Quanto mais apren- demos sobre algum aspecto da cognigao humans, menos razoaveis parecem ser essay concepcdes, Ninguém sustencaria seriamente hoje, por exempio, que nessa construgio do espaco perceptual & guiada por méxiraas empiris tas, Perso que o mesmo se di com a faculdade da linguagem, que esta mais estreitamente relacionada a naturera essencia) da espécie humana. Suspeito que a pesicio empirista com respeito as fungdes mentais mais altas vA se desintegrando 4 medida que a cifneia avanca para um entendimento da capacidade coynitiva ¢ de suas relagdes com as estruturas fisicas.>5 Os postulados do empirismo’ colocam-se fregtientemente ngo como 103 especulagio, mas como fato estabelecido, como se fossern necessariamente verdadeizos ou tivessem sido demonstrades. Tais postulados devem ser avalicdes em seus méritos, mas, se se descobre que mio tem apoio, que Sto errados ou-seriamente exagerados, como me parece ser 0 caso geral, entio ceabe procurar em outras coisas a explicagdo para o seu atrativo & 0 sew poder. Em parte, a adesio a doutrina empirista nas citncias humanas é uma reagio a0 carater especulativo do trabalho anterior e a falta de uma sdiida fundamentagie empirica que © marcara. Certamente isso é verdade no que tange ao estudo da linguaem. Ha, entretanto, nesse raciocinio, uma ialha obvi. Pocemos estar de acordo em que as doucrinas racionalista ¢ empirista classicas deveriam ser reinterpretadas (ou talvez substituidas) «fim de serem mais diretamente suscetiveis a testes empiricos, ¢ em que se devert apresentar provas empiricas, tanto quanto pessive!, para determinar a sua validade como doutrinas. Aqneles que as elaboraram ndo iriam se opor @ esse principio. Descartes, Hume ¢ Kant debateram-se com problemas situs- des na frontcira do conhecimento cientifico, problemas tanto conceituais como empiticos, ¢ procuraram todos as provas que pucessem reunic para justiicar suas especulacies tebricas. (CE capitulo 4, pp. 176-78). Neo pademos, parém, passar de uma preocupacio razeavel com a conficmagio empirica defender um comprometimento com @ doutrina empirista. Pelo contrério. as teorias racionalistas ¢ empiristas deveriam ambas ser ex pressas numa formulagdo em que fosse possivel submeté-las a confirmagao, tarefa que no parece mais dificil para uma que pura outra. Tenho ientado sugerit como essas teorias poderiam ser reforruladas sem que se violentem certas ideias condutoras bésicas (embora outrss possum ser descartadas). © tumbém argumentado que, nos campos de que temos algum entendimento, temos que nos inclinar para teorias que tenham am caréter marcadamente racionalista ‘Todevia, o conflito entre as doutrinas racionalista e empirsta, e © pest gio desta no gosto moderno mio podem ser explicados unicamente no domi io ‘‘intsinseco”” mencionado acima. Como enfatizou Harry Bracken (1973a): Os schates snhze empitivns'vaconalisme no séewlo deressete ¢ hoje sin debutes enere Aeeentes sisters de valores 01 ieologas. Dat o calor que caracteriza esis discussces, As discussdes smudaram do século dezessete para ct, apesar de poder muito bem haver tendencias comuns. Para complicar mais 0 assunto, as discusses € conflitos podem ser percebidos em muitas dimensies e de modes bem diferentes. Mas o contesto idealagico e social tem sico critico, fato alias muito observado. A epistemologia de Locke, como mostra John. 104 Yolton, foi inicialmente desenvolvida pata aplicagao a debates religiosos morais da epoca; '*s discussdo vital entre Locke € os seus crticas [sobre a doutrina do inatismo] exa sobre ¢ campo e os fundamentos da moral € da religiio’’ (Yolton, 1956, p. 68). Ao longo da idade moderna, para no falar de eras mais antigas, tais questdes se colocarm no quadro de contrbwer- sias aparentemente arcanas e filosGficas e, muitas vezes, ajudatt a explicar as discussdes em torno daquelas. (© empirismo classico inglés apareceu em opasicao muitas vezes saudé- vel ao obscurantismo religioso € a ideologia reacionaria, Sua atragdo talvex resida em pare na crenca de que ele oferece uma visto de progresso illmitado em. contaste com 2 dosstrina pessimista de que os seres humanos, estdo escravizados pela natureza imutivel que os condena a servicio inte: lecmnal, a deficiéncia material ¢ a instituigdes opressivas eternamente fixas. Assim, pode ser entendido como uma doutrina de progresso ¢ esclare- cimento. Essa também pode ser a razio para o apelo a ideologia empirista no pensamente de Marx, comprometimento que muitas vezes foi expresso nas formas mais extremadas. Gramsci chegou a alegar que “a inovaco funda mental inteodurida pelo marsismo na ciéncia politica e na historia é a prova de que ndo existe uma “naturera humana’ abstrata, fixa ¢ imutivel... mas que a natureza humana & a toralidade das relacbes socials historicamente determinadas” (Gramsci, 1957, p. 140) ~afirmativa que & seguramente falsa, pois nao ha tal prova, e que revela uma leitura questionavel de Marx Fm sua introdugao av estudo de Jean Itard sobre o Menino Selvagem de Aveyron, Lucien Malson afirma categonicamente que “‘a idéia de que o homer Ado tem uma natureza & agora indiscutive!"; 2 wse de que 0 homem ‘tem, ou melhor, é uma historia", nada mais, “ hoje a assungdo explicita de todas as correntes principais do pensamento contemporaneo”’, nndo apenas do maraismo, mas também do existencialismo, do behaviorismo e dz psicanalise. Malson também acredita que esteja “‘provado"” que 0 ter mo “natureza humara”” seja ‘completamente desprovido de sentido’’. Sua propria critica da “‘hereditariedade psicolbgica”® visa “‘destruir ... a nodo de natureza humana" demonstrands que nao hé *predisposigdes mentais [presentes 20 embrido] que sejam comuns & especie ou ao homem em geral’”. Soguramente, ha caracteristicas biologicas que sto herdadas, mus nao na area _em. que o homem “‘exibe suas qualidades peculiarmente fhumanas’”, ‘°O natural no homem se deve a hereditarisdade inata, o cultural @ sua heranga adquirida’”, 280 havendo contribuigao da ‘“hereditariedade psicolégica’” (Malson, 1972, pp. 9-12. 35). Postulactes como essas no sto opinives atipicas da ala esquerdista, fato que demanda explicagdo, pois no hd argument empirico decisive para apoit-las. Ponso que a cxplicagao & a que ja fot dada: assumiuse que @ 105 doutrina empirista & fundarnentalmente “*progressista’’, como o era em certos aspectos num period anterior ao que vivemos. HA discussdes quase independentes que devem ser claramente distin gui dos quando se considera uma doutrina lzngada como uma teoria da natureza humana, ou da cio existéncia de tal natureza distintiva. Sera ele orreta, ou, pelo mencs, plausivel? Qusis foram suas implicacdes sociais € politicas de fato em certos pericdos historicos? Como eram percebidas essas implicacaes? Em que medida (se, de fato) essas implicacbes, tais camo per- cebidas, contribuiam para o recebimento da doutrina? O que (se algo) isto nos diz. sobre os comprometimentos daqucles que a defendem? Todas essas questées aparecem quando esquerda revolucioniria defende os principios empiristas, em particular a doutrina de que a natureza humana € exclusivo produto histérico, nao impondo assim limites nem sugerindo diregées preferenciais para ¢ mudanga socal. Estive discutindo até agora apenas a questio da verdade © plausibilida- de; acredito que haja pouce de ambas. Como um problema de historia inte- lectual e social, o assunto & complexo. O empirismo de fato servi. como uma doutriaa de progresso ¢ esclarecimento, E estreitumente associada a0 pensamente liberal classico, que tem sido incepaz de sobreviver na idade do capitalismo industrial.5° © que continua vilido ne doutrina liberal classica deve encontrarse hoje, 40 meu ver, em sua forma mais significativa, em Cconceitos socialites libertizios de direitos humanas € organizacio social. O empirismo ascenden em associagio com uma doutrine de “individualismo possessive’? que era essencial ao capitalismo nascente’7 numa idade de império, com © crescimento concomitante (quase podemos dizer *criagao””) de ideologia racista, Bracken sustemou que ‘ racseno € fcil# prontarsenteformulivel quando se persa a pessoa humans de scar como ensinarnento empizsta, pougue ace 2 essencia da pessoa poe sec atabuhla 4 9 er, lingua, celigita, e€. emuints« melo culista cates lornece. um modesto ineio conceitual a arsiculacio de deyradaq3e tucal cam wseravi, [I97 3h]... empits ‘mo propie wen modelo de pessoe em que cor, ¢ sexa, a lingua, a relgito, ete. paxiemn ser contados com essencas sem as emtarecus epics ue supestécs come mente NeRTaS couam demo do earesianisme, (1974, 9. 138) Ele argumentou que ‘a relacao entre @ empirismo € racismo & histéri- ? discuti a impressionante similaridade das doutrinas desenvolvidas pelos socialistas autoritérios € pelos ideblogas do capitalismo de estado, as que constituem “um clero secular que prega autoridade ab: soluta, tanto espiritual quanto leiga, em nome de um conhecimento cienti fico singular da natureza dos homens ¢ das coisas’’. (Berlim, 1973}, a “nova classe"* da intetigentsia técnica, que espers criar “*0 reine da intel gincia cientifica, 0 mais sristocritico, despotico, arrogante e elitista das re simes'*6°, A doutrina do “organismo vazio’” @ a mais naturslmente adotada por eles. A ctiatividade & predicada a partir de um sistema de regras e formas, determinada em certa medida por capacidades humanas intrinsecas. Sem tais coagdes, teriamos comportamentes arbitririos ¢ difusos, ndo atos cria tivos. As construgtes do senso comum e da investigaczo cientifica derivam igualmente de principics sediados na estrutura da mente humana. De forma correspondente, seria um erro pensar ra liberdade humana unicamente em termes de auséncia de coagio. Bakunin certa vez salientou que “as leis da nossa prépria natureza.... constituem a verdadeira base do nosso ser” e io “a real condigio ¢ a causa efetiva de nossa Eberdade”, Uma teoria 108 social libertiria tentara determinar essas leis ¢ nelas fundamentar um con- ceito de mudanga social, assim como seus objetivos distantes e imediatos. Se, de fato, a nitureza humana € governada pelo ““instinto de revolta”” de Bakunin ou pelo ‘‘carater da espécie’* em que Marx baseou sua critica do trabalho alienado, entio & preciso haver uma luta continua contra formas sociais zutoritarias que implem restrigdes além daquelas estabelecidas pelas “eis da nossa propria nacureza’", como ha muito tempo vérn reivindicando’ 18 pensadores ¢ ativistas revolucionarios auténticos. razoavel supar que somente estenturas mentais to intrinsecas cestejam subjacentes ao desenvolvimento de estruturas cognitivas, de modo que um “‘cardter da especie’? forneca o esquema de crescimento da. consci: @ncia moral, da reslizacio cultural e mesmo da participagao numa comuni- dade livre ¢ jusia. Esse € seguramente um grande salto intelectual: das ob- servagies referentes a0 desenvolvimento cognitive para conciustes par- ticulares sobre as leis de nossa natureza ¢ condigdes para sta satslayao; em foutras palavras, para a conclusdo de que as necessidades © capacidades humanas encontrardo sua expresso mais compieta numa sociedade. de produtores livres e criatives, trabalhando num sistema de livre associagio fem que 65 “"lacos sociais"” substiuirdo as “*grilhbes impostos pela socie dhge hurmana'"S! Hi uma importante traicdo intelectual que baliza algumas afirmagées interessuntes a esse respeito. Conquanto essa tradiglo provenha do compromisso empirista com 0 progtesso € 0 esclarecimento, penso que la encontrari r2izes ainds mais profundas nos esforcos racionalistas para estabelever uma tcoria da Hberdade umana. Investigar, aprofundar ¢, se possivel, substanciar as idéias desenvolvidas nesta tradicao pelos: métodos da ciéncia € uma tarefa primordial para a teoria social libertiria, Se investi ‘gases posteriores vio sevelar problemas que poderemos situar ou mistérios que n0s confondirdo, s6 0 futuro podera dizer. | Se essa tentativa for hem sucedida, relutar-se-d a especulacio pessimista de Bertzand Russell de que as“ psixdes € i «do homem 0 toma incapaz. de desfrusar os beneficios da “‘civilizagao cientifica’” que 2 razio pode criar (Russel, 1924), pelo menos se entendermos “paixdes ¢ instin: tos"? (como fez Russel algumas vezes) como algo que inciua os “*instintos provedores da base para as conguistas do intelecto criativo, assim como o “‘instinto de revolta’” contra a autoridade imposta — em certa medica, um eteibuto humane comum. Mais ainda, 0 sucesso dessa tenativa ppoderd revelar que essas paixdies ¢ esses instintas podem vir a ter éxito no sentido de trezer para bem perle o que Marx chamou de“ pré-histéria da sociedade humana'*, Nao niais reprimida e distorcida por estruturas sociais competitivas € aucoritarias, essas:paixdes e instintos podem preparar © estigio de uta nova civilizacio cientifica em que se transcenda a’ *natureza animal!” © a natureza humana possa florescer verdadeiramente. 109 SEGUNDA PARTE ~~ CaPiTuLo a PROBLEMAS E MISTERIOS, NO ESTUDO DA LINGUAGEM HUMANA. Gestaria de distinguir, de ura modo geral, dois tipos de discussie n0 es- tudo da linguagem e do pensamenta: aquelas que parecem estar dentro do am- Dito das abordagens e dos conceitos que compreendemos telativamente bem — chamitlas-ei “problemas’’; € as otras que hoje permanecem @o obscuras para nés quanto o eram na primeira formulagao — chamid-lesei *mistérios”” A distingio, de usm cesto modo, reflete uma apreciagto subjetiva daquilo que tem sido realizado on pode vir a sé-lo em termos de ideias praticaveis. Uns ‘véem mistévivn, incoeréncia e conusto onde as discussoes me parece relat: ‘vamente claras ediretas, € vice-verss. Entre os problemas, citarei: cuais sio os tipas de estruturas cognitivas desenvoividas pele homem com base na suas experiéncias e, especificamente, no caso da aquisicae da linguagem? Qual € a base da aquisigdo destas estrutu tas, € como elas se desenvolvem? Sem. prejudicar os resultados da anilise, podemos dizer que os seres humanos sio dotados de um sistema de organizagdo intelectual, que chamarei “estado iniciai"” do pensamento. Pela interagao com o ambiente @ com o5 processos de maturagao, a mente passe ‘por uma série de estados em que s4o representadas as estruturas cognitivas. No caso da Linguagem, é perfeitamente claro que, numa etapa prioitiva da vida, ‘um grande nimero de mudancas rfpidis acontecera € que, em seguida, “*um’ estado estivel"” € atingiclo e depuis soire poucas modificagdes. Fazendo abstr (80 destas tlhimas, podemas chamié-lo 0 “estado final”” do pensamienco. Nele © condicionamenta”, que ¢ “notoriamente incapwc de nos leva smi longe em rela 4 nsaapem* (19651), Quanto a (18), & duvideso que um “espaco qualitativo’™ possa ser deter: minaco de mado razoivel separadamente de outras estruturas cognitivas inatas. Podem-se conceber experimentos de condicionamento para demons. ‘rar que as pessous podem estabelecer associagdes entre objetos geométricos, baseando-se em suas formas, superticies, posigoes mo espaco visual €, a0 que me € dado supor, em fungao do memento do dia em que 0 objeto & apresen- tado. A experimentacdo pode também ser planejada para demonstrar que as pessoas generalizam partindo de uma tinica apresentacio de um roste para ‘outro que ndo * “combine” no sentido de Goodman (195.1) — por exeraplo, 0 perfil do lado direito ¢ o perfil do lado esquerdo — ou que generalizes em. termos de dimenstes ceterminadas por uma nocéo de combinagao (dos rostes) no sentido de Goodman. Alem disso, ao contearin do alegado por Quine (ct. 99 nota 33), nao ha justificativa para a crenca de que os métodos de Goodman, por mais interessantes que sejam, tenham uma posicéo privilegiada na in- vestigagao do espayo qualitative, ‘Ao investigar as estruturas cognitivas humanas, um cientista pode cons: truit um espaco qualitativo abstrato como parte de uum sistema integrado completo, mas no veio razdo para supor que tenha tum carater mais primitivo do que outros componemes do sistema, ou cue possa ser determinado em isolamento, on que uma hipstese razoavel sobre um espace qualitative seja menos afetada por consideracies tebricas (com suas ‘indeterminagdes"”) do que outros componentes da estrutura cognitiva inate, ou que experimentos felevantes para determinar a dimensionalidade possam ser selecionades separadamente da teoria geral da estrutura cognitiva inaca. Por conseguinte, unto 0 compromisso com uma classe particular de experimentos (condicio- hamento ¢ extingéo), quanto 6 compromisso com um espaco qualitative is level de carater privileyiado me parccem altamente questionavei Considere-se agora (19). Em primeiro lugar, mio veje como dar algam sentido a afirmagao de que 0 mecanismo de aprendizagem por simples indu- do é 0 condicionamento. Mas ha questées mais sérias, Lembremas que, de acordo com a teoria de 1960. a indugi6 leva a “*hipéteses auténticas™” com a sua incertezs "‘indutiva normal’’, diferentes das hipéceses analitices que ““ulksapassam o que possa estar implicito na disposicae do falante nativo para ‘© comportamento verbal”; ¢, além disso, a6 wilizar tals hipoteses anliticas — por exemplo, ac propor incluilas numa gramatice gerativa — im- puramos de modo inverificével nossa nogo de analogia Linglistica ao espirita do falante native”. (Lembremos que praticamente tod a sintaxe, bem como a maior parte da semantica, consiste em hipéteses analiticas; 1960; pp. 68 € segs.) Tal impuracdo nao pode ser verificada em ravo dos alegados problemas de indetertinacdo, Como ja observamos, Quine agora parece ter implicicamente rejcitado ‘essa doutrine no seu todo ou em parte. Contndo, parece que aa atual con cepcfo de Quine as mecanismos (a saber, condicionamento} que dio conta da aprendizagemn de termos observacionais ainda so qualitativamente dife- rentes dos envolvidos em outros aspectos do aprencizade da linguagem. Nao vejo, entretanto, senhuma razao para supor que haja qualquer diferenca fun damental a esse respeito. Deixando agora de lado as preocupacées de Quine com a ‘“indeterminagio'”, considere-se 0 que talvez seia a nogio. mais “‘elementar"* de que dispomos: a nogio te “objeto fsico’’, « qual, suponho eu, tem um papel « desempenhar nos processes mais elementares de aprend zagem por ostensao, inducio ou condicionamento. Mas a nogto de “objeto fisico”” parece ser bastante complexa. No minimo, ela parece implicar uma nosio de contigidade espacio-temporal. Nao se considera um rcbanho de gado como um objeto fisico, ¢ sim come uma colesao, embora nao haja 160 nenhuma incoeréacia logica na nogao de objeto disperso, como bem. o demons- traram Quine, Goodman e outros. Porém, mestno a contigdidade espacio- temporal nto é suficiente como condicio geral. Uma asa de um avitio @ um objeto, mas sua metade escuerda, embora igualmente continua, nao 0 é. Cer tamente esa em jogo aqui alguma proprieaade Gestalt ou alguna nogio de fungao, Alem disso, entidades dispersas podem ser tomadas como objetos fisicos singolares sob certas condigées: considerese uma cerca de moirdes espacadas, ou um mdbile de Calder. Este ultimo € uma ‘*coisa”’, a0 passo que uma colegao de fclhas numa arvore no 0 é. A raza disso, aparentemente, & que o mébile € criado por um ato de vontade humana. Se isto estiver corre- 10, entio as crengas sobre a vontade, a acao e a intengao humanas desempe- ham um papel crucial na propria’ determinacdo dos conceitos mais sim: ples ¢ elementares, Nao sei se tais fatores esto envolvidos nas primeiros es: tigios de maturacdo, mas trata'se claramente de uma questo empirica, on- de nao hi lugar ‘para premissas dogmaticas. Talver um esquematisino de complexidade ¢ abstracao considersveis entre em jogo nos processas de aprendiza- ‘gem que poderiam ser tidas como muito ‘‘elementares"”, se & que se pode dar algum sentido a essa nocio (bem pouco sentido, sugito eu). Voltamos, parece me, mais uma vez a concepedo de Peitce mencionada anteriormente, E penso que mesino a mais recente doutrina de Quine envolve afirmacoes ‘empiricas das mais duvidasas. (Ci. também o cap. 4, pp. 38 esexs.), Demoro-me nestas questies porque acho muito significative o problema. da escolha entre sistemas do tipo geral Re F, on alguma doutrina combinada. Em outros trabalhos (e.g., Chomsky, 1965), defendi a tese de que esses dues abordagens exprimem as idéias cirettizes da especulacao racionalista ¢ da especulacdo empirista. Quine acha que a questio ndo tem muita importancia, mas, pelas razdes que acabo de expot, acrecito que ele esteja enganado. Ha ontras que defendem uma concepgdo semelhante. Jonathan Cohen sugere que meus argumentos contra E mostram apenas que as ‘‘técnicas de simples enumeracio’” sto inadequadas para a aprendizagem de uma lingua (ou comsteugdo de teorias cientificas, etc.), mas que tais argummentas nto se ‘aplican as **técnicas de inducao climinatoria’’, Estas tltimas “sto adequadas para a dexoberta cientilica””, “‘podendo igualmente ser adequadas para, 0 aprendizado da linguagem””, Portento, no precisames "‘incorter na suposicdo relativamente extravagante de universais lingiisticos inatos"” 36 (O problema da proposta de Cohen é que nio existem ‘“‘técnicas de in- ducdo eliminatdria’” que possam ser definidas de modo relevante. Para que a “Sindudo eliminatéria’ se aplique, precisamos contat com algum tipo de -especificacdo da classe de hipéteses admissiveis, no sentido peirciano, ou pelo menos com alguma ordenacio em termos de admissibilidade, ainda que par cial. A teoria da gramatica universal tal como eshogada aqui, e nas reterénci 161 as citadas, constitui uma dessas especificagées do tipo R, Mas as sistemas que entram no tipo F, como ja referi, n2o fermecem uenhuma especiticacdo de hipoteses admissiveis que possa dar conta dos fatos.*7 Se © métode da ““indu. fo eliminatéria"” dor suplementado por um esquemnatismo inicial que limize a classe das gramaticas hucnanamente possiveis””, estard de acord corn Ri se ‘nao Uver suplementagio, seré um metodo vazio. Com a suplementacio, ex pressara a "*suposicao de universais lingtisticos inatos””, a-qual no 30 nao & “‘extravagante”” como também é, na minha opinigo, inevitavel Coben apresenta alguns argumentes contra 2 hipétese de universais inatos. Estabelece analogias enzre a aquisigzo da Tinguagem ¢ a deseoberta cientitica. conchuindo que,.aplicandose a ambos um meso raciocinio, se hipoxese de universais linghisticos inaios é necesséria para a primeira, emtao algun hipo- tese analoga € necesséria para a segunda. Para cle, tal conclusio & mais ou menos um reductio ad absurdist. Paca daz coma éa descobert cientitca, argumenta Cohen, € suficiente postular a “‘capacidade geral de inducio elim: tatéria"’, Por que entdo ndo supor que essa capacidade ¢ também suficiente para o aprendizaco da linguagem? ‘Mas o argumento de Cohen no se mantem, pelus razdes ja discutidas, O cientista C, trabalhando com um filtro mais fino do que o de Cohen, percebe 5 analogias entre a aquisigio da linguagem ¢ a descoberta cientifica, ¢ pereebe também diferengus qualitativas fundamentais, que ja discuti. Essas,argumen tei, lewirloriam 2 postulac tim sistema de uaiversais lingtifsticos inatos, Mas a ‘medida que prosseaue em sua investigaeao do sistema copnitivo total de seus, sujeitos, C temtara também formular os principios qne contormam a desecr Jetta cientifica, Reconhecendo que uma “‘capacidade geral de indugio eliminatoria’” & inteiramente varia c nao leva a nach, 4 menos que haja vma especiliacdo da classe de hipdteses admissiveis ou algurna ordenacdo em ter mos de admissibilidade, tentara determinar tal especificagao, Por ra7des ja apontadas, esta provavelmente é muito diferente do sistema de universais, Iinghisticos que caracteriza as gramaticas admissiveis: se se tratasse de um. lunico © mesmo sistema, as diferencas fundamentais entre a aquisigio da linguagem e o sense comum, por unt lado, © © conhecimento da Fisica, por outro, seriam inexplicaveis. Seria bem possivel que C postulasse uma teoria com as caracteristicas de R, com universais inatos, para dar conta da capaci- dace de adquirir conhecimento cientifica. Na verdade, nao sci de outra al- temativa coerente Os argumentas de Cohen nao se sustentam, basicamente, devido & sua formulacao vaga. O conteiido substantive de uma teoria da aprendizagem ¢, se minha proposta é correta, amplamente determinado pela especiicagio das hipoteses admissiveis. Uma vex que nada sabemos sobre as buses da descober- ta ciemtifica, so podemos especular, Mas, na medida em que a ‘aplicagio de cum mesmo raciocinio!” tem alyum peso, seriamos levadas a suspettar de que 162 também nesté dominio o contenido substantive de qualquer teoria adequade deveria ser dado por uma caracterizacto das hipareses admissiveis, tal como aficma Peitce, Por certo, nada se tem a Iucrar com a invocagdo de um con- ceite vazio de “‘indugio eliminatdria”’. A yacuidade dessa proposta fica imediatamente visivel a0 formularmos ume simples questo como: De que ‘modo, em principio, poderiamos programar um computador para operar por *"indugdo eliminatéria"", no caso da aquisicio da inguagem. ou da descober- ta cientifice, sem dispor de restricies sobre as hipoteses admissiveis? Ao discutiz 2 ‘indagio eliminutéria’”, Cohen tacitamente admite isso, a¢ pressupor, como parte desse método, ““uima concepyo daguilo que pode valer como hipdteve” inter alia (p.51)- Cohen sugere ainda otra linha de argumentagao, Alega ele que “postular uma capacidade inata de fazer < para explicar de que modo as criangas sio capazes de fazer x, supostamente sem aprende-To a partir da expe fidncia™” @ uma “pretensao taologice'”, € que para evitar essa ““trivialida- de" se taz necessario descobrir *“consegtiéneias que sejam testavels indepen ddentemente dos jutos da aprendizagem lingiistica que ela visa explicar — por exemplo, algumas conseqiiéncias para a fisiologia cerebral ou pura 0 tratamento dos distrbios da fala” (alternativamente, devemos absandonar a hipotese de que existem mecanismios especificos para a linguagem), "“Porens, tuma vez que faltam a teoria de Chomsky comseqiiéncias [clesse tipo] testaveis, independentemente, parece que 0 progresso teérico na explicagio der apren- irado da lingoagem nao vira da elaboracio de teorias mais ¢ mais complexas sobre os universais inatos, como sugere Chomsky, mas das teorias sempre ‘menos especificas sobre os dons inatos que darao conta dos univers lin _lifsticos tas como realmente se apresentain,"” Nao se discute a importinicia Ge procurar conseqiiéncias da teoria Tingtis tica pars além dos “fatos do apsendizdo da lingzagem””. Considerese, portm, na argumentacdo ke Coher, « pressuposto bésico de que postalar uma Capacidiade inata de fazer « para explicar como as criangas sto capazes de faze 4 € uma pretension tautolégica. "Tal pressuposiggo € valida? Suponha-se que o Cientista C postule a propriedidk que as rearas tém de ser dependentes da ‘strucuiza (PDE) ov o principio RES (restricdes sobre a estrutuze supertcial) como elemento da gramatica universal: ele estard, assim, postulando que as ‘ceiangas nto aprenden cals principios, ¢ sim constroem um sistema lingiis fica tespeitando estes principins. Cesta poctanto, postulando uma “‘capaciclde inata de respeitar tais principios”’ pera explicar de que maneira as efiancas respeitam esses principios “sem aprendé-los a partir da experién ia’™, Scpundo Cohen, a hipéres de C & uma pretensto tausolgica e, como tal, nao pode ser desenentida, Na verdade, porém, ¢ facil desmenti-la: por exemplo, por uma anlise que mostre fatos com violage de PDE ou de RES fa mesma lingiia ou em outeas linguas. Com efeieo, a8 peopostas conceraen 163 tes a gramatica universal ~ em comseqQiéncia, de acordo com a interpretago sugerida anteriormente, as propostas relativas a capacidade inata — tem sido frequentemente revisadas exatamente dessa maneira. Portanto. a pressuposi <0 inicial de Cohen é falsa, e sua argumentacao cai por terra.7® ‘As teorias da grumitica universal proposias att © momento, embora nao sejam usa pretensio tautolégica, como érroneamente alega Cohen, esto ainda Jonge de ser suiicientemente complexas ¢ cestritivas para explicar a aquisiglo dh linguagem; sic limitam suficientemente a classe das hipoteses edmissiveis. Portanto, a0 contcirio do que afirma Cohen, parece que 0 progresso teorico na explicagio do aprendizade da linguegers deveria ser procurado na eleboragio de teorias mais complexas sobre os universeis inatos pelo menos até que seja sugerida ama outra abordagem com certo grata de plausibilidade. A sngestio de Cohen de que procuremos teorias cada ver. meacs especificas sabre os dons énatos que inclucm cs universais lingtiisticos € simplesmente ‘nis uma expresso da crenca convencional de que a faculdade ca linguagem snilo tem propriedades especiais, de que existe apenas uma capacidade de aprendizagem generalizada, Mas, como outros defensores dessa crenca, ele nndo apresenta nenhurn argumente plausivel em seu favor ¢ no enirenta os problemus Sbvins que se colocam na defesz de tal concepcao. Seria necessirio — e nde apenas desejavel — procurar evidéncias em algum cvtro dominio (digamos. neuotisiologia) somente se tivessemos alcangado um estigio de construgio de teorias zdequadas>? que nae pudessem dlistinguir-se empiricamente sem tais evidéncias adicionais. Esta observacio & de iato “*arivial””, mas nfo tem qualquer repercussio no cariker nao tautolé- ico das hiporeses cxplicativas formuladas nos terms antes sugeridos, ou seja, dentro da supoxigzo ce um esquemstisano de graaatica universal CObservese que, se fossem possiveis experiéneias com seres humanos, C poderia obter evidenciss sclevantes para a8 teorias a gramatica universal de varias outras manciras, Poderia, por excmplo, testar su hipétese de que PDE RES fazer parte da gramitica universal, expondo criangas @ sistemas inven tados nos quais scjam violadas as condigdes propostas e determinando de que modo elas aéquirem — se @ que 0 conseguem — tais sistemas. Se & aguisic#o de tais sistemas for possivel, mas qualitativamente diferente da aquisicaa de uma lingua natural ~ se apresentar, digamos, as propriedades da descoberta icntifics —, entao C interpretara tal fato como evidéncia confirmadora de sua teoria de que PDE ¢ RES fazem parte da faculdude’ de linguagem que € uma dis mositas faculdades da mente. © fato de que tais experidncies sao possiveis, em principio, demonstra mais ima vez 0 carater ndo-tautoldgico das teorias, em questao. ‘No mesmo contexto, Coen argumenta que, se lingua de um marciano violasse uma teoria proposta de gramitica universal e pudesse ser aprendida pelos humanes, esse resultado mostraria que a gramatica universal No espe- 164 tha as capacidades lingtisticas humanas. Portanto, conclui, se admitirmos a hripdtese de que ha universais lingitsticos inatos, precisamos “‘investigar exaustivamente todo © universo, no apenas a Terra, em busca de linguas ‘exdticas inteligiveis’”, O projeto é, enti, inexeqtivel. Esse argumento nie se sustenta por duas razdes. Em primeira lugar, baseia-se numa interpretacao lundamentalmente equivocada da naturezt da investigagdo cientifica, ¢, em segundo, a formulagao & mais uma vez, in precisa demais para ter qualquer peso na discuss20. Considere-se o primeiro pomto fraco, Observamos imediatamente que nio ha diferenga entre uma Piyngua masciana’’ e qualquer lingua inventads. Portanio, nao precisamos “Sinvestigar exaustivgmente o universo"” para descobrir possiveis contra ‘exeinplos para uma teotia proposta ¢ submeté-los aos sujeitos humanos nam teste de aprendizagem. Ao conttirio, poriemos. inventi-los livremente, ‘Apresentada uma teoria de gesmitica universal que forneca um sistema de Universais linglisticos inatos, podemos imediatamente construir Linguas que vviolem os principios postulados e tentar determinar, de um modo ou de outro, se tais linguas sto acessiveis aos humanos & maneire das linguas naturais. Podemos continuar indefinidamente e de varios modos essa busca de contra evidencias. Se isso torna inexeqiivel o projete original, como alega Cohen. {eliminando agora sua irrelevante referencia as investigagdes exaustivas do tniverso”"), entdo qualquer investigagdo empirica € inexeqiivel exatamente pela mesina razio, Mais uma ver, a dlusao critica de Cohen as “linguas Ganas’” meramente enfatiza o bvio: qualquer teoria empirica nao trivial & subdeterminada pelos fetes. ‘Alem disso, 2 argumentagio de Cohen & crucialmente imprecisa em relagio a **possibilidece de apzencizagem’’, Suponka-se que dispomos de tuma teoria GU da gramitica universal. Suponha-se que cispomos de umn sistema L (marciano ou inventado, nao faz diferenca) que viole os universais IingBisticos inatos postulados em GU. Suponba-se que descobrimos que L pode ser aprendido pelos seres humanes exatamente como as linguas numanas comprovadas, ou seja, sob condicies comparaveis de tempo ¢ de ex: posicao aos dudos, com sucesso comparavel, ¢ assim por diante, Entéo, Tejeitarcmos GU, assim como a rejeitanianins se encontrassemes, nas linguas humanas comprovadas, fatos que contradissessem suas suposicoes, Suponha- se, porém, que cescobrimos que L pode ser “*aprendido"” assim como 4 Fisica pode ser aprendida. Esta descoberta nao sos Jeva a refutar GU, assim como ‘lo relutamos GU pela observaciio de que os universitaries podem aprender Fisica tedrica, teoria essa que indubitavelmente viola os principios de GU. Obviamente, 0 espirito ter ontras capacidades, além da faculdade de fingua- gem, ¢ 0 fato de que 2 Fisice {ou uma lingua marciana) pode ser aprendida nada prova de pet sia respeito da capacidade de linguagem. Finalmente, Coben argumenta que abordagens mais simples sfo suficien- 165 tes para explicar a aquisiclo da linguagem e delineia algumes possibilidades. Estas, infelizmente, nio chegar a tratar nem mesmo das propriedades mais, clementares da linguagem que tém sido discutidas na literatara: por exemplo, a propeiedade da dependéncia da estrutura, Conseqllentememt, sttas propostas, como se apresentam, ngo podem ser consideradas seriamente. Quanto a outra possibilidade de que 2 capacidade de empreger transformagees seja sim- plesmente um caso especial de ‘‘alguma habilidade generica", tal proposta é totalmente vazia até que seja especificada a ‘thabilidade genética’” em questio; ¢ a proposta nao é particularmente piausivel, pelas razies ja mencio nadas, A discusséo feita por Cohen & uma das melhores ¢ mais precisas que ja cencontrei, mas acho que ele no apresentor: nenhurn argumento de peso para qualquer de suas conclusdes.4! Cohen ressaita que, se a abordagem que ele ctitica for razodvel e se suas conclusées especificas receberem alguma confir ‘macio, entdo **a causa de uma abordagem de jure ch seméntica cas linguas naturais fica consideravelmente fortalecida’’, num sentido de ‘*abordagem fe jure que ele mesmo desenvolve € refuta. Uma ver. que seus argumentos con- tra a abordagem geral ndo tem nenhuma forca, ¢ uma vez que ela tem pelo ‘menos algumia confirmacdo, segue se que a “‘abordagem de jure da semantica das linguas naturais fica consideravelmente fortalecida’", ao contrério do que ptetendia Cohen, se & que seus raciocinios a esse respeito estao corretos. Na sua discussie mais eiaborada do assunta, em Cohen (1970), mostra: se ainda mais claramente o fato de qt Cohen deixa de tratar das tini¢as ques: ties interessantes que se Jevantam no caso da aprendizagem de uma lingua. Nesse trabalho ele sugere novamente que, com um conceito adequzdo de in- ducio climinatéria, ¢ possivel contestar os argumentos de que um sistema de aprendizagem lingbistica deve ser do tipo R. zal como proposto em Chomsky (1965) € ¢m outros trabalhos, alega ele ainda, pelas mesmas razdes, que uma “estratégia geral de aprendizagem”” deveria ‘dar conta do problema”, O método de indugio propasto por ele pressupse, “em primer lugar, am de: terminado conjznto de hipéteses universais materialmente semelhantes, onde a semelhanca material definida sobre um tema... em segundo higar, um conjunto de variaveis naturais... que sao indlativamente relevantes para estas hipdteses"” (em seguida, pressupde um método de modificar hipoteses, de as mover para hipdreses mais elevaces ¢ de idealizar e rejeitar oertas elementas, tais métoxlos, porém, nunca slo. especificadas). Mas infclizmente para sua argumentagio, a questdo em, debate era a natuteza e a origem do conjunto inicial de hipoteses universais e as ““varidveis naturais'’, e sobre essa questio Cohen nada tem a dizer.*? Em Chomsky (1965) ¢ em outros trabalhos, afir- mouse que a delimitazo dessas hipdreses deve ser feita em termas de principios co tipo R ¢ no E, e muitas propostas especifices foram apresen: tadas, A abordagem de Cohen € tio vaga e inexplicita que no podemos 166 determinar se & do tipo R on E; nem podemos descobrir, 2 partir de suas posicdes, qualquer das propriedades relevantes. Ele simplesmente estipula que ‘sua “estratégia geral de aprendizagern’” se baseia nu conjunto inicial. de hipéteses ndo-especificado, uma tecnica (ndo especiticada) de modificagtes de hipdteses. uma escolha (nic-especificada} de variaveis relevantes, uma “Timitagao inicial de “‘relasivamente poucos conceitos”” (nacrespecificados), & assim por diante Nio se pode fazer abjeco a “‘um mecanismno indutivo de aprendzado da linguagem’” que “permite formular e testar hipéteses"", como uma “'ten- déncia A generalizagdo [que] 0 levard a formular hipéteses sobte as relagdes fentre as variaveis [relevantes] que vio incluir e explicar as hipéneses mais ele- mentates que ja tenham sido estabelecidas””, Nenhuma das questdes que nos interessam é esclarecida por esves comentirins, nem. pelas referéncias “con finnidade de uma metodologia indutiva que vai da primeira ordem, a das generalizacdes elemencares, passando pela segunda ordem, a das generaliza goes correlacionais, & terceira orem, 2 das generalizagbes (edricas’”, hem pela admissie de um “'mecanismo [que] sempre constréi as hipéteses ais ousadas possiveis sabre os dados inicialmente observadks..."", Ao con- teatio do que diz Cohen, ‘parece que & anélise proposta para o raciocinio i dutivo ndo «az nenhum esclarecimento’’, pelo simples fato de que essa analise se limita a refutar a discussao em todos os pontos crucizis. Cohen acredita que “*o numero de variivels relevantes na sintaxe & muito menor e de importancia muito mais reduzida, e suas hiporeses mais facilmente testaveis do que na maiotia dos campos da citncia natural”. Segundo ele, essa € a razdo pela qual as criangas aprendem uma Kngua com ‘mais rapider do que nés 0 resolvermos um problema de ciéncia natural, Nao ereig que ele continuasse defendendo 2 mesma tese se tivesse tentado for rmular of principios que regem a Enguagem ¢ seu uso. Cohen sugere ainda ‘que “*cuanio mais absteatos sio os canceitas invocados [na teoria finghiistica), tanto mais plausivel & supor que, se snatos, tais Conceitos representam cerras capacidades gerais que tem inumeras aplicagdes"", mas no apresenta ‘nenhum argumento razuavel em favor dessa tese*, além de afirmagdes como a seguinte: “*Por certo ndo € bvic... que a dependéncie estrutural de, por ‘exemplo, ums transformagic interrogativa & substancialmente diferente da dependencia estrutural de um salto indivichal no jogo infantil da amare- linha’", Mas parece dbvio que as das coisas sito “‘substancialmente diferen- tes", uma vez que nem mesmo a nocdo de ‘'estrutura sintagmatica abstrata”” aparece no jogo infantil, e, portanto, a nogo de *dependéncia estrutral’* indo rem nenhume aplicagio no trivial nesse caso. Cohen observa também que ‘ainda estd para ser apresentado — na litera tura psicoldgica — um falante de inglés no qual se tenham observade os dis 167 fatos seguintes: ele conhece determinades traces sintiticas; ele nao teve ‘nenhuma experidacia que se constituisse em evidencias do primeira fato’’. Isto & verdade, mas por razdes quase sem interesse. Jamais se coletou a experi encia lingtlistica total de qualquer falante; conseqiientemente, no tems cer teza de que deteraninados falantes que observem o principio da dependéncia da esirutura, por exemplo, nio foram explicitamente ensinados a produzir (15) € niio (14) (ver p. 138}, embora sea dificil acreditar que todos os falantes tives- sem recebido essa instruc especial, Tratase, novamente, de uma questio ppuramente empirica, e se alguém quisesse executar a tediosa tarefa de demons: tar que os falantes observam o principio sem serem especialmente infor- :mados de que (1.4) ¢ casos similares so inadequados, esse investigador ji sa- beria como proceder. Em resume, é totalmente infundads a convicgdo de Cohen de ter demons: trado “a importincia da logica indutiva para uma tecria adequada da Kingua gem", on de ter apresentado algum argumentoscontra tcorias da apren makentencido quanto 20s problemas em jogo no estudo ds aprendizagem. discutido sor Pylyshyn (1973), 14. As diterengas entze ratos ¢ homens niia podem ser, neste axpecto, ateibuidas apenas a ‘capacidade ce processamenta sensorial; or rtos tém modalidades senscrias que pode ‘om prineinio, ser usadas na linguagem. Tentativas recentes para ensinar siste~ fas simbolicos a macacos lomeceriam esclarecimentos sohe as capacicades diferenct- ais de macacnse seres humans relativamerte a fuculdece de Tinguagem. Um estado steressate mestra que désicos globwis com leszes no hemisfeio esquerde € uma ce: pacidade de Lingusyem seriamence diminuide podem ser treinados pela aplicagdo dos ‘métodon usalos nos experiments com macacos (Glass, Gazzaniga ¢ Premack, 1973). ‘Um trabalho mais exidadoso neste eume poccria ser revelador no que diz respeito a dererminagia de propriedades especficas de esceuturas neurais (@ lateraliracio, por exemple) que provavelmente explicam as diferenas quaitaivas entre sezes humanas © ‘outros organismios quanto d sua capscidade pare séquiir estruturas cogoitivs. Talvez tenka algun interewe o fato de o mica exemplo conheciée de latecalizacte fora dos eres Beineags ser umm case de controle de ura canglo por uma espécie de plssaro ‘cantar (Noxtebohe, 1970), 15, Pars uma explicagie de rara sofisticagZo, que me parece, no entanto, softer de ums versio qualficada desta formulagao equlvocs, ver Reber (973) 16, Alston (1963). Alston, ao menas, parece acitar esta parte de um argumento & favor de uma “anilise de uso"? por ele comentada. 17. Neste momento, a analogie ni pcetia if mais lange. Assim, relagso entre meu sto Ge fazer prosain eobre 0 acelerador ¢ 0 movimento do carro & vxplicivel em fermas de leis fsicas conheviday, © parece néo haver caado pars duvilar que atingir 0 conbeci ‘mento de uma lingua esta dentzo do Ambito potencial dessa parte das ciéncias naturals ‘gue & bern coapreendids. Deixa, contude, em aberto a questio de saber se se dio mesmo no use de ojusners 18, Fm sua ulina anilise, Nunca ¢ facil dizer quando ume evidencis dpaentemente contréra nos deverd fazer abandonar uma teori. C padeciaacsibuir so seu sujeico va 194 19 2, a 2 2 2 2. sos sistemas de erence, qua’ poxerium levar a erengas contradérias, Ito levante pro blemas que ndo pretend tratar agus ‘Mais uma ver, sucgiriam ay comhecides © inevtaveis coatingencias da investigagie ‘espiries, Nao se rem garantias de que a melhor teoriaelaborada corn base ent dado: ‘come (1}--{13) sera cortetd, o estude de dados suais amples (peste caso, do desern eno} poders mostear que s¥e espirias ov prinipias que nos pareciam sec explicati ‘ose aulsnticos © gue es enetalizasties denccbertas no acidentai. A inwestigaglo dt (oria do desemenho pedors evar diferentes teocias da competencia, No ee trata aqui de questoesde pricipio, spesue cle emits vezes se ter srgumentado come se as sim fosse, Retosrarei mais adunte os exemplos citados. Para uma explicagta que me parece, demos geral, cuidada e perspicaz, ver Pylyshya (1973), Sobre 4 possibilidade de uma explicagfo ent termas de "saber como", ver Chomsky 19753) Para argumentas a favor desta decisdo, ver Graves, Katz ¢ outros (1973). Schwarz (1949). CE. também Goodman (1969) para comentérios semelhantes, ¢ as sminhas observacdes em Chomsky (1975). Compare-se a observacHo correta mas 10 ‘alemonte ieolovance de Swartz cornu abservagto de Beloit de que os dados nto nos forgam" a uma concluste especifica (ver nota 8) Para uma discussS0 destes problemas, wer as referéacias dn nota 7. Para outro exem- plo, ver Jackendott (1974). ‘Quine parece partir da principio de que alguns sistemas geamaticais existentes pode HHo “dirigir”’ flantes dinarmarqueses de inglés que aprenderam inglés por ests ze ‘ras. Eacreranco, afiemagae de Quine de que as gramdticas anuais “"sdo realmente deticionces... om costes poms” € uma airmugzo muito uml. Alem disse, ago ha rarbes para crer ques uma pewsna pedecia coscientemente dominar uma gramética como tim gia de corspanamenta. na sentide de Quine, As pesiots, ao conttirio, anecadees a lingua 2 patric de gramiticas pedagOgicas através da etlizagzo da sua ramitica universal mncanscieme (¢,is1, pelo que até agora sabemos, € wevitével. ex ‘rincipio). Deste modo, nenkum fslante dinumargués precisa aprender por um Livro que (14) 86 € 2 pergunte aworiada 2 (16), ou que frases em inklés como (2) — (13) tm as propriedaces dererminadss pela CSE. E, se ivessem de tornar conscientes 0s rineipins que canduziram s estes reswhradas, ado ha davida de que estes prineipios hige podeviam set aplicades conscieatemente, a0 vergadeiso momento, para "dis fee” v deseinpenho, Para un discussdo, ver Chomsky. Halte, Tukoft (1955): Chomsky e Malle (1968): Beesrarn (19735). Chonisky (1%64.19604). Ver nota 3 Recomtleos, mais uma vez, odarninio do “riodelo de eaducto™” de Quine, que de se ser uncesilido cone incluindo o probleme de compreender outro falante da mesa ng, aprender usis primetss Bngua,¢ winds 8 estado de uma nova lingua realizado pelo lingaista Para oma propesta semelbante, ver Miz 1973). Ha também neste ultimo caso idealizagdes canhecidas. Assim, nenhum fisico se preaeups com o fat de a le de queda des corpos poder “falar” se algudm conse ‘gui apathar uma pessoa gue est caundo, antes dela tocar no chio: este ato nia po de tante quanta saberor, ser previsio ou explicado pela Fisica, Para(rascando 35 obuervayses de Schwarts sobre a Lnguagen, anterioemente citadas. e com hast as 195 0 ML 2. 3. H 3 aliemagtes do mesmo, deverlamas, entfo, concluir que a Fisica é uma ciencia aca, it ‘que qualquer lato que desrespeitasse os seus principio ficaria automaticamente fore do Amita de suas previsdes, ‘As respostas de Quine a outras critces ¢ vidas que levantei no mesmo artigo ape: ‘as evitam ou apresentam mal os problemas. Por 50, salientei que a sus caracteri acto da linguasom da sprendizugem de urna Kingus, caso fosse tomada @ letca, en tania em confit com os truismos que ele proprio aceita, coma, por exemple, © de que urva lingua ¢ iofinta. Em eesposta, Quine apenas tetera o que sfirmei, de modo bem explicit, isto €, aceta naturalmente esse trulsmo. Mas isto nfo responde 4 cet tica que considera a sua posicHo incoerente com © iruisno que aceica, Pretende tam: bém, ercadamente, que eu Ihe tenba atribuido a teria de que “‘aprender sentengas”” implice “apenas sentengas come um tedo nio estrutursde”; na verdade, o met co mentario dria respeito a todos os mecanismos que ele propbe para a aprenizagem de uma lingua, inclusive o que ee cita na sua resposta, Nao pretendo aqui reexamtinar & ‘uestic ponto por ponto, mas uma comparagie acurada da sua resposta com as ai thas eriticas ¢ pedidex de esclarecimento mostrirk que, em nemhuta cos cas08, se ‘undo creie, compreendeu o problema ou que simplesmente ineerpretcu mal © que ise. Os problemas em Quine (1960) cuntiouam, a meu ver, exatamente como os refer, Em Chomsky (1969a) sublinhei ¢ titulo de experiéncta que Quine parece utilizar “reoria™™ € “‘ingua"” inditereatemente em contextos como estes. A sua resposta (Quine, 1969, p. 310) mostra explicitameare:" Lingua ou teoria @) ume estruturt cot “rede de sentencus assaciadas ums ds outrase ¢esthmlos exteros pelo mecanis ‘ma de resposta condicionada'"". E absolutamente impossivel coracterizar ura teorit estes termas, alért dos problemas envolvios na andlise da lingua. ‘Se uma lingua € uma estratura de senteneas e estimulos associadas, ¢ & substixuigho de “hand”? (endo) por “oot” épe) ao contexte “'my — hors" (meulminka — dai) por “sintese analégica” consttai uma forma de “aprender sentencas™ (exemple de Quine, entio este caso de sintese analoviea deverd iroplicar um modo de “associa: ‘ofo"", Esta conclusie, no entanco, despoja de tods signiticagto 0 concelto de "2s- Sociagio” Estas viservacdes aoa cesposta A sninhe dUvid sobre que expécie de espago de qu dade vinta Quine em mente, Notei que seus exemplos sugeriam que ele estava se res. tringindo « certas dimenstes com simples correlates fsicas, embora ele me patecesse teotado a acitar neste esquema ume versio forte da teoris das ideiasinatas. Ora, se ts exemmples ado fossem representativos, ficariames sem saber qual a base da apren- dzsgem, ia que pederiemmos wmaginer umn espego de qualidade com dimenstes tho abstratas que, por exernplo, o conceita de “sentene em inglés” pudese ser imedit: temence “aprendido™ por '*generatiacdes”. A relecéncia a Goodman (1959) ¢ indi ‘eta, mas creio que intencional. ‘Mesino que existisse ona nogdo corrente de tendido, Retomarei detamente esta questio. Pouco mais adiante, impde # exigéncis snuito mais cestrita de que “alar de ideias -rostease insatisfatorin, exeeto 30 sentido em gue pode ser parafreseade em termos da disposigoes pars ums comportamento obseruivel” (o grifo é meu). Esta skiea exigencia parece-me muito pouco razodvel, tanto em Psicologia como em qualquer outro ranma da cigncia. Quine em outra parte insste que, "paca tortar logica a hipé ‘ese de ques construct de suieito-predicado ¢ um universal lingustico, temas ne- expaco de qualidade” no sentido pre 196 36, a 38 2B. 40, 4 cessidade de um erierio inegulvoce de suieite e predicado com base no comport mento" (Quite, 1972). Al este, mais uma vez, uma teatativa totalmente ilogica de impor umn canceito teorice camo ‘'sujeito"" ou “*predicado"”. Para "tocnar logica a hipotese"", bastacia certamente savsfarer a exigencia de Quine (1969). Cohen (1966), pps 47°56, para estas ciagbes e seguintes. Em Chomsky (1965), sageri que E, 2! como ali fora esquetatizado, inclu abords ens como as da teoria da aprendizagem de Flume, de Quine (1560), da maior parte da reorias “lo comportsmento”” que tlm sido apresencadas com wd claseza, « de teo ros da linguistics estrutural (com exceydo de alguns elemensos da eoria des ccaces distintivos), caso fossem interpretades como teocias da aprendizagesn. TLembcemes que a mesma pretensto errads foi proposta por Schwarls. Vemos com ‘erta Hreautncis argumentos semelhantes. Considere-se, por exemple, @ sepuinte Birenagéo de um ceitico andnimo publicads ni Times Litzrary Supplement, de 12 de ‘outubro de 1973: "Que provas ternos nds de que os lalantes desenvolvemn vegras de scordo com as estrucuras profundas de Chomsky? Sem divide os transformacionalis {as.ainds nao forneceram. Nem parececntenta fart To, para justia guns gramsci as, recorrem regulasmente critérios ogicos de simplicidade e generalidade"”. (Su pone gue por Mestauturss profundas"” o eriice entende alge come “graméticas'™.) Os “transformacionalistas'” argumentary que faiantes desenvolvem sistemas espe- cilicos de cegras gramaticas e tentam explicar, nesta base, indmeros fetos acerca dt forma e da interpretagéo de enunciaghes. Apteseataram, deste modo, provas subs ‘tenciais 4 favor de (@ moitas veres contra) hipoteses especificas sobre as regras de- senvolvides pelas falantes. O critico acha que isto odo é provas € necessirio algo mais, Soponha-se que us cientsts a0 iavestigar deteeminado mecanismo chegasse 4 concluste de que a sus estratura é x, recorrendo a crtérios de simplicidade gene: tulidade, juncamente Lom as provas que recolheu ao estudar o seu comportements.. Nos peds@es do critico, no interessam as provas que © cientista apresenta, uma vez ‘que siada ndo fornece provas a favor de sia hipotese acerca da esteutura do meca: niismmo; € necessario algo mais, Tal como ne eato de Cohen, Quine e Schwartz, temos gui um reflexo da curiosa fata de vontade de lidar com os seres humanos como par te do mundo natural, de acordo com 02 madelos e mecados da iaverligagta cientlice. E eigno de now que om orks estes casas «autor se Lorsidera deeedendés uena chord xifica do eseudo do comportamento Iurmano. (Gx seis,ccorias que se situam entre os limites superiores e inferiores impostos peles exigéacias empicicas, jd discuidas: paricularmente, as que sitisfazem 0 “porto in- discutivet da linguager:” citado por Quine. Cl. pp. 169-178 ‘Observe-se que, se © projet crticado por Cohen fosse simplesmence impeatictvel pe la necessidade de ‘‘vasculhar o universo™ para recolher provas relevantes, fcaria de ‘mostrade que postular universas ingUlsticos no € “‘pretensdo tautologica"”, contra rtamerte ao que Cohen anteriorinente afiraiava, jd que partindo desta hipbtese no cexister, por principio, provas elevates. Goken alisma que as mintas alusies hiwdricas a Descexese Leibnir sio inexatas prio {aro de Descartes ¢ Leibniz negerem que 2s ideiasinatas explicam a compettncia lin Uistics. Sem entrar neste ulti questo, eejeito, mo entanto, a critica, uni ver yee jamais utribui » Descurtes ow Leibniz as concepsdes que, a opinito de Cola, feitam (além disso, mecciones ese elemento nas convieger de Leiba ¢ utr; «t Chomsky [1966]. p. 99). Discuti ao contrévin, ides como estan, gine farann ewe wit 2 a 44 4% 6. a. volvidas por muitos eutzos, incluindo cactesianos de diferentes graus de ortadoria As refertacias a Descartes ¢ Leibeiz foram relevantes pare ous partes dz minha discussio e, tanto quanto sei, foram bastoote cuidadas, contrariamente ao que aftma Cohen. ser ergumentas ou stag3es ‘Mats precisamente, far algormas nagestdes especticas, ainda que, a meu ver, irreme davelmente inadequedes: por exermplo, 2 sugestao de que a “’mulpheidade de con ceitos eavolvides"” em "generakzaches sobre a estrutura de superbcie™ pode see redurida a dois bicos ('sentenga" ¢ "nominal’), se aceitarmos para 08 outtos uma forma de derivacio corns a que utikeam, as gramaticas categorisis””. Ver Chomsky (1968), para alguns comentitios sobre as propestas anteriores para o mesmo eit, Na apresenta argumenta com base nas “oncepgdes darwinistas de evoluglo”’, re- conhecendo que tals explanagbes fo '“um tanto especulativas””. Esta & uma exposi Glo incompleta. Av contrarin do que Cohen pretende, nada do que conhecemos so: bre os mecanismos da evolugi sugere que ‘"a tare de explicar ¢ satureza inata de determinadas principios expecificamente sintaicos em termeos de evelugdo darwinista ‘em principio, nhulto mais dell do que ae explicaro cardter inato de certas caps Cidules ais genericas™, © argumente de Coben ¢ anilogs ae argumento de que as fpesoas aprendem 4 undae (om ver de, por exemple, rolar) ov apcendem a fazer crew er os brago8 (em ver de apéoaices arbitrévios) com base no fato de que « tarels de fexplicar ¢ naturezs inata de formas expecificas de locomogdo [ou membros) em ter mos de evshiio darministe &, em principio, mais dificil do que explicas o carater ina to de capacidade mais gencrica (tendléncias). Se guisermos prosseguir nesta: espe cvlagies, podemon considerar sinda a pretensio de Cohen de sie a descoberta cen ‘fica avaniga através dhs mesmon mecsaismos que 2 apreridizsgem de um lingua Mas, come unterioranente es observada, nao hovve nos séculos au milaos passados fuunlguer vantagem de selegie ea capacidade de descobric 03 prancipios da teoria ‘tudntice, emisora hala uma vantagem pstente de seiecdo na capacidade de descabrit & Ungeagers da comunidace lingtistca de um individuo. Por conseguinte, se quiser- mos levar em coate tais especulagdes (eu ndo Jevo), dfcilmente encontrarenes fan~ damento para a8 conclusbes Ze Cohen, [Note-se que ‘'compardvel"” nde € singnirmo de ‘“identico™ Searle respondew a Gewirtt (Searle, 1973], mas genso que ay observagdes de Gewirth continua de pe. ‘Meditations (tad. Haldane © Ross. 1955), 1191. Ids semelkantes foram expresses for autres, antes e depois de Descwetes. Cl Chomsske (1968), pp. 79. 108, 112 ¢ ou tras, Cl. ambém cap. 1, pp. 10-12, Também outros fretam afitmasées somelhantes. Assim, Verdier diz que "Descar. (es ieaging uma gramazica ‘geraziea’ c uma semamtiva de sua lingua, que correspon deciad estruturs neratva do peasumemto"”, embora nao percebesse “que uma insta natural se aprovims deste ides!”” (1972, p. 181). Fund esta conclusic oas observa ies de Descartes relatives a uma Linguygem inveatada pressuponcio “verdadeica fi Tosefie” aquela era que uma infinidude de palaras(¢ pemsarsencos) pc set enumetie da. Em Chomsky (1966, p. 84) cite obeervagbes vemelfantesfeitas por Ga 198 48. %, 30, SL los gramisicos de Port Royal, sem, no eetanto, chegar a conclusio de Verdier, que me parece discutive. ‘Ch a discssio das “fundomentos da ciéneia™, acim ¢ em aeferéncias anteriores citadas; também Chomsky (1970) © mais 0 material reeditade em (19736), CL ainda cars, 1. “Todas es citages que se seguem si de Hume, Enguity Concerning Human Under ending (Selby Bigge, 1902). ‘Comparer se os camentarios de “instinte natural’? apresentados por Lord Herbert com a sua discussio de que o sistema de nogdes comuas & "aquela parte do conhe cimento-com que formas datados no plan primitieo da Nacurera’*, Pera vin discus ‘sto nom contexto afim, vee Chomsky (1966). F incidentalmente forte demais dizer que o “empitisme limitado™ de Hume *‘rejeita © conhecimento inato"” (Bates, 297, CE, Cooper 61972), Chomsky © Katz (1975). ww

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