Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
Reflexão Crítica
Pretendo com este trabalho proceder à análise crítica do novo modelo de
avaliação das Bibliotecas Escolares, sendo este um “instrumento pedagógico e de melhoria de resultados”; aferir sobre “a pertinência” da sua aplicação às Bibliotecas Escolares em geral; a “adequação” da sua “organização estrutural e funcional” e os eventuais “constrangimentos por esta provocados”; a sua aplicação e respectiva integração na realidade de cada escola, e ainda, as “competências” de que este documento pressupõe ser o professor bibliotecário portador, e as estratégias onde vai basear-se para a sua prossecução.
Actualmente a nossa sociedade de informação cria novas exigências
quanto à capacidade de cada indivíduo para compreender e usar a informação, de modo a desenvolver novos conhecimentos que lhe permitam melhorar cada vez mais a sua actividade profissional e pessoal como elemento social.
É neste contexto de uma sociedade de informação em múltiplos suportes,
que se integram as bibliotecas escolares, que necessitam reformular objectivos, estratégias e tarefas a desempenhar. De meras gestoras de informação, cuja preocupação essencial era a qualidade e a quantidade da colecção, em articulação com os docentes e alunos, passam a gestoras da qualidade da aprendizagem, que se reflecte na aquisição e mestria de conteúdos curriculares, competências na construção do conhecimento e desenvolvimento da compreensão e espírito crítico. As palavras-chave de acção da biblioteca são agora: Informar, Transformar e Formar. Processo difícil, complexo e exigente que mede a sua acção pela qualidade de desempenhos e de resultados obtidos. Só assim os nossos alunos estarão preparados a enfrentar os novos desafios da Sociedade de Informação do séc. XXI.
Para conseguirmos obter resultados com este novo modelo de auto-
avaliação torna-se necessário, através de uma auto-avaliação, uniformizada e rigorosa, comum a todas as Bibliotecas Escolares, orientar os professores bibliotecários nas suas novas tarefas.
Com base em vários estudos internacionais que demonstram a importância das
práticas de avaliação nesta área, o modelo de auto-avaliação da BE, “Bibliotecas Escolares: Quadro referencial para avaliação”, apresentado pela RBE às escolas, parte do pressuposto de que “a Biblioteca Escolar constitui um contributo essencial para o sucesso educativo, sendo um recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem.”Para que tal se concretize é necessário que a BE: seja integrada na escola de forma institucional, referenciada no PE, PCA e RI, integrada no processo de ensino/aprendizagem de acordo com os objectivos educacionais e programáticos da escola, que desenvolva competências de leitura e de Literacia da Informação, integradas no desenvolvimento curricular, articule com Departamentos, professores e alunos na planificação e desenvolvimento de actividades educativas e de aprendizagem. Este modelo encontra-se dividido em quatro domínios, a saber: Apoio ao Desenvolvimento Curricular; Leitura e Literacias; Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à Comunidade; Gestão da Biblioteca Escolar; de forma a orientar o papel das Bibliotecas Escolares no “seu contributo para as aprendizagens, para o sucesso educativo e para a promoção da aprendizagem ao longo da vida”. Para que o professor bibliotecário não se desvie desta sua tarefa é fundamental uma avaliação contínua do processo que permita aferir e medir “o impacto que as actividades realizadas pela e com a Biblioteca Escolar vão tendo no processo de ensino e na aprendizagem, bem como o grau de eficiência dos serviços prestados e de satisfação dos utilizadores da BE.” Uma avaliação ponderada da BE, permitirá contribuir para uma adequada gestão e para a afirmação e reconhecimento do seu papel, determinando até que ponto os objectivos estabelecidos estão a ser atingidos, identificando práticas de sucesso e pontos fracos a melhorar, de acordo com os objectivos a que a escola se propõe, incorporados no seu Projecto Educativo. Só assim se poderá construir uma biblioteca escolar de qualidade, fundamentada em práticas equacionadas com o rigor científico de uma constante reavaliação pedagógica, pensada conjuntamente por bibliotecários e professores, atendendo aos resultados dos alunos É através de uma recolha rigorosa de evidências que as Bibliotecas Escolares poderão tirar conclusões acerca do seu trabalho e afigurar-se, aos olhos dos demais docentes e órgãos pedagógicos das escolas, como uma mais valia para a qualidade de aprendizagem dos alunos.
Uma prática baseada em evidências centra-se nos resultados dos alunos,
justificada pelo desenvolvimento de novo conhecimento, evidenciado em expressões, tais como “questiona, tem espírito crítico, tira conclusões, aplica conhecimentos a novas situações, participa eticamente e de forma produtiva como membro de uma sociedade democrática (…)”.
É através de uma prática baseada em evidências que questões como: Como é
que as Bibliotecas Escolares podem ter impacto na aprendizagem? Como ajudam os alunos a aprender? Como assegurar que as nossas Bibliotecas são sustentáveis e responsáveis, em termos de infra-estruturas, pessoal, recursos e processos de instrução, de forma a conseguir optimizar resultados escolares? Poderão ter resposta e colocar a BE como pólo centralizador de aprendizagens, local de informação, transformação e formação de utilizadores?
Para que tal se concretize é necessária a colaboração entre os professores
bibliotecários e os restantes docentes na identificação de recursos e desenvolvimento de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do aluno; a acessibilidade e a qualidade dos serviços prestados; a adequação da colecção e dos recursos tecnológicos.
Nestes últimos anos verifica-se um grande interesse da tutela pelas Bibliotecas
Escolares mediante o esforço desenvolvido pela RBE na sua integração, no entanto, ainda há muito caminho a percorrer.
O Professor Bibliotecário, qualificado e agora afecto à biblioteca a tempo inteiro
(ou como é o meu caso a meio tempo), necessita de uma equipa que lhe permita assegurar rotinas inerentes à gestão e que articule e trabalhe com a escola, professores e alunos. Para além disso, o tempo de que dispõem semanalmente para trabalhar na e com a biblioteca, muitas vezes é escasso (3, 4 horas no máximo), não permitindo senão orientar pontualmente alunos em tarefas escolares, impedindo um trabalho mais sistemático. A articulação da BE com os restantes docentes para a melhoria das aprendizagens ainda é um caminho a desbravar, devido à resistência oferecida por alguns. O elevado número de reuniões pedagógicas, a indisciplina crescente dos alunos e a exigência cada vez maior de uma prática pedagógica que fomente a auto- aprendizagem e a construção do conhecimento, são sentidas como uma sobrecarga excessiva que muitas vezes os desmoraliza e desmotiva.
Os problemas socioeconómicos com que se debatem as famílias, reflectem-se
em problemas afectivos sentidos pelos alunos, que encaram a aprendizagem com dificuldade por sentirem necessidades mais básicas por superar.
A preferência dos alunos pelas novas tecnologias em detrimento do documento
livro, usando-as quase exclusivamente para jogar e demonstrando muita dificuldade na resolução de actividades de pesquisa e selecção de informação.
Aqui se revela a importância do papel de liderança do professor bibliotecário
que, segundo Michael Eisenberg, no artigo “This Man Wants to Change Your Job” para além de especialista de informação, gerindo uma colecção adquirida e avaliada em parceria com outros elementos da comunidade educativa, incluindo alunos, e criando acessibilidades na aquisição da informação, é também, e fundamentalmente, o administrador de um programa, trabalhando colaborativamente com os outros membros da comunidade pedagógica, definindo programas de acção, guiando e dirigindo actividades da BE com eles relacionadas. Alguém com mestria no uso da informação e das tecnologias de informação; com habilidade para fornecer conhecimento, visão e capacidade de liderança; com capacidade para planear, executar e avaliar o programa com regularidade e a diferentes níveis.
Para a execução de um papel tão importante é necessária uma formação
contínua e o apoio e colaboração de todos os outros docentes, pois só em articulação consertada e empenhada se conseguirá caminhar para o sucesso da missão da escola que é a qualidade da aprendizagem, ou seja, conseguir que os alunos se tornem “utilizadores de ideias e informação”, tal como preconizado em Information Power (ALA, 1998).
Os tempos vindouros não vão ser fáceis, mas interligando o programa da BE
com as iniciativas levadas a cabo pela escola, as suas preocupações e prioridades através da criação de um grupo de trabalho que envolva elementos dos diversos sectores ligados à comunidade educativa, incluindo pais, de modo a demonstrar que a BE se preocupa com todos e é de todos.
Quanto às competências requeridas pelo professor bibliotecário para que a
aplicação deste modelo seja exequível, são tantas e variadas que receio esquecer-me de alguma: “ As an information specialist, the school librarian provides leadership and expertise in acquiring and evaluation all Kinds of information; builds collaborative relationship with teachers, administrators, students, and others; creates strategies for locating, accessing, and evaluating information withing the and beyond the library media center (…) Esta intervenção de carácter profissional é condição indispensável para “ …equips students with lifelong learning skills and develop(s) the imagination, enabling them to live as a responsible citizen…” (TODD: 2001). Estas exigências requerem que o professor bibliotecário detenha capacidade informacional; capacidade transformativa; capacidade formativa; capacidade de liderança, autonomia; cooperação, gestão de recursos documentais e humanos, organização e avaliação. Deverá ter também capacidade de negociação, markting, antecipação, mediação, selecção e avaliação de recursos, criatividade, domínio das TIC, domínio das novas correntes pedagógicas, familiaridade com o processo de e-learning, conhecimento da política educativa, conhecimento dos métodos de ensino aprendizagem mais utilizados no seu local de trabalho, e ainda, espírito de iniciativa/proactividade.
O professor bibliotecário deverá, por isso, agarrar todas as oportunidades para
se tornar facilitador de aprendizagem:
• aprofundar os seus conhecimentos especializados ao nível do tratamento
documental;
• implementar instrumentos de avaliação, de selecção, de aquisição e
desenvolvimento da colecção;
• planificar correctamente a coordenação do trabalho a desempenhar pelos
membros da equipa e colaboradores (distribuição de trabalhos rotineiros para poder executar os trabalhos pedagógicos);
• definir prioridades; conhecer bem o currículo nacional e proceder a uma
articulação permanente; • reconhecer a importância fulcral das tecnologias na sociedade de informação;
• estabelecer quais os dados que importa recolher para avaliar o impacto
dos serviços da BE nos resultados escolares dos alunos;
• criar todo o tipo de instrumentos de recolha de dados relevantes,
analisá-los, tratá-los e divulgá-los.
Para além de tudo isto tem que corresponder à necessidade premente de
dotar os alunos de capacidades de aprendizagem ao longo da vida, pelo que terá que investigar continuamente novos processos de ensino- aprendizagem.
Embora haja um longo caminho a percorrer, as orientações fornecidas pela
RBE, as leituras efectuadas, a formação contínua e a gestão partilhada on- line por todos, ajudar-nos-ão a obter sucessos numa prática que se pretende baseada em evidências.