Você está na página 1de 5

O MODELO DE AUTO-AVALIAÇÃO DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES

Metodologias de operacionalização (Conclusão)

Análise e comentário crítico

às referências sobre as Bibliotecas Escolares/Centros de Recursos

em três Relatórios de Escolas Secundárias com 3º Ciclo da IGE

Escola Secundária da Rainha Dona Leonor/Centro de Recursos Educativos Multimédia/Carlos Carvalho


1. Contextualização e justificação da amostra

No âmbito da 2ª tarefa da sessão 6, a análise efectuada incide sobre os relatórios da IGE de três escolas da DRLVT da cidade de Lisboa, durante
o ano lectivo de 2007/2008. As razões da escolha justificam-se devido à necessidade de melhor compreender e explicar, no meio urbano, em que
medida os Relatórios da IGE reflectem as preocupações actuais relativamente ao desempenho da BE/CRE, na organização de cada escola. Mas
também, de que modo, o cruzamento e conexões dos domínios e subdomínios do Modelo de Auto-Avaliação Escolar estão ou não presentes nos
relatórios de inspecção realizados através dos domínios e factores de Avaliação Externa das Escolas. Deste modo, esperamos contribuir através
de uma pequena amostra deste tipo de unidades de ensino, para uma visão global do universo das escolas portuguesas.

Do ponto de vista organizacional, os relatórios da IGE destas três escolas com uma tipologia similar, apresentam diversos aspectos comuns na
estrutura, funções, procedimentos comportamentais e decisionais dos intervenientes (órgãos de gestão de topo e intermédios) no processo
educativo. Os números da população escolar (discente, docente e de assistentes operacionais) são semelhantes, bem como os cursos regulares e as
alternativas, entretanto criadas no decorrer da última década, para tentar superar o insucesso educativo e o abandono escolar, através dos Cursos
Profissionais, Cursos Técnico-Profissionais, CEF, EFA e CNO.

No quadro em baixo representado, verifica-se não existirem disparidades notórias no modelo de desempenho destas escolas, nos domínios dos
resultados, prestação de serviços, organização e gestão escolar e liderança, pois a avaliação é de “Bom” ou “Muito Bom”. No entanto, a
capacidade de auto-regulação e melhoria denota, pela avaliação de “Suficiente”, algumas dificuldades em estabelecer novas estratégias de
actuação, na relação entre a tradição dos hábitos e rotinas institucionalizados e a renovação interna necessária à melhoria, perante as mudanças
sociais e organizacionais, ou os obstáculos na aproximação ao ambiente externo.

Avaliação dos Domínios de três escolas pelo IGE


Domínios Escola Secundária Escola Secundária de Escola Secundária do Professor
da Rainha Dona Leonor Vergílio Ferreira Herculano de Carvalho
(26 e 27 de Novembro de 2007) (22 e 23 de Abril de 2008) (23 e 24 de Abril de 2008)
1. Resultados Muito bom Bom Bom
2. Prestação do serviço Muito bom Muito Bom Bom
educativo
3. Organização e gestão escolar Bom Bom Bom
4. Liderança Bom Muito Bom Bom
5. Capacidade de auto- Suficiente Suficiente Suficiente
regulação e melhoria da escola
2. Importância da BE/CRE e da RBE em contexto de análise factorial

No quadro de análise representado a seguir, podemos distinguir diversos aspectos, em cada um dos domínios, tendo em atenção a análise de
conteúdo efectuada:

1. Resultados – a referência ao papel da RBE, surge em conexão com a valorização e impacto das aprendizagens (1.4), no qual tem
certamente um papel fulcral a BE/CRE, mas em conjunção com outros planos e programas de natureza curricular (Língua Portuguesa e
Matemática), bem como pelo concurso de aquisição, utilização e aplicação das TIC, fomentada pelo programa CRIE. Estes factores
contribuem para o sucesso escolar dos alunos (1.1).

2. Prestação do serviço educativo – o Programa RBE, aparece novamente em correlação com o Programa CRIE, no âmbito de iniciativas
de valorização dos saberes, da aprendizagem e do conhecimento (2.4), directa ou indirectamente na prática lectiva, em actividades
extracurriculares e em conexão com a BE, na edição, produção, publicação ou difusão do jornal da escola, enquanto órgão difusor da
informação e da comunicação. A BE dinamiza e proporciona também o contacto com intelectuais e escritores. As Acções de Formação
formais (2.2) ou núcleos de estudos informais, estão em foco na aquisição de conhecimentos na área da biblioteconomia ou ciências da
documentação/informação, em iniciativas de um Centro de Formação de Professores.

3. Organização e gestão escolar – a BE é abordada como um lugar (3.3), ou espaço importante, juntamente com outros espaços
(laboratórios, pavilhão gimnodesportivo ou outros), mas sem aprofundar a respectiva importância na mediação dos saberes, nem o modo
como se organiza a gestão dos recursos humanos, materiais ou financeiros.

4. Liderança – os centros de decisão e intervenientes internos demonstram alguma abertura à inovação (4.3) no planeamento estratégico,
pela (re)construção ou melhoria dos espaços físicos (de que são exemplo as BE), em articulação com vários organismos e departamentos
do Ministério da Educação. A concretização dos projectos internos específicos materializa-se, por vezes, pelo estabelecimento de
protocolos e parcerias (4.4), com vários tipos de organizações, públicas ou privadas, de que são exemplo alguns departamentos de
faculdades, centros de formação de professores, hospitais, centros de saúde, empresas, a Fundação Calouste Gulbenkian, associações e
clubes nacionais e internacionais. As parcerias e protocolos da escola com a autarquia e as Juntas de freguesia não são evidenciadas. O
papel da BE no estabelecimento de protocolos com parceiros independentes nem sempre é mencionado, ou está limitado a iniciativas
pontuais.

5. Capacidade de auto-regulação e melhoria da escola – a cultura de auto-análise, auto-avaliação e autocrítica, da escola ou da BE, é uma
atitude que embora exista, nem sempre transparece nos documentos oficiais.
Factores, respectivos domínios e referências à BE
Domínios Factores Escola Secundária Escola Secundária de Escola Secundária do
da Rainha Dona Leonor Vergílio Ferreira Professor Herculano de
Carvalho
1. Resultados 1.1. Sucesso académico Referências em 1.1 e 1.4, os bons Em 1.1 e 1.4 refere-se que para Não há qualquer referência, nem à
1.2. Participação e resultados académicos são manter e melhorar as aprendizagens a BE, nem à RBE.
desenvolvimento cívico relacionados com o nível Escola tem adoptado estratégias:
1.3 Comportamento e disciplina socioeconómico das famílias e a PAM, Programa RBE, CRIE,
1.4 Valorização e impacto das estratégias adoptadas no âmbito do Desporto Escolar, reforço em L.P. e
aprendizagens PAM, Programa RBE e Programa MAT., Projecto “Ler e escreviver” e
CRIE. Revista OPSIS.
2. Prestação do 2.1 Articulação e Em 2.4 afirma-se que a escola Em 2.2 salienta-se a criação de um Em 2.4 menciona-se que a Escola
serviço educativo sequencialidade valoriza e estimula os saberes e “Núcleo de Estudos e Formação, que integrou diversos projectos como o
2.2 Acompanhamento da prática aprendizagens dos alunos, com promove sessões de formação sobre CRIE e o das Bibliotecas
lectiva em sala de aula várias iniciativas. Destacam-se: o temáticas diversa”. Referem-se Escolares, o que “permite oferecer
2.3 Diferenciação e apoios Programa RBE, o PAM, o também acções de formação aos seus alunos condições
2.4 Abrangência do currículo e Desporto Escolar, o CRIE, a frequentadas pelos docentes: acrescidas para a melhoria do
valorização dos saberes e da “Escola Solidária”, o Clube do “Bibliotecas Escolares”, “Pedagogia conhecimento”.
aprendizagem Ambiente, o Clube de Informática, Diferenciada em Sala de Aula” e
o Atelier das Artes e o Jornal “Dinamização de projectos de TIC”,
Académico. em várias organizações. Em 2.4,
destaque para acções da BE/CR na
publicação da revista “OPSIS” e
encontros com intelectuais e
escritores.
3. Organização e 3.1 Concepção planeamento e Não há qualquer referência, nem à Evidencia-se 3.3, que “A Escola Em 3.3, a biblioteca é referida
gestão escolar desenvolvimento da actividade BE, nem à RBE. dispõe de uma Biblioteca/Centro de juntamente com outros espaços
3.2 Gestão de recursos humanos Recursos e de um Pavilhão Gimno- específicos, como o refeitório e o
3.3 Gestão de recursos materiais desportivo com boas condições e laboratório, “devidamente
e financeiros devidamente equipados”. equipados”.
3.4 Participação dos pais e Existem também, para além do
outros elementos da Orçamento Geral de Estado outros
comunidade educativa apoios de financiamento, como o
3.5 Equidade e justiça Clube dos Rotários.
4. Liderança 4.1 Visão e estratégia Em 4.3 refere-se: “A procura de No ponto 4.3 a BE/CR é mencionada O ponto 4.4 destaca o
4.2 Motivação e empenho novas estratégias educativas é devido à abertura à inovação. E em envolvimento da escola em
4.3 Abertura à inovação visível, (...) na renovação integral 4.4, pela parceria com a F. C. diversas parcerias, protocolos e
4.4 Parcerias, protocolos e do espaço destinado à biblioteca Gulbenkian, no âmbito do projecto projectos. Neste último caso é
projectos escolar (...)” de Apoio a Bibliotecas Escolares. nomeada a Rede Nacional de BE’s.
5. Capacidade de 5.1 Auto-avaliação Não há qualquer referência, nem à Não há qualquer referência, nem à Não há qualquer referência, nem à
auto-regulação 5.2 Sustentabilidade e progresso BE, nem à RBE. BE, nem à RBE. BE, nem à RBE.
e melhoria da
escola
5 - Notas Conclusivas

A interpretação e a análise da política de Avaliação Externa das Escolas que tem sido desenvolvida denota diversas lacunas na focagem do papel
da BE/CRE, se considerarmos a escassa ocorrência de referências de conteúdo expressas pelos responsáveis da inspecção, ou mesmo a
superficialidade e a ausência de menções em vários dos factores dos domínios considerados.

O papel da BE/CRE no contexto do processo educativo é claramente minimizado, secundarizado ou surge em paralelo com outros espaços,
projectos e agentes da escola. Ou porque não é reconhecido como essencial na cultura organizacional da instituição, ou então porque da parte das
equipas de inspecção não tem havido uma consciencialização dos domínios a avaliar. Sobressai ainda, neste contexto, a importância decisiva das
TIC na reorganização do papel da BE/CRE, por intermédio do programa CRIE. Daí que seja essencial actualizar a política de formação de
professores e utilizadores em geral, juntamente com a modernização dos equipamentos e software, paralelamente a uma descodificação do
conceito de literacia tecnológica, com a disponibilização de conteúdos digitais de qualidade. Esta dimensão passa por uma revalorização da
BE/CRE na escola e pela articulação com o trabalho dos colegas do Grupo de Novas Tecnologias de Informação.

O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares contribui de forma significativa para a operacionalização de estratégias de intervenção,
não só pela clarificação dos domínios, subdomínios e indicadores, como também pela futura aplicação dos instrumentos de recolha de evidências.
Porém, a receptividade da Direcção, do Conselho Pedagógico, Departamentos, grupos disciplinares e colegas em geral é fundamental para uma
afirmação e o sucesso ou insucesso do Modelo. Ao nível da superestrutura é também decisiva a articulação entre o gabinete da RBE e a IGE, no
sentido de dinamizar o processo de forma integrada nas conexões entre as recomendações dos principais documentos orientadores, instrumentos
de recolha de informação e relatórios.

Você também pode gostar