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Os Relatórios de Avaliação Externa das Escolas/Agrupamentos e as

Bibliotecas

Tendo lido vários Relatórios de Avaliação Externa das Escolas e tendo presente
dois Projectos educativos de dois agrupamentos (entre eles,o meu) e considerando que
estes últimos deverão ser a “matriz” de onde partem todos os outros documentos,
verifiquei que as bibliotecas não são valorizadas. Esta afirmação tem que ser explicada.
Ao Projecto Educativo de escola (ou agrupamento) está associada a ideia de que
é possível pensar o devir da escola enquanto organização, ou seja, que é possível
antecipar o seu desenvolvimento, transformando a escola no que ambicionamos.
Pela importância de que se reveste a escola, é nela que se deverão centrar
grande parte dos esforços para formar leitores. Leitores no presente e para o futuro.
Leitores dotados de espírito crítico, capazes de “efectuar correctamente e
oportunamente transposições entre os textos e a vida” ( Rebelo, 1990).
Esta questão remete-nos para o seguinte: nos últimos anos estudos portugueses e
estrangeiros permitiram-nos concluir que Portugal se encontrava numa situação
desfavorável no que se refere aos níveis de literacia, daí ter nascido o projecto do Plano
Nacional de Leitura promovido pelo Ministério da Educação em articulação com o
Ministério da Cultura e o Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares, assumido
como uma prioridade política. Este projecto destina-se a “criar condições para que os
portugueses possam alcançar os níveis de leitura em que se sintam plenamente aptos a
lidar com a palavra escrita, em qualquer circunstância da vida, possam interpretar a
informação disponibilizada pela comunicação social, aceder aos conhecimentos da
ciência e desfrutar as obras da literatura”.
É importante ler. A leitura liga o presente ao passado e estabelece uma ponte
para o futuro. Não só relativamente às coisas, às realidades, mas sobretudo às pessoas.
A sua prática impõe-se face às exigências e à complexidade do mundo de hoje.
Ler, além de dotar de experiências e competências, institui hábitos de partilha,
de conhecimento do outro, tem uma finalidade formativa. Além disso, a leitura possui
finalidades informativas, científicas, culturais… que têm igualmente grande relevância
na escola. Uma escola que não considere como finalidade a leitura e as literacias
perderá muito da sua razão de ser. Nesse sentido, todos os professores são responsáveis
por esta aposta e a biblioteca deverá ser o centro destas exigências, será a partir dela que
estas finalidades ganharão força e se concretizarão.
Os relatórios de avaliação externa que li são parcos em palavras relativamente às
bibliotecas. Um, de 2007, no ponto “O gosto pelo saber e estimular as aprendizagens”
refere que o agrupamento tem desenvolvido vários projectos, entre eles o “projecto da
biblioteca”, não acrescentando uma única linha à questão, ficando-se sem saber que
projecto é, qual o seu contributo. Sublinha, mais à frente que este agrupamento tem
apostado na publicação de antologias de jovens escritores. O que é de valorizar!
Noutro relatório de 2008, de uma escola do centro da cidade é referido no ponto
“Abrangência do currículo e valorização dos saberes e da aprendizagem” que “neste
âmbito a biblioteca evidencia, também, grande dinamismo, tanto no desenvolvimento
das actividades do PNL, como no desencadear de outras iniciativas, nomeadamente
narrativa aberta e leitura da nossa terra”. É notória aqui alguma relevância à BE.
Numa escola, também do centro da cidade, mas de ensino secundário a única
referência encontrada a respeito é: “salientam-se alguns projectos de grande tradição
como as actividades da BE Manuel Monteiro”.
Ainda noutra escola, muito valorizada na cidade, encontramos no ponto
“Abrangência do currículo e valorização dos saberes e da aprendizagem”, a referência
de que a escola é integradora e inclusiva, no entanto, não há nenhuma indicação do
papel que eventualmente a BE teve ou tem neste domínio. Por outro lado fala da BE-
Centro de Recursos como refere os outros projectos, o desporto escolar e outros, ou
seja, não lhe dando nenhum destaque. O mais interessante (mas completamente
descabido os projectos educativos terem temas, como se da área escola se tratasse !), o
lema do PE desta escola é: “Uma escola que aprende”.
Poder-se-á encontrar duas exlicações para esta situação: por um lado, a BE não
merece nenhum destaque nos PEs das escolas/agrupamentos, nem nos outros
documentos que dele emanam, como por exemplo, o PAA, que é elaborado sem os
príncipios norteadores do PE do agrupamento (que muitas vezes nem os tem, ou que são
iguais aos da escola A,B... não tendo uma marca identitária como era suposto). Por
outro lado, o facto das BEs só agora começarem a fazer a sua auto-avaliação, a fazerem
notar-se, também explica este esquecimento nos relatórios de avaliação externa.
Saliente-se que estes referem o sucesso educativo, não terão qualquer papel as BEs para
este sucesso?
Haverá ainda outras razões; as bibliotecas terem estado até há pouco (e ainda
acontece) entregues àqueles docentes que não querendo dar aulas, guardavam livros,
sendo estas depósitos de documentos...
Abençoada Rede de Bibliotecas, ou melhor, abençoada Teresa Calçada, que pôs tudo a
mexer...
Agora cabe-nos a nós fazer destacar as nossas bibliotecas nos Relatórios de Avaliação
Externa com as nossas actividades, com o impacto que obtivermos com elas...
Sugiro, no entanto, para que os resultados sejam mais positivos ainda, que façam umas
acções de formação aos orgãos de gestão das escolas. Parecem-me pouco conhecedores
das dinâmicas e do modelo de auto-avaliação da Rede de Bibliotecas.

A formanda
Maria da Conceição Ferreira Gonçalves

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