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Porto Alegre
2009
CHRISTIAN FARIAS DE ÁVILA
Porto Alegre
2009
CHRISTIAN FARIAS DE ÁVILA
BANCA EXAMINADORA:
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Dedico este trabalho à minha família, a base de meus
princípios e de minha sede por conhecimento.
Principalmente à minha mãe; Dilce Rosane. Nem a mais
bela obra chapliniana explicaria o amor que sinto.
Ao meu grande colega Fernando Martinez, que hoje não é mais um colega
apenas, mas sim um grande amigo e companheiro.
À minha dinda Dulce Rejane por me ajudar sempre e por acreditar em mim.
Charles Spencer Chaplin is a great representative of the early silent film in the XX
century. In addition to figure this category, was a filmmaker with social and political
commitments in many of his works. This study detects the evolution of his comedies
from a content analysis of his life and his works, including enterprises Essanay,
Mutual, First National and United Artists. This analysis includes its characters,
among them, the most famous: the Tramp.
Keywords: Cinema. Comedy, Movies. Charlie Chaplin and The Tramp. Essanay.
Mutual. First National. United Artists.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 07
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 70
ANEXOS A ........................................................................................................... 72
ANEXOS B ........................................................................................................... 78
1 INTRODUÇÃO
Como uma arte recente, o cinema possui nomes consagrados que ajudaram
a erguer esta ferramenta midiática. Um dos grandes nomes do início de seu
surgimento é Charles Spencer Chaplin. Com suas comédias de curta metragem, ele
dominou desde cedo as artimanhas da arte da pantomima. Conhecer mais deste,
que foi, além de um grande ator, produtor, diretor, roteirista e músico, é uma forma
de conhecer mais sobre a história do cinema e sobre períodos sociais e políticos
que foram retratados nas análises fílmicas que seguem neste documento.
isso, os filmes de Chaplin serão analisados pelo autor como grandes obras que
atravessaram o tempo e possuem, por muito, grande quantidade de dados e
riquezas que serão exploradas e identificadas em meio à análise fílmica,
bibliográfica e documental.
Por fim, deve-se utilizar esta obra como uma constante estruturação da
trajetória de Charles Chaplin, assim como uma organização de dados da vida deste
grande gênio das artes audiovisuais. Por trás destas questões técnicas, devemos
olhar para o indivíduo Chaplin, traçando um paralelo de seus personagens
(principalmente o Vagabundo) com suas ideias culturais e sociais, a qual tenta
exprimir mensagens com suas produções. Trata-se de uma pesquisa explicativa
desenvolvida mediante técnica de pesquisa bibliográfica e documental.
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De acordo com Gil (1999, p. 44): “A pesquisa explicativa é aquela que tem
como preocupação central, identificar os fatores que determinam ou os que
contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Também será utilizada a técnica de
pesquisa bibliográfica e documental.”
Com cinco anos, Chaplin entrou no palco em uma apresentação pela primeira
vez, devido aos problemas vocais de sua mãe. O evento é contado pelo próprio
Charles Chaplin em sua autobiografia:
Este período ficou marcado pelas diversas vezes que os irmãos mudaram de
abrigo. Annah conseguiu liberação para trabalhar e arranjar dinheiro suficiente para
alugar um quarto. Os dois meninos voltaram a morar com a mãe novamente, por um
curto período, até que esta enlouqueceu. Annah foi internada no asilo de alienadas
de Cane Hill, deixando as crianças com a guarda provisória do pai.
A convivência com Louise, esposa de seu pai, era pesada, e o enteado mais
velho tinha sua moral escorraçada pelas ofensas que era obrigado a ouvir
frequentemente. Sydney completou onze anos e decidiu servir à marinha.
Novamente a morar com a mãe, Chaplin começou a estudar. Certa vez fez
uma imitação em aula, que acabou por chamar a atenção de professores e colegas,
tendo que apresentar-se, a pedido de seu mestre, de sala em sala. Os estudos
foram interrompidos quando entrou em uma trupe de danças: Os oito rapazes do
Lancashire.
Mais uma vez, Hannah fora internada em estágio grave de loucura, Chaplin
ficava bom tempo pelas ruas analisando a rotina da vizinhança e dos trabalhadores.
Segundo Cony (1967, p. 36): “O espetáculo preferido, a sua grande fascinação,
continua a ser a rua, os vendedores de salsichas, os pregadores evangélicos, os
bares, a música das ruas”. Muitas destas características foram utilizadas no
decorrer de sua trajetória fílmica.
Karno era um homem baixo, de cor bronzeada e olhos agudos. Era excelente
cômico, segundo Chaplin, pois criava diversas peças de pantomimas e comédias.
Sua companhia era muito conhecida nos Estados Unidos e em boa parte da
Europa. Chaplin recebera a proposta de teste, com a duração de duas semanas.
Em sua estreia, Chaplin se saíra melhor do que esperava.
Chaplin descobriu o que o público gostava de ver, e foi assim que conseguiu
destaque em suas apresentações pela companhia. Foi neste período que acabou se
envolvendo pela primeira vez em um relacionamento amoroso. Uma bailarina que
caíra durante uma apresentação, acabou chamando sua atenção. Era Hetty Kelly de
quinze anos. Chaplin se encantou pela moça, e, mesmo quatro anos mais velho,
mantinha encontros frequentes com ela. Foi o primeiro namoro de Chaplin, a
primeira paixão. Mesmo jovem, Chaplin, já demonstrava sua inconstância com
mulheres. Os dois haviam se encontrado apenas cinco vezes, e o pedido de
casamento foi feito por Chaplin, assustando a menina, que negou,ocasionando o fim
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Chaplin viajou com a companhia para fazer alguns espetáculos nos Estados
Unidos, deixando o irmão Sydney na Inglaterra. Aproveitava os momentos livres
para aprimorar sua prática musical, diariamente de quatro a seis horas por dia tirava
aulas de violino, com a intenção de virar concertista ou apenas usar a música em
seus números.
Chaplin viajou imediatamente para Los Angeles, palco de sua nova jornada.
Informado de que Sennett esperava-o no estúdio de gravação, em Edendale, não
perdeu tempo e foi conhecer as instalações. Seu novo chefe se apresentou, e pediu
para que Chaplin apenas observasse, nos primeiros dias, a rotina na indústria da
comédia cinematográfica. A propriedade da Keystone era arruinada. Composta de
uma cerca verde em torno de uma área de oitenta metros quadrados. A entrada era
um jardim, e nos fundos ficava um casebre.
Chaplin observou as filmagens por nove dias, sem participar. Sem Sennett no
estúdio, foi chamado pelo diretor substituto, Henry Lehrman, para fazer o papel de
um repórter em Carlitos Repórter (Making a Living). Chaplin realizou diversos
elementos cômicos em sua primeira oportunidade, sendo observado atentamente
pelos colegas que o elogiaram. Para a produção de seu segundo curta, Mack
Sennett pediu que Chaplin procurasse uma caracterização cômica.
Eu não tinha a menor idéia sobre a caracterização que iria usar. Mas não
tinha gostado da que apresentara como repórter. Contudo, a caminho do
guarda-roupa, pensei em usar umas calças bem largas, estilo balão,
sapatos enormes, um casaquinho bem apertado e um chapéu-coco
pequenino, além de uma bengalinha. Queria que tudo estivesse em
contradição: as calças fofas com o casaco justo, os sapatões com o
chapeuzinho. Estava indeciso sobre se devia parecer velho ou moço, mas
lembrei-me de que Sennett esperava que eu fosse mais idoso e, por isso,
adicionei ao tipo um pequeno bigode, que, pensei, aumentaria a idade sem
prejudicar a mobilidade da minha expressão fisionômica. (CHAPLIN, 1965,
p. 178-179).
Chaplin começou a arrancar risos. Com apenas vinte e cinco anos, sua
confiança estava nas alturas. Tinha intimidade com Sennett, e assim, maior
liberdade para improvisar. Ficou aborrecido quando algumas de suas gags foram
cortadas bruscamente pela edição. Com isso, começou a fazer trapalhadas logo
que entrava em cena, ou em sua saída, e impossibilitou o processo de corte.
A Keystone vendia para os Estados Unidos, em média, vinte cópias por filme.
Trinta cópias era um enorme êxito. Chaplin em sua quarta película vendeu quarenta
e cinco. Fez de dois a três filmes por semana, com baixo orçamento. Os curtas de
maior destaque desta fase são Vinte minutos de amor (Twenty minutes of Love),
Carlitos dentista (Laughing Gas) e Dinamite e pastel (Dough and dynamite). Chaplin
participou de trinta e cinco filmes da Keystone, todos estes produzidos em 1914.
Chaplin deixou Chicago. Achou melhor se mudar para a Califórnia, onde tinha
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maior comodidade para a realização dos filmes. Escolheu, portanto, novos atores e
ajudantes para compor sua equipe. Para ser a atriz principal, convidou uma moça
muito bela que conheceu; Edna Purviance (que acompanhou Chaplin até 1923)
trabalhava de secretária e não era atriz. Com a falta de recursos, de cenário e
estúdio, deslocou sua equipe para Los Angeles, onde via seguidamente seu irmão,
que ainda trabalhava na Keystone. Na Essanay Chaplin começou uma amizade que
se estendeu muitos anos. Para fotografia dos filmes contratou Rollie Totheroh, que
o acompanhou até Luzes da Ribalta (Limelight de 1952).
Tão logo alguns curtas da Essanay foram lançados e Chaplin viu seu nome
em diversos produtos: canetas, bonés, brinquedos, roupas e cigarros. Sydney
deixou a Keystone e se dedicou exclusivamente aos negócios do irmão. Com vinte
e seis anos Chaplin foi considerado o comediante mais rico do cenário mundial.
Ganhou algumas bonificações de 10 mil dólares por filme, ao final de seu contrato
com a Essanay. Produziu quinze curtas, entre estes estão Campeão de Boxe (The
Champion), O Vagabundo (The Tramp), e Os Amores de Carmen (Carmen), este
último foi uma paródia de Carmen do diretor De Mille.
Chaplin consolidou seu personagem nesta fase. Com muito dinheiro, e ampla
fama, contratou diversos profissionais para cuidar de seus recursos pessoais
(motoristas e secretárias). Seu representante, Sr.Caufield, homem que administrou
seus negócios, alugou um estúdio no centro de Los Angeles. O elenco competente
contou com a participação de Edna Purviance, Eric Campbell, Henry Bergman,
Albert Austin, Lloyd Bacon, John Rand, Frank Jo Coleman e Leo White. O primeiro
curta: Carlitos no Armazém (The Floorwalker) foi afortunadamente um grande êxito.
Nesta fase começou sua amizade com Douglas Fairbanks e Mary Pickford, atores e
diretores de cinema.
Em 1922, Chaplin encontrou a celebridade Peggy Joyce, que lhe rendeu boa
companhia por alguns dias. Deste encontro surgiu a ideia para um filme, um drama
romântico. Casamento ou Luxo (A Woman of Paris) contou com Edna Purviance no
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Em março de 1924, Chaplin reencontrou a atriz Lita Gray, garota que fez uma
ponta em O Garoto. Ela ficou com o papel principal do filme, e acabou tendo um
caso com Chaplin. Com apenas 16 anos, Lita engravidou e teve de ser substituída
no elenco por Georgia Hale. A produção parou, e Chaplin casou-se com Lita
secretamente, em razão da sua gravidez.
Em junho de 1925, nasceu Charles Spencer Chaplin Jr. Dois meses depois,
em Nova York, Em Busca do Ouro estreou. O filme teve enorme êxito, deu cinco
milhões de lucro para a United Artists. A Dança dos pãezinhos, cena de Chaplin,
empolgou tanto que, em muitas salas de cinema o projecionista tinha de parar,
enrolar o filme, e rodar de novo.
Sidney Earle, segundo filho de Chaplin com Lita, nasceu em trinta de outubro
de 1926. Foi em janeiro, deste mesmo ano, que Chaplin escreveu e produziu seu
próximo filme: O Circo (The Circus). Foi um dos períodos de maior turbulência na
sua vida. Antes de rodar a película, um vendaval destruiu todo o cenário montado.
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Em 1928 estreou O Circo, que rendeu entre dois e meio e três milhões de
dólares. Em agosto deste ano morreu sua mãe, devido a crises nervosas graves.
Chaplin entrou em uma depressão profunda que durou semanas.
Foram muitos os problemas com Cherrill, atriz que não possuía bom
relacionamento com Chaplin. Após rodar a película, Chaplin se dedicou à
composição da música que acompanhou o filme: 40 mil dólares gastos somente
neste elemento. Einstein foi presença ilustre na estréia de Luzes da Cidade, e com
lágrimas nos olhos, de tanto rir, elogiou o trabalho de Chaplin. A produção rendeu
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Chaplin decidiu fazer uma viagem pela Europa, para divulgar seu filme.
Encontrou-se com Mahatma Gandhi em Chartwell, e desta conversa saiu a ideia
para o filme Tempos modernos (Modern Times). Chaplin perguntou a Gandhi
questões referentes à automatização, abordando questões políticas. Neste
continente, encontrou-se com diversas personalidades, entre elas: Bernard Shaw,
Lloyd George, Winston Churchill e H. G. Wells.
caso com a atriz Joan Barry. Joan bebia muito e o perseguiu por um longo tempo.
No ano seguinte, conheceu Oona O’Neill, jovem que lhe pediu ajuda para entrar no
cinema. Começou um romance com a garota, que na época possuía dezoito anos.
Casou-se com Oona, e logo em seguida foi chamado a depor por não reconhecer a
paternidade de uma filha que Joan Barry estava esperando.
Neste período, Chaplin passou seu momento mais incômodo em sua carreira.
Os jornais estamparam manchetes agressivas, com ênfase nas acusações de
Barry. Após os exames de sangue, foi comprovado que Chaplin não era pai da
criança, sendo inocente. Pouco tempo depois, Barry voltou aos tribunais e
contestava que Chaplin deveria ajudar na criação da criança. Por pressões políticas,
Chaplin foi designado a pagar pensão para a filha de Barry.
Em meio a este caso, Chaplin começou a escrever um novo filme. A ideia foi
de Orson Welles, para a realização de um documentário sobre o Serial Killer Henry
Landru, executado em 1922, após matar dez esposas. Chaplin demorou quatro
anos para escrever a adaptação, após comprar a ideia de Welles. As filmagens
duraram apenas três meses, e em abril de 1947 o filme estreou. A película foi mal
acolhida pela crítica, e pelo público.
Chaplin foi morar com Oona e filhos na Suíça. Idealizou em 1954 um novo
enredo, que ficou pronto somente dois anos depois. Criou uma história para criticar
a intolerância política americana no período da guerra fria. Durante anos, filmou
com grandes equipes de confiança e estúdios próprios. Em Um Rei em Nova York
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(A King in New York), lidou com estúdios alugados e caros, além de equipes
desconhecidas.
Mais tarde, em 1972, foi convidado pelo governo americano a retornar, por
alguns dias, para receber suas premiações na Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas (Oscar). Chaplin foi agraciado com um prêmio de melhor canção
original por Luzes da Ribalta (que ganhou em 1952, mas por causa do exílio não
recebeu) e pelo conjunto de sua obra (Oscar honorário). Durante a cerimônia, foi
aplaudido de pé pelo público, por mais de cinco minutos.
Sua companhia foi a escola de Chaplin e Lloyd (mas não de Keaton, como
erroneamente afirmam tantos historiadores), que assimilaram as regras
básicas do ‘pastelão’, para só mais tarde desenvolver estilos próprios. Eles
vinham, é certo, do teatro de variedades, e desde criança possuíam
extraordinárias habilidades de acrobatas, mas o novo veículo para o qual
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Chaplin, como já se falou neste trabalho, foi o grande expoente deste grupo
de principiantes. Por anos, concorreu em bilheterias com outro grande ator: Harold
Lloyd, ambos da mesma escola cômica. Lloyd demorou a se afirmar com um
estereótipo em seus filmes. Quando começou, atuou imitando o Vagabundo de
Chaplin, até encontrar os óculos redondos e o jeito ingênuo e heróico. Possuía uma
característica destrutiva imensa. Em seus filmes passava por diversas situações de
perigo, sem utilizar dublês, como em O Homem Mosca (Safety Last). Assim como
Chaplin, Lloyd soube sobreviver ao cinema sonoro, criando uma vasta listagem de
filmes, cerca de quinhentos curtas e cinquenta longas. Na maioria de suas obras,
quando foi diretor e ator, misturava a comicidade e o suspense, em uma corrida
contra o tempo.
Joseph Frank Keaton foi um dos grandes nomes do cinema mudo. Com o
nome artístico de Buster Keaton, criou um personagem com uma peculiaridade: não
sorria em nenhuma hipótese. Atuou em diversos curtas juntamente com Fatty
Arbuckle (que foi vítima de acusações de assassinato, e por isso, desapareceu do
cinema). Depois do afastamento de Arbuckle, Keaton começou a gravar películas
como personagem principal. Com uma característica forte do humor negro, suas
obras possuem um visual estético diferente do que já havia sido feito. Era capaz de
brincar com a morte e provocar um grande acidente, além de salvar a moça e, ao
mesmo tempo, exterminar policiais e mocinhos. Buster atuou diversas vezes como
milionário, diferentemente de Chaplin, mas sempre com um comportamento
explosivo, trabalhando com o impulso humano. Mesmo com papéis diferentes, os
dois comediantes trabalhavam de maneira semelhante, como afirma o próprio
Keaton:
Buster Keaton não conseguiu fazer filmes falados, e seu contrato com a
Metro, em 1928, determinou o início de seu declínio. Seus filmes, então, foram
feitos com a supervisão técnica da empresa, que não permitiu sua liberdade de
criação. Com a crise em sua carreira, Keaton começou a beber, o que o levou a
fazer pontas em filmes sem representatividade.
Em seus contratos pela Essanay e Mutual, Chaplin criou e dirigiu seus filmes.
Ainda não era produtor de suas obras, e com isso perdia a renda da exploração de
suas comédias pelo mundo. Em 1918 criou a Chas. Chaplin Filme Co para obter o
domínio sobre a produção de suas películas. Neste período, sessenta e um filmes
seus estavam, praticamente, em domínio público.
Em seus primeiros anos como cineasta, Chaplin afirmou, diversas vezes, que
para realizar um filme precisava apenas de uma praça, um policial e uma bela
moça. Com a evolução de suas produções, esta premissa acabou perdendo sua
força. A evolução nas produções não corresponde precisamente à sua fotografia.
Chaplin e seu fiel fotógrafo, RoIlie Totheroh, não mudaram muito o estilo durante os
anos.
Quero que a minha câmera seja como o proscênio dum teatro, que esteja
próxima dos atores, que lhes mostre os contornos, que os ponha em
contato com o público. Em toda a minha obra se encontra este desejo de
economia da ação. Muita gente pensa que o cinema deve ser complicado,
em grande escala, espetacular. Talvez tenham razão num sentido, mas eu
prefiro atribuir mais importância ao indivíduo, do que mostrar precipícios
num écran panorâmico. (CHAPLIN apud SENNETT et al., 1969, p. 167).
Depois de seu contrato com a Mutual, Chaplin realizou seus filmes com o
tempo indeterminado para acabá-los, e repetiu suas filmagens até conseguir os
resultados. Com a chegada do cinema falado, não hesitou em continuar suas
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Mesmo sem falas, Tempos Modernos foi escrito e produzido como um filme
falado, com testes de elenco com falas, ensaios e roteiros detalhados. Nesta
produção, em uma cena em que trabalha de garçom, Chaplin fez uma sátira do
filme O Cantor de Jazz. Cantando uma música em um idioma inexistente, tentou
mostrar que a qualidade não estava no filme falado em si, e sim no conteúdo
fílmico. Este protesto já aconteceu em Luzes da Cidade, quando Chaplin modificou
a voz dos políticos (na cena da estátua, no início), deixou-os com cornetas no lugar
das falas.
cena do filme
A perfeição para Chaplin era subjetiva. Sabia que era inalcançável, mas
sempre a almejou. Todas as vezes que Chaplin utilizou a repetição, em suas
gravações, estava incitando a naturalidade dos gestos (premissa, considerada por
ele, muito importante na Slapstick Comedy). Foi muito feliz em sua passagem pela
Mutual, onde teve o apoio de uma equipe de atores muito eficiente: Eric Campbell
era o vilão grande e forte; Edna Purviance fazia a moça bela, que geralmente
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Outros cuidados que Chaplin sempre tomou foram nas cenas de empurrões e
socos, onde tudo era meticulosamente ensaiado e combinado.
Desejo muitas vezes poder seguir todo o desenrolar dum filme desde a sua
ideia até ao momento de a por em prática, fotografá-la, revelá-la e tirar daí
partido. Fico muitas vezes assustado pelo total considerável de película
que é necessário gastar para obter uma única cena. Tenho rodado bem
60.000 pés de filme para obter dois mil para o público. É necessário
aproximadamente 20 horas para projetar no écran os 60 mil pés de filme. E
toda esta película deve ser impressionada para chegar aos 20 minutos de
projeção. (CHAPLIN apud SENNETT et al., 1969, p. 119).
Chaplin tinha uma capacidade incrível de criar uma história a partir de uma
gag, ou uma única situação. Mas, com o acesso aos seus filmes caseiros, fica claro
que, como diretor, deixou diversas cenas cômicas de fora de seus filmes. Chaplin
afirmava que “Se um efeito cômico interferia com a lógica dos fatos, por mais
engraçado que fosse, teria que ser posto de parte. Não poderia ser usado”
(CHAPLIN, 1965, p. 250). E assim o fazia, deixou filmes completos de lado, por
achar que não possuíam linearidade suficiente.
Chaplin foi um grande criador. Criou cenas incríveis para seus filmes,
improvisações, e até mesmo belas canções, mas nunca isso foi fácil. Da mesma
forma que exigia de seus atores, Chaplin exigia de si mesmo. Logo que ganhou
seus maiores salários, comprou uma câmera onde filmou ideias de gags em sua
casa. Em seus arquivos pessoais podemos ver a essência de diversas cenas
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célebres, como a dança com o globo em O Grande Ditador, Chaplin criou a cena no
jardim de sua casa.
Chaplin sabia que sua responsabilidade aumentava, com isso cobrava mais
de todos, e pensava mais em suas histórias. Com algumas amizades de
intelectuais, teve o acesso a obras que o fizeram pensar e refletir em problemas,
não só de Carlitos, mas do mundo todo. O menino pobre da Inglaterra agora
possuía uma grande responsabilidade em mãos. Chaplin tinha total conhecimento
da importância do cinema para as massas, e com isso idealizou obras como
Ombros, Armas!, Tempos Modernos, O Grande Ditador e Um Rei, em Nova York.
Nestes filmes, os processos foram demorados, mas com a pura identidade de
Chaplin. As músicas, a fotografia, as gags, o roteiro, tudo foi planejado e
meticulosamente criado por Chaplin, que pensou em transpor seu rigor e seu
perfeccionismo em registros históricos do cinema mundial.
4 QUESTÕES SOCIAIS E POLÍTICAS
Em 1915, mesmo ano do lançamento do filme, a prática teve seu fim. Com
uma lei criada pelo senador americano Robert La Follette, a circulação de
trabalhadores forçados diminuiu consideravelmente. A obra de Chaplin retratou o
período do ápice desta e, tornou-se um registro destas ações clandestinas.
nos Estados Unidos. Neste filme, Carlitos conhece Edna, na embarcação, ambos
são imigrantes que tentarão a vida na América. Depois de chegar, Carlitos vê Edna
em um restaurante, os dois acabam se reencontrando e ficando juntos. A obra é de
extrema importância na carreira de Chaplin: é o primeiro filme que trouxe uma
conotação política forte, e uma de suas mais engraçadas realizações.
O impacto causado pelo filme deve-se à primeira parte. Era uma época em
que de todos os cantos acorriam aventureiros para os Estados Unidos. E
as autoridades tratavam a todos, indistintamente, como aventureiros. As
cenas a bordo, diante da Estátua da Liberdade, tiveram o caráter de uma
denúncia formal. Marcou o início de uma luta aberta entre Chaplin e o
governo norte-americano. (CONY, 1967, p. 87).
Apesar de sua visceral fobia a tudo que veste farda, Chaplin faria um filme
dedicado ao soldado. Não ao soldado aliado, mas ao soldado, ao homem-
soldado, independente de sua pátria e de sua missão. Diante de Shoulder
Arms, Elie Faure e Louis Delluc afirmam que Chaplin atingira um plano a
que somente Shakespeare chegara. A revolta contra os aproveitadores do
sentimento patriótico, que impelem chefes de família a matar outros chefes
de família – é cruelmente analisada e ridicularizada. [...] Honra seja feita ao
cinema, em um todo. Depois de Shoulder Arms firmou-se uma tradição
pacifista e antibélica no cinema. Cineastas maiores e menores dedicaram-
se ao problema, e a quase totalidade dos filmes sobre a guerra é uma
repetição do filme pioneiro de Chaplin: todos condenam a guerra,
independentemente de sua eventual utilidade ou oportunidade. (CONY,
1967, p. 44).
nova consciência política adquirida com a experiência na Europa (com amigos como
Einstein e Gandhi). Chaplin escreveu artigos sociais, e com eles criou uma teoria
para a salvação da humanidade: um idealismo utópico, baseado na divisão de
riquezas e de trabalho. Misturando suas ansiedades e convicções, criou o roteiro
básico de Tempos Modernos, mesclando o drama e a comédia social.
discriminação e violência dos soldados de Hynkel). Por fim, para resistir aos campos
de concentração, foge com a roupa dos soldados, e é confundido com o ditador
Hynkel. No fim do filme, foi chamado a falar para uma multidão. O homem judeu
discursa pela paz, pela igualdade de raças e pela importância do homem.
“Mais do que um filme que enfoca o nazismo, a obra de Chaplin pode ser
considerada fonte primária a respeito do tema: concluído em 1940, o início de sua
produção é ainda anterior” (CASTRO, 1999, p.37). Em outubro de 1938, Chaplin
anunciou a produção de seu novo filme. Além de amigos e companheiros de
trabalho, sócios da companhia tentaram dissuadi-lo da ideia. Chaplin produziu o
filme como único investidor, e as filmagens começaram (em sigilo) seis dias depois
do início da segunda guerra (nove de setembro de 1939). Quando produziu O
Grande Ditador, Chaplin não tinha a real noção das atrocidades cometidas em
campos de concentração nazistas.
Hitler virou combatente, e seu Kaiser foi o mesmo retratado por Chaplin em
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Chaplin classificou Hitler como um ator que jamais vira. Por ser considerado
judeu, Chaplin foi odiado pelos Nazistas, que viam nele um homem de grande
influência para o povo. Em 1940, em visita a Berlim, Chaplin foi aclamado pela
população.
Mussolini sempre foi contra Chaplin. Além dele, Henry Ford (alvo de críticas
de Chaplin em Tempos Modernos) que apoiava Hitler e era antisemita. As
apresentações e cerimônias nazistas em Nuremberg, na década de 30, eram um
espetáculo à parte. Chaplin retratou igualmente estes eventos em sua obra.
Como cena de maior impacto, Hynkel dança em sua sala uma coreografia
com um globo nas mãos. É uma ideia de Chaplin, que percebeu (em fotos) que este
objeto se fazia presente na chancelaria de Hitler. Com a queda do domínio de Hitler
em 1945 e seu suicídio, sua chancelaria foi destruída. Em meio às ruínas, o único
objeto que se pode ver em imagens de arquivo é um grande globo intacto. Ao
contrário de Hynkel, o mundo não explodiu nas mãos de Hitler.
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A sua infância foi triste, pobre, não raras vezes miserável. Kennington era o
bairro da sua infância, um bairro popular inglês, escurecido pelas chaminés
das fábricas, casas assombradas, com fachadas de tijolos, calhas pelas
paredes externas, amontoadas entre si, soturnas, impenetráveis à alegria,
à vida, ao amor. (CONY, 1967, p. 34).
Ainda criança, Chaplin guardou a imagem da polícia, que invadia sua casa
repetidamente para ver se as crianças eram bem tratadas. Algumas vezes Chaplin
foi recolhido, e o propósito da polícia era dar-lhe melhores condições, coisa que sua
idade não o fazia compreender. Mais tarde, inspirou-se nestas ocasiões para
realizar a cena em O Garoto, onde o menino é levado à força para a assistência
social.
Mais tarde, quando sua mãe foi para o asilo de loucos, Chaplin descobriu a
vida na rua. Andava perambulando pelas ruelas, e nestas via homens ricos e bem
apresentados saindo completamente bêbados dos bares. Ficava até anoitecer nesta
experiência, e no futuro pode utilizar tudo isso para criar seu maior personagem.
Kelly, e com dezenove anos teve sua primeira paixão. Chaplin pretendeu casar-se
com Hetty, chegou a pedi-la em casamento. Esta atitude brusca foi a primeira de
várias desse tipo em sua vida, em âmbito amoroso. E na juventude começou um de
seus grandes problemas futuros: a atração por mulheres mais novas. Com a fama,
Chaplin conheceu jovens atrizes, e teve grande número de amantes no meio
artístico. Geralmente tinha relações afetivas com as atrizes principais (de seus
filmes) na vida pessoal. Chaplin era extremamente vulnerável às mulheres.
Este processo com sua mãe refletiu diretamente em suas atitudes no futuro.
Quando Chaplin foi acusado de não aceitar a cidadania americana, estava
condizente com a premissa de que não era necessário, uma vez que sua mãe foi
descriminada anteriormente. Chaplin gerava um lucro enorme para os Estados
Unidos, e, portanto, achou que não era obrigado a se alistar por um país que
faturava milhões em suas obras e que não era sua terra de origem. Disse na época,
em entrevistas coletivas, que o que sempre fez para provar a dedicação aos
Estados Unidos não devia ser explorado para sua publicidade ou de outros. Queria
que o povo tivesse olhos para suas obras, e não desviasse o olhar para o homem
Charles Chaplin.
Chaplin foi rotulado de comunista por apoiar uma segunda frente americana
para auxiliar o exército da União Soviética na Segunda Guerra. Com isso, em um
discurso em São Francisco, deixou clara sua posição para o público que o ouviu:
fazer de Chaplin um Barba Azul, antes mesmo que ele criasse Monsieur Verdoux”
(BAZIN, 2006, p. 53). Neste filme, interpretando um serial killer, Chaplin comparou
os assassinatos em massa com os homicídios isolados, fazendo uma ligação com
as grandes guerras e as armas atômicas. No papel de Um Barba Azul, matou
diversas mulheres com a intenção póstuma de roubá-las.
5.1 O VAGABUNDO
O Vagabundo não expõe nas películas o seu passado: quem são seus pais,
se possui irmãos, quais suas frustrações, porque de suas condições sociais. O que
se sabe é que Carlitos faz parte do mundo ao natural. Suas inquietações são
visíveis à medida que seus filmes surgem. Carlitos não procura algo específico.
Dizer que o Vagabundo busca a felicidade é muita pretensão, o que ele deseja é
viver seus instantes da maneira mais branda possível neste mundo de
desconfiança.
próximas películas. Carlitos não é mais o rei dos empurrões e tapas, agora toma
atitudes diferentes, não menos engraçadas, portanto, mais elaboradas.
com muita emoção e Edna vai embora de carro com sua família, deixando o
Vagabundo só. Logo em seguida, Edna sente falta de seu companheiro e volta para
buscá-lo. Este filme mescla diversos atos dramáticos e cômicos, que ao final
resultam em uma história intensa.
A maneira com que uma história e um roteiro são elaborados demonstra uma
determinada situação cômica ou dramática. Muitas cenas de Carlitos são baseadas
em fracassos pessoais, e destes fracassos surgem os risos da platéia. Em outras
cenas, as experiências de Carlitos tornam-se tristes e melancólicas para o
expectador, por componentes de significação em sua elaboração. A visão que
Chaplin explora em suas histórias são definitivas para o sentido assimilado pelo
expectador. Depois de O Vagabundo (The Vagabond), Chaplin divide de maneira
inteligente as situações cômicas e dramáticas dos seus filmes em intervalos de
tempo. O público agora não apenas ri, mas também entra em contato com os
conflitos de Carlitos por intermédio do drama.
Em, Em Busca do Ouro (The Gold Rush). Carlitos sofre com a fome e se vê
obrigado a comer o próprio sapato. Na cena, o Vagabundo, cozinha seu sapato em
uma panela com água, enquanto Big Jim (companheiro de Carlitos), espera aflito.
Em um plano Carlitos confere com o garfo se a bota está pronta, logo em seguida
faz sinal com a cabeça de negativo para Big Jim e aponta o numero dois com os
dedos (representando o número de minutos restantes). Big Jim força-o a servir logo.
Carlitos antes de servir limpa uma sujeira que vê no prato que está segurando.
Depois de servir, derrama cuidadosamente com a concha um pouco da água que
está na panela por cima da bota, como um molho. Afia a faca e começa a cortar a
refeição. Desprende a sola do resto do calçado. Por fim, Carlitos fica com a sola,
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Esta cena poderia ter outro enfoque. Chaplin decidiu que a comédia seria
relevante, e realmente foi. A cena é muito bem organizada, e os elementos, por
mais dramáticos que fossem em outra abordagem, tomam forma de comicidade
intensa. Em Em Busca do Ouro, Luzes da Cidade e O Grande Ditador a essência é
a mesma; “o fato vivido pelo personagem, enquanto carregado de tragicidade para
ele, para o espectador resultava num motivo de comicidade” (SILVEIRA, 1970,
p.69).
Nos filmes da Essanay (1915), sua segunda empresa, onde começa a sua
evolução, Chaplin dirige e produz seus filmes. Seu herói, Carlitos, começa a tornar-
se mais versátil, e além das perseguições e das trapalhadas do cinema burlesco,
Chaplin começa a criar histórias interessantes para o personagem. “O poder de
resistência torna a jornada do herói afetiva. E para que a platéia empreenda essa
jornada é essencial que o autor a empreenda” (MAMET, 2001, p. 24). Nesta fase
Chaplin molda Carlitos, mas Carlitos faz Chaplin pensar e refletir sobre sua
responsabilidade como ator, diretor e produtor, que a cada dia aumentava.
Nos primeiros filmes que dirigiu, pela Keystone, Chaplin precisou aprender
sobre as posições dos atores em frente à câmera, além das saídas e entradas de
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cena. Na Essanay Chaplin já está habituado com estes recursos básicos. Nessa
fase encontra seu grande companheiro, o diretor de fotografia Rollie Totheroh.
Seu primeiro filme pela Essanay, Seu Novo Emprego (His New Job), é uma
comédia pastelão simples. Carlitos troca de lugar com um ator de filmes, e acaba
arruinando as filmagens. Neste curta já estão presentes os traços estilísticos
básicos do eterno Carlitos: o cigarro e a roupa de gala (modo que Carlitos encontra
para se integrar à alta sociedade da época) e o pontapé no traseiro dos inimigos
(que Carlitos desfere para menosprezar aqueles que não o convém). Em Uma Noite
Fora (A Night Out), Chaplin utiliza Edna Purviance pela primeira vez juntamente
com Carlitos. Esta parceria rende frutos, e Edna se torna a representação feminina
perfeita para o Vagabundo. Aos poucos, Carlitos busca sua harmonia, e suas
características vão se transformando.
como Chaplin, Carlitos não tem reciprocidade sentimental em suas relações com as
mulheres. “Chaplin nutre Carlitos da mais minuciosa observação da vida e das suas
experiências diretas” (CONY, 1967, p. 198).
Carlitos Quer Casar (The Jitney Elopement) é uma película com maior
duração que as anteriores, com 26 minutos. Nesta obra, Carlitos arranja problemas
com a polícia por roubar Edna de sua família para ficarem juntos. Destaque para a
grande perseguição de carros ao final, onde Carlitos utiliza um jogo de planos
longos e médios, dando maior emoção e ação à cena. Em, Carlitos na Atividade
(Work), mais uma vez Chaplin utiliza a câmera para dar maior intensidade à ação de
Carlitos. Com planos gerais, em ângulos inclinados, Carlitos carrega uma carroça
pesada em um morro. Esta obra possui perseguições características, e outras gags
mais elaboradas como a do cofre: Carlitos vê que a dona da casa desconfia dele e
de seu companheiro. A mulher guarda seus pertences de valor em um cofre e
tranca com cuidado. Carlitos, ao ver esta atitude, retira alguns míseros pertences (a
corrente de pescoço, o relógio fajuto), coloca no bolso do colete e fecha com
cuidado com um alfinete.
Em The Police (Roubo Frustrado), Carlitos faz uma associação entre religião,
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crime e polícia. Começa o filme sendo iludido por um pastor que o faz chorar
enquanto rouba seu dinheiro (o pouco que tem nos bolsos). Em mais um deslize de
Carlitos, este acaba invadindo a casa de Edna para roubar alguns pertences
juntamente com outro homem. Após se voltar contra a atitude do companheiro de
roubar, Carlitos é protegido por Edna frente à polícia. Mais uma vez Carlitos sai pela
estrada apaixonado e arrependido do que fez. Este filme traz como principal tema O
Pecado, tanto das instituições, como pessoais. Aos dez minutos de filme, Chaplin
experimenta um recurso novo em seus curtas. Para dar a sensação de que Carlitos
e seu companheiro estavam fazendo algo às escuras (indo roubar uma casa)
Chaplin utiliza um plano de uma parede com a silhueta dos dois homens
caminhando temerosos antes da invasão.
Para finalizar sua boa fase na Mutual, Chaplin realiza O Aventureiro (The
Adventurer). Este filme possui três momentos distintos. Em sua primeira parte,
Carlitos, um foragido da cadeia, é perseguido por policiais em uma praia. Diversas
gags acontecem e Carlitos acaba fugindo pela água, até chegar a um cais. Nesta
segunda parte, Carlitos salva algumas pessoas que caíram na água e que estavam
se afogando. Após roubar as roupas de um homem, Carlitos vai para a casa de
Edna, e neste terceiro ato acontecem mais perseguições e gags com Carlitos. É
nesta película que Chaplin cria algumas gags compostas. Quando está comendo
um sorvete na sacada do segundo andar, Carlitos deixa-o cair para dentro de sua
calça. Ao balançar a perna, para que o sorvete escorra, Carlitos deixa-o cair para o
andar de baixo, onde uma mulher está sentada. O sorvete cai dentro do vestido da
mulher, e Chaplin consegue encaixar duas gags em apenas uma cena.
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Em 1918 começa sua fase pela First National. Em Vida de Cachorro (A Dog’s
Life) Carlitos adota um cão de rua para cuidar. Sucata (como Carlitos o chama) é
protegido por Carlitos; se tornam companheiros, ambos moram na rua, e passam
por dificuldades. A trama é muito bem elaborada. O Vagabundo, tenta recuperar um
dinheiro que achou enterrado em um terreno vazio, mas que está em mãos de
ladrões. Por fim, uma cena demonstra a dimensão exata dos sonhos de Carlitos;
Chaplin utiliza um plano bem aberto e mostra um terreno de grades proporções.
Carlitos aparece plantando sementes, neste terreno que agora é seu, uma a uma
com o dedo indicador. A obra termina com Carlitos e Edna casados.
Um filme com um sorriso, e talvez uma lágrima. Com esta legenda Chaplin dá
início ao clássico O Garoto (The Kid). Este filme recupera o espírito mundano do
Vagabundo e transforma-o, mais uma vez, em algo superior. Carlitos começou as
filmagens desta obra poucos dias depois de seu filho com Mildred Harris morrer. A
história retrata a vida do Vagabundo após adotar uma criança que é abandonada
pela mãe. Chaplin expõe sua genialidade, criando gags em um ambiente
semelhante às ruas de sua infância. Ao mesmo tempo, John, o menino adotado por
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Em Clássicos Vadios (Idle Class) mais uma vez Chaplin representa dois
papéis: um rico alcoólatra e o Vagabundo. Destaque para a cena em que o homem
rico é deixado pela mulher (Edna). Em uma carta, Edna promete voltar somente
quando ele largar a bebida. Após ler o documento, o homem se vira de costas
aparentemente triste e começa a sacudir-se, como em um pranto descontrolado.
Quando se vira novamente, pode-se ver que ele estava preparando um drinque em
um copo.
Dia de Pagamento (Pay Day) é uma comédia recheada de gags com objetos.
Chaplin realiza esta obra com um ritmo alucinante. Carlitos é um pedreiro, e
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trabalha em uma obra. A grande criatividade está no efeito reverso da cena em que
Carlitos apanha os tijolos alçados para ele no segundo andar. Chaplin utiliza este
efeito novamente (já havia utilizado em Carlitos Bombeiro), e com muito sucesso, a
cena se torna um balé de Carlitos com os tijolos.
Carlitos vive emoções sitiado pela neve em uma cabana com seu
companheiro Big Jim. Apaixona-se por Georgia, e esta paixão transforma-o em um
sonhador. Em uma cena antológica, Carlitos realiza a dança dos pãezinhos; uma
coreografia perfeita que Chaplin adicionou ao filme após testar em suas gravações
caseiras. No fim da trama, Carlitos fica milionário e convida Georgia para se
casarem. Mesmo rico Carlitos se veste como Vagabundo para aparecer nos jornais.
É a simplicidade da alma sendo representada pelas roupas.
Que enorme engano a vida: a dançarina não vai à ceia de ano novo que ele
prepara, conquanto prometesse; a jovem do circo não está olhando para
seu corpo desengonçado, como ele pensava, seus olhos de amor se
dirigem ao atleta elegante; a florista cega julga-o um milionário. Que
importa? Carlitos as protege, defende o namoro, paga a operação que,
destruindo a cegueira, destrói a fantasia. Ingênuo e desarmado, encarnava
o homem anterior à Segunda Guerra Mundial, submisso, limitado, estranho
à realidade. Homem comum que, apesar da outra guerra e da crise
econômica desencadeada em 1929, ou da virtude delas, tateava direções,
no desespero de não achá-las. (SILVEIRA, 1970, p. 48).
“A sua arte vai até além do tipo que criou, apesar de ter posto nele tudo o que
podia e queria exprimir” (SENNETT, et al, 1969, p. 52), e mesmo sendo acusado de
comunista, Chaplin não se intimidou em lançar seu olhar social pelo mundo. Carlitos
exprime a voz do povo, e agora trava uma luta contra tudo aquilo que vai contra o
homem, seja ele de qualquer raça, etnia ou classe social.
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Chaplin pensa grande, como muitos de seus amigos da época. Sob influencia
de Einstein e Gandhi, teve experiências culturais e sociais antes não alcançadas.
Com essas novas acepções, criou teorias sociais e escreveu artigos com ideias de
auxílios sociais. “E que a fábula de Tempos Modernos, divertindo embora como
todas as fábulas, como estas trouxe a sua moral. A de que acima do valor do
progresso se coloca o valor do homem. Contra a engrenagem, seja de que ordem
for, o humanismo” (SILVEIRA, 1970, p. 44). Suas ideias foram criticadas, e com as
acusações de comunismo, os Estados Unidos começa sua guerra contra Chaplin.
Com a visão profética de que algo terrível estava por acontecer, Chaplin
lançou O Grande Ditador (The Great Dictator). Esta obra representa mais um
documento social deixado por Chaplin para a eternidade. Pode-se falar da história
do barbeiro e do ditador (já citado neste trabalho), mas acima de tudo este filme
coloca o público do mundo inteiro de frente com Carlitos. Na cena final, no discurso
do barbeiro (que ainda é Carlitos, e o vagabundo, porém em sua evolução) Carlitos
é Chaplin. Chaplin invade sua criação, para dar um recado ao mundo e para fazer
um confronto com ninguém menos que Hitler. A metáfora de Hynkel ser trocado por
Carlitos é a mesma quando Chaplin invade a sua criação. “Porém, o caráter mais
pessoal das confidências de Chaplin constitui um progresso, uma prova de
maturidade de sua arte.” (BAZIN, 2006, p. 82).
Nesta obra está presente a cena da dança com o globo. Esta dança está
registrada em filmes caseiros de Chaplin, de maneira primitiva, mas com a ideia
básica do que viria a ser esta incrível coreografia.
Esta obra traz à tona o assunto de guerra, como a bomba atômica. Verdoux é
a antítese de Carlitos, e por isso representa os males de uma sociedade sem
escrúpulos para alcançar os objetivos. Desta forma, Verdoux mata as mulheres que
se relaciona, para lhes roubar e pagar o tratamento da esposa verdadeira, que é
enferma. Ao fim, Verdoux é condenado à morte, e faz uma alusão dos seus
assassinatos com as mortes em massa causadas pelas guerras.
Verdoux usa calças justas, gravata larga, bigode fino e chapéu branco.
Verdoux é adorado pelas mulheres, é conquistador, é frio e cruel. As características
demonstram a diferença entre Verdoux e Carlitos, e a clara intenção de Chaplin em
diferenciá-los.
A ideia principal desta história está na sátira realizada por Chaplin aos
costumes americanos:
necessário que sua obra tivesse continuidade, e realmente teve. Os filmes lançados
em sequência Monsieur Verdoux, Luzes da Ribalta e Um Rei em Nova York,
retratam não só a passagem do clown clássico a outras facetas do personagem,
mas também a realidade de um homem que fez o mundo rir, e que agora estava
impedido de realizar seu trabalho com liberdade.
_____________
, Jacques. A estética do filme. Campinas: Papirus, 2006.
CHAPLIN, Charles. Minha vida. 12ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1965.
CASTRO, Nilo André Piana. Cinema e segunda guerra. Porto Alegre: UFRGS,
1999.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,
1999.
MAMET, David. Três usos da faca. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
71
MERTEN, Luiz Carlos. Cinema: entre a realidade e o artifício. Porto Alegre: Artes e
ofícios, 2007.
SEU novo emprego (His new job). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles
Chaplin, Bem Turpin, Charlotte Mineau, Leo White, Charles Insley. Estados Unidos.
Essanay, 1915.
UMA noite fora (A night out). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin.
Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin,
Bem Turpin, Edna Purviance, Leo White, Bud Jamison. Estados Unidos. Essanay,
1915.
CARLITOS no parque (In the park). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles
Chaplin, Edna Purviance, Lloyd Bacon, Leo White, Bud Jamison. Estados Unidos.
Essanay, 1915.
CARLITOS quer casar (The jitney elopement). Direção: Charles Chaplin. Produção:
Charles Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes:
Charles Chaplin, Bud Jamison, Paddy McGuire, Fred Goodwins, Edna Purviance,
Lloyd Bacon, Leo White. Estados Unidos. Essanay, 1915.
CARLITOS à beira-mar (By the sea). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles
Chaplin, Edna Purviance, Billy Armstrong, Bud Jamison, Bem Turpin, Margie Reiger,
Charles Insley, Leo White e Paddy McGuire. Estados Unidos. Essanay, 1915.
O banco (The bank). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Roteiro:
Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin, Edna
Purviance, Carl Stockdale, Billy Armstrong, Charles Insley, Leo White, John Rand,
Fred Goodwins. Estados Unidos. Essanay, 1915.
O conde (The count). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Roteiro:
Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin, Edna
Purviance, Eric Campbell, Albert Austin, Charlotte Mineau, Frank Coleman, Leo
White, Henry Bergman, May White. Estados Unidos. Mutual, 1916.
RUA da paz (Easy Street). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin.
Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin,
Edna Purviance, Eric Campbell, Albert Austin, Charlotte Mineau, Henry Bergman,
James T. Kelly. Estados Unidos. Mutual, 1917.
Edna Purviance, Eric Campbell, Albert Austin, Stanley Sanford, John Rand, Frank
Coleman, Henry Bergman, James T. Kelly, Leota Bryan. Estados Unidos. Mutual,
1917.
O garoto (The kid). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Roteiro:
Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin, Edna
Purviance, Tom Wilson, Albert Austin, Charles Riesner, Henry Bergman, Lita Grey,
Nelly Bly Baker, Phyllis Allen, Sydney Chaplin. Estados Unidos. First National, 1921.
CLÁSSICOS vadios (The idle class). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles
Chaplin, Edna Purviance, Tom Wilson, Mack Swain, Allan Garcia, Loyal Underwood,
Henry Bergman, Rex Story, John Rand, Lita Grey. Estados Unidos. First National,
1921.
76
DIA de pagamento (Pay day). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin.
Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh. Intérpretes: Charles Chaplin,
Edna Purviance, Phyllis Allen, Mack Swain, Sydney Chaplin, Allan Garcia, Henry
Bergman, Albert Austin, John Rand, Loyal Underwood. Estados Unidos. First
National, 1922.
EM busca do ouro (The gold rush). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh e Jack Wilson.
Intérpretes: Charles Chaplin, Mack Swain, Henry Bergman, Tom Murray, Georgia
Hale, Betty Morrissey, Malcolm Waite. Estados Unidos. United Artists, 1925.
O circo (THE circus). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Roteiro:
Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh, Jack Wilson e Mark Marklatt.
Intérpretes: Charles Chaplin, Allan Garcia, Merna Kennedy, Betty Morrissey, Harry
Crocker, Stanley Sanford, John Randy, George Davis, Henry Bergman, Steve
Murphy, Doc Stone. Estados Unidos. United Artists, 1928.
O grande ditador (The great dictator). Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles
Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Rollie Totheroh e Karl Struss. Música:
Charles Chaplin. Intérpretes: Charles Chaplin, Jack Oakie, Henry Daniell, Billy
Gilbert, Grace Hayle, Carter de Haven, Reginald Gardiner, Paulette Goddard,
Maurice Moscovitch, Bernard Gorcey, Paul Weigel, Chester Coklin, Eddie Gribbon,
Hank Mann, Leo White, Lucien Privel, Esther Michelson, Florence Wright, Robert O.
Davis, Eddie Dunn, Peter Lynn, Nita Pike. Estados Unidos. United Artists, 1940.
77
UM rei em Nova York (A king in New York). Direção: Charles Chaplin. Produção:
Charles Chaplin. Roteiro: Charles Chaplin. Fotografia: Georges Périnal. Música:
Charles Chaplin. Intérpretes: Charles Chaplin, Dawn Addams, Michael Chaplin,
Oliver Johnston, Jerry Desmonde, Maxine Audley, Joan Ingram, Harry Green, John
McLaren, Allan Gifford, Sidney James, Robert Arden, Lauri Lupino Lane, Shani
Wallis, Joy Nichols, Phil Brown, Hugh McDermott, Eddie Constantine. Reino Unido.
United Artists, 1957.
UNKNOWN, Chaplin. Roteiro: Kevin Brownlow e David Gill. Estados Unidos. A&E.
1986.
THE tramp and the dictator. Roteiro: Kevin Brownlow e Christopher Bird. Estados
Unidos. MK2. 2002.
CHARLIE: a vida e a arte de Charles Chaplin (Charlie: The life and art of Charles
Chaplin). Roteiro: Richard Schickel. Estados Unidos. MK2. 2003.
ANEXO B – DVD COM CENAS DE CHAPLIN
Este anexo traz algumas cenas citadas neste trabalho, e serve como apoio para
o estudo da evolução das obras chaplinianas.