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Freire, Paulo – Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa / Paulo Freire. – SP: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura), 31 ed.

A obra Pedagogia da autonomia é um livro otimista que através


de saberes necessários à educação deixa bem claro que há esperança e que
muito ainda pode e deve ser feito pela educação.

Cap. I “Não há docência sem discência” (pg. 21), este saber nos levava
constantemente a vigilante tentativa de escapulir da chamada “educação
bancária” (pg.25) a fim de despertar no educando, através de práticas
pedagógicas específicas com o alvo de promover avanços na aprendizagem, a
tão necessária “curiosidade” que o leva a satisfação de aprender.
“Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos” (pg.30), no sentido
de que um professor ou professora que delimita sua ação de ensinar
verticalmente tratando os alunos como se fossem pacientes os quais se trata
com receitas e remédios, pode-se dizer destes que não são educadores, pois
ensinar exige discussão e quem discuti, discuti sobre algo e para isso é
necessário que se procure extrair as idéias que normalmente já estão na
vivencia que o educando e não paciente traz (ethos do indivíduo). O que é uma
questão de “ética” e quando se trata disso esbarramos nas experiências
educativas com caráter formador, no respeito à natureza do ser humano e na
sua formação moral o que exige o “pensar certo” (pg. 37) despertando a favor
do professor, no mínimo a admiração do aluno ou da aluna quanto a ele
professor ou a ela professora.
Ao “pensar certo” o professor ou a professora ensina e o educando
aprende, mas o que se aprende? Segundo Paulo Freire é preciso “segurança
na argumentação”, rejeição a “prática preconceituosa” e isso invocam questões
idealistas e leva ao limite da liberdade, da identidade cultural e da “assunção
das idéias” respondendo, por fim, a questão acima levantada, nos raros e
custosos momentos em que o professor ou a professora consegue promover
no educando, somente ele ou ela querendo, o levantar ao entendimento das
idéias conseguindo assim levá-las à prática e a execução. Logo o aprender é
um exercício, não mecânico do conhecimento, capaz de mudar e para melhor a
realidade na vida daqueles que aprendem. Um bom exemplo disso é quando o
autor discorre sobre alguém que após aprender uma determinada lição,
consegue “parar de fumar” (pg. 40).

Cap. II “Ensinar não é transmitir conhecimento”, o autor faz


considerações sobre o racismo o inacabamento do ser humano e à sua tomada
de consciência deste fato, ao seu condicionamento e autonomia. Questões
gigantescas que exigem condições pré-estabelecidas para que um educador
ou educadora consiga ensinar. São elas relevantes: “reconhecimento de ser
condicionado” (pg. 53) o que o autor chama de consciência de ser inacabado,
esta conscientização, deve-se procurar despertar nos alunos à medida que
ajudando-os a perceber a crescente necessidade de inserir-se no mundo
tecnológico e globalizado, que é preciso aprender e aprender muito para
vencer os abstáculos que são impostos aos seres humanos por outros seres
humanos, mas como ele diz: “não se eternizam”; a questão envolve a
percepção do tempo e da formação ética de cada indivíduo que se radicalizam
em temas abrangentes como é o caso da reforma agrária que ao ser entendida
não como ações “absurdas de falsos brasileiros”, mas como legítima e justa no
tocante a correção das desigualdades sociais começará o resgate ao ser
humano que está faltando mais ou menos em todo lugar. É o respeito, mas
também o bom senso de não impor tarefas que apenas fazem “irritar o
estudante” que logo percebe a distância entre o discurso e a prática por parte
do educador ou da educadora. Condições como humildade, tolerância, alegria
e esperança que só podem chegar à assunção se as idéias se desprenderam
daquilo que o autor chama de neoliberalismo: “Que fazer? A realidade é assim
mesmo” e chega à mente do professor ou da professora e do (a) aluno (a) a
convicção de que as mudanças são possíveis e passam pela determinação e
não pela acomodação.
“Mudar é difícil” e a rebeldia, diz Paulo Freire: é o ponto de partida
indispensável (muitas vezes repreendida, sufocada e aniquilada pelo professor
ou professora) para se dar a percussão da liberdade das massas de
explorados pela ideologia neoliberal da minoria dominante que executa ao seu
beneplácito tal domínio segundo os aprouve.
É através do exercício da “curiosidade do educando” (pg. 84), nos relata
Paulo Freire que eles mesmos poderão experimentar a gnosiologia e a
epistemologia destas questões de maneira crítica e não ingênua para o fim ou
o começo do fim da tirania a que nos referimos. Para tal não devemos pensar
apenas nos conteúdos programáticos, mas também nas discussões abertas
desses temas, como já disse, gigantescos.

Cap. III. Falando o autor, neste capítulo, sobre a “segurança que se


expressa na firmeza com que atua com que decide com que respeita”, deixa
reforçada a ação pedagógica contra o neoliberalismo ramificado para a
arrogância, o mandonismo que talha a criatividade do ser humano e o exercício
da liberdade. Ainda é brilhante a colocação do autor quando mostra a
necessidade do “comprometimento” com a educação como forma de
intervenção no mundo e o não à licenciosidade (uma violência contra o direito
de o educando aprender num ambiente de ordem, eficácia, técnica e respeito.
“Liberdade e autoridade”), não autoritarismo são ainda indispensáveis à
manutenção do espaço pedagógico e a não permissão da indisciplina para a
opção democrática que se pode ter. Instigar o aluno a se inteligir permite que
os conteúdos, sejam quais forem, assumam significados e levem à leitura do
mundo sem a qual não pode haver importância ao aprender e ao uso do que se
aprende.
Igualmente importante está a colocação do autor, dentre outras, quanto
às ideologias (pg. 125) que podem servir no combates às ideologias que nos
tornam “míopes”, distorcem a realidade e querem perpetuar as escravidões das
massas populares. Essas ideologias que podemos perceber ao assistir
televisão (se de forma crítica), ao recebermos pacificamente o discurso da
globalização, em frases prontas “Márcia é negra, mas é bondosa e
competente”, na acomodação daqueles, que, por exemplo, lecionam numa
escola há dez anos e ainda não conhecem a realidade dela ou ainda naqueles
que dizem “É verdade, ouvi no noticiário das vinte horas”.
A cognoscibilidade, segundo o autor não exclui a afetividade e faz rever
ainda o entendimento de que não é “gostando” do aluno amorosamente e
ridiculamente sentimental que iremos conseguir algo progressista, mas é com a
verdadeira solidariedade política em caráter de luta e busca permanente da
verdade que pode o educador ou a educadora ensinar a seres “programados,
mas para aprender” a séria disciplina intelectual que a provomer gente melhor,
gente lidando com gente e convencidos humildemente de que são inteligentes
e capazes de fazer gente feliz.

Elaborado: Prof. Marcos Vitório Bizachi

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