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Composição fotográfica

Texto Complementar à disciplina Fotografia Publicitária II - FESSC

Composição é a etapa na qual o fotógrafo (ou designer gráfico, ou artista plástico ou


qualquer profissional que trabalhe com comunicação visual) faz a distribuição dos elementos no
espaço disponível (visor, quadro, tela, página, etc.). “É nessa etapa vital do processo criativo
que o comunicador visual exerce o mais forte controle sobre seu trabalho e tem a maior opor-
tunidade de expressar, em sua plenitude, o estado de espírito que a obra se destina a trans-
mitir”, afirma Dondis (p. 29). Entretanto, diferente de um texto escrito ou falado, nos quais há
uma sintaxe definida por regras, em uma composição visual o ordenamento das partes pode
ser dar de diferentes maneiras. Aqui, ao invés de regras rígidas definidas a priori, temos crité-
rios que foram definidos a partir da observação do processo de percepção humana. O objetivo
é provocar alguma sensação (geralmente agradável) ou fixar uma informação na memória do
receptor.
Em uma composição visual não é apenas a ordem dos elementos que irá afetar a leit-
ura: cores, formas, texturas, tons, posição e proporção relativa dos objetos, significado
culturalmente construído do mesmo para o observador, entre outras variáveis, irão fazer
parte da assimilação da mensagem visual. Se por um lado os estudos culturais já mostra-
ram que é o receptor que irá dar o significado de um texto (visual, textual, auditivo, etc.),
por outro não há como negar que um emissor pode sugerir ao receptor possíveis leituras
se compreender os mecanismos de percepção e se partilhar da mesma cultura do receptor.
No estudo da composição, nosso objetivo não será nunca buscar fechar os significados, mas sim
sugerir possíveis leituras. Isso pode ser feito pela manipulação de algumas características da imagem:

Unidade x Variedade
Geralmente uma
composição é
feita por diversos
elementos, que
dispostos pre-
cisam passar uma
idéia ou percep-
ção. Precisamos,
por isso, que essa
variedade de
elementos se
constitua em
uma unidade
de significado. Se houver variedade excessiva, o recep-
tor irá se desconcentrar, e não obteremos unidade no
conjunto. Por outro lado, se não houver variedade algu-
ma, a composição se tornará monótona e chata. É pre-
ciso, portanto, a unidade dentro da variedade (obter um
todo de significado) quanto a variedade dentro da uni-
dade (dar vida aos elementos que compõe a imagem).

Equilíbrio
A linha do horizonte (horizontal) e a linha imaginária
que liga o céu à terra (vertical) são as duas princi-
pais referências de equilíbrio do ser humano. Usar es-
tes dois eixos (foto acima) naturaliza a imagem. Sub-
vertê-lo pode causar estranhamento (foto ao lado).
Tensão
Uma imagem simétrica ou totalmente ordenada, confere a
quem a observa uma sensação de estabilidade, calma, ausên-
cia de mudança ou movimento, conservadorismo, solenidade,
severidade. Há pouca ou nenhuma variedade nessa unidade.

Nem sempre, porém, desejamos a estabilidade. O contrário dela, ou seja, a instabilidade, pode
ser útil quando desejamos chamar a atenção do observador, necessidade comum quando se
trabalha com comunicação. Podemos provocar tensão pela assimetria, pelo desalinhamento,
por algo que se impõe por ser diferente da vizinhança. Devemos, no entanto, tomar cuidado
para que essa assimetria não leve a imagem a perder a unidade ou noção de conjunto.

Mesmo assimétrica, uma composição pode estar equilibrada ou não. O equilíbrio em uma com-
posição assimétrica é obtido através da compensação de formas, volumes, cores, etc., como
em uma balança de pesos.

Distribui-se os pesos para manter a


balança equilibrada. Mas desequilibrar
esses pesos e volumes, ou seja, dese-
quilibrar a composição, pode também
ser útil para chamar atenção de algo.

Proporções
Se dividirmos a cena em partes iguais (simetricamente) daremos equilíbrio mas não provoca-
remos tensão. Tirar o centro de atenção da ima-
gem do centro geométrico provoca tensão, pois
sai do que é esperado, e assim permite destacar
deteminado(s) elemento(s).
Já na antiguidade, a matemática ajudou a que se chegasse a uma boa distribuição dos elemen-
tos. O arquiteto romano Vitrúvio definiu que “para que um espaço dividido em partes desiguais
torne-se agradável e estético, deverá haver, entre a parte menor e a maior, a mesma relação
existente entre esta maior e o todo” (Parremón, p. 21). Nasce assim o que passou a ser con-
hecido como ‘sessão dourada’ ou ‘sessão áurea’, cuja simplificação matemática resulta na ‘lei
dos terços’.

Seção Áurea (5/8 + 3/8)

Lei dos Terços (1/3 + 1/3 + 1/3)

Preferência pelo canto inferior esquerdo


Estudos de percepção visual indicam que “o olho favorece a zona inferior esquerda de qualquer
campo visual” (Dondis, p. 39). Por isso há uma preferência perceptiva em varrer inicialmente o
lado esquerdo e o lado inferior de uma foto, uma página de revista, um cartaz, etc..
Mas o autor sugere que essa preferência perceptiva pelo lado esquerdo e porção inferior fazem
com que já esteja naturalizado esperar ali a presença de algo. Tudo se ajusta, não há tensão
quando vemos algo onde esperamos ver. Se quebrarmos com essa expectativa iremos causar
tensão. Por isso, se houver objetos/pessoas posicionados tanto na parte superior quanto no
lado direito da imagem, isso provocará tensão e aguçamento do olhar. “A complexidade, a
ins­tabilidade e a irregularidade aumentam a tensão visual, e, em decorrência disso, atraem o
olho” (Dondis, p. 42).
Contrastes
O contraste nasce da oposição entre cores, formas, tamanhos,
situações, expressões, etc. Uma reta em meio a uma série de
curvas, uma linha vertical em meio a várias linhas horizontais,
uma flor amarela contra o céu azul, um objeto grande próximo
a outros pequenos: tudo isso provoca contraste.

Movimento
Busca-se dar movimento a uma composição através da sucessão
de linhas, pontos, planos ou figuras geométricas, que vão se trans-
formando (de cor, de forma, de tamanho, etc.) ao longo do quadro.
Esse movimento pode ser usado, por exemplo, para levar a atenção
do observador a algum ponto específico sugerido pela direção do
movimento. Pode também ser usado para criar associação entre el-
ementos distantes, que são ligados por figuras secundárias ou aux-
iliares na composição.

Referências:
DONDIS, Donis A.. Sintaxe da linguagem visual. Tradução: Jefferson L. Camargo. 3ª edição.
São Paulo: Martins Fontes, 2007.
PARRAMÓN, José M. Assim se compõe um quadro. Instituto Parramón Ediciones, 1974.

Texto: Prof. Msc. Silvio da Costa Pereira


Fotos: alunos das turmas de Fotografia Publicitária I e II, semestre 2008/2
Faculdade Estácio de Sá - Santa Catarina - USO EXCLUSIVO PARA AS DISCIPLINAS

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