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AS REGIÕES DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA E A REFORMA AGRÁRIA EM

MATO GROSSO

Roberto Alves da Silva(1)

Jepherson Correia Sales(2)

Otoniel Coutinho(3)

Wendy Alves da Cruz(4)

RESUMO

O presente artigo faz parte da avaliação da Graduação de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso nas
disciplinas de Geografia Humana do Brasil II e Teoria da Região e Regionalização e tem por objetivo verificar as
estrutura fundiária de Mato Grosso e a reforma agrária das regiões Norte, Oeste, Sul, Vale do Araguaia e Chapada
dos Parecis. A primeira parte do trabalho consiste em fazer um analise geral a nível Brasil da Estrutura Fundiária e
da reforma agrária. Já a segunda parte do trabalho faz uma analise do histórico da colonização em MT, mostra a
situação da Estrutura Fundiária e Reforma Agrária em MT. Na terceira parte apresenta o resultado de comparações
dos dados de tabelas do INCRA/IBGE e mapas sobre a Estrutura Fundiária, mostrando a situação agrária atual do
Estado.

Palavras-chaves: Estrutura Fundiária; reforma agrária; Mato Grosso.

ABSTRACT

This article is part of the graduation of Geography, Federal University of Mato Grosso in the disciplines of Human
Geography in Brazil and Theory of Region II and Regionalization and aims at the land structure of Mato Grosso
and agrarian reform in the north, west , South, Vale do Araguaia and Chapada dos Parecis. The first part of the job
is to make a general review of structure in Brazil Land and agrarian reform. The second part of the work is an
analysis of historical colonization in MT, shows the situation of Land and Agrarian Reform Structure in MT. The
third part presents the results of comparisons of data from tables from INCRA / IBGE and maps on the patterns,
showing the current situation of the agrarian state.

Keywords: Patterns, land reform, Mato Grosso.

1. INTRODUÇÃO

a. Estrutura Fundiária do Brasil

Verifica-se que desde os primórdios do período colonial a distribuição de terras foi


desigual. Primeiro foram às capitanias hereditárias e seus donatários, depois foram as
Sesmarias. São frutos da herança colonial quando a terra era doada pela coroa ao membro da
corte. Fruto, em parte, de seu passado de ocupação colonial e, pela sua forma de ocupação
recente, o Brasil apresenta uma estrutura fundiária extremamente concentrada, vista com uma
abrangência nacional, mas geograficamente muito diferenciada, tanto em seu uso, como em sua
posse, quando analisada pela suas grandes regiões,.
Com a independência do Brasil e, depois com o fim da escravidão, trataram os
governantes de abrir possibilidades, através da posse, legalizarem grandes extensões de terras.
Com a lei de terras de 1850, entretanto, o acesso à terra só passou a ser possível por meio da
(1)compra com pagamento em dinheiro. Isso limitava ou mesmo praticamente impedia o acesso a
robertomino@uol.com.br
(2) Jepherson.sales@gmail.com
terra para os trabalhadores escravos que conquistaram a liberdade.
(3) Toni.mt@ig.com.br
(4) fsg3_@hotmail.com
Podemos verificar que as marcas que caracterizam a concentração fundiária no Brasil
têm sua origem na própria história do país. O traço essencial da estrutura fundiária brasileira é o
caráter concentrador das propriedades. A evolução da estrutura fundiária entre 1992 e 2003 está
transcrita na tabela 1. Nesse período o grupo dos pequenos imóveis foi responsável pelo
acréscimo de 93% do total de imóveis criados no Brasil e de 33,7% da área total incorporada na
estrutura fundiária brasileira. Ao contrário, os imóveis médios e grandes compreendem, na
evolução total brasileira, sete por cento dos imóveis e 66,4% da área. Quanto à evolução interna
de cada grupo, entre 1992 e 2003 os pequenos e os médios imóveis apresentaram taxas de
crescimento do número de imóveis e da área total muito semelhante, o que indica uma evolução
conservadora nesses grupos. No grupo dos grandes imóveis as classes dos extremamente
grandes (10.000 ha e mais) apresentaram decréscimo tanto no número de imóveis quanto na
área que detém. O grupo dos grandes imóveis apresentou taxa de crescimento desproporcional
entre número de imóveis e a área, com taxa de crescimento do número de imóveis muito
superiores à taxa de crescimento da área. Isso indica uma evolução desconcentradora. Isso,
porém ainda não foi suficiente para alterar a concentração medida pelo índice de Gini.

TABELA 1 – Evolução da estrutura fundiária – 1992-2003


Seja como for, a correção da estrutura fundiária (espaço físico) e reforma agrícola
(atividade econômica e social) é imprescindível, para o desenvolvimento econômico e social de
um país. Ela dá oportunidade às populações rurais carentes, os pobres camponeses que não tem
condições alguma de prover sua subsistência. Ao mesmo tempo, ela desapropria terras
improdutivas dos grandes proprietários que não a aproveitam de maneira condizente com a
capacidade, e fornece-as para os pequenos e grandes agricultores motivo pelo qual aumenta a
sua produtividade.
A distribuição territorial da concentração fundiária no Brasil é desigual, e essa
desigualdade tem raízes na história de cada região. Traço fundamental da concentração
fundiária indica que a maioria quase absoluta das pesquisas mostra que os pequenos
estabelecimentos controlam pouca terra em todas as regiões brasileiras. A má distribuição das
terras no Brasil é conseqüência de um processo histórico que se inicia com a colonização e vêm
percorrendo caminhos diversos até produzir os atuais problemas que observamos em nosso
cotidiano. E essa minoria que controla o campo brasileiro são os maiores sonegadores de
impostos. De acordo com Oliveira:
É importante ressaltar, no que se refere a estrutura fundiária concentrada e a
truculência desses grandes proprietários de terras, que a propriedade são, na sua
grande maioria, sonegadores do único imposto a que a propriedade fundiária rural
esta submetida no Brasil OITR (Imposto Territorial Rural) (2003 p 493).
Essa realidade da estrutura fundiária brasileira tem que ser entendida no seio da lógica
contraditória do desenvolvimento do capitalismo no país, que ao mesmo tempo em que expande
a produção capitalista no campo revela também seu caráter rentista.
A penetração capitalista no campo a partir da década de 60, caracteriza-se pela transição
da grande propriedade improdutiva para a grande empresa capitalista e pela exclusão da maioria
das pequenas e médias propriedades.
O cerne desse modelo é a modernização conservadora, que tem como pilar modernizar a
grande propriedade, com a conseqüente manutenção de uma estrutura fundiária concentrada,
exigindo qualidade e produtividade, que estão atreladas a adubação química e mecanização,
tendo em vista o mercado externo e as demandas da indústria nacional, as quais passaram a
determinar o perfil da agricultura brasileira. Neste processo de desenvolvimento, não foi
previsto um espaço para a incorporação da pequena e média propriedade que, sem qualquer
diretriz de política econômica a seu favor, sofreram um processo de espoliação maior do que o
normal, pois, excluídos de credito e de comercialização, se fragilizaram, dando origem ao
grande êxodo rural ocorrido nas décadas de 70 e 80.
O problema fundiário mantido pela modernização conservadora foi, a época, agravado
pelo incentivo à especulação fundiária incentivada pelo mesmo governo que modernizou a
grande propriedade, só que agora, em dimensões capitalistas em ambos os sentidos, ou seja,
grandes extensões, para grandes grupos econômicos.
“Não poderá haver reforma agrária no Brasil enquanto idéias das classes
dominantes forem as mesmas que constituíram ou constituem os fundamentos
ideológicos do sistema latifundiários” (Guimarães, 1981, p. 240).
As “posses” têm grande representatividade na estrutura fundiária brasileira. Elas podem
estar em terras públicas, devolutas ou, em casos mais raros, em terras privadas. Por ser prática
ilegal, há grande possibilidade de o fenômeno ser superior ao alcançado pelos dados do INCRA.
De acordo com o Instituto, em 2003 existiam no Brasil 1.172.980 imóveis de “posse” (27,3% do
total de imóveis rurais do Brasil), os quais perfaziam 66.285.346,8 ha (15,8% da área total dos
imóveis rurais brasileiros). Os detentores desses imóveis eram exclusivamente “posseiros” e não
possuíam nenhum outro imóvel sob condição de proprietário. Porém, além desses detentores
que eram exclusivamente “posseiros”, o cadastro do INCRA também apresenta os dados sobre
“posseiros” que também eram proprietários. No cadastro, as “posses” e propriedades desses
detentores não são discriminadas, de forma que os dados são disponibilizados conjuntamente
(somados). Sendo assim, em 2003, os proprietários que também eram posseiros detinham, entre
propriedades e “posses”, 117.909 imóveis rurais e 15.529.980 há.
As posses de terras são criticadas por diversos autores e segundo OLIVEIRA, as posses
de camponeses na Amazônia não ultrapassam 100 ha. Por este motivo e pelos inúmeros casos de
corrupção envolvendo funcionários do INCRA que “vendiam” ilegalmente terras públicas, o
autor considera que a regularização de posses com área superior a 100 ha na Amazônia Legal
constitui a legalização de grilos. (OLIVEIRA, 2008).

b. A Reforma Agrária

A problemática da questão de terras vem desde o fim das sesmarias. Nesse sentido,
Martins (2004, p. 136) afirma que “a questão agrária brasileira nasce nesse momento, em 1850,
quando o velho e flexível regime de sesmarias foi suspenso em 1822 pela corte de Portugal”. A
reforma agrária se tornou uma condição necessária para a emancipação da cidadania da maior
parte da população rural.

“Consideremos que a reforma agrária desarticula área de terras particulares,


atingindo a propriedade privada, para estar inserindo terceiros de modo massivo”
(LARANJEIRA, 1993, p. 128).

As grandes fazendas particulares dos latifúndios que no período militar estiveram


amparados por um acordo da aprovação aos latifúndios a não implantação do Estatuto. Segundo
SORJ (1968, p. 148) “dentro do contexto capitalista atual, a reforma agrária, em si mesma, não
se apresenta como resposta suficiente aos problemas dos travadores rurais”. Trata-se de um
jogo de interesses e das relações de poder das classes envolvidas onde políticas de
desapropriação não respondem de forma imediata aos trabalhadores rurais. Para SILVA (1991)
“a reforma agrária necessita ser imediata, não podendo prolongar por um longo período de
tempo, ficando a disposição de o Estado agilizar esse processo de reforma agrária numa forma
de regularização da estrutura fundiária brasileira”. Porém LARANJEIRA relata:
“Reforma agrária é o processo pelo qual o Estado modifica os direitos sobre a
propriedade e posse bens agrícolas, a partir da transformação fundiária e da
reformulação das medidas de assistência em todo país, com vista a obter maior oferta
de gêneros e a eliminar as desigualdades sociais no campo” (1993, p. 128).
O Estado tem uma grande importância como interventor e articulador nas questões
fundiárias do país, CAJANGO (1992, p. 07) relata que “...se trata de uma intervenção do Estado
nos alicerces do setor agrícola” . O Estado se encontra presente e tem poder de atuar sobre a
questão de conflitos até a definição de propostas e soluções. Fica a cabo de o Estado minimizar
os conflitos que são gerados no campo e que providencie para que o pequeno produtor possa ter
o direito de trabalhar na terra e contribuir para o crescimento do país.
A reforma agrária envolve desenvolvimento econômico do país, crescendo a oferta de
alimentos, gerando rendas, pois ocorre em melhor aproveitamento das terras, que antes da
desapropriação não eram utilizadas. Porém, no Brasil sempre foram comuns os grandes projetos
de reforma agrária com baixíssimos resultados, os grandes proprietários de terras sempre
tiveram enorme influencia sobre a política do país o que se tornou um entrave para que possam
ocorrer mudanças profundas na distribuição da propriedade rural. MARTINS (2004, p. 28)
relata que “a questão agrária só se resolvera na mesa das boas intervenções e do amor a prática e
ao povo na renúncia aos particularismos, conveniências e imediatismos de instituições, partidos,
grupos e pessoas”. Isto esta muito longe de acontecer num país em que se vêem mais os
particularismos do que o coletivo. As terras brasileiras de grandes extensões estão nas mãos de
poucos e estes estão ligados muito ao particularismo e não pensam no coletivo.
Por isso é importante haver uma política fundiária do ponto de vista da eficácia
delineada pelo projeto de modernização da agricultura que venha penetrar no campo para
atender as necessidades do Estado e dos trabalhadores. Deste modo tem que haver uma política
que proporcione o direito a terra para os trabalhadores rurais. ABRAMOVAY esclarece:

“No ponto de vista político a reforma agrária é o principal caminho para que a
maior aspiração do homem do campo seja atendida: a conquista da cidadania, ou
seja, o direito de só um voto independente, mas um local de moradia de melhores
condições de vida” (1986, p. 18).
Uma reforma agrária estrutural atinge os interesses politicamente fortes que se torna
quase impossível ser realizada fora de um contexto revolucionário. O aumento dos conflitos no
campo e o crescimento dos movimentos sociais revelam que haverá a necessidade de se fazer
uma ampla e profunda reforma agrária, ou continuar com a estrutura fundiária concentrada.
Além dos fatos acima citados, segundo OLIVEIRA (2007) observa-se que:

“O Brasil possui 850 milhões de hectares cadastrados no Incra; em 2003, tínhamos


436 milhões de hectares; como áreas indígenas, tínhamos 128 milhões de hectares;
como unidades de conservação ambiental, 102 milhões de hectares. O que quer dizer
que há uma sobra de algo em torno de 200 milhões de hectares de terras devolutas,
isto é, terras que foram cercadas e que não pertencem a quem as cercou. Então, a
não discussão da reforma agrária encobre justamente essa grilagem de um quinto do
território brasileiro. Esse é o primeiro ponto fundamental da questão agrária.”

2. Colonização de Mato Grosso

A “ocupação” do atual território do Estado de Mato Grosso se inicia com a descoberta


das minas dos rios Coxipó e Cuiabá pelos bandeirantes em 1719. Nesse momento, foi no
território das “minas do Mato Grosso” que surgiram os primeiros povoados, a dinâmica
comercial e a presença da coroa portuguesa.
Desde o estágio inicial de ocupação, em 1719, até os dias de hoje, a estrutura fundiária
de Mato Grosso, principal patrimônio do Estado, encontra-se assentada, predominantemente, em
propriedades latifundiárias que se constituíram, em sua grande maioria, à margem das
prescrições legais.
Em 1820, Cuiabá passa a ser a capital do estado. Tal fato se deve por Cuiabá ser a cidade
mais populosa do estado e pela articulação da elite de latifundiários e comerciantes bem
sucedidos. (MORENO, 1993)
No final do século XVIII as minas se enfraqueceram levando mineiros, latifundiários e
comerciantes a praticar atividades produtivas diversificadas, e muitos solicitaram junto ao
governo a concessão de sesmarias para ampliar suas atividades. No ano da proclamação da
república, 1889, a economia era baseada na atividade agropecuária (pecuária, cana-de-açúcar e
extrativismo). Muitas usinas de açúcar surgiram às margens dos rios Cuiabá e Paraguai,
produzindo açúcar, aguardente e álcool.
Com a promulgação da primeira Lei de Terras (Lei n. 601) em 1850 o acesso a terra
passou a ser por compra e venda, dando fim ao processo de concessão e acesso livre a terra.
Cabia ao governo federal definir e regularizar a posse da terra. Por esta mesma lei, as terras
devolutas passaram a ser domínio da União. Com a promulgação da Primeira Constituição
Republicana, em 1891, esta posse passou para os governos estaduais, cabendo a estes o
reordenamento jurídico das propriedades em seus estados. Desta forma as classes dominantes
em cada estado teriam maior influência sobre a distribuição de terras.
A primeira Lei de Terras do Estado de Mato Grosso foi sancionada em 1892, tratando
dos mecanismos da regularização fundiária e no mesmo ano outra lei repartia as terras públicas.
Estas leis garantiam posses de grandes áreas aos latifundiários do estado, inclusive à aqueles
que não se ajustaram a lei de terras de 1850 por terem áreas maiores que a permitida (3.600
hectares) conseguiram regularizar através da lei estadual. Então, em Mato Grosso a lei de
democratização do solo favoreceu os grandes posseiros, ao invés de beneficiar os pequenos.
No Estado Novo, ocorreram algumas ações para o processo de ocupação de Mato
Grosso, sobre influência do programa “Marcha para o Oeste” da Fundação Brasil Central. Uma
foi na criação do núcleo populacional que deu origem ao município de Nova Xavantina,
resultado da expedição Roncador-Xingu, que procurava uma área estratégica para a instalação
da sede do governo federal. Em 1943, outras ações foram realizadas pela Comissão de
Planejamento e Produção (CPP) do governo estadual, que em apoio ideológico ao governo
federal, instalou colônias de povoamento no vale do rio São Lourenço para fixar a mão-de-obra
da população mineira remanescente. Várias colônias foram desenvolvidas em Rondonópolis,
Jaciara e Dom Aquino. (SÁNCHEZ, 1992; GOVERNO DO ESTADO, 2005):
A ‘Marcha para o Oeste’, empreendida por Getúlio Vargas, foi suficiente para
estimular migrantes a se estabelecerem em Mato Grosso. O projeto original visava
fixar o trabalhador nacional em solo matogrossense, através de assentamentos em
pequenas propriedades. (Siqueira, 1990, p. 130)
Entre 1930 e 1947 o Brasil foi governado por Getúlio Vargas que tinha por objetivo
diversificar a agricultura para evitar crises de superprodução como estava ocorrendo com o café.
Para isso o governo de Vargas passou a incentivar a expansão das pequenas propriedades. Deu
início a “Marcha para Oeste”, uma política de distribuição de terras para trabalhadores rurais
nacionais ou estrangeiros. Outro objetivo desta política era ocupar espaços vazios do território
brasileiro. Para dar espaço a estes o governo federal desalojou a companhia Mate Laranjeira e
no seu lugar em 1943 implantou uma colônia agrícola, denominada “Colônia Agrícola Nacional
de Dourados”. Que tinha objetivo segundo preleciona Abreu (2001:59):
A CAND teve um caráter de povoamento com múltiplos objetivos: a) garantir a
ocupação territorial, aumentando o contingente populacional das áreas limítrofes
com os países vizinhos; b) “desafogar” áreas de possíveis conflitos sociais, como o
Nordeste brasileiro, por exemplo, dada as condições de miserabilidade enfrentadas
pela grande maioria da sua população, já em constante migração para outras áreas
do País (principalmente São Paulo e Amazônia) e agora, para o Sul de Mato Grosso;
c) confirmar a parte austral mato-grossense como extensão do Sudeste, participando
como mercado de consumo dos produtos paulistas, bem como extensão da área de
produção.
Novas colônias agrícolas semelhantes foram implantadas no Estado. No entanto esta
política também favoreceu os grandes latifundiários que ficaram mais protegidos de invasões de
grileiros em suas propriedades além de ter mais mão-de-obra à disposição. Após o fim da era
Vargas, em 1947 assume Mato Grosso o governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, que
buscou por em prática o sistema de colonização intermediado por empresas particulares. Este
governo ainda solicitou ampla reformulação das leis que dispunham sobre terras no Estado, este
pedido foi concretizado no Código de Terras de 1949 (composto pelas Leis n. 18 de 21/10/1949;
n. 68 de 11/12/1949 e Lei n. 75 de 12/12/1949).
Nas décadas de 1950 e 1960, o governo do Estado começa a vender grandes parcelas de
terra no norte e no nordeste do estado para a colonização particular. De 1966 a 1978, a
Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso (Codemat) realizou as políticas de
venda direta por meio de licitação ou concessão do governo, de regularização fundiária de
antigas colônias agrícolas estaduais implantadas nas décadas de 1940 e 1950 e de legitimação de
posse e reconhecimento de domínios particulares. Isso, com e sem exigência de conferência.
Nesse período, a maior parcela da arrecadação de Mato Grosso foi decorrente da venda de
terras. Essa intensa política de regularização fundiária se prolongou até 1986. (SANTOS, 1993;
MORENO, 1993)
No governo militar, com as transformações da conjuntura política e econômica do
Brasil, às políticas de “ocupação” e desenvolvimento do Estado de Mato Grosso passou a
abranger três âmbitos: o geopolítico voltado para a distribuição de terras para efetivar a
“ocupação”; o âmbito econômico, para fortalecer a economia nacional através da produção e
consumo de bens; e o âmbito social, no sentido de transferir o “excedente” populacional do Sul,
Sudeste e Nordeste brasileiro para aquela região. Nesse contexto, os diversos governos federais
e estaduais estimularam a migração de sul-rio-grandenses, catarinenses, paranaenses, paulistas,
mineiros, capixabas e nordestinos para as regiões “desocupadas” do Estado do Mato Grosso.
Em 1964, o Estatuto da Terra sinalizou a possibilidade de traçar o estabelecimento de
princípios norteadores, capazes de tomar corpo e consolidar-se em políticas agrárias e agrícolas
para os produtores familiares do campo. Na prática, prevaleceram os interesses oligárquicos
segmentos rurais e urbanos que sempre estiveram à frente do processo. Isso explica a acentuada
concentração da terra, a exclusão das famílias camponesas nas décadas seguintes, em razão dos
programas especiais incentivados pela SUDAM, SUDECO e PROTERRA.

Com a criação do Incra, no ano de 1970, muitas áreas do estado de Mato Grosso foram
federalizadas, passando o INCRA a ter sob seu domínio mais de 60% das terras mato-
grossenses. Este órgão passou a ser o responsável pelas terras devolutas e a dar destinos às
mesmas segundo as diretrizes do Estatuto da Terra. Promoveu-se a distribuição de terras para
colonização oficial e particular, todas as estratégias de colonização faziam parte da estratégia de
povoação da Amazônia.
Considerado portal da Amazônia, Mato Grosso passou a receber recursos de diversos
programas especiais de desenvolvimento (PIN, PROTERRA, POLOCENTRO,
POLAMAZONIA e POLONOROESTE). Estes programas, segundo Moreno (2007) “serviram
em primeira instância para patrocinar o acesso a terra na região pelos grandes grupos
econômicos” (p. 156), isso porque eram eles que conseguiam os recursos destes programas.
A partir de 1970 o governo federal passou a estimular ainda mais a fixação de grandes
empresas e fazendeiros na região, oferecendo diversos tipos de condições, via SUDECO, BASA
e SUDAM. Estes incentivos eras acessíveis apenas aos grandes proprietários. Acabou ocorrendo
uma concentração de terras perversa, tendo na atividade pecuária a sua sustentação maior. O
POLOCENTRO foi criado pelo Decreto
nº 75.320/75 motivou o incremento de grandes propriedades nas áreas de cerrado
anteriormente desprezadas. Imaginava-se na década de 70 que, ocupando os espaços vazios da
Amazônia, oferecia-se uma solução para minimizar os sérios conflitos urbanos e rurais no sul do
país. Além desses, no final dos anos 70 o INCRA também implantou três grandes projetos de
colonização: Lucas do Rio Verde (PAC Lucas), Peixoto de Azevedo (PAC Peixoto) e Guarantã
do Norte (PAC Braço Sul e Braço Norte). Também foram implantados projetos de colonização
menores ao longo e na adjacência da rodovia.
O POLOCENTRO tratava-se de um programa do II PND, criado especialmente para
promover a ocupação de áreas selecionadas, do Planalto Central Brasileiro, de
predominância de Cerrado, que previa para o período de 1975/79 a corporação de
3,7 milhões de hectares à agropecuária e atividades florestais, nos então estados de
Goiás e Mato Grosso, além de Minas Gerais, e que ficou sob a responsabilidade de
gerenciamento da SUDECO. (ABREU 2001, p. 147)
Por meio da SUDAM, nas décadas de 1970 e 1980 foram implantados no estado 268
projetos de colonização intermediado por empresas, dos quais 84,9% eram projetos
agropecuários. E assim, 23,06% dos incentivos fiscais da SUDAM ficaram em Mato Grosso. Os
projetos agropecuários ocupavam áreas em torno de 31.400 hectares, quase sempre destinado a
criação de gado.
Ainda na década de 70 que se iniciou a abertura das rodovias BR-158, ligando Barra do
Garças à divisa com o Estado do Pará; a BR-163, no trecho Cuiabá-Santarém, e houve a
reconstrução da BR-364, no trecho Cuiabá-Porto Velho. Para facilitar a colonização das áreas
adjacentes a essas rodovias, foi editado o Decreto-Lei nº 1.164/71 que tornava as terras às
margens das rodovias federais, na Amazônia Legal, numa faixa de 100 km, suscetíveis de
desapropriação para fins de reforma agrária.
Uma vez implantada a infra-estrutura básica, as áreas de terras que já haviam sido
vendidas, valorizaram-se rapidamente, dando origem a diversos projetos de colonização privada
e agropecuários. Só no eixo da BR-163, entre Cuiabá e a divisa com o Pará surgiram três
grandes projetos de colonização particular: Nova Mutum (Agropecuária Mutum S/A), Sorriso
(Colonizadora Feliz) e Sinop (Colonizadora Sinop S/A). Fora do eixo, mas ainda sob a
influência da rodovia foram implantados os projetos de colonização de Alta Floresta (INDECO)
e Colíder (Colonizadora Liderança). Além desses, no final dos anos 70 o INCRA também
implantou três grandes projetos de colonização: Lucas do Rio Verde (PAC Lucas), Peixoto de
Azevedo (PAC Peixoto) e Guarantã do Norte (PAC Braço Sul e Braço Norte). Também foram
implantados projetos de colonização menores ao longo e na adjacência da rodovia.
Já nos anos 80, e sofrendo com a escassez de recursos, a SUDECO criou o
POLONOROESTE – Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil, criado
pelo Decreto nº 86.029/81, e que tinha por objetivo o asfaltamento da BR-364, ligando Cuiabá a
Porto Velho, além da implantação de infra-estrutura básica na área de influência. No Estado de
Mato Grosso foram incluídas no POLONOROESTE a região Noroeste, estando aí inclusa a
Chapada dos Parecis.
Em meados da década de 1980, tudo levava a crer que o conflito pela terra no Estado
havia encontrado o caminho de solução. Embora tímido e voltado, fundamentalmente, para
solucionar o problema dos bolsões de conflito, o I Plano Regional de Reforma Agrária de Mato
Grosso (I PRRA-MT, dezembro/85) apresentou em sua meta trienal a proposta para assentar
41.900 famílias em 2.094.500 ha. Em 1990, ano previsto para o término de execução da
primeira fase do Plano, o INCRA realizou apenas 23,46% das desapropriações, assentando
17,39% das famílias previstas.
Nos dias de hoje, o Mato Grosso apresenta o maior número de projetos de assentamento
de Reforma Agrária do país. São trezentos e setenta e três que se localizam em todas as regiões
e municípios do Estado. A área destinada aos assentamentos é superior a 4,5 milhões de
hectares que acolhem 60 mil famílias. Contudo, em que pese o significado destes números, o
produtor familiar assentado vive e persiste em um estado de permanente instabilidade no que
tange à fixação e produção no campo. Com toda certeza, como afirmam os produtores, a
inexistência de política agrícola torna incerto o amanhã, colocando em risco a permanência na
terra e, conseqüentemente, a própria identidade do agricultor.

a. Situação da estrutura fundiária em mato grosso

Hoje, o Mato Grosso é um dos estados que apresenta um dos maiores índices de
concentração fundiária do país. Na tabela 2, observamos que os índices de Gini de Mato Grosso
estão indicando, de 1967 até 2003, a diminuição de intensidade de concentração.

TABELA 2 – Índice de Gini 1967, 1972, 1978, 1992, 1998 e 2003


1967 1972 1978 1992 1998 2003
0,858 0,867 0,855 0,817 0,811 0,763
Fonte: Hoffmann, 1998 e DATA LUTA – Estrutura fundiária cadastro INCRA.

O cálculo do índice de Gini para Mato Grosso possibilita uma visão geral da estrutura
fundiária, porém não permitem a indicação de regiões críticas onde os movimentos
socioterritoriais e o Estado possam atuar para alavancar o desenvolvimento.
Mato Grosso apresenta alta concentração de terra na mão de poucas pessoas (latifúndio)
essa concentração se deve principalmente a fatores históricos da colonização no Estado e de
políticas públicas ineficazes com objetivo de distribuir terras para fins de reforma agrária. Outro
problema na estrutura fundiária do Estado de Mato Grosso é o número de imóveis sem
documentação legal, isto é, no regime de posse, conforme figura 2 - Área dos imóveis de posse.
Figura 2 - Área dos imóveis de posse

Nota-se que no Estado de Mato Grosso um pequeno aumento no numero de imóveis rurais
no período de 1992 a 2003, em contra partida, verifica-se que aumentou também a área dos
imóveis rurais no mesmo período. Como se observa na Figura 3 - Evolução do número de
imóveis e da área dos Imóveis de 1992 – 2003.
Figura 3 - Evolução do número de imóveis e da área dos Imóveis de 1992 – 2003.

Apesar de não ter havido diminuição significativa do grau de concentração da terra no


Brasil entre 1992 e 2003, neste intervalo de onze anos analisado o número de imóveis rurais e a
área total dos imóveis apresentou taxas muito elevadas de crescimento.

Moreno (1993), através de cuidadosa análise no acervo de documentos do governo de


Mato Grosso, chega à conclusão que o processo de “ocupação” de Mato Grosso foi marcado
pela transferência das terras devolutas do Estado para o domínio da propriedade privada. Por
meio da articulação do governo federal e estadual, foram criados mecanismos institucionais e
jurídico-político de acordo com os interesses do Estado. O resultado foi uma política que
induziu a monopolização da propriedade privada da terra de latifundiários, capitalistas
particulares e grupos econômicos através da compra da terra para estocagem ou especulação,
resultado de políticas que serviram para premiar e pagar favores e condicionando a terra a favor
da reprodução do território em bases capitalistas.

Segundo Fernandes (2000), o governo militar realizou sua política agrária sem alterar a
fundiária. Seu objetivo de transferir a população expropriada para “as terras sem homens” por
meio dos projetos de colonização, era de fornecer força de trabalho até então inexistente, para os
projetos agrominerais e agropecuários dirigidos por grandes empresas. A implantação dessa
política garantiu a permanência dos latifúndios existentes, bem como a formação de outros.
Desses imóveis originaram as monoculturas de grandes dimensões, que acarreta o processo de
monopolização das terras por meio da expansão das lavouras e desapropriação camponesa.
Figura 4 - Área dos imóveis pequenos, médios e grandes.

No mapa acima os municípios foram classificados segundo a predominância dos imóveis


pequenos, médios e grandes na detenção da área total dos imóveis rurais no município.
Para o mapeamento da estrutura fundiária, utilizamos principalmente os dados da
área, pois, se tomarmos o número de imóveis, os menores serão sempre mais numerosos. Em
nosso entendimento, o que importa realmente é a proporção da área total que cada classe detém,
é isso que determina a maior ou menor importância da agricultura camponesa ou da agricultura
capitalista. Observamos que o Estado de Mato Grosso é composto, na sua maioria, por
propriedades médias e grandes.
Somando as informações acima, analisamos os resultados dos dados estruturais dos
censos agropecuários realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no
período de 1970 a 2006, e verificamos que o número de estabelecimentos aumentou 147,66%,
pois em 1970 havia 46.090 estabelecimentos e em 2006 pulou para 114.148 estabelecimentos
rurais. Já a área total em hectares aumentou 179,92%, pois em 1970 havia 17.274.745 há e em
2006 havia 48.355.569 há. O percentual de aumento pode ser explica do em virtude do número
de assentamentos que foram implantados no Estado de Mato Grosso nesse período.

Tabela 3 – Mato Grosso: transformação na estrutura fundiária dos anos 1992, 1998 e 2003.

Analisando a tabela 3, de 1992 a 1998 foram acrescentados 32.369 novos imóveis, tendo
uma mudança na área de 27.125.722,70 hectares. Desse acréscimo de imóveis às pequenas
propriedades representam à participação de 55,7%, as médias de 33,8% e as grandes de 10,5%.
No que diz respeito ao aumento da área, a pequena representou 4,3%, a média 27,3% e a grande
68,4%. Ao passo que a pequena propriedade é a mais expressiva no aumento de imóveis, pouco
representa no total de área acrescida, o que acontece o oposto na grande propriedade.

De 1998 a 2003, ao passo que aumentaram 20.814 imóveis, houve a diminuição de


2.426.257,50 hectares. Desse número acrescido dos imóveis 60,8% foram de pequenas
propriedades, 34,9% de médias e 4,3 de grandes. Quanto à mudança na área no período de 1998
a 2003, enquanto a pequena e a média propriedade tiveram um aumento de 798.355,20 hectares
e 4.752.069,6 hectares, respectivamente, a grande propriedade teve um decréscimo de
7.976.682,3 hectares. Essa diminuição foi especificamente nas propriedades com mais de 10 mil
hectares, fazendo com que a variação acumulada desse período apresentasse um decréscimo de
2.426.257,50 hectares.

Figura 5 – Número de imóveis em 2003 x Número de estabelecimentos em 2006.


A figura 5 representa, através de uma regressão linear, a comparação entre número de
imóveis rurais e o número de estabelecimentos agropecuários. Esta diferença indica a agregação
ou o fracionamento de imóveis rurais na formação de estabelecimentos agropecuários. Quando
o número de imóveis é maior do que o número de estabelecimentos, vários imóveis são tomados
(em arrendamento, por exemplo) por um mesmo produtor rural e agregado para formar um
único estabelecimento agropecuário. Ao contrário, quando o número de imóveis é inferior ao
número de estabelecimentos, temos um indicativo do fracionamento dos imóveis em várias
glebas que são cedidas (possivelmente também por arrendamento) para vários produtores,
formando assim diversos estabelecimentos agropecuários. Ambas as situações indicam a
apropriação da renda da terra pré-capitalista, já que não são os proprietários que exploram
produtivamente a terra e quem o faz certamente paga o proprietário de alguma forma. Quanto às
causas da ocorrência de um ou de outro processo, podemos considerar duas hipóteses: no
primeiro caso, em que ocorre a agregação, os imóveis da região podem ter área reduzida ao
ponto que sua exploração não seja economicamente possível segundo o modelo agrícola
produtivista predominante, o que forçam alguns a darem e outros tomarem em arrendamento.
Por isso, a agregação dos imóveis também pode indicar a desintegração do campesinato. Já o
segundo caso, do fracionamento dos imóveis, pode estar ligado à concentração da terra, com
grandes imóveis que, não explorados produtivamente (porém explorados economicamente, já
que os proprietários recebem pelo arrendamento) por seus proprietários, são fracionados e
explorados por diversos produtores.

A figura acima é extremamente importante por indicar as regiões em que os produtores


rurais, em especial os pequenos, encontram maiores dificuldades para produzir. De um lado, o
modelo agrícola produtivista impede que consigam sobreviver no livre mercado agrícola; no
outro caso, os produtores, verdadeiros merecedores da propriedade e posse da terra, são
obrigados a pagar a renda da terra pré-capitalista para os proprietários que não produzem e não
contribuem para o desenvolvimento do país.
Figura 6 – Área dos imóveis em 2003(Incra) x Área dos estabelecimentos em 2006 (IBGE).

A diferença entre a área total dos imóveis rurais e dos estabelecimentos agropecuários
indica as discrepâncias nos dados, já apontadas nesta seção. Isso por que toda área de imóvel
rural deve ser declarada como parte de algum estabelecimento agropecuário, seja esta terra
explorável ou não; explorada ou não; posse ou propriedade. O ideal é que a área total dos
imóveis rurais seja igual à área total dos estabelecimentos agropecuários. Quanto mais
diferentes forem esses dados, mais fortes são os indícios de que haja deficiência nos dados ou
má fé dos declarantes. O mapa 11.7 indica a discrepância entre os dados de área do INCRA e do
IBGE e é ponto de partida para pesquisas que tenham como objetivo analisar os problemas dos
dados da estrutura fundiária brasileira. O diferencial territorial do mapa indica que os
fenômenos ocorrem no território de forma heterogênea, mas há correlação espacial entre as
microrregiões que apresentam fenômenos semelhantes.

Agora vamos dividir o Estado em cinco regiões (Norte, Vale do Araguaia, Chapada dos
Parecis, Oeste e Sul) com suas respectivas cidades, classificando-as em mini, pequena, média ou
grande propriedade, baseado nas Estatísticas consolidadas de recadastramento do Incra em
1992.

No Norte do Estado
É no Norte do Estado de Mato Grosso que a colonização particular mais avançou. No
eixo da BR-163 foram implantados os projetos de Mutum, Sorriso e Sinop, e na área de
influência Alta Floresta e Colíder, todos de colonização particular.
Ainda no eixo desta mesma rodovia, o INCRA implantou quatro projetos de
colonização: Guarantã do Norte, Lucas do Rio Verde, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do
Norte.
Os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sorriso, Sinop e Vera, têm em
comum a exploração da terra, atualmente, para a produção de commodities agrícola. Essas são a
explorações da terra com a plantação de produtos voltados para a exportação. Nos demais da
região ainda é forte a presença da indústria madeireira, e da pecuária extensiva, e em alguns
casos o garimpo.
Merece destaque o caso da Colonizadora Sinop S/A, que em sua área de atuação criou
quatro cidades, Cláudia, Santa Carmem, Sinop e Vera, sendo que apenas Sinop está no eixo da
BR-163.
Daí se pode ter noção do tamanho das áreas que foram vendidas aos particulares para
que se empreendessem projetos de colonização.

Analisando a Tabela 2, verifica-se a opção pela grande propriedade, em detrimento da


pequena, exceto nos casos de colonização pelo INCRA, que, até a publicação das estatísticas
com base do cadastro rural, ainda permaneciam com suas estrutura fundiária voltada para o
minifúndio e pequena propriedade rural.

Entretanto, temos que fazer uma observação. Apesar de Peixoto de Azevedo ter sido
uma colonização do INCRA, no início dos anos 80 houve uma intensa atividade de garimpo na
região, alterando sua estrutura fundiária original.

No Vale do Araguaia
Se no Norte do Estado há uma alta concentração de terras, é no Vale do Araguaia que
estão as maiores porcentagens de grandes propriedades, em relação à área cadastrada, de Mato
Grosso.
Nessa região foi aberta a BR-158, que liga Barra do Garças à Vila Rica, na divisa com o
Pará, que fazia parte da área-programa Xingu-Araguaia, no POLAMAZÔNIA. Consoante
Abreu (2001:143):
Dentro dessa área-programa situava-se a fazenda Suiá-Miçu, do grupo italiano
Liquifarm (que deu origem a cidade Liquilândia), com 50 mil reses no município de
Barra do Garças. A presença desse grupo foi determinante para que a área fosse
potencialmente considerada pólo agroindustrial e para que a BR-158, já planejada
pelo Programa Rodoviário do I PLADESCO, fosse retomada e construída, assim
como outras estradas vicinais, para ligação das zonas produtoras com a área de
influência da Suiá-Miçu.

Com a construção da rodovia, surgiram diversas área de colonização e que deram origem
aos municípios de Alto Boa Vista, Cocalinho, Luciara, Ribeirão Cascalheira, Santa Terezinha e
São José do Xingu, que juntamente com os já existente municípios de Barra do Garças e São
Félix do Araguaia, apresentam as maiores concentrações de terras do Estado.

A Tabela 3 demonstra a alta concentração de terras na região, e demonstra que


minifúndios e pequenas propriedades são raridades no Vale do Araguaia.

Na Chapada dos Parecis

A região da Chapada dos Parecis integrou, como área-programa, o POLOCENTRO, que


implantou uma malha viária na região, e infra-estrutura para armazenamento da produção
agrícola, e posteriormente também foi beneficiada pelo POLONOROESTE, que implantou
diversas estradas vicinais, escolas rurais e postos de saúde nos municípios abrangidos.
Atualmente a região é formada pelos municípios de Alto Paraguai, Arenápolis, Campo
Novo do Parecis, Diamantino, Nortelândia, Nova Marilândia, Santo Afonso, Tangará da Serra e
Sapezal. Esse foi desmembrado do município de Campo Novo do Parecis, que por sua vez foi
desmembrado de Diamantino. Entretanto, nas estatísticas do INCRA não consta o município de
Sapezal, que ainda não havia sido criado quando da consolidação dos dados pela autarquia.
A Tabela 4 demonstra a estrutura fundiária de região. A região também possui uma
grande concentração de terras, e que se deve a dois motivos. O primeiro deles é que na área de
chapada, que envolve os município de Campo Novo do Parecis, Diamantino e a maior parte de
Tangará da Serra, há a exploração da terra por meio da cultura de soja, milho, arroz, algodão e
cana de açúcar, que alimenta uma indústria sucroalcooleira em Campo Novo d Parecis.
A exploração de commodities demanda propriedades maiores para que a lavoura torne-
se rentável. O segundo é que na parte abaixo da chapada há a exploração, em sua maior parte,
da pecuária extensiva, e em menor parte da cana-de-açúcar para abastecer uma indústria
sucroalcooleira localizada no município de Nova Olímpia, que também integra a região, mas
não foi beneficiada pelo POLOCENTRO.

Na região Oeste

A região Oeste do Estado possui uma ocupação mais antiga, e que foi feita pela Coroa
Portuguesa no intuito de fixar a fronteira brasileira.
Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade são cidades que têm sua origem ainda no
século XVIII, e foram criadas por ordem del-rey, sendo que a segunda por muito tempo foi a
capital administrativa da Capitania de Mato Grosso, enquanto os municípios de Araputanga,
Mirassol d’Oeste, Pontes e Lacerda, Rio Branco, e São José dos Quatro Marcos tiveram sua
origem em projetos de colonização particular, e com incentivo do governo estadual, que nos
anos 50 vendeu, a particulares, terras no intuito de povoar a região. A região foi incluída em
dois projetos, o PLADESCO e o POLONOROESTE.
A presença das grandes propriedades domina a região, com exceção dos municípios de
Mirassol d’Oeste e São José dos Quatros, que apresentam altos índices de minifúndios e
pequenas propriedades, demonstrando uma boa distribuição de terras nos referidos municípios.
A Tabela 5 apresenta a situação fundiária da região.
O município de Cáceres faz parte do ecossistema do pantanal, o que propicia o
surgimento de grandes propriedades de terras coma a exploração extensiva da pecuária. Se não
bastasse isso, a região está localizada na faixa de fronteira, ou seja, uma área de 150 km da
divisa com os países vizinhos, o que torna a titulação da terra um grande problema, e que por
anos se arrasta sem que seja efetivamente resolvido.

A região Sul

A região Sul do Estado é de ocupação mais antiga, em relação ao Norte e Noroeste


(Chapada do Parecis), com algumas cidades que tiveram sua origem ainda nos anos 30, através
da atividade do garimpo de ouro, como é o caso de Poxoréu e Guiratinga. pólo econômico da
região é a cidade de Rondonópolis, que tem sua atividade econômica calcada na agroindústria.
A região foi beneficiada pelo PLADESCO, e mesmo com uma ocupação mais antiga, em
relação às demais área do estado, a estrutura fundiária permanece inalterada, tendo como base a
grande propriedade. A Tabela 6 demonstra a situação fundiária da região, que segue a tendência
do resto do estado.
b. Situação da reforma agrária em mato grosso

Os dados sobre assentamentos rurais são secundários, extraídos do Censo da Reforma


Agrária de 2002 (SPAROVEK, 2002), trata-se de um banco de dados que reúne informações de
todos os projetos de assentamento rurais do Brasil. Em Mato Grosso foram levantados 332
projetos de assentamento localizados em 98 municípios, com criações datadas desde o ano de
1981 até o ano de 2002. Em geral, os assentamentos estão bem distribuídos pelo Estado, como
pode ser observado na Figura 5, onde os pontos brancos representam os projetos de
assentamento.

Figura 5 – Mato Grosso: distribuição dos 332 projetos de assentamento criados entre 1981 e
2002
Fonte: Adaptado de Sparovek (2003)

Observando a história da propriedade das terras mato-grossenses, sempre favorecendo a


grande propriedade, compreendem-se as raízes da estrutura fundiária presente no Estado. Neste
cenário de grandes propriedades há uma pequena agricultura familiar, e grande parte desta
agricultura familiar é originária de assentamentos rurais. Segundo Oliveira 2008, afirma que: “...
a política de reforma agrária do Incra é a mesma da década de 90 e está marcada por dois
princípios: não fazê-la nas áreas de domínio direto do agronegócio e, fazê-la nas áreas onde ela
possa “ajudar” na expansão do agronegócio”.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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UFMT, 1990.

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HOFFMAN, Rodolfo. A estrutura fundiária no Brasil de acordo com o cadastro do Incra:


1967-1998. Campinas: Convênio Incra/Unicamp, 1998.

MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São
Paulo: Hucitec, 1997. 203 pp. il.

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grilagem, corrupção e violência. 1997. 496 f. (Tese de livre-docência) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. il.

SÁNCHEZ, Roberto Omar. Zoneamento agroecológico do Estado de Mato Grosso:


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furacão. Revista Veja, n. 39, ano 37, pp. 98-100, set./2004. il

MORENO, Gislaene. Os (des) caminhos da apropriação capitalistas da terra em Mato


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ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. São Paulo. Ed


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LARANJEIRA, Raymundo. Colonização e Reforma Agrária no Brasil. Rio de Janeiro:


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