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MATO GROSSO
Otoniel Coutinho(3)
RESUMO
O presente artigo faz parte da avaliação da Graduação de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso nas
disciplinas de Geografia Humana do Brasil II e Teoria da Região e Regionalização e tem por objetivo verificar as
estrutura fundiária de Mato Grosso e a reforma agrária das regiões Norte, Oeste, Sul, Vale do Araguaia e Chapada
dos Parecis. A primeira parte do trabalho consiste em fazer um analise geral a nível Brasil da Estrutura Fundiária e
da reforma agrária. Já a segunda parte do trabalho faz uma analise do histórico da colonização em MT, mostra a
situação da Estrutura Fundiária e Reforma Agrária em MT. Na terceira parte apresenta o resultado de comparações
dos dados de tabelas do INCRA/IBGE e mapas sobre a Estrutura Fundiária, mostrando a situação agrária atual do
Estado.
ABSTRACT
This article is part of the graduation of Geography, Federal University of Mato Grosso in the disciplines of Human
Geography in Brazil and Theory of Region II and Regionalization and aims at the land structure of Mato Grosso
and agrarian reform in the north, west , South, Vale do Araguaia and Chapada dos Parecis. The first part of the job
is to make a general review of structure in Brazil Land and agrarian reform. The second part of the work is an
analysis of historical colonization in MT, shows the situation of Land and Agrarian Reform Structure in MT. The
third part presents the results of comparisons of data from tables from INCRA / IBGE and maps on the patterns,
showing the current situation of the agrarian state.
1. INTRODUÇÃO
b. A Reforma Agrária
A problemática da questão de terras vem desde o fim das sesmarias. Nesse sentido,
Martins (2004, p. 136) afirma que “a questão agrária brasileira nasce nesse momento, em 1850,
quando o velho e flexível regime de sesmarias foi suspenso em 1822 pela corte de Portugal”. A
reforma agrária se tornou uma condição necessária para a emancipação da cidadania da maior
parte da população rural.
“No ponto de vista político a reforma agrária é o principal caminho para que a
maior aspiração do homem do campo seja atendida: a conquista da cidadania, ou
seja, o direito de só um voto independente, mas um local de moradia de melhores
condições de vida” (1986, p. 18).
Uma reforma agrária estrutural atinge os interesses politicamente fortes que se torna
quase impossível ser realizada fora de um contexto revolucionário. O aumento dos conflitos no
campo e o crescimento dos movimentos sociais revelam que haverá a necessidade de se fazer
uma ampla e profunda reforma agrária, ou continuar com a estrutura fundiária concentrada.
Além dos fatos acima citados, segundo OLIVEIRA (2007) observa-se que:
Com a criação do Incra, no ano de 1970, muitas áreas do estado de Mato Grosso foram
federalizadas, passando o INCRA a ter sob seu domínio mais de 60% das terras mato-
grossenses. Este órgão passou a ser o responsável pelas terras devolutas e a dar destinos às
mesmas segundo as diretrizes do Estatuto da Terra. Promoveu-se a distribuição de terras para
colonização oficial e particular, todas as estratégias de colonização faziam parte da estratégia de
povoação da Amazônia.
Considerado portal da Amazônia, Mato Grosso passou a receber recursos de diversos
programas especiais de desenvolvimento (PIN, PROTERRA, POLOCENTRO,
POLAMAZONIA e POLONOROESTE). Estes programas, segundo Moreno (2007) “serviram
em primeira instância para patrocinar o acesso a terra na região pelos grandes grupos
econômicos” (p. 156), isso porque eram eles que conseguiam os recursos destes programas.
A partir de 1970 o governo federal passou a estimular ainda mais a fixação de grandes
empresas e fazendeiros na região, oferecendo diversos tipos de condições, via SUDECO, BASA
e SUDAM. Estes incentivos eras acessíveis apenas aos grandes proprietários. Acabou ocorrendo
uma concentração de terras perversa, tendo na atividade pecuária a sua sustentação maior. O
POLOCENTRO foi criado pelo Decreto
nº 75.320/75 motivou o incremento de grandes propriedades nas áreas de cerrado
anteriormente desprezadas. Imaginava-se na década de 70 que, ocupando os espaços vazios da
Amazônia, oferecia-se uma solução para minimizar os sérios conflitos urbanos e rurais no sul do
país. Além desses, no final dos anos 70 o INCRA também implantou três grandes projetos de
colonização: Lucas do Rio Verde (PAC Lucas), Peixoto de Azevedo (PAC Peixoto) e Guarantã
do Norte (PAC Braço Sul e Braço Norte). Também foram implantados projetos de colonização
menores ao longo e na adjacência da rodovia.
O POLOCENTRO tratava-se de um programa do II PND, criado especialmente para
promover a ocupação de áreas selecionadas, do Planalto Central Brasileiro, de
predominância de Cerrado, que previa para o período de 1975/79 a corporação de
3,7 milhões de hectares à agropecuária e atividades florestais, nos então estados de
Goiás e Mato Grosso, além de Minas Gerais, e que ficou sob a responsabilidade de
gerenciamento da SUDECO. (ABREU 2001, p. 147)
Por meio da SUDAM, nas décadas de 1970 e 1980 foram implantados no estado 268
projetos de colonização intermediado por empresas, dos quais 84,9% eram projetos
agropecuários. E assim, 23,06% dos incentivos fiscais da SUDAM ficaram em Mato Grosso. Os
projetos agropecuários ocupavam áreas em torno de 31.400 hectares, quase sempre destinado a
criação de gado.
Ainda na década de 70 que se iniciou a abertura das rodovias BR-158, ligando Barra do
Garças à divisa com o Estado do Pará; a BR-163, no trecho Cuiabá-Santarém, e houve a
reconstrução da BR-364, no trecho Cuiabá-Porto Velho. Para facilitar a colonização das áreas
adjacentes a essas rodovias, foi editado o Decreto-Lei nº 1.164/71 que tornava as terras às
margens das rodovias federais, na Amazônia Legal, numa faixa de 100 km, suscetíveis de
desapropriação para fins de reforma agrária.
Uma vez implantada a infra-estrutura básica, as áreas de terras que já haviam sido
vendidas, valorizaram-se rapidamente, dando origem a diversos projetos de colonização privada
e agropecuários. Só no eixo da BR-163, entre Cuiabá e a divisa com o Pará surgiram três
grandes projetos de colonização particular: Nova Mutum (Agropecuária Mutum S/A), Sorriso
(Colonizadora Feliz) e Sinop (Colonizadora Sinop S/A). Fora do eixo, mas ainda sob a
influência da rodovia foram implantados os projetos de colonização de Alta Floresta (INDECO)
e Colíder (Colonizadora Liderança). Além desses, no final dos anos 70 o INCRA também
implantou três grandes projetos de colonização: Lucas do Rio Verde (PAC Lucas), Peixoto de
Azevedo (PAC Peixoto) e Guarantã do Norte (PAC Braço Sul e Braço Norte). Também foram
implantados projetos de colonização menores ao longo e na adjacência da rodovia.
Já nos anos 80, e sofrendo com a escassez de recursos, a SUDECO criou o
POLONOROESTE – Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil, criado
pelo Decreto nº 86.029/81, e que tinha por objetivo o asfaltamento da BR-364, ligando Cuiabá a
Porto Velho, além da implantação de infra-estrutura básica na área de influência. No Estado de
Mato Grosso foram incluídas no POLONOROESTE a região Noroeste, estando aí inclusa a
Chapada dos Parecis.
Em meados da década de 1980, tudo levava a crer que o conflito pela terra no Estado
havia encontrado o caminho de solução. Embora tímido e voltado, fundamentalmente, para
solucionar o problema dos bolsões de conflito, o I Plano Regional de Reforma Agrária de Mato
Grosso (I PRRA-MT, dezembro/85) apresentou em sua meta trienal a proposta para assentar
41.900 famílias em 2.094.500 ha. Em 1990, ano previsto para o término de execução da
primeira fase do Plano, o INCRA realizou apenas 23,46% das desapropriações, assentando
17,39% das famílias previstas.
Nos dias de hoje, o Mato Grosso apresenta o maior número de projetos de assentamento
de Reforma Agrária do país. São trezentos e setenta e três que se localizam em todas as regiões
e municípios do Estado. A área destinada aos assentamentos é superior a 4,5 milhões de
hectares que acolhem 60 mil famílias. Contudo, em que pese o significado destes números, o
produtor familiar assentado vive e persiste em um estado de permanente instabilidade no que
tange à fixação e produção no campo. Com toda certeza, como afirmam os produtores, a
inexistência de política agrícola torna incerto o amanhã, colocando em risco a permanência na
terra e, conseqüentemente, a própria identidade do agricultor.
Hoje, o Mato Grosso é um dos estados que apresenta um dos maiores índices de
concentração fundiária do país. Na tabela 2, observamos que os índices de Gini de Mato Grosso
estão indicando, de 1967 até 2003, a diminuição de intensidade de concentração.
O cálculo do índice de Gini para Mato Grosso possibilita uma visão geral da estrutura
fundiária, porém não permitem a indicação de regiões críticas onde os movimentos
socioterritoriais e o Estado possam atuar para alavancar o desenvolvimento.
Mato Grosso apresenta alta concentração de terra na mão de poucas pessoas (latifúndio)
essa concentração se deve principalmente a fatores históricos da colonização no Estado e de
políticas públicas ineficazes com objetivo de distribuir terras para fins de reforma agrária. Outro
problema na estrutura fundiária do Estado de Mato Grosso é o número de imóveis sem
documentação legal, isto é, no regime de posse, conforme figura 2 - Área dos imóveis de posse.
Figura 2 - Área dos imóveis de posse
Nota-se que no Estado de Mato Grosso um pequeno aumento no numero de imóveis rurais
no período de 1992 a 2003, em contra partida, verifica-se que aumentou também a área dos
imóveis rurais no mesmo período. Como se observa na Figura 3 - Evolução do número de
imóveis e da área dos Imóveis de 1992 – 2003.
Figura 3 - Evolução do número de imóveis e da área dos Imóveis de 1992 – 2003.
Segundo Fernandes (2000), o governo militar realizou sua política agrária sem alterar a
fundiária. Seu objetivo de transferir a população expropriada para “as terras sem homens” por
meio dos projetos de colonização, era de fornecer força de trabalho até então inexistente, para os
projetos agrominerais e agropecuários dirigidos por grandes empresas. A implantação dessa
política garantiu a permanência dos latifúndios existentes, bem como a formação de outros.
Desses imóveis originaram as monoculturas de grandes dimensões, que acarreta o processo de
monopolização das terras por meio da expansão das lavouras e desapropriação camponesa.
Figura 4 - Área dos imóveis pequenos, médios e grandes.
Tabela 3 – Mato Grosso: transformação na estrutura fundiária dos anos 1992, 1998 e 2003.
Analisando a tabela 3, de 1992 a 1998 foram acrescentados 32.369 novos imóveis, tendo
uma mudança na área de 27.125.722,70 hectares. Desse acréscimo de imóveis às pequenas
propriedades representam à participação de 55,7%, as médias de 33,8% e as grandes de 10,5%.
No que diz respeito ao aumento da área, a pequena representou 4,3%, a média 27,3% e a grande
68,4%. Ao passo que a pequena propriedade é a mais expressiva no aumento de imóveis, pouco
representa no total de área acrescida, o que acontece o oposto na grande propriedade.
A diferença entre a área total dos imóveis rurais e dos estabelecimentos agropecuários
indica as discrepâncias nos dados, já apontadas nesta seção. Isso por que toda área de imóvel
rural deve ser declarada como parte de algum estabelecimento agropecuário, seja esta terra
explorável ou não; explorada ou não; posse ou propriedade. O ideal é que a área total dos
imóveis rurais seja igual à área total dos estabelecimentos agropecuários. Quanto mais
diferentes forem esses dados, mais fortes são os indícios de que haja deficiência nos dados ou
má fé dos declarantes. O mapa 11.7 indica a discrepância entre os dados de área do INCRA e do
IBGE e é ponto de partida para pesquisas que tenham como objetivo analisar os problemas dos
dados da estrutura fundiária brasileira. O diferencial territorial do mapa indica que os
fenômenos ocorrem no território de forma heterogênea, mas há correlação espacial entre as
microrregiões que apresentam fenômenos semelhantes.
Agora vamos dividir o Estado em cinco regiões (Norte, Vale do Araguaia, Chapada dos
Parecis, Oeste e Sul) com suas respectivas cidades, classificando-as em mini, pequena, média ou
grande propriedade, baseado nas Estatísticas consolidadas de recadastramento do Incra em
1992.
No Norte do Estado
É no Norte do Estado de Mato Grosso que a colonização particular mais avançou. No
eixo da BR-163 foram implantados os projetos de Mutum, Sorriso e Sinop, e na área de
influência Alta Floresta e Colíder, todos de colonização particular.
Ainda no eixo desta mesma rodovia, o INCRA implantou quatro projetos de
colonização: Guarantã do Norte, Lucas do Rio Verde, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do
Norte.
Os municípios de Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sorriso, Sinop e Vera, têm em
comum a exploração da terra, atualmente, para a produção de commodities agrícola. Essas são a
explorações da terra com a plantação de produtos voltados para a exportação. Nos demais da
região ainda é forte a presença da indústria madeireira, e da pecuária extensiva, e em alguns
casos o garimpo.
Merece destaque o caso da Colonizadora Sinop S/A, que em sua área de atuação criou
quatro cidades, Cláudia, Santa Carmem, Sinop e Vera, sendo que apenas Sinop está no eixo da
BR-163.
Daí se pode ter noção do tamanho das áreas que foram vendidas aos particulares para
que se empreendessem projetos de colonização.
Entretanto, temos que fazer uma observação. Apesar de Peixoto de Azevedo ter sido
uma colonização do INCRA, no início dos anos 80 houve uma intensa atividade de garimpo na
região, alterando sua estrutura fundiária original.
No Vale do Araguaia
Se no Norte do Estado há uma alta concentração de terras, é no Vale do Araguaia que
estão as maiores porcentagens de grandes propriedades, em relação à área cadastrada, de Mato
Grosso.
Nessa região foi aberta a BR-158, que liga Barra do Garças à Vila Rica, na divisa com o
Pará, que fazia parte da área-programa Xingu-Araguaia, no POLAMAZÔNIA. Consoante
Abreu (2001:143):
Dentro dessa área-programa situava-se a fazenda Suiá-Miçu, do grupo italiano
Liquifarm (que deu origem a cidade Liquilândia), com 50 mil reses no município de
Barra do Garças. A presença desse grupo foi determinante para que a área fosse
potencialmente considerada pólo agroindustrial e para que a BR-158, já planejada
pelo Programa Rodoviário do I PLADESCO, fosse retomada e construída, assim
como outras estradas vicinais, para ligação das zonas produtoras com a área de
influência da Suiá-Miçu.
Com a construção da rodovia, surgiram diversas área de colonização e que deram origem
aos municípios de Alto Boa Vista, Cocalinho, Luciara, Ribeirão Cascalheira, Santa Terezinha e
São José do Xingu, que juntamente com os já existente municípios de Barra do Garças e São
Félix do Araguaia, apresentam as maiores concentrações de terras do Estado.
Na região Oeste
A região Oeste do Estado possui uma ocupação mais antiga, e que foi feita pela Coroa
Portuguesa no intuito de fixar a fronteira brasileira.
Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade são cidades que têm sua origem ainda no
século XVIII, e foram criadas por ordem del-rey, sendo que a segunda por muito tempo foi a
capital administrativa da Capitania de Mato Grosso, enquanto os municípios de Araputanga,
Mirassol d’Oeste, Pontes e Lacerda, Rio Branco, e São José dos Quatro Marcos tiveram sua
origem em projetos de colonização particular, e com incentivo do governo estadual, que nos
anos 50 vendeu, a particulares, terras no intuito de povoar a região. A região foi incluída em
dois projetos, o PLADESCO e o POLONOROESTE.
A presença das grandes propriedades domina a região, com exceção dos municípios de
Mirassol d’Oeste e São José dos Quatros, que apresentam altos índices de minifúndios e
pequenas propriedades, demonstrando uma boa distribuição de terras nos referidos municípios.
A Tabela 5 apresenta a situação fundiária da região.
O município de Cáceres faz parte do ecossistema do pantanal, o que propicia o
surgimento de grandes propriedades de terras coma a exploração extensiva da pecuária. Se não
bastasse isso, a região está localizada na faixa de fronteira, ou seja, uma área de 150 km da
divisa com os países vizinhos, o que torna a titulação da terra um grande problema, e que por
anos se arrasta sem que seja efetivamente resolvido.
A região Sul
Figura 5 – Mato Grosso: distribuição dos 332 projetos de assentamento criados entre 1981 e
2002
Fonte: Adaptado de Sparovek (2003)
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
MARTINS, José de Souza. Fronteira: a degradação do outro nos confins do humano. São
Paulo: Hucitec, 1997. 203 pp. il.
SANTOS, José Vicente Tavares dos. Matuchos: exclusão e luta: do Sul para o Amazonas.
Petrópolis: Vozes, 1993. pp. 31-275.