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Fernando Nicolazzi*
Era o tempo do Paulo Renato Souza, ocupante do Ministrio
da Educao durante longos demasiado longos sete anos. A
universidade pblica no Brasil vivia tempos sombrios, uma espcie
de tenebrae aetas perpetrada, curiosamente, por parte dos seus filhos
mais diletos. Um processo deliberado de precarizao do ensino e das
condies da educao brasileira como um todo (e no somente do
ensino superior) visava tornar mais rpido o desmantelo da sua
dimenso pblica, obedecendo a uma cartilha que previa, por razes
obtusas, incompreensveis e inaceitveis para grande parcela dos
envolvidos, a privatizao da educao como nica sada plausvel
nos livros, mas sim sobre o que fazer com aquela mirade de leituras e
vivncias sem as quais nos sentamos rfos; e no falo aqui apenas
dos grandes tratados tericos sobre a epistemologia da histria, mas,
sobretudo, daquilo sem o qual um bom historiador to somente um
bom historiador: a literatura e o cinema, paixes inegveis de Ana.
*
O convite feito pelo Hilton Costa para escrever este relato,
sinal antes de amizade do que de qualquer importncia que estas
palavras possam assumir, desde o primeiro momento me deixou em
crise existencial, causada pelo medo de talvez esquecer algum
episdio, situao ou pessoa importante nessa histria toda. Enfim,
acabei esquecendo muitos episdios, situaes e pessoas, mas tive a
oportunidade de me lembrar tambm de muita coisa e, mais do que
tudo, lembrar-me da amizade que motivou tudo isso. Acabei tambm
por remexer alguns arquivos e encontrar l as palavras que proferi no
discurso de formatura, escritas h pelos menos uma dcada atrs.
Dizia ento naquela poca: h uma beleza particular neste curso: a
paixo que nele move as pessoas, que cria uma verdadeira resistncia
ao fluxo da degradao, quase uma desobedincia ao status quo, que
apesar da falta de condies morais e materiais, faz a universidade
respirar, faz prosseguir o ensino e a pesquisa e que, enfim, faz a
histria continuar. Certamente, caso eu tentasse reescrev-las hoje,
os termos seriam distintos (j no mais o tempo do Paulo Renato!).
De qualquer forma, penso que o essencial se mantm e desejo nova
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