CEPETE Psicologia do Trabalho
global, considerando todas as outras especialidades. Por exemplo,
PSICOENGENHARIA
Adotando uma visão mais ampla para a gestão
prevencionista.
O objetivo principal da psicoengenharia é a prevenção de
perdas nos diversos aspectos da gestão empresarial e
organizacional, como segurança do trabalho, qualidade, meio
ambiente, produtividade, etc.
Acredito que todos, ou pelo menos a grande maioria de vocês,
já ouviram falar sobre a ''Fábula do Elefante'', onde é solicitado
a três cegos que toquem um elefante e digam o que estão
tocando. O primeiro tocando na barriga do elefante disse:
''Com certeza é uma parede.'' O segundo pegando na presa
falou: ''Sem sombra de dúvidas, é uma lança.'' O terceiro
tentando tocar a tromba e sentindo o movimento, rapidamente
tirou a mão e gritou: ''Isso é uma cobra.'' Os três tinham
certeza de suas respostas, tocando, cada um, uma parte
diferente tiveram percepções diferentes sobre o mesmo
assunto.
Essa fábula, apresentada de forma resumida, mostra que,
para a solução de um problema, necessitamos ter uma visão
completa da situação e, às vezes, dar alguns passos para traz
e enxergá-la de longe, em toda a sua amplitude.
Guardadas as devidas proporções, ou seja, não chamando os
profissionais de cegos, de forma semelhante ocorre o mesmo
com os especialistas das diversas modalidades. Uma vez que
estão com a visão focada, direcionada aos parâmetros de sua
especialidade.
E vamos fazer justiça, são bons no que fazem, resolvem
muitos e variados problemas dentro de suas áreas de atuação.
Mas por que será que algumas vezes, apesar de todo o
conhecimento técnico, o sucesso não surge com facilidade?
Por vezes ficamos com o sentimento que há algo errado, que
poderia ser melhor.
É neste ponto que entra a PsicoEngenharia
A PsicoEngenharia busca uma nova forma de pensar, de atuar
sobre um problema por meio da ampliação do foco de visão.
Qualquer profissional que busque uma visão mais ampla para
resolver um problema está, mesmo que empiricamente,
praticando a PsicoEngenharia.
Quando falo em visão mais ampla, quero dizer uma mudança
no ângulo da visão. Cada especialista deve desempenhar a
sua especialidade, isto é, deve permanecer nos parâmetros de
sua área de atuação, mas olhando o problema de forma
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um engenheiro ao desenvolver o projeto de um equipamento, irá
utilizar o seu conhecimento técnico, mas deve fazê-lo ''olhando
com os olhos'' do ergonomista, do psicólogo, do médico e assim
por diante. Outro exemplo é um administrador de pessoal
selecionando um funcionário, ele deve olhar com os olhos do
engenheiro, do psicólogo, do fisiologista, etc. Quando ocorre essa
mudança no ângulo de visão, surgem novas perspectivas dentro
da especialidade e cria empatia e conformidade com as demais,
aumentando a capacidade de percepção de cada profissional.
Pude observar esses efeitos, na prática, quando, atuando na área
de Desenvolvimento de Recursos Humanos e dominando a
utilização das ''Ferramentas e Técnicas da Qualidade'', fui
chamado a auxiliar em um problema de Segurança do Trabalho,
que consistia em uma média mensal de 9 (nove) acidentes do
trabalho, em uma empresa com SESMT constituído, competente e
atuante, com procedimentos bem claros e definidos, mas, apesar
de todo o conhecimento técnico, os especialistas da área não
conseguiam resultados satisfatórios na redução desse índice e,
ainda, observavam um aumento constante de 20% ao ano.
No decorrer desse projeto o conceito da ampliação do foco de
visão do espe-cialista foi tomando forma, conceito que
posteriormente denominamos como ''PsicoEngenharia''. Esse
nome surgiu, durante o desenvolvimento do projeto, de uma
brincadeira entre o professor doutor Agostinho Minicucci e eu, ou
seja, entre um psicólogo e um engenheiro, da junção das duas
especialidades começou a aparecer um novo perfil profissional e
com o tempo estávamos nos chamando de psicoengenheiros.
Mas voltando ao projeto, o que ocorria era que os profissionais da
área de segurança estavam dentro do problema, com toda a
atenção focada na sua especialidade. Com a participação de um
profissional vindo de fora do problema, utilizando uma metodologia
organizada para a solução de problemas (a qual não estaremos
detalhando neste artigo) foi possível ''olhar'' o problema de maneira
mais global e clara. Começamos a nossa atuação de fora para
dentro, identificando todas as possíveis causas de acidentes de
trabalho e não apenas os acidentes que vinham ocorrendo naquele
período. Somente após esse trabalho é que partimos para a
análise dos acidentes ocorridos no prazo de três anos, fazendo o
cruzamento das ''causas possíveis'' com as ''causas reais'' dos
acidentes de trabalho, identificando quais eram procedentes e
estabelecendo a porcentagem de participação de cada uma.
A partir desse ponto passamos a sentir a real dimensão do
problema, permitindo separar as reais fontes de acidentes das
conjecturas ou adivinhações. E começamos a agregar as opiniões
dos vários profissionais, pois o grupo inicial apesar de
multidisciplinar (Administração de Recursos Humanos, Ergonomia,
Segurança do Trabalho e Produção) ainda mantinha uma
característica tecnicista. Então, foram agregados profissionais de
Psicologia, Assistência Social, Nutrição e Medicina.
Da atuação desse grupo foram desenvolvidas diversas soluções
que resultaram em uma redução drástica do nível de acidentes. O
interessante foi perceber que algumas soluções eram,
praticamente, de uma determinada especialidade profissional, mas
a maioria era de soluções híbridas surgidas do cruzamento de
conhecimentos de duas ou mais especialidades.
Definindo a PsicoEngenharia
A preocupação em definir a PsicoEngenharia é estabelecer uma
linha de ação mais eficiente e eficaz para solucionar problemas e
prevenir perdas nos diversos aspectos da gestão empresarial e
organizacional, como segurança do trabalho, qualidade, meio
ambiente, produtividade, etc.
A PsicoEngenharia analisa as necessidades, buscando as
soluções dessas em todas as áreas de gestão empresarial, tendo
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como base um ambiente propício e integrando várias
disciplinas e áreas profissionais.
Podemos definir, de forma clássica, a PsicoEngenharia como:
Prevenção por meio da visão global das diversas variáveis do
ambiente empresarial, pela análise coerente e integrada de
várias disciplinas, visando à implementação de medidas
multidisciplinares para a prevenção de perdas em todas as
áreas da empresa e em todos os seus aspectos, sejam
humanos, materiais ou organizacionais.
Analisando essa definição por partes, temos que o objetivo
principal é a prevenção de perdas na empresa como um todo,
levando em conta seus recursos humanos, materiais e
administrativos.
Que as medidas implementadas devem ser destituídas do
padrão binário vigente nos dias de hoje, em outras palavras,
fazendo um paralelo das disciplinas com cores, as soluções
encontradas não devem ser tratadas de forma pontual, do tipo
preto ou branco, vermelho ou azul, mas devem ser verificadas
todas as possibilidades de interação entre as cores e suas
tonalidades.
A PsicoEngenharia consolida uma cultura dirigida a uma
análise ampla e mais profunda, de caráter preventivo e
prevencionista.
Para uma melhor compreensão, vamos verificar algumas das
disciplinas.
A Sociologia, por exemplo, busca analisar a relação das
características sociais com o ambiente profissional, sabendo
que tudo aquilo que ocorre fora do trabalho, como
alimentação, habitação, segurança, etc. influem diretamente
nesse ambiente.
Já a Antropologia parte do fato de existir diversos tipos
antropológicos (raças, procedências, etc.), e que estes tipos
não reagem da mesma forma aos estímulos recebidos no dia-
a-dia. E nas empresas, invariavelmente, encontramos reunidos
todos esses tipos e que influem na cultura empresarial.
A Psicologia traz a sua contribuição por meio da análise dos
conflitos psicológicos, tanto dos inter-relacionamentos como
no intra-relacionamento, dentro ou fora do ambiente de
trabalho. Relacionando-os ao âmbito empresarial.
Da mesma maneira, todas as outras disciplinas têm o seu
valor, sua importância e a sua contribuição na prevenção e
eliminação de perdas e/ou problemas.
O que está envolvido na PsicoEngenharia
Para a ação efetiva por meio da PsicoEngenharia, é
necessário estabelecer alguns pontos importantes que podem
contribuir no ambiente empresarial.
Em primeiro lugar, não é necessário, e acredito que nem
possível, ter um super-homem ou um superprofissional que
entenda de todas as disciplinas, mas é necessário ter
profissionais das diversas áreas que atuem de forma integrada
e com a mente aberta para o trabalho conjunto na busca de
um objetivo comum.
Além disso, podemos notar que existe uma base que dá
sustentação à estrutura, essa base é formada pelo
envolvimento dos funcionários, pelo trabalho em equipe e pelo
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processo de melhoria contínua. E na fixação da estrutura temos a
atuação das lideranças.
Detalhando um pouco cada um desses itens, temos
1º - Envolvimento dos funcionários
Conhecida como Administração Participativa, consiste em
possibilitar a atuação de todos os funcionários, de forma ativa,
podendo e querendo dar opiniões, participando nas tomadas de
decisão e em um ambiente digno e de respeito. Esse primeiro
passo proporciona condições adequadas para os funcionários se
manifestarem, assumirem responsabilidades e colaborarem com a
prevenção de perdas.
2º - Trabalho em equipe
O trabalho em equipe leva os seus integrantes a apoiar,
compreender, motivar e ser motivado, participar e se comprometer
com os resultados da equipe. Para tal é necessário um clima de
respeito e consideração com a aceitação de objetivos comuns e
comunicação fluente e clara. Permite a administração dos conflitos
de forma adulta, contribuindo com o crescimento pessoal e
profissional de todos.
3º - Processo de melhoria contínua
O processo de melhoria contínua é uma abordagem que busca a
redução gradual e contínua de falhas, problemas e perdas. Tem o
foco principal nas melhorias pequenas, mas constantes, tendo
sempre em mente que 100% é feito de 100 partes de 1%.
O resultado dessa abordagem é que cada área disciplinar
acrescenta a sua contribuição, tenha ela o tamanho que tiver,
buscando, assim, não a perfeição, mas o mais próximo possível
dela.
4º - Lideranças
Esta população tem um papel muito importante, pois o trabalhador,
e principalmente o trabalhador brasileiro, tem fácil adaptação às
idéias e métodos de seu superior imediato. A liderança faz parte do
dia-a-dia desses trabalhadores, servindo de ligação entre eles e a
organização. Por isso, devem servir de exemplo no que diz
respeito ao envolvimento, comprometimento e participação na
solução de problemas e prevenção de perdas. Sendo assim, os
líderes devem estar preparados para exercer esse papel,
recebendo treinamento, desenvolvimento, ferramentas
administrativas, comunicação constante, etc.
O papel do profissional de Segurança do Trabalho
Dentro do esquema apresentado, o profissional de segurança, bem
como qualquer profissional que queira utilizar a PsicoEngenharia,
deve desempenhar o papel de ''perguntador fanático'', ou seja,
deve ser questionador, esquadrinhando todas as possibilidades,
mas lembrando que não deve ter o foco pontual e, sim, questionar
buscando sempre a integração das várias disciplinas. Para atuar
nessa função com melhor aproveitamento, esses profissionais
devem buscar o seu auto-desenvolvimento, principalmente no que
diz respeito ao trato com outros seres humanos. Esse
desenvolvimento abrange assuntos como: comunicação, inter-
relacionamento, trabalho em equipe, motivação, criatividade,
liderança, planejamento, entre outros.
Desse modo irá atuar como elemento integrador e multiplicador
sem perder sua individualidade e sua especificidade.
Para encerrar, podemos afirmar que atuando da forma
apresentada, abordando as várias disciplinas de maneira integrada
e coerente, estaremos, com certeza, melhorando a qualidade de
vida, em todas as suas dimensões, de todos os envolvidos.
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A importância dos aspectos psicológicos no contexto da
PsicoEngenharia
Os testes psicológicos funcionam e, muitas vezes, detectam
problemas e evitam um mal maior.
Geralmente este ponto é relevado a um segundo plano
quando se trata da adequação do homem à função. Na
realização de testes psicológicos em um processo seletivo é
sempre tratado o aspecto Homem x Sociedade, isto é, busca-
se identificar a existência de alguma patologia ou algum indicio
sobre a atitude, do possível futuro funcionário, em relação a
um grupo, à comunidade, aos seus relacionamentos diretos,
mas nunca (ou quase nunca) à adequação ou adaptação ao
ambiente, à função e ao risco inerente a ambas. Isso não quer
dizer que os testes sejam ineficazes ou desnecessários. Eles
funcionam e, muitas vezes, detectam problemas e evitam um
mal maior. O que quero dizer é que é necessária uma maior
atenção quanto à identificação de características que possam
determinar uma predisposição aos acidentes. No livro ''A
Prática da Qualidade da Segurança no Trabalho'', no capítulo
que trata da reincidência de acidentes, é constatado o fato,
considerado uma pesquisa em um período de 5 (cinco) anos,
onde determinados funcionários sofriam um número maior de
acidentes do que outros, em uma mesma atividade de risco.
Há, inclusive, o caso de um funcionário que sofreu 7 (sete)
acidentes de trabalho em um período de apenas 3 (três) anos.
Analisando esse caso específico mais detidamente, identifiquei
que o problema era excesso de energia, de confiança em si
mesmo, que o levava a um estado elevado de impulsividade
no decorrer de suas atividades, provocando dessa forma os
acidentes.
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A intenção é mostrar quais as funções são mais adequadas a cada
pessoa e a seu perfil. No caso citado em meu livro, por exemplo,
deixo bem claro que o funcionário em questão tinha excelentes
características. Não sugeri o descarte do mesmo, o que ressaltei é
que, conhecendo as características, de forma antecipada, pode-se
adequar o operador à função, o que garante desenvolver uma
programação preventiva de atividades, no caso específico, mostrar
que se o funcionário desenvolver trabalhos que exigissem maior
desgaste de energia nas primeiras horas do dia, o levaria a
''cansar-se'' diminuindo a sua impulsividade para o restante do dia
e, consequentemente, as possibilidades de se envolver em
acidentes. Outro ponto a considerar é que as características
indesejáveis para uma função podem ser plenamente satisfatórias
para outras. Voltando a citar o trabalho de Jenkins, a síndrome
''Confiança em si exagerada'' é indesejável para um operador de
máquinas, mas de grande valor para um vendedor.
Esse é, ainda, um campo pouco explorado que ficará cada vez
mais claro à medida que novos dados venham a ser agregados,
devendo cada ramo de atividade ter os riscos levantados por setor,
por máquina e até por operação para, em seguida, serem cruzados
com as características pessoais e psicológicas desejadas ou
identificadas como as melhores ou mais adequadas à função.
Dessa forma pode-se montar, com a superposição das
experiências, um extenso material que pode devidamente ser
utilizado, de forma preventiva, pelas áreas de seleção,
recrutamento e treinamento.
REVISTA CIPA – EDIÇÕES 260 e 274
Matéria de Celso Luis de Oliveira: Engenheiro Eletricista e sócio
da LaborClin Consultoria e Assistência Médica S/C Ltda.

Como esse existem diversos estudos que relatam o

relacionamento dos traços de personalidade com os acidentes
de trabalho. Podemos citar o exemplo de Krall, que estudou
crianças freqüentemente acidentadas e encontrou que essas
crianças apresentavam agressividade superior às crianças de
mesma idade. Outro estudo é o de Davis e Mahoney que
encontraram em seus estudos que os poliacidentados
demonstram menos otimismo e confiança, bem como piores
disposições sociais e atitudes negativas frente ao trabalho
mais acentuadas quando comparadas com pessoas não
acidentadas. Para encerrar a nossa lista de exemplos quero
citar o trabalho de Jenkins que aponta 7 (sete) síndromes
associadas aos poliacidentados:
1. Distração, o poliacidentado é mais distraído na tarefa que
executa;
2. Falta de discernimento, o poliacidentado demonstra certa
inconsciência e falta de discernimento quando se trata de
agir prudentemente;
3. Sentimento de independência social, o poliacidentado
sente-se menos interessado pelas regras sociais;
4. Falta de sensibilidade pelos outros, o poliacidentado é
menos sensível aos sentimentos e atos dos outros;
5. Atitude pouco racional frente ao dano sofrido, o
poliacidentado é menos sensível ao dano que sofre e
pode mesmo encontrar satisfação na perda sofrida;
6. Confiança em si exagerada, o poliacidentado tem
excesso de confiança em si, que o impede de prever as
complicações ou dificuldades;
7. Atitude social agressiva e pouco integrada, o
poliacidentado não participa dos objetivos do grupo a que
pertence e não se sente interessado por eles.

Assim como os apresentados, existem diversos outros estudos

que mostram a importância da análise do perfil do operador
frente à função a ser exercida.

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