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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ECONOMIA

MULTIPLICADOR DE PRODUTO, EMPREGO E RENDA


AVALIAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO NO BRASIL
ANO DE 2005

Wander Rodrigo Azevedo Pereira

CUIABÁ – MT
Wander Rodrigo Azevedo Pereira

MULTIPLICADOR DE PRODUTO, EMPREGO E RENDA


AVALIAÇÃO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO NO BRASIL
ANO DE 2005

Monografia apresentada ao Departamento de


Economia da Universidade Federal de Mato Grosso
como requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Ciências Econômicas.

Professora Orientadora:
Drª. Sheila Cristina Ferreira Leite

CUIABÁ - MATO GROSSO


2009
II

Pereira, Wander Rodrigo Azevedo


Monografia: Multiplicador de Produto Emprego e Renda: Avaliação
do Setor da Construção no Brasil no Ano de 2005 /Wander Rodrigo
Azevedo Pereira, Cuiabá: UFMT, 2009.
46p.: 21 cm
I Título
III

A Maria Luiza de Azevedo (em memória)


Não importa onde esteja, estará sempre comigo!
IV

AGRADECIMENTOS

A minha mais elevada gratidão a Deus, que mais uma vez realiza a Sua vitória em

minha vida.

A minha mãe Elenice que não poupou esforços para me ver chegar aqui.

Aos meus tios, Benedito Sebastião e Eunice, que sempre acreditaram em mim e

sempre me apoiaram em todas as minhas aspirações.

A todos os docentes da Faculdade de Economia, especialmente a professora Sheila,

que me orientou com extrema presteza, e dedicação. Sinto-me orgulhoso em ter sido seu

orientando. E a professora Margarida pelas contribuições realizadas neste trabalho.

Agradeço também a todos os meus colegas de graduação que caminharam comigo

nesses cinco anos de estudos, especialmente a Vallência pelas palavras de incentivo e apoio.

A todos vocês, o meu muito obrigado!


V

“Ama-se mais o que se conquista com esforço.”

Benjamin Disraeli
VI

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... VIII

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. IX

RESUMO ................................................................................................................................. X

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 11

1.1. PROBLEMA E IMPORTÂNCIA .................................................................................... 11

1.2. OBJETIVO ....................................................................................................................... 14

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................................... 14

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 16

3. METODOLOGIA ............................................................................................................... 23

3.1. FONTE DE DADOS ........................................................................................................ 23

3.2. MODELO ANALÍTICO .................................................................................................. 24

3.2.1. ÍNDICE DE LIGAÇÃO ................................................................................................ 28

3.2.1.1. ÍNDICES DE HIRSCHMAN-RASMUSSEN ........................................................... 29

3.2.2. MULTIPLICADOR ...................................................................................................... 30

3.2.2.1. MULTIPLICADOR DE PRODUTO ......................................................................... 30


VII

3.2.2.2. MULTIPLICADOR DE RENDA .............................................................................. 30

3.2.2.3. MULTIPLICADOR DE EMPREGO ......................................................................... 32

3.2.2.4. EFEITO INDUZIDO COM BASE NO EFEITO RENDA ........................................ 33

3.2.2.5. LIMITAÇÕES DO MODELO ................................................................................... 33

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 36

4.1. ÍNDICES DE HIRSCHMAN-RASMUSSEN ................................................................. 36

4.2. MULTIPLICADORES .................................................................................................... 41

4.2.1. MULTIPLICADOR DE PRODUTO ............................................................................ 41

4.2.2. MULTIPLICADOR DE RENDA ................................................................................. 44

4.2.3. MULTIPLICADOR DE EMPREGO ............................................................................ 46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 51

6. REFERENCIAS .................................................................................................................. 54
VIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Ranking do Índice de Hirschman-Rasmussen para o Brasil .................................. 40

Tabela 2. Multiplicador de produto Tipo I e Tipo II para o Brasil ........................................ 43

Tabela 3. Multiplicador de renda tipo I, tipo II e efeito induzido para o Brasil .................... 45

Tabela 4. Multiplicador de emprego tipo I, tipo II e efeito induzido para o Brasil ............... 48

Tabela 5. Empregos diretos para o Brasil .............................................................................. 50


IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas - Trabalho principal - Atividade de

Construção– (%) ..................................................................................................................... 12

Figura 2 – Esqueleto da tabela de insumo produto ................................................................ 25

Figura 3 – Classificação dos setores - índice H-R ................................................................. 37


X

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo calcular o impacto que o setor da construção tem na

geração de produto, emprego e renda na economia nacional, bem como seu potencial gerador

e grau de interligação setorial, utilizando para isso a matriz de insumo produto de Leontief. A

importância do setor da construção decorre da hipótese de que é uma atividade chave para a

economia, possuidora de um efeito multiplicador elevado que o coloca como um eficaz

instrumento de política. Como resultado, o setor não apresentou encadeamento esperado, e

ficou entre os setores que menos demandam e menos são demandados na economia brasileira

– não é considerado segundo a metodologia aplicada no trabalho um setor chave. Seus

multiplicadores de produto emprego e renda também não foram relevantes. No entanto o

mesmo não deixa de ser importante no país, já que absorve trabalhadores de baixa

escolaridade. Além disso, o Brasil apresenta deficiências em infra-estrutura e no sistema

habitacional justificando-se assim atitudes do governo em fomentar o setor com programas

como o “PAC” e “Minha casa minha vida”.

Palavras-chave: setor da construção; matriz de insumo-produto; multiplicadores.


11

1. INTRODUÇÃO

1.1. PROBLEMA E IMPORTÂNCIA

É sabido que o desemprego é um grave problema econômico-social, principalmente,

quando se observa em uma economia altas taxas desse indicador. Seja pela perda de produção

e renda, ou pela perda de capital humano (PARKIN, 2003), esse sempre se apresenta como

um desafio macroeconômico, especialmente no que diz respeito a formulações de políticas

públicas para sua redução.

Neste sentido, é de fundamental importância a coleta dados, bem como, estudos que

possam auxiliar os governos nas programações de políticas cada vez mais eficazes. A matriz

insumo-produto de Leontief, um guia para a implementação de várias espécies de diretrizes

econômicas, a muito tem ajudado nessas formulações. Somado a isso, a aplicação do

multiplicador de produto, emprego e renda, extraído da referida matriz, em setores

considerados chaves para a economia, são no mínimo estratégicos para governo.

Esta monografia analisa o impacto que o setor da construção tem na geração de

produto, emprego e renda na economia nacional bem como seu potencial gerador e grau de

interligação setorial, utilizando para isso a matriz de insumo produto de Leontief.


12

A importância do setor da construção decorre da hipótese aqui levantada de que é uma

atividade chave para a economia, possuidora de um efeito multiplicador elevado que o coloca

como um eficaz instrumento de política.

Segundo a Pesquisa Anual da Indústria da Construção – PAIC 2007, efetuada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o setor ocupou mais 1,8 milhões de

pessoas nesse ano, pagando em média 2,3 salários mínimos e movimentando cerca de 158,6

bilhões de Reais. Na mesma linha de análise, as séries da Pesquisa Nacional Por Amostra de

Domicílios – PNAD, publicadas pelo mesmo instituto, conforme apresentado na Figura 1,

mostra que o total de ocupados que considera o setor da construção como atividade principal

de 1992 ate 2007 oscilou em torno de 6,4% em 1992 e 7,4% em 1998, fechando em 2007 com

6,8%.

7,6
7,4
7,2
7
6,8
6,6
6,4
6,2
6
5,8
92

93
95

96
97

98
99

01
02

03
04

05
06

07
19

19
19

19
19

19
19

20
20

20
20

20
20

20

Figura 1 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas - Trabalho principal -


Atividade de Construção (%)
Fonte: IBGE
13

Outro ponto a ser destacado, é que se trata de um setor que, ainda, não exige muita

escolaridade, e em um país como o Brasil que a média de anos na escola dos trabalhadores é

bastante baixo – cerca de 7 anos, segundo PNAD 2007 – torna-se estratégico, pois serve para

absorver essa demanda. Além disso, cabe ressaltar que é um setor com importações

inexpressivas, desta forma, não pressiona a balança de pagamentos.

Destaca-se também que o Brasil, principalmente os grandes centros, apresentam um

significativo déficit habitacional – 6,273 milhões de domicílios segundo estimativas do

ministério das cidades em 20071 – e deficiências em infra-estrutura, que muitas vezes tornam-

se gargalos para o crescimento.

Neste sentido, o atual governo não tem deixado de utilizar o setor em sua política,

prova disso são os programas lançados por ele:

 Programa de Aceleração do Crescimento – PAC que prevê investimentos da

ordem de 503 bilhões até 2010 em infra-estrutura;

 Programa “Minha Casa, Minha Vida” com investimentos de R$ 34 bilhões em

moradias para famílias que obtém até 10 salários mínimos. Este é um

programa ambicioso que pretende construir 1 milhão de habitações;

Enfim, os argumentos para a realização de estudos analisando o setor de construção

civil são inúmeros em um país como o Brasil.

1
http://www.cidades.gov.br/noticias/ines-magalhaes-apresenta-numeros-do-deficit-habitacional
14

Pastore (1998) avalia o setor como um dos “responsáveis pelos ganhos de

produtividade dos diferentes setores” (PASTORE, 1998; p.10). Seja na formação de

investimentos, ou na geração de emprego e renda, ou ainda seus insumos. Trevisam (1998)

salienta que o setor movimenta grande parte do setor produtivo e é por isso “... poderosa

alavanca para o desenvolvimento sustentado do país“. (TREVISAN, 1998; p.17)

1.2. OBJETIVO

Isto posto, este trabalho objetiva calcular o impacto que o setor da construção tem na

estrutura produtiva da economia, partindo do pressuposto de que este seja relevante. Mais

especificamente pretende-se:

 Determinar o grau de interligação setorial do mesmo com os demais

setores da economia;

 Mensurar o potencial gerador de produção, emprego e renda do setor de

construção em 2005.

1.3. ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está dividido em seis capítulos, incluindo a introdução. A segunda parte

está reservada à fundamentação teórica, que tratará da evolução histórica do entendimento de

interdependência econômica, bem como o seu ápice, a construção da Matriz de Insumo

Produto de Leontief e suas aplicações (índices de ligação, multiplicadores de produto,

emprego e renda), já na terceira seção será feita a exposição metodológica do trabalho, sua
15

fonte de dados e modelo analítico (índice de ligação e multiplicadores). No quarto capítulo

serão feitas as análises dos resultados, com a apresentação dos setores-chave – índices de

ligações – e da capacidade geradora de produto, emprego e renda do setor da construção no

Brasil, ficando a encargo do quinto e sexto capítulos as considerações finais e as referências,

respectivamente.
16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A macroeconomia moderna surgiu em meio a um cenário de alto desemprego e

estagnação produtiva da economia mundial – grande depressão de 1929. A obra de John

Maynard Keynes “Teoria geral do emprego, dos juros e do dinheiro” (1936), é considerada o

marco desse nascimento. Questões como crescimento econômico, inflação, desemprego,

tomaram um espaço importante nas discussões, onde a lei de Say já não era mais capaz de

explicar e, muito menos, reordenar a economia. No entanto, pode-se defender que os

Keynesianos, não diferente dos Clássicos e Neoclássicos, preocupavam-se com a economia

como um todo, principalmente com a questão de como as variáveis (renda, emprego,

consumo, e investimentos) se relacionavam e convergiam para o equilíbrio. A visão deles era

em uma ótica macro, assim generalizada e não tinha como principal preocupação a estrutura

econômica e o relacionamento entre os setores individuais, isto é, a - interdependência

econômica (MIERNYK, 1974). Mas, para se entrar no assunto no qual este trabalho se

fundamenta, faz-se necessário o entendimento deste último aspecto, a interdependência

econômica.

Ao estabelecer uma cronologia da análise da interdependência econômica, o primeiro

a enfatizar o assunto foi François Quesnay em sua obra Tableau Economique, de 1758, onde

procurou demonstrar os fluxos circulares das classes sociais da economia de seu tempo:

produtores rurais, nobres proprietários e dos artesões urbano. (ROSSETTI, 1979)


17

Mais a fundo, Miernyk (1974) destaca em sua análise que Quesnay contribuiu também

para a moderna análise do multiplicador, ao retratar em sua obra original, um estabelecimento

agrícola e mostrar graficamente que um incremento no produto resultaria em sucessivos

turnos de atividades geradores de riqueza.

Um século mais tarde, em 1874, Léon Walras, dá um novo passo na compreensão

deste tópico ao publicar o Élements d’Économie Politique Pure, onde se centrou na

determinação simultânea de todos os preços da economia (bens e serviços finais e

intermediários; fatores de produção).

Miernyk (1974) destaca o uso de coeficientes de produção na teoria da produção de

Walras, que eram determinados pela tecnologia, pelos fatores e insumos requeridos para a

produção de cada bem acabado. E continua:

O modelo desenvolvido por Walras mostra a interdependência entre

os setores de produção da economia e as demandas concorrentes de

cada setor para os fatores de produção. Seu sistema também inclui

equações que representam a renda e a despesa do consumidor,

permitindo-lhe substituir os produtos de um setor pelos obtidos em

outro. O sistema também leva em conta os custos da produção em

cada setor, a demanda e a oferta totais das mercadorias e a demanda

e a oferta de fatores de produção. MIERNYK (1974, p13)


18

Na literatura, ROSSETTI (1979 p233) cita a parte em que Ahumada Jorge (1967), faz

referência a contribuição de Walras para o entendimento do funcionamento do complexo

sistema econômico:

quando se modifica o valor de uma variável qualquer do sistema

econômico, seja em sua magnitude real ou monetária, o valor de

muitas outras também deverá modificar-se. Por esta razão, quando se

decide promover o crescimento de um setor, parece necessário ter

pelo menos uma idéia de que tipos de problemas e repercussões

surgirão, em conseqüência dessa decisão, em cada um dos demais

setores da economia.

Vale destacar que nesta linha de raciocínio houveram outros economistas como

Gustav Cassel e Vilfrede Pareto que desenvolveram trabalhos sobre o assunto. Mas foi o

professor da Universidade de Harvard, Wassily Leontief, na década de 30, que culminou no

dorso da questão da interdependência econômica, ao apresentar seu artigo “Quantitative

Input-Output Relations in the Economic System of the United States”, em 1936. O artigo

traria idéias básicas daquilo que o próprio Leontief, em 1941 apresentaria como a tabela de

insumo produto.

Na tabela original de Leontief era possível identificar a maneira que cada setor da

economia se relacionava com os outros. Todavia, ainda apresentava alto grau de agregação

devido às limitações computacionais, impedimento este que foi superado com o advento dos

computadores de alta velocidade. (MIERNYK, 1974)


19

Nesse sentido, o método do insumo-produto, ou análise das relações interindustriais,

ampliou-se e tornou-se uma poderosa ferramenta de análise e tomada de decisões de

economias do mundo.

Rossetti (1979) apresenta os elementos fundamentais da matriz de insumo-produto de

Leontief, que são:

a. Desagregação do total da demanda final, segundo as

categorias de transações que compõem, para cada um dos ramos de

atividade produtiva considerado;

b. Desagregação do valor agregado pelos diversos ramos

considerados quando do processamento da produção;

c. Desagregação da demanda intermediária, representada pelos

fornecimentos e aquisições de cada ramo em relação a si próprio e

aos demais.

O mesmo autor enumera as aplicações da matriz em seis finalidades, a saber:

a. Programar o crescimento econômico;

b. Projetar séries temporais;

c. Medir os impactos e efeitos multiplicadores;

d. Analisar as sensibilidade e testar as exeqüibilidades;

e. Definir e analisar os fluxos intra e inter-regionais de

transações;

f. Estimar os custos e benefícios de mudança no meio ambiente.


20

Na literatura, são diversos os autores que criticam a proposta de Leontief. Dorfman

(1954) defende o papel de Leontief como um simplificador drástico do modelo generalizado

de Walras, de modo que as equações do modelo pudessem ser estimadas empiricamente. Já

Miernyk diz que o mesmo emprestou a sua teoria geral de produto, baseado na noção de

interdependência econômica, um contexto empírico.

Ao procurar a essência do modelo, Richardson (1978) ressalta que “é a relação

tecnológica de que as compras de qualquer setor (exceto demanda final) a qualquer outro

dependem, através de uma função linear de produção, do nível de produção do setor

adquirinte” (Richardson, 1978 p.18)

Outrossim, para o próprio Leontief (1978):

A análise de insumo-produto é uma extensão prática da teoria

clássica de interdependência geral, que vê a economia inteira de uma

região, de um país ou inclusive do mundo como um só sistema e se

propõe interpretar todas as suas funções em termo de propriedades

específicas mensuráveis de sua estrutura.

Até aqui se falou da interdependência econômica e sua evolução, parte-se agora para a

análise dos efeitos multiplicadores, uma das aplicações da tabela de insumo-produto. Mas,

antes disso vale ressaltar que Leontief não foi o único a tratar sobre o assunto –

multiplicadores econômicos.
21

Ao retornar ao surgimento da macroeconomia moderna encontra-se uma das técnicas

analíticas mais importantes que Keynes desenvolveu – o multiplicador. Baseado em trabalho

prévio de R. S. Kahn, essa técnica possibilitou mensurar o impacto de um dado investimento

teria sobre o emprego, produto e renda. Contudo, devido ao alto grau de agregação das

variáveis, a análise do multiplicador keynesiano, não apresentou detalhes de como os efeitos

seriam notados através da economia. (Miernyk, 1974)

Miernyk (1974), em crítica apresenta uma dada suposição de que um governo para

estimular a economia toma a decisão de realizar investimentos em obras públicas onde

conclui e levanta uma questão: É certo que “haverá um impacto imediato sobre a indústria da

construção, mas de que forma os efeitos do aumento na atividade de construção se

ramificarão através da economia?” (Miernyk, 1974 p.51-52). Este é um exemplo de questão

que modelos agregativos não podem responder.

Embora o multiplicador de Keynes não responda diversas questões por conta do

elevado grau de agregação, não se deve descartar que o mesmo representou uma revolução na

economia moderna. Após Keynes, a questão de como medir o impacto que o investimento

tem sobre o emprego, renda e o produto tornou-se um assunto bastante discutido.

Já a técnica de análise desenvolvida por Leontief possibilitou a desagregação das

variáveis tornado assim, possível estimar empiricamente as relações dos diversos setores das

economias nacionais. Volta-se a defesa de Miernyk “... Emprestou a sua teoria um contexto

empírico...” (Miernyk, 1974 p.13-14).


22

Em suma, embora havendo limitações, o que é certo para qualquer modelo analítico, a

análise de insumo-produto de Leontief foi uma revolução da teoria de interdependência

econômica, que possibilitou a “solução de um dos mais importantes problemas operacionais

da economia – o calculo, ao nível de cada ramo industrial, dos impactos e dos efeitos

multiplicadores dos investimentos sobre os níveis de produção, da renda e do emprego”

(Rossetti,1979 p.261). Seja aplicada para a analise das contas nacionais, seja para as análises

de multiplicadores de emprego e renda, ou até mesmo em análises de economia regional e

urbana ela caracteriza-se sempre eficaz.


23

3. METODOLOGIA

3.1. FONTE DE DADOS

A fonte básica de dados para a realização deste estudo será a matriz insumo produto

do Brasil, construída pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE em 2007, com

ano base 2005. Conforme já explicitado no referencial teórico, a matriz permite visualizar a

estrutura produtiva e avaliar o grau de interligação setorial bem como o potencial gerador de

produto emprego e renda, finalidades deste trabalho.

Foram publicadas pelo IBGE duas versões de tabelas. A primeira apresenta 12 ramos

das atividades econômicas e 12 produtos. A segunda, um pouco mais completa é composta

por 55 atividades econômicas e 110 produtos. Neste estudo, optou-se por utilizar a matriz com

55 setores.

Segundo o IBGE2 a produção de Matrizes de Insumo-Produto brasileira teve inicio na

década de 1970, com o objetivo de criar um marco estrutural para o Sistema de Contas

Nacionais e de construir um instrumento que orientasse o desenvolvimento das estatísticas

macroeconômicas. Porém, desde 1970 foram várias as mudanças de periodicidade e

metodologia, assim não sendo possível compatibilizar as matrizes já publicadas para uma

análise ao longo do tempo.

2
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/matrizinsumo_produto.shtm
24

3.2. MODELO ANALÍTICO

A discussão deste tópico segue a metodologia proposta por Leontief e foi

fundamentada na discussão realizada por Richardson (1978) na obra ”Insumo Produto e

Economia Regional”.

Simplificadamente abstrai-se das complicadas questões empíricas da separação dos

itens endógeno e exógeno, desagregação da demanda final, valor adicionado e o tratamento

das exportações e importações. Supõem-se uma estrutura com três setores (Figura 2), onde Y

é igual à demanda final e V é igual ao valor adicionado. Somando horizontalmente cada linha

e tomando a primeira desta, como exemplo, vê-se que:

X1 – X11 – X12 – X13 = Y1 (1)


25

Para
1 2 3 Demanda final Produto Bruto
De

1 x11 x12 x13 y1 x1

2 x21 x22 x23 y2 x2

3 x31 x32 x33 y3 x3

v v1 v2 v3 - v

Dispêndio bruto x1 x2 x3 y x

Figura 2 – Esqueleto da tabela de insumo produto

Se o volume de produto do setor 1 comparado por cada uma dos setores (1, 2 e 3) é

uma função estável da produção ultima, pode-se escrever (2) sob a forma:

X1 – α11 X1 – α12 X2 – α13 X3 = Y1 (2)

Onde

α11 = X11 / X1; α12 / X2 = X12; α13 / X3= X13

Os α são chamados de coeficientes de insumos diretos e representam as necessidades

diretas dos produtos de qualquer setor i por unidade de produto de qualquer setor comprador j

(i, j = 1, ... n).


26

Para que a equação (2) seja verdadeira se faz necessário supor que o valor monetário

dos bens e serviços fornecidos por uma indústria i a outros setores produtores é uma função

linear e homogênea do nível de produção dos setores compradores j. especificamente supõe:

a. Nenhum produto conjunto, já que cada mercadoria é fornecida por uma única indústria

e através de um único método de produção;

b. A suposição das funções lineares de insumos significa rendimentos constantes de

escala e nenhuma substituição entre insumos;

c. Aditividade, i.e., o efeito total da produção é a soma dos efeitos separados, o que deixa

de fora as economias e deseconomias externas;

d. O sistema está em equilíbrio a preço dados;

e. Em versões estáticas do modelo, não há restrições de capacidade, de modo que a oferta

de cada bem é perfeitamente elástica, ignorando-se os problemas de capital.

A análise de insumo-produto descreve a interação de três elementos do sistema

econômico: demanda final, as necessidades de insumos de cada indústria e seu produto bruto,

e tem como principal propósito analítico determinar que efeitos as mudanças específicas na

demanda final têm sobre a bruta, dada a matriz de coeficiente dos insumos. Esses efeitos

incluem os impactos diretos e indiretos.

Para captar todos os efeitos de primeira, segunda e terceira ordem num único conjunto

de equações, pode-se expressar em notação matricial, onde a equação matricial representa um

conjunto de equações com uma equação como (2) acima para cada setor:

X – AX = Y (3)
27

Onde X é vetor coluna de produto bruto, Y demanda final e A uma matriz n x n dos

coeficientes diretos de insumos, α ij. Usando a matriz identidade I definida como

1 0 0 . . 0
0 1 0
. . .
. . .
. .
0 . . . . 1

Podemos reescrever (3) sob a forma

(I – A) X = Y, (4)

Que pode ser escrita sob a forma

1– α11 – α12 . . . – αn1 X1 Y1


– α21 1– α22 . . . – αn2 X2 Y2
. . . . . . . = .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
– αn1 – αn2 . . . 1– αnn Xn Yn
(5)

Na condição de que (I – A) tenha uma matriz inversa, pode-se usar esta para exprimir

o produto bruto como função da demanda final (exógena):

X = (I – A)-1 Y (6)

(I – A)-1 é a matriz inversa de Leontief. Seja B = (I – A)-1. Então:


28

b11 . . . b1j . . . b1n


. . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . . .
B= bi 1 . . . bij . . . bin
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
. . . . . . . . .
bn1 . . . bnj . . . bnn
(7)

E pode-se escrever X = BY.

Cada elemento da matriz inversa é chamado de coeficiente de interdependência. O

coeficiente bij representa as necessidades diretas e indiretas do setor i por unidade de demanda

final em termos do produto do setor j. Assim:

Xi = bi1 Y1 + bi2 Y2 + … + bij Yj +… + bin Yn (8)

Pode-se multiplicar a matriz inversa B por qualquer volume e composição de demanda

final para obter o nível de produto bruto de cada indústria. Permitem assim medir o impacto

total das alterações exógenas, i.e., mudanças na demanda final sobre a economia, por tudo

isso é um poderoso instrumento de análise.

3.2.1. ÍNDICE DE LIGAÇÃO


29

3.2.1.1. ÍNDICES DE HIRSCHMAN-RASMUSSEN

Desenvolvido por Rasmussen (1956) e aprimorado por Hirschman (1958), este índice,

segundo Figueiredo (2003), possibilita identificar os setores-chave da economia. Os valores

calculados para trás mostram quanto determinado setor demanda de outros setores, enquanto

que os valores calculados para frente mostram o quanto ele é demandado de outras indústrias.

A média do indicador é sempre um, logo, valores maiores que um para trás ou para frente

indicam ligações acima da média. Mas para a identificação dos setores-chave usa-se neste

trabalho a concepção de McGilvray (1977), onde somente aqueles que possuem índice maior

que um tanto para trás quanto para frente são assim considerados.

Para o calculo estabelece-se:

Uj = (B*j / n) / B*

Índices de ligações para trás – poder de dispersão

Uj = (Bi * / n) / B*

Índices de ligação para frente - sensibilidade da dispersão

A limitação deste indicador está na impossibilidade de determinar os principais elos de

ligação, isso pelo fato de não levarem em conta os diferentes níveis de produção de cada setor

da economia. (FIGUEIREDO, 2003).


30

3.2.2. MULTIPLICADOR

Valtando-se a Richardson (1978, p39-43), os multiplicadores em geral permitem

estimar as repercussões que as mudanças no nível de dispêndios têm sobre a renda total. A

vantagem do modelo de insumo-produto, é que ele oferece um conjunto de multiplicadores

desagregados capazes de reconhecer que o impacto total sobre o produto renda e emprego

variam de acordo com o setor que origina a mudança. A tabela de insumo-produto permite

estimar diferentes tipos de multiplicadores, como explicitado a seguir:

3.2.2.1. MULTIPLICADOR DE PRODUTO

O multiplicador de produto tipo I (consumo e remuneração das famílias tratado

exogenamente) e tipo II (consumo e remuneração das famílias tratado endogenamente) para a

indústria i mede a soma das necessidades diretas e indiretas de todos os setores para fornecer

um Real adicional de produto de i à demanda final. É obtido somando-se os lançamentos na

coluna sob a indústria i na matriz inversa de Leontief que mostra as necessidades diretas e

indiretas por unidade monetária de demanda final para cada setor. Cabe ressaltar que não se

trata de um conceito particularmente útil, exceto como indicador do grau de interdependência

estrutural entre cada setor com o resto da economia.

3.2.2.2. MULTIPLICADOR DE RENDA


31

O multiplicador de renda tipo I é a razão entre as variações diretas e indiretas na

renda e a variação direta na renda resultante de um aumento unitário na demanda final de

qualquer setor. A variação direta na renda de cada setor é dada pelo lançamento da linha das

famílias na tabela nacional de I-P quando expressa sob forma de coeficientes de insumos (i.e.,

excluindo-se as famílias) pelo correspondente coeficiente da linha da indústria fornecedora na

tabela de coeficientes diretos, e somando-se as multiplicações das linhas. Assim, a variação

direta e indireta da renda do setor j é dada por:

n
∑ bij hRi (i = 1, ... , n),
I=1

Onde bij é a matriz inversa dos coeficientes e hRi o elemento do vetor linha dos

coeficientes familiares.

Já o tipo II, é a razão entre a variação direta, indireta e induzida da renda e a

variação direta da renda provocada por um aumento unitário na demanda final. O

multiplicador do tipo II leva em consideração as repercussões de rodadas secundárias do

dispêndio dos consumidores, além dos efeitos diretos e indiretos interindustriais. Obtém-se

expansão de renda devido a “rodadas” sucessivas expandindo-se a matriz interindustrial (A) –

inclusive a linha e coluna correspondente às famílias – e tornando endógeno o setor familiar.

A variação direta, indireta e induzida da renda por unidade de demanda final é dada pelo

coeficiente familiar na tabela de necessidades diretas e indiretas derivadas da matriz

expandida com as famílias endógenas; a linha das famílias nessa matriz invertida mostra os

coeficientes diretos, indiretos e induzidos para cada setor. A variação direta da renda é

exatamente a mesma que no caso anterior


32

3.2.2.3. MULTIPLICADOR DE EMPREGO

A abordagem de Moore e Petersen (1955) – função emprego-produção através de

métodos de regressão linear – é considerada a mais satisfatória para explicar o multiplicador

de emprego. Abaixo se apresenta a sua forma simples

Ei = α + b Xi (9)

Onde E é variável emprego X é a produção

Dadas as inclinações das funções emprego-produção (π = b), o cálculo dos

multiplicadores de emprego é praticamente direto. A variação direta de emprego do setor j é a

inclinação de sua linha de regressão emprego-produção, πj. A variação direta e indireta de

emprego para j consiste no coeficiente E/X para cada i (πj) multiplicado pelas necessidades

totais, diretas e indiretas de cada i para uma unidade de demanda final para j, e somada:

n
∑ bij πj (i = 1, ... , n),
I=1

O multiplicador de emprego análogo ao multiplicador de renda Tipo I é a razão dessa

variação direta mais a indireta de emprego em relação à variação direta de emprego.

Similarmente, existe um multiplicador de emprego paralelo ao multiplicador de renda Tipo II


33

que mede a razão entre a variação de emprego direta, indireta e induzida em relação a

variação direta de emprego paralelo ao multiplicador de renda Tipo II

n
∑ *bij πj (i = 1, ... , n),
I=1

Onde *bij representa um elemento na matriz inversa expandida, i.e., com famílias

endógenas ao modelo.

3.2.2.4. EFEITO INDUZIDO COM BASE NO EFEITO RENDA

O efeito induzido com base no efeito renda é o resultado adicional quando se

acrescenta ao modelo o consumo das famílias. Pode ser obtido pela diferença entre o

multiplicador tipo II e tipo I

Efeito Induzido = Multiplicador Tipo II – Multiplicador Tipo I

3.2.2.5. LIMITAÇÕES DO MODELO

Vale ressaltar a existência de limitações na matriz de insumo produto e nos

multiplicadores, as quais não podem ser desconsideradas na análise. A publicação da nota

metodológica sobre a matriz de insumo produto da União Européia, destaca que:


34

Matrizes insumo produto são limitadas à estimação de efeitos na demanda, ao invés de

avaliar efeitos de alterações na oferta. Então, elas não levam em conta um importante objetivo

de intervenções, i.e., efeitos duradouros em potencial produtivo. A maioria dos efeitos na

oferta, que é provável conduzir a um aumento sustentável na taxa de crescimento de regiões

assistidas e, que podem permitir que estas regiões alcançassem maior nível de

desenvolvimento, são totalmente omitidos (por exemplo, a criação de capacidade produtiva,

melhoria da formação e educação da mão-de-obra, construção de infra-estrutura, que

produtividade ganha ao longo da economia, desvio de progresso tecnológico e intensidade de

atividades de alta tecnologia no setor produtivo). Todos estes efeitos são exemplos de

variações de oferta que podem transformar capacidade produtiva de uma maneira duradoura e

irreversível. Estes não podem ser avaliados usando esta ferramenta.

Outra critica é que há uma tendência para superestimar o impacto estrutural de

demanda, isto porque o impacto de intervenções não é mediado por efeitos de avaliação,

particularmente relativo a mudanças de preço que têm origem em mercados de produto,

mercados financeiros e o suporte mercado.

Quanto às limitações dos multiplicadores, estas são tratadas pontualmente conforme

nota de aula da faculdade de washington3 abaixo:

a. Multiplicadores de significativa magnitude, isto é, “multiplicadores grandes"

não implicam em impactos de expressivas magnitudes, ou seja, "impactos

grande de multiplicador". Os impactos ou efeitos dependem tanto do tamanho

do multiplicador quanto da magnitude do estímulo "exógeno" pelo qual o

3
http://faculty.washington.edu/krumme/systems/multp.html
35

multiplicador é multiplicado. Assim, determinados efeitos de multiplicador

podem ser alternativamente o resultado de:

1. Grandes multiplicadores associado a "exportações" mínimas ou

2. Multiplicadores pequenos e exportações significativas.

b. Os efeitos multiplicadores estão baseados em suposições sobre a

disponibilidade de recursos e as pessoas para acomodar os efeitos (migração,

desemprego etc.). Considerando que muitos recursos já foram utilizados em

uma economia em pleno emprego, os efeitos multiplicadores tendem a ignorar

ou mascarar os efeitos de deslocamento.

c. Multiplicadores empiricamente derivados representam o período para o qual a

matriz foi realizada.

d. Os efeitos multiplicadores não necessariamente ocorrem depois dos estímulos

exógenos.
36

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. ÍNDICES DE HIRSCHMAN-RASMUSSEN

O índice de ligação Hirschman-Rasmussen, como descrito na metodologia, permite

identificar os setores-chave na economia. É um indicador que permite medir o nível de

encadeamento de cada indústria, mostrando as ligações para trás (IT) e para frente (IF) –

demandante e demandado respectivamente – da tabela de insumo produto. Pode-se observar

na Figura 3 a classificação dos 55 setores da matriz de insumo produto, divididos em quatro

quadrantes: IT>1, IF>1 (1º QUADRANTE); IT>1, IF<1 (2º QUADRANTE); IT<1, IF>1 (3º

QUADRANTE); IT<1, IF<1 (4º QUADRANTE). Sabendo-se que a média do índice é um,

todos os setores que forem maiores que este, são considerados acima da média.

Dos 55 setores da matriz, 24 apresentaram acima da média o índice de ligação para

frente e 18 o índice de ligação para trás. Porém, ao admitir posicionamento de McGilvray

(1977), onde somente aqueles que possuem índice maior que um tanto para trás quanto para

frente podem ser considerados chaves, observa-se apenas 10 setores, conforme apresentado no

primeiro quadrante da Figura 3: alimentos e bebidas; artigos de borracha e plástico; celulose e

produtos de papel; fabricação de aço e derivados; fabricação de resina e elastômeros; peças e

acessórios para veículos automotores; produtos químicos; produtos de metal – exclusive

máquinas e equipamentos; refino de petróleo e coque; têxteis.


37

IF>1 IF<1
1º QUADRANTE 2º QUADRANTE
Alimentos e bebidas Álcool
Artigos de borracha e plástico Artefatos de couro e calçados
Celulose e produtos de papel Artigos do vestuário e acessórios
Fabricação de aço e derivados Automóveis, camionetas e utilitários
Fabricação de resina e elastômeros Caminhões e ônibus
Peças e acessórios para veículos automotores Cimento
Produtos químicos Defensivos agrícolas
Prod. De metal - exclusive máq e equipamentos Eletrodomésticos
Refino de petróleo e coque Máq. equipamentos, inclusive man. e reparos
Têxteis Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
Mat. eletrônico e equipamentos de comunicações
IT>1

Metalurgia de metais não-ferrosos


Minério de ferro
Móveis e produtos das indústrias diversas
Outros da indústria extrativa
Outros equipamentos de transporte
Outros produtos de minerais não-metálicos
Pecuária e pesca
Perfumaria, higiene e limpeza
Produtos de madeira - exclusive móveis
Produtos do fumo
Produtos e preparados químicos diversos
Serviços de alojamento e alimentação
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas
3º QUADRANTE 4º QUADRANTE
Agricultura, silvicultura, exploração florestal Administração pública e seguridade social
Comércio Aparelhos/instru. médico-hosp, medida e óptico
Eletricidade e gás, água, esgoto e limp. urbana Construção
Intermediação financeira e seguro Educação mercantil
Petróleo e gás natural Educação pública
Serviços de informação Jornais, revistas, discos
IT<1

Serviços prestados às empresas Máquinas para escritório e equipamentos de inf.


Transporte, armazenagem e correio Outros serviços
Produtos farmacêuticos
Saúde mercantil
Saúde pública
Serviços de manutenção e reparação
Serviços imobiliários e aluguel

Figura 3 – Classificação dos setores - índice H-R


Fonte: Resultado da pesquisa
38

O setor da construção aqui estudado, não apresentou encadeamento expressivo e ficou

no quarto quadrante, entre os setores que menos demandam e menos são demandados na

economia brasileira, o que representou uma surpresa do trabalho, visto que uma das hipóteses

levantadas é que o mesmo seria setor chave no Brasil.

Analisando-se o ranking dos 55 setores da matriz, exposto na Tabela 1, observa-se a

construção no 42º lugar no índice H-R para trás e 32º no índice H-R para frente.

Vale Ressaltar que há limitações no cálculo do modelo, pois embora possibilite uma

avaliação do poder de encadeamento de cada setor dentro da economia, o índice de ligações

H-R não leva em consideração os níveis de produção individuais dos setores.

Figueiredo (2003) em sua dissertação “Agricultura e Estrutura Produtiva do Estado

do Mato Grosso: Uma Análise Insumo Produto” analisa além do índice Hirschman-

Rasmussen, o índice puro de ligação, índice este que tenta minimizar a deficiência do H-R.

Especificamente ele “visa medir a importância de um dado setor para a economia em termos

de valor da produção geradas por este” (Figueiredo 2003, p62). Como resultado Figueiredo

(2003) destaca o setor da construção, que aparece em 2º lugar no ranking Brasil e é

considerado pólo de desenvolvimento, atrás semente do setor de comércio. Tendo como

índice puro de ligação para trás 7,01, o mais alto de todos os setores.

Ressalta-se ainda na Tabela 1 que embora não considerado chave na proposta de

McGilvray (1977) o setor de automóveis camionetas e utilitários é o que mais demanda de

outros setores, com índice 1,28 e, o comércio é o que mais é demandado, com índice 2,47. Do

mesmo modo, destaca-se o setor de cimento. Embora não seja foco deste trabalho, ele é um
39

“insumo básico da indústria da construção, utilizado em grandes quantidades na produção

de habitações, infra-estrutura, estradas, pontes, saneamento, hidrelétricas”. (Teixeira, s.d,

p1)4 O mesmo apresentou índice H-R para trás 1,09 e 0,60 para frente, este resultado (H-R

para trás acima da média) pode ser reflexo do alto consumo de combustível utilizado no

processo de produção do cimento.

Para melhor discussão e análise utilizam-se em todas as tabelas de resultados um

asteriscos (*) para informar os setores considerados chaves aqui neste item, segundo

concepção de McGilvray (1977).

4
http://www.cbicdados.com.br/files/textos/032.pdf
40

Tabela 1. Ranking do Índice de Hirschman -Rasmussen para o Brasil


Índice de H-R para Índice de H-R para
Descrição da Atividade Ordem Ordem
trás frente
Administração pública e seguridade social 0,79 50 0,65 38
Agricultura, silvicultura, exploração florestal 0,90 39 1,73 9
Álcool 1,01 32 0,68 33
Alimentos e bebidas* 1,26 2 1,38 12
Aparelhos/inst. médico-hosp., medida e óptico 0,83 46 0,59 45
Artefatos de couro e calçados 1,20 7 0,67 34
Artigos de borracha e plástico* 1,15 10 1,28 14
Artigos do vestuário e acessórios 1,01 30 0,55 47
Automóveis, camionetas e utilitários 1,28 1 0,54 48
Caminhões e ônibus 1,18 8 0,57 46
Celulose e produtos de papel* 1,13 12 1,09 17
Cimento 1,09 17 0,60 43
Comércio 0,74 52 2,47 1
Construção 0,88 42 0,71 32
Defensivos agrícolas 1,14 11 0,75 29
Educação mercantil 0,81 47 0,54 51
Educação pública 0,69 54 0,52 54
Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 0,89 41 2,41 2
Eletrodomésticos 1,21 6 0,54 49
Fabricação de aço e derivados* 1,09 18 1,64 10
Fabricação de resina e elastômeros* 1,22 5 1,13 16
Intermediação financeira e seguros 0,76 51 1,76 8
Jornais, revistas, discos 0,94 37 0,80 25
Máq e equipamentos, inclusive man. e reparos 1,11 13 0,91 20
Máquinas para escritório e equipamentos de inf. 0,91 38 0,52 53
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1,06 23 0,95 19
Mat eletrônico e equipamentos de comunicações 1,05 24 0,64 39
Metalurgia de metais não-ferrosos 1,01 34 0,83 21
Minério de ferro 1,01 33 0,72 30
Móveis e produtos das indústrias diversas 1,01 29 0,59 44
Outros da indústria extrativa 1,04 27 0,78 27
Outros equipamentos de transporte 1,11 15 0,66 35
Outros produtos de minerais não-metálicos 1,06 22 0,75 28
Outros serviços 0,81 48 0,71 31
Peças e acessórios para veículos automotores* 1,22 4 1,22 15
Pecuária e pesca 1,01 31 0,83 22
Perfumaria, higiene e limpeza 1,11 14 0,61 42
Petróleo e gás natural 0,96 36 1,50 11
Produtos químicos* 1,08 19 2,09 4
Produtos de madeira - exclusive móveis 1,09 16 0,83 23
Prod. de metal - exclusive máq e equipamentos* 1,04 26 1,31 13
Produtos do fumo 1,23 3 0,54 50
Produtos e preparados químicos diversos 1,07 20 0,82 24
Produtos farmacêuticos 0,88 43 0,61 40
Refino de petróleo e coque* 1,18 9 2,04 5
Saúde mercantil 0,90 40 0,54 52
Saúde pública 0,83 45 0,51 55
Serviços de alojamento e alimentação 1,05 25 0,66 36
Serviços de informação 0,86 44 1,80 7
Serviços de manutenção e reparação 0,73 53 0,65 37
Serviços imobiliários e aluguel 0,56 55 0,79 26
Serviços prestados às empresas 0,80 49 1,95 6
Têxteis* 1,01 28 1,05 18
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 1,06 21 0,61 41
Transporte, armazenagem e correio 0,96 35 2,38 3
Fonte: Resultado da pesquisa
41

4.2. MULTIPLICADORES

Como já discutido, o modelo de insumo-produto permite estimar variados tipos de

multiplicadores que são capazes de reconhecer o impacto total na economia dada a variação

na renda, produção ou emprego na demanda final de um determinado setor. Será apresentado

nos itens que decorrem os resultados dos multiplicadores tipo I e tipo II, ratificando aqui a

diferença entre eles, onde em um o consumo das famílias é tratado exogenamente, enquanto

que no outro é endógeno, ou seja, este último, além dos impactos diretos e indiretos, inclui

também os impactos induzidos.

4.2.1. MULTIPLICADOR DE PRODUTO

Os multiplicadores de produto tipo I e tipo II mostrado na Tabela 2 são utilizados para

saber quanto são gerados em Reais na economia como um todo, para cada um Real de

produção utilizado na mesma atividade, isso considerando os impactos diretos e indiretos e,

no caso do tipo II, os induzidos. Ou seja, a cada unidade de Real utilizado na produção do

setor de automóveis, camionetas e utilitários – o primeiro do ranking (tipo I) – Outros R$ 1,49

são gerados na produção da economia como um todo.

Destacam-se os 10 primeiros setores da tabela: automóveis, camionetas e utilitários;

alimentos e bebidas; produtos do fumo; peças e acessórios para veículos automotores;

fabricação de resina e elastômeros; eletrodomésticos; artefatos de couro e calçados;

caminhões e ônibus; refino de petróleo e coque; e artigos de borracha e plástico, destes 5 são

considerados os chaves conforme item 4.1.


42

Nota-se, porém, que é o setor secundário (indústria) o com maior participação no

multiplicador de produto: automóveis, camionetas e utilitários 1º no tipo I e 2º no tipo II;

peças e acessórios para veículos automotores 4º no tipo I e 3º no tipo II; eletrodomésticos 6º

no tipo I e 7º no tipo II; caminhões e ônibus 8º no tipo I e 8º no tipo II.

O setor da construção se apresenta em 42º no tipo I e 41º no tipo II, gerando R$0,71 de

produção na economia quando consumo das famílias é considerado exógeno e R$ 0,87

quando endógeno, a cada um Real de produção utilizada na mesma. Sendo um setor com

pouca capacidade multiplicadora de produto.

.
43

Tabela 2. Multiplicador de produto Tipo I e Tipo II para o Brasil


Descrição da atividade Tipo I Ordem Tipo II Ordem
Administração pública e seguridade social 1,54 50 2,15 25
Agricultura, silvicultura, exploração florestal 1,75 39 1,89 39
Álcool 1,97 32 2,05 34
Alimentos e bebidas* 2,46 2 2,68 1
Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico 1,62 46 1,67 52
Artefatos de couro e calçados 2,34 7 2,46 6
Artigos de borracha e plástico* 2,24 10 2,35 10
Artigos do vestuário e acessórios 1,97 30 2,07 31
Automóveis, camionetas e utilitários 2,49 1 2,63 2
Caminhões e ônibus 2,30 8 2,41 8
Celulose e produtos de papel* 2,19 12 2,30 12
Cimento 2,12 17 2,21 17
Comércio 1,44 52 1,80 45
Construção 1,71 42 1,87 41
Defensivos agrícolas 2,23 11 2,32 11
Educação mercantil 1,58 47 1,70 51
Educação pública 1,34 54 1,57 53
Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 1,73 41 1,84 43
Eletrodomésticos 2,35 6 2,45 7
Fabricação de aço e derivados* 2,11 18 2,21 19
Fabricação de resina e elastômeros* 2,37 5 2,46 5
Intermediação financeira e seguros 1,47 51 1,70 50
Jornais, revistas, discos 1,83 37 1,92 38
Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos 2,17 13 2,29 13
Máquinas para escritório e equipamentos de informática 1,76 38 1,84 42
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 2,06 23 2,15 23
Material eletrônico e equipamentos de comunicações 2,04 24 2,15 26
Metalurgia de metais não-ferrosos 1,96 34 2,04 36
Minério de ferro 1,96 33 2,05 35
Móveis e produtos das indústrias diversas 1,97 29 2,06 33
Outros da indústria extrativa 2,02 27 2,10 29
Outros equipamentos de transporte 2,16 15 2,25 15
Outros produtos de minerais não-metálicos 2,06 22 2,16 21
Outros serviços 1,57 48 1,79 46
Peças e acessórios para veículos automotores* 2,38 4 2,51 3
Pecuária e pesca 1,97 31 2,12 27
Perfumaria, higiene e limpeza 2,17 14 2,27 14
Petróleo e gás natural 1,86 36 1,96 37
Produtos químicos* 2,11 19 2,21 18
Produtos de madeira - exclusive móveis 2,13 16 2,22 16
Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos* 2,02 26 2,12 28
Produtos do fumo 2,38 3 2,50 4
Produtos e preparados químicos diversos 2,07 20 2,16 22
Produtos farmacêuticos 1,71 43 1,79 47
Refino de petróleo e coque* 2,29 9 2,37 9
Saúde mercantil 1,74 40 1,88 40
Saúde pública 1,62 45 1,79 48
Serviços de alojamento e alimentação 2,04 25 2,20 20
Serviços de informação 1,68 44 1,83 44
Serviços de manutenção e reparação 1,42 53 1,47 54
Serviços imobiliários e aluguel 1,09 55 1,11 55
Serviços prestados às empresas 1,56 49 1,77 49
Têxteis* 1,97 28 2,07 32
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 2,07 21 2,15 24
Transporte, armazenagem e correio 1,87 35 2,07 30
Fonte: Resultado da pesquisa
44

4.2.2. MULTIPLICADOR DE RENDA

O multiplicador de renda, apresentado na Tabela 3, é capaz de mostrar o quanto de

renda (salários líquidos) é gerado na economia como um todo para cada Real de renda gerado

em um determinado setor, isso considerando os efeitos diretos, indiretos e induzidos este

último no caso das famílias serem tratadas endogenamente – multiplicador de renda tipo II.

Toma-se como exemplo o setor de eletrodomésticos onde no multiplicador Tipo I apresenta

um indicador de R$ 19,98 de renda gerada na economia para cada Real de renda gerado no

setor, quando considera-se o multiplicador tipo II (consumo endógeno) o valor sobe para

R$20,95 para cada Real de renda no setor. Aplica-se também na Tabela 3 a avaliação do

efeito renda que no caso do setor de eletrodoméstico seria R$0,97

Mais uma vez se surpreende com o resultado do setor da construção, com baixa

capacidade multiplicadora, 1,55 tipo I e 1,62 no tipo II, sendo 0,08 seu efeito renda. Em

contraponto, o setor de cimento é o que mais tem capacidade multiplicadora de renda na

economia, 40,52 no tipo I e 42,48 no tipo II. Frisa-se novamente que este é insumo básico do

setor da construção e consome muito petróleo em sua produção.

Não se deixa de ressaltar aqui, que dos 10 setores considerados chaves, apenas

fabricação de resina e elastômeros esta acima de R$ 10,00 de geração de renda, estando em 9º

lugar no ranking nos dois multiplicadores e no efeito renda.


45

Tabela 3. Multiplicador de renda tipo I, tipo II e efeito induzido para o Brasil.


Tipo Efeito
Descrição da atividade Tipo I Ordem Ordem Ordem
II induzido
Administração pública e seguridade social 1,11 55 1,16 55 0,05 55
Agricultura, silvicultura, exploração florestal 1,61 46 1,69 46 0,08 46
Álcool 19,98 5 20,95 5 0,97 5
Alimentos e bebidas* 2,56 39 2,68 39 0,12 39
Aparelhos/inst. médico-hospitalar, medida e óptico 8,10 14 8,49 14 0,39 14
Artefatos de couro e calçados 6,70 21 7,03 21 0,33 21
Artigos de borracha e plástico* 3,79 34 3,97 34 0,18 34
Artigos do vestuário e acessórios 4,86 27 5,09 27 0,24 27
Automóveis, camionetas e utilitários 7,40 19 7,75 19 0,36 19
Caminhões e ônibus 15,83 10 16,60 10 0,77 10
Celulose e produtos de papel* 5,51 23 5,78 23 0,27 23
Cimento 40,52 1 42,48 1 1,96 1
Comércio 1,14 54 1,20 54 0,06 54
Construção 1,55 47 1,62 47 0,08 47
Defensivos agrícolas 25,06 3 26,27 3 1,21 3
Educação mercantil 1,82 44 1,91 44 0,09 44
Educação pública 1,16 53 1,22 53 0,06 53
Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 2,11 41 2,21 41 0,10 41
Eletrodomésticos 19,98 6 20,95 6 0,97 6
Fabricação de aço e derivados* 4,59 28 4,81 28 0,22 28
Fabricação de resina e elastômeros* 16,26 9 17,05 9 0,79 9
Intermediação financeira e seguros 1,33 51 1,39 51 0,06 51
Jornais, revistas, discos 4,19 31 4,39 31 0,20 31
Máqu. e equipamentos, inclusive manutenção e reparos 2,92 37 3,06 37 0,14 37
Máquinas para escritório e equipamentos de informática 21,82 4 22,88 4 1,06 4
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 4,99 26 5,24 26 0,24 26
Material eletrônico e equipamentos de comunicações 7,59 17 7,96 17 0,37 17
Metalurgia de metais não-ferrosos 8,08 15 8,47 15 0,39 15
Minério de ferro 18,92 7 19,84 7 0,92 7
Móveis e produtos das indústrias diversas 4,49 30 4,71 30 0,22 30
Outros da indústria extrativa 11,98 13 12,56 13 0,58 13
Outros equipamentos de transporte 6,73 20 7,06 20 0,33 20
Outros produtos de minerais não-metálicos 5,13 25 5,38 25 0,25 25
Outros serviços 1,31 52 1,38 52 0,06 52
Peças e acessórios para veículos automotores* 4,01 33 4,20 33 0,19 33
Pecuária e pesca 2,29 40 2,40 40 0,11 40
Perfumaria, higiene e limpeza 13,69 11 14,35 11 0,66 11
Petróleo e gás natural 4,05 32 4,24 32 0,20 32
Produtos químicos* 5,85 22 6,13 22 0,28 22
Produtos de madeira - exclusive móveis 7,47 18 7,84 18 0,36 18
Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos* 3,06 36 3,21 36 0,15 36
Produtos do fumo 38,37 2 40,23 2 1,86 2
Produtos e preparados químicos diversos 12,32 12 12,92 12 0,60 12
Produtos farmacêuticos 4,59 29 4,81 29 0,22 29
Refino de petróleo e coque* 7,79 16 8,17 16 0,38 16
Saúde mercantil 2,00 42 2,09 42 0,10 42
Saúde pública 1,62 45 1,69 45 0,08 45
Serviços de alojamento e alimentação 3,64 35 3,82 35 0,18 35
Serviços de informação 1,83 43 1,92 43 0,09 43
Serviços de manutenção e reparação 2,68 38 2,81 38 0,13 38
Serviços imobiliários e aluguel 1,54 48 1,62 48 0,07 48
Serviços prestados às empresas 1,33 50 1,40 50 0,06 50
Têxteis* 5,20 24 5,46 24 0,25 24
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 18,25 8 19,14 8 0,89 8
Transporte, armazenagem e correio 1,51 49 1,59 49 0,07 49
Fonte: Resultado da pesquisa
46

4.2.3. MULTIPLICADOR DE EMPREGO

A Tabela 4 apresenta os multiplicadores de emprego tipo I e tipo II para o Brasil. Este

permite verificar o impacto direto, indireto e induzido na geração de emprego em toda a

economia, dada a criação de um emprego em um determinado setor. A Tabela 4 apresenta

também o Efeito Renda (induzido) que é a diferença do multiplicador tipo II e o tipo I, ou

seja, ao considerar-se o consumo das famílias, quanto a mais de emprego é gerado.

A saber, toma-se como exemplo o setor de caminhões e ônibus o 4º da lista tanto no

multiplicador tipo I quanto no tipo II: a cada emprego gerado no setor, gerará outros 109,02

em toda economia e se considerarmos o consumo endógeno o valor se eleva para 128,94,

portanto 19,92 empregos a mais na economia em função do consumo das famílias do mesmo

setor.

Destacam-se os setores: produtos do fumo; cimento; defensivos agrícolas; refino de

petróleo e coque; minério de ferro; caminhões e ônibus; fabricação de resina e elastômeros;

máquinas para escritório e equipamentos de informática.

Quanto aos setores considerados chaves, apenas dois – fabricação de resina e

elastômeros e refino de petróleo e coque – apresentaram um multiplicador de emprego

elevado.

Já o setor da construção, surpreendentemente apresentou indicadores bastante baixos.

Com multiplicador 1,30 no tipo I, 1,37 tipo II e efeito induzido de apenas 0,07, sendo um dos

últimos setores do ranking.


47

Mais uma vez da-se destaque ao setor de cimento, 2º que mais impacta na geração de

emprego na economia a cada emprego gerado no setor, apresentando um multiplicador de

173,92 no tipo I e 229,66 no tipo II, sendo 55,74 o efeito induzido.


48

Tabela 4. Multiplicador de emprego tipo I, tipo II e efeito induzido para o Brasil


Tipo Efeito
Descrição da atividade Tipo I Ordem Ordem Ordem
II induzido
Administração pública e seguridade social 1,28 51 1,52 49 0,25 44
Agricultura, silvicultura, exploração florestal 1,19 52 1,21 53 0,02 55
Álcool 88,09 5 92,64 8 4,55 15
Alimentos e bebidas* 4,32 34 4,67 34 0,34 39
Aparelhos/instr. médico-hospitalar, medida e óptico 10,51 23 12,97 23 2,45 24
Artefatos de couro e calçados 6,64 28 7,38 29 0,74 34
Artigos de borracha e plástico* 6,55 29 7,73 28 1,18 28
Artigos do vestuário e acessórios 2,64 38 2,83 39 0,19 45
Automóveis, camionetas e utilitários 43,23 12 51,04 12 7,82 12
Caminhões e ônibus 110,02 4 129,94 4 19,92 6
Celulose e produtos de papel* 17,97 19 20,47 20 2,51 23
Cimento 173,92 2 229,66 2 55,74 1
Comércio 1,08 54 1,13 55 0,06 53
Construção 1,30 50 1,37 52 0,07 52
Defensivos agrícolas 169,82 3 194,43 3 24,62 4
Educação mercantil 2,44 40 2,75 40 0,32 41
Educação pública 1,32 48 1,45 50 0,14 47
Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 3,74 35 4,65 35 0,91 31
Eletrodomésticos 45,57 11 56,52 11 10,94 11
Fabricação de aço e derivados* 14,45 22 19,56 21 5,11 13
Fabricação de resina e elastômeros* 78,82 7 95,43 6 16,61 7
Intermediação financeira e seguros 2,18 42 2,72 41 0,54 36
Jornais, revistas, discos 5,96 30 6,88 30 0,92 30
Máquinas e equipamentos, inclusive man. e reparos 5,02 32 6,13 31 1,11 29
Máqu. para escritório e equipamentos de informática 83,34 6 94,77 7 11,44 10
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 10,27 24 12,54 25 2,26 25
Material eletrônico e equipamentos de comunicações 24,48 15 29,14 15 4,66 14
Metalurgia de metais não-ferrosos 14,96 21 19,13 22 4,18 19
Minério de ferro 62,74 10 89,44 9 26,70 3
Móveis e produtos das indústrias diversas 3,38 36 3,75 36 0,37 38
Outros da indústria extrativa 9,71 25 12,62 24 2,91 22
Outros equipamentos de transporte 21,18 17 24,80 17 3,62 20
Outros produtos de minerais não-metálicos 5,11 31 5,95 32 0,84 33
Outros serviços 1,15 53 1,21 54 0,06 54
Peças e acessórios para veículos automotores* 9,31 26 11,16 26 1,85 26
Pecuária e pesca 1,69 45 1,77 45 0,08 51
Perfumaria, higiene e limpeza 31,43 14 35,79 14 4,37 16
Petróleo e gás natural 34,83 13 50,94 13 16,10 8
Produtos químicos* 19,09 18 23,32 18 4,23 18
Produtos de madeira - exclusive móveis 8,78 27 9,63 27 0,85 32
Prod. de metal - exclusive máquinas e equipamentos* 2,91 37 3,49 37 0,58 35
Produtos do fumo 313,87 1 334,90 1 21,03 5
Produtos e preparados químicos diversos 24,30 16 28,60 16 4,30 17
Produtos farmacêuticos 17,77 20 21,36 19 3,59 21
Refino de petróleo e coque* 76,68 8 104,23 5 27,54 2
Saúde mercantil 2,18 43 2,43 43 0,25 43
Saúde pública 2,52 39 2,85 38 0,33 40
Serviços de alojamento e alimentação 2,39 41 2,53 42 0,14 46
Serviços de informação 2,00 44 2,26 44 0,26 42
Serviços de manutenção e reparação 1,50 47 1,58 48 0,09 50
Serviços imobiliários e aluguel 1,53 46 1,63 46 0,10 49
Serviços prestados às empresas 1,31 49 1,42 51 0,11 48
Têxteis* 4,36 33 4,73 33 0,38 37
Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 73,28 9 87,01 10 13,73 9
Transporte, armazenagem e correio 0,41 55 1,63 47 1,21 27
Fonte: Resultado da pesquisa
49

Contudo, ao analisar a geração de empregos diretos de todos os setores – Tabela 5 –

nota-se que o setor da construção aparece entre os 10 que mais empregam, 9º lugar.

Pode-se perceber ainda que os setores que mais geram empregos diretos são intensivos

em mão-de-obra, como se pode citar o setor agrícola o primeiro do ranking, pecuária e pesca,

comércio entre outros, todos os setores com pouco impacto nos multiplicadores.

Isso pode justificar a atitude dos governos em investir em programas na área agrícola,

e na construção como ressaltados na introdução. Esses setores têm uma capacidade elevada na

geração de empregos diretos, e não exigem alta escolaridade.

Ao contrário disso, setores com maior multiplicador geram poucos empregos diretos já

que são intensivos em capital, mas que, no entanto precisam de muitos insumos da cadeia.
50

Tabela 5. Empregos diretos para o Brasil


Ordem Descrição da atividade Empregos

1 Agricultura, silvicultura, exploração florestal 106,73


2 Outros serviços 96,47
3 Pecuária e pesca 81,99
4 Serviços de manutenção e reparação 71,53
5 Artigos do vestuário e acessórios 67,54
6 Comércio 50,27
7 Serviços de alojamento e alimentação 48,90
8 Educação pública 42,46
9 Construção 35,03
10 Educação mercantil 30,66
11 Serviços prestados às empresas 30,16
12 Têxteis* 28,88
13 Móveis e produtos das indústrias diversas 28,53
14 Artefatos de couro e calçados 27,90
15 Produtos de madeira - exclusive móveis 25,64
16 Saúde mercantil 25,37
17 Saúde pública 21,62
18 Outros produtos de minerais não-metálicos 21,25
19 Transporte, armazenagem e correio 20,96
20 Outros da indústria extrativa 17,01
21 Administração pública e seguridade social 15,83
22 Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos* 14,16
23 Jornais, revistas, discos 12,91
24 Serviços de informação 11,11
25 Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico 10,85
26 Alimentos e bebidas* 8,56
27 Artigos de borracha e plástico* 7,92
28 Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos 7,42
29 Produtos e preparados químicos diversos 6,91
30 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 6,24
31 Perfumaria, higiene e limpeza 6,08
32 Álcool 5,91
33 Peças e acessórios para veículos automotores* 5,18
34 Celulose e produtos de papel* 5,07
35 Eletrodomésticos 5,03
36 Intermediação financeira e seguros 4,61
37 Outros equipamentos de transporte 4,15
38 Metalurgia de metais não-ferrosos 4,11
39 Produtos farmacêuticos 4,07
40 Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 3,58
41 Serviços imobiliários e aluguel 3,23
42 Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 2,81
43 Material eletrônico e equipamentos de comunicações 2,75
44 Produtos do fumo 2,71
45 Máquinas para escritório e equipamentos de informática 2,44
46 Produtos químicos* 1,85
47 Cimento 1,85
48 Fabricação de aço e derivados* 1,52
49 Automóveis, camionetas e utilitários 1,39
50 Defensivos agrícolas 1,39
51 Caminhões e ônibus 1,28
52 Fabricação de resina e elastômeros* 1,14
53 Minério de ferro 1,08
54 Petróleo e gás natural 0,62
55 Refino de petróleo e coque* 0,15
Fonte: Resultado da pesquisa
51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor da construção que é considerado por muitos como um setor-chave, inclusive

na hipótese deste trabalho, não apresentou encadeamento esperado, e ficou entre os setores

que menos demandam e menos são demandados na economia brasileira. 42º lugar no índice

H-R para trás e 32º no índice H-R para frente, no ranking dos 55 setores da matriz.

Neste sentido, os outros indicadores aqui estudados, também não foram satisfatórios

como se imaginava que seriam para o setor. No multiplicador de produto o setor ficou em 42º

no ranking do tipo I e 41º no tipo II, gerando apenas R$ 0,71 de produção na economia,

quando o consumo das famílias for considerado exógena e R$ 0,87 quando endógeno, a cada

um Real de produção realizada na mesma.

Não diferente disso, em relação ao multiplicador de renda o setor ficou em 47º no

ranking, tanto no tipo I, quanto no tipo II e no efeito induzido, tendo resultado 1,55, 1,62 e

0,08, respectivamente.

Quanto ao multiplicador de emprego, os indicadores foram baixos, 1,30 no tipo I, 1,37

tipo II, sendo o 51º e 52º no ranking, respectivamente, enquanto que seu efeito induzido foi de

apenas 0,07. Contudo, ao analisar a geração de empregos diretos o setor da construção

aparece entre os 10 que mais empregam, 9º lugar.


52

A margem do estudo destacou-se o resultado do setor de cimento – produtor de um

dos mais importantes insumos básico da indústria da construção. Os indicadores para o

mesmo foram satisfatórios, onde destacam-se: o índice H-R para trás acima da média 1,09; o

2º lugar no ranking de multiplicador de emprego tipo I e tipo II sendo o 1º no efeito induzido;

e 1º lugar no multiplicador de renda tipo I e tipo II bem como seu efeito induzido.

Quanto aos multiplicadores dos 10 setores considerados chaves segundo a concepção

McGilvray (1977) (alimentos e bebidas; artigos de borracha e plástico; celulose e produtos de

papel; fabricação de aço e derivados; fabricação de resina e elastômeros; peças e acessórios

para veículos automotores; produtos químicos; produtos de metal – exclusive máquinas e

equipamentos; refino de petróleo e coque; têxteis), estes apresentaram resultados diversos,

podendo-se observar grande parte deles com um bom multiplicador de produto, e um ruim

multiplicador de renda e de emprego.

Vale ressaltar a existência de limitações no modelo aqui empregado, entre elas

destacam-se: a estimação de efeitos na demanda, ao invés de avaliar efeitos de alterações na

oferta; tendência a superestimar o impacto estrutural de demanda; multiplicadores de

significativa magnitude, não implicam em impactos de expressivas magnitudes; tendência a

ignorar ou mascarar os efeitos de deslocamento; representam o período para qual a matriz foi

realizada; Os efeitos não necessariamente ocorrem depois dos estímulos exógenos.

Em análise última, embora não seja do ponto de vista da metodologia de insumo-

produto um setor chave, e nem apresente multiplicadores elevados, o setor da construção não

deixa de ser importante, principalmente em um país como o Brasil, que possui baixa

escolaridade média, pois o mesmo é capaz de absorver tal demanda, outrossim, a deficiência
53

na infra-estrutura e o grande déficit habitacional, continuam sendo argumentos que justificam

atitudes do governo em fomentar o setor com programas como o “PAC” e “Minha casa minha

vida”.
54

6. REFERENCIAS

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56

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