Você está na página 1de 1

Diário do Minho 5DEJANEIRODE2010 ECO V

g
g no
mia g

O
s primeiros meses do ano o S&P 500 (principal índice bolsista ceiras, para que estas continuassem a bancos mais sólidos começaram, em
foram muito difíceis para o americano), tinha registado 18 sessões emprestar a particulares e empresas, e meados do ano, a devolver as ajudas
sistema financeiro e para a com variação iguais ou superiores a garantir a segurança das poupanças ao governo americano. Até Dezem-
economia mundial. A crise a 5% em 2008 (entre 1956 e 2007 depositadas. Com a tomada de posse bro último, todos os grandes bancos
financeira, que teve origem no merca- contavam-se apenas 17 variações do presidente dos Estados Unidos, tinham pago as ajudas do TARP. Pres-
do de crédito hipotecário nos Estados desta grandeza). Muitas eram as em- aos poucos e dia após dia começou a sionados por analistas, investidores e
Unidos, veio mostrar que vivemos presas a cair já 70 e 80% dos valores a tentar quebrar-se este ciclo de pânico pela gestão corrente, os bancos qui-
numa economia global. A banca ame- que tinha cotado em 2007 e algumas e medo. Foi proposto de imediato, seram devolver as ajudas aos Estados
ricana e mundial havia vendido todo o estiveram a perder cerca de 95% do e pouco depois aprovado, um maior para garantirem maior flexibilidade de
tipo de produtos estruturados a partir seu valor. pacote de estímulo à economia ame- gestão, principalmente no pagamento
deste mercado de crédito. Desde os As televisões e jornais noticiavam ricana. Ao mesmo tempo, começaram de salários e bónus aos seus gestores.
grandes bancos americanos, suíços, e davam novo fôlego ao pânico e a ser aprovados pacotes de estímulo A estabilização do sistema financeiro
ingleses, japoneses, etc, a pequenas medo. Pela primeira vez o público económico e fiscal um pouco por mundial era imprescindível para que
cidades da Europa do norte, ao cliente tomou consciência que grande parte O P I N I Ã O todo o mundo e durante todo o ano a recuperação económica se pudesse
anónimo dos bancos e investidor de dos seguros de reforma, dos valores EMÍLIA O. VIEIRA de 2009, através de programas mais verificar de forma consistente, razão
pequena poupança, todos detinham descontados para as suas reformas PRAÇA DA JUSTIÇA, 191  1.O SALA 1 ou menos dirigidos para sectores pela qual os governos tiveram que aju-
produtos criados pela banca a partir estavam investidos em acções de GERAL.BRAGAFINCOR.PT específicos, foram injectados biliões dar a banca, o que muitas vezes, não
do chamado mercado de subprime. empresas cotadas e em obrigações, de dólares nas economias, com des- foi bem recebido pela opinião pública.
Esta foi portanto uma grande bolha que são títulos de dívida de empresas taque para Estados Unidos, China, Esperamos que a regulação desta acti-
no mercado imobiliário americano e ou governos. Outros ainda, viram que Japão, e Alemanha. Houve ainda, vidade seja melhorada para que uma
praticamente todo o mundo tinha um tinham os seus investimentos em pro- uma actuação mundial no corte das crise desta gravidade não se repita.
pouco desse investimento. Ao mesmo dutos financeiros complexos ou que taxas de juro para valores nunca A recuperação económica tem altos e
tempo, o Reino Unido, a Espanha e a não existiam. Pela primeira vez, depois antes observados e que, na grande baixos e vamos continuar a assistir a
Irlanda sofrem também uma bolha de várias décadas, o cidadão comum Investimento maioria dos casos, ainda se mantêm avanços e recuos. É também natural
imobiliária, que, embora esteja conti- tomou consciência que nem os depó- nesses valores. que continuem a ouvir-se as mais va-
da dentro das suas próprias fronteiras,
fragiliza a banca e causa grandes da-
sitos a prazo são totalmente seguros,
dependendo do banco a quem se con-
em Valor – 2009 Nunca na história houve tão forte
intervenção na economia a nível
riadas opiniões de analistas do merca-
do, economistas e especialistas vários
nos para a economia real. fiam e do montante depositado. mundial. A partir da segunda metade que alimentam os média diariamente.
Entrou-se na chamada espiral nega- do ano, os indicadores económicos Durante esta crise o maior e melhor
No final de 2008 e início de 2009, o
pessimismo e mesmo pânico tinham
tomado conta do mercado de capitais
tiva em que consumidores reduzem
brutalmente os consumos e os inves-
tidores são dominados pelo medo.
A estabilização das principais países começaram a
dar conta de uma recuperação. A
Bolsa, que normalmente antecipa a
investidor do mundo investiu cerca de
40 biliões de dólares em acções e dívi-
da de empresas, entre as quais General
e dos índices bolsistas a nível mundial.
A falência de vários grandes bancos
e nacionalização de outros, a par das
As empresas reagiram à quebra de
consumo com redução na produção e
despedimentos em massa. A falta de
do Sistema recuperação económica, fez a maior
valorização desde a grande depressão
dos anos 30 e veio, mais uma vez, con-
Electric, Goldman Sachs, Wells Fargo,
Burlington Northern, dívida da Mars,
Tiffany’s e Harley Davidson; uma apos-
notícias que diariamente apontavam
novos nomes a falirem ou a serem
nacionalizados provocavam variações
confiança de empresários, consumi-
dores e investidores mostravam a ur-
gência de uma actuação concertada a
Financeiro firmar que o medo é mau conselheiro.
Depois de assumirem perdas colossais,
os principais bancos reforçaram os
ta que o próprio classificou de aposta
total – all in – na América.
Existirão sempre boas oportunidades
diárias, nalguns dos principais bancos
a nível mundial, de 10, 15, 20% numa
só sessão. O pânico, a ignorância e
nível mundial por parte dos governos
dos principais países.
Por todo o mundo foram anunciadas
Mundial seus capitais, primeiro com ajuda dos
fundos públicos e, posteriormente,
com aumentos de capital. A quase sus-
de investimento. Apenas temos que
aguardar pelo preço certo para com-
prar.
também o aproveitamento de alguns medidas de apoio às instituições pensão de pagamento de dividendos,
grandes especuladores tomaram financeiras com avultados biliões que neste sector é bastante generoso,
contam do mercado. As variações nos a serem injectados para garantir a permitiu também reforçar os rácios
índices eram de tal forma amplas que solvabilidade das instituições finan- de capitais e reforçar os balanços. Os

N
a década de 80 Michael Aquilo que torna ainda mais impres- se encontrava em declínio. umas com as outras. A única forma de
Porter ficou conhecido por sionante esta rápida expansão é o O Cirque du Soleil não concorria direc- vencer a concorrência é deixar de ten-
três abordagens estratégicas facto de não se tratar de uma indústria tamente com o “Ringling Bros.”, nem tar vencer a concorrência, e seguir a
que de forma isolada ou atractiva, mas sim de uma indústria com os outros circos tradicionais, nem sua própria estratégia através de uma
combinada permitem a uma empresa em declínio e com um potencial de procurava o mesmo tipo de público. oferta diferenciadora.
obter uma posição dominante no mer- crescimento limitado. Do lado da Em vez disso, criou um novo espaço Para compreender melhor aquilo que
cado. Essas estratégias são: a liderança oferta, o poder negocial dos artistas de mercado não disputado que tornou o Cirque du Soleil conquistou, imagine
pelo custo, onde o domínio do sector era forte, limitando as margens de a concorrência irrelevante. Este circo um universo de mercado composto
se faz através de custos de produção negociação da sua prestação laboral. passou a atrair um grupo completa- por dois tipos de oceanos: os verme-
muito baixos, os quais se repercutem Do lado da procura a pressão pela ino- mente novo de clientes: adultos e em- lhos e os azuis. Os oceanos vermelhos
também nos preços dos bens e servi- vação era também forte, pois o consu- presas dispostos a pagarem um preço representam todas as indústrias que
ços, ou através de uma estratégia de midor passou a ter várias alternativas várias vezes acima do praticado nos existem hoje. Trata-se do mercado
diferenciação, onde a empresa cria em termos de entretenimento, como O P I N I Ã O circos tradicionais e, contudo, inferior conhecido. Os oceanos azuis abarcam
algo que é único no sector onde actua, eventos desportivos, cinema, diversão ao dos teatros. Abriu assim, um novo todas as indústrias que ainda não exis-
ou por último através de uma estraté- no lar em larga escala, provocando ILÍDIO FARIA espaço em termos de entretenimento, tem. Trata-se do espaço de mercado
gia dirigida a um nicho de mercado, uma alteração nas suas necessidades DIRECTOR DA FIDUCIAL que conquistou públicos alternativos desconhecido.
sendo que esta última estratégia visa e padrão de consumo. Em virtude ILIDIO.FARIAFIDUCIAL.COM.PT para a sua arte. Nos oceanos vermelhos, as fronteiras
atingir um determinado grupo de con- destes factores a indústria circense en- das indústrias estão definidas e são
sumidores ou de necessidades. frentou uma redução constante de pú- Atendendo a que não se estava peran- unanimemente aceites. As regras do
Em 2004, os professores W. Chan Kim e blico, que levou, consequentemente, te um circo tradicional, nem de uma jogo da concorrência são conhecidas
Renée Mauborgne desenvolveram um a uma queda das receitas e dos lucros. clássica produção teatral, o Cirque por todos. Neste oceano, as empre-
novo modelo estratégico conhecido Havia ainda um sentimento crítico du Soleil não tinha em conta o que a sas tentam superar as suas rivais
como “Blue Ocean Strategy”, Estratégia cada vez maior relativamente ao uso concorrência fazia. Em vez de seguir para conquistarem uma quota maior
Oceano Azul em português. O objec- de animais nos circos, impulsionado a lógica convencional, de tentar ultra- da procura existente. À medida que
tivo desta estratégia não é competir por um maior número de grupos de passar a concorrência através de uma o espaço de mercado vai ficando
num mercado já existente, mas sim
criar um novo espaço no mercado
(Oceano Azul), tornando assim a con-
defesa dos direitos dos animais.
Na altura o “Ringling Bros” and Barnum
& Bailey” estabelecia o padrão e os
A estratégia melhor solução para o problema –
criar um circo ainda com mais diversão
e emoção – procurou oferecer a diver-
cada vez mais “povoado”, as perspec-
tivas de lucro e de crescimento vão
diminuindo. Os produtos tornam-se
corrência irrelevante.
Um exemplo clássico desta estratégia
é o mundialmente conhecido Cirque
circos pequenos limitavam-se a seguir
os seus passos, oferecendo versões
semelhantes das apresentações artís-
certa para são e a emoção do circo ao mesmo
tempo que lhe juntava a sofisticação
intelectual e a riqueza artística do
meras mercadorias indistintas e a “fe-
rocidade da concorrência mancha as
águas de sangue”, tornando o
du Soleil. Fundado em 1984 por um
grupo de artistas de rua, o Cirque du
Soleil é uma das maiores exportações
ticas, mas de escala inferior. Do ponto
de vista da estratégia com base na
concorrência, a indústria circense não
o seu negócio teatro. Ao ultrapassar as barreiras do
mercado teatral e circense, o Cirque
du Soleil passou a compreender me-
oceano vermelho.
Pelo contrário, os oceanos azuis
são espaços de mercado ainda não
culturais do Canadá, tendo já efec- tinha capacidade de atracção nem de lhor não apenas os clientes do circo, explorados, onde se pode criar a pro-
tuado espectáculos para mais de 40 diferenciação. mas também aqueles que não eram cura e onde existem oportunidades de
milhões de pessoas, em 90 cidades de Isto leva-nos a falar de um outro consumidores habituais: os adultos elevado crescimento e rentabilidade.
todo o mundo. factor determinante para o sucesso que normalmente assistiam ao teatro Nos oceanos azuis, a concorrência é
Em menos de 20 anos, o Cirque du So- que o Cirque du Soleil alcançou: o como forma de entretenimento. irrelevante, porque as regras do jogo
leil atingiu um nível de receitas igual seu lugar na indústria circense não foi O Cirque du Soleil teve sucesso por- ainda não foram estabelecidas.
ao que o maior circo mundial, o “Rin- conquistado à custa do mercado dos que os seus responsáveis perceberam Qual a sua estratégia? Fale connosco:
gling Bros and Barnum & Bailey” de- consumidores tradicionais, historica- que as empresas, para vencerem no http://www.formspring.me/ilidio-
morou mais de um século a alcançar. mente virado para as crianças, e que futuro, devem parar de concorrer faria

Você também pode gostar