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1 Extracto do Capítulo 6 do livro: Ponte, J. P., & Serrazina, L. (2000). Didáctica da Matemática para o
1.º ciclo do ensino básico. Lisboa: Universidade Aberta.
Dinâmica do processo de ensino 2
Não há nenhuma razão para que os alunos não assumam, eles próprios, o papel de
protagonistas no questionamento. Isso pode acontecer, em certos casos, na sequência da
exposição para toda a turma de um aluno ou um grupo de alunos ou até, mais
informalmente, no decurso da realização de um trabalho de grupo.
A discussão é o modo mais importante que pode assumir a interacção entre os alunos
ou entre alunos e o professor. Aqui o controlo passa sucessivamente de interveniente
para interveniente e o registo alterna-se entre o afirmativo e o interrogativo. Uma
discussão tem sempre um objectivo, que pode ser a estratégia a seguir para a realização
de uma tarefa, a avaliação de uma dada solução, o balanço do trabalho realizado ao
longo de todo um período, etc.
Uma discussão pressupõe uma certa igualdade de papéis entre os diversos
intervenientes. No entanto, um deles (normalmente o professor) poderá ter de assumir
um papel de moderador, gerindo a sequência de intervenções e orientando, se
necessário, o respectivo conteúdo. Uma discussão pode ocorrer em situações muito
diversas. Pode envolver participantes que têm ideias já bem definidas em relação a um
dado assunto, e que argumentam as suas posições com convicção, mas também pode
envolver participantes que estão a fazer uma exploração inicial de um assunto,
procurando “pensar em voz alta” em conjunto sobre ele.
Uma discussão entre alunos pode ser extremamente reveladora acerca do seu modo de
pensar, como se ilustra no seguinte diálogo:
P: Quanto é 4,38 × 100?
A1: Penso que é 4,3800.
P: O que é que o resto da turma pensa?
A2: Sim, penso ser — 4,3800.
A3: Não, não é. É 438.
P: O que pensas, agora, A1?
A1: É 4,3800. Temos apenas de acrescentar dois zeros.
P: O que têm estes zeros no fim?
Dinâmica do processo de ensino 5
Uma discussão como esta entre alunos numa sala de aula, seguida por todos, é algo
relativamente raro. Neste caso, o professor usa o seu poder de modo positivo, sem se
precipitar em corrigir os alunos que manifestam ideias erradas. É claro que deve
procurar que eles cheguem à ideia correcta, mas em vez de lhes dar de imediato a
solução, poderá tentar que a alcancem através do desenvolvimento do conflito cognitivo
que se evidencia nas suas intervenções.
Uma outra discussão entre alunos, que ilustra o desenvolvimento da sua compreensão
do papel convencional das representações matemáticas é a seguinte: