Você está na página 1de 15

Susana Rosa Marques de Jesus

_____________________________________________________________________________________

A biblioteca escolar: do silêncio ao baile

Informação, Instituições e Sociedade

Curso de Especialização em Ciências da Informação

UNIVERSIDADE PORTUCALENSE
Infante D. Henrique
Porto, Janeiro 2009
Susana Rosa Marques de Jesus
_____________________________________________________________________________________

A biblioteca escolar: do silêncio ao baile

Trabalho elaborado no âmbito da disciplina de Informação, Instituições e Sociedade,


Curso de Especialização em Ciências da Informação
Prof. Doutora Isabel Freitas

UNIVERSIDADE PORTUCALENSE
Infante D. Henrique
Porto, Janeiro 2009
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

Sou o vosso professor


E sei de um baile de gala
Que se dá a todas as noites
Nas estantes da vossa sala

Olha o Ulisses o argonauta


A dançar com o mar à proa
Aquele é o senhor Fernando
A dançar com a sua Pessoa

Olha o mestre Gil Vicente


Entre a rainha e o bobo
E aquele à frente é o Aleixo
É o poeta do povo

É o baile da biblioteca
Baile da Biblioteca,
Cabeças no Ar

A imagem do baile transmitida pela canção dos Cabeça no Ar define, na minha


opinião, a biblioteca que se pretende no século XXI – uma instituição viva e dinâmica,
em constante mudança e agitação e adaptável a todas as situações, onde a possibilidade
de um baile não é excluída. A dança dos livros contrapõe uma imagem outrora presente
nas bibliotecas, de “fechados a cadeado”, como refere José Calixto.1 O livro era um
tesouro que devia ser guardado e nunca tocado, uma realidade contradita pela primeira
lei de Ranganathan, para quem o livro é um meio de informação a ser usado de forma
livre. Contudo, hoje, e seguindo a orientação das cinco leis definidas por este professor
de matemática interessado pela biblioteconomia, a mentalidade é já um pouco diferente
e o livro, que se mantinha agrilhoado e /ou escondido nas estantes, é libertado e
encontra outros parceiros de dança, como periódicos, filmes ou CDRoms…

O conceito de baile conduz-nos igualmente para uma visão da biblioteca como um


espaço onde poderão ocorrer diferentes e inovadores eventos sempre associados à
leitura. Leitura e entretenimento aliam-se. Uma simples canção de um grupo pode
basear a sua letra em poemas ou em excertos de autores clássicos, como é exemplo a
canção de Luís Represas, “Perdidamente”, do poema de Florbela Espanca ou as canções
do grupo finlandês de metal sinfónico, Nightwish, que usa poemas de Walt Whitman ou
referências dos autores americanos Edgar Allan Poe ou Stephen King. A biblioteca

1 CALIXTO, José – A biblioteca escolar e a sociedade de informação, p. 16.

4
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

torna-se, assim, flexível, cooperante e capaz de ocupar os tempos livres dos seus
diferentes públicos, organizando e realizando actividades e projectos diversos, onde
(porque não?), incluir um baile ou um chá e bolinhos.

Perante estas possíveis inovações, o que aconteceu à biblioteca, considerada um


espaço sagrado onde o “shhhiuuu…” se ouvia constantemente? Será esta ainda uma
realidade das nossas bibliotecas ou podemos considerar que sobre estas paira uma
dualidade de silêncio e barulho, que não interfere no seu bom funcionamento e que,
assim, mantêm, a abertura a públicos diversificados e à sociedade, em geral? Importa
observar de que forma a instituição “biblioteca” organiza esta dualidade, no que ao
espaço diz respeito, de modo a satisfazer todas as necessidades dos seus públicos e de
modo a que todos se sintam bem, confortáveis e com a informação desejada em mãos.
Por um lado, existem utentes que procuram a biblioteca para realizar trabalhos,
individuais ou de grupo, e neste âmbito penso nos utentes mais jovens, que
possivelmente farão algum barulho durante a discussão das tarefas. Para este grupo, o
espaço da biblioteca abandona o silêncio, e torna-se mais activo para a discussão, mais
vivo e agradável. Por outro lado, existem outros grupos de utentes que preferem o
silêncio para estudar, reflectir ou simplesmente ler.

Mas será que a população portuguesa lê? Ricardo Jorge Costa, jornalista do jornal
A Página da Educação, num artigo de 2002, refere que Portugal é um dos países com
um dos mais baixos índices de leitura dos países da OCDE, apontando como razão
principal para este panorama o “facto de as bibliotecas - locais por excelência para o
desenvolvimento de hábitos de leitura - desde sempre terem sido consideradas como
locais herméticos, de acesso restrito, destinadas essencialmente aos ‘letrados’”.2 É
necessário contradizer esta situação oferecendo serviços que aproximem as populações,
em particular crianças mais desfavorecidas, habitantes de bairros sociais e idosos, às
bibliotecas,3 que devem transformar-se para dar resposta a estes grupos tão diferentes
dos letrados.

2 COSTA, Ricardo - Rede de bibliotecas públicas e bibliotecas escolares: Sobram as intenções, faltam
os meios. [Em linha].

3 No artigo de Ricardo Costa, o director da Biblioteca Pública Municipal da cidade do Porto (BPMP),
Sílvio Costa, refere que "Se as bibliotecas não disponibilizarem serviços vocacionados para chegar a estes
públicos não estarão a cumprir totalmente o seu desígnio".

5
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

Mais do que a organização do espaço é, assim, primordial a criatividade na


realização de projectos de promoção da leitura e no chamamento de utentes à biblioteca.
É necessário estar em constante inovação, que assenta na troca de experiências com
outras instituições, sejam elas bibliotecas escolares, bibliotecas públicas (universitárias
ou municipais), arquivos, casas da cultura e museus, ou por manter uma página na
internet sempre actualizada e atraente. A abertura para o que as outras instituições
fazem é uma mais-valia para melhorar a prestação de serviços e contribuir para a
formação de pessoas, tornando-as mais cultivadas e participativas.

Os jovens que hoje vivem na sociedade de consumo e de informação, dominados


por avanços tecnológicos que mudam em minutos e que procuram insistentemente a
internet como fonte preferencial de pesquisa para realizar os seus trabalhos podem e
devem ser resgatados desse mundo e ser confrontados com um outro mundo que, para
eles, é visto como pertencendo ao passado. É imperioso que os nossos jovens entendam
a biblioteca, nomeadamente a biblioteca escolar, como um espaço que evoluiu e que alia
a tecnologia, os recursos audiovisuais e o livro digital ao documento em papel, com o
intuito de lhes oferecer informação, auxiliar na obtenção de competências de
informação,4 (como o diálogo, a crítica e a reflexão), competências a nível das
tecnologias de informação e literacia e de contribuir para o sucesso do seu processo de
ensino aprendizagem e para a formação de cidadãos responsáveis.

Todas estas questões interessam-me, em particular, no contexto da biblioteca


escolar, pois é no espaço escola que exerço a minha profissão e onde passo a maior
parte do meu tempo. A biblioteca escolar é sempre um dos primeiros locais que procuro
quando me apresento na escola. A visão que dela possuo é muito pessoal, marcada pela
intuição e pela observação que fiz e faço no dia-a-dia. Assim, como responde a
biblioteca escolar às questões acima enunciadas? Como e o que faz para alcançar os
alunos no contexto da sociedade de informação? Será a biblioteca escolar um espaço
activo, dinâmico e que evolui para satisfazer o seu principal público, os alunos? E os
professores? Também eles são um elemento essencial no processo de ensino e
aprendizagem. E já agora a comunidade que fica fora dos muros da escola? Que tipo de

4 De acordo com directrizes da IFLA/UNESCO para bibliotecas escolares, o professor bibliotecário tem
como uma das suas funções auxiliar os alunos a conhecer a biblioteca e para isso deve realizar programas
de formação que vão desenvolver um conjunto de competências de estudo e de literacia de informação,
essenciais para o processo de ensino aprendizagem dos alunos (p. 21-25).

6
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

ligação existe com ela? A biblioteca escolar pretende promover, educar, distrair, alargar
horizontes e promover a criatividade junto de todos estes públicos.

Decidi fazer uma viagem à memória dos meus dez anos de serviço enquanto
professora, em diversas escolas, situadas no centro, no sul e mais recentemente, no
norte. Para além das experiências que tenho de trabalho nessas bibliotecas, encontrei,
numa breve e rápida pesquisa, como é óbvio pela internet, situações muito díspares,
bons exemplos e exemplos menos bons e a sensação de que muito tem ainda de ser feito
e muitos esforços têm de ser conjugados para que a biblioteca escolar funcione na
plenitude e alcance o seu maior objectivo - participar no processo educativo dos alunos.

O conceito “biblioteca escolar” encontra-se já disseminado pelas nossas escolas e


a própria construção desta “instituição” dentro da escola é já uma realidade. Após
inúmeros estudos, internacionais e nacionais, sobre a importância da biblioteca escolar
no desempenho dos alunos, estudos sobre educação e práticas culturais, acompanhados
de textos de grupos de professores preocupados com estas questões, ou preocupações
decorrentes de meros textos na imprensa foi constituído, em 1996, o grupo de trabalho
que visava o lançamento da Rede de Bibliotecas Escolares. Contudo, não basta apenas
ver o que está errado com as bibliotecas escolares, definir o que se pretende com elas,
delinear estratégias, definir objectivos e, simplesmente, construir.

Se, no contexto internacional, de acordo com Lourense Das,5 não existe um


entendimento conjunto sobre o papel da biblioteca escolar, também a nível nacional
parecem existir formas muito diferentes de gerir e trabalhar na biblioteca escolar. As
bibliotecas escolares nacionais estão em estádios diferentes de desenvolvimento, que
não surge só da fraca formação dos docentes bibliotecários coordenadores e de suas
equipas, mas da própria gestão da escola, a cargo de quem fica a biblioteca depois de
assinado o contrato-programa com os Ministérios da Educação e Cultura. A biblioteca
escolar recebe uma verba inicial para construção, aquisição de fundo documental e de
equipamento, ficando a manutenção a cargo da escola e do orçamento desta.

5 DAS, Lourense H. - Bibliotecas Escolares no século XXI: à procura de um caminho. [Em linha].

7
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

A imagem que possuo sobre o trabalho realizado nas bibliotecas escolares define-
se ainda em muitos casos pela “tradicional e portuguesíssima carolice”6, pois julgo que
os professores bibliotecários ainda andam à deriva em torno de uma função para a qual
não se formaram, dominando a boa vontade e o voluntarismo. Na opinião do professor
Jorge Mateus, a essência da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) é a "partilha e a
conjugação de esforços".7 Estes esforços devem concentrar-se na formação que passa
por dotar, quem trabalha nas bibliotecas escolares, com as competências técnicas
necessárias, esclarecer sobre o seu funcionamento, organização e gestão e fazer
compreender a missão, o papel e a função que as bibliotecas escolares desempenham no
contexto da escola e no processo educativo.

Estes esforços devem surgir não exclusivamente do professor bibliotecário e da


sua preocupação em melhorar e aperfeiçoar os seus conhecimentos, mas também da
própria escola e comunidade escolar, bem como, logo no início do projecto, do
Ministério da Educação, no apoio orçamental. A biblioteca escolar tem pouco apoios.
De acordo com Ana Chaves, técnica superior de Ciências Documentais a exercer
funções na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto,"[u]m dos problemas que se coloca
actualmente a estas estruturas deve-se ao facto de a rede estar a montar as bibliotecas
mas não estar a pensar na sua manutenção. E as escolas não têm dotação orçamental
própria para as manter. É um projecto com pernas para andar, mas é preciso pensar nos
custos de manutenção e criar mecanismos para os garantir".8

Em dez anos leccionei em nove escolas.9 Em algumas dessas escolas, a biblioteca


escolar era um local que ia sobrevivendo (e não vai ainda?), uma espécie de parente
pobre da escola, muitas vezes esquecida, mal localizada (em relação às salas de aula),
com fracos acessos para utentes com deficiência física, por exemplo. A biblioteca da
escola onde me encontro a trabalhar este ano, em Lousada, localiza-se dentro da própria
cantina, havendo uma rampa de acesso muito inclinada ao lado de três degraus. Outras

6 CALIXTO – A biblioteca escolar, p. 40.

7 COSTA – Rede de bibliotecas públicas e bibliotecas escolares.

8 COSTA – Rede de bibliotecas públicas e bibliotecas escolares.

9 Escola Secundária da Mealhada (Aveiro); Escola Básica Integrada de Alcoutim (Algarve); Escola EB
2, 3 de Trancoso (2 anos, Guarda); Escola Secundária com 3ºCEB de Sabugal (Guarda); Escola EB 2, 3
de Vilarinho do Bairro (Aveiro); Escola Básica Bento Carqueja (Oliveira de Azeméis); Escola EB 2, 3
José Régio (Portalegre); Escola Secundária Dr. Francisco Fernandes Lopes (Olhão) e Escola EB 2, 3 de
Lousada (Lousada).

8
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

bibliotecas estavam localizadas em espaços exíguos, o que fazia com que o acervo
estivesse guardado em salas fechadas e sem acesso livre. Contudo, algumas bibliotecas
sofreram remodelações e possuem agora salas amplas, iluminadas, bem organizadas,
com as estantes de documentos bem legendadas, dispostas com clareza pela sala e de
acesso livre. Verifiquei uma preocupação em dividir o espaço em zonas, de acordo com
as características dos utentes e suas necessidades: zona para estudo, zona para pesquisar
na internet / no fundo documental, zona para leitura livre e informal… Todavia, apesar
destas divisões, nem sempre é fácil isolamento acústico entre espaços. Observei e
recordo-me de uma preocupação com a decoração da biblioteca, recorrendo a cartazes e
a trabalhos realizados pelos alunos, a frases e pensamentos de autores diversos, de modo
a criar um ambiente acolhedor e agradável. Mas só isto não basta.

De acordo com Manuela Barreto Nunes, a biblioteca é um espaço híbrido, no que


diz respeito ao espaço, às colecções e aos serviços, pois estes são simultaneamente reais
e virtuais.10 Assim, uma biblioteca escolar é permeada pelo barulho dos alunos, que
devido à idade, ainda não sabem controlar-se e comporta-se em determinados espaços.
Se a biblioteca escolar não têm, como é a maioria dos casos nas nossas escolas, espaços
adequados para silêncio e para barulho, bem delimitados e resguardados, é necessário
que o professor bibliotecário e a sua equipa promovem acções e actividades que passem
por ensinar os alunos a respeitar quem não gosta de barulho/silêncio para trabalhar ou
estudar. Ouvir constantemente o professor dizer “calem-se, meninos” ou “sentem-se,
não façam barulho” ou o tão conhecido “shiiuuu…” torna-se um pouco desagradável e é
também um incómodo. É importante incutir regras e comportamentos nos alunos. Se a
biblioteca escolar tem um espaço de acesso à internet ou um local para ver um filme ou
um documentário, é perfeitamente normal que os alunos dialoguem, comentem e
partilhem ideias, pois não é essa a intenção da sua ida à biblioteca? Não podemos
acreditar que vão estar em silêncio. Não faria sentido.

Relativamente ao fundo documental, não podendo fazer um comentário quanto à


quantidade, posso apenas referir que destas nove escolas, apenas duas possuem o seu
catálogo em linha, no sítio da Rede de Bibliotecas Escolares,11 num sistema que oferece

10 NUNES, Manuela Barreto. Novas colecções e novas formas de acesso à informação na Biblioteca
Escolar. [Em linha].

11 Informação obtida após pesquisa realizada pela palavra-chave “catálogo”, em http://www.rbe.min-


edu.pt/.

9
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

condições às escolas para produzir e divulgar os seus catálogos, quer de escola, quer
catálogos colectivos (pertencentes às Redes de Bibliotecas dos respectivos concelhos).
Desta forma, o professor bibliotecário, os alunos e os professores de diferentes escolas
podem aceder ao fundo documental e estabelecer parcerias de empréstimo
interbibliotecário, que pode permitir a realização de inúmeras actividades de leitura,
bem como aumentar a troca de experiências entre bibliotecas e comunidades escolares.

A escola de Vilarinho do Bairro possui um projecto intitulado “BiblioAndanças”,


que consiste na criação de caixas/baús contendo livros para benefício dos alunos dos
Jardins-de-infância e Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, em serviço de itinerância.12
Este projecto iniciado há poucos meses mostra como é possível colocar os livros “a
andar” de escola em escola, chegando a alunos com menos acesso à biblioteca e à
informação que esta contém. Este é um óptimo exemplo de boas práticas que ultrapassa
as fronteiras da própria escola e alcança escolas pertencentes ao agrupamento e, via
blogosfera, poderá chegar a outras escolas que têm, assim, a possibilidade de
implementar, sob pedido de empréstimo, este mesmo projecto com os seus alunos.

Por falar em blogosfera, duas das escolas que procurei na internet possuem um
blog há relativamente pouco tempo, lançados no ano lectivo anterior: a Escola
Secundária da Mealhada e a Escola Básica de Vilarinho do Bairro.13 As restantes
escolas também estão em linha, mas em locais diferentes. Duas escolas estão inseridas
na plataforma moodle e a informação não se encontra actualizada e nem todos os
utilizadores estão familiarizados com este recurso. Outras duas escolas estão em linha
através da RCTS14 e uma escola está inserida na própria página da escola (a escola de
Olhão). Duas escolas não possuem página na internet. Três destas escolas possuem
informação actualizada e mostram preocupação em revelar o que de bom se faz no seu
espaço e na sua comunidade escolar. As restantes mostraram interesse em divulgar-se
na internet, mas não deram continuidade ao trabalho nesta área. No entanto, tal não

12 Ver o blog da escola, O Sabichão, em http://bibliotecavilarinho.blogspot.com/.

13 O blog da Escola Secundária da Mealhada pode consultar-se em http://biblioteca-es-


mealhada.blogspot.com/.

14 A RCTS é uma rede informática gerida pela Fundação para a Computação Científica Nacional que
usa os protocolos da Internet para garantir uma plataforma de comunicação e colaboração entre as
instituições do sistema de ensino, ciência tecnologia e cultura.

10
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

significa que não trabalhem ou realizem actividades e projectos nas suas escolas. Todas
as actividades parecem ser ainda elaboradas dentro da própria escola sem abertura e
troca de experiências com outras escolas, vivendo cada escola isolada no seu mundo.

De um modo geral, todas as bibliotecas escolares / centros de recursos educativos,


como algumas estão definidas, realizam actividades de promoção da leitura, no âmbito
do Plano Nacional de Leitura. De um modo geral, os projectos e tarefas realizados
concentram-se em: comemorações de dias importantes, a nível nacional ou
internacional; exposições sobre datas importantes; celebração de centenários de autores
ou aniversários; concursos de leitura; exposição de trabalhos realizados pelos alunos, no
âmbito da biblioteca ou de uma disciplina; dramatizações; jornal de parede; oficina de
jogos para alunos e professores; palestras com poetas, contadores de histórias, autores e
historiadores que comunicam com os alunos e lhes oferecem um pouco do seu gosto
pela leitura; feiras do livro, importantes na obtenção de verba para aumentar o acervo
bibliográfico.

A biblioteca parece transformar-se no espaço excepcional para todas as


exposições, apresentações e tantos outros eventos. Contudo, não desvalorizando estes
projectos, também não se deve banalizar o espaço e pensar sempre nele como uma tábua
de salvação quando não há outro espaço livre. Face a esta realidade, e por breves
instantes, ocorre-me a ideia de que a biblioteca escolar, em determinadas zonas do
nosso país, ainda se encontra numa fase de “atrair” os alunos à biblioteca e ao que de
bom ela produz, para, posteriormente, entrar na verdadeira fase de promoção de hábitos
de leitura nos seus alunos. A biblioteca escolar tenta ao mesmo tempo, com o elemento
lúdico, destruir a imagem de “castigo” muitas vezes a ela associada, quando um aluno
se comporta de forma inadequada na sala de aula.

Todas as bibliotecas das escolas acima mencionadas fazem parte da Rede de


Bibliotecas dos concelhos onde estão inseridas e recebem apoio das Bibliotecas
Municipais, em particular, do projecto SABE. Este projecto consiste no apoio oferecido
pelas bibliotecas municipais às bibliotecas escolares dos seus concelhos, em aspectos
técnicos relacionados com a área da biblioteconomia, em debates e reflexão sobre o
desenvolvimento do projecto da rede de bibliotecas escolares, na promoção da partilha
de recursos, na promoção e cooperação em projectos de promoção da leitura, no
trabalho na área das TIC, na formação de docentes e na divulgação de boas práticas.

11
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

Maria Cabral de Miranda, elemento da equipa de Promoção da Leitura do


Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, numa comunicação no Encontro “SABE
num projecto integrado de LEITURA”, em 2007,15 referiu que, após a implementação
dos projectos de promoção da leitura, caracterizados por uma excelente capacidade
criativa e qualidade, urge articular as instituições que os promovem e colocar em
diálogo estes agentes, as suas ideias e as suas experiências. Através da troca de
experiências, de recursos e da cooperação entre bibliotecas o trabalho é facilitado e o
objectivo comum alcançado. A escola de Vilarinho do Bairro e a Escola Secundária de
Olhão têm dois bons exemplos desta troca nos seus sítios na internet. A primeira
partilha materiais com uma das escolas do concelho vizinho (Mealhada) e a segunda
pediu emprestada uma ideia à biblioteca escolar do Agrupamento Vertical de Castelo de
Paiva, um jogo inspirado no totobola, denominado “TotoCDU”, cujo objectivo é dar a
conhecer aos alunos a Classificação Decimal Universal.

As bibliotecas escolares devem partilhar não só com os seus leitores (alunos,


professores e comunidades escolar), mas igualmente com a comunidade abrangida por
outras bibliotecas escolares a nível nacional. Para isso é importante que divulguem as
suas actividades e projectos, em especial através da internet ou melhor, na blogosfera e,
porque não, através da construção de folhetins informativos que cheguem via correio às
restantes bibliotecas? Se “a escola e as bibliotecas não podem ignorar”, como sugere
José Calixto, “os novos desafios que se lhe colocam quando os locais e as formas de
aprendizagem são tão diversificados”,16 não faz sentido que as escolas não divulguem
na internet o seu plano de actividades, as suas experiências e conquistas junto dos
alunos. Mais importante que relatar estas actividades, seria dar voz aos próprios alunos,
levando-os a narrar a sua participação na vida da biblioteca, mostrando o que sentiram,
o que aprenderam e como pensam que a biblioteca influenciou a sua aprendizagem.
Uma ideia interessante, que concede aos alunos um papel importante, é a do “grupo de
amigos da biblioteca”. A escola de Vilarinho do Bairro já criou este grupo, responsável
por muitas das actividades da biblioteca e pela actualização do blog.

15 MIRANDA, Maria Cabral – São precisos dois para dançar o tango. [Em linha].

16 CALIXTO – A biblioteca escolar, p. 11.

12
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

Um outro aspecto importante seria mostrar ou realizar actividades que unissem a


sala de aula à biblioteca e descrever de que modo os professores, através da sala de aula,
e os alunos participam na concretização de actividades e tarefas de sala de aula e de
biblioteca. Na minha opinião, a sala de aula não usa a biblioteca. Raramente existe um
cruzamento de informação e de actividades entre estes dois espaços, talvez porque os
professores das diversas disciplinas nem sabem o que existe na biblioteca nem como
usar a biblioteca da sua escola para realizar o seu trabalho docente. Esta realidade
sentida nas diversas escolas por onde já passei, leva-me a considerar importante a
realização de pequenas acções de formação para os próprios professores, pois muitos
desconhecem, por exemplo, como estão catalogados os recursos e não sabem como lhes
aceder. O professor bibliotecário, para além das funções definidas nas directrizes da
IFLA e da UNESCO, deverá ainda orientar, não só alunos, mas também professores e
colegas. Todavia, parece-me que, exceptuando o professor bibliotecário e a sua equipa,
se constituída por outros professores, os professores raramente utilizam os serviços da
biblioteca e muito menos recorrem aos seus recursos para planear ou realizar as suas
aulas.

A biblioteca da Escola Secundária de Olhão tem uma mais-valia, na minha


opinião.17 Neste momento conta com uma coordenadora / professora bibliotecária a
trabalhar a tempo inteiro na biblioteca. Para além desta característica, a equipa por ela
coordenada mantém um trabalho constante e realiza uma série de guiões que orientam
os alunos na aquisição e desenvolvimento de competências de informação. A biblioteca
possui ainda um centro de recursos em linha – o biblionet. As escolas procuram dar
indicação de sítios na internet de especial interesse e importância para o trabalho de
pesquisa dos alunos, bem como de informação actualizada e de outras bibliotecas, sejam
elas nacionais ou internacionais.

As visitas que são dinamizadas pelo professor bibliotecário e dirigidas aos alunos
do 5º ano nas escolas básicas ou 7º ano nas escolas secundárias, pois são alunos novos
na escola, devem ser transpostas para fora da escola. Visitar bibliotecas municipais ou
uma biblioteca universitária e um arquivo aumentaria certamente a curiosidade dos
alunos. Uma outra actividade interessante, para conhecer a própria biblioteca, é o

17 A informação sobre a biblioteca escolar da Escola Secundária de Olhão foi obtida em


http://www.esffl.pt/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=111&Itemid=369.

13
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

bibliopaper, uma corrida por entre as estantes da biblioteca, que se transforma nesse
momento num local agitado e onde se pode mexer no livro.

Existem, ainda, dois outros grupos que também podem realizar actividades na
biblioteca escolar. Os professores, que para além de recorrerem aos recursos para a
planificação das suas aulas, podem igualmente desfrutar de umas horas de lazer,
abrindo-se a biblioteca à noite. No ano lectivo passado, a Escola Secundária de Olhão
realizava uns encontros que denominou “Palavreandos”, sessões de discussão, debate e
troca de ideias sobre literatura portuguesa e estrangeira. Nestes encontros estavam
presentes professores e autores convidados, que em torno de uma chávena de chá e de
uns bolinhos, expressavam as suas ideias sobre livros lidos. E os pais? Estes devem
conhecer não só as bibliotecas públicas como também as bibliotecas escolares, pois ali
vão encontrar livros para os vários gostos e interesses dos seus filhos. Se estes virem os
seus pais a frequentar uma biblioteca, a ler um livro ou simplesmente se os ouvirem
comentar um livro, irão certamente interessar-me mais pela leitura. Uma actividade que
poderá contribuir para cimentar o gosto pela leitura poderá passar pela realização de
ateliers de leitura ao fim de semana, quando pais e filhos estão mais livres. O objectivo
passa, segundo Jorge Mateus, “por pensar na oferta de serviços que ultrapasse o âmbito
da comunidade educativa, tentando abri-la também à comunidade envolvente”.18

Lourense Das, referindo o estudo de Ross Todd sobre bibliotecas escolares,


defende que a “biblioteca escolar não é a ‘biblioteca na escola, mas toda a escola é uma
biblioteca’”.19 Por este motivo, toda a comunidade escolar e o meio envolvente deve
participar, colaborar e cooperar com o professor bibliotecário, no sentido de promover a
leitura, e com ela conduzir os alunos para o afastamento de um percurso escolar
construído a partir de conhecimentos previamente adquiridos, desenvolvendo assim
verdadeiramente a aprendizagem e promovendo a autonomia dos alunos.
Referências bibliográficas

CABEÇAS NO AR – Baile da biblioteca. 1 Disco (CD), (3m, 25seg.). In CABEÇAS


NO AR [Registo sonoro]. [S.L.]: EMI Valentino de Carvalho, f. 2002. Faixa 9.
724354379222.

CALIXTO, José – A biblioteca escolar e a sociedade de informação. Lisboa: Editorial


Caminho, 1996.
18 Apud COSTA – Rede de bibliotecas públicas e bibliotecas escolares.

19 DAS – Bibliotecas Escolares no século XXI.

14
A biblioteca escolar:
_____________________________________________________________________________________

COSTA, Ricardo - Rede de bibliotecas públicas e bibliotecas escolares: Sobram as


intenções, faltam os meios. [Em linha]. [Consult. 27 Dez. 2008]. Disponível na
Internet:<http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=1850>.

DAS, Lourens H. - Bibliotecas Escolares no século XXI: à procura de um caminho.


Rede de Bibliotecas Escolares Newsletter [Em linha]. N.º 3 (2008). [Consult. 24 Out.
2008]. Disponível em WWW:<URL:http://www.rbe.min-edu.pt/newsletter/newsletter3
/newsleter_n3_ficheiros/page0003.htm>.

Directrizes da IFLA / UNESCO para bibliotecas escolares, 2002. [Em linha]. Trad.
Maria José Vitorino. Vila Franca de Xira: [s.n.], 2006. [Consult. 16 Nov. 2008].Título
Original: The IFLA / UNESCO school libraries guidelines. Disponível em WWW:
<URL:http://www.ifla.org/VII/s11/pubs/school-guidelines.htm>.

MIRANDA, Maria Cabral – São precisos dois para dançar o tango – bibliotecas públicas e
bibliotecas escolares – os sucessivos passos de uma coreografia. Encontro «SABE num
projecto integrado de Leitura» [Em linha]. 18 Abril 2007. [Consult. 12 Nov. 2008]. Disponível
em WWW:<URL:http://194.79.88.139/rbep/upload/Dnloads/mariamiranda_IPLB.pdf>.

NUNES, Manuela Barreto. Novas colecções e novas formas de acesso à informação na


Biblioteca Escolar. Rede de Bibliotecas Escolares Newsletter. [Em linha]. N.º 3 (2008).
[Consult. 26 Dez. 2008]. Disponível em WWW:<URL:http://www.rbe.min-
edu.pt/newsletter/newsletter3/newsleter_n3_ficheiros/page00021.htm>

15

Você também pode gostar