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A SERPENTE ENTRE AS FLORES

Quando os mortos clamam vingança, apenas o amor oferece


proteção.
Laura Lyas

QUARTA CAPA

Julia parecia a mais feliz das criaturas. Casada com um


milionário que a amava loucamente, morava em uma mansão
deslumbrante, tinha tudo que qualquer pessoa pode sonhar. A
vida, entretanto, parecia não querer lhe dar tréguas. Primeiro foi
o falecimento do marido, depois as dificuldades em comandar as
empresas e quando tudo parecia tranqüilo, o aparecimento de um
filho bastardo de seu falecido esposo.
Este homem misterioso a faria retornar a um tempo de sua vida
que gostaria de apagar, trazendo de volta não apenas suas
recordações, mas os mortos que deixara pelo caminho. Para
piorar a situação, um triângulo amoroso se instala quando sua
melhor amiga apaixona-se pelo mesmo homem que ela.
Com uma trama profunda e misteriosa, onde a cada capitulo os
personagens se modificam, A SERPENTE ENTRE AS FLORES é
um romance envolvente que você não vai conseguir largar até
chegar à ultima página.
Dedico este livro aos muitos colegas e amigos que infelizmente
não estão mais aqui, na certeza de que para sempre serão
lembrados e amados.

PRÓLOGO

N em em seus sonhos mais delirantes Julia podia imaginar um casamento


como aquele. Tudo estava tão perfeito! Gerald gastara uma pequena
fortuna nos preparativos apenas para que ela se sentisse como uma
verdadeira rainha. Ele era um sonho de homem.
-Você está linda! – elogiou Marion, admirando a amiga.
-Vou lhe mostrar uma coisa – disse Julia – Isto foi meu presente de casamento.
- Meu Deus! É caríssimo! – exclamou a outra, quando viu o tamanho das gemas
faiscantes do colar. – Estou tão feliz por você!
- Eu sei que está, querida. Vai adorar Gerald, ele é o mais doce dos homens!
Marion admirou a moça em seu longo e caro vestido branco, a tiara de
diamantes, o buquê delicado. Ninguém neste mundo merecia tanto a felicidade
como Julia. Havia lutado tanto, sofrido tanto!
- Você realmente teve sorte, não é?
- Não sei se a sorte teve alguma coisa a ver com isso, Marion. Acho que sorte é
uma coisa que nós fazemos acontecer.
Marion não entendeu muito bem, mas aquela não era hora para conversas
profundas. O que quer que a frase quisesse dizer, com certeza não era nada
importante.
Deixou a amiga sozinha para seu último minuto de reflexão antes da cerimônia,
imaginando quem poderia ter adivinhado um destino como aquele. A vida era
mesmo imprevisível.
- Felicidade, aqui vou eu! – disse Julia, quando se viu a sós.
Lá fora o vento agitava o extenso jardim florido, trazendo até ela um aroma
fresco e suave.
“Ninguém mais pode me atrapalhar agora” – pensou confiante.
O tempo, entretanto, mostraria que não seria bem assim.
CAPITULO I

-J ulia... Olhe para mim... - disse de repente uma voz vinda do nada.
Assustada, a moça arregalou os olhos e sentiu o coração disparar. O
homem sentado a sua frente a encarava, esperando que lhe
respondesse. Mas ela não ouvira a pergunta.
- Sra. Crawford? – chamou.
Julia olhou-o, assustada.
- Ouviu isso? – perguntou.
- Ouvir o quê?
- A voz. Chamando por mim, não ouviu?
Sem saber direito o que responder, Brian Carlson sorriu e suspirou:
- Talvez seja melhor deixarmos este assunto para amanhã. Seus dias não têm
sido fáceis, não é? Muita pressão nas empresas e agora este processo! Talvez seja
melhor descansar agora e continuamos pela manhã, o que acha?
Brian Carlson referia-se ao processo de reconhecimento de paternidade que
Lucas Mallone movia contra Julia. Scott era filho ilegítimo de Gerald, mas
jamais se aproximara do pai. Agora que os negócios prosperavam, resolvera
querer seu quinhão.
A mulher sacudiu ligeiramente a cabeça, como para colocar as idéias no lugar.
- Não – disse – continue, por favor. Devo ter me confundido.
- Tem certeza? – perguntou Brian admirando a incrível beleza de sua cliente.
Julia Crawford, nascida Julia Spade, estava com 32 anos. Tinha estatura média,
longos cabelos castanhos escuros, olhos verdes e um corpo de fazer inveja a
muita menina de 18. A boca era cheia e sensual, a maneira de olhar incrivelmente
sexy e a voz um pouco rouca, apenas o suficiente para fazer derreter qualquer
coração de pedra.
Mas a mulher era muito mais que bonita: era rica e poderosa. Muito poderosa.
Quando há dois anos o marido Gerald passou dessa para melhor, Julia herdou
não apenas casas e dinheiro. Herdou uma corporação farmacêutica inteira e mais
um bom número de outras empresas em ramos diversos espalhadas pelos quatro
cantos do mundo. Em um primeiro momento, os associados de Gerald temeram
pelo futuro do patrimônio. A moça era enfermeira e não possuía experiência
alguma em gestão de empresas, mas Julia mostrou em muito pouco tempo que
podia dar conta do recado. Inteligente, esperta e rápida de raciocínio, tomou as
rédeas das empresas e a elas se agarrou, acabando por tornar-se melhor
administradora que o falecido.
Dona de um afiado tino comercial, pouca ou nenhuma misericórdia com os
concorrentes ou com quem a desobedecia, passou de esposa de milionário à
mulher de negócios em meses e em tempo recorde uma aura se formou sobre seu
nome. Julia Crawford tornou-se sinônimo de administração bem sucedida. Foi
capa de várias revistas e sua foto e palavras estavam, invariavelmente, tanto nas
colunas sociais quanto nas de economia e negócios.
Julia, ao herdar as empresas do marido, tornara-se um sucesso tão espetacular
que matara, através de sua competência, qualquer suspeita que se pudesse ter
sobre ela.
Tudo começara há oito anos, quando outra mulher usava o título de senhora
Crawford: Rachel.
Rachel e Gerald foram casados por 20 anos. Ela era uma mulher dinâmica,
simpática e apaixonada por esportes. Adorava nadar, esquiar, cavalgar e tudo
mais que a mantivesse em ação. Porém mais do que isso, amava profundamente
ao marido, apesar da grande diferença de idade entre eles. Rachel era dez anos
mais nova que o companheiro.
Gerald tinha em Rachel a parceira ideal. Era bonita, excelente anfitriã, sabia
muito bem discernir quem era quem no mundo dos altos negócios e nunca,
jamais, o deixou embaraçado pelo quer que fosse. Resolvia todos os problemas
domésticos com maestria e quando Gerald chegava em casa após um longo dia
de trabalho, ou uma estafante viagem de negócios, lá estava ela sorrindo, pronta
para abraçá-lo e fazê-lo feliz. Talvez a única coisa que toldasse a dourada aura de
felicidade que os envolvia era o fato de Rachel ser estéril. Não havia qualquer
tipo de opção para eles que não fosse a adoção e nenhum dos dois era
simpatizante da idéia de criar uma criança que não fosse sua, portanto, com o
passar dos anos, aceitaram o fato e seguiram em frente. O assunto jamais era
lembrado e o casal tratava de se divertir e aproveitar a companhia um do outro o
máximo que era possível.
Tudo isso, no entanto, mudou quando, em 1995, Rachel sofreu uma queda
durante uma competição de esqui. Além das fraturas, os médicos encontraram
um problema em seus pulmões e a mulher, antes ativa e cheia de energia, tornou-
se com o passar do tempo uma pessoa apática entristecendo dia-a-dia. Após
longos meses no hospital voltou para casa, mas ainda requeria cuidados
constantes. Gerald, procurando lhe dar o melhor, contratou uma equipe de
enfermagem para assisti-la.
Entre os membros da equipe estava uma jovem enfermeira a quem Rachel se
afeiçoou enormemente: Julia Spade.
Naquela época a moça não lembrava em nada a poderosa mulher de negócios de
agora. Embora sua beleza fosse evidente, havia nela uma doçura e simplicidade
que hoje não eram mais visíveis.
Logo Rachel decidiu contratá-la em tempo integral e Julia juntou-se à família,
ocupando um espaçoso aposento na mansão Crawford, ao lado do quarto dos
patrões.
Conforme os meses se tornavam anos, a saúde de Rachel minguava e seu estado
de ânimo piorava a cada dia. Os médicos creditavam isso à depressão e as
prescrições se tornaram mais severas, com medicamentos fortíssimos que a
deixavam confusa e em nada a ajudavam.
Finalmente, cinco anos após o acidente, Rachel Crawford faleceu, vítima,
segundo o atestado de óbito de “problemas respiratórios”.
Gerald ficou arrasado. Mesmo Rachel estando doente, era ela sua grande parceira
na vida, sua confidente, sua amiga. A pessoa que ouvia pacientemente seus
problemas e lhe sugeria soluções simples e eficientes. Seus concorrentes nunca
souberam claro, mas muitas das jogadas de Gerald vieram das sugestões de
Rachel.
Julia preparou-se para mudar-se dali, uma vez que nada havia que a prendesse
àquela casa. Gerald, entretanto, lhe pediu que ficasse mais um tempo, até pelo
menos conseguir superar a perda da esposa.
Exatamente o que aconteceu ou como aconteceu, ninguém saberia dizer, mas o
fato é que pouco mais de um ano após a morte de Rachel, Gerald e Julia se
casaram.
À boca miúda as pessoas comentavam horrores acerca da união. Que a moça dera
um golpe, que Gerald estava ficando senil, que a dor pela morte de Rachel o
afetara. Toneladas de comentários maldosos brotaram instantaneamente e só
fizeram crescer a curiosidade sobre o casal.
Julia era trinta anos mais nova que o marido e muitos milhões de dólares mais
pobre que ele. Tinha a seu favor beleza e simpatia e contra ela toda uma legião de
pessoas que a olhava com desconfiança.
Usando sua infalível inteligência e capacidade de planejamento, a moça passou a
vestir-se melhor, a freqüentar caros cabeleireiros e joalheiros e quando se sentiu
pronta, passou a receber convidados em sua maravilhosa mansão. A desconfiança
inicial cedeu lugar à bajulação e ao interesse e ser convidado para um de seus
jantares passou a contar pontos para o status social. As fofocas foram esquecidas
e Julia passou de golpista e encantadora em questão de meses.
Gerald parecia encantado com tudo que a jovem esposa fazia e se lembrava-se
com saudades de Rachel, não deixava transparecer a ninguém. Bem ao contrário,
não se cansava de ressaltar as qualidades e a graciosidade da nova Sra. Crawford,
dizendo a quem quisesse ouvir que nunca havia sido tão feliz na vida.
Tudo era felicidade na vida deles, até que em meados de 2002, Gerald começou a
sentir-se mal.
Primeiro veio o cansaço, depois uma ligeira dificuldade para respirar. Por pressão
de Julia, consultou vários médicos, mas nenhum deles conseguiu encontrar nada
que pudesse explicar sua crescente indisposição. Gerald começou a gerenciar
seus negócios de casa, tentando assim aplacar as preocupações da jovem esposa
que se desdobrava em cuidados e carinhos. E então, algum meses após o início
dos sintomas, quando jantavam com amigos, Gerald caiu duro na frente dos
convidados, vitima de um enfarte fulminante.
Uma tragédia, sem dúvida, mas nada que pudesse levantar suspeitas de quem
quer que fosse. Julia, assumiu seu papel no comando das empresas e como dito
anteriormente, saiu-se melhor que o esperado.

- Absoluta. – respondeu a moça arrancando o advogado de seus devaneios.


- Como disse? – perguntou ele, sem entender.
- Parece que estamos ambos cansados, não? O senhor perguntou se eu tenho
certeza que quero continuar a conversa.
- Claro, me desculpe senhora Crawford. – respondeu, ajeitando-se no sofá.
- O senhor me dizia que Lucas Mallone entrou, através do advogado, com uma
petição para exumarem o corpo de Gerald...
- Exatamente. A senhora sabe, para fazermos os exames de DNA.
Julia olhou para Brian com ar estranho. Ela o via mexer os lábios, mas não
conseguia ouvir uma palavra sequer do que o homem dizia. Sentiu um frio
horrível percorrer-lhe a espinha e então a voz voltou a ecoar em seus ouvidos:
- Julia... Veja como estou, olhe para mim...
De um salto levantou-se do sofá e olhou em volta apavorada.
- Você ouviu? Sabe de onde veio? – perguntou assustada.
Brian calou-se. Ele não havia ouvido absolutamente nada além de sua própria
voz explicando sobre as possibilidades da petição de Lucas ser ou não aceita.
Aquele caso estava mexendo com os nervos da mulher e ele podia entender a
razão, No lugar dele também estaria nervoso sob a perspectiva de perder toda a
fortuna que possuía
- Não ouvi nada – respondeu com expressão de dúvida.
Do que aquela mulher estava falando, afinal?
- Alguém me chamando, dizendo para eu olhar...
- Alguém? Como assim? Acha que há alguém na casa?
Julia voltou o olhar para o advogado parecendo não entender o que ele dizia.
- Eu não sei...
Brian suspirou:
- É melhor deixarmos isso para amanhã, senhora. Creio que precisa de uma boa
noite de sono para se recompor.
Julia pousou neles seus olhos verdes e pediu, com voz inaudível:
- Não vá. Estou com medo.
O homem olhou-a com ar espantado. Ela queria que ele dormisse ali? Não que
isso o ofendesse, mas não era certo. Ela era sua cliente, não podiam misturar as
coisas.
- Não creio que seja aconselhável, Sra. Crawford.
Julia olhou-o, parecendo recobrar o juízo.
- Claro, desculpe, não sei o que há comigo. Talvez seja mesmo cansaço. Tive um
longo dia no trabalho... Um dia difícil realmente, e esta briga com Lucas Mallone
me dá nos nervos. Acho tudo isso tão mesquinho e tão desgastante!
- Eu entendo, tenha certeza. Podemos marcar um horário para amanhã e
continuaremos a conversa de onde paramos.
Ela sorriu e o acompanhou a porta, lutando contra o medo que sentia por ficar
sozinha naquele casarão.
“Talvez” – pensou - “seja hora de me mudar daqui”.
Mudar-se da grande construção conhecida como “A Casa das Flores” em razão
de seus imensos e floridos jardins fora seu plano desde o casamento. Não queria
morar na casa de Rachel, casada com o marido de Rachel. Sentia-se mal com as
várias fotos e recordações que os amplos ambientes traziam a seu então marido.
Mas Gerald não quis nem conversar sobre o assunto. Ele havia feito aquela casa
de acordo com os planos da falecida esposa. A casa era preciosa para a ex-mulher
e ele não estava disposto a abandoná-la.
Julia perguntou-se porque, afinal de contas, não havia se mudado quando Gerald
morreu e concluiu que os mesmos motivos que o impediram de sair dali de
alguma forma a prenderam também ao lugar. Não queria abandonar a memória
dele.
Mas agora... Agora era tudo diferente. A casa a assustava. Parecia haver um
fantasma em cada canto e tudo ficava ainda mais confuso devido à presença de
Lucas Mallone e seu odioso processo.
Caminhou lentamente de volta ao sofá e permitiu-se reunir mentalmente tudo o
que sabia sobre o homem.
Lucas havia surgido em sua vida meses antes daquele processo. O homem queria
vê-la, dizia que tinha coisas importantes a tratar, mas Julia se recusou a qualquer
contato mesmo sem saber do que se tratava. Não retornou nenhum dos
telefonemas e simplesmente rasgou a correspondência que vinha dele. Então,
algum tempo depois, ele ressurgiu na figura de um jovem advogado que a
procurou, alegando que representava o filho de Gerald.
No início ela não levou a sério, imaginando que era algum oportunista que a via
como presa fácil de um golpe, porém logo ficou claro que o homem falava a
sério. Aconselhada por seus advogados contratou Brian Carlson, um renomado
especialista em casos deste tipo, e a partir de então vinham travando uma batalha
judicial intensa com o suposto filho de Gerald.
Nunca havia sequer visto o tal Lucas pessoalmente ou mesmo por fotos. Sabia
que ele havia sido criado na Inglaterra, país para onde a mãe mudou-se ainda
grávida e que retornara aos Estados Unidos somente quando a mãe, à beira da
morte, o informou sobre a identidade do pai. Gerald já estava morto há quase
dois anos quando isso aconteceu.
Mas quem era Lucas realmente? Seria filho de Gerald? O marido nunca lhe falara
sobre o assunto, porém o próprio Lucas havia declarado que o pai desconhecia
sua existência. Sua mãe nunca procurara Gerald para pedir que reconhecesse a
criança. Muito estranho! Que mulher abriria mão de tornar o filho milionário? E
por que justo agora ele reivindicava seus direitos?
Julia ponderou a situação com calma. Caso o juiz acatasse a petição para o exame
de DNA e o parentesco se comprovasse, ela se veria em uma situação delicada.
Lucas tinha direito a boa parte da fortuna. Fortuna que ela havia trabalhado para
aumentar! Não era justo que ele levasse uma fatia daquilo sem ter feito nada para
merecê-la! Teve também que reconhecer que sua postura em nada facilitava as
coisas. Ela estava sendo dura e impessoal, recusando-se terminantemente a vê-lo.
Talvez fosse hora de tentar uma aproximação amigável com o rapaz, quem sabe
um acordo?
Apagou as luzes da sala e encaminhou-se lentamente às escadas atapetadas, os
cabelos macios balançando suavemente sobre seus ombros.
Sem perceber o que fazia, lançou um olhar descuidado à própria mão e viu
refulgir nela o precioso anel que Gerald lhe dera como presente. “Querido e doce
Gerald...” – pensou, lembrando-se do olhar dele ao pedi-la.
Pena que havia morrido tão cedo... Mas, como era mesmo o ditado? Os bons
sempre morrem antes?
***
Deitado, olhando para o teto enquanto fazia bolinhas com a fumaça do cigarro,
Lucas Mallone contava as minúsculas manchinhas ligeiramente descoloridas que
a recente pintura do hotel havia deixado para trás.
Aquele havia sido um dia particularmente difícil para ele.
Quando decidiu permitir que o advogado entrasse com a petição, sabia que era
um passo sem volta. A sorte estava lançada, os dados já rolavam sobre a mesa. O
que quer que fosse que o exame dissesse seria a verdade. Verdade que ele
absolutamente não queria encarar.
Esticou o braço e pegou o jornal do dia, dobrado na página que exibia uma
matéria sobre Julia Crawford e observou a foto da mulher.
“Bonita” – pensou com sarcasmo. “Meu pai, se é que ele era mesmo meu pai,
tinha bom gosto”.
Pai. Esta era uma palavra estranha para ele. Crescera em Londres ouvindo, desde
que se entendia por gente, a mãe dizer que o pai havia morrido antes que pudesse
se casar com ela e que por isso Lucas não levava seu nome.
Nos primeiros anos de vida isso o incomodava, queria ter um pai como todo
mundo, alguém que o acompanhasse nos esportes, que o levasse à escola, que o
defendesse dos valentões do colégio. Mas depois, isso simplesmente deixou de
ter importância. Sua mãe fizera o máximo por ele. Dera-lhe casa, comida,
estudos e ele sempre sentira uma imensa gratidão por tudo que tinha.
Aos 23 anos, logo se que se formou, foi chamado para trabalhar na filial de uma
empresa inglesa na América do Sul onde ficou por onze anos, acostumando-se ao
calor e às maneiras despreocupadas e alegres daquele povo. Gostava do país onde
morava. Era mais barulhento e muito menos organizado do que a Inglaterra, mas
sentia-se bem com a hospitalidade que recebia. Isso durou até ele ser chamado de
volta à Inglaterra, devido ao estado de saúde da mãe.
Já então um homem firme e acostumado a decisões importantes, Lucas pensou
que nada mais poderia desestabilizá-lo, até que a Sra. Mallone lhe falou sobre
Gerald Crawford.
A revelação de que seu pai estivera vivo até pouco tempo, de que a mãe jamais
contara ao homem sobre a existência de Lucas, que o falecido Gerald era um dos
homens mais ricos e poderosos da América, o deixou tonto.
De alguma forma o menino adormecido dentro dele, o mesmo que chorara noites
a fio por não ter conhecido o pai, voltou à vida.
Lucas sentiu um misto de curiosidade e revolta em relação ao assunto, como se
alguém lhe dissesse: “hey, você ganhou um prêmio mas o roubaram de você”.
Olhou para mãe sem saber o que dizer. Por fim, perguntou:
- Por que não me contou isso antes?
A mulher evitou encarar os agudos olhos escuros do filho e concentrou-se em
algum ponto no espaço que apenas ela via:
- Foi um caso sem importância. Eu e Gerald nos vimos umas 4 ou 5 vezes no
máximo e eu já estava com viagem marcada para a Inglaterra na ocasião. Não
fazia idéia de que estava grávida, filho. E quando descobri, não vi razão para
falar sobre isso com ele.
- Mãe! Ele é meu pai!
- É, era... Depois de algum tempo pensei em procurá-lo, mas Gerald já estava
casado na ocasião e nada faltava a você, não precisávamos de ajuda para viver.
Sinceramente achei que falar com ele após tanto tempo só iria causar confusão e
tristeza.
Lucas olhou-a, incrédulo. Seu pensamento era: se não falou antes, por que falar
agora? Quanto perguntou isso à mãe, ouviu dela que a proximidade da morte a
fizera pensar de maneira diferente e que não era justo que além da companhia do
pai, ele também fosse privado da herança a que tinha direito.
“Herança?” – perguntou-se na ocasião – “E quem disse que eu quero alguma
coisa?”
Mas ele queria, sim. Ele queria saber se Gerald era mesmo seu pai e se fosse,
queria o nome do homem em sua certidão de nascimento. Devia isso ao menino
dentro dele, devia isso à sua infância.
Após o falecimento da mãe, fez o que lhe pareceu mais indicado naquelas
circunstancias: procurou por Julia Crawford, pensando em explicar à mulher sua
situação e conseguir de forma discreta que os devidos exames fossem feitos.
Infelizmente a viúva de Gerald se recusou a qualquer conversa ou contato e isso,
ao invés de arrefecer seu ânimo, irritou-o.
Quem ela pensava que era para nem sequer querer saber por que ele a estava
procurando? Se ela queria jogar duro, ok, ele jogaria duro.
Procurou um advogado e iniciou uma ação de reconhecimento de paternidade e
reivindicação de direitos de herança.
Não que quisesse um tostão sequer daquela mulher, mas queria dar-lhe uma
lição.
Pegou o jornal e olhou novamente a foto.
A moça era nova, bem mais nova que Gerald e Lucas se perguntou se aquela
havia sido uma união completamente desinteressada ou se estava diante de um
puro e clássico caso de golpe do baú.
Caso isso fosse verdade, ela lutaria com unhas e dentes para impedi-lo de exumar
o corpo. A pergunta era: ele queria se meter em uma ação complicada que
poderia se estender por anos nos tribunais? A resposta veio imediatamente: sim!
Principalmente se percebesse que a tal “jovem viúva” estava criando
dificuldades. Ela podia ter enganado seu pai, mas a ele não enganaria.
Lucas suspirou aborrecido. Estava fazendo conjecturas em cima de uma foto de
jornal. Aquilo não estava certo.
Talvez devesse voltar a procurar Julia Crawford e tentar conversar diretamente
com ela. Ao menos não poderia acusar-se de não ter tentado de tudo para
resolver aquela situação de forma civilizada e amigável.

***
Julia acordou sobressaltada, sentindo que havia alguém a seu lado. Assustada
acendeu a luz e olhou em volta.
Nada.
Apenas o silencio e a tranqüilidade da madrugada.
“O que deu em mim? Nunca fui disso!” – perguntou-se aborrecida, voltando a
deitar.
Estava em um estado de semi-consciência, quase adormecida, quando sentiu as
cobertas se moverem como se fossem puxadas para baixo muito lentamente.
Com o coração acelerado e a respiração entrecortada, fechou os olhos o mais
forte que conseguiu e procurou se acalmar. Vinda do nada uma voz que, apesar
de conhecida não conseguia identificar, disse:
- Por que vai fazer isso comigo, Julia?
Juntando todas as forças apesar do pavor que sentia, sentou-se e acendeu a luz.
Não havia ninguém ali e as cobertas estavam exatamente onde deveriam estar.
Suando frio, fez o sinal da cruz e rezou, pedindo que aquilo passasse.
As orações, entretanto, não a acalmaram e ela passou o resto da noite sentada na
cama, luzes acesas, praticamente sem dormir.

SOBRE A AUTORA:

Laura Maria Elias tem 48 anos e é natural de Barra


Mansa, estado do Rio de Janeiro. Nascida em uma
família de leitores, desde muito nova conviveu com os
livros, aprendendo primeiro a apreciá-los e mais tarde a
devorá-los avidamente, tornando-se, ainda na
adolescência, uma leitora compulsiva. Com muita
facilidade para a escrita, registrava suas primeiras
observações em forma de frases e pequenos poemas,
passando a interessar-se, então, por poesias.
Aos quatorze anos a autora escreveu seu primeiro livro,
uma trama policial adolescente, que batizou de O Colar
de Esmeraldas, e um livro de crônicas leves. A
possibilidade de publicação, entretanto, jamais lhe passou pela cabeça.
"Escrever era uma forma de colocar minhas emoções para fora, de registrar
minha percepção do mundo, não uma profissão".

Isso começou a mudar em 2002 quando, a pedido do editor da Revista UFO,


escreveu um artigo para publicação. A partir daí seu nome passou a figurar
várias vezes nas páginas da revista, com artigos sempre bem recebidos pelo
público leitor.
Em 2005 veio a oportunidade de escrever um romance, publicado sob
pseudônimo. Desde então, a autora já escreveu 32 livros, todos sob
pseudônimos variados. O ÚLTIMO CAVALEIRO é a primeira obra a
chegar às livrarias com seu nome real, inaugurando assim uma nova fase na
carreira desta brilhante escritora.
Obras da Autora para Adultos

Crepúsculo Vermelho – Mythos Books


O Último Cavaleiro – Mythos Books
O Evangelho Esquecido – obra inédita
Amor Oculto - obra inédita
Depois Daquela Festa - obra inédita
Vidas que Mudam - obra inédita

Obras sob Pseudônimo (Mythos Books, romances de banca)

Amores Perigosos - Loreley McKenzie


Para Sempre - Loreley McKenzie
Uma Segunda Chance – L. McKenzie
Muitas Vidas, Um Amor - Loreley McKenzie
Entre o Céu e a Terra - Loreley McKenzie
Sendas do Tempo - Loreley McKenzie
Paraíso Perdido - Loreley McKenzie
Sob a Luz das Estrelas - Loreley McKenzie
Súplica do Coração - Loreley McKenzie
Aconteceu no Titanic - Loreley McKenzie
Pacto de Amor - Loreley McKenzie
Mais que Um Anjo - Loreley McKenzie
Adorável Cinderela – Sophie H. Jones
Laços do Passado – Sophie H. Jones
O Misterioso Senhor J - Loreley McKenzie
Coração Selvagem - Loreley McKenzie
Raízes da Paixão – Suzy Stone
Corpos Ardentes – Laura Brightfield
Alma Tuareg - Loreley McKenzie

Obras Infanto-Juvenis:
Tristin McKey e o Mistério do Dragão Dourado - Elizabeth Carrol
Tristin McKey e a Sala dos Rumores - Elizabeth Carrol.

E-books:
Coração Cigano – Laura Lyas
Indaí – Laura Lyas
As Andorinhas de Paris – Laura Lyas
A Serpente entre as Flores – Laura Lyas

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